O calor do abraço
Depois de tanto falar, Lara começou a chorar. Eu não entendia ao certo o por que de ela ter se aberto tanto para mim. Esperava que ela apenas fosse ignorar, mas no fim me contou tudo que passou. E quando eu questionei o por quê, ela apenas respirou fundo e deu de ombros:
— Eu não sei ao certo, mas quando eu olho para você, por algum motivo, eu vejo a luz da Luna. É como se eu estivesse olhando para ela...
— Isso é um pouco estranho... mas se for melhor para se sentir confortável tudo bem.
Ela passou o dedo no nariz e logo limpou as lágrimas que tinham escorrido. Entre leves soluços falou:
— Você é legal... quer ser meu amigo?
— Vou ser — respondi com um sorriso.
Lara retribuiu o sorriso e no mesmo instante Santiago entrou na sala, transtornado. Ele estava sendo acompanhado por dois homens e quando olhou para Lara, cerrou o seu punho com muita força, mais irritado ainda. E por algum motivo ela ficou assustada quando Santiago a viu chorando.
— PORRA! Peguem ela e joguem na máquina! — Ordenou com um grito. Estava tão irritado que saliva voava de sua boca.
Os dois homens que o acompanhava seguraram Lara que se contorceu para escapar dos braços fortes, mas não teve sucesso.
— Não! Parem com isso! Soltem-me, por favor — Lara implorou enquanto era arrastada pelos homens.
— Ei, parem! Soltem ela! — Ordenei enquanto me balançava desesperadamente na corda apertada.
— Cala boca, moleque! — Santiago vociferou de maneira intimidadora.
O homem seguiu para minha frente e se conteve para não me espancar. Ele ponderou enquanto hiperventilava em desespero: o homem estava em xeque, e a escolha era um desafio. E então respirou fundo e olhou para mim.
— O que você vai fazer? — Perguntei engolindo em seco.
Santiago não respondeu e acertou um cruzado de direita na minha cabeça. O golpe me nocauteou na hora. Em seguida, retirou um rádio portátil do seu bolso.
— Não ataquem — falou ao exército de mercenários liderado por um homem cheio de tatuagens de bombas pelo corpo.
— Mas porque? Jack está na nossa mão! — O homem tatuado questionou.
— Apenas obedeça, Bombardeio, acabei de ter um imprevisto e você não sabe o quão difícil foi tomar essa decisão.
Um suspiro foi realizado.
— Espero que me dê outro para torturar, Jack seria um bom refém.
— Vai ter... — Sintonizou à frequência de Jack — Vou trocar.
Segundos depois ele respondeu.
— Demorou um pouco, Santiago... Não traga ninguém, senão nada feito.
— Pode deixar.
Jack não usou o freio durante todo caminho, apenas cortando e acelerando o máximo possível. E quando finalmente chegou, encontrou Santiago. Estava sozinho em frente a base e em seus braços eu estava, com um leve corte na testa que sangrava.
Jack logo saiu do carro e encarou o homem, então rapidamente levou a mão na cintura e retirou uma pistola de prateada, apontando-a para o rosto de Santiago.
— Você não joga limpo, não é? — suspeitou — Eu te mato aqui se o seu Sniper atirar e você sabe que eu posso reagir a tempo.
Santiago rangeu os dentes.
— Não cansa de ser ridículo? — Santiago levou um rádio a boca — Não atire.
Jack segurou a roupa da Clara com sua mão esquerda e o Santiago me manteve em seus braços. Então eles se aproximaram lentamente e Santiago pegou a Clara pelo braço enquanto Jack me segurou.
O homem logo se virou de costas e puxou a moça pela manga, na direção da base, e Jack, com muito cuidado colocou-me no carro e saiu do local com a mesma velocidade que chegou, voltando direto para o galpão.
Clara, ainda sendo arrastada, tentou falar com o Santiago.
— Eu posso explicar sobre o Wayne.
