A invasão
Lara seguia sangrando e cambaleando pelos corredores da base. As pernas muito feridas e com os braços perfurados por pequenos cacos de vidro.
— Cadê os médicos? — Ela perguntou agoniada enquanto se arrastava apoiando nas paredes.
De repente uma mulher apareceu. Era negra com mais de 35 anos e um volumoso cabelo cacheado. Uma das poucas responsáveis na vigilância da Lara. Vitória era seu nome.
— Não temos. Você matou a maioria deles... Vou ter que chamar os enfermeiros da Clarisse.
— Eu não tive culpa — caiu com um dos joelhos no chão e uivou de dor com o impacto — Traga logo!
A mulher analisou Lara com os olhos e deu um leve sorriso de deboche.
— O que aconteceu para você ficar tão machucada?
A feição de Lara deu indícios de fúria.
— Vai se ferrar — tossiu — chame logo a merda dos enfermeiros!
— Nossa... você é muito agressiva! Eu só queria saber se você realmente foi para o destino... ou será que desviou caminho?
O sorriso de deboche daquela mulher estava irritando Lara por completo. Já não suportava mais tolerá-la, então, rapidamente erguendo-se sobre os pés fracos, Lara tentou encostar em Vitória, mas poucos passos foram necessários para desviar da garota que mal conseguia ficar de pé.
— Eu já devia ter feito isso com você a muito tempo — Lara rosnou e não desistiu. Mesmo com passos curtos, continuou perseguindo com sua mão trêmula — Vou acabar com a sua vida!
— Você não está pensando direito! — Respondeu desesperada, enquanto recuava.
Vitória acabou tropeçando e caiu para trás, permitindo que Lara a alcançasse.
— MORRA!
Porém um homem moreno, com tatuagens de bombas no braço, segurou a mão dela e rapidamente injetou um calmante no seu pescoço. Lara acabou desmaiando em seus braços quando um outro homem chegou no local. Ele tinha cabelo penteado para trás, sempre estava com um terno cor de obsidiana, sem gravata, e de pele branca. Olhos negros demonstravam o vazio dentro de sua alma. E, acima de tudo, era nítida uma cicatriz no canto direito do rosto, que seguia da ponta da boca até a ponta da orelha. Além das pontas de cicatrizes que vazavam por de baixo das mangas do terno.
Ele era um homem cheio de segredos, além de ser um dos três líderes da Lupus. Ninguém além dos próprios líderes sabia sobre a sua vida pessoal.
— Parece que você não consegue controlar nem se quer uma adolescente — Repreendeu com desgosto.
— Santiago... você sabe muito bem que ela não é só uma adolescente normal, é um monstro com sede de sangue!
— Nós criamos esse monstro... mas você notou não é? Por isso pegou mais pesado desta vez, ela está diferente.
Vitoria assentiu com a cabeça.
— Ela nunca chegou tão vivida de uma missão... o que será que aconteceu? Ela falou com a voz viva... nem parecia alienada...
— Eu não sei. Minha única certeza que eu tenho é colocá-la de volta na máquina e reverter esse estado.
Vitoria sorriu com satisfação.
— Vai ser um prazer recolocá-la, mas seria muito melhor se o Experimento 17 tivesse sobrevivido... Eu odeio vigiar essa praga!
— Quero saber o dia que você deixará de dizer isso... mas de fato, é uma pena a falta do 17 — Santiago olhou para o homem tatuado — Leve ela e compareça a minha sala, tenho algumas missões para você.
Um sorriso sádico apareceu no rosto do homem tatuado.
— Sempre disposto as suas missões.
Então ele e Vitória levaram Lara com a ajuda de uma maca.
Momentos depois Santiago sentiu um calafrio, após ouvir o barulho de sandálias de metal batendo contra o chão: uma mulher vestida com uma roupa ninja havia aparecido atrás de suas costas. Então o homem se virou e focou em seus olhos.
— Que demora Clarisse... — reclamou — Eu quero ver a Karla.
