CAPÍTULO 5
ALEX
Eu ainda pensava em como Alice saiu furiosa do carro, e a mensagem que ela enviou minutos depois ainda martelava em minha mente.
"Eu prefiro você quando fica de boca fechada"
Eu também preferia, mas ao lembrar a forma como ela sorriu durante toda a noite, seus olhares furtivos vez ou outra em momentos que ela achava que eu não estava vendo, bom, eu sabia muito bem onde iríamos parar se eu não fizesse algumacoisa. Eu precisei fazer algo para que tudo ficasse em seu devido lugar.
Mas tinha que admitir que ela é diferente, em vários pontos, e minha noite tinha sido no mínimo interessante e divertida ao seu lado. Ela pesquisou sobre o evento. Mesmo sabendo que fiz o que era certo me sinto incomodado, por ter deixado ela chateada. Ela se esforçou tanto. Entro em minha cobertura.
- Precisa de mais alguma coisa senhor? - somente ao ouvir a voz de Dilan, lembrei de sua presença.
- Não, pode ir descansar. - ele concorda.
- Boa noite, então. - Dilan se despede e segue para a área dos funcionários.
Segui para meu quarto ainda me sentindo incomodado pela forma como a noite terminou. Pego meu celular e ligo para Adam. Ele demora um pouco para atender.
- Você só pode ter um fetiche por estragar minhas noites. - escuto ele resmungar. - O que foi dessa vez? - acabo rindo.
- Acho que estraguei a noite, e não é da sua que estou falando. - ele fica em silêncio por um minuto, quando penso que não entendeu, escuto uma voz de mulher e barulho de porta fechando.
- Estamos falando da Alice, certo? Já que vocês estavam no Vernissage.
- Sim.
- Qual foi a merda que você fez dessa vez? - revirei meus olhos.
- Nada demais, só fui indelicado, eu acho. - ele bufou.
- Você sendo indelicado é o mesmo que uma mula dando um coice, Alex.
- Se fosse qualquer outra mulher eu mandaria uma jóia e estava resolvido, mas creio que se fizer isso irei piorar tudo. - ele riu.
- Inteligente você é ao menos, se procurasse usá-la antes você pouparia Alice de ter se chateado e não seria meu empata foda de plantão. - acabei rindo. - Vamos ver em que nível de encrenca você se meteu. Quais foram as últimas palavras dela para você?
- Vai se foder. - ele riu.
- É por essas e outras que gosto dela. - ele falou rindo, e eu fiquei pesando no que disse: "gosto dela" - Alex, Alice é um doce de pessoa, o que me preocupa é o que foi que você fez.
- Usei palavras erradas, somente isso. - justifico contando o mínimo possível. Volto a ouvir a voz feminina, ele fala algo que não entendo.
- Certo... Aconselho você ir pedir desculpas para ela pessoalmente, e de preferência pela manhã. Alice tem o habito de levantar bem cedo, e depois de seja lá o que aconteça, só a leve para tomar café, e se certifique que tenha muffins de chocolate onde você for.
- Comida? - eu ri ao ouvir. - Vou pedir desculpas levando ela para comer?
- Deve ter algum tranqüilizante dentro da massa desses bolinhos, porque realmente faz milagre. - comecei puxar na memória lugares que frequento onde possam ter muffins. - Só faça isso.
- Certo. Obrigado.
- Sempre que precisar, só não esqueça, bem cedo. - ele riu, e eu não entendi o motivo. - Boa noite Alex.
- Boa noite, Adam. - desliguei. - Muffins? - eu continuava sem acreditar.
Segui o conselho de Adam, e, cedo estava pronto e disposto a pedir desculpas para Alice. Por ser sábado e não ter a preocupação de ler e responder emails no trajeto até a empresa, decidi dirigir. Durante a semana eu evito, por detestar o trânsito e até mesmo pela falta de tempo, mas nos fim de semanas eu gostava de dirigir.
Entre os carros que estão na garagem, escolhi o Mustang. De todos ele é o mais simples. Coloquei o endereço no GPS e escolhi uma música qualquer somente para não dar vazão aos pensamentos ruins.
