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42- Depois de ter você.

Olá, vocês!

Vocês não sabem o prazer que é estar de volta. Como sempre, não vou me demorar. (Eu sempre me demoro)

Apenas gostaria de agradecer previamente pelas 300 mil visualizações e dizer que: é tudo por vocês e para vocês.

Obrigada por me proporcionarem escrever essa história linda. Obrigada por cada leitura, cada comentário, cada palavra de amor, carinho e incentivo. Eu, sem vocês, nada seria.

O meu agradecimento especial vai para as moranguetes, que, há 3 anos estão junto comigo comemorando desde os 50K de visualizações, até os 300K. Obrigada, a cada uma, por tanto amor e tanto carinho.

Esse capítulo é dedicado a todos vocês que lêem e sentem-se em casa com essa história. Que vêem ela muito mais do que apenas uma fanfic de um casal nada shippavel na série. Mas essa não é a nossa comemoração aos 300K.

Gostaria de dizer que:

A) Estou preparando uma surpresa, que apenas pode sair depois do próximo capítulo, e vocês entenderão o porque. Por isso, peço calma e paciência, pois já tenho uma data em mente.

B) Por mais que esse capítulo em si não seja a nossa comemoração, ele emana todo o amor que sinto por vocês e por essa história. Chorei, surtei, gritei e me emocionei do início ao fim. Espero que sintam tudo isso também.

C) Não se esqueçam, por favor, de seguir o perfil oficial dessa história no twitter, se você por acaso foi pego de surpresa com essa atualização, é porque não está me acompanhando por lá👀, @/strawhisky_, fiquem ligados pois, logo logo, soltarei as músicas tema do capítulo por lá!

No mais, obrigada por tudo, tanto e sempre. Vocês moram no meu coração. E para sempre irão morar.

Um lembrete a todos: não se esqueçam de respirar. (Digam-me, depois, se entenderam a referência)

Até logo, eu amo vocês!💗

...

Addison Montgomery,

Dia seguinte.

...

Abro os meus olhos desesperadamente, me levantando de maneira abrupta na cama, enquanto sentia a minha respiração engasgar entre a minha garganta, e o meu coração praticamente esmurrar a minha caixa torácica em evidência do tamanho desespero que me habitava.

Confusa, encaro a porta da varanda, dando de cara, ainda, com a escuridão da noite, enquanto tentava entender o que diabos havia acontecido.

Os gritos. A batida do carro. O sangue. O corpo inerte de Meredith... Da minha Meredith e...

Aquele filho da puta!

Tudo em um misto de horror e desespero em um sonho que havia durado muito mais do que duas horas. Pois havia se repetido, cada mínima cena dele, de novo, de novo e de novo. Como em um looping de tortura infernal.

Engasgo por completo, sentindo o meu peito arder daquela mesma maneira a qual sempre ardia diante da ínfima possibilidade de perder Meredith.

A minha Meredith.

Me viro desesperadamente para o lado, sentindo um alívio inenarrável se apossar de mim no momento em que me deparo com as suas madeixas loiras esparramadas pelo seu travesseiro e observo o seu pequeno corpo coberto pelo nosso edredom se mover vagarosamente, conforme ela respirava pesado, em meio a um ronco mais do que audível.

Engulo dificilmente a dor presente na minha garganta e fecho os meus olhos brevemente, não conseguindo deixar de sentir o meu corpo inteiro tremer diante das visões daquele pesadelo horrível. Aperto-os com força, numa tentativa falha de apagar os gritos de desespero da minha sogra que ainda percorriam o meu consciente como ecos em uma sala vazia.

Os abro novamente, diante de outro tremor e, necessitando, mais do que nunca, sentir que tudo aquilo não havia passado de uma grande maldade do meu próprio cérebro e que Meredith estava viva e bem, me aproximo dela devagar, sentindo o seu calor me abraçar antes mesmo dos nossos corpos se encostarem.

Esperando não acordá-la com aquele meu ato completamente impensado e sem sentido, mas, ainda sim, sabendo que eu simplesmente não conseguiria me virar para o lado oposto e dormir novamente sem antes fazer aquilo, entorno a sua cintura fina com o meu braço vagarosamente, puxando-a, de maneira sutil, para o meu corpo e enterro o meu nariz em seus cabelos, inalando com intensidade o seu cheiro de rosas misturado com alguma fragrância leve de morango.

O meu corpo inteiro se retesou em receio no momento em que Meredith deixou de roncar e soltou um suspiro fundo, mas a sensação fora completamente substituída por uma quentura em meu peito, quando ela se aninhou ainda mais contra o meu corpo e colocou uma das suas mãos sobre a minha, gemendo baixo logo em seguida, parecendo inconscientemente satisfeita.

Fecho os meus olhos no momento em que ela volta a roncar e, sentindo os meus pensamentos mais perdidos do que nunca, começo a racionar toda a loucura que era aquele momento em específico.

Meredith era a minha sócia.

Ponto final.

Nada que eu pudesse fazer no mundo poderia mudar aquele fato.

Eu e ela deveríamos ter uma relação profissional. Uma relação sem sentimentos, seja lá quais diabos de sentimentos estejam envolvidos.

Então, por que eu temia tanto perdê-la?

Por que e como diabos eu deixei que tudo entre nós chegasse ao ponto de eu acordar desesperada, no meio da madrugada, depois de um pesadelo — os quais tanto eram extintos na minha vida antes dela — e, utilizando de nenhum tipo de noção, abraçá-la contra mim e permanecer dessa maneira.

Eu não me preparei para saber como evitar isso.

Porque, há quase nove meses atrás, quando, enfim, a recebi pela primeira vez no meu escritório para fazê-la a proposta do contrato, eu sequer poderia, mesmo que infimamente, imaginar que aquela mulher delicada demais para o meu gosto — mas linda e gostosa demais para que eu me importasse com isso — faria tamanha bagunça na minha vida.

Mas... Eu também já pressentia, mesmo que pouco, que alguma coisa seria diferente.

O fato de eu não ter conseguido tirar Meredith da minha cabeça desde a festa em que nos conhecemos, cinco meses antes de eu a fazer a proposta, já me mostrava, mais do que claramente, que eu estava infinitamente fodida nas mãos daquela mulher.

Eu havia passado cinco meses, vinte semanas e mais de cento e cinquenta dias sem conseguir tirar aquela loira baixinha, dona do sorriso mais hipnotizante do mundo e dos olhos azuis mais fascinantes que eu já havia tido o prazer de me perder da minha cabeça.

Se estava em uma reunião aleatória com o conselho da empresa, me vinha à mente o seu sorriso enquanto dançávamos, ou, no meio de uma audiência de um caso mais do que sério, me vinha os flashes de como o seu corpo havia ficado simplesmente esplêndido usando um vestido tubinho de alcinhas vermelho, e os cabelos bem mais curtos e ondulados caindo sobre os seus ombros, ou o seu cheiro de rosas misturado com uma fragrância que havia me deixado fora da órbita por não saber qual seria, para, apenas depois que nos casamos, entender que era de morango.

Antes de dormir. Na academia. No trabalho. No banho. Durante o sexo com outras mulheres. Em reuniões, festas, eventos.

Eu obviamente não pensava nela o dia todo.

Mas eu sei, tenho a mais absoluta certeza, de que desde que conheci a mulher que agora estava aconchegada em meus braços dormindo um sono tranquilo e roncando mais do que qualquer pessoa que eu já tenha conhecido, eu não havia tido um único dia em que ela não passeou, mesmo que rapidamente, pelos meus pensamentos.

Porra!

Estava mais do que óbvio. Sempre esteve.

Mas... O que estava óbvio?

Que Meredith me dominava de tal maneira a qual eu não conseguia mais deixar de pensar ou viver sem ela?

E, de qualquer maneira, o que diabos isso significa?

Eu não possuía a mais ínfima porra de ideia.

Respirei fundo, enterrando o meu nariz no seu pescoço e sentindo-o se arrepiar no momento em que suspirei contra ele.

Porra de pesadelo dos infernos!

Tentando afastar os meus pensamentos de todas aquelas imagens e sons horríveis, me mantive com a cabeça apoiada em seu pescoço, sentindo o seu cheiro me trazer tamanha calmaria, que, antes que eu pudesse perceber, sem que ela, diretamente, pudesse ter feito algo, eu havia me acalmado como ninguém poderia conseguir fazer.

A abracei mais fortemente contra mim, sentindo uma das suas pernas se afastar, me dando liberdade para aconchegar uma das minhas coxas ao meio das suas.

Em poucos minutos, um sono intenso me tomou e, sem poder controlá-lo, acabei cochilando com o corpo de Meredith ainda abraçado ao meu, sem possuir forças para entrar em pânico por tudo que aquele ato poderia significar para mim.

No momento em que abri os meus olhos novamente, diante do toque insuportável do meu despertador, a loira estava virada de frente para mim, com a sua coxa entre as minhas, a cabeça recostada sobre o meu peito e o seu braço rodeando a minha cintura.

Respirando fundo, me estiquei devagar sobre a minha mesa de cabeceira e desliguei aquele som irritante, ouvindo Meredith roncar ainda mais alto do que anteriormente contra o meu pescoço.

Devagar, afasto os nossos corpos e me levanto, sem me dar espaço para pensar no que eu havia feito e no que todos os pensamentos que se passaram pela minha cabeça naquele momento significaram.

Ouvi a loira parar de roncar e soltar um grunhido nada satisfeito, por isso, alcancei um dos meus travesseiros e o coloquei ao seu lado, o qual ela rapidamente agarrou contra si como estava agarrada a mim e o abraçou com força, voltando a roncar.

Prendo os meus cabelos em um coque bagunçado e me dirijo até o banheiro, me encarando na frente do espelho.

Eu sentia, mais do que nunca, como se eu estivesse me tornando a pessoa mais fraca e mais... Vulnerável do mundo.

A imagem me refletida contra o espelho não me agradou em absolutamente nada.

Eu parecia... De certa forma, apavorada.

E estava.

Somente a ínfima ideia de que aquele sonho dos diabos se tornasse real me fazia estremecer como nunca.

Nego com a cabeça, afastando aqueles pensamentos intrusivos e consertando a minha postura diante do espelho.

Addison Montgomery não era fraca e muito menos vulnerável. Sob nenhuma hipótese ou sob nenhum alguém.

Eu precisava retomar a minha postura o mais rápido possível, antes que essa fraqueza se tornasse tão forte a ponto de ser irreversível.

Respirei fundo algumas vezes, me encarando diante do espelho e me sentindo menos inquieta conforme os segundos se passavam.

Um trovão forte lá fora me fez despertar daquele transe e eu respirei fundo, começando a realizar a minha higiene matinal.

Me assustei brevemente ao sentir dois pequenos braços rodearem a minha cintura e um beijo sutil ser depositado nas minhas costas.

— Bom dia, Addie — Ela murmurou se afastando, em um tom de voz mais do que rouco.

— Bom dia, o que faz acordada? — A indago, secando o meu rosto para, finalmente, vê-la com os cabelos soltos e bagunçados, vestindo o meu robe por cima da sua camisola e com os olhos quase fechados pelo sono.

— Os trovões me assustaram, e o meu pescoço começou a doer um pouco — Ela murmurou caminhando até o vaso sanitário e me surpreendendo ao se sentar nele, após tirar a sua calcinha.

Sinto vontade de sorrir ao vê-la apoiar a sua cabeça na sua mão e praticamente adormecer ali, enquanto os seus cabelos caíam diante do seu rosto e ela suspirava em satisfação pelo líquido liberado no vaso.

Nós nunca havíamos dividido tamanha... Intimidade antes.

— Inclusive, está na hora do seu remédio — A alerto, observando-a parecer despertar apenas para me lançar um revirar de olhos entediado.

— Você não cansa de ser insuportável — Ela murmurou em um tom de voz irritado e eu sorri, sem conseguir deixar de admirá-la daquela maneira tão... Preguiçosa, leve e natural.

Era incrível como Meredith conseguia ser ainda mais fascinante com os olhos apertados de sono, os cabelos completamente fora do lugar e vestindo apenas um robe meu.

Eu possuo a mais plena certeza de que nunca me cansarei de redescobrir toda a minha fascinação por ela a cada mudança de personalidade sua.

— Quais são os nossos compromissos para a semana? — Ela me indagou em um murmuro rouco, enquanto se levantava.

— Conversaremos sobre isso no café, quando você estiver menos sonâmbula.

A loira me lançou um revirar de olhos entediado e veio em minha direção para lavar as suas mãos rapidamente na pia.

— Pode me acordar daqui uma hora e meia?

— Sim, mas antes de dormir tome o seu remédio.

Chaaaaata!

Sorrio, observando-a caminhar preguiçosamente de volta para o centro do nosso quarto e nego com a cabeça, suspirando em insatisfação assim que as imagens daquele sonho de merda ameaçaram, por um segundo, me infernizar novamente.

Com um sacudir leve de cabeça afasto tudo aquilo dos meus pensamentos e me garanto, mais uma vez, que Meredith estava bem e continuaria daquela maneira enquanto estivesse ao meu lado.

As ameaças daquele homem não passariam disso. Ameaças.

E, mesmo que eu tenha prometido para ela que colocaria a nossa segurança, ambas, em equidade, eu não poderia realizar aquilo.

Pelo menos não da forma que ela realmente desejava.

Eu havia realizado uma nova seleção de seguranças, havia feito uma nova escala e respeitado pelo menos setenta por cento das recomendações de Alex.

Mas Meredith ainda era e para sempre seria a prioridade entre nós duas. Todos os meus seguranças sabiam disso.

Entre eu e ela, se uma escolha precisasse ser feita, ela não deveria perdurar por nenhuma chama de dúvida.

Meredith era a escolha.

E sempre seria.

...

Meredith Montgomery;

— Bom dia, Addie — Cumprimento Addison com um sorriso no rosto, assim que adentro a sala de jantar, observando-a sentada no seu lugar de sempre, bebericando o seu café de maneira tranquila enquanto lia o seu livro.

A ruiva vestia uma camisa social azul marinho que possuía os dois primeiros botões abertos em um decote mínimo, uma calça de alfaiataria preta e, nos pés, os scarpins de sempre.

— Bom dia, tudo bem? — Ela me indagou, elevando o seu olhar do livro para mim, enquanto eu me sentava.

— Ah, sim. Eu dormi feito uma pedra, e dormi bem como não dormia há dias. E você, conseguiu descansar? Ah, sabe o que eu estava pensando? Nós poderíamos convidar a minha sogra para jantar no Eleven's hoje. Estou com saudades do cheesecake de lá. Acredita que sonhei com ele essa noite? — Comento, sem conseguir segurar uma risada.

— Podemos ir, sem problemas.

— Ok, que horas nos encontramos lá?

— Eu irei buscá-la na academia.

Sorrio, negando com a cabeça, enquanto servia as minhas frutas.

— Não precisa, Addie. É sentido contrário ao restaurante, eu posso ir...

— Eu irei buscá-la na academia, Meredith, por favor, não discuta isso.

Suspiro, encarando-a ao perceber o quanto ela parecia mais... Apática e com certeza menos comunicativa hoje. Sinto algo pinçar o meu peito levemente em uma evidenciação de preocupação misturada com um mínimo, mas presente, temor.

