A dançarina de estacas
No outro dia eu acordei muito alegre e igualmente tenso. A realidade finalmente bateu em minha consciência e algo em minha cabeça martelava fortemente dizendo que talvez fosse perigoso. Porém mesmo assim forcei-me a tomar coragem para logo colocar minhas roupas e pegar o celular que o Jack me deu.
— Rua 302, Black Street — um comando automático respondeu após iniciar a ligação.
Aparentemente era a voz dele. A rua que mencionou localizava-se naquela bela praça que fomos antes. E logo avistei Jack sentado em um banco do lado de uma árvore, que estava próxima de um quiosque. Uma sacola ao seu lado, em cima do banco, e dois sorvetes de baunilha em mãos.
— Você demorou mais tempo que eu esperava — Falou ao me ver parando em sua frente
— Desculpa, demorei porque tive que arrumar a casa.
Jack me olhou com a cara de quem não acreditou em uma palavra que eu disse.
— Para quem está animado para lutar, ter medo é uma surpresa.
Corei de vergonha.
— Não é verdade! Só estava... me preparando. E como você sabe?!
— A idade traz a sabedoria.
— Idade né? Você tem o que? 40 anos?
Jack suspirou.
— Um pouquinho mais alto que isso — esticou a mão direita — Tá derretendo, quer ou não?
Eu fiquei intrigado, gosto muito de sorvete. Eu peguei o mesmo e agradeci. Logo em seguida, Jack se levantou e pegou a sacola com a mão direita. O homem seguiu a passos rápidos pela praça, quase me deixando para trás.
E em poucos minutos chegamos em uma construção duvidosa: as paredes pareciam vibrar e a tinta estava tão desgastada que até parecia pedir socorro. Havia uma única porta na frente e nenhuma janela.
Jack por algum motivo pareceu se preparar ao tocar na maçaneta, o que me deixou confuso, e quando a porta se abriu fomos bombardeados pelo som absurdamente alto e os cheiros de suor e bebida. A construção que parecia maltratada na verdade era uma boate luxuosa. A música eletrônica batia intensamente e uma luz alternava entre vermelho, azul e verde, iluminando toda boate. Várias pessoas dançavam no meio da construção e na maioria dos cantos tinha sofás vermelhos.
Nós andamos pela boate tentando atravessar as pessoas que dançavam, as que estavam vomitadas no chão e as desmaiadas.
— Não se afaste de mim — Jack alertou tentando superar o volume da música para que eu conseguisse ouvir.
Apenas paramos ao chegar no barman que estava limpando um copo com um lenço. Ele atendia atrás de um longo balcão de madeira que tinha bancos de plástico em sua frente.
Jack empurrou um homem que estava desmaiado sobre o balcão e sentou no banco.
— Eu quero o especial — Falou enquanto batia três vezes no balcão.
O barman rapidamente olhou em volta e deixou o copo que ele estava limpando sobre o balcão.
— Venha comigo.
Nós seguimos o homem até a passagem atrás das prateleiras que se revelou uma grande câmara fria. Um segundo no local fez até o último cabelo do corpo arrepiar.
O barman se direcionou tranquilamente até uma das paredes e apertou um botão que estava escondido atrás de uma garrafa. Uma porta escondida se abriu no do outro lado do local e atravessando-a havia algo que se parecia com um corredor de hotel. As paredes eram de porcelanato e portas de madeira de carvalho que, sem exceção, tinham uma águia entalhada em sua madeira. O som da boate era inaudível neste local e nossos passos ecoavam até o fim do corredor, onde encontrava-se de pé um homem moreno usando roupas pretas. Ele estava fortemente armado: em suas mãos, uma metralhadora, nas duas pernas tinham coldres com pistolas, nas suas costas uma bazuca com facas em coldres e diversos tipos de granadas.
Jack ficou a poucos metros do homem armado e o mesmo não hesitou ao apontar sua arma.
— Quando a águia de prata é lançada aos céus, seu destaque é notável perante o brilho das estrelas — Jack disse.
O guarda ao ouvir a frase logo baixou sua arma e assentiu com a cabeça. Então virou-se para apertar um botão com leitor de digital, revelando um elevador. Eu engoli em seco naquele momento, pois esse lugar estava se revelando mais profundo do que imaginava.
Quando o elevador chegou ao seu destino, nos deparamos com um escritório no subsolo. As paredes eram compostas por pedras e o chão era todo de cerâmica. Alguns metros à frente tinha uma mesa com um homem negro velho de cara séria e assustadora, que tinha cavanhaque, sentado e analisando alguns papéis. Joias se encontravam por todo seu corpo e esbanjava terno formal vermelho vinho.
Entre nós e ele tinha uma fileira tanto na direita quanto na esquerda de guardas tão armados quanto o de cima, mas estes não apontaram suas armas quando seguimos até a mesa.
— Fala Will, como vai? — Jack o cumprimentou logo que chegou perto o suficiente.
Fiquei incrédulo com aquele inicio de conversa. Ou Jack não tinha medo de morrer ou era muito intimo desse cara que parece líder de máfia.
— Em perfeito estado — o velho respondeu — Veio pelas informações, certo?
— Sim — Colocou a sacola sobre a mesa e um pouco de dinheiro escapou de dentro da mesma.
— Muito bem — Will estalou os dedos. Logo após isso o guarda mais próximo se direcionou até a mesa e pegou a sacola — Traga a pasta.
O guarda se direcionou até uma porta que estava atrás da fileira de seguranças. Alguns minutos depois o homem voltou com uma pasta laranja e logo entregou para Will.
Quando consegui olhar melhor para pasta, consegui ver que tinha algo escrito nela com uma caneta azul: "Confidencial". A pasta estava lacrada com parafina vermelha e carimbada com uma imagem de uma águia.
— Aqui está o que você pediu. Esse é o máximo que conseguimos extrair do disco rígido da Lupus com a nossa tecnologia.
— Obrigado. Ajudou muito.
Will sorriu, revelando alguns dentes de ouro.
— Sempre é bom ajudar um velho amigo. Volte sempre.
Quando saí da boate, recuperei o ar que havia se esvaído do meu corpo. Jack logo seguiu pela rua e eu ainda não havia conseguido raciocinar o que havia ocorrido.
— Quem era aquele cara? — Perguntei seguindo-o rapidamente.
— Um velho amigo que me ajuda bastante.
— Ajuda? Você literalmente pagou para ele.
— Negócios a parte — Dobrou a esquina — aquele dinheiro era para pagar uma dívida.
— Então tá né. E o que tem nessa pasta?
Jack parou e olhou em volta. Logo a frente estava aquela bela praça.
— Informações sobre a Lupus, consegui roubar um disco que ia ser destruído, mas Azcore é muito poderoso... foi tão bem codificado que Will não deve ter conseguido extrair muita coisa.
— Azcore?
O homem confirmou com a cabeça.
— Uma muralha que me impede de invadir os sistemas da Lupus.
— E a pasta?
Jack se virou e olhou diretamente para um comércio na praça.
— Lá é mais seguro.
A porta do comércio era vigiada por dois guardas e parecia pouco movimentado. O chão lustrado refletia as luzes da cafeteria e as paredes azul royal eram decoradas por quadros de cafés, com exceção da entrada, que era composta por vidro.
Nós sentamos em uma das mesas na direita e logo uma moça bem vestida veio nos atender.
— O que os senhores vão querer? — Ela falou, mas quando trocou olhares com Jack, ficou um pouco confusa — Mas porque o... — Porém entrou em silêncio quando ele fez um sinal discreto com a mão.
— Eu vou querer um expresso — Respondeu.
— Café forte, por favor.
A atendente confirmou com a cabeça e seguiu para trás do balcão fazer os pedidos.
— O que foi isso?
— Ignore, garoto.
De repente uma dúvida veio em minha mente.
— Por que você fica me chamando de garoto? Eu tenho nome, sabia?
Jack olhou diretamente para mim.
— Você é só um novato por enquanto... Quando eu acreditar que você merece, te chamo pelo nome.
— Quer dizer que você não me respeita?! — Perguntei indignado.
— Certa resposta.
Uma leve raiva começou a borbulhar.
— Seu desgraça...
De repente uma bandeja bateu à mesa. Era a garçonete entregando uma xícara de café e um copo branco.
— Bom café para vocês!
Então seguiu para atender aos próximos pedidos.
— Por que aqui seria seguro? — Troquei de assunto.
— Creio que já saiba que MoonLight é a cidade com maior índice de criminalidade e as máfias locais controlam quase tudo. O dono desse estabelecimento... bem, é amigo de um chefe de máfia que é rival da Lupus. Os guardas na porta são treinados para agir em caso de invasão.
Fiquei surpreso.
— Nossa! Que legal!
Jack abriu a pasta e retirou um pendrive, alguns papéis e fotos. Em algumas imagens podia-se ver uma garota loira, branca de olhos azuis, baixinha e jovem.
— Quem é essa garota?
Jack separou os papéis das fotos.
— Ela se chama Lara. Atualmente ela é um dos Cinco da Lupus. Quando foi pega tinha só 8 anos e agora tem 16. Ela é órfã. Perdeu os pais quando nova e virou Experimento da Lupus para o projeto "Controle mundial". Aqueles que eram capturados foram chamados de "Experimentos". Eles a pegaram e a torturaram durante quatro anos, para que finalmente conseguisse suportar o poder. Durante esse tempo Lara fez amizade com uma garota chamada Luna.
Por algum motivo eu me senti mal ao ouvir aquele nome. E Jack logo percebeu que eu fiquei pensativo de repente.
— Aconteceu algo?
Neguei com a cabeça.
— Nada. Pode continuar.
Ele voltou a olhar para as informações e me mostrou mais fotos e alguns documentos escritos.
— Por que eles torturavam?
— Para fortificarem os Experimentos. Assim eles podiam suportar o AMSC.
— AMSC? Pensei que era AMC.
— As duas siglas estão corretas. O que está em você é AMC, a diferença é que o outro material é mais poderoso. O AMSC é produzido pelo Cubo de Runan e expelido em certas quantidades. Essa substância é descarregada pelo Reator, pois se torna mais "controlável" e não tem consequências para seus usuários. O AMSC é difícil até mesmo de armazenar, além de que poucos conseguem usar. Alguns precisam de muito preparo e ainda assim correm riscos. Uma parcela menor não necessita de tanto preparo e alguns muito raros são naturalmente predispostos a suportar.
— Entendi, então imagino que essas garotas sofreram bastante.
— Exatamente. No projeto eles torturaram os Experimentos para aumentar a chance de sucesso e torná-los cascas frias, sem qualquer gota de esperança. Das duas somente Lara passou e Luna foi considerada incapaz de suportar o AMSC, e poucos dias depois a amizade das duas foi descoberta. Então eles fizeram o que daria estopim na insanidade da garota. Fecharam as amigas em uma sala e injetaram AMSC na Lara. Luna nunca voltou de dentro daquela sala.
— Não acredito... — Não pude conter o cerrar de meu punho. Naquele momento estava banhado de raiva por conta daquela organização imunda — Irei dizimar a Lupus!
Jack apenas olhou. Ainda não sabia seus motivos, mas batalhar contra uma organização como essa era louvável.
— Por hora contenha sua raiva — ele aconselhou — temos que acabar com a Lara primeiro.
— "Acabar"? — eu perguntei rapidamente — que palavra forte... e se ela estiver sendo controlada? Talvez possamos fazer algo por ela... olhe pelo que ela passou...
— Impossível. Ela já perdeu a razão a muito tempo.
— Mas ela pode estar sendo usada. Talvez haja esperança, são crianças que foram torturadas... ela era inocente...
— Olha, garoto, existem coisas que não podemos mudar. Você pode salvar um filhote de leão e cuidar dele e vê-lo crescer. Parecerá durante todo tempo que é seu amigo do peito, mas te verá como comida na primeira vez que sentir fome. Salvá-la é impossível.
Respirei fundo.
— E onde ela está?
— Ela é um soldado, eles levam ela para abater aqueles que se opõem — Mostrou-me um dos papéis grampeados a uma foto — Este homem é Giovani Dutra. Ele é o próximo alvo.
Jack me mostrou mais alguns arquivos importantes e falou que tinha alguns assuntos a resolver, então me mandou encontrá-lo nesta mesma cafeteria daqui 4 horas e me aprontar de maneira adequada.
Um sol escaldante irradiava sobre a praça quando eu cheguei. Até mesmo o chão que estava sob a sombra fervia, e a rua ao longe se distorcia com o calor.
Minutos depois eu já pude ver Jack vindo com uma roupa diferente e uma sacola na mão. Ele estava com uma blusa verde-escuro e um colete aprova de balas abaixo da mesma. Também usava uma calça militar e marcas de tinta verde nos braços. Parecia que o homem estava indo para guerra. E aqueles que passavam por ele riam pelas costas.
Quando ele parou na minha frente, olhou-me de baixo para cima.
— Você não se aprontou?
— Era para me arrumar?
Jack balançou a cabeça decepcionado.
— Já esperava — Entregou uma sacola marrom. Havia uma roupa branca dentro — Vista isso.
Entrei na cafeteria e fui para o banheiro me vestir. Era um pouco apertada, mas servia. Parecia uma espécie de sobretudo ou manto. Era branco em sua maioria e tinha traços azuis nas bordas e detalhes da roupa. Para ser sincero ficou até bonito.
Eu saí da cafeteria com a roupa que ele mandou eu vestir e o calor pareceu cinquenta vezes mais intenso.
— Então... O que vamos fazer agora? Pegar um carro e derrotar a Lara? Ou um jato? Já sei! Um tanque de guerra!
— Melhor ainda... — Jack falou e deixou um suspense no ar — Nós vamos acabar com ela de ônibus.
Já havia completado meia hora desde o momento que chegamos no ponto de ônibus. Para piorar o ponto estava com o banco quebrado e essa construção de metal deveria fazer sombra, mas estava com dois buracos enormes que deixavam a luz do sol passar.
Eu olhei para o lado e Jack estava sentado no chão, meditando. Pior que isso era apenas a feição das pessoas ao ver um adulto sentado na calçada com os olhos fechados e vestido para guerra.
— Que droga! Estou cansado de esperar!
— Acalme-se. Paciência é uma virtude.
— Virtude o caramba! Você consegue matar a felicidade de qualquer um!
Alguns minutos depois o ônibus finalmente passou e nós subimos nele. Pelo menos não estava lotado.
Eu ainda questionei Jack se havia outra forma de locomoção e ele disse com a cara de pau que seu carro estava sem gasolina.
Para piorar ao meu lado havia uma pequena garotinha. No instante que olhei para ela, a mãe a puxou para mais próximo de seu corpo, como sinal de proteção. O que raios ela pensou que eu era? Um bandido?! Eu jurei que quando isso acabar eu socarei a cara do Jack com tanta força que ele voará até o Oceano Atlântico!
— Mãe por que ele está vestido que nem um delinquente? — A garotinha sussurrou.
— Falta de escola querida, falta de escola.
Falta de escola é o caramba, não era nenhum delinquente! De fato eu me precipitei. Nunca deveria ter concordado com isso!
Quando o ônibus finalmente chegou a feição de Jack mudou completamente. Ele estava sério até demais ao olhar o gigantesco prédio das indústrias Dutra.
— O que esse cara fez para ser alvo da Lupus? — Eu perguntei a ele.
— A Lupus quer monopolizar todo o poder, controlar tudo basicamente. Para isso eles deixam uma escolha, ou os poderosos trabalham para eles ou são aniquilados. Mas Giovani é um homem ganancioso e egocêntrico. Ele reforçou seus guardas e pensou que teria uma mínima chance contra a Lupus. Agora está tendo o impacto de sua decisão.
— Péssima ideia então.
Entramos rapidamente no prédio e o som de um alarme chegou aos nossos ouvidos. Logo na entrada havia homens matando os policiais que estavam no térreo com uma faca. Entre nós e eles tinha alguns metros de espaço, alguns sofás marrons e mesas de vidro que ficavam na recepção.
— Preste atenção. Não sei se eles trouxeram algum outro Experimento além da Lara, então fique atento.
Jack saiu correndo na direção deles. Ele pulou por cima dos sofás no caminho e socou o rosto de um. O homem foi arremessado para trás, caindo sobre algumas mesas. Seu parceiro reagiu e tentou atacar Jack com a mão direita, porém ele se esquivou e chutou as pernas do homem, fazendo-o cair de costas no chão, logo em seguida socou seu rosto.
Outros três homens que estavam no andar superior ouviram o barulho desceram pelas escadas. Para o nosso azar, eles fizeram isso no mesmo momento que começamos a subir. Um deles pulou em cima do Jack com seus dois pés, mas ele desviou e o homem caiu escada a baixo, rolando por todo percurso e batendo a cabeça ao chegar no final. Jack logo seguiu para nocautear os outros e eu apenas consegui ficar observando.
— Vamos, garoto! — Alertou ao finalizar seus alvos — Vai ficar só olhando?
Respirei fundo e balancei a cabeça. Estava distraído até o momento, não conseguia acompanhar o ritmo do Jack, pois não conseguia deixar de pensar que Lara ainda poderia ter alguma salvação, mas tentei retirar os pensamentos de minha cabeça.
— Estou indo.
Nós continuamos subindo as escadas, quando, no meio do caminho, começamos a ver uma espécie de estaca que saía das paredes e do chão. Eram de cor negra e extremamente pontiagudos.
— O que é isso? — Eu perguntei.
— É o poder da Lara. Ela pode criar essas estalagmites que demoram horas para desaparecer e são extremamente resistentes. Cuidado para não esbarrar, pode atravessar uma chapa de aço como se fosse uma folha de papel.
— O primeiro inimigo não podia ser menos apelão não?
— Medroso.
Chegamos em um corredor que tinha corpos nas paredes. Alguns empalados pelo peito e outros perfurados de dentro para fora. Eram os seguranças que Giovani contratou para "lidar com a Lupus".
No fim do corredor tinha uma grande porta de madeira que estava suja com muito sangue. A mesma estava aberta e destruída em várias partes.
— Aqui é o escritório. Ela deve estar lá, então se prepare.
— Ok!
Silenciosamente passamos e logo nos deparamos com o escritório todo revirado. Os sofás estavam destruídos e parte do piso estava congelado. A mesa que o Giovani deveria usar encontrava-se virada no chão e a grande janela de vidro atrás da mesa cheia de rachaduras e buracos, como se alguém tivesse sido arremessado de lá em cima.
Do outro lado do escritório, Lara estava com a mão direita no peito de Giovani. Ele se encontrava agachado e com as mãos em posição de reza enquanto implorava por sua vida.
— Por favor, não me mate, eu pago o quanto você quiser e te dou o que você quiser! Apenas poupe minha vida! — Giovani gritou, desesperado. A cada palavra sua voz parecia mais aterrorizada.
Mas Lara não demonstrou nenhuma feição:
— Ordens não podem ser desobedecidas — Disse com uma voz morta e sem emoção.
Eu tinha que agir rápido senão Giovani morreria, e no desespero acabei agindo sem pensar:
— Lara, não o mate! — Gritei.
Ela olhou por cima do ombro sem entender o que estava acontecendo ou quem a chamou. Ninguém deveria saber o seu nome, então ela ficou curiosa para saber o que aconteceu.
— Quem é você? Como sabe o meu nome?
No momento que os olhos de Lara cruzaram com os meus, algo diferente aconteceu, pois a garota ficou levemente extasiada e boquiaberta. Algo no fundo daquele olhar a intrigava.
— Isso não importa! — Minha fala quebrou o leve transe que a garota entrou — Apenas se afaste dele!
Giovani, vendo que a Lara parou de prestar atenção, decidiu se aproveitar. Ele empurrou a mão dela e correu em minha direção. Porém Lara não demorou a reagir e o perseguiu até que em poucos segundos conseguiu colocar a mão em suas costas. O que aconteceu a seguir foi simplesmente assustador. Aquelas mesmas estacas negras saíram de dentro dele, arremessando sangue para todos os lados.
— O primeiro já foi — Lara olhou para mim e um calafrio percorreu o meu corpo — Não posso deixar testemunhas.
Ela se aproximou com seu braço direito esticado, mostrando a palma da mão e apontando-a para mim. Quando quase chegou a me tocar, Jack interveio, chutando-me para longe e logo se afastou com um salto. Em seguida meu corpo bateu contra uma das paredes do prédio.
— O que você pensa que está fazendo? — Eu gritei indignado — Eu sou seu aliado!
— Seu idiota, fique mais atento! Você ia morrer!
Minha boca se calou.
— Parece que você conhece meus poderes — Lara intrometeu — Onde você soube?
Jack não respondeu e, sem perder tempo, virou um chute no rosto da Lara que se abaixou. Logo em seguida revidou com outro chute, mas Jack se defendeu com o braço esquerdo e socou Lara no estômago com o direito, arremessando ela na direção de uma mesa. A mesma quebrou com o impacto.
Lara se levantou e moveu o braço direito em diagonal na direção do Jack. Várias estacas saíram do chão, mas ele se desviou e correu entre as mesmas.
Eu tentei ajudar, mas antes que eu conseguisse agir, mais comparsas da Lara entraram no local.
— garoto, cuide deles. Eu dou um jeito nela.
— Ok.
Jack correu na direção dela e começou a trocar golpes, intercalando entre socar e desviar das estacas.
Do outro lado da sala os homens me cercaram. Tentei socá-lo, mas o mesmo se desviou para o lado de um dos aliados e revidou com um soco que acertou em cheio. Outro homem logo aproveitou para me segurar pelas costas. Então último parou na minha frente e começou a me socar na barriga diversas vezes. A memória de anos atrás veio a minha mente, recebendo aqueles chutes de todos os lados quando de repente alguém me salvou. Naquele dia eu não tive forças, mas hoje eu tinha.
Inspirando fundo eu lancei uma rajada para as minhas costas, e o homem que me segurava tomou tamanho impacto que colidiu com a parede. Então rapidamente chutei o que tinha me golpeado com mais eletricidade.
Enquanto isso, Jack foi arremessado alguns centímetros para trás por um chute. Lara estava claramente mais desgastada daquele combate. Enquanto Jack havia recebido dois golpes, a garota já recebido mais de vinte e para piorar suas estacas estavam quase no limite. Então, quando Jack avançou novamente, Lara ativou mais quatro estacas. Todas saíram perpendiculares ao chão, criando uma barreira e impedindo que ele se aproximasse. Jack agiu rápido para contornar as estacas, mas já era tarde demais, pois Lara pulou pela janela.
Após o ocorrido eu corri na direção do Jack.
— Viu o que eu fiz? Eu derrubei eles sozinho! Estou muito feliz! — Mas quando eu olhei em volta, não avistei a garota — Onde a Lara está?!
— Ela pulou da janela.
— Suicidou?!
Corri assustado e estiquei o pescoço pela borda para ver o que tinha acontecido: Ela fugiu fazendo uma espécie de escada com o seu poder na lateral do prédio.
— E agora?
— Não tem problema. Eu pensei que ela tentaria fugir, então coloquei um rastreador em sua roupa. Não importa para aonde ela for, eu vou saber. Mas por hora vamos embora, de preferência antes que a polícia chegue.
Eu entrei eufórico em casa, o dia foi muito emocionante.
Vesti um pijama que estavam no guarda-roupa e me joguei na cama. Minha mente borbulhava com pensamentos daquele dia, pois o simples fato de ter lutado contra vilões era incrível. Eu finalmente podia ajudar as pessoas e tornar-me um grande herói. O meu sonho. O meu objetivo. Derrotarei a Lupus e salvarei a todos!
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