Capítulo 5 - CONTRATO DE CASAMENTO
Os dias estavam se passando rápido demais. Mesmo que Sophia tivesse dito a Daniel que lhe daria uma resposta definitiva no sábado, ela já tinha tomado sua decisão. Iria aceitar o pedido de casamento dele. Sendo um casamento de fachada, ela poderia continuar normalmente com sua vida; Miguel a deixaria, por fim, em paz, e ao mesmo tempo ajudaria a família a sair da beira da ruína.
Na quinta-feira, ao final do expediente, ela conversou com Daniel, aceitando sua proposta, e ambos ficaram muito satisfeitos. Os dois estavam em sua sala, pois Sophia o havia procurado para aceitar a oferta de casamento. Juntos, repassaram todos os termos para o matrimônio e discutiram alguns pontos. De comum acordo, estabeleceram cláusulas para o contrato. Para que não houvesse nenhum desentendimento, concordaram com os seguintes termos: após o casamento, Sophia teria acesso a cinco por cento das ações de Daniel, um montante suficiente para reerguer parcialmente a família Hornet e quitar algumas dívidas, e após o divórcio ela teria direito a mais cinco por cento; Daniel se comprometeria a comprar as ações da ConstruHornet e devolvê-las a Sebastian, como foi proposto anteriormente, recebendo cinquenta por cento de todo o lucro das ações até ter todo seu investimento devolvido – sem juros ou multa; a união seria por separação de bens; durante o matrimônio nenhum deles precisaria cumprir seu papel conjugal, mas deveriam manter a discrição se tratando de ambos desejarem ter outro parceiro; o casamento deveria durar no mínimo seis meses, prazo este para que Daniel conseguisse acesso à herança, como consta no testamento; e se, por acaso, o contrato fosse cancelado antes do tempo previsto, Sophia perderia todos os direitos que beneficiaria sua família.
— Está de acordo com todos os termos do nosso contrato? — Perguntou Daniel.
— Perfeitamente — Sophia acenou.
— Ótimo, pedirei a meu advogado para que redija, e no sábado eu levo até sua casa para assinarmos, tudo bem?
— Sim, senhor Müller.
Ele sorriu, achando graça no tratamento de Sophia.
— Seremos casados dentro de pouco. As pessoas vão estranhar se me chamar tão formalmente assim. Me chame apenas de Daniel.
Ela sorri acanhada. Seria difícil se acostumar com a ideia de chamar o chefe pelo primeiro nome. Mais estranho seria estar casada com ele. Casada por um contrato de casamento.
— Pode me chamar de Sophia em vez de senhorita Hornet.
— Sim, sim — riu brevemente. — Bom, precisamos anunciar que estamos "juntos". Que tal sairmos para jantarmos no sábado, e depois passo em sua casa e assinamos o contrato?
— Por mim, está perfeito.
— Te pego às sete.
♦♦♦
Daniel ajeitava a gravata, de frente ao espelho em seu quarto, ouvindo Heitor resmungar em seu ouvido. Ele fizera a besteira de contar ao irmão que tinha arrumado uma noiva para se casar e conseguir sua parte da herança, e agora, Heitor não parava de fazer piadinhas sem graças e de, hora ou outra, lembrá-lo do acordo que fizeram.
Müller passou uma colônia amadeirada e penteou os cabelos louros, afirmando ao irmão mais uma vez que ele não esqueceria do que haviam combinado. Daniel era um homem de palavras.
Conferiu o relógio, viu que já era hora de partir. Ajeitou seu Rolex no punho, pegou as chaves do carro e saiu, deixando o irmão caçula fazendo suas piadas de mal gosto sozinho.
Dirigiu até o apartamento de Sophia, conferiu o andar e número do apartamento por um SMS que ela lhe mandou. Subiu as escadas e tocou a campainha.
Não demorou muito até que ela atendesse a porta. E, assim que a viu, como em nenhum outro momento desde que se conheceram, Daniel a achou terrivelmente linda e atraente. Ele diria deslumbrante.
A loura prendeu os cabelos em um rabo-de-cavalo alto, trajava um vestido preto de gola baixa e, até a altura do peito, feito de renda, depois descia delineando o corpo em dia de Sophia, se abrindo na altura dos joelhos, nos pés trazia uma sapatilha preta delicada. Uma maquiagem leve realçava seus olhos verdes.