— Addie... O que aconteceu? — A indago, alcançando, devagar, a sua mão pousada sobre a mesa.

Ela soltou um suspiro leve, mas visível e negou com a cabeça, fechando levemente os seus olhos, parecendo desejar se reorganizar internamente. Mas, assim que ela os abriu novamente e eu me deparei com o verde mais escurecido dos seus olhos, eu sabia que algo havia acontecido.

— Nada, não é nada — Ela murmurou, negando com a cabeça.

— Addison — Murmurei o seu nome de maneira mais firme, causando, dessa vez, um suspiro mais alto.

— Me desculpe — Ela murmurou, parecendo ainda meio fora de órbita — Estou um pouco cansada, só isso. Não queria descontar isso em você.

— Você não está, apenas fico preocupada, Addie. Você sequer dormiu? — Ela assentiu — Bem? — Ela não me devolveu uma resposta — Estou começando a achar que precisarei amarrá-la na nossa cama e obrigá-la a descansar.

Ela sorriu levemente para mim, revirando levemente os seus olhos e, só então, eu me permiti sorrir.

— Não sei se gosto muito da ideia de ser amarrada.

— Ah é? — Sorrio, sentindo aquela ousadia diferenciada me entornar pouco a pouco e afasto as nossas mãos, me consertando na cadeira e começo a beber o meu suco, encarando o quadro à minha frente — Sabe... Eu nunca pensei sobre o assunto, mas parando agora para pensar... Talvez seja uma experiência... Que valha a pena. Entre... Outras coisas.

Sinto o seu olhar queimar sobre mim e controlo o sorriso que ameaçava fugir dos meus lábios.

— Meredith...

— Hum? — Murmuro, movendo o meu olhar vagarosamente para ela, não deixando o meu sorriso escapar.

— Não faça isso.

— Isso o quê, meu bem? — Murmuro sorrindo, observando os seus olhos quase pretos de tão dilatados que pareciam me enxergar completamente nua.

Assim que a ruiva abriu os seus lábios para me responder, ouvi o meu celular tocar dentro da minha bolsa e sorri ainda mais, vendo-a revirar os olhos e se recostar na sua cadeira novamente, bufando irritada.

Atendi a uma chamada da tia Ella, que me ligava para saber onde ficavam as chaves da sala da minha mãe na academia, e eu, como não estava nada afim de ver dona Flora Miller completamente mal humorada assim que eu chegasse na Academia, a instruí que me aguardasse chegar e assim poderíamos resolver o que ela precisava juntas.

— Então... — Limpo a minha garganta, encarando a ruiva, que não havia tirado os seus olhos de mim por um momento sequer durante a minha ligação — Sobre os nossos compromissos da semana? Imagino que estejamos com a agenda apertada, devido às eleições.

— Sim — Ela murmurou, seguindo um revirar de olhos — Mas será apenas na sexta-feira. Mas no domingo terei aquela entrevista solo com a Time e gostaria de ter você comigo.

— Tudo bem, eu vou precisar aparecer?

— Não, não irá, fique tranquila. Apenas... Quero que esteja lá.

Sorrio, assentindo.

— Não perderia você tendo que manter a sua pose de durona na frente de toda a América depois de saberem que você, poderosíssima rainha das calcinhas molhadas, se apaixonou primeiro.

— Você acordou com o único objetivo de me testar hoje, não é?

Eu dei de ombros, sorrindo.

— Sabe que essa é a minha missão nesse casamento, meu bem — Murmurei abrindo o meu iPad e resolvendo me atualizar das notícias, já que faziam alguns dias que eu sequer abria rede social alguma.

Por isso, o meu susto foi imenso quando, na primeira página da manchete do jornal, vi a foto do meu carro batido na exata ponte em que o acidente havia acontecido.

Sinto o meu peito arder ao ver aquela imagem. Eu estava tentando, como nunca, tirar os meus pensamentos daquele acidente e de tudo que o envolveu e o causou, por isso, exatamente, preferi não abrir nenhuma coluna de notícias na semana da sua ocorrência.

Mas ainda me surpreendia que, mesmo após uma semana do ocorrido, as manchetes ainda se aproveitavam dele para ganhar visibilidade.

Senti toda a comida que eu havia ingerido agora pela manhã parecer desejar voltar ao ver aquela foto, e mais ainda a manchete, que indagava o que havia realmente ocorrido no acidente e até mesmo se eu estava... Bêbada?

— O quê?! — Profiro uma exclamação alta, sem sequer perceber, no momento em que leio aquilo.

— Meredith?

Virei o aparelho para que Addison visse aquilo e ela suspirou, eu arrisco dizer, sem sequer precisar ler a manchete por completo. Ela já havia visto, era óbvio.

— Se eu estava bêbada?! — Exclamo, sentindo a minha garganta se fechar.

— Eu já mandei a minha equipe jurídica cuidar disso.

— Não me importa! Eles vão continuar achando que eu sou uma maluca, bêbada ou... Sei lá!

— O que importa é que você não é! Nós duas e todas as outras pessoas que importam sabem o que realmente aconteceu.

Suspiro, negando com a cabeça e sinto-a acariciar vagarosamente a minha mão.

— Por favor, não se martirize com isso.

— É impossível — Murmuro, já havendo perdido o apetite e me levanto da mesa, pegando a minha bolsa — Preciso ir, nos vemos no jantar.

Antes que eu pudesse sair da sala de jantar, ouço o barulho da cadeira arrastando no chão e sinto a mão da ruiva me segurar delicadamente. Soltando um suspiro um pouco impaciente, me viro e a encaro.

— Addison...

— Estou pedindo: por favor.

Respiro fundo, encarando as luzes pequenas acima de nós e sinto-a, devagar, me recostar na pilastra da parede que delimitava a sala de jantar e o seu corpo prensar o meu em uma sutileza que me fizera desejar fechar os meus olhos para sentir melhor o nosso calor.

A sua mão segurou carinhosamente o meu queixo, me fazendo encará-la.

— Por favor, não se martirize com isso. Foi um acidente. Você me fez prometer que eu não me culparia por ele, estou a fazendo me prometer o mesmo.

Suspiro, desviando o meu olhar para os seus lábios.

— Tudo bem — Murmuro somente.

— Promete?

— Humrum — Sibilei, ainda sem encará-la.

Um sorriso fraco surgiu nos meus lábios assim que observei ela soltar o meu queixo e erguer o seu dedo mindinho, me encarando intensamente com as suas órbitas verdes brilhando em um tom mais claro.

Revirei levemente os olhos, sem conseguir deixar de sorrir e neguei com a cabeça, erguendo a minha mão e cruzando os nossos dedos.

— Prometo.

— Melhor assim. Isso é mais poderoso do que um contrato redigido em cartório.

Eu ri, negando com a cabeça e vi a sua mão se apoiar na parede atrás de mim.

— Obrigada por não me deixar estragar todo o meu dia por causa disso. — Murmuro, acariciando levemente a sua cintura.

— Essa é a minha obrigação nesse casamento — Ela murmurou, aproximando mais o seu rosto do meu, enquanto apertava a minha cintura levemente com a sua outra mão.

Seus lábios se encontraram aos meus e eu senti um calor se estabelecer por todo o meu corpo no mesmo instante. Toquei sutilmente o seu rosto, colando mais as nossas bocas e fechei os meus olhos, deixando que a sua língua adentrasse a minha boca com calmaria e delicadeza as quais eu ainda custava a acreditar que ela poderia possuir.

A ruiva colou ainda mais os nossos corpos, me fazendo suspirar em satisfação entre o beijo e passou a, pouco a pouco, aumentar a intensidade dele, para, então, retornarmos ao nosso típico usual que tanto me fascinava: a intensidade quase desesperada do entrelaçar das nossas línguas.

Vagarosamente, senti a mão da ruiva em minha cintura descer pelo tecido da minha saia social e pousar na minha bunda, tirando um inevitável gemido baixo dos meus lábios contra os seus.

Mordiscando o meu lábio inferior levemente, a ruiva apertou a minha carne com certa força, erguendo a minha perna e a envolvendo na sua cintura, me fazendo entreabrir os meus lábios no mesmo momento e recostar a minha cabeça na parede.

Addison tomou os meus lábios novamente em um beijo ainda mais intenso, enquanto as minhas unhas faziam o seu trabalho inconsciente de arranhar levemente as suas costas por cima da camisa social que ela usava.

— Addie... — Murmurei ao sentir os seus lábios se separarem brevemente dos meus, para voltarem à minha boca mordiscando o meu lábio inferior e distribuindo beijos pela minha bochecha, até o meu pescoço.

Abri os meus olhos no mesmo instante em que um barulho de talher indo ao chão se fez presente na sala de jantar.

Addison se afastou minimamente de mim e eu observei Helm nos encarar com o rosto extremamente vermelho.

— Ahn... Me desculpem... Me desculpem, senh..oras, eu... Eu apenas...

Senti as minhas bochechas esquentarem em uma súbita vergonha mas, tentando não demonstrá-la, afastei Addison ainda mais de mim, ouvindo-a bufar irritada ao meu lado e, desejando evitar que ela deixasse a nossa funcionária ainda mais constrangida, além de mim mesma, eu apertei firmemente a sua cintura, mantendo-a atrás de mim.

— Sem problemas, querida. Nós já estávamos de saída. Avise a Miranda, por favor, que não iremos jantar em casa esta noite, ok?

— Sim... Sim sen... Senhora.

Sorrio fraco para ela, tentando deixar todo o meu constrangimento de lado e pego a minha bolsa, puxando Addison junto a mim, podendo sentir, mesmo à sua frente, a sua irritação pela situação.

— Nem uma palavra, Addison Montgomery — Murmuro para ela, assim que ultrapassamos a porta da nossa casa e eu, enfim, pude encarar o seu rosto que carregava a maior carranca do mundo.

Ela apenas revirou os olhos, bufando irritada, mas se manteve calada.

— Senhoras Montgomery, bom dia! — Warren nos cumprimentou com um sorriso polido no rosto.

— Bom dia, Warren — O devolvi um sorriso animado.

— Tire a Maserati da garagem — Addison falou com o olhar concentrado na tela do seu celular.

Warren prontamente a obedeceu.

— Bem... Eu preciso ir — Anunciei, vendo-a me encarar no mesmo instante. Me aproximo, alcançando o seu rosto com as minhas mãos e o acaricio levemente antes de depositar um selinho em seus lábios — Podemos continuar de onde paramos mais tarde — sussurro contra os seus lábios, vendo-a fechar os olhos levemente e morder o meu lábio inferior.

— Posso levar você até a academia? — Ela me indagou, parecendo receosa com a sua pergunta. Eu me surpreendi.

— Tem certeza? Não está atrasada? A academia é em sentido contrário da empresa...

— Não, não estou. A não ser que você não queira, se não quiser, tudo be...

Sorrio em satisfação.

— É claro que eu quero! — Falo sorrindo e me estico, depositando outro beijo em seus lábios.

No mesmo momento Warren estacionou diante de nós uma Maserati preta que eu nunca havia visto Addison usar nos nossos quase oito meses juntas.

A ruiva pessoalmente abriu a porta do passageiro para mim e eu sorri, estranhando um pouco aquele ato, por mais que eu tenha achado a coisa mais adorável do mundo.

Ela deu a volta no carro e, em poucos segundos, deu partida nele, saindo da nossa casa em silêncio.

— Estava pensando... Poderíamos fazer algo com Luke no feriado. O que você acha? — A indago, observando-a morder levemente o seu lábio inferior enquanto se concentrava em sair do nosso condomínio.

— Provavelmente estarei em LA — Ela murmurou, soltando um suspiro — Tenho uma audiência importante na semana que vem.

— Em quais datas?

— Onze, doze e treze. Mas irei no dia dez. Provavelmente estarei de volta no dia quatorze.

— Tudo bem... — Murmuro, com um pouco de pesar. Quatro dias sem vê-la.

— Podemos fazer isso no próximo fim de semana. O que acha? — Ela me encarou por um segundo, pousando a sua mão sobre a minha coxa nua.

— Podemos, sim. O que você tem em mente?

— Esse é um trabalho seu. Irei contribuir com a minha presença e a minha paciência para aguentar vocês dois.

Rio, depositando um tapa leve sobre a sua mão, levando a minha, inconscientemente, até o seu apoio de cabeça do banco. Ainda sem calcular os meus movimentos, afasto um pouco os seus cabelos e passo a acariciar o seu pescoço levemente, encarando as ruas lá fora.

— Sobre a festa na Gracie Mansion após os resultados... Já tem ideia do que podemos usar?

— Desde quando você deixa que eu decida o que eu visto? Também não é a minha função nesse casamento.

Eu sorri, revirando os meus olhos e a encarei com o olhar cerrado.

— Estou começando a achar que a sua única função no nosso relacionamento é me encher o saco!

— Por favor, não seja injusta. Eu também faço outras coisas, como o sacrifício de ver a nossa série tomando sorvete todas as noites.

Um riso contido escapou dos meus lábios e eu apenas a observei sorrir levemente, ainda mantendo o seu olhar na pista.

Após um comentário irônico meu, nós continuamos conversando amenidades durante o caminho, coisas bobas como a previsão do tempo da semana, até o seu caso no tribunal de LA.

Antes que eu pudesse me dar conta do trajeto, a ruiva estacionou o carro em frente a Academia e me encarou.

— Pacote entregue — Ela falou sorrindo levemente, me fazendo rir.

— Nos vemos à noite? — A indago, tirando o meu cinto.

— Estarei aqui às sete.

— Ok — Murmurei, me esticando para depositar um beijo rápido nos seus lábios — Tenha um bom dia, meu bem.

— Igualmente, querida — Ela murmurou, depositando outro beijo nos meus lábios e a porta do carro me foi aberta por Warren.

Fui acompanhada pelos meus seguranças enquanto entrava na academia e fui recebida calorosamente pelas recepcionistas, as quais eu passei um bom tempo conversando sobre amenidades. Porém, assim que relembrei que a tia Ella me esperava, tratei de encerrar o assunto de maneira educada e me dirigi até a sala dos professores no segundo andar.

Encontrei a minha tia sentada em posição de borboleta, com as palmas das mãos abraçando os joelhos e os olhos focados em algo na sua frente.

— Bom dia, tia Ella! — A cumprimentei animada, deixando a minha bolsa sobre a mesa.

— Estou concentrada, espere — Ela murmurou, apertando os olhos para o algo na sua frente.

Eu franzi o cenho, estranhando aquilo e me aproximei, vendo algumas coisas em cima da mesa de centro da sala. Revistas, canetas, papéis e mais outras inúmeras bagunças necessárias.

— Tia Ella... O que está fazendo? — A indago curiosa.

— Estou tentando fazer aquele lápis se mover.

Encarei a mesa, um pouco confusa.

— Esse lápis? — O peguei no meio das canetas, soltando-o no mesmo momento em que me assusto com um grito seu.

— Funcionou!

Eu ri, sem conseguir acreditar na sua tamanha loucura.

— Ok, senhora Houdini¹, o que faz aqui tão cedo?

— A chata da sua mãe e a sua amada madrasta resolveram estender a noite de coito delas até às, preste atenção, cinco da manhã! — Uma gargalhada mais alta do que eu pretendia escapou da minha garganta de forma completamente espontânea — Eu simplesmente não dormi por um segundo sequer essa noite! Precisei respirar. Marquei para tomar café com a Bizzy, mas ainda está cedo.

