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C A P Í T U L O 15

A um passo do precipício

          ― Ainda não sei o que estamos fazendo aqui ― murmurei me remexendo impaciente no banco de trás do carro.

          Depois de muitas conversas evasivas e sem respostas, minha avó me convenceu a ir ao almoço, ameaçando ir sozinha caso não fôssemos com ela. Minha mãe e eu não a deixaríamos fazer isso, portanto, não nos restou outra opção. E eu ainda tive de ligar para Eleonora confirmando a nossa presença como se nada tivesse mudado.

          ― Também não sei, mãe. Convenhamos, é a casa de uma vampira. Não interessa se Avigayil vai estar aí, e se for uma armadilha? ― Ava também estava preocupada com o comportamento de Louise. Sua atenção se revezava entre a direção e a minha avó ao seu lado.

          ― Pelo amor de Aine! Querem parar vocês duas? Conversei com Avigayil, e sei o que estou fazendo. Acreditem, eu não queria estar aqui, mas não tive outra escolha. ― Escolha? Minha avó estava sendo obrigada a ir até Avigayil? E não adiantava perguntar, ela não iria responder.

          A falta de paciência de Louise não era só para tentar evitar nossas perguntas, ela queria nos afastar das respostas a todo custo. Embora tentasse disfarçar, eu sabia que ela estava sofrendo por algum motivo. A flagrei com os olhos cheios de lágrimas algumas vezes, e eu queria abraçá-la, queria perguntar como eu poderia ajudá-la, mas, novamente, me peguei tentando respeitar o seu espaço.

          ― Está bem, se é assim ― minha mãe falou parando o carro um pouco antes do portão. Se esticando até o porta-luvas, ela o abriu e retirou de dentro uma arma prateada.

          ― Mas o que é isso, Ava?! ― Louise gritou.

          ― Proteção, mãe. Isso pode não matar eles, mas vai atrasá-los. O humano que me vendeu garantiu que as balas são envenenadas. ― Minha mãe balançava a arma na mão, enquanto minha avó a olhava totalmente horrorizada. Já eu, me dividia entre a intensa vontade de rir, a preocupação com o estado mental da minha mãe, e o estado físico do coração da minha avó.

          ― Você só pode ter perdido a sanidade! Guarde isso! Guarde isso agora! ― Segurando o pulso dela, minha avó guiou a arma de volta para o porta-luvas, mas a minha mãe ainda estava resistente. ― Solte isso, Ava! ― trovejou dando tapas em sua mão até ela soltar.

          ― Ai, mãe! Isso doeu! ― resmungou puxando o braço de volta.

          Nesse segundo não aguentei e ri. Eu bem sabia que os tapas da minha avó eram doídos, faziam até Ava perder sua postura intimidadora, e voltar a ser apenas a filha caçula de Louise Aileen.

          ― Onde já se viu uma fada usar esse tipo de coisa? Até parece que você não tem poderes! ― Minha avó continuava a esbravejar.

          ― Nossos poderes não foram suficientes quando quase nos dizimaram, e não é hoje que irá nos proteger.

          ― Céus! Não viemos aqui iniciar uma guerra! Pelo amor de Aine, crie juízo, minha filha. Vamos, ligue esse carro e entre nessa casa, porque eu não aguento mais isso.

          ― É ali, mãe ― intervi apontando para a caixa do interfone. Eu precisava acalmar a minha avó. ― A senhora tem de parar ao lado daquela caixa preta, o interfone fica lá.

          ― Como você sabe, Liz? Já esteve aqui antes? ― Ava me encarou pelo reflexo do retrovisor.

          Não respondi, e nem iria. Desviei meus olhos para a janela. Por sorte, e acredito que graças a recente crise de Louise, ela desistiu daquele assunto, e então seguimos em frente. Após comunicar nossa chegada pelo interfone, os portões se abriram e, mais uma vez, eu estava ali, naquela incrível estrada margeada por árvores.

          Coloquei minha cabeça para fora, desfrutando do vento, dos feixes da luz do sol que dançavam conforme as folhas e, principalmente, do cheiro de mata, livre de qualquer poluição. Por alguns instantes, me esqueci de toda a confusão que me fizera estar ali.

          O esquecimento durou pouco, logo eu me encontrava em frente a porta da casa, sendo consumida por um intenso frisson, enquanto observava a robusta aldrava de ferro. Eu não a havia visto quando estivera ali da primeira vez, pois a porta já estava aberta. A escultura de metal não era menos assustadora que a estátua de pedra da fonte. Um ser de gênero indefinido, com traços renascentistas e grandes presas, segurava a argola de metal entre os dentes.

