Capítulo 10 - O JANTAR
Não demorou a chegar a quarta-feira, o dia marcado para reunirem os Hornet em um jantar que anunciaria o casamento de Sophia e Daniel.
Müller dispensou Sophia do dia de trabalho para que ela organizasse o jantar de noivado que aconteceria logo mais. Sophia preferiu contratar um buffet para a ocasião, e enquanto os funcionários faziam o trabalho de preparar os pratos para o jantar, saiu às ruas da cidade para comprar algo mais apresentável, quem sabe passar no cabeleireiro e também fazer as unhas. Pegou-se querendo não surpreender à família, mas a Daniel. Queria estar bonita para ele, para que ele corresse seus olhos nela assim como fez com a ruiva em seu escritório. Sim, ela reparou no olhar ele à garota de cabelos acobreados, e sentiu-se incomodada.
Pestanejou rapidamente encarando uma vitrine. O que é que eu estou pensando?
Afastou seus pensamentos e entrou na loja para escolher um traje para aquela noite.
Depois de comprar uma vestimenta para a recepção, Sophia foi até a floricultura e encomendou algumas flores para enfeitar a sala. Seguiu para o cabeleireiro, e enquanto as pontas de suas madeixas eram cortadas, a manicure lhe fez as unhas.
Ao final da tarde, Sophia retornou ao seu apartamento, onde já estava tudo organizado.
Faltavam apenas algumas horas para o jantar, quando ela resolveu ligar para Daniel. Não sabia por que exatamente ligava para ele, mas surpreendeu-se ao desejar ouvir sua voz forte.
— Oi, Sophia.
— Já está vindo para cá?
— Vou para minha casa tomar um banho primeiro. Seus pais já chegaram?
— Ainda não. Não vai se atrasar, não é?
Ele ri um pouco do outro lado da linha.
— Não, não irei me atrasar. Até porque estou no horário. Ainda tenho umas duas horas.
— Eu sei, mas gostaria que você estivesse aqui para recebê-los comigo.
Há um silêncio repentino por parte de Daniel. Sua quietude incomoda Sophia, que acredita ter feito ou falado alguma bobagem. Ela o chama uma vez, mas não obtém resposta. O chama novamente.
— Estou aqui — ele responde, parecendo ter voltado de um mundo distante.
— Você me ouviu?
— Sim. Estarei aí para receber seus pais junto com você.
Ela sorri fracamente. Há uma pequena curiosidade em saber por que Daniel ficou mudo tão de repente pairando no ar.
— Te espero. — Ela desliga, e morde os lábios encarando o pacote de roupa que comprou.
Então, decide se arrumar.
♦♦♦
Daniel saiu da empresa mais cedo. Primeiro porque precisava ir para casa e tomar um banho antes de ir até o apartamento de Sophia para o jantar de noivado. Segundo, porque um noivado sem alianças, não era um noivado.
Ele não era muito bom para escolher joias, muito menos uma aliança de casamento, por isso, passou na primeira loja que encontrou. Entrou e solicitou à atendente que lhe mostrasse as opções que tinha.
Enquanto a funcionária da relojoaria lhe explicava os modelos que estavam postos à sua frente, o celular toca, e reconhecendo o número de Sophia na tela, pede um minuto à prestativa funcionária para atender à chamada, se afastando alguns metros:
— Oi, Sophia.
— Já está vindo para cá?
— Vou para minha casa tomar um banho primeiro. Seus pais já chegaram? — Responde, e aproveita o instante para olhar a loja ao seu redor.
— Ainda não. Não vai se atrasar, não é?
Subitamente, Daniel olhou no relógio, assustado e acreditando que já estava atrasado. Ao ver que tinha tempo de sobra, ele riu um pouco. Sophia provavelmente estava nervosa para o jantar.
— Não, não irei me atrasar. Até porque estou no horário. Ainda tenho umas duas horas.
— Eu sei, mas gostaria que você estivesse aqui para recebê-los comigo.
