O trunfo de Santiago
Clara passou dois dias ao lado do Jack procurando por qualquer rastro que levasse até Santiago. Neste meio tempo as aulas voltaram e Clara disse que eu deveria ficar atento, pois o mesmo havia roubado o laboratório de Fire Wood há dois dias. Dentro dele havia um projeto de capacitores de alta potencia estavam sendo produzidos. Existia a chance de Santiago estar por perto.
Quando cheguei na faculdade a mesma parecia um deserto. As pessoas ficavam nos bancos, mudas e na grama em volta da Fire Wood não estavam lá.
Andei até as escadas, onde geralmente eu e os meus amigos nos encontramos, mas apenas Eduardo estava lá, aparentemente Marcos não veio hoje.
— Wayne! — o garoto disse alegre ao me ver — Obrigado por aquele dia. Achei que você não iria entender que eu queria ficar sozinho com a Elisa.
Mas se quer foi isso que aconteceu, eu me retirei por causa da Lara, mas se ele achava isso tudo bem.
— Conseguiu algo?
— Infelizmente não. Ela disse que queria ser só a minha amiga e que tinha saído pela amizade.
Previsível... não que eu esperava que ele conseguiria, mas o quanto mais rápido ele parar de ir atrás dela, mais rápido podia me declarar.
— Poxa, acontece — Falei sem nenhum receio — Quer um ombro amigo?
— Que isso, estou feliz para caramba! Ela acha que eu não sei, mas já entendi que ela está se fazendo de difícil!
Uma extrema vontade de dar tapas na cara do Eduardo até ele voltar para vida real brotou dentro de mim. Não era possível ele ser tão ingênuo a ponto de pensar isso!
Eu apenas respirei fundo para não falar a verdade para ele.
— Eu creio que não seja isso... mas se você acha... vai com tudo.
— Sim, eu vou me confessar de uma vez por todas!
— Boa sorte, cara.
De repente Elisa veio em nossa direção, ela aparentava estar preocupada.
— Meninos, vocês viram o Matias?
— Não — Eu respondi — por quê?
— Ele sumiu já faz dois dias. Não está respondendo as minhas mensagens e não estava em casa quando eu passei lá.
— Deve ter ficado doente e foi internado.
— Eu não sei, Wayne. Por mais que ele seja babaca com você, ele ainda é meu amigo.
— Fica tranquila, uma hora ele aparece.
Elisa assentiu com a cabeça, ainda preocupada.
Minutos depois já era o horário da aula e quase ninguém entrou pela porta da faculdade, nem mesmo alguns professores vieram hoje. Os corredores, que eram agitados, agora estavam silenciosos. Todos faltaram porque acharam que o lugar não era seguro. E para ser sincero, nem deveria ter aula, mas o reitor deixou bem claro que não tinha o que temer, então não há muito o que fazer.
Nós entramos na sala e nem mesmo o professor que chegava antes de todos os alunos estava presente.
Depois de um tempo o reitor da faculdade entrou na sala. Eu fiquei torcendo para ele falar algo do tipo: "Como só vieram vocês, não terão faltas nos seus diários." Mas eu duvidava que isso fosse acontecer.
— Bom como vocês já devem saber, apenas vocês vieram, nem mesmo os professores estão presentes. Eu queria poder dizer: "Como só vieram vocês, não terão faltas nos seus diários." Mas não será possível. Como essa faculdade é importante para o estado nós não podemos ficar fechados. Dito isso, vocês já devem saber que vão ter que ficar. Como vocês são os exemplos da turma de vocês, espero do fundo do meu coração que não fujam, por mais que não tenham matéria, vocês tem que estar dentro do perímetro do local. Fiquem à vontade para fazer o que quiserem desde que não destruam a mesma. Em via de dúvidas eu estarei na minha sala fazendo coisas de reitor.
Ele saiu da sala e nos deixou sozinhos. Ficamos nos encarando por um tempo, tentando descobrir algo para fazer, mas acabei tendo uma brilhante ideia: ir explorar um galpão conhecido por ser assombrado.
Eduardo não demorou um segundo ao concordar e Elisa aparentou um leve medo, mas não deixou de confirmar.
O galpão ficava em um local fechado e escondido. Ele era usado como um local para armazenar coisas que não cabiam ou que não eram para ficar na faculdade, porém, por algum motivo desconhecido ele foi fechado e ninguém nunca mais teve permissão para voltar lá.
A entrada era nos fundos e chão era todo coberto por um mato gigantesco e algumas árvores grandes de com os galhos quase mortos. Logo a frente estava a porta de ferro que lacrava o galpão. Encontrava-se enferrujada e extremamente emperrada;
Somente depois de muito esforço em conjunto a imensa porta se moveu e uma cortina de poeira subiu no ar. Foi tanta que tossimos horrores e mal conseguimos ver o que estava à nossa volta, mas um pequeno feixe de luz passou pela pequena fresta que abrimos, iluminando um pouco o seu interior.
