Capítulo 11 - CONFUSÃO
Miguel sorri, e parece não se importar com o modo como foi tratado pela ex-noiva. A verdade é que ele gostara da madeira que foi recebido. Sentiu as pequenas mãos femininas tocando seu peito e o empurrando contra a parede, o cheiro de seu hálito lhe invadiu o nariz – o que era algo bom para ele – e seu tradicional perfume adocicado de baunilha impregnado em sua pele exalava pelo ar.
Orleans olha diretamente para os grandes olhos verdes, tem um pequeno riso cínico nos lábios, enquanto sente o toque macio de Sophia, que parece não perceber suas mãos contra o peito largo masculino.
— Isso são modos de me receber? — Responde finalmente, e leva suas mãos até as dela, as tocando.
Ao sentir o toque de Miguel, por fim, Sophia se dá conta que o prensa contra a parede e que suas mãos repousam no tórax dele. Ela se afasta um pouco, passando a palma pelos cabelos. Respira fundo antes de soltar um suspiro exasperado.
— Não vou perguntar de novo. O que está fazendo aqui?
Miguel ajeita a gola da camisa e se desencosta de onde foi prensado.
— Fiquei sabendo do seu jantar de noivado. Devo acrescentar que estou muito chateado por não ter sido convidado?
— Como ficou sabendo? — Pergunta com uma pitada de raiva, ignorando-o.
— Seu pai foi falar com o meu e acabou comentando.
— Então, o senhor Luiz foi correndo lhe contar — deduz com desdém.
— Meu pai não me disse nada. Eu quem ouvi a conversa por trás da porta. — Miguel se explica e abre um sorriso malicioso —Então, vai ou não me convidar para entrar?
Sophia inspira fundo outra vez. Faz um exercício mental buscando pela paciência. Se seu apartamento não tivesse tão cheio de gente, ela o teria expulsado. Desde que Miguel soube onde estava morando, vinha sendo inconveniente demais. Já era a segunda vez que a procurava, e ela sentia que se não desse um basta logo nisso Miguel não pararia de procurá-la. E Sophia não queria mais se esconder ou fugir. A cidade, mesmo sendo a maior da América do Sul, não seria grande o suficiente para Guimarães, e, de todas as maneiras, ele a encontraria.
Abria a boca para lhe falar, quando ouviu um timbre familiar soar pelo corredor e Daniel surgir em seguida.
— Sophia, por que está... — de súbito ele para e encara Miguel.
A expressão de Daniel se fecha no mesmo instante e seus olhos vão de Miguel para sua noiva, que tem o semblante tenso. Somente com o olhar, quase exige uma explicação para a presença desagradável de seu ex.
Novamente ex e "atual" se encaram, e é Daniel quem se pronuncia primeiro:
— Por que está aqui? — Tenta controlar sua voz, e pensa por que é que está se esforçando para não transparecer sua raiva.
Questiona-se ainda mais por que diabos está com raiva de Miguel. Ele não tem motivo nenhum para cultivar tal sentimento, somente que o ex-noivo de Sophia é um total inconveniente.
— Ah, só vim desejar os parabéns ao casal de pombinhos. — E sorri torto.
Daniel agarra Sophia pela cintura e a puxa para si. Ela fica totalmente surpresa e seu corpo dá um leve salto com o susto de ter seu dorso colidido com o de Müller. As mãos dele envolvem sua cintura, mas a atenção ainda continua em Miguel.
— Agradecemos o seu desejo. Agora, pode ir embora — diz com os dentes cerrados.
Miguel não se abala à intimidação do outro e continua a encará-lo.
— Achei que vocês fossem mais educados com as visitas que recebem. — Resmunga com um falso desapontamento.
—Tudo bem, Miguel. Entre! — Sophia cede, abruptamente, e ele abre um largo sorriso de satisfação.
Em contrapartida, recebe um olhar furioso de Daniel, que entra novamente pisando firme e deixando os dois sozinhos no lado de fora.