— Você está linda, senhorita Hornet — elogiou a analisando sem malícia.
— Você também está muito elegante, senhor Müller.
Juntos, riram de como se trataram, lembrando que haviam combinado de se chamarem pelo primeiro nome.
Daniel ofereceu seu braço, e Sophia se enroscou a ele, ainda que receosa. Até aquele momento nunca tinha tido uma aproximação mais pessoal ou íntima com Daniel. Desceram até a garagem do prédio conversando sobre seus respectivos dias.
Já dentro do carro, Sophia contou como se sentia em relação àquilo tudo. Confidenciou que tinha anseio pelo que as pessoas falariam, principalmente a sua família. Também confessou que estava preocupada de como os outros funcionários da empresa reagiriam à notícia de saber que ela e o patrão eram noivos.
— Não deve se preocupar com isso agora, Sophia. Vamos dar um passo de cada vez — disse Daniel após ouvi-la atentamente, querendo, de alguma maneira, despreocupá-la.
Enquanto Sophia falava, Müller a ouvia com atenção, reparando em como ela tinha uma boa postura. Correu os olhos por seu corpo, e viu que ela se sentava ereta e tinha uma expressão corporal ótima. As mãos não paravam de gesticular, os lábios se moviam em ótima dicção e o tom de sua voz sempre era afável e doce.
— O que diremos quando nos perguntarem como nos conhecemos? — O questionou, evidenciando que, por mais que Daniel dissesse que não deveria se afligir, estava aflita
— Podemos dizer que nos conhecemos antes de você entrar na empresa e vínhamos mantendo o namoro em sigilo. — Sugeriu.
— Bom, aí vão dizer que você me favoreceu com o cargo de secretária sênior — ressaltou, e Daniel não pôde deixar de concordar.
— Tem razão. Então, dizemos que nos apaixonamos no próprio ambiente de trabalho e mantivemos a discrição exatamente por isso.
Sophia sorri e concorda com um aceno de cabeça no exato momento em que Daniel puxa o freio de mão após estacionar o carro.
♦♦♦
Daniel arrastou uma cadeira para Sophia, ela agradeceu e sentou-se olhando ao redor, encantada com a beleza, requinte, e ao mesmo tempo simplicidade, do lugar. Ele se sentou logo à frente, analisando a carta de vinho, enquanto Sophia corria os olhos pelo menu, indecisa e resinada a escolher um dos pratos. Por fim, optou pela opção "sugestão do chefe", Daniel pediu o mesmo, solicitando, também, uma boa combinação de vinho para acompanhar o pedido.
Enquanto aguardavam a chegada do prato, conversaram um pouco, sentindo os olhares das pessoas que, talvez, reconheceram Daniel. E ele não se incomodou, continuou a conversar com sua "noiva", sempre exibindo um sorriso no rosto, e hora ou outra tocando sua mão.
O garçom trouxe os pedidos aos dois. Conversaram bastante durante o jantar, e, mesmo Daniel sendo seu chefe, Sophia se sentiu muito bem ao seu lado. Ele se mostrou bem-humorado, arrancando gargalhadas dela. Por um momento percebeu como realmente não o conhecia. A imagem que Sophia tinha de Müller era a mesma que a maioria das pessoas do seu convívio profissional tinha. Daniel Müller era um homem reservado, às vezes, de poucas palavras, sério ao extremo, autoritário, mas sem parecer tirânico. Sua postura exalava imponência sempre que despontava no elevador no andar da Presidência, os ternos sob medida que lhe delineavam bem o corpo e lhe atribuíam um charme peculiar.
Sophia já tinha se acostumado com o jeito evasivo de Daniel, se adaptara logo a vê-lo de semblante sisudo, muitas vezes concentrado nos seus deveres. E apesar disso tudo, ela gostava de sua postura, de sua personalidade. Era uma mistura de elegância e austeridade que nele caía perfeitamente.