— Humm, vocês realmente se deram bem, não é? — A indago, cerrando um pouco o meu olhar lembrar-me do que Lisa havia me dito.

— Ah, sim — A sua carranca mudou rapidamente para um sorriso... Mais do que largo. — A sua sogra é, de longe, a mulher mais incrível que eu já conheci. Ah, falando nela... — Ela murmurou assim que o seu celular começou a tocar e, de soslaio, eu vi a foto da minha sogra brilhar na tela de chamada. — Oi, Catty — Ela atendeu a ligação com um sorriso no rosto — Conheço, sim! Não, estou na academia com a Mer. Problemas em casa, te conto no caminho. Ok, estarei esperando. Tchau, bella!

— Catty? — A indago o que, desde o início da chamada, havia me chamado a atenção.

— Ah, é uma piada interna entre nós, você não entenderia. Bem, acho que você está um pouco atrasada, sobrinha.

Assinto, somente naquele momento encarando o relógio digital da sala. Eu precisaria me vestir um pouco mais rapidamente para evitar atrasos na minha primeira aula.

Me encaminhei até o banheiro, após pegar as minhas coisas no armário e troquei rapidamente a saia social, a blusa de alcinhas e os scarpins que eu usava pelo meu uniforme.

Prendi os meus cabelos em um rabo de cavalo baixo, deixando apenas a minha franja solta e me encaminhei até a minha sala sendo seguida pela tia Ella cantarolando atrás de mim uma música em francês.

— Bom dia, Sofia — Cumprimentei a minha auxiliar de classe com um sorriso animado, que se mostrou prontamente preocupada com o meu acidente, mas eu a garanti que estava me sentindo bem e pronta para voltar.

— Ah, as coisas aqui sem a senhora têm sido péssimas! Aquela professora... A Hazel... Ah, professora Montgomery... Que mulher mais insuportável!

— Jura?! — Exclamei incrivelmente surpresa — Apenas troquei poucas palavras com ela, mas ela sempre me pareceu uma mulher gentil.

— Fora da sala de aula. Mas dentro... É tão exigente e insuportável que eu senti, nessa semana inteira, como se todas as minhas energias estivessem sido sugadas por aquela mulher. Ver a senhora é como um colírio para os meus olhos.

Eu sorri, passando o meu braço pelos seus ombros e depositando um beijo terno na sua bochecha.

— Nós somos um ótimo time juntas, Sofi!

Ela sorriu animada, assentindo e passou a me atualizar de todas as aulas passadas, me contando, pouco a pouco, sobre a evolução de cada aluna minha.

— E o Noah? Como ele tem se saído? — Pergunto curiosa.

— Ah, ele está indo ótimo! A sua mãe se responsabilizou em dar as aulas complementares dele e, pelo que eu mesma vi, ele já está preparado para seguir com as meninas.

— Eu sabia disso. E, se você quer saber, eu realmente sinto que, se ele conseguir se habituar ao ritmo das aulas, será facilmente um dos alunos estrela do ano. Eu realmente nunca vi uma criança com tamanha desenvoltura no ballet como ele.

— Ele não gostou muito da professora Hazel na terça... Ela foi um pouco invasiva demais com ele, eu acho. Enfim... Acho que só a senhora possui esse dom de saber lidar com esses raiozinhos. Ele também não teve uma grande conexão com Flora.

— Eu realmente preciso começar a me organizar para saber exatamente como lidar com Noah. Mas será tudo uma questão de tempo, minha querida.

Ela assentiu, concordando comigo e, juntas, nós começamos a organizar a sala da minha maneira, já que estava completamente organizada da forma em que a professora substituta preferia. Um pouco bagunçada, diga-se de passagem, mas nada que eu não pudesse lidar.

— TIA MER! — Ouvi uma vozinha a qual eu já tanto estava familiarizada me gritar da porta da sala e vir até mim correndo, me surpreendendo com um abraço de urso que só ela sabia dar.

— Minha princesa! Que saudades! — Exclamei animada, me abaixando para abraçá-la mais fortemente.

— Eu que digo isso! A senhora nos deu outro sustão daqueles! — A minha pequena Louisa exclamou com um bico adorável, cruzando os braços — Por favor, promete pra mim que a senhora não vai mais abandonar a gente. Eu faltei dois dias na semana passada porque aqui não é a mesma coisa sem a senhora.

Eu ri, a abraçando mais fortemente contra mim e depositei um beijo terno no topo da sua cabeça.

— Eu prometo, meu amor! Senti muitas saudades de vocês também, por favor, me conte tudo que aconteceu na última semana.

Ela sorriu animada, colocando a sua mochila no chão e começando a me contar tudo enquanto tirava de lá as suas sapatilhas.

— E aí a Hailey ficou com uma cara mais feia do que tomate velho! Aquela chata e metida!

— Meu amor, não fale assim da sua colega. — Murmurei em um tom de repreensão, acariciando os seus cabelos.

— Mas é verdade, tia Mer! — Ela murmurou de maneira manhosa, deitando a sua cabeça no meu ombro enquanto calçava as sapatilhas — Ela saiu por aí dizendo pra todo mundo que enfim a professora mais insuportável da Academia havia saído. Acredita que ela disse pra professora Hazel que a senhora sequer passava lições direito?

— Como assim?! — Exclamo surpresa, sem entender o sentido daquele comentário e o motivo pelo qual Hailey falaria aquilo.

— Ela disse que a senhora só fazia brincar, que não levava o seu trabalho a sério e que muito menos era uma bailarina de verdade. Eu, a Jojo e a Isa defendemos muito você, na verdade todas as alunas, até mesmo o Noah não concordou, acredita, titia?

— É mesmo, meu amor? — A indago sentindo o meu peito se aquecer e se apertar ao mesmo tempo. Eu não fazia ideia de que Hailey pensasse assim de mim.

E, céus, por que?

Eu nunca havia a feito nada de mal. Nunca havia a repreendido, ou sequer a chamado atenção.

Muito pelo contrário. Eu sempre a elogiei, a incentivei e a admirei, como sempre faço com todas as minhas meninas!

— Aham! A senhora é como a nossa mãe, a gente não poderia deixar aquela garota bobona nariz empinado falar assim de você! Ah, eu trouxe bolo de chocolate pra senhora, posso dar agora ou mais tarde?

— Vamos comer juntas na hora do intervalo, meu amor — Falei, a abraçando contra mim e deixando um beijo na sua bochecha — Eu realmente aprecio que tenha me defendido dessas acusações, minha princesa, mas vamos combinar uma coisa?

Ela assentiu, se sentando no meu colo.

— Não quero que fale mais assim da sua colega, ok?

— Mas tia Mer...

— Lou, a Hailey tem direito de não gostar de mim...

— Ela não tem não! Ninguém nesse mundo todinho tem esse direito! — A pequena exclamou com raiva, cruzando seus braços e fazendo um bico — A senhora é muito incrível, tia Mer, não pode ser tão boazinha assim, ela merece um castigo!

Eu ri, negando com a cabeça.

— Um castigo por não gostar de mim?

— Aham!

— Ah, minha pequena, o mundo não funciona dessa maneira. E nem eu gostaria que funcionasse. Eu não sou perfeita, Lou. Nenhuma de nós somos.

— Mas deveria, e a senhora é sim! — Ela murmurou ainda irritada.

— Lou, apenas me prometa que não vai arrumar nenhuma confusão.

Ela revirou os olhos.

— Bem, eu não posso fazer isso de jeito nenhum! A mamãe disse que eu sou a confusão em pessoa!

Eu ri, fazendo cócegas na sua barriga, arrancando um riso angelical dela, que me abraçou com força pelo pescoço.

— Eu te amo muito, titia. Muito, muito muito! E vou defender a senhora pra sempre! — Ela exclamou contra os meus cabelos, deitando a sua cabeça no meu ombro.

Senti o meu coração parar por um segundo e retomar as suas batidas de maneira completamente desenfreada logo após.

Os meus olhos arderam no mesmo momento.

Era a primeira vez que eu ouvia aquilo dela.

Na verdade, de qualquer um dos meus alunos.

E eu não poderia estar mais estarrecida, agradecida e feliz naquele momento.

Céus, como tudo aquilo valia a pena!

— Eu te amo mais, minha princesa! Muito, muito mais! — Murmurei contra os seus cabelos cacheados, tentando controlar a minha emoção.

— Não ama nã-ão! — Ela falou rindo, começando a fazer cócegas na minha barriga, até que eu caísse deitada no chão.

— TIA MER! É A TIA MER, GENTE! ELA VOLTOU! — Ouvi Emma gritar e, um segundo depois, eu estava rodeada de dez crianças enérgicas me esmagando com força no chão, e muitos beijos espalhados pelo meu rosto.

— Meninas, por favor, deixem uma filha inteira para mim! — Ouvi a minha mãe as repreender de uma maneira leve e, pouco a pouco, as meninas foram se afastando para que eu me sentasse no chão novamente.

— Tia Mer, como a senhora tá?

— Completamente amassada por um bando de garotinhas que, com a mais absoluta certeza, vão receber uma série de cosquinhas por essa tentativa de assassinato mais tarde!

Elas gargalharam, se sentando ao meu lado e, pouco a pouco, eu as ajudei a calçar as suas sapatilhas, explicando o que havia acontecido e garantindo que eu nunca mais as deixaria sozinhas por tanto tempo.

— Ok, agora vamos começar os nossos alongamentos, minhas meninas? Vocês vão começando enquanto eu calço as minhas sapatilhas, e aí vamos ver onde paramos, ok?

Todas assentiram e eu me dirigi até o final da sala, me sentando num canto do chão e começando o ritual de cobrir os meus dedos machucados com uma fita para conseguir possuir estabilidade nas sapatilhas e não sair da minha aula com os pés em carne viva — como já havia acontecido há muitos anos atrás.

Assim que finalizei, Noah adentrou a sala, sendo seguido pela sua mãe.

Eu a cumprimentei com carinho, após cumprimentar Noah com um bom dia e, depois de saber diretamente por ela como ele estava indo nas aulas, ela se despediu de nós e saiu.

— Então, Noah, o que está achando das aulas? Está achando difícil? — O indaguei, me sentando ao seu lado e observando-o calçar as suas sapatilhas.

— Não — Ele respondeu apenas, focado nas sapatilhas.

— Uh, você tem um machucadinho no dedo — O alertei, me esticando para ver melhor. Era uma pequena bolha já estourada e muito vermelha ao lado do dedo mindinho, aquilo deveria estar doendo demais! — Podemos resolver isso com um...

— Não quero.

— Noah... Você não pode treinar dessa maneira... Eu posso...

— Já falei que não quero!

Assenti, ainda preocupada, mas abaixando a minha guarda pelo seu tom de voz irritado.

— Tudo bem, não vou encostar em você, eu prometo. Mas... Olha só — Fui rapidamente até a minha bolsa, alcançando o meu rolinho de fitas para o pé e um pedaço de algodão — Que tal se você mesmo colocasse essa fitinha no seu machucado?

— Pra que serve isso? — Ele me indagou, parecendo desconfiado.

— Isso aqui eu chamo de kit sobrevivência de todo bailarino. É uma fitinha que garante que os nossos dedos não virem um galho de árvore feio, áspero e nojento. Posso ensinar como colocar?

Ele assentiu, parecendo mais aberto à possibilidade.

Por isso, me propus a fazer uma das coisas mais difíceis para uma bailarina:

Retirar as sapatilhas antes de usar elas.

Com um pouco de dificuldade, desamarrei a minha sapatilha do pé esquerdo e o apontei o meu dedo mindinho coberto pela fita.

— Está vendo? Esse meu dedo é muito frágil, porque já machuquei muito ele. Por isso, sempre preciso colocar a fita salva-vidas. Senão é impossível ficar em pé nas sapatilhas.

Ele assentiu.

— Posso cortar um pedaço para você?

Ele assentiu novamente e eu sorri, cortando um pedaço generoso e o entregando.

— É só enrolar no seu dedo por cima do algodão.

— Você... Pode me ajudar?

Sorrio, mais do que satisfeita com aquele seu pedido e assinto.

— Vou tocar bem brevemente no seu pé, ok?

Ele concordou e eu o fiz, enrolando o algodão no seu dedo mindinho e passando a fita firmemente ali.

— Pronto! Agora sim pode calçar as sapatilhas. Você sabe amarrá-las?

— Elas ficam folgadas após trinta e três minutos de aula.

— As minhas também ficavam, até que eu aprendi uma amarração muito boa. Posso te ensinar?

Ele assentiu.

— Ok, vou calçar a minha novamente e você repete a minha amarração.

Ele concordou e eu comecei a amarrar a sapatilha vagarosamente, vendo-o, de maneira ágil, repetir os meus movimentos até ter uma delas completamente firme nos pés.

— Pronto, agora tente amarrar a outra da mesma forma.

Ele o fez rapidamente.

— Ótimo, Noah!

— Tá bem — Ele murmurou se levantando e indo até a barra.

Eu apenas sorri, me sentindo satisfeita com a nossa pequena interação.

— Meredith, bom dia!

Me virei para a porta, vendo Alexandra parada diante dela e Hailey adentrar a sala com uma cara, eu ouso dizer, ainda pior do que o seu normal, pisoteando até o outro lado da sala, sem sequer me encarar.

Suspirei, sentindo o meu coração se apertar ao me lembrar de tudo que ela havia dito sobre mim. Aquilo doía, era óbvio que doía. Porque absolutamente tudo que eu tentava fazer era realmente dar o meu melhor para as minhas meninas. Nada menos do que isso.

— Bom dia, Alex, como vai? — Me levanto, caminhando até a porta, sentindo a minha animação ir para o ralo com aquele choque de realidade.

A morena me abraçou rapidamente, com um sorriso amigável no rosto.

— De cabelos em pé — Ela comentou encarando Hailey e me lançando um sorriso fraco — E você? Como está indo o pescoço?

— Estou bem, sinto algumas dores às vezes, principalmente antes de dormir e depois de acordar, mas estou bem.

— Vai passar, está massageando o local com o gel que indiquei?

— Ah, sim, estou! O que houve com Hailey?

— Ah, o mesmo de sempre. "Eu te odeio". "Você não é a minha mãe". "Você é insuportável". "Eu odeio essa academia". "Odeio o mundo". "Odeio o Papa". Nada além do normal. Apenas estou cansada. Tenho três noites sem dormir.

— Sinto muito, Alex. Mas... Acredito que essa resistência ainda vá passar — Comento, realmente tendo fé naquilo.

— Ah, Meredith, queria muito que fôssemos parecidas nesse sentido. A sua fé nas pessoas me comove, verdadeiramente. Eu já perdi a minha há muito tempo.

— Bem... Se não tivermos fé nas pessoas, não poderemos conviver com elas, certo? — Falei sorrindo, acariciando levemente o seu braço — Apenas tenha paciência, tudo bem?

— Tudo bem, obrigada! Eu realmente preciso ir agora, preciso dormir umas dez horas seguidas para recuperar cinco por cento do meu sono perdido.