Nesse momento, seus olhos pararam em um determinado local da loja, numa bela joia brilhante do outro lado do estabelecimento, reluzindo majestosamente atrás da vitrine. Disperso, caminha até ela para vê-la melhor. A joia é um colar de prata, nada muito suntuoso, a peça central se molda em uma pequena esfera que brilha intensamente por conta do metal nobre. Apesar da simplicidade, o adorno atrai a atenção de Müller, e ele, por alguma razão, achou que ficaria lindo em Sophia. Cogitou comprá-lo para dar-lhe de presente. Divagou por um momento, quando a ouviu chamar seu nome duas vezes.
— Estou aqui
— Você me ouviu?
— Sim. Estarei aí para receber seus pais junto com você.
— Te espero — ela responde e desliga.
Daniel guarda o celular e se vira para a funcionária.
— Vou querer este colar — solicita sem nem mesmo pensar duas vezes.
♦♦♦
Depois que comprou as alianças e o colar, Daniel seguiu direto para sua casa, tomou um banho e arrumou-se. Para a ocasião, vestiu uma camisa branca e gravata azul marinho listrado em branco. Pôs um colete preto, e por cima jogou o paletó. Alinhou a calça do conjunto e vestiu um sapato também preto. Arrumou os cabelos louros, espatifando-os um pouco e fixando-os com gel. Passou uma colônia e ajeitou o paletó no corpo, olhando-se no espelho. Agarrou as alianças e o colar que comprou e saiu pelo corredor em direção ao quarto de Heitor.
Ao se aproximar da porta, ouviu gemidos. Estreitou os olhos e se aproximou mais, quando ouviu uma voz feminina: "Oh, Heitor, eu vou gozar".
Daniel rolou os olhos. Não se importava se o irmão estava ou não acompanhado, iria bater à porta do mesmo jeito. E assim o fez.
— Heitor — chamou-o dando uma leve batida na porta.
— Que porra você quer, Daniel? Não vê que estou ocupado? — O irmão grita de dentro do quarto, entre gemidos.
— É, eu sei que está ocupado. Só quero te lembrar do seu compromisso comigo dentro de pouco. Vou te passar o endereço de Sophia por SMS. Compareça! — Exigiu e virou-se, não esperando Heitor responder.
Daniel dirigiu até o apartamento de Sophia. Não sabia se estava ansioso, nervoso ou qualquer coisa do gênero. Ele iria oficializar um noivado de mentira, e aquilo parecia ser pior do que se estivesse, de fato, se casando.
Ao chegar, tocou a campainha e esperou ser atendido. Quando Sophia abriu a porta, ele praguejou-se mentalmente: ela estava deslumbrante, e seu corpo respondeu à beleza diante de seus olhos.
Os olhos de Daniel passearam rapidamente por Sophia, e, interiormente, sentiu-se estremecer por sua beleza. Ela estava linda. Trajava um vestido salmão sem alças, que batia acima dos joelhos, com um charmoso cinto a lhe prender a cintura, uma jaqueta de couro preta, meia-calça e sapato de salto estilo boneca, ambos pretos. Os cabelos foram presos pela metade, formando um elegante topete no alto de sua cabeça; alguns fios rebeldes estavam soltos, o que a deixava sexy. A maquiagem era leve e ressaltava seus olhos verdes.
Ao vê-lo, Sophia abriu um pequeno sorriso e se aproximou para lhe cumprimentar com um beijo no rosto. Seu perfume adocicado de baunilha o extasiou, e ele retribuiu o cumprimento, tentando afastar seus pensamentos impuros da cabeça.
— Está deslumbrante, senhorita Hornet — elogia a analisando rapidamente.
Sophia sorri e também o avalia.
— Digo o mesmo, senhor Müller. Adorei o colete. — Bom humor exala de sua voz, e os dois riem brevemente antes de, finalmente, Sophia convidá-lo para entrar.
— A que horas seus pais chegam?
— Dentro de uma meia hora. Sente-se — ela indica o sofá.