Sophia bufa e o metralha com seus olhos verdes, vira-se bruscamente e também entra. Ao passar pela porta, pela terceira vez, respira fundo tentando controlar sua raiva. Guimarães infernizaria sua vida até quando?
Os olhos de todos se estalam quando divisam Miguel entrar logo atrás.
— Olá... — cumprimenta tão naturalmente como se sua presença fosse esperada.
Os presentes estão surpresos com a visita repentina dele, e Sophia sente todos aqueles pares de olhos em cima dela, quase que exigindo uma explicação de sua parte.
— Miguel está um pouco... Muito atrasado. — Sua voz treme enquanto fala. Se vira para ele e tenta por um sorriso no rosto. — Mas fico feliz que tenha vindo e esteja superando o acontecido.
— Dizem que o tempo é o remédio para tudo, não é? — E exibe um riso convencido nos lábios.
Sophia se segura para não se irritar e força outro sorriso, querendo disfarçar seu desagrado em tê-lo ali. Acomoda-o na mesa, arrumando outra cadeira.
Enquanto isso, Miguel cumprimenta os familiares dela e ignora todas as vezes que Daniel exaspera impaciente, e quando ele cochicha algo com seu irmão, mais para irritar do que por educação, Miguel se apresenta a Heitor, que parece também não simpatizar com ele. O que não lhe importa muito.
— O jantar já foi servido. — Sophia o informa. — Tudo bem se comer somente a sobremesa?
— Claro — ele assente enquanto Sophia se retira para buscar a sobremesa, juntamente com Eva que se prontifica a ajudá-la. — Aliás, me desculpem pelo atraso, estava em um canteiro de obras que estou acompanhando. A arquiteta solicitou uma reunião fora de hora. Tem um rosto bonito, mas fala demais — comenta tentando se enturmar.
De volta à mesa, e após pôr travessas, taças e talheres, Sophia repara em Daniel, que está com um semblante enrugado. Sua mão tenta alcançar a dele para acalmá-lo, mas ele se esquiva bruscamente e toma um pouco da sua água, sem encará-la.
Culpa-se por ter permitido que Miguel ficasse. De início era para mostrar a ele como o seu noivado ia de vento em popa, talvez fingir algumas carícias com Daniel e fazer ciúmes, elogiando seu noivo, ou mentir dizendo coisas que ele já fez a ela; e Miguel, não. Ponderou que, se seu ex percebesse que era inútil continuar a procurá-la, pararia de atormentar sua vida.
Mas, pelo jeito, seu plano surtiu efeito contrário, e Daniel havia ficado irritado. O porquê ela não sabia. Seria compreensível se fossem noivos de verdade, mas não eram. Tentou pôr-se no lugar dele imaginando se também ficaria irritada caso a tal Melissa aparecesse ali.
Enquanto divaga por seus pensamentos, todos ao redor da mesa vão se servindo, e Miguel interage com seus familiares. Ela só volta à realidade quando Eduardo joga o caroço de alguma coisa nela e emiti um psiu.
Sophia encontra os olhos claros aturdidos.
— Que ele faz aqui? — Sussurra para a irmã mais nova
Sophia vira as palmas para cima e levanta os ombros. Vê o irmão suspirar e balançar a cabeça negativamente.
— Como está indo a empresa, Miguel? — Sebastian puxa assunto.
— Estão ótimos, senhor Hornet. Inclusive acabamos de iniciar uma obra na empresa do querido Daniel Müller — responde amigavelmente e encara Müller, que continua com a expressão fechada.
Os dois se olham, mas Daniel continua sem dizer nada. Novamente Sophia tenta se aproximar, e outra vez ele se desvia. Segue comendo sua sobremesa, uma deliciosa salada de frutas, e em silêncio. Todos percebem que ele não está confortável com a presença de Miguel.