O chão era quebradiço, feito de uma madeira barata e algumas ferramentas nas paredes. O interior do galpão era gigante, todo metálico com um teto em arco. Também tinha algumas escadas e foices enferrujadas apoiadas no local. Mas no fim era apenas um galpão qualquer.
Voltamos frustrados para os corredores da faculdade. Nem sabia como cogitei a possibilidade de ter algo também, pois pensando bem era um pouco obvio, mas o que valia era a aventura.
— Que pena que não tinha nada no galpão — Elisa falou ao parar em um bebedouro — Mas foi divertido explorar com vocês.
— Pode sempre contar comigo — Eduardo anunciou rapidamente.
Elisa sorriu e se abaixou para beber a água e seu belo cabelo passou na frente do seu rosto. Ela logo o ajeitou e começou a beber com seus belos lábios. Foi quando o Eduardo olhou para mim e depois para ela, repetidas vezes. Basicamente ele falou: "Deixe-me sozinho com Elisa."
Eduardo conseguia ser muito chato de vez em quando, mas aproveitei para ligar para a Clara e saber se eles conseguiram algo.
— Wayne! — Eu fui recebido com um grito da Clara.
— Quer me deixar surdo!
— Desculpe, nós demoramos para perceber, mas o Santiago foi visto por câmeras de segurança em um terreno próximo a Fire Wood. E isso foi hoje!
— O que? Por que seu sistema não alertou?
— O rosto dele foi pego de extremo relance, demoramos para identificá-lo! Tome cuidado, Jack está indo te ajudar.
— Ok, vou ficar atento.
Desliguei o celular e rapidamente voltei para onde Eduardo e Elisa estavam. Santiago tinha sido identificado perto deste local, não sei porque ainda estava aqui, mas independente do que for era perigoso deixar meus amigos sozinhos.
Eduardo agora estava respirando fundo, nem precisava perguntar, porque eu já sabia que Elisa falou "não."
— Então, gente, o que vamos fazer agora? — Eu perguntei.
— Vamos para o campo, talvez tenha algo interessante lá — Elisa sugeriu.
— Ok.
Nós brincamos de passar com uma bola de futebol, mas eu mal consegui me concentrar no jogo. O fato deles estarem em um potencial perigo me atormentava.
— Wayne, pensa rápido! — Elisa falou de repente e chutou a bola na minha direção. Eu reagi com o susto e o meu pé acabou exonerando a bola para muito longe.
— Espero que não tenha que pagar por aquilo — Disse rindo de nervoso — acho melhor pegarmos outra.
— Relaxa — Eduardo se preparou para disparar em corrida — Eu pego!
— Espera não... — Mas ele correu até o outro campo onde a bola fora arremessada. Depois que Eduardo saiu de vista, pude sentir o perfume da Elisa ao meu lado.
— Parece que ficamos sozinhos por um tempinho.
— Sim — Eu respondi — Tem algo em mente?
— Ah... tenho sim... Eduardo pediu um beijo para mim, mas eu não gosto dele desse jeito.
Ela estava ainda mais próxima, a poucos centímetros de mim. Eu conseguia sentir sua respiração enquanto a garota ajeitava minha roupa com as mãos. Acabei corando levemente.
— E... e você quer que eu fale para ele?
— Não, eu quero que você pague sua dívida... — Ela colocou a mão direita no peito e aproximou cada vez mais enquanto subia — Eu quero um beijo seu.
Em poucos segundos eu já sentia os lábios quentes da Elisa encostando nos meus. Minhas mãos foram para sua cintura e minha boca seguia seus movimentos. O cheiro dela, seu toque, sua respiração, seu corpo encostando o meu e seus braços apoiados em mim. Foi tudo incrível.
Porém, sem que eu percebesse, Eduardo nos olhou de longe. Ele estava incrédulo e segurava em suas mãos a bola de futebol. Seus olhos lacrimejando e suas mãos tremiam de raiva. Eduardo rangeu os dentes, soltou a bola e seguiu para cima de mim, com toda a sua força e fúria.
Enquanto se aproximava, acabou passando por um homem que estava usando um elegante terno negro. Eduardo não se importou em olhar para ele, mas o homem olhou diretamente em seus olhos e o que viu o fez sorrir. Quando o garoto chegou até mim, me socou no rosto com muita força, fazendo-me cair no chão. Ele segurou a gola da minha blusa e olhou com toda sua fúria.
— Seu desgraçado! Você sabe que eu gosto dela — Ele gritou e golpeou meu rosto — Pensei que você era o meu amigo!
Olhei no fundo dos olhos dele e falei friamente:
— Você nunca foi o meu amigo e nunca vai ser.
De repente Eduardo ficou paralisado. Ele soltou a gola da minha blusa e seus olhos enfurecidos voltaram a se encher de lágrimas.
— Você é um inútil, Eduardo, nunca faz nada certo, tem o pior senso de moda do mundo e é um retardado iludido.
Ele rangeu os dentes e cerrou o seu punho.
— Por que está falando isso agora!