Paro o carro em frente ao prédio onde ela mora, pelo retrovisor vejo o carro dos seguranças parando logo atrás. Respiro fundo e sigo para completar o que vim fazer. Pelas informações que tenho, ela mora no segundo andar. Procuro uma campainha assim que chego, mas não encontro, e quando penso em bater a porta é aberta. Uma mulher que não é Alice, me encara e quando abro a boca para falar ela bate a porta na minha cara.
Fico olhando sem entender, e até confiro se não parei na porta errada, mas não. É essa mesmo. Quando penso em bater, a porta é aberta novamente.
- Oi. - a mesma moça me cumprimenta sorrindo.
- É aqui que Alice mora? - ela olha para trás de mim, o que faço também. Então vejo que tem uma senhora na porta do outro apartamento nos olhando.
- É sim. - ela responde me puxando para dentro do apartamento, e fecha a porta. - E posso saber o que você faz aqui a essa hora? - ela me olha de cima a baixo sem ao menos disfarçar. - Nossa você é bem mais bonito pessoalmente, do que nas fotos. - acabo sorrindo com o que ela fala. - Não vai se achando não, você deixou minha amiga puta da vida ontem, então independente do seu nível de beleza e qualquer outra coisa, existe uma grande possibilidade de eu meter o pé nesse seu traseiro. - ela cruzou os braços e me encarou. - Veio perturbar ela de novo? - ela não parava de falar.
- Eu vim pedir desculpas, isso ajuda em algo? - ela continuava me encarando, e moveu a cabeça ponderando o que falei.
- Hum... Liberou sua passagem até o sofá. - ela apontou para um único sofá que ocupava boa parte do espaço destinado a ser uma sala. - Vou acordar a fera. - ela disse e sorriu. - Quero dizer, minha a amiga.
Sentei e fiquei esperando, se passou uns dez minutos, ouvi um barulho vindo do quarto onde ela havia entrado, logo em seguida a mesma saiu dando risada. Quando ela viu que eu a observava, se recompôs.
- Ela já vem. - concordei.
- Obrigado. - ela riu.
- Não agradeça, ainda é cedo para isso. - fiquei sem entender seu comentário e creio que ela percebeu. - Esquece, pode ficar a vontade, eu estava saindo quando você chegou, mas agora eu prefiro esperar um pouco. Acho que vou fazer café. - ela começou a ir em direção ao que parecia era a cozinha. - Quer café?
- Não, mas obrigado. - ela concordou e sumiu.
ALICE
- Ei... Acorda. - eu só gemi em resposta ao toque no meu ombro. - Alice.
- Me deixa dormir Tina. - ela voltou a me chacoalhar.
- Me diz o que foi que o bonitão fez ontem, que possa ter pesado a consciência dele? - me ajeitei na cama já que ela resolveu deitar ao meu lado.
- Ele não fez nada. - respondi mal humorada. - E, ele não tem consciência. Agora me deixa dormir. - ela riu e bateu na minha bunda.
- Sei... então se não foi a consciência pesada que trouxe ele até aqui, vou descobrir o que foi então. - ela levantou da cama, e eu abri os olhos com o que Tina falou.
- O que você disse? - perguntei, acredito que ouvi errado.
- Ele esta na sala, e quer falar com você. - ela caminhou até a porta.
- Você esta de sacanagem, quer me fazer levantar cedo só porque não te falei nada ontem. - falo e volto a deitar.
- Pode ser, mas pra tirar a dúvida, vai ter que levantar e conferir. - ela riu, e eu procurei algo pelo chão próximo a cama. Achei meu tênis. - E, de um jeito no visual, está parecendo a medusa é capaz dele não te reconhecer.
- Eu te odeio! - falei jogando o tênis nela que desviou e começou a rir.
- Não demora, ou eu vou começar a contar alguns segredinhos seus para ele.
- SUMA DAQUI! - joguei a coberta longe e fiz que ia em sua direção, mas ela começou a rir alto e saiu fechando a porta. - Que raiva! - deixei o corpo cair na cama e tive vontade de voltar a dormir, mas não fiz.
Segui para o banheiro, e resolvi tomar um banho rápido, se fosse verdade de Alex estar aqui, um chá de cadeira não faria mal. Quando sai do banheiro meu humor não tinha melhorado, coloquei uma calça jeans, uma regata e peguei o primeiro casaco de moletom que vi pela frente. Coloquei meu celular no bolso da calça, e saí do quarto de deparando com Alex na sala.