No mesmo instante a mulher se indignou.
— Foi para isso que me chamou? Que merda Santiago! Estou tendo alguns problemas com o SSM e você gasta meu tempo assim? Já disse que será em breve!
Santiago rangeu levemente os dentes. Ele queria contestar, mas era de longe a pior continuação para esta conversa.
— Para seu bom humor não era apenas isso que eu queria tratar — Falou controlando-se — Estamos com o efetivo ridículo nessa base. Apenas tenho a Lara e três Experimentos adultos. De resto apenas poucos normais. Como farei se tiver algum problema?
— Dá seu jeito, Santiago. Isso não é responsabilidade minha.
— Ah é? Fácil falar sendo protegida por dois dos Cinco.
— Escuta apenas uma coisa — A postura de Clarisse tornou-se agressiva — Você já possui um dos Cinco. Já é o suficiente. Os demais você pode conseguir contratando normais.
— Claro, é muito tranquilo conseguir um bom número de candidatos para entrar em uma organização.
De repente Santiago sentiu o fio de uma espada encostando em seu pescoço. Uma gota de suor surgiu no canto de seu rosto.
— Realmente quer me desafiar Santiago?
— Apenas quero um pouco de efetivo. Não deve ser difícil para você não é?
Clarisse respirou fundo e recuou, voltando a embainhar sua espada.
— Não quero ficar me irritando por causa de você, já tenho muitos problemas para resolver. Vou te enviar um efetivo e dois e apenas DOIS membros da YR. Se você reclamar ou voltar a me perguntar sobre Karla, eu não vou parar a lâmina no seu pescoço.
— Entendido.
A mulher desapareceu nas sombras e Santiago socou a parede, finalmente liberando a fúria que conteve durante a conversa.
— Clarisse... — Cerrou tão forte que o punho sangrou — Como eu te odeio.
No outro dia eu me levantei mais cedo para ir a loja que estava consertando meu celular. Ele aparentemente foi torrado pelo raio, mas o rapaz da loja falou que ainda tinha conserto, o difícil foi explicar como eu consegui deixar o aparelho naquele estado.
O céu ainda estava um pouco nublado e pessoas com casacos rodavam nas ruas, um tempo meio frio, mas agradável.
Depois que recuperei meu celular na loja, fui até um banco e liguei o aparelho. Para minha surpresa tinha incríveis 253 mensagens dos meus amigos e algumas outras do grupo "Cadê o Bawne? Fora Walace". Nesse grupo parecia estar sendo divulgado que Bawne finalmente voltou depois de seu desaparecimento de meses, dando continuidade ao processo com uma prova primordial e finalmente teve sucesso, recuperando assim a sua empresa de projetores 3D. Ler isso foi reconfortante, afinal Bawne havia perdido sua empresa para um amigo traíra.
Naquele mesmo momento mais uma mensagem do Eduardo chegou. Eu acho que não cheguei a falar para os meus amigos que o meu celular pifou. Era melhor ligar e avisar o que aconteceu.
— Alô — Eduardo, perguntou após atender o telefone.
— Sou eu, o Wayne.
— Ah, o sumido tem que aparecer em algum momento! Sabe quantas mensagens eu e o Marcos mandamos para você?
— Sim. Um pouco mais que 200 mensagens.
— Nossa, isso tudo? Mas não importa. Por que não respondeu?
— Meu celular estava no conserto. Mas porque tantas mensagens?
— É porque eu e o Marcos estávamos combinando de ir no cinema.
Mas que droga não teria como eu ir e eles, com certeza, ficariam chateados.
— Ah cara — disse com receio — vou ver se consigo ir.
— Sério? "Vou ver se consigo ir." O que você tem de melhor para fazer?
— Tenho uma vida tá.
— Mano você nunca deu essa desculpa... tenho certeza que tem alguma morena no seu coraçãozinho viu...
A vergonha banhou meu corpo.
— Vai se ferrar Eduardo! Se você continuar com isso eu vou começar a te zoar sobre a Elisa também!