— Isso fica para depois — rosnou — aquele moleque por algum motivo conseguiu fazer Lara chorar e agora ela está quase recuperando sanidade total. Precisamos que ela continue alienada!
Clara parou de repente e forçou o seu braço com tanta força que rasgou o terno de Santiago, o que claramente piorou a fúria do homem. Porém Clara não largou a postura e permaneceu parada no meio do corredor.
— Não vou fazer isso! — confrontou.
— Você vai sim!
— Não... Estou cansada de você! Cansada deste lugar! — Confrontou decidida — Você nunca vai me dar um frasco de AMC! NUNCA!
— Poxa, Clara estava prestes a te dar um frasco.
A moça recuou negando com a cabeça. Era apenas mais um blefe de um psicopata, não deveria acreditar nele, até que surgiu de dentro do terno um frasco de AMC e o coração de Clara acelerou.
— Eu não minto. Estabilize Lara que eu te dou o frasco.
Clara não conseguiu negar e bufando disparou para a sala onde se encontrava a máquina de controle. Lara estava no local, sendo carregada por dois homens fortes enquanto implorava por piedade, gritava e batia contra as costas musculosas dos homens.
Clara sentiu um aperto no coração enquanto evitava olhar para ela. Lara continuava implorando incessantemente quando um dos guardas a colocou na máquina. Amarraram suas mãos, cintura e pés. E com um sedativo Lara começou a parar, até que caiu no sono.
— Conseguiram dar um jeito? — Santiago perguntou ao chegar ofegante na sala.
— Por enquanto, sim — Um dos guardas respondeu.
— Clara, comece.
— Não me dê ordens.
Clara digitou alguns códigos no teclado da máquina e ligou alguns botões na lateral da mesma, então colocou eletrodos na testa da Lara. E momentos depois os gritos de agonia da garota ecoavam pela sala. Ela estava revivendo o dia em que foi forçada a matar sua melhor amiga. A imagem do dia era mostrado no monitor.
Depois de três horas de tortura, Santiago puxou Clara pelo braço para fora da sala, deixando Vitória na vigilância, que depois de se certificar que todos já se afastaram, seguiu até o monitor da máquina. A mulher queria se vingar da Lara, já não suportava mais sua presença.
Vitória abriu a aba de comandos e começou a digitar diversas linhas de códigos. Ela não sabia ao certo o que fazia, mas parecia fazer sentido em sua cabeça, todavia ela mal sabia o desastre que seus atos iriam causar.
A mulher apertou "enter" e sorriu satisfeita quando Lara começou a se debater. Para Vitoria foi um sucesso, pois mesmo sem saber conseguiu piorar a tortura de Lara... mas estava equivocada. O comando que colocara desativou trava de aceleração da tortura. E a máquina, já sobrecarregada, não suportou e começou a falhar.
Lara se debateu intensamente e Vitória entrou em desespero. Os gritos ficaram mais intenso e o sorriso de Vitoria desapareceu ao ver as amarras arrebentando. Um desespero caiu sobre o corpo da mulher que logo correu para porta, mas ela foi trancada por fora. Desesperada, bateu pedindo por socorro, mas não teve sucesso. E poucos segundos depois, Lara gritou enlouquecida e diversas estacas foram invocadas para todas as direções. Elas acertaram todos objetos que estavam na sala, inclusive Vitória, que morreu tendo a aparência de um queijo suíço.
Santiago fechou a porta e Clara não perdeu tempo ao confrontá-lo.
— Agora me dê o soro — Falou tentando se controlar.
— É todo seu.
Porém, antes que Clara pudesse pegar uma grande explosão foi sentida. Assustado, Santiago destrancou a porta e se deparou com a sala cheia de estacas e na parede havia um imenso buraco. Ele permitia passagem para o corredor principal da base, o mesmo que levava até a saída do local.
— Droga! — Santiago quase arrancou o próprio cabelo.
O rádio tremia em suas mãos e quase partia com a força que era pressionado.
— Câmeras de vigilância, procurem a Lara — Segundos se passaram e ninguém respondeu, o que fez Santiago engolir em seco — CÂMERAS DE VIGILÂNCIA!
Nenhuma resposta.
— PORRA! — Santiago seguiu furioso até a sala mais próxima. O homem que vigiava estava morto. Santiago logo olhou para as câmeras: Lara já havia saído e por todos corredores havia corpos mortos. Para piorar, Clara apareceu em uma das celas correndo em direção a saída, com uma maleta na mão. Santiago não percebera que a mulher não estava consigo.
Tudo estava desmoronando, seus problemas caíam sobre sua cabeça como pedras. Era um xeque-mate, pelo menos se não tivesse uma carta na manga. Santiago sempre se preparava para o pior e há anos havia planejado uma via de salvação quando tudo desmoronasse. Não poderia seguir com seu objetivo e controlou-se ao máximo que pôde.
— Peguem Lara Sunyday viva — Ordenou com o poder que ainda tinha e seguiu para falar com uma pessoa que sempre ficava presa dentro de seu quarto. Uma moça de cabelos prateados que sempre usava roupas e luvas de couro. Ela apenas saía em poucas exceções. Ele rapidamente entrou no quarto e orientou que deveriam sair de lá e deixar a base o quanto antes.
Também aproveitou para trocar seu terno que havia rasgado. E quando retirou as roupas, diversas cicatrizes apareceram, cicatrizes essas que eram presentes em quase todo o corpo do homem, como cortes e queimaduras.
— Mas por que isso agora? — Zero perguntou confusa.
— O plano caiu antes do esperado — Santiago não precisou dizer mais nada. Ela já sabia o que fazer.
Santiago saiu para o lado de fora da base, em sua mão um bispo que pegara de um tabuleiro de xadrez. Zero estava ao seu lado. O cabelo prateado brilhava com o luar.
— Como vamos para o plano b? Caímos muito rápido... — perguntou.
— EU sei... não esperava que o 17 estivesse vivo... Clara forjou muito bem a morte desse garoto... esperava menos ainda que se aliaria a Jack. Sem a Lara as poucas chances de vencer Clarisse se foram e ainda faltam dias para conclusão do soro.
— Não se preocupe com a perda da Lara, Santiago, eu sozinha consigo lidar com eles. Posso até derrotar Clarisse eu acho...
Mas o homem negou com a cabeça.
— Clarisse é um dos demônios mais rápido dos Yun, você não daria conta... mas creio que sei como podemos aumentar nossas chances. Ainda tenho dois planos.
— E quais seriam?
Santiago olhou para ela com um sorriso.
— Um trunfo definitivo e uma grande explosão, não é, Bombardeiro?
Um homem com tatuagens de bombas nos braços apareceu entre as árvores, com um sorriso sádico à mostra. Segurava pela pata um coelho decapitado, um gravador na outra e sangue gotejava dentre os dedos.
— Mas é claro!
Depois daquela conversa a Lara não saía da minha cabeça. Sentado no chão do galpão, recostado em uma das laterais e olhando o teto furado. Não conseguia parar de pensar em como o coração da Lara estava destroçado, em como tudo aquilo a machucou e em como ninguém a ajudou. Todos a viram como um monstro, um ser assassino sem emoções. Todos a abandonaram, mas eu não conseguia a abandonar, ninguém tentou salvá-la, porém eu sentia mais que uma necessidade fazer diferente. Era meu dever salvá-la.
E Jack parecia agir naturalmente, como se não passasse nenhum remorso por sua cabeça enquanto ajeitava seus apetrechos.
— Não podemos abandonar a Lara — Falei de repente.
Jack parou o que estava fazendo com um suspiro e olhou por cima do rádio.
— Nós temos que matar a Lara se quisermos destruir a Lupus.
Neguei com a cabeça.
— Eu olhei nos olhos dela enquanto estava preso... eu vi a tristeza no olhar dela. Ela não gosta do que faz, ela precisa de ajuda. Lara não tem culpa do que está fazendo, está sendo controlada.
— Ainda assim, ela é uma máquina de matar. A salvação que podemos dar a ela é a morte!
— Jack... você não estava lá para saber o que aconteceu... Eu posso salvá-la!
— Pode salvá-la? O que acha que vai acontecer garoto? Que você vai falar palavras bonitas e ela vai de repente cair na realidade?
— Não é isso. É que... é que eu vi Jack! Eu vi a maneira que ela olhava! Presenciei suas palavras! Escutei sua voz! Olhei de perto o desespero nos olhos dela, o pedido de ajuda! A mão estendida para ninguém! Eu tenho que salvar ela. Lara merece uma chance!
Jack respirou fundo e virou de costas.
— Como você consegue ter essa empatia?
— Eu não sei... eu apenas sou assim.
Mas Jack apenas conseguia negar com a cabeça.
— Na primeira oportunidade ela irá te matar. Não vou deixá-lo fazer isso.
— Você não é o meu pai Jack...
Ele apenas olhou durante alguns segundos.
— Eu nunca disse que era.
— Então porque fez tudo isso?
Antes que Jack conseguisse responder, uma frequência da policia afetou o rádio sobre a mesa. Um alerta dizia que um Alterado foi visto destruindo carros e machucando pessoas na entrada da cidade.
E no mesmo instante soubemos o que era e partimos direto para o local.
A entrada estava extremamente destruída, as estacas da Lara estavam por todo o lado. O portal que dizia "bem-vindo" estava caído no chão, o asfalto próximo da entrada destruído e esgoto vazando pelos buracos.
E em um dos cruzamentos, acabei avistando a garota. Ela estava furiosa, bufava e hiperventilava enquanto atacava furiosamente tudo que via pela frente, descontando sua raiva. Todos cidadãos evacuaram a entrada.
Nós descemos do carro e Lara olhou em nossa direção. Para piorar 5 normais e dois Alterados apareceram para conter o problema. Os homens logo seguiram para me atacar, mas Jack interveio, ficando de costas para mim e de frente para os inimigos.
— Vou te dar uma chance. Eu cuido dos penetras e você dá um jeito nela — olhou por cima do ombro — Não consigo pensar como você, mas espero que esteja certo.
Eu sorri para ele.
— Obrigado.
Mal me virei quando Lara atacou com duas estacas vindas do chão na direção do meu rosto e sua estaca passou raspando em minha bochecha. Entre nós apenas havia uma rua vazia, dificultada apenas por conta do asfalto quebrado.
Então a garota não perdeu tempo e correu na minha direção, tentando me socar no rosto com a sua mão direita, mas desviei e soquei o estômago dela, o que a jogou um pouco para trás.
— Lara, a Luna não iria querer que você fizesse isso!
De repente ela parou por um segundo, mas logo ela correu na minha direção mais enfurecida ainda.
— Quem você acha que é para saber o que a Luna quereria! — Vociferou.
Ela invocou uma estaca que quase acertou meu estômago e seguiu com uma sequência de socos e estacas que me forçaram recuar. Diversos golpes me acertavam e as estacas quase empalavam, passando apenas de raspão.
No instante que Lara seguiu para dar um último soco, seu pé se prendeu em um dos buracos e eu revidei com um soco elétrico, mas a garota não demorou ao invocar uma parede de estacas perpendiculares.
Lara era muito rápida com seus ataques e defesas, acertá-la estava extremamente difícil. E ela logo apareceu pela esquerda da barreira e me chutou na barriga, seguindo com um soco no rosto que me fez cair no chão, rolando para trás. Mais estacas apareceram e quase me acertaram. Eu me levantei rapidamente e corri entre as mesmas na direção da Lara. Logo ela me recebeu com um chute no rosto, mas segurei seu pé e logo usei a perna para derrubá-la no chão. Em seguida eu segurei seus braços com força.
— Onde estão aqueles olhos que pediam por ajuda! Onde está você, Lara!