— Isso é ótimo — Sebastian continua. — Acredito que para uma obra numa empresa tão importante como a do Daniel, seja seu próprio pai o engenheiro responsável. Se eu bem conheço aquele velho Guimarães.
— Na verdade, eu que fiquei responsável pela obra da Swiss. — Alega orgulhosamente, e no mesmo instante sente os olhares de Sophia e Daniel sobre ele. Os de Daniel queimam de raiva, mesmo que ele não saiba explicar por que, e os de Sophia, de surpresa. Se Miguel era o engenheiro responsável pelas obras da Swiss, isso significaria que ele estaria mais tempo por perto.
— É uma grande responsabilidade. — Sebastian apenas diz.
— Então, para quando é que vocês marcaram a data do casamento? — Eva desvia o assunto.
— Ainda não marcamos. Iremos ao cartório amanhã, não é, querido? — Pela terceira vez ela tenta acariciar a mão dele, mas Daniel continua a recusar seu toque.
— Sim. Marcaremos para o mais breve possível — sua voz é meio seca.
— Já estou até imaginando como a cerimônia será magnífica — Isabela se pronuncia, sonhando acordada, e Eduardo lhe cutuca as costelas rindo em seguida. Eles têm uma breve discussão bem-humorada até Sophia se interpor.
— Será uma cerimônia simples. Nada muito extravagante.
— Aah, Soph! — Ela lamenta — Achei que seria melhor que o seu casamento com o Mi... — Isabela se cala abruptamente quando percebe o que ia falando.
Sophia pigarreia e olha Miguel, que está com seus olhos baixos, talvez lembrando do momento que foi abandonado no altar, na frente de metade da cidade.
— Enfim, você planejou um casamento que você queria adiar, por que não pode planejar um que vai se casar com o homem da sua vida? — A caçula Hornet continua, e dá de ombros.
Uma pequena tensão cresce na sala e Miguel se remexe no seu lugar. Daniel tem um singelo sorriso nos lábios, talvez satisfeito pela tensão nos punhos do ex dela. Ele não entende o porquê dessa rivalidade com Miguel. Na verdade, deveria estar sentindo pena do pobre coitado. Daniel não imagina, e nem quer imaginar, como deve ser a sensação de ser abandonado no altar. Mas por algum motivo ele se sente vitorioso em apenas ver o desconforto de Guimarães ante as palavras de Isabela.
— Mas eu quero uma cerimônia simples, Isa — reforça Sophia.
Ela não queria dizer na frente de Miguel que planejara seu majestoso casamento com ele apenas por ter um pretexto para adiar a data o quanto fosse possível. Já seu casamento de conveniência com Müller seria simples porque não queria dar gastos desnecessários com um casamento que não duraria um ano. E também porque o casamento dos sonhos dela seria com o homem por quem realmente estivesse apaixonada.
— Tudo bem. O casamento é seu, faça como quiser. — Isabela diz levantando as mãos em sinal de rendição.
Sophia suspira, e o silêncio se faz presente outra vez. Subitamente ela sente o calor de uma mão tocando as suas. Olha Daniel que tem um pequeno sorriso nos lábios; sorri de volta sem se esquivar de seu toque.
É então que ele quebra o silêncio, levantando-se e retirando do bolso interno do paletó uma caixinha.
— Senhor Hornet, — profere olhando para Sebastian — me concede a mão de sua filha?
Sebastian acena com um largo sorriso, e enquanto Daniel tira as alianças, todos acompanham o momento. Ele segura as delicadas mãos de Sophia e coloca a aliança em seu anelar direito.
Surpreendida pelo fato de Daniel ter se importado com as alianças, ela toma a dele em mãos para deslizá-la pelo seu anelar. Sorriem um para o outro e Sophia coloca uma mecha de cabelo atrás da orelha. Nenhum dos dois sabe o que fazer, e mesmo que relutantes, se beijam brevemente, encenando o noivado.
