Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

No quarto daquele hospital

"Registra, tu mesmo, o meu lamento; recolhe as minhas lágrimas em teu odre; acaso não estão anotadas em teu livro"

Salmos 56:8




Silêncio.

Seria a única coisa que existiria ali se não fosse as máquinas assobiando regularmente, indicando que um dia alguém estivera bem, mas agora, não mais. O quarto era pequeno demais para a família ali reunida. Estava quente. O ar-condicionado estava no seu limite. No leito, a mulher idosa desfalecia, ainda assim, seu sorriso transparecia em meio às rugas, o que mostrava como ela havia aproveitado a vida.


Mas estava na hora de ir.

O volume baixo da televisão não ajudava a esconder o turbilhão de emoções desagradáveis que assombravam os familiares naquela ocasião. Detiam as lágrimas. Não se passariam por fracos. Não naquele momento. Nunca se permitiriam. Tinham que ser fortes, por eles, por ela... por Miguel.

Ele estava à beira da cama, as mãos acalentavam às de sua avó. Era quase impossível para ele segurar o choro que descia em silêncio entre um suspiro e outro. Mas não era o suficiente para destruir a certeza de que ela ficaria bem. Ela tinha que ficar! Os pais temiam como o garoto reagiria com o depois.

Os bep bep bep eram acompanhados pelos fungados entrecortados do pobre menino - compunham uma melodia fúnebre. Era verão, mas o sol tinha dado lugar às nuvens densas e carregadas que cobriam o céu daquela tarde. Miguel apertou a mão de sua avó suavemente, procurava não deixá-la ir. Tinha medo de que, ao piscar os olhos, ela desaparecesse como um fio de fumaça no ar.

A mãe de Miguel, tomando coragem deixou enfim os braços do marido, José, e depositou sua mão sobre o ombro de seu filho. Miguel sabia o que aquilo significava. Mordeu os lábios. Mais lágrimas. Seu pranto era mudo - e amargo. Fitou os olhos castanhos encharcados da mãe, balançou a cabeça em negação. Não queria soltar as mãos delicadas da avó. Não podia. E se ela lhe escapasse? Os sorrisos calorosos e reconfortantes que os familiares ofereciam já não eram suficientes.

O médico rompeu a porta. O Dr. Cláudio massageou o pescoço, com semblante aflito e desnorteado, era um sinal de más notícias.

Pigarreou - Eu sinto muito, mas... chegou a hora de desligarem os aparelhos - tentara ser o mais profissional possível.

- Não! - Miguel gritou rouco, tremendo. Todos o encararam espantados. Fitava o médico firme, ainda segurando as mãos de sua avó. Como uma fera protegendo seus filhotes. - Eu não vou deixar vocês levarem a vovó.

- Miguel - Clarice o chamou, a voz saiu embargada -, vem cá meu amor. - Estendeu-lhe a mão, Miguel a segurou e recebeu um abraço apertado. - Está tudo bem, filho. Não precisa ficar assim. Sua vó vai ficar bem. Sinto muito, filho - ela afastou Miguel e o encarou nos olhos -, mas chegou a hora, meu amor...

- Mamãe, eles estão aqui pra levarem a vovó. Não deixa eles fazerem isso, por favor - suplicou. Clarice sentiu um nó subir à garganta. Não sabia como ajudar o filho. Miguel sabia disso. - Papai - Seus olhos alcançaram o pai que agora estava sentado em uma cadeira vazia ali, cabisbaixo, sendo consolado pelo melhor amigo -, por favor!

Ao ouvir a voz do filho, José encolheu-se. Nunca se atreveria mirá-lo. Seus olhos vermelhos revelavam que tinha aguentado até onde podia. Não conseguia mais sustentar o papel de homem forte da família. O peito doeu ao ouvir seu único filho pedir-lhe ajuda e não poder ajudá-lo. Sentia-se um covarde. Ser incapaz de sustentar o olhar do próprio filho destruía todos os princípios que havia construído até ali.

"Homem não chora" lembrara das palavras do pai que o transformara num exemplo de vida.

- Por favor, papai! - Miguel suplicou mais uma vez, mas sem sucesso.

- Miguel - Dr. Mário chamou com um tom paternal -, sua vó concordou com essa decisão. Foi uma escolha dela.

- M-Meu neto... - a voz enfraquecida e sem vida de sua avó soou no cômodo -, venha aqui.

- Vovó! - Miguel aproximou-se rapidamente, a esperança cintilava em seus olhos. - Você vai ficar bem, não vai?

- M-Miguel - segurou as mãos do garoto -, sabe, um dia a minha mãe me disse: Aurora, Aurora, viva como alguém que sabe que irá morrer um dia, mas morra sabendo que viveu direito. Eu não entendi naquela época, ma-mas hoje entendo. E... foi o que eu fiz. Eu vivi com Deus. Não é meu desejo te deixar agora, mas não tenho mais tempo. Chegou a minha vez de partir e a sua vez de aprender a viver com ele.

- Mas eu não quero que a senhora vá embora. Por favor, fica - as palavras romperam trêmulas demais.


- Miguel, não veja a morte como uma despedida, pelo contrário, veja-a como um até logo. - Com muito esforço, movimentou a mão e enxugou uma lágrima que escorria teimosamente pelo rosto jovial do neto. Expirou pela última vez e declarou contente: - Eu preciso ir. Deus, agora, está me esperando...

Sua voz dissipou-se. A mão já não tão firme sobre as de Miguel, pendeu para o lado. A máquina soou seus últimos bep, e ficou em um silvo eterno. Ela finalmente estava descansando.

- Não! Pede pra ele levar outra pessoa - ordenou. As palavras saíram rasgando sua garganta. O choro já não era oculto, mas alto e avassalador. As lágrimas escorriam com velocidade e despencavam de seu queixo rumo ao chão.

Clarice procurou consolo nos braços do marido novamente, sufocou seus gemidos contra peito de José. Ouvir seu filho gritar e prantear era insuportável demais. Queria que aquele dia acabasse - na verdade - queria que nunca tivesse existido. Depois de meses, se permitiu colocar para fora o que sentia.

Dr. Mauro tirou os óculos e enxugou a testa, nunca haveria de se acostumar com aquilo. Miguel, ainda na beira do leito, tentava conversar com a avó. Procurava qualquer mísero sinal que dissesse que ela ainda estava ali. Nada.

- Mamãe, pede pra Deus trazer ela de volta. Diz pra ele...

Dona Clarice abraçou o filho novamente: - Miguel, ela se foi...

- Não! - se soltou dos braços da mãe e saiu correndo da sala, ignorando os chamados aflitos da mãe.


Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro