Retorno
Ricci, Beth e Willard dirigem-se ao estaleiro de obras, onde o pai do jovem trabalha. A mulher e o filho são identificados por um jamaicano alto, com ombros largos e uma barba farta. O homem nota um nervosismo na cara de ambos e fica preocupado.
Jackson: O que é que vocês estão aqui a fazer? O que é que se passa?
Beth: Lembraste daquela história que eu sempre contei, sobre o Henry, o Ricci, essa malta toda, e de eu ser de outra realidade?
Jackson: Não me venhas com essa outra vez, Bethany! Sabes bem que eu nunca acreditei nisso.
Beth tira, da mala, uma foto dela, com cinco amigos, entre eles os jovens Ricci e Eric. No verso da fotografia de marca da Polaroid, estavam escritas as palavras Dirty Sailor Bar, Barbados, 14 de agosto de 1998.
Beth: Tu disseste que trabalhaste no Dirty Sailor Bar, entre os anos de 1996 e 2004, principalmente no verão, como bartender, na semana de 10 a 16 de agosto, fui lá todos os dias, com este grupo, passei as noites na mesa de bilhar, a beber Budweisers que nem uma desesperada, lembras-te de alguém assim?
Jackson: Várias pessoas, a malta ia para lá beber cerveja, jogar bilhar, ouvir Bob Marley e tentar engatar gajas, era o passatempo preferido da ilha!
O mestre da magia negra aproxima-se, partindo um palito ao meio.
Ricci: Uta.
Um dos pedaços do palito, como por magia, ergue-se, e o outro salta para cima dele, começando a rodar sobre o seu eixo.
Ricci: Itna alo wata.
Uma imagem fílmica começa a ser produzida pela estranha geringonça mágica que Ricci tinha criado. Uma noite atarefada, no Dirty Sailor Bar, com um jovem Jackson Avery ao balcão.
Jackson: Mas... aquele sou eu!
Ricci: Exato, agora, vês-me ali? E a tua mulher?
Jackson: Não, mas como é que eu sei que é da semana entre 10 e 16 de agosto de 98?
Ricci: Estás a ver as imagens num palito partido a girar, achas que a possibilidade de ser essa semana é menor ou maior do que isto acontecer?
Jackson: Touché.
Beth: Já acreditas? Porque, não passei a vida a mentir-te.
Jackson: Estou menos cético, mas, ainda não estou completamente vendido à ideia.
Willard: Vendido à ideia ou não, temos de ir, estar nesta realidade é um perigo, não para mim, mas para a própria realidade.
Jackson: O que é que estás a querer dizer? Não é como se fosses um perigo para a sociedade.
Ricci: Se fosse só para a sociedade, estávamos todos bem, ele é um mutante extremamente poderoso, capaz de desequilibrar universos, a ausência dele no seu universo natural está a atraí-lo para esta realidade, quando estes dois chocarem, uma quantidade incomensurável de vidas vão ser perdidas.
Jackson: Estão todos doidos, agora!
Beth: Jackson, já fizemos as malas a toda a gente, as nossas roupas, os nossos bens, eu e Willard vamos voltar, se tu quiseres, vens conosco, se não, ficas.
O enorme jamaicano fica pensativo por um segundo.
Jackson: Não vou abandonar a minha família, nesta realidade ou não, vou convosco.
A mãe de Willard solta um pequeno sorriso, seguindo-o de um beijo rápido ao marido.
Beth: Obrigado, sabia que podia contar contigo.
Jackson: Quando é que vão?
Beth: Vamos agora, o Ricci abriu uma conta para a família, no outro universo, toda a gente que sabe da situação, pôs lá cinco mil libras.
Jackson: E quantas pessoas é que sabem da situação?
Ricci: As suficientes para te pagarem seis meses de despesas, num apartamento, no meio de Londres. Várias pessoas puseram lá dinheiro, algumas ricas, outras nem tanto. Cerca de noventa mil libras.
Jackson: Mas, eu não tenho documentos dessa realidade.
Ricci: Não subestimes o poder de um bom falsificador e de uma boa hacker. Temos isso tudo tratado, só precisamos de fotos, vais ter identificação, carta de condução, passaporte, cartão de crédito, tudo o que precisares, pago pela malta que te fez a conta bancária.
Beth: Vamos ficar melhor do que estamos aqui, para não falar que vamos estar seguros, eu saí de lá por medo, mas a razão desse medo agora está na prisão.
Jackson: Deixem-me ir buscar umas coisas ao escritório, só demoro cinco minutos.
O pai de Willard corre até ao seu escritório e, quando volta, traz uma caixa de sapatos.
Beth: O que é isso?
Jackson: São coisas que vão dar jeito, depois mostro-te.
Ricci: Vá, Beth, tenho ligação direta com o Eric até à meia noite de hoje, não quero ficar aqui preso por duas semanas, principalmente, com o risco que estamos a correr já com o Willard, imagina só se eu me mantiver aqui, pode ter problemas severos.
A família, assim como Ricci, entram no SUV de Jackson, com Bethany ao volante, e dirige-se à zona mais remota nos arredores da cidade de Birmingham. Todos os elementos saem num descampado, sem estrada à vista por cerca de oito quilómetros.
Ricci: Will, chega aqui, miúdo.
O rapaz aproxima-se do mestre da magia negra.
Ricci: Vou fazer um pequeno feitiço para eu controlar os teus poderes, temporariamente, preciso de falar com o Eric, sabes que o ritual só funciona se tivermos duas pessoas a fazê-lo, e tu não sabes as palavras.
Beth: O Salto de Fedici funciona se estiverem descoordenados?
Ricci: Não, por isso é que preciso do Will. Se eu conseguir fazer isto certo, ele vai conseguir ser uma espécie de walkie-talkie humano, eu sei em que parte é que o Eric está e ele sabe em que parte é que eu estou.
Ricci toca na testa de Will e fecha os olhos.
Ricci: Non licet alicui liceat loqui liceat loqui planum qui renovatur.
O rapaz abre a boca e, o mestre da magia negra, os olhos.
Ricci: Eric, estás aí?
Um silêncio sente-se por segundos.
Ricci: Eric!
Eric: Estou! Adormeci, desculpa. Encontraste o puto?
Ricci: Estou a falar contigo através dele, imbecil. Ouve, precisamos de tratar do ritual até à meia noite, estás pronto?
Eric: Tens sorte de eu ainda te conseguir aturar, mesmo que tenhas sido banido da Ordem Merlínica. Eu tive de bater o pé no Conselho, para os convencer que tu não és uma ameaça.
Beth: Espera aí, expulsaram-te da Ordem Merlínica?
Ricci: Tenho o Livro do Calvário escondido, depois do que aconteceu com o Victor, ele foi banido e ninguém o devia ter na coleção pessoal, portanto, baniram-me quando descobriram.
Beth: Está mais seguro contigo do que com eles, o teu apartamento está mais protegido de ameaças místicas do que a Mansão Blackburn.
Ricci: Ámen.
Eric: Vamos começar ou não?
Ricci olha ao seu redor, com uma cara estranha, como quem desconfiava de algo.
Ricci: Espera.
O mestre da magia negra levanta a mão e fecha os olhos.
Ricci: Révèle-toi, esprit de l'Enfer!
Beth: Mau, isto já não me está a agradar!
Um tambor longínquo ouve-se, porém, a cada batida, o barulho intensifica-se e aproxima-se.
Ricci: Faigh amach as ár láithreacht, spiorad olc!
Beth: Nguvu mbaya, hupotea kutoka mahali hapa.
Jackson: O que é que se passa?
Beth: Presença demoníaca, sabendo como eles são, deve ser por causa do Will.
Jackson: Estás a gozar, certo? Isso é normal?
Bethany olha para o marido, com cara de zangada.
Beth: Acabei de recitar um feitiço em swahili, achas isso normal?!
Uma massa de fumo preto começa a materializar-se a dois metros de Willard.
Ricci: Isto não é bom! Eric, prepara-te!
Jackson agarra na caixa de sapatos, abre-a e tira, de dentro da mesma, uma pistola 9mm.
Ricci e Eric: Andiamo insieme, mano nella mano, questo è il nostro desiderio, di saltare nella realtà che vogliamo.
Um portal começa a abrir-se, no outro lado, estava Eric na sua jaqueta de couro clássica, com óculos escuros à aviador. A massa negra já se tinha materializado e corria na direção do grupo, que protegia o jovem mutante.
Beth: Willard, corre! É o Pazuzu, Ricci! Ele vai dar cabo de nós!
Ouve-se um som de tiro, mas o padrasto de Willard não tinha disparado, e o demónio cai, com um buraco na cabeça.
Sam: É bom que se despachem, avatares de demónios maiores precisam de maiores calibres, e eu só trouxe uma 11mm!
Um rugido grave e rouco começa a sair do corpo de Pazuzu.
Kyle: Parem de engonhar! Isso é um bicho bastante desagradável!
A família corre para o portal, enquanto milhares de gafanhotos e vespas começam a sair de dentro do chão e a voar na direção deles.
Sam: Foda-se! Aquilo não é um avatar! Aquilo é o verdadeiro Pazuzu! Corram, porra!
Finalmente, Jackson, Beth e Willard, chegam ao portal e seguem até ao seu destino.
Ricci: Xau, Pazuzu, quero, sinceramente, que tu te fodas!
Sam e Kyle saltam para fora do portal e, a família jamaicana sai rapidamente de lá. O Oracle força a quebra do portal, através de um punho fechado.
Jackson: Caralho! Isto foi assustador! Pelo amor de Deus!
Sam: Pai nosso que estais no Céu...
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