Os dois se sentam um ao lado do outro. Daniel se sente incomodado com a gravata e tenta ajeitá-la, resmungando entre sussurros. Sophia repara em sua dificuldade e presta ajuda, para a surpresa de Daniel.
— Espera, eu te ajudo.
Seus pequenos e delicados dedos se movimentam com graça, roçando vez ou outra em seu peito, enquanto a Hornet segue refazendo e ajeitando o nó da mini forca, como Daniel gosta de apelidar o apetrecho. Ele permite que seus olhos se fixem na loura, a observando com atenção, depois, os corre para seus graciosos dedos ao sentir o toque macio em sua pele. Ao terminar, eles se olham por um momento, e sem perceberem um sorri para o outro.
Tão próximo dela, Daniel repara como seus olhos verdes são grandes e brilhantes, e em contraste com sua pele branca e o cabelo amarelo chamam a atenção de qualquer um. Sua boca naturalmente rosada e seu porte pequeno, perto de 1,63 metros, deixam-na atraente a quem quer que seja.
— Obrigado — agradece quebrando o momento.
— Não é nada.
Há um pequeno momento de silêncio entre os dois. Sophia olha para o chão e estrala os dedos, não sabendo como agir ou que lhe dizer. Ela consegue sentir o perfume masculino e forte de Daniel impregnado no ar, o que a faz sorrir brevemente, recordando-se de outros momentos e ocasiões que ele havia usado a mesma colônia.
Daniel retira o celular do bolso e desliza a tela, mesmo que não abra aplicativo algum, ele simplesmente vai passando a tela, ocupando sua cabeça, também não sabendo como agir enquanto espera pela família de Sophia.
Sem esperar, Sophia o puxa pelos punhos e o encaminha pelo apartamento para lhe mostrar como tudo estava ajeitado para o noivado. Um modo de ter o que fazer até seus pais chegarem. Mostrou-lhe a mesa elegantemente posta, os arranjos de flores espalhados pela sala, o cheiro da comida pairando no ar, as músicas que ela selecionou para a ocasião e que tocavam ao fundo em um volume agradável.
— Está perfeito, Sophia — Daniel elogia, voltando ao sofá.
Sentando-se a seu lado, ela concorda com um maneio de cabeça. Só espera que os pais achem o mesmo.
— E sua mãe? — Ela pergunta de repente.
Durante aqueles quatro meses em que conhecia Müller sabia muito pouco sobre ele, apenas que os pais já haviam falecido.
— Ela morreu quando eu tinha 15 anos. — Responde e desvia o olhar, como se quisesse mudar de assunto.
— Eu não sei quase nada sobre você. Quer conversar sobre isso? Seria estranho se alguém me perguntasse algo sobre sua família e eu não soubesse responder.
Ele acena e concorda. Daniel conta um pouco sobre sua família e de como eles chegaram ao Brasil.
A Swiss Chocolate havia começado nos fundos do quintal dos bisavôs de Daniel, no final do século 19. O chocolate bem-feito pelas mãos de seus antepassados fizera sucesso entre a comunidade em que eles moravam, no norte da Suíça. A empresa pouco a pouco foi se expandindo, até que em 1936, já de renome na Suíça, o avô de Daniel conseguiu expandir os negócios além das fronteiras de seu país de origem, fazendo a marca chegar em terras brasileiras.
Tradicionalmente, Simon também tomou a frente dos negócios da família, dando continuidade ao trabalho iniciado. Em 1975, após uma crise na filial brasileira, e já à frente da empresa, Simon vem ao Brasil para resolver pessoalmente a questão. Algumas semanas depois, visitando a fábrica, ele se depara com uma das funcionárias pelo corredor. De cabelos alourados e olhos claros, Simon se apaixona pela supervisora de produção, Laura Ortega. Os dois se envolvem, e um ano depois se casam.
Em 1985, em uma viagem de férias, e já grávida de Daniel, Laura entra em trabalho de parto e seu primogênito nasce na Suíça.
— Então você é suíço? — Questiona Sophia após ouvir um pouco da história.