          Com as pontas dos dedos, minha avó a segurou, e então bateu três vezes na madeira negra. Em poucos segundos, a porta foi aberta, e como se antes eu estivesse em um estado letárgico, mergulhada na ignorância, só naquele momento me dei conta do universo sombrio em que estava entrando.

          Uma vampira de aparente meia-idade estava parada à nossa frente com um sorriso encantador e um olhar profundo e curioso. Uma mecha inteiramente branca em sua franja, se destacava do restante negro de seus cabelos, estes, que estavam presos em um coque. Contrastando com a sua pele alva, seus sapatos, saia reta e camisa eram totalmente pretos.

           ― Sejam bem-vindas. ― Abrindo passagem, fez um gesto delicado com a mão. ― Por favor, entrem.

          Fui a primeira a entrar após um cumprimento sucinto à vampira. Se questionassem, eu juraria que a minha pressa não se dera pela ânsia de estar logo em frente à Eleonora, o que era uma grande mentira. Queria vê-la, queria confrontá-la. Estava disposta a descobrir o porquê ela havia se aproximado de mim daquele jeito.

          ― Elas aguardam na sala. Sigam-me, por favor. ― A vampira saiu na frente, passando por entre as duas escadas laterais. Louise, Ava e eu a seguimos em silêncio.

           A imagem de Eleonora foi surgindo aos poucos, à medida que nos aproximávamos. Ao seu lado estava uma mulher negra de presença marcante que usava um longo vestido de estampa colorida. Seus cabelos escuros e cacheados jogados para o lado emolduravam o belo rosto de expressão amigável, e em seus lábios descansava um sorriso largo e estonteante, assim como todo o conjunto. Então era ela, a famosa Avigayil Na'amah. Aparentava ser mais jovem do que eu imaginava, parecia ter no máximo uns quarenta e cinco anos.

          As duas se levantaram juntas, e assim se aproximaram.

          ― Sejam bem-vindas. É uma alegria imensurável recebê-las em minha casa. Posso? ― Eleonora se virou para mim com os braços abertos para um abraço.

          Aquela mulher não era uma vampira. Não podia ser.

          Fiquei sem reação por algum tempo, até me dar conta de que por mais que as minhas emoções estivessem nebulosas em relação a ela, eu queria abraçá-la. Como aquilo era possível? Desde que havia descoberto a sua condição até aquele exato momento, denominei o que sentia de raiva, e até mesmo, medo. No entanto, em sua presença percebi que estes eram sentimentos extremamente fortes para definir o que eu sentia de fato.

          Eu estava confusa, em busca de respostas, e de certa maneira me sentia frustrada por querer culpá-la por tudo, mas no fundo não conseguir. Suas palavras sempre foram tão sensatas e diplomáticas, e toda sua explicação e história de vida não me provocaram ira ou revolta, mas sim, compaixão.

          Antes que eu pudesse falar ou fazer qualquer coisa, minha avó se pronunciou:

          ― Não sei como consegue ocultar a sua energia, mas ela já sabe, Eleonora. ― A vampira deixou os braços caírem de maneira sutil, enquanto seus olhos sustentavam os meus, o brilho deles se transformando em melancolia.

           Ela olhou para o chão brevemente, antes de me encarar outra vez. E então, ao dar um suspiro profundo, permitiu sua energia se aflorar em uma intensidade quase inacreditável. Meu coração se acelerou de tal maneira, que senti uma momentânea falta de ar seguida de um tremor por todo o meu corpo. Se antes existia alguma esperança de que ela não fosse uma vampira, naquele segundo, se dissipara por completo.

          ― É um enorme prazer conhecê-la, minha linda. ― Avigayil se colocou na minha frente e me abraçou sem qualquer reserva, e sem que eu pudesse assimilar direito o que estava acontecendo ali. Ao se afastar, suas mãos pairaram em meu maxilar, e tão logo desceram para os meus ombros. Seus olhos castanhos me analisavam com cuidado e admiração. ― Você é ainda mais esplêndida do que vi. ― Ela já tinha me visto? ― Muito prazer, Avigayil Na'amah.

          ― O prazer é meu. ― No auge da minha desordem mental, tentei dar o meu melhor sorriso para retribuir a sua recepção carinhosa. Ela era tão bonita e natural.

          ― Seremos grandes amigas, acredite.

          Sim, eu acreditava. Não podia negar que a sua energia era estimulante, calorosa e que passava uma sensação de intimidade imediata. Se a vida não resolvesse me pregar peças outra vez, eu tinha certeza de que ela era uma boa pessoa, e que nos daríamos bem.

          Após me soltar, Avigayil se dedicou a abraçar a minha mãe e a minha avó. Logo, não pude evitar, meus olhos caíram de modo automático sobre Eleonora, que ao ver que tinha minha atenção, se aproximou cautelosa.

          ― Careço de palavras para expressar o quanto sinto. No entanto, se me permitir, justificarei todos os meus atos. ― Anuí com um rápido aceno, afinal, era exatamente o que eu queria, respostas. ― Se importa se conversarmos a sós em meu escritório? ― Ignorando o olhar exasperado da minha mãe, que já estava sendo segurada pela minha avó, dei um passo para o lado, abrindo passagem para que Eleonora me guiasse.

          Segundos depois, já estávamos sozinhas em seu escritório com a porta fechada. Seu silêncio e olhar distante me fez perceber que ela não sabia por onde começar, por esta razão, resolvi ser direta.

          ― Você se aproximou de mim por causa do vampiro que matei? ― Naquele momento, eu já nem me importava mais se ela sabia ou não desse detalhe. ― A sua intenção é me matar? Me condenar ou me castigar? ― Seus olhos se abriram um pouco além do normal.

          ― Oh... Não! Não em absoluto. ― Ela soltou uma risada breve. ― Eu jamais a mataria, castigaria ou condenaria a algo. No entanto, não posso mentir, a morte daquele vampiro nos levou até você. E devo tranquilizá-la, não é nosso desígnio julgá-la por tal ato. Aquiescemos que ele teve o que mereceu. Condutas como a dele são absolutamente intoleráveis entre a nossa espécie, e são passíveis a punições severas antes de serem abençoados com a morte. ― Lá estava ela de novo, como acreditar que aquele ser tinha provocado tantas mortes?

          Suspirei fundo, me sentindo ainda mais atordoada.

          ― Como posso acreditar em você?

          ― Só com o tempo, e o meu empenho para provar que sou digna da sua confiança. ― Tão sensata, e por que ela se daria ao trabalho de provar algo?

          Eu poderia estar me enganando outra vez, mas vi sinceridade em seus olhos, e talvez seja por isso que senti necessidade de esclarecer o que realmente aconteceu.

          ― Eu não pretendia ― sussurrei. Eleonora fez um gesto para eu me sentar no sofá, não hesitei. ― Não era a minha intenção matar aquele vampiro, por mais que ele merecesse. Simplesmente aconteceu sem que eu me desse conta do que estava fazendo, e quando vi, já tinha feito.

          ― Posso compreender, querida ― declarou se sentando ao meu lado.

          ― Imagino que tenha acontecido algo do tipo quando vocês foram transformados e provocaram todas aquelas mortes. É algo que não tiveram controle, porque não estavam conscientes do que faziam.

          Eleonora entreabriu os lábios, mas nenhum som ressoou por eles. Seus olhos se aprofundaram em mim de tal forma, que jurei conseguir ver o desespero de sua alma. O azul deles fora coberto por um brilho líquido, projetando movimentos como a água revolta de um mar cristalino.

          Em um movimento rápido, ela se levantou e eu já não podia mais ver seu rosto. Suas mãos foram levadas até os olhos em um gesto disfarçado e breve. Quando por fim se virou para mim, sorria ternamente.

          ― Peço desculpas se as palavras me faltaram. Devo confessar que ninguém antes, exceto Avigayil, pôde compreender com tamanho esmero tudo o que aconteceu.

          ― Eu entendi, de verdade. Não tenho direito de julgá-los, e se os Deuses acreditam que vocês são dignos do perdão, quem sou eu para dizer o contrário? Mas isso não quer dizer que confio em vocês.

          ― De todos os cenários que vislumbrei, este é o menos ruim, minha querida. Não me era direito reivindicar a sua confiança sem ao menos tentar conquistá-la. De todo, o mais considerável é a sua compreensão, e isto é muito mais do que eu poderia ensejar.

          ― Por que isso é tão importante pra você, Eleonora? Se a sua intensão não era me matar ou me punir, por que foi atrás especificamente de mim?

          ― Porque você é o futuro da sua espécie, e a redenção da minha. ― Não mesmo, eu não era o futuro de nada. Por que parecia que quanto mais perguntas eram respondidas, menos eu entendia aquela situação?

          Três batidas na porta interromperam a nossa conversa. Após a ordem da anfitriã, a porta fora aberta e a vampira da mecha branca entrou no escritório.