Daniel sente os lábios finos dela nos seus, um calor percorre seu corpo. Os presentes aplaudem, Miguel com menos animação que os demais, e eles cessam o beijo.
Sophia está levemente corada e Daniel não sabe como agir.
— Vamos fazer um brinde aos noivos — Heitor diz com um sorriso irônico nos lábios, se servindo de vinho e levantando a taça.
— Heitor, tem champanhe, seu idiota — Daniel rebate, e todos gargalham.
Sophia busca as taças e eles fazem o brinde.
— Ao casal do ano. — Miguel exprime levantando sua taça. — E ao Daniel, para que ele não seja abandonado.
E diante disso, todos ficam calados.
♦♦♦
Daniel não se importou com seus modos. Nem com a família de Sophia presente ali. Ele estava dominado pela raiva e por isso não pensou direito. Quando se deu conta, suas mãos já agarravam o colarinho de Miguel e iam de encontro à face dele. O impacto de seu punho fechado no rosto do atrevido Miguel o fez cair sobre a mesa, e todos se assustaram. A mesa desliza pelo piso com o impacto do corpo atlético de Orleans e ele desaba no chão, batendo fortemente as costas. Daniel avançava outra vez contra seu oponente, mas este já havia se levantado, e obstruiu o golpe que acertaria seu nariz. Torceu o punho de Daniel e acertou um soco contra seu olho, que ficou roxo quase que no mesmo instante.
Sebastian segurou Miguel enquanto Heitor impediu o irmão de continuar com as agressões. Mas Daniel estava possesso e se desvencilhou facilmente, empurrando quem o segurava. Com os cotovelos, e cego pela fúria, Miguel acertou Sebastian e foi de encontro a Müller, que também vinha até ele. Isabela, Sophia e Eva só faziam gritar, pedindo para que os dois parassem com a briga. Mas em vão.
Segundos depois, Daniel apertava o pescoço de Miguel, este que revidou com uma joelhada na sua boca do estômago e deu um forte empurrão que o jogou sobre um armário de portas de vidro com algumas bebidas. O móvel veio ao chão e as garrafas se espatifaram. Vidros esvoaçaram para todos os lados e o piso foi manchado com os etílicos.
Apressadamente, Eduardo e Heitor correram para dominar Miguel, cada um segurando em um braço, mesmo com ele a esbravejar "me soltem".
Daniel viu seu inimigo preso e incapaz, levantou-se tomado pela ira e somente se enxergava socando Miguel. Avançava decididamente, quando sentiu mãos tentando segurá-lo. Sem se dar conta, desvencilhou-se com um forte soco, dado com os cotovelos, contra quem o detinha.
O golpe acertou o pequeno queixo de Sophia, que cortou a língua quando seus dentes a colidiram. Caiu sentada no meio da confusão enquanto ainda via Daniel furiosamente ir em direção a Miguel para agredi-lo.
Ele parecia dominado e não ouvia nem a Heitor nem a Eduardo dizendo-lhe para ter calma.
Subitamente, Daniel sentiu uma mão forte agarrar a gola de sua camisa e empurrá-lo fortemente contra a parede. Suas costas colidiram contra o cimento e ele teve quase certeza que seu pulmão sairia pela boca.
Encarou os olhos azuis e furiosos de Sebastian. Voltou a si quando o ouviu gritar estridentemente:
— Você machucou minha filha, seu grande filho da puta!
♦♦♦
— Acho melhor você ir embora — Eduardo disse a Miguel enquanto sua mãe ajudava Sophia a se levantar, perguntando se ela estava bem.
A confusão que acontecera ali em sua sala a deixou com a cabeça rodando. Heitor e Eduardo seguravam Miguel, que ainda tinha sua íris verde cheia de raiva. Sebastian prensava Daniel contra a parede, e havia cacos de vidro e bagunça jogados por todos os cantos.
— Pai, foi um acidente... — Sophia tenta amenizar a situação de Daniel, sentindo sua língua arder pelo corte. — Ele jamais faria isso em sã consciência.