— Tenho nacionalidade dupla, na verdade. Mas vivo no Brasil desde que tinha um ano e meio de idade. Heitor nasceu aqui, mas por causa do nosso pai, também tem as duas nacionalidades.
— E como sua mãe morreu? — Segue perguntando, a curiosidade sendo maior que ela própria. E ao sentir a delicadeza do assunto, se remexe no sofá, incomodada e arrependida em fazer uma pergunta tão íntima e delicada.
Daniel esfrega os joelhos antes de responder.
— Ela vinha tendo muitos problemas de saúde, mas o ápice se deu quando descobriu um câncer de mama. Já estava avançado e as sessões de quimioterapia somente a enfraqueciam. Ela parou com os tratamentos porque não havia mais que nada a se fazer por ela — sua voz é meio embargada. — Dois meses depois que ela parou com o tratamento, faleceu.
— Sinto muito — Sophia diz compadecida.
— Tudo bem. São coisas da vida. — Sua voz é baixa.
Por um pequeno momento, Sophia arrependeu-se em ter feito uma pergunta tão íntima e delicada ao chefe. Sentiu que era um assunto, mesmo de longa data, que feria Daniel. Afinal, era a morte da mãe – que ele perdeu aos 15 anos de idade. Também lhe faltava o pai, Simon. Perguntou-se se Heitor era sua única família.
— Então, é apenas você e seu irmão?
— Sim. Quero dizer, temos alguns primos e parentes distantes, mas meu laço familiar mais forte é com ele — sorri fraco e outra vez esfrega os joelhos.
Sophia repara em suas mãos constantemente alisando os joelhos e deduz ser sinal de nervosismo. Só não soube explicar se era pelo assunto abordado ou por causa dos pais dela poderem chegar a qualquer momento. Quem sabe pelos dois motivos. Inconscientemente, levou suas mãos até as dele e as tocou, o que fez Daniel olhá-la e parar no mesmo momento com seu tique nervoso.
Eles se olharam, mas Sophia não retesou suas mãos, nem ele se esquivou de seu toque.
— Vai ficar tudo bem. — Disse baixo ainda lhe afagando as mãos sobre os joelhos. — Seja lá por que esteja nervoso — oferece um sorriso caloroso e só então percebe sua mão na dele.
Cessa o toque bruscamente e desvia os olhos. Ela não nota, mas ele sorri pelo canto dos lábios, e interiormente sente-se mais tranquilo. Daniel pensa em algo para lhe dizer, mas a campainha toca, salvando-o.
Sophia levanta rapidamente e se vira para ele:
— Como estou? — A loura parece nervosa.
Daniel a avalia novamente. Ele diria que linda era pouco, que não encontraria adjetivos suficientes para descrevê-la, para lhe dizer como estava.
— Linda... — diz finalmente, e em retribuição recebe um sorriso fraco.
Daniel se levanta e se põe a seu lado, alinhando o terno. Suas mãos quase se tocam enquanto caminham até a porta.
Sophia abre a porta para divisar sua família do outro lado. Eva é a primeira a saltar em seu pescoço para abraçá-la fortemente. Daniel acompanha a cena um pouco atordoado e desconfortável. Enquanto Eva mata a saudade da filha, ele desvia seus olhos para os demais no lado de fora: Sebastian, Eduardo e Isabela, e os cumprimenta com um aceno de cabeça breve. O pai dela passa por esposa e filha e vem em seu encontro, lhe estendendo a mão.
— Daniel Müller, prazer em conhecê-lo. Sou Sebastian Hornet, pai de Sophia.
Daniel retribui o aperto de mão caloroso e sorri.
— Senhor Hornet, o prazer é todo meu.
— Ah, por favor, sem formalidades, me chame de Sebastian.
Daniel acena e não sabe qual o próximo passo a dar. Mas Sophia o livra deste peso quando ela o chama e lhe apresenta sua mãe.
— Encantado, senhora Hornet — ele diz segurando sua mão e a beijando com respeito. — Agora já sei por que Sophia é tão linda. Vem de sangue — elogia alternando o olhar entre Eva e Sebastian.