— Ok, ok. Você ganhou. Mas espero que não esteja nos evitando.
— Eu juro que não estou, na primeira oportunidade eu vou com vocês.
— Ta bom.
Eduardo pareceu um pouco triste, mas não posso fazer nada quanto a isso. Contar sobre meus poderes aos meus amigos pode colocá-los em risco. Se a Lupus achou o Jack no galpão, não custa nada usá-los contra a minha pessoa. Terminar como Giovani eu não vou.
Retornei para casa e arrumei a sala que estava uma bagunça. Tinha uma meia em cima da televisão, farelo de comida no chão, o tapete estava sujo de café por causa da minha correria e, além disso, tinha muita sujeira pelo fato de eu não varrer muito.
Nesse meio tempo, coloquei meu celular para carregar, porém acabei tendo uma ideia melhor: Posicionei o meu indicador na entrada de carregamento e liberei uma leve eletricidade. Alguns segundos depois, o celular que estava com 4% agora foi para 100%. Depois dessa eu nunca mais fico sem bateria.
Fiquei tanto tempo arrumando a sala que acabei cansando, então sentei e me espreguicei. Mas meu sossego logo foi interrompido com a vibração do celular no meu bolso. Era o que Jack havia me dado.
— Encontrei a localização dela. Venha no café.
— Ok J... — Tentei falar, mas ele desligou na minha cara.
Logo parti para encontrá-lo. Ele me esperava com as mesmas roupas de ontem, em uma das mesas da cafeteria.
— Você trouxe a sua roupa, não é?
— Sim. Sabia que você cobraria isso, mas porque roupas mesmo?
— Elas servem para carregar coisas e ter uma luta confortável, além de um certo "estilo".
Não sei a dele, mas a minha roupa parece uma sauna, confortável é o caramba! Pelo menos uma coisa que ele falou é fato: essas roupas são realmente maneiras.
Jack colocou um tablet na mesa. Ele estava mostrando uma espécie de mapa bidimensional com vários tons de azul, porém com um ponto verde e outro vermelho localizados.
— Está vendo esse ponto vermelho? Ele representa a Lara. O outro nos representa.
— Nossa, estamos muito longe dela. Ela tá na base da Lupus?
— Base não é o termo correto para isso, seria melhor "em uma das bases." Eles sempre mudam de tempos em tempos, nunca dá para saber quando vão mudar novamente. Já chegaram a mudar no mesmo dia que entraram na nova base. É imprevisível. Além disso, essa não é a única base em funcionamento, existem outras duas que trabalham de maneiras diferentes, mas isso não vem ao caso.
— Eles são muito precavidos.
— Até demais — Jack abriu um aplicativo no tablet que mostrou uma imagem 3D — Olha isso, é a planta 3D do local que eles estão.
— Como você fez isso?
— Eu invadi os sistemas operacionais de alguns satélites e montei a imagem 3D com base na localização do rastreador.
— Mas se você fez isso, por que pedir ajuda dos caras da máfia? Tipo, se você invadiu um satélite, invadir a Lupus seria moleza, certo?
Jack negou com a cabeça.
— Não é bem assim. O Azcore é muito mais poderoso do que qualquer outro programa já feito. A equipe do Will demorou 6 dias para quebrar superficialmente o código de um disco rígido, imagine o servidor. O único jeito de acessar com facilidade é com a ajuda da mulher que criou o Azcore. Agora pare de me interromper.
— Nossa! Ok!
— A maior parte da base é protegida por guardas, o jeito mais fácil de entrar vai ser por aqui — Mostrou uma parede em específico — Nesse local tem um duto de ventilação. Podemos usar para passar por eles, porém você vai ter que fazer isso, pois é pequeno e eu ficaria preso se tentasse passar por ele.
Confirmei com a cabeça.
— Também não é só isso, você vai ter que derrubar os possíveis guardas que protegem o duto.
— Muito bem, eu consigo!