Eu ri, assentindo e me despedi dela, retornando à minha sala. Devagar, me aproximei de Hailey, que calçava as suas sapatilhas concentrada em um canto.

— Bom dia Hailey, como está? — A indago, um pouco receosa com a sua reação diante da minha pergunta.

Ela bufou irritada.

— Estava melhor na semana passada — Ela murmurou de maneira tão amarga que me surpreendeu, se levantando e guardando as suas coisas na mochila, indo até a barra para começar os seus alongamentos.

Respirei fundo, fechando os meus olhos brevemente, após sentir um aperto no peito nada bom e, inevitavelmente, sentir a minha garganta se fechar.

Eu simplesmente não conseguia conviver com a ideia de não conseguir fazer com que todas as pessoas ao meu redor gostassem de mim.

E isso era insuportável.

— Bem... — Anuncio, limpando a minha garganta ao ouvir a minha voz sair um pouco menos audível — Vamos começar de onde pararam na sexta-feira, Sofia, as ajude, por favor, para que eu consiga entender o que foi feito aqui.

A minha auxiliar assentiu, começando a ajudá-las com as posições, enquanto eu apenas caminhava pela sala, as observando e entendendo, aos poucos, a abordagem de Hazel nessa uma semana que passei fora.

Após o fim do primeiro tempo de aula, nós fizemos a pausa para a água e voltamos, agora comigo realmente as orientando as posições.

Terminamos a nossa aula em um piscar de olhos e, seguindo a vontade de algumas meninas, coloquei uma música infantil divertida para dançarmos juntas e realmente pulei e dancei com todas elas até sentir o suor escorrer pelo meu corpo e a minha respiração dar indícios de falhar.

— Ok, ok, meus amores, eu estou realmente arruinada aqui — Comento, enquanto prendia os meus cabelos em um coque bagunçado, fazendo-as rir.

— A senhora está ficando uma velha coroquinha — Emma comentou rindo, fazendo todas as outras rirem ao seu lado e me deixando estarrecida.

— Eu estou o quê? — A indago surpresa, cerrando o meu olhar.

— VELHAAAA — Elas gritaram juntas ao mesmo tempo, me fazendo gargalhar e eu ameacei pegá-las, fazendo-as correr pela sala inteira.

— AH, MAS EU VOU PEGAR CADA UMA DE VOCÊS E VOU FAZÊ-LAS SE ARREPENDEREM DISSO COM MUITA COSQUINHA!

Elas gritaram em medo e animação ao mesmo tempo e eu comecei a correr atrás de cada uma, um pouco mais devagar para as dar tempo de fugir.

— PEGUEI! — Falei animada assim que puxei Isabela contra mim, a abraçando e fazendo cócegas ao mesmo tempo.

— MENINAS, CORRAM! ESSA MONSTRINHA VELHA É UM PERIGO PARA A SOCIEDADE!

Eu gargalhei, sentindo-a me fazer cócegas logo em seguida e voltar a correr.

— AH É, SENHORITA JONES? VENHA AQUI AGORA! AHÁ! — Exclamei animada, assim que puxei Lou contra mim, que começou a gargalhar desesperadamente.

— Ai! Tia Meeeeeer, na barriguinha nãaaaaao!

Eu ri, me deitando no chão junto a ela e, sem esperar por aquilo, ouvi Emma gritar:

— REVOLUÇÃO!

E todas elas caírem por cima de mim, fazendo cócegas no meu corpo inteiro, enquanto eu realmente gargalhava tanto, que estava perdendo o ar e com certeza ficando vermelha.

— Filha!

Me assustei ao ouvir a voz da minha mãe na porta da sala e, assim que as meninas pararam com as cócegas, amedrontadas, eu pude finalmente respirar, tomando forças para me levantar, com Lou sentada no meu colo, agarrada ao meu pescoço.

Mas, assim que o meu olhar pousou diante da porta, eu senti o meu coração bater forte dentro do peito em uma sensação surpresa, eletrizante e deliciosa ao ver Addison parada na porta da minha sala, de braços cruzados, me encarando com um mínimo sorriso no rosto.

O que ela estava fazendo ali?

— Addie? O que está fazendo aqui? — A indago, ouvindo as minhas alunas cochicharem entre si, mas não conseguindo realmente escutar o que elas falavam umas para as outras.

— Oi, querida. Olá, meninas — Ela cumprimentou as meninas com o seu distanciamento de sempre, mas de maneira gentil. Não respondendo a minha pergunta.

Vi cada uma das minhas alunas sorrirem de uma maneira diferente para Addison.

— Oi, senhora Montgomery — Elas a cumprimentaram de maneira contida.

— Filha, a maioria dos pais já estão lá fora.

— Tudo bem, mamãe, nós acabamos... Nos empolgando. Meus amores, não se esqueçam dos alongamentos, ok? — As aviso, deixando um beijo em Lou e, gradativamente, em cada uma delas.

— Tchau, tia Mer! — Elas me cumprimentaram animadas, se levantando e indo pegar as suas mochilas.

— Tchau! — Lou sussurrou para mim, me depositando um beijo demorado na bochecha — Até amanhã, tia Mer!

— Até minha princesa! Boa prova hoje, eu acredito muito em você! — Murmurei, beijando a sua bochecha e me levantando com ela, a ajudando a colocar a sua mochila.

Devagar, uma a uma, elas foram saindo da sala, me abraçando e me desejando um bom dia.

Ao fim, éramos apenas eu e Addison, pois Flora se encarregou de as ajudar a descer.

A ruiva olhou ao redor da minha sala, parecendo desejar entender o ambiente. Vi seu olhar passar por cada desenho, parecendo verdadeiramente tentar entendê-los, até os brinquedos em um canto, as barras, os tapetes, os ganchos com as mochilas... Absolutamente tudo.

— Não respondeu a minha pergunta — Falei, indo até ela, cruzando os meus braços — O que faz aqui? Alguma coisa aconteceu? Você está bem?

Ela negou com a cabeça, se aproximando e segurando delicadamente em cada lado da minha cintura e eu envolvi o seu pescoço com os meus braços quase que automaticamente.

— Vim almoçar com você — Ela murmurou contra os meus lábios, me beijando de maneira terna e rápida, enquanto afastava do meu rosto uma mecha que havia saído do coque — Velha!

Eu gargalhei, depositando um tapa fraco no seu bíceps e sorri, me esticando novamente para depositar outro selinho em seus lábios.

— Achei que apenas iríamos nos ver no jantar — Comento, deixando claro a minha surpresa em relação ao seu aparecimento inesperado.

— Sim, com a minha mãe. Agora eu quero almoçar apenas com você. Vamos?

Assinto, me desvencilhando dela e sentindo a sua mão alcançar a minha, entrelaçando-se com ela para que saíssemos da minha sala juntas.

Eu a guiei até a sala dos professores e a pedi para que me aguardasse enquanto eu tomava um banho rápido apenas para eliminar o suor, a ruiva assim o fez.

Em poucos minutos, estávamos saindo da academia juntas, tomando o percurso do nosso restaurante.

— Como foi a sua manhã? — A indago, enquanto acariciava o seu pescoço com as pontas das minhas unhas em movimentos lentos.

— Estressante — Ela comentou revirando os olhos, enquanto pousava a mão na minha coxa nua. — E a sua?

— Ah... Nem eu sei, na verdade — Comento suspirando — Foi incrível receber tanto amor das minhas meninas depois de tantos dias longe, mas...

— O que houve? — Ela me indagou, me encarando por alguns segundos.

Suspiro fundo e, após digerir toda a situação com Hailey, passo a contar tudo em mínimos detalhes para Addison.

— Qual o problema dessa garota? — Ela parecia um pouco irritada, pois seus maxilar havia ficado completamente rígido.

— Pelo visto o problema sou eu — Murmuro, cabisbaixa. — Eu tentei de tudo, desde o primeiro dia, para incluí-la na minha aula e em todas as minhas atividades. Mas ela simplesmente não abre espaço para que eu consiga fazer isso. E agora... Agora estava tentando colocar as minhas outras alunas contra mim e reclamou da qualidade das minhas aulas para uma professora que eu sequer tenho intimidade — Encosto a minha cabeça no banco do carro, suspirando — Não sei o que faço. Não sei mesmo, Addie.

— Bem, eu acredito que expulsá-la da academia não é uma opção, certo?

Eu ri.

— Não, não é.

— Então acho que você vai ter que tentar conquistá-la... De alguma maneira.

Eu a encarei.

— Você pelo menos ouviu tudo que eu falei?

— Perfeitamente bem. E por isso estou dizendo isso. Eu sei, estou surpresa também, porque eu faria o mais completo oposto disso. Mas eu conheço você. Essa é a sua melhor opção.

— Ela sequer gosta da esposa do pai, que está tentando de tudo para que isso ocorra e convive com ela praticamente o dia todo. Acha mesmo que ela vai gostar de mim?

— Você conseguiu me conquistar — Ela comentou, dando de ombros. — Acredito que isso a faça ser algum tipo de ser supremo sobre a humanidade.

Eu gargalhei, realmente não esperando aquele comentário.

— Bem, realmente, mas não sei, talvez eu tenha esgotado a minha sorte com você... Digo, não foi nada fácil, sabe?

Ela revirou os olhos.

— O fato é: você é a professora, ela é a aluna. Eu entendo a relação que quer ter com os seus alunos, mas nem sempre será possível tê-la com todos eles. O primeiro pilar importante para essa relação é o respeito. Se ela desdenha tanto de você para sair por aí falando mal de você e das suas aulas... Bem, você vai precisar se fazer ser respeitada.

— Não sei se acredito que posso fazê-la me respeitar. Não sei se isso é possível, na verdade, não sei se o respeito é algo... Exigido.

— Como acha que me tornei quem sou no meio de uma profissão tão machista como a minha? Sei que está longe de ser a mesma coisa, mas eu acredito que você precisa começar a se impor um pouco mais.

Assinto, suspirando.

— Ok, vamos mudar de assunto? Não quero falar sobre trabalho no nosso momento juntas. Digo... Quase nunca almoçamos juntas em dias de semana.

Ela assentiu.

— Quer ouvir algo escandaloso? — Ela me encarou com um sorrisinho de lado e eu assenti veementemente.

— Sempre!

— A mulher do atual prefeito... Está dormindo com Rachel.

— O quê? — Exclamei completamente estarrecida — Dormindo...

— Transando. Todos os dias.

Eu gargalhei, jogando a minha cabeça para trás, enquanto ela estacionava o carro na nossa vaga.

— Então quer dizer que toda aquela... Prepotência dele é apenas o peso dos...

— Chifres. — Ela completou o que eu não havia conseguido pela intensidade da minha risada — Exatamente.

Eu gargalhei mais uma vez, vendo a ruiva sorrir, tirando o seu cinto e pegando a sua bolsa no banco de trás do carro.

Nós saímos dele juntas, conforme as portas foram abertas pelo maîtrê e Alex.

— O que você pensa disso? Não pode ser prejudicial a campanha de Rachel? E ao nosso sobrenome? Bom dia, senhor Denvers! — Cumprimento o gerente com um sorriso, após ele nos cumprimentar e adentro o restaurante de mãos dadas com Addison.

— Pare de ser tão adulta — Ela sussurrou para mim, enquanto subíamos as escadas — Essa é a fofoca do ano, esqueça a campanha e o nosso sobrenome.

Eu ri, a empurrando levemente com o ombro.

— Quem diria que você fosse tão, mas tão fofoqueira, Addison Montgomery! Mas me conte, como isso aconteceu? — Indago, no momento que ela puxou a cadeira para que eu me sentasse.

— Não sei, também não sei qual a relação deles e se ele sequer desconfia disso. Mas sei que ele vai perder a esposa, as eleições e o réu primário no momento em que aqueles números virarem.

Eu ri.

— Acredito que não seja nada menos do que ele merece — Falei dando de ombros.

— Não imaginei ouvir isso de você.

— Bem... Digamos que a minha esposa esteja me influenciando erroneamente — Comentei com um sorriso descarado, brincando com as suas alianças entre os nossos dedos entrelaçados sobre a mesa.

— Bem... Eu me sinto honrada — Ela falou dando de ombros, começando a fazer os nossos pedidos.

Continuamos conversando sobre as amenidades do seu dia, enquanto ela me contava com detalhes sobre o caso que estava em sua posse no tribunal de Los Angeles e ela julgaria na semana seguinte.

— Queria poder ir com você para LA, estou realmente precisando tomar um sol, mas preciso treinar para as competições e ajudar a minha mãe com os figurinos.

— Prefiro que você não vá. Você ficaria sozinha em casa a maioria dos dias.

— Você não vai se dar um mínimo descanso? Addison...

— Preciso resolver algumas coisas na empresa. Não há por que se preocupar.

— Bem, irei garantir que você vai se alimentar — Falo orgulhosa da minha ideia, elevando as minhas sobrancelhas.

— Posso saber como?

— Quero que instale um aplicativo no seu celular. Vou organizar a sua rotina nele e todas as vezes que eu enviar um sinal, ele irá apitar sem parar para alertá-la de fazer algo. É simplesmente incrível, um dos meus alunos me mostrou na semana retrasada.

Ela revirou os olhos.

— Em outros relacionamentos isso é chamado de perseguição.

— Bem, no nosso eu prefiro chamar de "sou muito nova para ser viúva e não quero usar preto todos os dias para o resto da minha vida".

— Apenas vejo vantagens nessa sua analogia.

Cerro os meus olhos, a lançando um olhar irritado e ela depositou a sua taça rapidamente em cima da mesa.

— Não estou falando que vejo vantagens para mim... Eu...

— Apenas pare de falar, ok? — Murmuro um pouco irritada, revirando os meus olhos — Pode pedir o cheesecake, por favor?

Ela assentiu, entrelaçando a sua mão esquerda à minha enquanto fazia o meu pedido, continuando com aquela carícia até mesmo enquanto eu comia o meu doce.

— Quer um pedaço? — A ofereço com um sorriso travesso, mordendo o meu lábio inferior.

— Muito obrigada, querida, mas estou satisfeita — Ela respondeu no mesmo tom de ironia que eu carregava.

— Isso é realmente uma pena. Mas à noite você pode comer.

Ela revirou os olhos, passando o seu dedo indicador vagarosamente pela minha mão, enquanto encarava o outro lado do restaurante.

Ao sentir o meu celular vibrar dentro da minha bolsa, afastei a minha mão da colher que levava até o meu doce, não desejando me afastar do contato com Addison.

Assim que visualizei o nome na tela, franzi o cenho, sem entender o motivo que levava aquela ligação.

Virei a tela do meu celular para Addison, que também franziu o cenho, sem entender, enquanto eu atendia a ligação, um pouco desconfiada dela.

— Olá, Rachel, tudo bem?

— Meredith, oi! Tudo bem. E você? Como vai?

— Estou bem — Respondi apenas, trocando um olhar intenso com Addison e dando de ombros quando ela sussurrou para mim "o que houve?" e "viva-voz!"

Eu revirei os olhos, afastando o celular da orelha rapidamente para colocar no viva-voz, em um volume mais baixo, em cima da mesa entre nós.

A ruiva se aproximou mais do aparelho, parecendo realmente curiosa.

— Bem, eu serei direta ao ponto, porque sei que deve estar se perguntando o que essa ligação significa.