Sebastian ouve a filha e solta Daniel abruptamente, o encarando com uma expressão nada amigável. Para o Hornet não importa se foi ou não por querer. Ele machucou sua filha e era o suficiente para ficar nervoso. Sem esperar por um segundo, vira-se para Miguel:
— Vá embora, Miguel, já causou muita confusão! — Exige com sua voz dura.
Guimarães olha para a mulher que um dia foi sua noiva, e que agora tem Daniel por perto pedindo desculpas pelo que fez. Respira fundo, alinha o blazer e sai em seguida pisando firme.
— Sophia, me desculpe. Eu não queria te machucar. Esse Miguel me tirou do sério! — Ele pede tocando seu queixo e levantando-o para analisar.
— Está tudo bem, Daniel. Sei que foi sem querer.
— Tem certeza? Precisa de um pronto atendimento? Eu levo você.
— Não há necessidade, Daniel, já disse. Eu estou bem.
Müller acena e suspira, ainda sentindo a adrenalina correr por suas veias. Todos na sala continuam atordoados com a briga deles.
— Por favor, me desculpem por esse meu comportamento. Normalmente eu sou calmo. Não sei o que aconteceu comigo. Eu realmente não queria causar essa confusão. — Faz uma tentativa de se redimir.
A família de Sophia apenas acena brevemente, e Sebastian é o único que mudou sua expressão de atordoado para furioso. Mesmo que soubesse que o que aconteceu foi um acidente, ainda estava nervoso com o ocorrido. Sentiu as mãos de Eva a afagar seus ombros, e aos poucos foi se acalmando.
— Tem certeza de que está bem? — Sebastian pergunta à filha.
Ela confirma novamente e diz apenas que cortou a língua. Daniel continua sem jeito por tê-la machucado, ainda que tenha sido sem querer. Praguejou-se mentalmente por isso. E tudo por culpa do imbecil do Miguel!
Já com todos os ânimos mais calmos, a imagem de ele avançando sobre o Guimarães reprisa em sua mente, e Daniel quase pode sentir a ira se concentrar em seus punhos. Raiva essa que não entende por que está sentindo. Inspira e expira fundo para manter a calma.
— Pelo jeito, o jantar acabou. — Heitor diz. — Acho que é minha deixa para ir embora.
— É melhor nós irmos também — Eduardo olha para os pais, que assentem com um maneio de cabeça.
— Você vem, Daniel? — Heitor pergunta.
— Não. Quero ficar para limpar a bagunça que causei.
— Não precisa se preocupar, Daniel. Pode ir, se quiser.
— Eu quero ficar. — Afirma convicto.
Eles se despedem, e Daniel se desculpa mais uma dúzia de vezes antes de os Hornet e seu irmão irem embora de vez. Daniel se volta para Sophia, que já está agachada juntando os cacos da louça quebrada. Ele se aproxima a passos cautelosos e se ajoelha em sua frente, segurando os pulsos delicados dela. Seus olhares se encontram e os olhos verdes dela estão marejados.
— Você está chorando... — murmura ao notar os olhos úmidos.
Ela funga e limpa rapidamente as lágrimas teimosas que descem, balançando a cabeça.
Subitamente, ela sente as mãos de Daniel levantá-la e encaminhá-la até o sofá. Eles se sentam, mas Sophia está com o olhar cabisbaixo, negando-se a mirar Müller.
— Me desculpe, Sophia. Eu juro que não queria ter te machucado. — Ele toca o queixo dela e levanta seu olhar.
Os olhos estão vermelhos, e ele pode perceber que Sophia está se segurando. Abruptamente, ela despenca em pranto e se abraça a Daniel, que, hesitante, a envolve e afaga seus cabelos, tentando acalmá-la. A cena de vê-la chorando aperta seu coração; e ele não sabe que reação ter.