Por fim, Jack me entregou um pequeno dispositivo. Era um aparelho negro que se encaixava no ouvido. Ele tinha um microfone para mandar áudio, além de uma pequena antena para captar a transmissão do Jack.
— É um comunicador. Fique muito atento quando entrar, as paredes são reforçadas com chumbo e pode ser que não consigamos nos comunicar.
— Muito bem! Posso correr esse risco!
Jack se levantou e nós seguimos para o carro do lado de fora da cafeteria.
Lara sedada sobre a mesa recebia tratamento de quatro enfermeiros. Ela estava em uma grande sala equipada com desfibriladores e equipamentos médicos. Horas depois de remover os cacos de vidro para que o AMSC pudesse curá-la, até que um deles encontrou um pequeno aparelho perto da cintura da Lara.
— O que é isso? — Perguntou enquanto analisava com os dedos para tentar descobrir a utilidade.
— Não sei. Acho melhor chamar o chefe — Outro enfermeiro respondeu.
O homem andou até uma das paredes e apertou um botão que estava ao lado de um pequeno rádio. Ambos estavam acoplados na parede. Depois de um tempo, Santiago entrou na sala.
— O que aconteceu? Por que me chamaram?
— Nós identificamos algo estranho na roupa dela — O enfermeiro entregou o pequeno chip na mão esquerda do Santiago.
— Interessante... — Ele olhou com atenção contra a luz o pequeno objeto e descobriu que era em um segundo — Preparem-se, vamos receber uma visita em breve.
Jack dirigia um carro enquanto eu estava no banco ao lado.
— Revisando — Jack disse novamente — Você vai derrubar os guardas e depois abrir o duto. Quando entrar, você desce na segunda saída e derruba o vigia. Após isso, desligue as câmeras e aperte o botão vermelho, ele vai destravar a porta da frente. Quando isso acontecer, diga "pronto", eu vou entrar e nós nos encontramos dois andares abaixo, entendeu?
— Acho que entendi nas primeiras cinco vezes que você explicou!
— Eu sei que você não deve gostar de ficar escutando isso de novo e de novo, mas é necessário. Outra chance como essa vai ser difícil.
Confirmei com a cabeça e houve uma pausa, mas logo quebrei o silêncio.
— Posso pedir uma coisa?
— É sobre a Lara?
— Sim.
Jack suspirou.
— Garoto, você não pode ajudá-la. A Lara está perdida.
Respirei fundo e olhei para o céu pela janela, mas não conseguia me convencer que ela não tinha salvação, algo dentro de mim não queria aceitar isso. Eu deveria salvá-la. Ainda me esforcei em pensar para convencer Jack de alguma maneira, porém não consegui. Então nós seguimos o resto da viagem em silêncio.
E não demorou muito até chegarmos na construção. O terreno era desértico, havia pouca vegetação presente, apenas alguns arbustos secos e pedras grandes e pequenas por todo lado.
Logo em frente estava a base. Escondidos atrás de pedras, Eu e Jack observamos os dois guardas andando em círculos em volta do duto de ar, mas não conseguia parar de pensar na Lara, o que deixava aparente a minha falta de atenção nos oponentes.
— Foco, garoto. Logo vamos entrar. É aqueles guardas que você vai derrubar.
— Vou dar o meu melhor.
No mesmo instante que corri pelo campo um deles me viu e, sem hesitar, começou a atirar na minha direção. Eu apenas consegui saltar para trás de uma pedra próximo de mim, de maneira que me protegesse dos disparos.
Segundos depois os pentes ficarem sem munição, mas que eu pudesse sair para enfrentá-los um dos guardas deu a volta na pedra e apontou a arma para mim. Rapidamente carreguei meu braço de eletricidade e disparei na direção do homem que não teve reação ao receber a rajada.
Olhando de canto de olho pelas beiradas da pedra e vi que o homem tentava desesperadamente recarregar a arma, então parti para o ataque. E a cada vez mais que me aproximava o homem ficava mais desesperado. Suas mãos trêmulas mal conseguiam acertar o slot de munição, até que finalmente conseguiu colocar o pente na arma. Naquele momento eu estava com a mão a centímetros de sua metralhadora: o mais rápido venceria. E um disparo foi realizado.
