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𝐂𝐎𝐍𝐓𝐎 𝐃𝐎𝐈𝐒 - 𝐄𝐍𝐂𝐎𝐍𝐓𝐑𝐎 𝐈𝐍𝐄𝐒𝐏𝐄𝐑𝐀𝐃𝐎

Era uma noite típica de verão em São Paulo, com o calor sufocante grudando na pele e uma brisa leve que prometia refrescar os ânimos. Laura estava animada com a festa de aniversário da sua amiga Luísa, mas, ao mesmo tempo, um tanto apreensiva. Anos se passaram desde que terminou seu relacionamento com Bruno, e a última coisa que queria era esbarrar nele. Mas, como se o destino tivesse um senso de humor peculiar, lá estava ele, em toda a sua glória, segurando um copo de caipirinha e rindo de uma piada contada por um amigo.

Ao vê-lo, um misto de nostalgia e incredulidade tomou conta de Laura. Era como se o tempo tivesse parado e ela fosse transportada para os dias em que eram inseparáveis. Lembrou-se da primeira vez que se beijaram, atrás da quadra da escola, escondidos como se estivessem cometendo um crime, e da maneira como Bruno sempre insistia em comprar pipoca no cinema, mesmo que ela preferisse a batata frita. Ah, os altos e baixos do primeiro amor!

— Laura! — Luisa a puxou para dançar, interrompendo suas lembranças. — Vamos, anima-se!

— Você não vai acreditar, mas o Bruno está aqui! — disse Laura, tentando esconder a apreensão.

Luísa sorriu com um ar travesso. — É a chance perfeita para um reencontro! Vai lá, não seja covarde!

Com o coração batendo forte, Laura se aventurou em direção ao ex-namorado. Quando chegou perto, a tensão no ar era palpável.

Bruno virou-se, e os olhares se cruzaram. Ele sorriu, aquele sorriso que sempre a fazia derreter.

— Laura! Quanto tempo! — exclamou, abrindo os braços em um gesto que misturava surpresa e afeto.

— É, muito tempo mesmo... — ela respondeu, tentando soar casual. O que, claro, não funcionou. O nervosismo a fazia sentir como se estivesse em uma montanha-russa.

— Lembro de como você sempre roubava a pipoca do meu balde no cinema. — ele riu, lembrando-se da antiga rivalidade por lanches. — A única coisa que nunca mudei é a pipoca.

— E eu ainda prefiro batata frita! — respondeu Laura, soltando uma risada nervosa.

A conversa fluiu rapidamente, como se os anos não tivessem passado. Eles falaram sobre velhos amigos, projetos e até sobre o mais recente escândalo da cidade: o gato de um famoso influenciador que havia desaparecido misteriosamente. Laura não conseguia acreditar que estavam tão à vontade um com o outro.

— Lembra daquela vez em que você tentou cozinhar para mim e quase incendiou a cozinha? — ele perguntou, com os olhos brilhando de divertimento.

— Como esquecer? Eu quase queimei o arroz e você ficou todo dramático, dizendo que era uma obra de arte moderna! — respondeu ela, rindo. — O seu apoio foi inestimável.

O tom de nostalgia era agradável, mas Laura sabia que não poderia se deixar levar. As coisas terminaram por uma razão. Ele a fez passar por momentos bons, mas também por alguns bem desastrosos. A ideia de reviver aquilo tudo a deixava dividida. Era como tentar colocar uma roupa que não servia mais, mas que ainda assim, por algum motivo, fazia seu coração acelerar.

— E você? Como tem sido a sua vida? — perguntou Bruno, com um olhar que ela não conseguia decifrar.

— Ah, você sabe, sobrevivendo. Tentei várias coisas: dançar, pintar, até fiz um curso de culinária! — ela contou, rindo do próprio infortúnio. — E adivinha? A cozinha ainda não é meu forte.

Bruno soltou uma gargalhada. — Talvez a gente devesse fazer um curso juntos. Um reencontro da desastrosa culinária!

Laura não sabia se era uma proposta ou uma brincadeira, mas a ideia a fez sorrir. Ele sempre teve esse jeito de deixá-la mais leve, mesmo nas situações mais complicadas.

A noite seguiu, e o ambiente ao redor começou a mudar com a música vibrante. Mais amigos se juntaram à conversa, e o grupo logo se dispersou. No entanto, Laura e Bruno permaneceram juntos, rindo e relembrando as trapalhadas do passado.

— Sabe, às vezes eu penso que se a gente tivesse feito algumas coisas diferentes, poderíamos ainda estar juntos. — disse ele, de maneira mais séria.

— Ou teríamos acabado em um reality show de culinária, totalmente falidos! — ela respondeu, dando um puxão em sua própria camisa. A leveza da piada trouxe um sorriso ao rosto dele, mas a conversa logo tomou um rumo diferente.

— Eu só queria que você soubesse que eu nunca deixei de pensar em você. — a sinceridade dele a pegou de surpresa.

Laura hesitou. Era um momento delicado, onde todas as inseguranças voltavam à tona. — Eu também penso em você, mas... nós éramos jovens e, bem, complicados.

Ele assentiu, compreendendo. — Sim, talvez seja melhor deixar as coisas como estão, mas não posso evitar o que sinto.

Laura olhou para ele, a familiaridade do passado misturada a uma nova perspectiva. — E se a gente começar do zero? Sem expectativas, apenas amigos?

Bruno sorriu, e Laura viu a promessa de novos começos em seus olhos. — Eu adoraria isso.

A festa prosseguia ao fundo, mas ali, sob as luzes piscantes e com a música embrenhando-se na conversa, Laura percebeu que, apesar dos altos e baixos, o primeiro amor sempre teria um lugar especial em seu coração — como uma lembrança calorosa e um pouco cômica de quem ela era.

E assim, em meio ao reencontro inesperado, Laura sentiu que, afinal, poderia haver espaço para mais risadas, mais lembranças e quem sabe até uma nova história.

Fim.

Escrito pela Autora Júlia (AutoraLorenzin)

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