           ― Perdoe-me o incômodo. Vim avisar que o almoço está pronto para ser servido à sua ordem, majestade.

          ― Agradeço, Judite. Pode servi-lo. ― Eleonora se voltou para mim, sorrindo. ― Me acompanha?

          A segui até um imenso salão que mantinha os padrões da casa. Pisos e paredes de mármore bege, que realçavam os detalhes pretos que vinham das cortinas aveludadas, luminárias e mobiliário. No teto sobre a mesa, um enorme lustre de cristais que, embora o ambiente estivesse sendo iluminado pela luz natural, não deixava de cintilar pequenos arco-íris por todo o teto.

          ― Eu acreditava que vocês não pudessem andar de dia ― analisei observando as portas de vidro completamente abertas. Não parecia ser um dom só de Eleonora, já que a tal Judite andava próxima aos feixes ensolarados despreocupadamente.

          ― A maioria dos vampiros não pode. Esta é uma dádiva intrínseca aos imortais. No entanto, somos capazes de agraciar os mais decentes e confiáveis com este dom. ― Ela se colocou ao meu lado, olhando para além das portas.

           ― Nunca entendi essa questão de imortalidade. Para mim, todos vocês são imortais, pois não envelhecem, e se recuperam com facilidade. ― A espiei de relance, seus lábios estavam curvados em um sorriso divertido.

          ― É um equívoco mais habitual do que possa imaginar. Então devo elucidá-la. Existem apenas quatro imortais no mundo. Avigayil, Anton, Vincent e eu. Podem arrancar nossos corações, outro se regenerará no lugar. Podem nos acorrentar em uma câmara de fogo, queimaremos por milênios e não morreremos. Ou ainda podem nos decapitar, nos cortar em vários pedaços que regeneraremos de qualquer forma. ― Um mal-estar passageiro me envolveu ao imaginar essas coisas, mas Eleonora pareceu não perceber já que mantinha sua atenção sobre as orquídeas negras do lindo jardim à nossa frente. ― Já os demais vampiros, apenas possuem longevidade. Não envelhecem, e podem se recuperar quase instantaneamente de qualquer ferimento. Entretanto, podem morrer, se alguma de suas fraquezas forem usadas contra eles.

          ― Liz! ― A voz de Ava, carregada de preocupação, reverberou pela sala de jantar. Ela, Louise e Avigayil acabavam de adentrar o cômodo. ― Você está bem, filha? ― Afirmei dando um sorriso sem graça diante do seu drama exagerado. Eu não podia culpá-la, até mesmo Eleonora pareceu compreendê-la.

          Se dirigindo à ponta da mesa, a anfitriã nos convidou a sentar. Assim que nos acomodamos, uma equipe de empregados entrou carregando os pratos, os quais foram postos à nossa frente e depois destampados. Fiquei encantada com tamanho cuidado para elaborar aquilo. Um conjunto de várias verduras e legumes davam forma a um arranjo de flores, até tive pena de comer.

          ― Sintam-se à vontade ― falou Eleonora abrindo o guardanapo de pano sobre o colo. Em seguida, pegou o garfo de salada, espetou um aspargo e o levou até a boca.

          Me indaguei se ela estava fazendo aquilo para fazer com que nos sentíssemos mais à vontade em sua presença. Devo ter ficado alguns segundos mergulhada em minhas divagações, apenas a observando, pois quando dei por mim, ela limpava a boca com o guardanapo para então sorrir enquanto me olhava.

          ― Deseja fazer alguma pergunta? ― A vergonha ficara explícita em minhas bochechas. Quanta falta de educação da minha parte, ao observá-la daquele jeito. Dei um sorriso sem graça mexendo em uma folha de alface no meu prato. ― Não há motivos para reservas, querida. Atesto o quanto é costumeiro haver curiosidade a nosso respeito.

          Arrisquei uma olhada para ela.

           ― É que... bem, você está comendo. Pensei que vampiros só bebessem sangue. ― Ela riu brevemente, e eu me imaginei como aquelas crianças bobas.

           ― Oh, podemos comer se quisermos. É um deleite poder apreciar o palato dos alimentos. Todavia, eles não nos sustentam. Eu poderia consumir essa mesa repleta deles, de todas as variedades, entretanto, continuaria sedenta, álgida e irritadiça. O vampiro que se dispuser a viver só de comida, ficará fraco em poucos dias, até que seu corpo o forçará a entrar em um doloroso processo de hibernação consciente. Ele se manterá vivo, e ciente de tudo o que sobrevém à sua volta, mas será torturado por uma sede agonizante e não terá forças para saciá-la.