Mas durante a conversa no decorrer do jantar, Sophia conheceu um outro lado de Daniel. O lado que, talvez, só conheçam os mais próximos, os amigos mais íntimos, alguns familiares. Daniel Müller era um homem encantador e, do contrário que parecia, bem-humorado. Viu o sorrir de forma contagiante pela primeira vez em quatro meses, e reparou como seu belo par de olhos azuis-esverdeado brilharam intensamente quando riram juntos de alguma coisa engraçada.
De tez branca, o rosto quadrado, cabelos louros escuros bem penteados de lado, lábios finos, leve e naturalmente rosados, e uma barba média que lhe deixava ainda mais elegante, o Daniel a sua frente, naquele momento, não era nem de longe o mesmo homem com quem trabalhara ao longo daqueles meses.
E fosse qual fosse sua personalidade, Müller era uma boa pessoa. Um homem bom em todos os aspectos: pessoal e profissional. E era por esse motivo que Sophia não se sentiu intimidada nem na presença do Daniel seu superior nem do Daniel seu "noivo". Sophia podia ser ela mesma perto dele.
— A comida estava maravilhosa — enalteceu após um último gole no vinho.
— Eu sei, foi por isso que te trouxe aqui. Para mim é o melhor restaurante da cidade — sorriu, e também terminou seu etílico.
— Melhor que a comida, só suas conversas. Não sabia que tinha esse senso de humor todo.
Daniel a encarou sorrindo, olhou no relógio, mas não a respondeu.
— Está tarde. Vamos? — Convidou já chamando o garçom e pedindo a conta.
Sophia esperou que a conta fosse paga para se levantar. Do lado de fora, sentiu um vento gelado bater em sua pele, abraçou seu corpo, estremecendo de frio.
Daniel se aproximava quando a viu tentando se aquecer envolvendo o corpo com os próprios braços. Retirou seu paletó e ofereceu a ela.
— Não se incomode, Daniel. Estou bem — recusou educadamente.
Ele balançou a cabeça em negativa enquanto lhe jogava o paletó por cima dos ombros. Sophia sentiu-se aconchegada com a atitude dele. Além de tudo, era um perfeito cavalheiro. Ela sorriu e agradeceu, olhando em seus olhos. Novamente, após Daniel oferecer seu braço, se enroscou a ele e os dois se encaminharam até o carro.
♦♦♦
Sophia tirou o paletó de Daniel e o pendurou a cadeira, enquanto ele entrava em seu apartamento observando tudo. Ele apoiou um envelope pardo que trazia – o contrato – na mesa de centro que havia na sala.
— Vou preparar um café para nós. — Sophia disse já caminhando para a cozinha estilo americano. — Sinta-se à vontade e sente-se.
— Se não se importa eu gostaria de usar seu banheiro — solicitou.
— Claro. Final do corredor à direita.
Daniel se encaminhou até o lavabo. Dobrou a barra das mangas, ligou a torneira, molhou as mãos e, em formato de concha, encheu-as com água e encharcou o rosto, levando a água até seus cabelos, deixando-os úmidos e bagunçados. Olhou-se no espelho e suspirou. Ainda era difícil digerir todos os últimos acontecimentos.
Herança, casamento, noivado, Sophia...
Pensava em que ele tinha se metido para poder conseguir ter acesso a sua parte da herança. Me submeter a um casamento, balançou a cabeça, rindo da ironia da coisa. Ele que quase nem tinha tido namoros, e os relacionamentos que tivera jamais avançaram para algo mais sério como o noivado. Agora se via noivo de uma total desconhecida, no sentido de ele nem sequer ter namorado Sophia, por tê-la conhecido e firmado compromisso em circunstâncias totalmente incomuns.
Secou o rosto, usou o banheiro, e quando lavava as mãos outra vez, ouviu a campainha ser tocada. Apurou um pouco os ouvidos para saber que se passava na sala de Sophia. Conseguiu identificar o nome Miguel em tom de espanto e surpresa sendo pronunciada das cordas vocais da noiva. Andou cautelosamente pelo corredor até cair na sala do apartamento. Deparou-se com um homem alto, e deduziu ser o tal ex-noivo. O homem reparou em Daniel ali e seu semblante mudou totalmente. Acenou o cumprimentando, e Müller, educadamente, retribuiu o aceno.
— Daniel! — Sophia pronunciou se aproximando e, em seguida, o beijou nos lábios.
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