— Bem... Obrigada por não me fazer precisar fingir um certo costume com isso — Falei em um tom de riso, ouvindo-a rir atrás da linha.

— Nunca. A questão é: já ouvi Addison falar muito bem sobre a tamanha organização que você possui, por isso, gostaria que, se você desejar, me ajude a organizar algumas coisas para o jantar de comemoração após os resultados.

Encarei Addison, que ainda mantinha o seu franzido e sussurrei um "o que você acha?"

Ela deu de ombros e sussurrou:

"Sua decisão"

— De que, necessariamente, você precisaria?

— Bem, em primeiro lugar, de ajuda para escolher a minha roupa e os saltos. E algumas dicas suas de... Não sei. Você é tão... Delicada. Eu realmente poderia usar um pouco mais de delicadeza no meu discurso.

— Ok, apenas me diga quando e onde, e estarei lá — Falei sorrindo — Será uma honra ajudar.

— Ah, obrigada, Meredith! Para você tudo bem ser na quinta à noite? Ás 20:00, na minha casa?

— Claro, tudo bem. Apenas me mande o endereço, por favor.

— Claro! Nos vemos lá, mais uma vez, muito obrigada!

Eu me despedi dela rapidamente e desliguei o celular, voltando a encarar Addison, que mantinha uma expressão neutra.

— Eu achei um convite... Inusitado. Você falou sobre a minha organização com ela?

— Posso ter comentado — Ela deu de ombros.

— O que você acha?

— Não possuo uma opinião — Ela suspirou — Precisamos ir — Falou revirando os olhos — Tenho uma reunião com o conselho em vinte minutos.

— Tudo bem, eu realmente preciso de alguns minutos de descanso no sofá da sala da minha mãe.

Nós saímos do restaurante juntas e Addison fez questão de me levar novamente até a academia, mesmo que eu insistisse duas vezes para que ela deixasse Warren me levar, por medo de atrasar a sua reunião, mas ela apenas ignorou a minha relutância e me deixou em frente a escadaria da academia poucos minutos depois.

— Nos vemos à noite — Sussurro, antes de depositar um selinho demorado em seus lábios.

— Nos vemos à noite — Ela repetiu, selando nossos lábios novamente e eu saí do carro, subindo as escadarias seguida pelos meus seguranças.

Fui rapidamente até a sala dos professores apenas para me trocar e retornei até a sala da minha mãe no térreo, a fim de descansar um pouco no seu sofá antes da minha aula.

Bati levemente na porta e a abri, me arrependendo no mesmo momento em que o fiz, ao observar a minha madrasta sentada no colo da minha mãe no mesmo sofá o qual eu pretendia dormir, enquanto... Bem... Elas se beijavam de maneira mais animada do que eu realmente gostaria de presenciar.

— Ops! Oi, filha! — A minha mãe me encarou com a boca inteiramente vermelha e um sorriso travesso nos lábios, enquanto Lisa ria, enterrando a sua cabeça no pescoço dela.

— Preciso realmente aprender a bater e ouvir uma resposta antes de entrar — Murmuro, franzindo o meu nariz — Não quero atrapalhar.

— Não atrapalhou nada, Mer, a sua mãe que está bem engraçadinha hoje — Lisa falou se levantando — Eu realmente preciso ir agora, tenho uma reunião com a estilista responsável pelos figurinos. Como está se sentindo, Mer? — Ela me indagou enquanto acariciava levemente as minhas bochechas, eu sorri.

— Estou bem, Lis, pronta para outra — A lancei uma piscadela, recebendo um olhar cortante da minha mãe.

— Você ainda irá matar a sua mãe do coração, e me matar junto!

— Só se for de amor! — Falei sorrindo, depositando um beijo na bochecha dela e indo até o sofá onde a minha mãe estava sentada.

— Tchau, amor. Pode me esperar em casa hoje, ok? Estarei de volta no jantar. Pode fazer a minha torta de frango?

— Tudo que você quiser, meu amor. Me mantenha informada durante a reunião.

Elas se beijaram de maneira... Demorada, e Lisa depositou outro beijo na minha bochecha antes de pegar a sua bolsa e sair da sala.

— Você bem que poderia colocar uma plaquinha na porta da sua sala escrito "Não perturbe, estou fazendo coisas com a minha esposa que crianças e a minha filha não podem ver em um lugar nada propício para isso" — Falo revirando os meus olhos, me deitando no seu colo, fazendo-a rir enquanto começava a acariciar os meus cabelos.

— Pelo menos não estou em um hospital.

— Mamãe! Eu já disse que nós não... Eu e Addison... Nós somos bem reservadas quanto a nossa vida sexual, ok?

— Humm, reservadas ao ponto de se tocarem debaixo da mesa de um almoço com a sua mãe, a sua madrasta e sócios?

Engasguei com a saliva que eu sequer possuía na garganta, me levantando abruptamente do seu colo.

— MÃE!

Ela gargalhou ao ponto de ficar vermelha.

— Nós não... Eu... Mãe, pelo amor de Deus! — Tento explicar, sentindo como se o meu coração fosse sair pela boca de tanto nervosismo e vergonha. — Addison... Eu...

— Pode parecer que não, mas eu percebo tudo, filha. Estava doida para ter um tempo a sós com você para saber o porque estava com tanta raiva de Addison ontem.

Bufo irritada, revirando os meus olhos. Aquilo era, literalmente, culpa inteiramente de Addison.

— Porque a sua nora é uma... — Bufei, revirando os meus olhos novamente ao me lembrar de Violet, Naomi e Rachel — Nós não estávamos... Fazendo isso que você está pensando. A sua nora apenas ama me provocar.

— Posso saber o que houve? — Ela perguntou sorrindo.

— Aquela idiota ama ser o centro das atenções. E está simplesmente adorando ser comida com os olhos por aquelas... — Solto o meu ar com intensidade, revirando, pela enésima vez, os meus olhos. Aquilo me dava calafrios de raiva só de lembrar.

A minha mãe riu novamente.

— Violet?

— Queria que fosse apenas ela. Ela eu já estou acostumada, mesmo que ainda me irrite. Mas acredita que Naomi foi capaz de me oferecer um... Um... Coisas... À três?!

A minha mãe soltou a maior gargalhada que eu ouso dizer já ter ouvido sair dos seus lábios, precisando tossir diversas vezes para aliviar o engasgo.

— Ah, essa foi realmente boa! — Ela gargalhou novamente — E Addison? O que disse?

— Ela não sabe, e eu não vou contar, porque ela adora me ver... Sentindo raiva desse tipo de coisa.

— Ah, sim, eu também adoro ver a sua madrasta com ciúmes. Ela fica ainda mais gosto... Bem, esse não é o caso. — Ela falou mordendo o seu lábio inferior de forma travessa.

— Posso saber o que deu em vocês duas hoje, hum? — Pergunto, fazendo cosquinhas na sua barriga, ouvindo a sua risada. — Um passarinho muito fofoqueiro me contou que vocês passaram a noite inteira...

— Ah, sim! — Ela falou deitando a sua cabeça no meu colo, com um sorriso imenso e apaixonado no rosto. Céus, eu amava tanto o relacionamento da minha mãe! — A noite inteira. A sua madrasta decidiu que seria uma ótima ideia comprar um conjunto de lingerie capaz de me enlouquecer e dançar para mim. E eu digo: puta.que.pariu! Ela já fez isso muitas vezes, mas todas elas... Oh, céus! Inclusive, testamos uma nova posição que me deu dois orgasmos múlti...

— Ok, mãe, quer saber? Essa coisa de sermos melhores amigas passou dos limites. Vamos voltar ao conservadorismo, por favor!

— Chata! Não vamos voltar a conservadorismo nenhum! Eu quero saber: a minha nora já te deu orgasmos múltiplos?

— Mãe, por favor — Murmuro de forma manhosa, esperando, realmente, não entrar naquela conversa.

— Eu te ensinei tudo que eu sabia sobre sexo desde a sua adolescência, você me deve essa!

Bufo irritada, cobrindo o meu rosto com uma almofada, assentindo devagar.

— Sabia! A minha nora tem cara de quem sabe o que está fazendo.

— Podemos mudar de assunto agora? — Murmuro contra a almofada.

— Ah, filha, vamos lá! Pare de ser tão careta, por favor. Eu sou sua mãe.

Suspiro, me rendendo, mas não abandonando a minha almofada.

— Tá, mãe, tudo bem. Pergunte o que quiser.

— Eu só quero saber... Como é. Ela é carinhosa? Bruta? Ela definitivamente tem cara de bruta.

— Ela é, mas também sabe ser carinhosa, por mais que eu seja mais fã da brutali... Oh, céus! — Murmuro em arrependimento, assim que percebi o que eu havia dito.

Ela gargalhou.

— Essa é realmente nova. Você? Gosta de brutalidade?

— Bem... — Dei de ombros — Addison me apresentou tudo que eu não sabia sobre mim mesma nesse âmbito. Eu realmente... Não me conhecia em absolutamente nada comparado a como me conheço agora, depois dela.

— Uau, estou impressionada. Inclusive... Eu comprei um novo vibrador que... Céus! É tão bom, mas tão bom, que eu comprei um pra você também.

— Não, eu não acredito que... — Tirei a minha almofada de proteção contra a vergonha do meu rosto e a vi se levantar, indo até a sua mesa e pegando uma sacola inteiramente preta ao lado dela.

— Apenas teste — Ela falou me entregando — Comprei um para Bizzy, um para a sua tia insuportável e até para Norma.

— Mãe... Eu simplesmente não acredito nisso!

— Bem, eu sugiro que acredite. E que use com Addison. Ela vai amar!

Reviro os olhos, pegando a sacola e a colocando de lado.

— Pode me deixar cochilar por alguns minutos, por favor? Antes que eu coloque todo o meu almoço para fora?

— Não antes de dizer que eu simplesmente tive oito orgasmos essa noite. Oito. É por isso que a minha pele vive ótima e eu estou envelhecendo feito vinho. E a sua madrasta? Nove! Estou na frente na nossa competição de orgasmos.

— Ah, por Deus, ainda há uma competição? — Murmuro entediada, novamente cobrindo o meu rosto com a almofada.

— Ah, claro que há! Já olhou para a minha mulher? Tudo que eu mais quero é passar o dia inteiro no meio das pernas dela. E ela o mesmo comigo. Por isso nós disputamos. Acha mesmo que não vou aproveitar do corpo incrível que o universo me presenteou como mulher da minha vida? É loucura, filha!

Suspiro, fechando os meus olhos e vendo, mesmo que pouco, sentido nas suas palavras.

— É, vendo por esse lado, vocês têm razão. — Mordo meu lábio inferior, tentada a conversar com ela sobre o que mais me incomodava na minha relação com Addison: o fato de eu quase nunca conseguir tocá-la.

Mas não era hora de pensar naquilo. Porque:

Um: eu estava realmente cansada; Dois: eu não sabia se queria falar sobre aquilo com a minha mãe, ou como falar.

Por isso, resolvi esquecer, pelo menos por enquanto.

— Ok, mãe, você teve uma noite incrível.

— E você também, e eu sei disso.

Revirei os meus olhos ainda fechados.

— Ok, eu também. Mas eu realmente preciso cochilar um pouco.

— Tudo bem, meu amor. Durma. — Ela murmurou, fazendo carinho nos meus cabelos e eu me aconcheguei no seu colo para sentir melhor aquele toque, cochilando pelos minutos que antecederam a minha aula à tarde.

...

— Boa noite, esposa — Cumprimento Addison com um beijo terno assim que adentro a sala da minha mãe, que conversava com ela sentada no seu sofá, ambas tomando uma dose de whisky.

— Boa noite, vampira. Como está?

Sorrio, me sentando ao seu lado.

— Estou bem. E você?

— Bem — Ela murmurou, pousando a sua mão na minha coxa — Tem certeza que não quer se juntar à nós, sogra?

— Tenho sim, minha nora. Fui obrigada a fazer a torta de frango favorita da minha amada esposa hoje. Se ela não comer isso... Irá me matar, e eu realmente não quero morrer antes de testar aquela posição mais umas cem vezes.

Addison sorriu travessa junto a ela.

— Acho justo, muito justo.

— Ok, essa é a hora que nos retiramos, porque vocês duas juntas... Ainda irão me matar! — Murmuro completamente envergonhada com aquele assunto.

— Não antes de testarmos essa posição, querida — Addison falou me lançando um sorriso descarado e um piscar de olhos para Flora, que gargalhou.

Senti as minhas bochechas arderem.

— Ok, chega. Vamos, Addison Montgomery! — Falei puxando-a pelo cós da sua calça até a porta da sala da minha mãe — Até amanhã, mamãe.

— Até, meu amor. Tchau, Addie!

— Tchau, sogra!

— Você é inacreditável! — Murmuro entredentes para ela, cerrando o meu olhar, assim que fecho a porta da sala da minha mãe atrás de nós.

— Sim, e é exatamente por isso que você me adora. — Addison falou, com a voz carregada de orgulho.

— Haha, você se acha muito engraçadinha. Quem disse que eu adoro você? Eu suporto você, é completamente diferente.

Ela elevou as suas sobrancelhas bem feitas, me lançando um sorriso lindo e descarado.

— Nem você acredita nas próprias mentiras, meu bem — Ela sussurrou contra os meus lábios, os beijando levemente — Agora vamos, a minha mãe já deve estar esperando.

Nós fizemos o caminho até o restaurante entre carícias e um silêncio confortável e Addison me guiou pelo hall do restaurante até a nossa mesa no segundo andar, e eu fui surpreendida ao ver a minha sogra sentada ao lado da minha tia na nossa mesa, ambas rindo de maneira contida, enquanto a tia Ella envolvia a cadeira da minha sogra com o seu braço.

Qualquer um que as visse de longe ou até mesmo de perto as confundiria com um casal. Elas pareciam... Estranhamente conectadas.

— Convidou a sua tia? — Addison sussurrou para mim e eu a encarei, negando com a cabeça. Ela suspirou, mas nada disse.

Será que ela também havia percebido?

— Boa noite — Eu as cumprimentei com um sorriso assim que nos aproximamos da mesa, chamando a atenção para nós, já que elas pareciam estar em uma bolha apenas delas.

— Oi, meus amores! — A minha sogra nos cumprimentou com o maior sorriso do mundo, se levantando — Que saudades, meu amor! — Ela me abraçou com força, depositando um beijo carinhoso na minha bochecha.

— Como está, sogra? Estou com tantas saudades de sair com você!

— Ah, eu também! Estou ótima, meu amor!

— Oi, tia Ella! Que... Surpresa!

— Eu sei, mas vão se acostumando. Eu e Catty agora somos uma só.

Elas riram, pelo que entendi, por alguma piada interna, e Addison me encarou no mesmo segundo que o meu olhar se direcionou a ela.

Eu sabia que ela me indagava aquele apelido esquisito com apenas um olhar. Eu apenas neguei com a cabeça, dando de ombros, indicando que havia entendido tanto o quanto ela.

Nós nos sentamos lado a lado e, enquanto eu e a tia Ella discutíamos amenidades sobre a academia, a minha sogra e Addison decidiam os pedidos pelos iPads.

— O que deseja, querida? — Addison me indagou e eu voltei a minha carícia para a sua perna, dando de ombros.