- Oi. - ele falou se levantando do sofá.
- O que esta fazendo aqui? - perguntei.
- Vim pedir desculpas por ontem. - ele olha para a cozinha, também olho e vejo Tina com uma caneca de café nas mãos, escorada no batente da porta, nos encarando.
- Só porque eu não respondi sua mensagem, despencou da torre? - perguntei rindo com ironia.
- Eu não te mandei mensagem, liguei para o Adam e ele me aconselhou a vir aqui cedo. - escutamos um barulho, e olhamos juntos para Tina que tinha cuspido café, e estava rindo.
- Isso porque ele é seu amigo. - ela falou sem conseguir segurar o riso, eu teria rido se não tivesse puta com eles. - Melhor rever suas amizades. - ela continuou.
- Cala boca! - falei pra ela.
- O que esta acontecendo? - ele perguntou olhando de mim para minha amiga.
- Nada! - respondi.
- Vocês estão tendo a primeira DR de casal. - Tina falou sorrindo e piscou. - É isso o que casais de namorados fazem quando brigam. - escuto um resmungo de Alex e decido que ficar aqui não é a melhor opção.
- Vamos sair daqui. - falei empurrando Alex em direção a porta da sala. - Você me paga. - falei para Tina que começou a rir.
- Eu? Ah fala sério, você sai com seu namorado e a culpa dele não fazer o trabalho direito é minha. - não acreditei no que ela foi capaz de falar, e a encarei da porta. Alex também a encarou. - E, antes que eu me esqueça, sou Tina melhor amiga dela. - ela sorriu, eu abri a porta.
- Sobre ser minha melhor amiga, eu já não tenho tanta certeza. - ela revirou os olhos e me mandou um beijo no ar.
Abri a porta e esperei Alex passar para bater a porta o mais forte que pude. Alex estava parado me encarando, passei por ele sem esperar, e comecei a descer as escadas. Quando cheguei a rua, parei e olhei para os lados, vendo Dilan e outro homem conversando na calçada. Alex parou ao meu lado.
- Espero que você se lembre que assinou um contrato de confidencialidade. - falou indicando outro carro, um que estava na frente do dos seguranças.
- A única coisa que eu lembro foi de ter mandado você se fuder, o que achei que me garantiria um dia sem ter que desfrutar da sua adorável companhia. - parei antes de chegar ao carro, e encarei Alex estampando meu melhor sorriso irônico. - Mas me enganei, olha você aqui. - revirei meus olhos e me virei para voltar a andar, mas Alex segurou em meu braço, e me impediu.
- Ok, confesso que fui um babaca ontem, mas fiz o que achei necessário para que você não confundisse as coisas. - fiquei surpresa com o que ele falou, e soltei meu braço de sua mão.
- Eu não estou confundindo nada Alex, pode baixar a bola. - falei me sentindo uma idiota. - Você me contratou certo? - ele concordou. - Então eu serei a melhor namorada de mentira que o seu dinheiro pode pagar, porque de você o seu dinheiro é a única coisa que me interessa. - ele ficou me encarando.
Escutamos vozes, e ao olhar para o lado, vi que o homem que estava com Dilan, estava correndo atrás de outro homem. Dilan estava vindo em nossa direção.
- É melhor irem para outro lugar. - ele falou colocando o dedo no ouvido, foi então que notei aquele ponto de comunicação.
- Venha. - Alex foi segurar em meu braço, mas eu não deixei.
- Pode deixar. - abri a porta do carro de entrei.
Ele balançou a cabeça, falou algo com Dilan e deu a volta no carro entrando. Eu me acomodei no banco enquanto ele tratou de colocar o carro em movimento. Eu estava tentando colocar as ideias no lugar.
O que deu errado de ontem pra hoje?
- Você é assim sempre ou é pelo que aconteceu ontem? - ignorei sua pergunta.
- Porque você achou que eu estava entendendo algo errado? - perguntei. Alex me olhou rapidamente, e respirou fundo antes de responder.