De fato, os pais de Sophia são de uma beleza de chamar a atenção. Sebastian é um homem de quase cinquenta anos, mas conservado. Seus olhos são de um azul intenso e profundo, que chamam a atenção mesmo vistos de longe, cabelos curtos e negros, queixo quadrado e sem barba, alto e magro, e, de certa forma, elegante. Já Eva, é uma mulher graciosa, de cabelos alourados e em corte Chanel, olhos castanhos claros e o rosto triangular. Seu sorriso é acolhedor, e mesmo aos 47 anos, conservava-se jovem, não tendo sobrepeso ou sinais de envelhecimento. Sophia e Eva poderiam facilmente ser confundidas como irmãs.
— Espero receber esse mesmo elogio — uma segunda voz masculina soa atrás dele, Daniel se vira para encarar os olhos verdes-claros de Eduardo, que tem um sorriso amigável e irônico nos lábios.
Antes que Daniel possa responder alguma coisa, Sophia corre até o irmão para abraçá-lo.
— Senti saudades, pirralha — Eduardo pronuncia, apertando-a forte contra seu peito, após bagunçar seus cabelos.
— Eu também, Dudu — murmura ainda envolvida no abraço de Eduardo. Afastando-se um pouco, ela o analisa de cima a baixo. Nota que, em alguns meses, o irmão mudara um pouco o visual que costumava usar antes de sair de casa. Levemente confusa, arqueia uma sobrancelha, e o interroga: — Está deixando o cabelo crescer?
As madeixas de Eduardo são de um tom louro escuro, e quando compridos se formam cachos. Seus fios estavam em um volume médio e seus caracóis já eram bem notáveis.
— Cecília gosta — ele dá de ombros e beija-a na bochecha.
— Quem é Cecília?
— Alguém com quem estou saindo.
— Diz logo que está dormindo com ela — a voz de Isabela se faz presente e todos arregalam os olhos.
Assim como os irmãos, Isabela tem os cabelos amarelos, mas não escuros como os de Eduardo, mas claro como os de Sophia. Seus olhos são parecidos com os de Sebastian, mas numa tonalidade menos intensa.
Eduardo e Sophia a advertem em uníssono, e segundos depois estão rindo, menos Daniel, que ainda está desconfortável com a presença de todos.
Sophia corre abraçar a irmã caçula, esta que, prontamente, começa lhe questionar sobre tudo e não para de falar por um minuto.
— Isabela, calma. — Sophia interfere. — Vamos respirar e me deixe apresentá-los. — Com um pequeno sorriso, se vira para Daniel, que ficara quieto desde que falou com Sebastian, e faz as devidas apresentações.
— Daniel, meus irmãos Eduardo e Isabela, Dudu e Isa, meu noivo Daniel.
Seu noivo cumprimenta a irmã mais nova com um abraço e um beijo no rosto, e não contém um pequeno riso quando ela diz: "Soph do céu, onde achou esse homem lindo? E além de tudo dono de uma fábrica de chocolates! Encontrou o caminho para o Éden Celestial?". Isabela não dá atenção às advertências dos pais sobre seu comentário, e ri.
Daniel e Eduardo trocam aperto de mãos e "Muito prazer".
Finalmente, Sophia encara o pai, ainda cabisbaixa. Respira fundo e mesmo hesitante o abraça.
— Senti sua falta — ela ouve a voz forte masculina soar ao pé do seu ouvido.
E de alguma forma, Sophia acreditou em suas palavras. Havia sinceridade nelas.
— Eu também — apenas diz, e cessa o abraço.
Olha para todos e suspira.
— Vamos entrar. — Convida, e todos entram e se acomodam no sofá.
Eva e Sebastian sentam um próximo ao outro, com Isabela logo ao lado. No outro sofá, Eduardo e Daniel, o que não sobra espaço para Sophia, que se prontifica em buscar uma cadeira, mas Daniel a interrompe, levantando-se e dando lugar a ela. Sophia agradece e se acomoda, tendo Daniel sentando-se no braço do sofá, logo a seu lado. Ele curva um pouco o corpo e joga os braços a sua volta.