— Pode escolher, meu bem. Mas estou com vontade de tomar aquele vinho grego.

— Tudo bem — Addison falou acariciando o meu pescoço enquanto fazia os nossos pedidos.

— O que vai pedir, querida? — Ouvi a minha sogra perguntar para tia Ella, que sorriu, dando de ombros.

Querida?

Céus, elas realmente soavam como um casal.

— O que você pedir, Catty. Confio no seu gosto.

Elas sorriram uma para a outra e eu encarei Addison, que suspirou, revirando os seus olhos.

O resumo da nossa noite foi, basicamente, a minha mulher completamente calada ao meu lado enquanto eu, a minha sogra e a minha tia mantínhamos uma conversa animada, mesmo que, na maioria das vezes, eu não entendesse muito bem das piadas internas que elas tanto faziam.

Mas eu não pude deixar de perceber, a noite inteira, o quanto a minha sogra parecia genuinamente feliz, como, eu ouso dizer, nunca havia visto.

A tia Ella parecia ter sido realmente a amizade que ela precisava no momento.

Seus olhos brilhavam de uma forma diferente, elas pareciam compartilhar de um humor único, e, é claro, a tia Ella simplesmente sabia fazer piadas bem feitas.

— Vamos? — Addison sussurrou para mim em certo momento, depois da nossa terceira taça de vinho após a sobremesa e eu assenti.

A ruiva quitou a conta e nós nos despedimos, marcando um jantar na casa da minha sogra para a quarta-feira.

Addison se manteve calada por todo o percurso do restaurante até a nossa casa, e, então, o nosso quarto.

Ela suspirou, tirando os seus sapatos ao entrar no closet e eu a segui, ficando por trás dela e a ajudando a tirar o seu blazer.

— Tudo bem, Addie? — Indaguei, preocupada com o seu silêncio.

Ela murmurou uma resposta positiva.

— Péssima mentirosa. O que houve?

Ela suspirou.

— Só eu que acho estranha essa aproximação repentina da minha mãe com a doida da sua tia? — Ela falou se virando para mim, mas pareceu se dar conta de algo assim que fechou os lábios, enquanto seu cenho franzido e o seu olhar se tornava mais ameno — Eu... Não quis dizer... Inferno, Meredith, eu não quis...

— A tia Ella é mesmo doida — Falo dando de ombros — Sempre soube que você não se daria tão bem com ela, vocês são completamente opostas. E não de uma forma boa. Isso não é novidade pra mim. Mas... O que você acha estranho?

Ela suspirou, apoiando as mãos na sua cintura, enquanto eu desabotoava a sua camisa.

— Não sei, elas só... Não me parece uma amizade normal.

— Entendi. Bem, não sei se ajuda saber que a tia Ella possui uma queda imensa pela sua mãe.

— Você acha que eu não percebi? Isso é simplesmente ridículo! — Ela murmurou em uma carranca, bufando irritada.

— Oh, o bebê da mamãe está com ciúmes? — A provoco, fazendo uma voz de bebê, enquanto ria. Ela bufou irritada.

— Não seja ridícula, eu sou uma mulher de trinta anos, não preciso ter ciúmes da minha mãe!

Eu ri, interpretando tudo que ela havia dito como simplesmente: eu sou uma mulher de trinta anos e estou com ciúmes da minha mãe.

— Addie, é apenas uma quedinha. Isso é normal!

— Pra você, talvez, realmente seja, afinal a sua melhor amiga não possui somente uma queda por você e todos sabem disso. — Ela murmurou de forma amarga, me fazendo revirar os olhos.

Suspiro, a secando com um olhar de desaprovação.

— Não quero falar sobre isso, obrigada. E esse assunto não tem nada a ver com a tia Ella e a minha sogra.

Ela suspirou, ainda com um bico lindo nos lábios.

— Desculpa.

— Ok — Murmurei tirando a sua camisa e me deparando com um sutiã de renda azul marinho. — Agora banho, porquinha! Vou pegar mais do nosso sorvete lá embaixo. — Murmuro, depositando um beijo terno no bico em seus lábios.

Addison se encaminhou até o banheiro e eu fui até a cozinha. Pedi o sorvete para Helm, pois Miranda já havia ido embora e não recebi sequer um olhar nos olhos da loira.

Ela parecia constrangida, e eu igualmente ao lembrar-me da cena a qual ela havia presenciado mais cedo. Por isso, não me estendi em puxar algum assunto com ela, apenas a agradeci pelo sorvete e a desejei uma boa noite e bom descanso, a dispensando.

Subi novamente até o meu quarto, sentindo os meus pés doerem pela troca de sapatilha que eu havia feito pela noite para treinar. Isso era sempre um problema, e sempre acabava me machucando.

Por isso, assim que adentrei o quarto, tirei os meus saltos, massageando cada um dos meus pés, sentindo os calos e a tensão sobre os meus dedos.

Addison adentrou o centro do quarto no mesmo momento, com os cabelos presos em um coque bagunçado, vestindo um baby doll preto que deixava as suas coxas torneadas completamente à mostra e mal cobria a sua bunda.

— Pode ir colocando a série. Vou tomar um banho rápido — Falei entregando-a o pote de sorvete e as colheres.

— Vou tomar tudo sem você — Ela falou se sentando na cama.

— Faça isso e irá assinar a papelada do nosso divórcio amanhã.

Ela sorriu e eu me dirigi até o banheiro, tomei um banho rápido, pois eu havia tomado um antes do jantar e vesti uma camisola de seda azul marinho.

Sentindo os meus pés arderem em dor, me sentei na cama ao lado de Addison, que deu play na nossa série.

— Ah, meus pés estão me matando — Murmuro, me aconchegando em seu ombro, deitando a minha cabeça ali, abrindo o pote de sorvete.

— O que aconteceu?

— Troquei as sapatilhas. Elas vão demorar a se ajustar aos meus pés. Tinha esquecido como dói essa coisa chata de moldar a sapatilha aos pés.

— Encoste aqui — Ela falou apoiando a minha cabeça nos seus travesseiros e abriu a sua gaveta, tirando de lá um óleo corporal.

Sorri ao vê-la se sentar na ponta da nossa cama e colocar o meu pé esquerdo na sua coxa, depositando um pouco de óleo na sua mão e passando-o nele, fazendo-me rir no mesmo momento pelas cócegas causadas pela sua tamanha delicadeza.

— Ok, Addie, pode ser menos delicada aí, ok?

Ela me fez cócegas novamente e eu puxei o meu pé fortemente, gargalhando.

— CHATA!

Ela sorriu, puxando a minha perna novamente para si e passou a massagear o meu pé com mais firmeza, me arrancando um gemido de satisfação logo em seguida.

Céus, ela realmente havia aprendido a fazer massagem!

— Estou começando a acreditar naquilo que dizem sobre as mulheres mais gostosas serem donas dos pés mais feios do mundo — Ela murmurou tão baixo, que se eu não estivesse concentrada em todos os seus movimentos, eu não teria como ter ouvido.

Levantei o meu tronco em surpresa, abrindo os meus lábios em um perfeito O e a joguei um travesseiro, sentindo-me espantada e indignada pela sua descaração.

— Meu pé não é feio! — Exclamo irritada, fazendo um bico — É um pé normal! Tem alguns calos, é claro, mas o que você espera de uma bailarina?

— Se você diz... — Ela falou segurando um sorriso.

— Addison Montgomery! Meu pé não é feio! — Murmuro chateada, mesmo sabendo, um pouco, que o meu pé estava longe de ser digno de capa de uma revista de pés.

— Ok, mas o seu segundo dedo é um pouco torto. Não estou reclamando, é até mesmo... Fofo.

Addison Montgomery havia realmente falado a palavra "fofo"?

Faço um bico, fazendo menção de chutá-la com o meu pé.

— Chata! Meus pés não são lindos e dignos de uma capa de revista de pés, mas são pés normais!

— Pés normais feios. Acho que você ganharia o prêmio de menor pé mais feio do mundo.

Chuto o seu braço, fazendo-a rir.

— Quanto você calça mesmo?

— Não é da sua conta, chata! — Murmuro, me deitando novamente.

— Se você falar eu prometo parar de ser chata.

— Mesmo? — Pergunto elevando o meu tronco novamente.

— Humrum — Ela murmurou assentindo.

— Ok, trinta e cinco. Satisfeita?

A vi, devagar, morder o meu lábio inferior segurando firmemente uma risada e, aos poucos, suspender a sua mão que estava escondida atrás de si, com os dedos cruzados.

Ela mentiu para mim.

Addison riu.

— Você compra os seus saltos na sessão infantil? Ou manda fazer? Ou há um mundo inteiro de sapatos pequenos para mulheres de pés feios pequenos?

— Ridícula! — Exclamei irritada, a jogando outro travesseiro com força e chutando a sua perna ainda mais fortemente — Mentirosa! Salafrária! Agora cale essa boca e faça essa massagem direito.

— Você não está em posição de exigir muita coisa com esse pé esquisito — Ela murmurou suspendendo o meu pé para estender a massagem até as minhas pernas, e eu sorri ao sentir um beijo leve ser depositado no meu pé.

— Humm, de todas as partes do meu corpo as quais já imaginei você beijando, meus lindos pés não estavam sequer na lista.

Pude senti-la sorrir.

— Isso quer dizer que você me adora tanto ao ponto de literalmente beijar os meus pés? — A provoco, recebendo um bufar seu.

— Você quando está calada é a mulher mais incrível do mundo.

— Humm, mas quando eu abro a boca, sou a mulher mais incrível da sua vida — Me vanglorio, fechando novamente os meus olhos e passando a aproveitar mais daquele carinho.

— Não vá trabalhar de salto até que você se acostume com as sapatilhas — Ela praticamente me ordenou e eu dei de ombros.

— Humm, ok, faço tudo que você quiser se estender essa massagem para as minhas costas.

— Será cobrado um total de três beijos e cinco colheres de sorvete.

— Por que mais sorvete e menos beijos?

— Estou valorizando a sua moeda e você realmente está reclamando?

Eu ri, a puxando para mim e abri as minhas pernas, para que ela se encaixasse entre elas e as nossas bocas finalmente se encostassem.

— Não me importo que a minha moeda seja desvalorizada e eu precise pagá-la com muito mais beijos, esposa.

Ela sorriu, assentindo e murmurando: um "bom saber", antes de me beijar intensamente.

— Acho que podemos deixar a massagem para amanhã — Sussurro para ela, adentrando a blusa do seu baby doll com as minhas unhas — Pensei em uma coisa muito mais interessante.

— Humm, eu também, muito mais interessante.

Sorrio, mordendo o meu lábio inferior ao sentir os seus lábios traçarem o caminho tão bem conhecido por ela até o meu pescoço.

— Acho que será muito interessante testar o que a minha sogra me indicou hoje — Ela murmurou, mordendo levemente o nódulo da minha orelha.

— Estranho... Pela primeira vez na vida eu não sinto vontade de matar você por misturar sexo e a minha mãe em uma só frase.

Ela riu ao meu ouvido e eu sorri, puxando a blusa do seu baby doll.

— Agora, por favor, tire o seu short e a sua calcinha — Sussurro para ela, traçando a minha língua pelo seu pescoço e fechando os meus olhos no mesmo momento em que a ouvi suspirar ao meu ouvido.

A ruiva se sentou sobre a minha cintura e eu mordi o meu lábio inferior ao observar os seus seios completamente expostos diante de mim.

Segurei firmemente nas suas nádegas, as apertando contra mim e recebendo um sorriso travesso de volta.

Sorri ao senti-la segurar o meu pescoço com certa força e fechei os meus olhos, sentindo a situação entre as minhas pernas já completamente arruinada.

— Não vamos precisar tirar a minha roupa, querida — Ela sussurrou entre os meus lábios e, sem me dar tempo de resposta, puxou a minha camisola para cima em um único movimento, sendo ajudada por mim para que o pano fosse para longe do meu corpo e se afastou de mim rapidamente, me virando de lado na nossa cama, deixando-me de costas para si.

As suas mãos rapidamente deram à minha calcinha o mesmo rumo da minha camisola e, sem que eu esperasse, Addison levantou uma das minhas pernas, apoiando na sua cintura e passou o seu outra mão por debaixo de mim, me invadindo com força.

— Merda... Addison! — Murmurei baixo um praguejo ao seu nome após um gemido alto e segurei firme no seu pescoço atrás de mim, o arranhando sem qualquer tipo de delicadeza, enquanto os seus lábios se perdiam no meu pescoço inteiramente livre para ela.

Addison mordeu, chupou e traçou-o com a sua língua enquanto eu apenas conseguia gemer o seu nome conforme os seus dedos me adentravam com intensidade.

A sua outra mão rumou para a minha bunda completamente empinada para si e a apertou contra si com força, me fazendo fechar os olhos para apreciar a sensação diferente que aquela posição me proporcionava.

Quando um tapa firme, mas de pouca intensidade foi depositado sobre aquele local, eu senti como se pudesse desmaiar ali, naquele exato momento, enquanto um gemido nada delicado escapou dos meus lábios e eu puxei os seus cabelos com tanta força, que a ouvi gemer contra o meu pescoço:

— Puta que pariu — Ela sussurrou ao meu ouvido.

— Addie... Addie... Faça... de novo.

Ela suspirou, gemendo baixo ao meu ouvido.

— Foda-se — Ela sussurrou — Foda-se essa merda de posição. Eu preciso muito de você de quatro para mim, Meredith.

Fechei os meus olhos com força ao sentir a intensidade presente na rouquidão da sua voz.

Addison parecia... Desesperada.

Eu me virei, rapidamente tomando aquela posição e joguei os meus cabelos apenas para um lado, para que não bloqueassem a visão que eu gostaria de ter da minha esposa atrás de mim, seminua, me invadindo com força e brutalidade enquanto derramava uma quantidade exorbitante de palavrões.

— Por favor — Sussurrei para ela, mordendo o meu lábio inferior e a vi, literalmente, estremecer.

— Não faça isso comigo... Porra, Meredith! — Ela sussurrou, se ajoelhando atrás de mim e puxando a minha nuca pelos meus cabelos, me invadindo novamente com força.

— Faça de novo... Addie... De novo, por favor.

Ela acertou outro tapa na minha nádega esquerda e eu gemi alto ao sentir o queimar e a dor quente daquele ato se transformar, aos poucos, em um prazer tão intenso, que precisei cravar as minhas unhas contra o nosso lençol, enquanto passava a me movimentar contra os seus dedos com ainda mais força.

— Porra — Ela sussurrou, beijando as minhas costas com um desespero que apenas me deixou ainda mais ensandercida por ela e por todo aquele momento.

— Addie... Eu preciso... Preciso beijar você — Sussurrei, virando a minha cabeça para encontrar os seus lábios que, pela posição, não se encaixaram aos meus completamente.

Mas eu não ligava para nada daquilo. Eu apenas precisava senti-la.

A ruiva enrolou os meus cabelos no seu braço livre e os puxou com força para si, me fazendo gemer descontroladamente para si por, surpreendentemente, já me sentir mais próxima do que nunca do meu clímax.

— Addie... Eu vou...

— Sim... Sim, querida — Ela sussurrou, chupando as minhas costas com força.