Felizmente eu consegui desviar a arma o suficiente para ser atingido de raspão no braço esquerdo. E depois não perdi tempo ao finalizá-lo com um soco elétrico bem no rosto.
— Puta merda que dor! — rapidamente olhei meu braço o projétil não se alojou e sangrava um pouco, mas logo se curaria.
— Parece que você ganhou sua primeira tatuagem, pena que o AMC vai fazê-la desaparecer.
— Graças a Deus que vai.
Segui até a parede. O duto não era muito alto, conseguia alcançar apenas ficando de pé e a grade era chumbada na parede. Ainda tente puxar com toda a minha força, porém a grade sequer moveu.
— Jack, não consigo abrir a ventilação.
— Olhe o bolso da sua roupa, você vai encontrar uma pequena bomba silenciosa.
Vasculhei pela roupa até que encontrei o dispositivo. Era quase esférico. Em um dos lados possuía uma espécie de ventosa e do lado oposto tinha um pequeno botão.
— É o seguinte logo após apertar o botão, você vai ter três segundos para correr. Aperte e se jogue em algum lugar.
— Entendido.
Prendi a ventosa em cima da grade e apertei o botão que ficou vermelho. Então não perdi tempo e corri para a esquerda, saltando em seguida no chão arenoso que fervia com o calor. Quando a bomba explodiu, uma fumaça negra emergiu do local. E depois que se dissipou apenas tinha sobrado um grande rombo.
Adentrei no tubo apertado e acabei esbarrando em algumas teias de aranha e passando sobre a sujeira do local. O incomodo de sujar esta roupa branca foi tamanho que mal podia esperar para chegar em casa e limpá-la.
Depois de muitas subidas e descidas rastejando em meio aquela poeira e teias de aranha, finalmente cheguei na segunda saída. Observando pelos vãos, havia um homem em uma cadeira e uma sala cheia de monitores que mostravam a visão das câmeras de vigilância. Na frente dele tinha um pequeno painel com alguns botões e alavancas. A sala estava completamente escura, sendo iluminada apenas pela luz azulada das telas.
A grade deste também era chumbada e eu explodi a mesma com outra bomba silenciosa. Segurando pelas bordas, desci meu corpo e repousei sobre o chão como uma pluma, sem fazer barulho. Então aproximei-me por trás do homem na cadeira e rapidamente o nocauteei com minha eletricidade. Agora era só executar o plano. Desliguei as câmeras e abri a porta para o Jack entrar.
— Pronto.
No fim mal conseguia me conter de felicidade. Comemorava pelo sucesso com muito empolgação. Era minha primeira missão bem-sucedida, mas não poderia vangloriar para sempre, afinal ainda havia uma base inteira pela frente. Então segui para porta quando, de repente, os monitores desligaram. Virei-me rapidamente com o susto e, segundos depois, no local das câmeras de vigilância, apareceu uma espécie de arquivo com a minha foto:
"Experimento: 17. Estado atual: morto. Agente enviado para completar a missão: Clara Wilson. Estado da missão: mal sucedida."
Foi um choque ver aquilo. Meus olhos se encheram de lágrimas enquanto eu negava constantemente com a cabeça e recuava. Era uma brincadeira idiota, não era possível que fosse real... a Clara não faria isso... Tinha que ser outra pessoa... Muita gente pode se chamar assim, certo? Não queria acreditar nisso...
— Parece que você está bem vivo, 17 — Santiago entrou lentamente na sala. A porta que ele usou permaneceu aberta e muita luz branca ofuscante entrou nesse quarto escuro, fazendo a minha vista doer. E tudo que eu podia fazer era colocar a mão contra luz, tentando de maneira falha enxergar aquele homem — É uma bela coincidência você voltar para o local de onde nunca deveria ter saído.