Mas sua feição enfurecida não se alterou e, em um piscar de olhos, tive meu ombro direito perfurado por uma estaca. Logo em seguida fui chutado na barriga, o que me arremessou para longe.
— Você é fraco! — Lara exclamou — Não vai me derrotar.
E foi naquele momento, enquanto me arrastava com a mão sobre o ferimento, que finalmente percebi. A vida dela foi baseada em força. Realmente seria uma questão de força? Ela precisava de viver assim? Não... ela não precisava de força... e eu sabia do que ela precisava.
Levantei-me novamente. Um círculo de estacas verticais nos cercou. Esforçava-me para manter a postura enquanto olhava nos olhos da Lara.
E ela seguiu na minha direção, golpeando-me de todos jeitos possíveis e me derrubou novamente. Porém eu apenas me levantei e abri os braços.
— Está tudo bem Lara — Eu disse.
Lara de repente rangeu seus dentes e socou com mais força, derrubando-me com muito mais intensidade e eu voltei a me levantar da mesma maneira.
— Por que você não revida? — Ela gritou e socou em cheio no meu rosto.
— Não precisa mais se machucar — Respondi com calma.
Lara por algum motivo colocou suas mãos na cabeça, como se estivesse sentindo uma grande dor, e então se afastou. Ela recuou até chegar na parede do círculo que criou.
— Não precisa sentir medo — Dei um passo a frente. Meu braço perfurado latejava, minhas pernas doíam e bambeavam, já estavam quase sem forças para andar, mas não desisti. Mesmo com passos lentos segui me aproximando cada vez mais da Lara.
— Não se aproxime!
Apenas sorri levemente e ela implorou para que me afastasse, mas não obedeci. Lara criou várias estacas fechando um corredor em volta de mim e insistiu novamente, porém não recuei.
— Não se preocupe, vai ficar tudo bem! — Falei novamente.
Continuei me aproximando com passos lentos e curtos. Várias estacas passaram por mim, mas nenhuma parecia querer acertar. Lara ainda tentou se afastar, mas estava bloqueada.
Quando eu cheguei na sua frente a garota protegeu o rosto esperando se machucar, mas apenas me agachei e abracei. Lara sentiu como se recebesse um grande baque e seus olhos se encheram de lágrimas. Todos os sorrisos, abraços, brincadeiras, conversas e a luz que via no olhar de Luna invadiu sua mente. Tudo estava ali, abraçando-a com um calor agradável, o calor dos braços dela.
As lágrimas de Lara finalmente escorreram pelo rosto, e ela gritou com um misto de desespero e felicidade. Em um último pulso inconsciente, uma estaca disparou e perfurou o lado esquerdo do meu abdômen. E então Lara recuperou a sanidade.
Ao perceber o que tinha acontecido, ela acabou derramando ainda mais lágrimas sobre as suas bochechas. Minhas pernas perderam a firmeza e caí sangrando sobre os seus braços. A menina havia repetido mais uma vez o que fizera anos atrás e o coração da garota rompeu-se mais uma vez ao ver a única pessoa que se importou morrendo em seus braços.
— Não, por favor, isso de novo não!
Com minhas últimas forças, coloquei minha mão sobre sua bochecha e suas lágrimas escorreram entre os meus dedos e gotejaram sobre meu rosto. Apesar da dor agoniante, estava feliz em ver as lágrimas que escorriam, no fim, mesmo que morresse, havia salvado-a.
— Wayne, acorda por favor! Wayne...
Sorri para ela uma última vez enquanto minha mão deslizava sobre seu rosto. Os últimos raios de sol que iluminavam o dia desapareceram e acabamos sendo iluminados por um poste.
— Ainda bem... que... eu consegui te salvar... — Eu falei com dificuldade e meu braço caiu sobre o colo da Lara.