A ruiva passou a me estocar com ainda mais força e rapidez e eu, sem conseguir mais me segurar, me desfiz completamente para ela em um orgasmo violento contra o seu corpo atrás de mim, gemendo alto apenas o seu nome e me sentindo a mulher mais... Adorada do mundo ao senti-la beijar inteiramente as minhas costas, de maneira desesperada, como se realmente precisasse me ter por completo para si.

E ela me tinha.

E eu fiz questão de demonstrar isso para ela nas outras duas vezes em que ela se propôs a fazer o meu corpo se desmanchar para si novamente, ainda naquela posição, enquanto ignorava por completo o desconforto daquela posição para beijá-la de maneira intensa em todas elas, gemendo incansavelmente contra os seus lábios.

Desabei sobre os nossos lençóis, sentindo a ardência deliciosa queimar as minhas nádegas e um beijo terno ser depositado no topo da minha cabeça. Utilizando do pouco de forças que me restavam, puxei-a pelo seu braço para que se deitasse em cima de mim e, apenas quando senti o seu peso, fechei os meus olhos, suspirando pesado enquanto acariciava o seu braço.

— Falhamos no teste — Sussurrei, sorrindo preguiçosamente — Eu estou incrivelmente exausta.

— Eu tenho uma ótima memória e, em caso de falha dela, uma ótima sogra.

Eu ri, depositando um tapa fraco no seu braço.

Nós passamos alguns minutos ali, naquela posição, respirando pesado juntas, até que a ruiva depositou um beijo terno no meu pescoço, sussurrando:

— Não precisamos deixar a massagem para amanhã.

Sorrio, assentindo.

— Ok, mas eu não quero tomar banho, estou com sono — Murmurei, ainda de olhos fechados.

A ruiva se sentou sobre as minhas nádegas e começou a passar o óleo sobre as minhas costas, massageando-as da maneira firme e delicada a qual ela havia aprendido a fazer.

Com um suspiro pesado e um gemido de satisfação, eu comecei a me entregar ao cansaço sem sequer perceber, para emergir a um sono tranquilo e pesado, enquanto sentia as melhores mãos do mundo me massagearem com carinho e ternura que apenas ela sabia possuir.

E como eu amava me sentir... Cuidada por Addison daquela maneira e naquela intensidade.

...

Três dias depois;

— Meredith, que bom que chegou! Estou à beira de um surto iminente. — Rachel me cumprimentou na porta da sua casa com dois beijos na bochecha e um riso que eu identifiquei como um misto de desespero e divertimento.

— Olá, Rachel, o que aconteceu? — A indago, não conseguindo deixar de observar a roupa em que ela vestia.

Nada além de um robe preto de cetim com alguns detalhes em renda e transparente nas mangas. Curto, bonito e que caía perfeitamente bem ao seu corpo tão bem definido.

Senti uma ponta de inveja me incomodar intensamente no fundo de algum lugar dentro de mim, e senti ainda mais raiva de mim por estar sentindo aquela coisa que eu tanto desprezava sentir.

— Estou em crise quanto a roupa que vou usar amanhã. Venha, por favor. Carmen, traga uma taça de vinho no meu quarto para a senhora Montgomery, por favor. — Ela pediu carinhosamente para a empregada que havia me recebido e me acompanhou por um corredor extenso da sua casa a qual eu sequer consegui prestar atenção direito. — A Isa foi dormir na casa de uma "amiga" hoje — Ela falou se virando e me lançando uma piscadela — Se é que me entende. Ela me diz que elas são apenas amigas, mas as mães sentem toda essa coisa no ar.

Eu sorri, assentindo.

— Imagino. Você a teve sozinha? Digo... A criou sozinha?

— Ah, não. Há uma outra mãe. Lorraine. Ela mora em New Jersey atualmente. Estamos divorciadas há seis anos. Ela é uma boa mãe, Isa adora ela. Acho que até mais do que a mim. É a mãe do sempre sim mas às vezes um não com pedido de desculpas. Uma chatice.

Ela riu e eu sorri, realmente interessada naquela história resumida.

— Ok, você é a primeira mulher que eu trago para o meu quarto sem segundas intenções. Deveria pedir por um prêmio. — Ela falou abrindo a porta do cômodo e me dando passagem.

Eu ri, fazendo uma careta.

— Realmente, mas apenas se me for entregue pela futura prefeita da cidade de New York.

Ela bateu continência e eu sorri, adentrando o seu quarto.

Era uma quarto de tamanho médio, que possuía uma imensa cama King no centro e era inteiramente decorado em tons de azul marinho, cinza e branco.

Uma imensa parede de vidro, onde era possível ver todo o centro da cidade completamente iluminada pela noite era o maior destaque do seu quarto, além de inúmeras fotografias num painel de TV imenso que estava localizado de frente para a sua cama.

Resolvi parar de os observar no momento em que ela fechou a porta, pois não era muito educado da minha parte o fazer.

— Pode vir, Meredith. Por favor, ignore o caos — Ela me guiou até o seu closet e eu me senti estremecer em agonia, ao ver inúmeras roupas espalhadas pelo puff que havia ali, além de outras pelo chão, sapatos e bolsas da mesma forma. — Eu realmente não sei mais o que fazer.

— Ok, primeiro o vinho — Falo ao observar a sua governanta adentrar o quarto depois de bater, trazendo duas garrafas de vinho em um balde de gelo. — Uau! Muito vinho!

Rachel sorriu, fazendo uma careta.

— Você por um acaso vai mudar o seu voto depois que me ver completamente bêbada hoje? Eu realmente preciso literalmente injetar álcool nas minhas veias para tentar aliviar o meu estresse e ansiedade.

— Apenas se me prometer que amanhã estará completamente impecável para a sua vitória.

— Sempre, querida. Sempre — Ela respondeu me lançando uma piscadela animada e serviu a minha taça, eu bebi o vinho, sentindo o gosto seco diferente em meus lábios.

Era óbvio que até o seu gosto para vinhos era ótimo.

Qual deveria ser o defeito daquela mulher? Se é que ela possuísse algum.

De relance, encarei os seus pés.

Droga, até mesmo nisso ela saía vencendo.

Eram pés dignos de capa de revista de pés.

— Ok, vamos começar — Falei tomando um bom gole do meu vinho para aliviar a ponta de inveja que me atingiu.

— Fique a vontade — Ela falou se jogando por cima da pilha de roupas no puff e eu suspirei, começando a passear pelos seus armários.

— Nós estamos buscando...

— Um pouco de delicadeza. Mas nem tanto. Vestidos não são uma opção.

— Imaginei — Murmurei me dando conta de que o seu armário era basicamente uma imitação do de Addison: havia mais terninhos e calças do que vestidos e saias. — Ok... Que tal começarmos pelo cabelo? Você prefere que ele esteja preso ou solto?

— Não sei... Oh Deus, eu realmente não sei de nada!

— Acho que um coque baixo pode funcionar. Tendo isso em mente... — Mordi o meu lábio inferior, passando entre as suas roupas, uma por uma. — Não queremos cores escuras. Por mais que elas passem certo tipo de poder, são um pouco carregadas demais e podem passar a mensagem errada para a população. Queremos... Que você carregue... Tranquilidade. Então branco é a nossa pedida. Agora... O que acha dessa saia? — Tiro uma saia branca e social midi que possuía uma fenda ao lado, um pouco menos ousada, mas ainda carregava a essência de Rachel.

— Humm, não, acho que não.

— Ok — Guardei-a no lugar, passeando novamente pelo closet. — Calça?

— Qual?

Mordi o meu lábio inferior, escolhendo uma slim preta. Ela negou com a cabeça. Passei para as de alfaiataria, que também não me agradaram e muito menos a ela.

— Estou começando a ficar depressiva, Meredith.

— Iremos encontrar, eu prometo. E se não for aqui, iremos em uma loja amanhã bem cedo.

— A sua tranquilidade me inveja — Ela murmurou suspirando — Na verdade, tenho inveja de você por inteiro.

Eu ri pela ironia que era aquele comentário.

— Inveja de quê, exatamente? Não há nada em mim que não seja melhor em você. Você é perfeita — Falo dando de ombros, tomando outro gole generoso do vinho, secando a taça. Rachel me estendeu a garrafa.

— Uma minha e uma sua?

— Eu não posso ousar ficar bêbada em uma quinta-feira à noite. E muito menos você, madame prefeita.

Ela riu.

— Bem... Eu já estou bêbada desde às três da tarde, querida. Estou meio que acostumada a fingir estar sóbria. Conviver com pessoas como o atual prefeito me obriga a manter a minha adega funcionando.

Ela se levantou, enchendo a minha taça com mais vinho do que o usual.

— Humm, entendo bem. Não posso descontar tudo que eu sinto na bebida, porque aí sim eu estaria realmente arruinada — Murmuro suspirando, elevando a minha taça para brindar com ela — Ao seus próximos quatro anos pisando sobre a Gracie Mansion de Louboutins pretos.

Ela gargalhou, realmente visivelmente bêbada e eu sorri, vendo-a se sentar no puff novamente.

— Realmente eu não vejo a hora de poder me mudar para lá. Mas vou precisar, é claro, fazer uma dedetização na casa.

— Por favor, troque a cama do quarto presidencial.

Ela riu.

— Ah, eu vou, ah se vou. Mas não é como se ela fosse muito usada por ele para o que você está pensando.

Sorrio, lembrando-me da fofoca catastrófica que Addison havia me contado sobre Rachel e a esposa do atual prefeito.

— Posso perguntar como você sabe disso?

Ela mordeu o seu lábio inferior, cerrando o seu olhar.

— Vai fingir para mim que você não sabe?

— Bem, eu sei ser muito discreta — Falei me sentando ao seu lado.

— Por isso tenho inveja de você.

Revirei os meus olhos, sorrindo.

— Quando começou isso?

— Há dois meses. Eu sei, eu estou brincando com fogo. Mas nunca tive medo de me queimar.

— Rachel... Sabe que se o público descobrir isso...

— É, eu sei. — Ela suspirou — Ela não é assumida e nem vai se assumir. E nós apenas estamos transando, e transando horrores!

Eu gargalhei, negando com a cabeça.

— Não imaginei que você fosse tão...

— Lésbica? Ah, sim, eu sou, e muito.

— Eu ia dizer rebelde.

— Não é sobre isso que o lesbianismo é? — Ela comentou, mordendo o seu lábio inferior. — Até hoje eu sou a decepção da família. Tenho três diplomas, um doutorado, falo quatro línguas, já conheci mais de vinte países e estou prestes a me tornar prefeita da cidade mais famosa do país e ainda sou a vergonha dos meus pais por de chupar vaginas.

— Concordo com eles, esse é o maior ato de rebeldia do mundo inteiro! Vamos voltar ao conservadorismo! — Comento rindo, ela me acompanhou.

— Ok, qual foi o seu maior ato de rebeldia no mundo inteiro? — Ela me indagou, se deitando no chão.

— Me tornar professora após quebrar todas as expectativas da minha família com a advocacia.

— Você é tão certinha!

Gargalhei, me sentando no chão junto a ela, antes tirando os meus saltos.

Rachel encheu a minha taça novamente.

— E o seu?

— Transar com a amante do meu pai no escritório dele. Ou seduzir o amante da minha mãe apenas para que ela visse o quanto ele era um canalha. Não sei. Mas também transar com a esposa do meu maior rival... Bem, eu estou soando como uma ninfomaníaca.

Meus lábios formaram um perfeito O, e, sem conseguir me aguentar, eu gargalhei.

— Transou com a amante do seu pai?

— Humrum, em cima da mesa dele. E fiz questão de gemer o mais alto que eu pude para que todo o escritório ouvisse. Me arrependo apenas de não ter filmado a reação dele ao saber, às vezes as expressões dele fogem da minha mente.

— Ok, você definitivamente venceu.

— Obrigada — Ela estendeu a sua mão, me oferecendo um high-five.

— Posso perguntar uma coisa? — Indago, mordendo o meu lábio inferior.

— Claro, qual a outra podridão você vai querer saber? Que eu já transei com a minha professora de literatura no segundo ano do ensino médio?

— Ok, não, definitivamente não, mas... Literatura?

— Ah, sim, ela sabia recitar uma peça inteira do Shakespeare. Não dava para resistir. E eu tinha um certo lance com mulheres nerds. Passou. Mas faça a sua pergunta.

— Qual foi o melhor sexo da sua vida? — A indago, esperando e não esperando ao mesmo tempo ouvir o nome da minha mulher.

— Humm, você quer sinceridade?

Suspiro. Não. Não queria.

— Sim.

— A desgraçada da minha ex-mulher. Infelizmente.

Solto todo o ar preso nos meus pulmões, um pouco surpresa com a sua resposta.

— Você... Uau. Eu deveria esperar isso, afinal vocês foram casadas, mas... Uau.

— É. Mas o que você esperava?

— Nada, não esperava...

— Ah, entendi. Você quer saber se o sexo com Addison foi o melhor sexo da minha vida. O segundo melhor, talvez. Digo... Ela é... Uh — Ela suspirou, mas pareceu entender o olhar que eu a lancei — Mas enfim. Sexo é sobre conexão, eu acredito. Não sei... O que eu tenho... Tive com a Lory... — Ela suspirou.

— Você ainda a ama — Constato, sorrindo.

— Ok, pode ir parando, Isabela dois ponto zero! — Ela falou negando com a cabeça — Não a amo.

— Ama. Você a ama. Seus olhos brilharam ao falar o nome dela. Você a ama.

— Ok, você é chata!

— E você ainda ama a sua ex-mulher. Por que se separaram?

— Porque eu a traí. É, é isso, eu sou uma adúltera. Pode ir embora se quiser. A nossa amizade acabou, não é? Meu Deus, como eu quero me tornar prefeita de uma das maiores cidades do mundo sendo uma adúltera filha da puta? Deus!

— Ok, chega de surtos — Murmurei, tirando a sua taça das suas mãos ao percebê-la ficar mais agitada. — Como é a relação de vocês?

— Esquisita — Ela suspirou — Muito esquisita. Nós nos entendemos de uma forma estranha. Quando se trata da Isa, somos as melhores pessoas do mundo. Mas não conversamos sobre nada além da nossa filha. Nem sequer cumprimentos usuais como "bom dia" ou "olá, ex-esposa que por acaso é o melhor sexo que já tive na vida mesmo tendo transado duas vezes com Addison Mont..." ok, falei demais.

Eu suspirei, engolindo o meu ciúmes tão intensamente, que precisei fechar os meus olhos para me concentrar em não destilar nenhum tipo de sentimento ruim para Rachel.

— Mas... E você? Seja sincera... Addison é realmente o seu melhor sexo? — Ela me indagou, franzindo os olhos.

— Sim — Respondo entre um suspiro — Definitivamente.

— Então ela é o amor da sua vida. Você tem sorte.

Suspiro, mordendo meu lábio inferior.

Ela estava certa. Pelo menos sobre a sua primeira afirmação. Quero dizer... Addison é o amor da minha vida? Eu realmente não sabia disso, mas...

Meredith, não entre aí!

— É, talvez. Mas isso quer dizer que a Lorraine é o amor da sua vida.

— Eu não disse isso! — Ela exclamou irritada.

— A sua comparação foi óbvia. Por que não aceita logo isso?