Por uns vinte minutos, os presentes conversam entre si, Sophia conta como fora sua vida nos últimos meses e um pouco de como se "envolveu" com Daniel. Após ouvir inúmeras reclamações do irmão e da mãe por ela, praticamente, ter sumido por cinco meses e quase não ter dado notícias, o assunto logo é deixado de lado para abordarem outro, Daniel e Sebastian falam um pouco sobre negócios, mas não tocam no assunto sobre a falência da ConstruHornet, até aquele momento.
— Sophia me disse que estão passando por dificuldades financeiras.
Sebastian acena brevemente e entrelaça as mãos.
— Sim. Graças a Eduardo e Isabela não estamos passando fome. — Profere com sinceridade e olha para os filhos, que estão sorrindo fracamente. — Eu fiz o que pude para nos salvar, mas tudo em vão.
— Arranjou até um casamento para Sophia — Isabela interfere. — Devo dizer que nem eu, mamãe e Eduardo sabíamos que ela se casaria pelo dinheiro? — Adiciona.
A tensão na sala se faz presente e Daniel se remexe no sofá. Ficou imaginando o que eles pensariam se soubessem que a filha e irmã deles continuaria a se casar pelo dinheiro, ainda pensando em salvar a família, mas com a única diferença que não precisaria cumprir seu papel de esposa.
— Não queria preocupar vocês — se defende Sebastian, tentando manter a voz calma.
— Só ficamos sabendo da falência quando Sophia largou Miguel no altar. — Isabela continua como se o assunto não incomodasse a ninguém. — Mas não passaríamos por nada disso se não fossem as apostas...
— Já chega, Isa — Sophia pede, e a irmã dá de ombros, calando-se em seguida.
Sebastian pensa em rebater e justificar, de algum modo, as apostas em cavalos que levara a família à beira da ruína. Mas o olhar que sua filha do meio lhe lançou, soube no exato momento que não deveria falar sobre nada daquilo. Afinal, era seu jantar de noivado. Resolveu calar-se por respeito à Sophia e Daniel. Não queria estragar a noite com assuntos desagradáveis.
Por fim, Sophia os convida para jantarem e todos se sentam à mesa posta fartamente. Enquanto vão se servindo, a conversa continua fluindo e, dessa vez, Daniel troca mais palavras com Eva Hornet e ouve dela desejos de felicidade para o casamento. Ele conta um pouco sobre sua família e do falecimento dos pais quando Eduardo lhe questiona sobre eles, por não estarem presentes.
— Sophia? — Isabela a chama, e a irmã lhe dá total atenção — Você está grávida? — Dispara de repente.
Simultaneamente Eduardo espirra todo o vinho de sua boca, Daniel se engasga com um pedaço de peixe, Eva deixa os talheres cair sobre a mesa e Sebastian encara filha e genro com a colher no meio do caminho.
Sophia arregala os olhos diante da pergunta indiscreta da irmã e ajuda Daniel a se desengasgar sorvendo água em seu copo e batendo em suas costas levemente. Após perguntar se ele estava bem e receber uma resposta positiva, volta sua atenção à irmã:
— Não, Isabela! De onde tirou essa maluquice?
— Nada, é que se conhecem há tão pouco e já vão se casar, assim, do dia para noite. Normalmente isso acontece quando a mulher está grávida. Ainda mais que você sabe como papai é totalmente conservador e tradicional.
— Eu posso garantir que ela não está grávida... — Daniel se recupera e limpa os lábios molhados.
Sebastian ainda os encara, talvez aturdido com a notícia de que a filha esteja grávida, e por isso prestes a se casar. De fato, ele é um homem de costumes tradicionais e conservado, Eva tinha sido sua primeira mulher, em todos os aspectos, e ele a respeitava ao máximo. Seu único defeito era mesmo o vício em jogos e nunca lhe agradou a imoralidade sexual, nem mesmo com Eduardo. Claro que Sebastian sabia que nenhum de seus filhos tinham se reservado para seus companheiros, e isso não o incomodava, desde que não tivesse conhecimentos das aventuras sexuais deles. Porém, se, realmente, Sophia estivesse grávida, e mesmo que Daniel assumisse ela e o filho, para o Hornet seria inaceitável e, talvez, a convivência com o genro e com a filha se tornaria pesada.