- Eu não sou tão idiota quanto pensa, Alice. - sua resposta fez meu coração acelerar. - Sou homem, e você não esconde muito bem suas emoções. - ele passou uma das mãos nos cabelos. - Creio que devemos terminar essa conversa depois que você comer o tal muffim de chocolate. - virei de lado o encarando.
- Adam te falou isso? - ele riu e concordou. - Esse é outro que quero torcer o pescoço quando encontrar. - falei virando de frente, e cruzando os braços.
Ele me levou a uma conceituada cafeteria de Manhattan, para não dizer a mais cara. Fiz meu pedido, e aproveitei já que o senhor riquinho iria pagar. Quando tudo foi colocado a mesa, vi como ele olhou surpreso, mas não se atreveu a falar nada. Ele se limitou a comer o folhado que pediu e tomar seu café. Eu estava comendo e repassando tudo na cabeça, quando uma coisa que ele falou me deixou intrigada.
- Você disse que não me mandou mensagem ontem? - ele concordou. Peguei meu celular e procurei, achando uma mensagem de minha mãe.
"Filha me ligue assim que puder"
- Droga. - fiquei preocupada, mas então lembrei que fiquei de mandar dinheiro para ela, e não mandei.
- Algum problema? - Alex perguntou preocupado. Neguei e guardei o celular.
- Era minha mãe. Ligo para ela quando chegar em casa. - me recostei na cadeira, e encarei Alex, me sentindo mal. - Eu não olhei, porque achei que tinha sido você. - dei de ombros. Ele concordou.
Ler a mensagem que minha mãe enviou, abrandou tudo dentro de mim. Eu dependia que tudo desse certo, eu mais do que ninguém precisava que esse acordo doido fosse bem sucedido. Eu precisava do dinheiro. Era somente isso. Uma chance de recomeçar. Alex me observava com atenção.
- Olha eu exagerei, desculpa. - comecei falando. - Mas precisamos que isso de certo. - apontei dele para mim. - Você tem seus motivos, eu tenho os meus. Mas no fim, isso só precisa funcionar. - ele concordou. - Temos que no mínimo ser amigos, confiar um no outro.
- Concordo.
- E você tem que mudar sua postura. - ele franziu a testa.
- Estou agindo como sempre agi. - revirei os olhos.
- Exatamente Einstein. - me calei e respirei fundo. - Se você esta agindo como sempre agiu, ninguém vai acreditar que você esta apaixonado, que esqueceu a megera da sua ex. - ele ficou sério. - Eu sei que você ficou preocupado por eu entender algo errado, mas isso não vai acontecer, eu te garanto. Mas para as pessoas acreditarem você tem que agir diferente, se só eu fizer isso, não passarei de mais uma na infinita lista de mulheres iludidas. - ele puxou os lábios, que por sinal são lindos, em um singelo sorriso. - O que foi? - perguntei.
- Realmente esses bolinhos fazem milagres. - falou ampliando o sorriso.
- Você não prestou atenção no que eu disse?
- Prestei, e concordo. - ele fez sinal pedindo a conta. - Mas se vamos manter isso pelas próximas semanas, e se seu humor matinal for sempre como hoje, eu vou precisar subornar o confeiteiro para ir trabalhar na minha casa. - ele sorriu de novo, e ele ficava lindo sorrindo.
- Não abusa. - falei segurando o riso. - Te mando ir a merda rapidinho. - ele soltou uma leve gargalhada.
- Eu acredito. - ele pagou a conta, e já estávamos do lado de fora quando Alex parou antes de abrir a porta do carro para mim. - Você sabe que não deveria ter falado nada a sua amiga.
- Ex-amiga. - falei, e ele riu. - Eu sei que não deveria ter falado nada, mas eu precisei. Ela gosta do Adam e com tudo isso, ela estava achando que eu estava tendo algo ele. - justifiquei. - Eu tive que contar. - ele concordou.
- Você tem certeza que ela não vai falar nada?
- Depois de hoje, certeza eu não tenho. - rimos. - Mas ela jamais faria algo que me prejudicasse. - ele concordou e abriu a porta do carro para mim.
Agora que tínhamos resolvido esse assunto, o que não saia da minha mente era minha mãe. O que será que tinha acontecido?
Segunda tem mais...
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