— O quê? Quem é você?
— Por enquanto apenas sou aquele que extrairá o seu máximo — Falou enquanto se aproximava lentamente — Apenas se acalme, você está do lado errado do jogo.
Em um movimento rápido, Santiago puxou uma arma e disparou dois dardos no meu peito.
A visão aos poucos perdeu o foco e as pernas se aproximavam cada vez mais do chão enquanto eu tentava lutar contra o efeito, mas o corpo lentamente cedia para o solo.
— Bom sono, 17.
Então, enquanto as pálpebras fechavam, eu tive meu ultimo pensamento, um último questionamento: Clara...
Santiago ligou novamente as câmeras de segurança, obtendo visão de Jack. E o homem não hesitou ao roubar o comunicador em meu ouvido.
— Está conseguindo descer, garoto? — Jack perguntou, com chiado quase sobressaindo sua voz.
— No estado que está agora, acho que ele não consegue descer nenhum degrau.
De repente Jack parou de correr e sua feição se enfureceu.
— Santiago... O que você fez?! — Era nítida na voz de Jack a ameaça de ter uma explosão de fúria.
— Não muita coisa, apenas dei um tranquilizante, nada de mais. Ele até que está dormindo bem. Eu agradeço por trazê-lo novamente a mim. Há anos imaginei que realmente havia morrido naquela queda.
— Eu não trouxe ele para você! Quando eu recuperá-lo você está morto!
— Tente a sorte.
— EU VOU TE... — Quando as coisas já não pareciam boas, Santiago removeu o comunicador do ouvido, jogou no chão e o quebrou com o pé. Logo em seguida ele pegou um rádio que estava sobre o painel.
— Lara já acordou dos ferimentos? — Perguntou.
— Não senhor — Algum guarda respondeu.
— Então ordenem que Clara liberte a Três e o Oito.
Jack procurou pelo local, tentando desesperadamente me encontrar, mas não chegava a lugar algum. Eram muitas saídas para lugar algum e curvas: o perfeito estilo da Lupus. Suas bases subterrâneas sempre tinham a fama de ser verdadeiros labirintos, a melhor esperança de Jack seria descer até achar a sala central. Foi quando em uma das curvas deparou-se com três guardas que correram na sua direção.
Um deles tentou socar Jack, que esquivou para direita e, logo em seguida, usou o punho direito para acertar o rosto dele. Os outros dois também tentaram o golpear, mas Jack segurou o punho de ambos com suas mãos e puxou-os fortemente fazendo com que batessem suas cabeças.
Alguns minutos após derrotar aqueles homens, um outro apareceu na sua frente. Ele usou sua metralhadora para atingir Jack, mas com o Ultrarraciocínio de seis vezes os velozes projeteis se tornaram ridículos, tendo sua movimentação completamente visíveis. Bastou andar calmamente entre os quinze disparos e com um único soco espatifar o inimigo na parede.
— Nem sei porque esses Normais ainda tentam.
Jack não parou de correr em nenhum momento, apenas ousou frear ao chegar em uma sala de concreto que tinha luzes nos cantos das paredes. Dentro dela, encontrava-se três pessoas: duas mulheres e um homem. Dentre as mulheres, Clara estava de pé.
— Não acredito que você ainda faz parte disso — Jack cruzou os braços.
— Não tive escolha — Clara colocou a mão sobre a barriga e falou com uma voz baixa e triste — Desculpe-me, Jack, mas vou ter que fazer isso.
Ela estava atrás das outras duas pessoas. A mulher que se chamava "3", era morena e aparentava ter 20 anos ou mais. Tinha o cabelo sujo e maltratado, estava com volume o suficiente para não passar da linha dos ombros. Usava roupas rasgadas em pontos aleatórios tanto da blusa quanto da calça. E o homem que se chamava "8". Aparentava ter 38 anos ou mais e já estava careca com uma grande testa. Tinha olhos grandes e roupas rasgadas iguais as roupas da 3.
— Peguem ele — Clara ordenou.