— Porque eu me cansei da sua inútil existência me atrapalhando — Eduardo deu alguns passos para trás e seu coração bateu forte. Eu avancei os mesmos passos e coloquei o meu dedo indicador na sua testa — Deixe de ser inútil!
Empurrei com o indicador e ele caiu para trás, inconsciente.
Aquele homem com o terno negro segurou o Eduardo que desmaiou no chão após passar por ele.
— Achei meu soldado — Santiago demonstrava um sorriso maléfico — Espero que se divirta na ilusão. Você vai ser meu trunfo contra o Wayne
Após beijar a Elisa, fiquei um pouco constrangido. Afastei-me um pouco dela e coloquei as mãos atrás da cabeça.
— Você não gostou? — Ela perguntou receosa.
— Sim, eu gostei, mas estou com vergonha.
— Ah sim — Ela deu uma risada aliviada — se quiser outro é só falar.
— Cuidado, posso ficar abusado assim.
Elisa riu.
Pensando bem agora, se o Eduardo descobrisse que eu beijei a Elisa, ficaria maluco, afinal gosta dela. Uma hora ou outra isso aconteceria, não podia ficar me prendendo por causa dele, Eduardo tem que aceitar...
De repente eu tive um mau pressentimento.
— O Eduardo! Onde está ele?
— É verdade ele ainda não voltou, será que a bola foi muito longe?
De repente eu coloquei a mão na frente da boca.
Ele desapareceu já faz um tempo e Santiago foi visto em um local próximo da faculdade... Será que pegou ele? Se isso aconteceu o Eduardo está em perigo!
— Elisa, vamos procurar o Eduardo.
— Por quê? — Ela perguntou confusa — Ele ainda não deve ter achado a bola.
— É serio Elisa, ele pode estar precisando de ajuda.
— Mas... — a garota tentou questionar, mas o meu olhar estava sério demais, e eu nunca ficava assim — Muito bem vamos procurá-lo.
Santiago seguiu até os fundos da faculdade. Próximo do galpão tinha uma pequena construção ao lado. Ele entrou no local com o Eduardo desmaiado em seus braços.
— Outro? — Zero perguntou. Um garoto se encontrava de braços cruzados ao seu lado, mas ele se manteve em silêncio.
— Esse aí não é nem sequer Adequado. Talvez sirva para atrasar os nossos inimigos, mas de resto é inútil. Eu precisava de outro.
— E esse garoto, vai servir?
— Não sei, mas com a ilusão e torturas intensas pode ser que suporte... é nossa última cartada. Ele tem que servir... não... ele vai servir.
Santiago deixou Eduardo deitado sobre o chão e seguiu até ficar de frente para o rapaz, que estava ao lado da Zero. Ele retirou uma faca da cintura e entregou para o garoto.
— Matias, seu trabalho é ferir o máximo possível a pessoa denominada Wayne.
Ele assentiu, pegou a faca e saiu da construção.
Corri pelos corredores, salas, armários e banheiros, mas Eduardo não estava em local algum.
— Ele não estava dentro da faculdade — Elisa disse preocupada, ao nos reencontrarmos — Como que ele desapareceu?
— Eu não sei... ainda tem lugares que não olhamos.
— Verdade.
— Então vamos fazer o seguinte: você procura lá fora nos locais mais fechados e eu vou procurar mais no interior.
Elisa confirmou com a cabeça e correu até a área de fora. Eu me virei e segui em frente para ir até os locais que ainda não procurei. Após correr muito, cheguei em um corredor cujo o chão estava sujo de terra. Isso era um sinal de que alguém passou ou estava ali e eu tive esperança de encontrar o Eduardo, mas era Matias que estava lá. Ele se encontrava de pé no final do corredor. Suas roupas rasgadas, o casaco vermelho sujo de terra e as calças jeans destruídas.
Ele me olhava fixamente enquanto segurava em sua mão direita uma faca que refletia a luz do corredor.
— Matias o que você está fazendo aqui?
Ele não respondeu e apenas continuou me encarando.
— A Elisa está preocupada com você.
De repente ele deu passos para frente.
— Você fez alguma coisa com o Eduardo?
Ainda sem responder, continuou andando na minha direção enquanto a lâmina da faca esbarrava nas portas abertas dos armários das paredes e quando estava próximo o suficiente para me alcançar, começou a correr na minha direção.
Logo ele tentou me golpear com a faca, mas eu segurei a mão dele e rolei para trás, arremessando-o na mesma direção. Matias bateu de costas no chão e eu corri para me afastar. Quando eu cheguei no fim do corredor, deparei-me com o Santiago ao olhar por uma janela. Ele estava andando do lado de fora da faculdade e em seus braços segurava o Eduardo.
No momento que eu olhei para trás, Matias já não estava mais no chão. Tudo que se podia ver era a marca de terra que sua jaqueta suja deixou. Novamente olhei através da janela, mas Santiago já tinha desaparecido.
De repente Elisa apareceu com um celular de capa vermelha na sua mão direita, ela estava ofegante e preocupada.
— Wayne, esse é o celular do Eduardo. Eu acho que ele foi sequestrado.
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