— A culpa não é sua. — Declara em seus ombros, ainda lacrimejando. — Eu não deveria ter permitido que Miguel ficasse. Sou uma idiota. Eu estraguei tudo, como sempre faço — lamenta-se, e molha o paletó de Daniel com suas lágrimas.
Ele a afasta e segura seu pequeno rosto, enxugando as suas lágrimas com os polegares.
— Não diga isso. A culpa é dele que tem tentado de tudo para nos provocar — sussurra para acalmá-la.
Nem percebe quando a traz novamente para seus ombros e acaricia suas madeixas, ao passo que sente o coração dela voltando a bater em seu ritmo normal. A sensação que percorre pelo corpo de ambos é quase inexplicável. Sophia sente os grandes, fortes e calorosos braços de Daniel a contorná-la. Suas mãos acarinhando seus cabelos e seu corpo tão próximo ao do dela, a faz sentir-se segura. Daniel era como um refúgio, um porto-seguro, uma muralha que a protegeria de todo e qualquer mal.
Para Daniel, vê-la frágil daquela maneira, entre seus braços, agarrado ao seu corpo, despertava nele um sentimento de proteção. Não queria que mais ninguém fizesse mal a ela. Ao mesmo tempo em que ter a pele de macia feminina resvalando pela sua o deixava em êxtase e confuso. Por que se importava tanto com o fato de Miguel provocá-los? Deveria apenas ter ignorado os comentários fúteis do Guimarães. Mas algo dentro do seu âmago gritou alto e a vontade de agredir o inconveniente Miguel o dominou, e ele acabou agindo sem pensar.
— Não está mesmo chateado comigo? — Sophia o despertou de seus pensamentos. Ela continuava com a cabeça repousada em seus ombros, e suas mãos ainda afagavam os cabelos dela.
A voz de Sophia parecia mais calma. Daniel teve quase certeza de que ela não chorava mais.
— Claro que não. Eu não teria porquê ficar chateado contigo. — Garante, e ela se afasta, encarando-o nos olhos com um pequeno sorriso.
Daniel leva outra vez seus polegares até ao rosto de Sophia e limpa as últimas lágrimas que caíram. Definitivamente, não gostara de vê-la chorando.
— E você me perdoa por ter te machucado? — Sussurra escorregando seus dedos até os lábios que se incharam um pouco.
Os olhos de Sophia desviam-se para o polegar de Daniel recostando em sua boca. Não consegue dizer nada e apenas acena. Inconscientemente, suas pequenas mãos alcançam um olho roxo dele e o toca levemente. Devido à dor, ele se esquiva.
— Dói?
— Um pouco — confessa.
— Tenho kit de primeiros socorros.
— Não se preocupe com isso, não é nada.
— Desculpe, senhor Müller, mas você não tem opção. Vou tratar isso aí — decreta e se levanta, mas é trazida de volta quando as mãos dele a puxam para o sofá outra vez.
— Antes de ir buscar o kit, quero te dar algo.
Sophia o encara sem entender. Se remexe no sofá, desconfortável. Vê quando Daniel tira uma pequena caixa em formato de retângulo de dentro do bolso interno do paletó. Os olhos dela brilham diante à prata pura de um colar simples, mas totalmente elegante.
— Da... Daniel — ela gagueja e o olha, desnorteada.
Ele tem um sorriso divertido nos lábios quando se levanta e a puxa pelos punhos, fazendo-a se levantar também. Vira-a de costas para ele e afasta os cabelos louros, jogando-os para frente. Coloca a joia no pescoço branco e delicado de Sophia, e os dois se olham através de seus reflexos no vidro da janela ali perto.
— É tão linda... — Daniel murmura, contemplando-a.
Sophia desenha um breve sorriso; leva as mãos até a singela e majestosa joia.
— Tem razão. É linda — confirma segurando o objeto.
Daniel sorri pequeno e segura-a em sua cintura. Seus olhares continuam a se cruzarem através do vidro.
— Eu me referi a você.
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