Ela gritou em desespero e me abraçou com os braços trêmulos. Todas as estacas a nossa volta desapareceram e a Lara implorou por ajuda. Jack, que estava longe, correu desesperado para me ajudar e assustou-se ao ver as lágrimas que escorriam do rosto da garota: seu grito de desespero era sincero.
— Foi acidente... eu não queria ter feito isso.
— Você fala depois.
Jack me colocou nos seus braços e me carregou até o carro enquanto Lara tentava segurar seu desespero. Removeram o peitoral e avistaram os ferimentos: eram graves demais para tratar sem equipamento. Apenas o que segurava a vida que se esvaía, era o poder de cura do AMC, mas logo não daria conta.
Mas a minha salvação veio acompanhada de uma voz familiar:
— Cheguei!
Jack olhou rápido para o lado: era Clara. Ela estava com um kit de primeiros socorros, seguindo desesperada para me salvar.
— Como você sabia? — Jack perguntou incrédulo.
Clara sorriu e passou a mão pelo meu rosto.
— Eu conheço bem o meu garotinho, já esperava que ele fosse se machucar... Apenas queria ter chegado mais rápido... eu infelizmente tive que fazer uma escolha muito difícil... isso me atrasou.
— Tudo bem. Agora vamos ajudá-lo.
Quando finalmente recobrei a consciência, percebi que a minha cabeça estava apoiada no colo da Lara. Nós estávamos no sofá da cafeteria, não tinha ninguém dentro e aparentemente ainda era noite. O local estava fechado e não fazia a menor ideia de como o Jack entrou aqui, mas era um bom lugar para ficar.
No instante que Lara me viu acordado, quase chorou novamente. Ela me abraçou pelas costas e encostou a testa na minha nuca.
— Desculpe-me — Falou triste. Estava apertando a minha barriga no abraço.
— Você não tem culpa, foi a Lupus.
Assentiu levemente com a cabeça.
— Se você não tivesse sobrevivido...
— Agora você está bem, é isso que importa — um segundo de silêncio — Posso te pedir uma coisa?
Assentiu novamente.
— Ajude-me a derrubar a Lupus, pelo que ela fez com você e com as outras crianças.
Virei em direção a Lara que sorria alegremente.
— Eu vou te ajudar — Pausou por um momento e voltou a falar — posso pedir algo também?
— Pode.
Os olhos dela brilharam e logo pulou e me abraçou, repousando sua cabeça sobre o meu ombro.
— Eu não sei o que tem em você, mas me sinto incrivelmente bem. De alguma maneira ela está em você, a luz dela. Por favor, deixe eu viver com você... seja meu irmão.
Coloquei a mão sobre cabeça dela e sorri.
— Tudo bem!
Jack apareceu de repente e colocou a mão sobre meu ombro.
— Parece que você estava certo.
Sorri.
— Sim.
Jack andou um pouco e olhou através de uma das janelas, então voltou a olhar para mim.
— Parabéns pelo sucesso, Wayne.
Meus olhos brilharam e eu quase chorei ao ouvir aquilo. Depois de tudo que passamos, todas as lutas e os treinos, finalmente eu havia evoluído. E essa honra vinha junto com Jack, que me chamou, pela primeira vez, por meu nome.
Depois da destruição causada por Lara, o líder de Glade Stone, Jason, que acabara de ter sua neta assassinada por um Alterado, teve como estopim para a declaração da guerra contra os Alterados, também nomeando o Abatedor Neitam Black, o novo chefe de polícia devido a complicações pessoais.
Eles afirmaram que Alterados são uma ameaça a paz, com isso, qualquer um devia ser preso. Sendo bom ou não, criança ou adulto, até mesmo idosos. Um novo equipamento foi criado na zona industrial para fazer uma espécie de verificação, como maneira de diferenciar os Alterados dos Normais.
Uma atitude exagerada para alguns, necessária para outros. Mas o que todos concordavam: os Alterados precisam ser parados.
Porém mesmo com esses e outros problemas eu, Jack e nossa nova integrante, Lara, não desistiremos. A Lupus está com seus dias contados.
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