          Estava tanto admirada quanto perplexa. Sem nenhum comentário a fazer, apenas um som me escapou da garganta:

          ― Ah...

          Um pigarreio ao meu lado chamou a atenção de todas à mesa. Ava abandonara sua salada dividindo seus olhares inquiridores entre mim e Eleonora.

           ― É impressão minha, ou vocês duas já se conheciam?

          Era perceptível o quanto minha mãe estava desconfortável com toda aquela circunstância. Me lembrei do seu extremismo com a arma, e aquilo seria apenas um prenúncio do mal-estar que ela poderia provocar caso eu não tentasse tranquilizá-la.

          ― Eleonora é uma das clientes do Sr. Landon, mãe. Estamos fazendo uma campanha para o hospital dela.

          ― Hospital? ― O tom de Ava denotava uma ironia nervosa.

          ― Sou proprietária e fundadora do Hospital Saint Hoshi'a ― Eleonora respondeu com um sorriso condescendente nos lábios.

          Minha mãe lançou um olhar estarrecido para a minha avó, a qual também parecia tentar assimilar aquela informação. Estava claro que Louise não sabia deste detalhe, e eu só não entendia qual era a relevância dele para deixá-las tão aturdidas.

          Naquele instante, a equipe de empregados entrou na sala e se dedicou à troca dos pratos. Em um conjunto tão elaborado quanto a salada, um salmão fora servido com vários tipos de legumes cozidos, e um molho que cheirava a maracujá. Como outra opção, tinha uma carne com um molho que cheirava a vinho.

          ― Eu não imaginava que a proprietária do Hospital Saint Hoshi'a era uma vampira. ― Ava comentou um pouco desdenhosa.

          Eleonora bebeu um gole de vinho branco, e após limpar os lábios, sorriu.

          ― Creio que este detalhe não constitui uma considerável diferença, se a assistência oferecida pela minha instituição for tão boa, ou melhor do que a de outros hospitais, cujos quais os proprietários não são vampiros. ― Pela primeira vez em vários anos, vi Ava erubescer. Seu comentário de tom preconceituoso até que mereceu aquela resposta.

          ― Claro que não é relevante. É só que a Liz nasceu no seu hospital. ― Me virei atônita para minha mãe. ― Na verdade, eu ia tê-la em outro, mas aos cinco meses de gestação entrei em trabalho de parto, e neste local não podiam me oferecer o suporte necessário para trazê-la ao mundo, por isso me encaminharam para o Saint Hoshi'a. Tive um parto complicado por causa da demora, e eu quase a perdi. ― Eu sabia que nascera prematura, e só. Nunca me contaram o resto da história. Minha face estava paralisada tamanho era o meu choque, até mesmo Avigayil e Eleonora pareciam surpresas.

          ― Ava... Sinto pelo que passou, e não há palavras para expressar a minha felicidade em saber que tudo correu bem. ― Eleonora apoiou sua mão sobre a minha. ― Perceba, querida, estávamos destinadas a nos conhecer de qualquer forma.

          Avigayil que até então se mantinha calada observando tudo, soltou um riso agradável antes de se manifestar:

          ― Vocês já estavam destinadas a se conhecerem a dois mil e seiscentos anos atrás ― revelou em um tom tão calmo que parecia ser a constatação mais óbvia do mundo. Seus olhos misteriosos estavam presos em mim.

          ― Como? ― perguntei confusa. Reparei que a minha avó abandonara o garfo nervosamente para beber um gole de seu vinho.

          ― Eleonora me revelou que te entregou um dos livros que escrevi. Você o leu? ― Voltei meus olhos para Avigayil.

          ― Sim, eu o li ― respondi.

          ― Posso saber qual a sua compreensão sobre ele?

          Levei uma mecha de cabelo para detrás da orelha analisando bem as palavras que usaria. Eu não podia surtar na frente dela assim como quase surtei ao falar com Eleonora ou com a minha avó sobre aquele livro.

          ― Bom, confesso que no início fiquei bem confusa e foi difícil acreditar, mas depois tudo começou a fazer um grande sentido e isso me assustou um pouco. Minha avó nunca havia me falado sobre um portal para um mundo paralelo e muito menos sobre uma rainha das fadas, mas sei que nem ela mesmo sabia disso. E eu me perguntei por que somente agora toda essa história veio à tona. Tanta coisa poderia ter sido diferente.

          ― Não era hora, minha linda. A verdade só deveria ser entregue à rainha das fadas ― revelou Avigayil.

          ― Então quer dizer que já existe uma rainha? 



Judite Davies





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