Ambos deram um passo a frente.
— Jack, o fugitivo. Vai ser uma honra acabar com você — A Três falou.
— Vamos acabar logo com isso — O Oito disse.
A mulher correu na direção do Jack e apontou a mão para frente e em um piscar de olhos ela desapareceu, para então reaparecer atrás de Jack, sem que ele percebesse, e socá-lo nas costas, fazendo com que desse alguns passos para frente. Para revidar, Jack girou para trás com o braço direito esticado, mas a Três desapareceu antes que ele conseguisse a acertar.
Sem dar tempo para Jack, Oito jogou o seu braço direito em diagonal para baixo e carregou uma esfera de luz na mão. Então arremessou-a na direção do Jack, que conseguiu desviar, porém foi acertado por Três enquanto esquivava.
Vendo que estava encurralado, Jack se afastou, tentando arranjar um tempo para pensar em uma estratégia. Ele olhou para os lados e viu um buraco na parede: Era o estrago que a esfera do Oito fez. E aquilo acabou rendendo uma ideia.
— Você só vai ficar jogando essas bolinhas fraquinhas de luz a distância? Ou vai me enfrentar como um homem de verdade?
— O método que eu uso para te derrotar não importa.
— Então vem com tudo — Bateu a mão direita contra o seu próprio peito.
A Três novamente se teleportou e o Oito começou a disparar várias esferas em sequência. Jack desviou repetidas vezes com movimentos precisos. No entanto, em uma das esquivas, acabou ficando cara a cara com a Três que tinha acabado de se teleportar. Ela tentou socar Jack, mas ele usou o Ultrarraciocínio de quatro vezes para segurar o braço da mulher e a puxar para próximo de seu corpo, não deixando de imobilizá-la.
Agarrada por Jack, Três não conseguiu teleportar, e logo em seguida uma das esferas do Oito foi certeira em sua direção. A mulher uivou de dor ao receber a explosão da esfera em suas costas e desmaiou.
Então Jack soltou-a no chão e lançou um olhar sério e amedrontador para Oito que apenas conseguiu tremer. Jack não esperou que inimigo agisse primeiro e logo correu em sua direção. Oito não bobeou e preparou mais esferas para continuar disparando. Jack desviou se jogando no chão, rolando para frente, saltando e avançando mais rápido ainda, para finalmente conseguir ter Oito a poucos metros de distancia.
Em um intuito defensivo, o Experimento fechou a sua mão direita com muita força e quando abriu, uma poderosa esfera de luz apareceu. O homem tentou usá-la a queima roupa, no pescoço de Jack, mas ele segurou o braço do Oito com a mão esquerda, ficando a centímetros de distância da esfera e logo lançou um soco poderoso no abdômen do homem, fazendo sua coluna arquear e cuspir um pouco de sangue.
Clara sentiu um calafrio na espinha ao perceber a derrota dos Experimentos e tentou correr, mas acabou caindo após tropeçar em um dos buracos.
Jack se aproximou e virou Clara para olhar bem nos seus olhos.
— Onde está o garoto? — Jack perguntou, lentamente.
— Eu, não sei...
— Onde ele está! — gritou — Eu não vou perguntar novamente!
— Eu juro que eu não sei! Eu só recebi ordens para soltar a Três e o Oito! Eu Juro!
Jack, não satisfeito com a resposta, levantou-se e chutou furiosamente o chão enquanto xingava.
— PORRA! — Estava enfurecido demais para pensar, então resolveu respirar fundo e logo se acalmou. Seus olhos se direcionaram para Clara e no mesmo instante ele teve uma ideia — Você ainda é a única que sabe usar aquela máquina?
— Sim...
Jack confirmou com a cabeça e deixou escapar um suspiro de alívio.
— Se você não sabe onde ele está, pelo menos vai me ajudar a encontrá-lo.
— Como?
— Tornando-se uma moeda de troca.
O homem desmaiou Clara com um soco, então a colocou no ombro e começou a procurar a saída do local.
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