— Seria legal se estivesse... — Isabela dá de ombros e volta a comer.
— Mas eu não estou — assegura Sophia e olha para o pai, tentando convencê-lo de que ela não engravidou fora do casamento. — Nos amamos e por isso vamos nos casar — e acaricia a mão de Daniel, procurando que ele confirme o que acabara de dizer.
— Não se preocupem, senhor e senhora Hornet. Sou um homem de palavras e honrado, garanto que a filha de vocês não está grávida. O único motivo por qual estamos nos casando é o amor.
Sebastian apenas acena, ainda com a cara enrugada. Como que para salvá-los da tensão do momento, a campainha soa e, ainda atordoada, Sophia se levanta e atende a porta.
— Cunhada! — Heitor grita e a abraça, o que a deixa ainda mais sem jeito.
Ela retribui o abraço vagarosamente enquanto vê Daniel se aproximar, após pedir licença para se levantar da mesa.
— Está atrasado, Heitor. — Adverte o irmão.
— E você sabe muito bem por quê. — Sorri maliciosamente, e Daniel revira os olhos.
Sophia pigarreia e segura no braço do cunhado o levando até a mesa.
— Gente, esse é Heitor, irmão do Daniel. Heitor, esse são meus pais Eva e Sebastian e meus irmãos Isabela e Eduardo — novamente faz as apresentações, e enquanto Heitor cumprimenta a todos, põe um segundo lugar à mesa, frente a sua irmã e ao lado de Daniel.
Sophia percebe quando Heitor e Isabela trocam olhares. Ela mira Daniel, que também parece ter percebido.
— Por favor, não se meta com ela — Daniel cochicha em seu ouvido disfarçadamente.
Heitor não a deixa de olhar, e Isabela, agora, olha para o próprio prato de comida.
— Você sabe muito bem como eu gosto de me meter na vida das mulheres — sussurra de volta ainda com seus olhos azuis cravados na caçula dos Hornet.
Daniel suspira e resolve não dizer mais nada. Não por enquanto. O lugar e a ocasião não são propícios. Mas pararia Heitor antes mesmo que ele começasse com seus jogos de sedução. A última coisa que gostaria era que a irmã de Sophia se envolvesse com seu irmão, mulherengo e cretino, pois já previa que Isabela sairia magoada com Heitor, e, sabendo dos valores tradicionais e conservadores de Sebastian, conflitos entre eles e a família dos Hornet era iminente, coisa que Daniel não queria que acontecesse.
O jantar continuou e a conversa entre eles fluiu naturalmente. De primeira, Daniel se simpatizou muito com Eva, que era graciosa, calma e compreensiva. Isabela continuava a tagarelar bobagens que vez ou outra os faziam rir. Eduardo era mais quieto e reservado e sua conversa era mais com Sophia. Mas Daniel não deixou de notar seu olhar possessivo em cima de Heitor. Com certeza, ele também notara a indiscrição de ambos. Rezava que Sebastian não tivesse percebido.
— Vão querer sobremesa? — Sophia pergunta após o jantar, e todos confirmam.
Está prestes a se levantar para buscar os doces, quando sua campainha toca novamente. Sem entender, busca por Daniel, esperando que ele dissesse que chamou outra pessoa, mas seu olhar denuncia estar tão confuso quanto ela.
A porta é aberta apara que ela possa encarar um jovem de olhos verdes, cabelos louro escuro, quase castanho, barba rala e porte atlético. Ele está sorrindo de lado e corre seus olhos por ela.
— Você está linda, Soph.
No mesmo instante, Sophia empurra o recém-chegado para fora, indo junto, e, o encostando contra a parede, sussurra:
— O que está fazendo aqui, Miguel?
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