— Acha mesmo que eu quero passar a minha vida sofrendo por uma mulher que já está em outra há tempos?

— Ela tem outra?

— Humrum, a Penélope perfeitinha. Insuportável. — Ela murmurou revirando os olhos — Elas vivem pateticamente felizes em New Jersey.

— Você merece a taça de volta — Falei entregando-lhe a taça de vinho, antes enchendo-a novamente. — Um brinde aos amores não correspondidos — Falei entre um suspiro, erguendo a minha taça.

— Obrigada por fingir saber o que é isso apenas para que eu não me sinta petética demais.

— De nada, eu acho. — Comentei, tentando disfarçar a queda iminente do meu humor. Afinal, do que eu tinha que reclamar, não é? Eu possuía uma esposa extremamente apaixonada por mim.

Esse pensamento me fez desejar revirar os meus olhos em um sentimento intenso de amargor que me invadiu naquele momento.

— Queria ter alguém que me olhasse do jeito que Addison olha para você. Eu seria, definitivamente, monogâmica para o resto da minha vida. Isso é uma promessa.

Sinto vontade de rir em ironia, mas apenas sorri falsamente.

— Se eu arranjar essa pessoa para você colocando uma plaquinha nas suas costas, eu e Addison temos o direito de ser madrinhas do seu casamento?

— Tudo que você quiser, madrinha.

Nós rimos juntas e ela se levantou, ficando sentada ao meu lado, tomando um bom gole do seu vinho.

— Um macacão! — Exclamo animada ao lembrar daquela peça de roupa — É isso! Você tem algum em mente no armário?

— Talvez... Ali — Ela apontou para o canto esquerdo. Eu corri até lá e passei a observar as peças entre os cabides, enfim encontrando um branco tomara que caia com um desenho na parte dos seios.

— ISSO! Ah, Meredith, você é o meu anjo!

Eu sorri, dando de ombros.

— Eu sei, sou a sua salvação.

Ela riu.

— Realmente não sei de onde tiraram a ideia de que você é a mulher mais "sem sal ou açúcar" que Addison já se relacionou. Como eu odeio a mídia! Na verdade... Não a mídia, e sim aquela cobra da Jane Foster.

— Calma... Sobre o que você está falando? — Pergunto confusa, ela franziu o cenho.

— Você não viu? — Ela me indagou parecendo surpresa.

— Não vi o quê?

Ela suspirou, pegando o seu celular e abrindo algo nele, apontando-o para mim logo em seguida.

Senti o meu coração pular do peito ao ver uma foto de Addison tirada por paparazzis em uma matéria com a seguinte legenda:

"Top dez melhores "affairs" da Juíza mais gostosa de todos os tempos"

Suspirei, me indagando internamente se eu realmente iria me submeter a ler aquilo, já sabendo o que me esperava.

Mas, sem conseguir me parar e evitar todo o circo de horrores que eu sabia que iria me meter, abri aquela matéria, observando as fotos de Addison escolhidas para ela.

Nenhuma foto autorizada. Aquela revista estava realmente arruinada nas mãos da equipe jurídica da minha mulher.

Respirando fundo, comecei a ler tudo que a jornalista, Jane, havia escrito.

"Não é novidade para ninguém que a nossa tão adorada meritíssima Addison Montgomery é alvo de todas as teias de fofocas desde a sua aprovação como juíza no tribunal superior de New York. Mais ainda por ser uma pessoa tão reservada — Adicionem várias exclamações ao reservada — e, no início desse ano, simplesmente aparecer casada com uma total desconhecida — Exclamações ao desconhecida. Mas o que alguns podem chamar de história de amor verdadeiro, eu chamo de oportunismo, mas isso, meus caros leitores, é conversa para outra matéria bem quentinha que estou preparando para vocês."

Me senti estremecer apenas com a menção àquela promessa.

"Mas hoje a minha missão será ignorar completamente esse casamento sem sal nem açúcar e relembrar de todos os nossos delírios com os melhores affairs da nossa querida Meritíssima. Sendo, alguns deles, não confirmados, mas que mesmo assim conseguem ser melhores do que o seu atual casamento — De nada, ok?"

— Meredith... Tem certeza que quer ler isso?

— Sim, eu tenho — Respondo, sentindo a raiva começar a borbulhar dentro de mim.

A lista estava ranqueada de décima para a primeira. E quem era a décima? Eu, é claro.

Assim que a minha foto de perfil do Instagram apareceu diante de mim com a décima posição, eu senti algo parecer queimar a minha garganta.

Mas, ao ler todas as minhas características destacadas por aquela mulher, eu realmente senti o meu peito arder.

"Em décimo lugar temos a rainha do nada. Ok, sei que há aqui muitos "meddison" fãs, e por isso alguém precisa colocar vocês exatamente no lugar onde vocês pertencem: no hospício. Porque, sendo sincera, ver alguma coisa entre essas duas é, no mínimo, esquizofrenia. Por Deus... Cadê a atração sexual? A paixão e a devoção que vocês tanto enxergam? Hello! A nossa rainha do nada é nada menos do que nada. Uma bailarina branca, loira, padrão e, pelas descrições nos oferecidas, completamente ingênua e boazinha demais para o meu gosto. Sem contar na discrepância que há dessa mulher ao lado da nossa ruiva favorita. Simplesmente não há harmonia. Baixa demais. Loira demais. Branca demais. Boazinha demais e... Vamos combinar, básica demais. Ok, tudo bem, agora eu posso estar começando a pegar pesado. Mas eu realmente me irrito tanto ao ver a nossa juíza favorita, de, simplesmente, um metro e oitenta de altura, escolher uma mulher tão sem sal e sem açúcar — Completamente sem gosto, e eu nem preciso provar — ao invés de... Ah, sei lá, HELLO, EUZINHA! E vamos combinar... Bailarina? Com aquele corpo? Eu já contei mentiras melhores... Bem, então este é o meu veredito final: Meredith — Afinal, um nome tão sem personalidade, assim como ela — é nada além de um nada. E eu realmente estou louca para descobrir os motivos por trás da escolha da nossa rainha dos tribunais por essa baixinha sem sal. Enfim, nota zero vírgula cinco, porque zero é realmente muita humilhação — Mesmo que eu ache que ela mereça."

Limpei rapidamente a lágrima solitária que caiu dos meus olhos e rolei a página, vendo a foto de uma modelo extremamente magra, alta e morena depois de mim.

Rachel estava em segundo lugar. Dita como a mulher mais gostosa que Addison havia tido algo. Características como seu corpo, seu gosto por moda, seu caráter, sua cor da pele, seu cabelo, a sua altura e até mesmo a sua arcada dentária foram extremamente elogiadas.

Mas, em primeiro lugar, estava Charlotte King.

E eu senti algo nada bom me tomar ao ver a sua foto.

Mais uma loira, magra, com os cabelos cortados na altura do ombro, um sorriso ousado e pele bronzeada. Ela era modelo. E foi o caso mais duradouro de Addison.

Cansada de ler tudo aquilo e sentindo-me a pessoa mais ridícula do mundo, bloqueio a tela do celular de Rachel, entregando-lhe a seguir.

— Meredith... Não ligue para as coisas que essa maluca escreve. Absolutamente ninguém liga para ela. Você é...

— Estou bem — Murmuro, em um fio de voz — Apenas preciso ir, Addison está me esperando para o jantar — Minto.

— Meredith... Droga, eu não deveria ter mostrado nada! — Ela se levantou, me seguindo pelo quarto, enquanto eu caminhava até uma poltrona para pegar a minha bolsa.

— Eu veria de qualquer forma. Obrigada pela noite, nos vemos amanhã — Murmuro, saindo do seu quarto, sem deixá-la me impedir. Cumprimento a sua governanta rapidamente, saindo do apartamento e me dirigindo até o elevador, apertando com força o botão.

Ele abriu as portas instantaneamente e eu entrei, sentindo a dor na minha garganta se agravar conforme o choro em que eu segurava se tornava ainda mais intenso.

E, por mais que eu desejasse que eu estivesse daquela maneira porque li tudo aquilo de uma jornalista qualquer, eu sabia que aquela dor era muito mais intensa do que eu poderia explicar.

Desde as descrições sobre o meu corpo até a minha personalidade, cada uma delas, cada pequena parte do meu ser criticada por aquela mulher foi o que eu ouvi a minha vida inteira do homem que se denominava meu pai.

A minha vida inteira.

Branca demais. Baixa demais. Loira demais. Esquisita demais. Corpo desproporcional demais e, por muito tempo, gorda demais. Mesmo que eu pesasse menos do que todas as garotas esbeltas que ele me comparava.

Mesmo que eu passasse dias comendo apenas frutas. Ou provocando vômitos para expelir a comida que eu havia colocado para dentro para não matar as minhas mães de preocupação, ou não me matar de fome. Ou que passasse todas as minhas aulas sentindo a minha barriga roncar, e observar todos os meus colegas comerem, e comerem muito, enquanto eu apenas bebia água e torcia, rezava, implorava para ficar tão magra ao ponto de conseguir fechar a minha mão inteira sobre o meu braço. O dia inteiro. Quando criança. Desde os oito anos. Para emagrecer e me tornar bonita e digna do seu amor. Mesmo que eu estivesse muito longe de ser considerada uma criança acima do peso. Na verdade, era o completo oposto disso.

A verdade era que eu nunca havia sido o suficiente para ele.

E, pelo visto, não seria para ninguém.

Addison.

Por que infernos Addison estava casada comigo? Por que ela havia me escolhido? No meio de todas aquelas mulheres bonitas, magras demais e esbeltas demais. No meio de Charlotte King e Rachel. Por que? Por que? Por que?

Encosto a minha cabeça na parede do elevador, e apenas consigo apertar o botão para que ele parasse, antes de escorregar contra ela e deixar que o meu choro saísse da forma mais dolorosa o possível.

Anos de tentativas sucessivas para esquecer aquele pesadelo. Para esquecer o quanto eu literalmente me odiava e provavelmente para sempre me odiaria, tudo por causa dele. Tudo por causa da sua mania de querer me fazer perfeita.

Anos de coisas guardadas dentro do baú jogados para o ralo. Por causa de um texto de uma revista de fofocas qualquer, escrito por uma mulher qualquer, mas que havia me provocado feridas que ninguém seria capaz de provocar, pelo menos não tão profundas.

...

Eu não sei como consegui me recompor daquela crise, e sequer sei como consegui chegar em casa, ou como consegui cumprimentar Miranda e subir para o meu quarto.

Mas apenas sei que agradeci mentalmente por não dar de cara com Addison quando o adentrei. E tratei de me dirigir até o banheiro o mais rápido possível para me livrar de todo o vestígio do meu choro no banho.

Molhei os meus cabelos, sem me importar em secá-los e saí do banho muito tempo depois, vestindo uma camisola qualquer e uma calcinha qualquer.

Me deitei na cama e me cobri por inteiro, fechando os meus olhos e não conseguindo deixar de repetir todas as críticas daquela mulher na minha cabeça, de novo, de novo e de novo. Mas, dessa vez, com a voz dele.

A voz fria, baixa e manipuladora dele.

Por isso sequer percebi quando Addison adentrou o quarto, apenas percebendo a sua presença quando ela se sentou ao meu lado da cama e eu senti, enquanto mantinha os meus olhos fechados e a minha respiração controlada, os seus dedos acariciarem a minha bochecha.

Senti o meu coração arder assim que a quentura dos seus lábios se instalou em um beijo carinhoso contra a minha testa, e eu senti o espaço ao meu lado se tornar mais leve assim que ela se levantou.

Respirei fundo no momento em que ouvi a porta do closet se fechar e o cheiro do seu perfume se tornar mais leve sobre o quarto.

A parte minúscula dentro de mim responsável pela minha sensatez falava, mesmo que baixinho ao meu subconsciente, que eu estava sendo idiota por me indagar o porque Addison estava casada comigo, ou o porque eu não seria o suficiente para ela.

Mas, como sempre, essa parte foi completamente abafada pela voz do meu pai ao meu consciente repetindo todo aquele texto, misturado aos seus discursos sobre a minha altura, o meu corpo, os meus cabelos, os meus dentes e a minha profissão dos sonhos durante toda a minha infância.

Dentro desse show de horrores na minha cabeça foi onde a minha madrugada inteira foi passada, com Addison respirando levemente ao meu lado, com as suas costas em contato com as minhas, em um sono pesado.

As duas da manhã eu me levantei, prendendo os meus cabelos bagunçados e já secos em um coque mal feito e, me dirigindo até o closet, evitei me encarar diante do espelho, vestindo apenas uma roupa qualquer e me dirigi até o meu escritório, onde eu respirei fundo, diante da minha mesa e resolvi tirar tudo aquilo da minha cabeça da forma em que eu havia aprendido a fazer quando criança:

Organizando. Organizando milimetricamente para não pensar. Ordem, alinhamento e perfeição. Era disso que eu precisava para não enlouquecer com tudo aquilo

Por isso, comecei a retirar todos os meus livros das minhas estantes e a reorganizá-los por autor, tamanho e gênero.

O sol nasceu lá fora e eu sentia as minhas costas, os meus pés e o meu pescoço arderem em dor pelo esforço de subir e descer as escadas das estantes, mas, mesmo assim, eu não parei.

Nem mesmo quando ouvi batidas sutis na porta.

— Meredith? O que está fazendo? — Addison me indagou, parecendo extremamente preocupada, me segurando firme pela cintura no momento em que desci as escadas.

Afastei a sua mão dali rapidamente, em um ato completamente impulsivo, ao sentir-me, instantaneamente, completamente insegura com aquela parte do meu corpo.

"Não fina o bastante."

— Ei... O que aconteceu? — A sua voz se tornou mais calma, mas eu ainda não conseguia a encarar.

— Nada. — Respondo apenas, me virando novamente para a estante. As suas mãos tocaram a minha cintura de novo, e eu me afastei ainda mais rapidamente. — Não aconteceu nada. Perdi o sono, só isso.

— Meredith...

— Pode sair, por favor? Está tudo muito bagunçado aqui e muito empoeirado e...

— Não ligo para bagunça e muito menos poeira, posso saber o que deu em você?

— Nada. Eu já disse que nada.

Ouvi um respirar fundo seu, e me preparei para fazer mais um discurso mentiroso sobre estar bem que eu sei que ela não acreditaria, mas apenas recebi um:

— Tudo bem.

E a vi sair do escritório.

Soltei todo o ar preso em meus pulmões e respirei fundo, não me deixando pensar no quanto eu havia a tratado mal e no quanto ela não merecia nada daquilo e resolvi voltar para a minha organização.

Alinhar para deixar de pensar.

Era esse o meu remédio. E eu acredito que para sempre seria.

...

— Senhora Montgomery, bom dia! — Miranda me cumprimentou em um tom de voz animado, assim que eu desci o último degrau das escadarias.

— Bom dia, Miranda. Tudo bem?

Ela franziu o cenho, mas sorriu, assentindo e me indagando o mesmo, eu apenas assenti.

— Estou saindo... Sabe se Addison já...

— Estou esperando você para o café — A ruiva me assustou, respondendo a minha pergunta ao adentrar a sala de estar. Eu não precisei a encarar, pois o som dos seus saltos batendo sobre o piso me deixaram claro que ela estava se dirigindo até mim.

— Estou um pouco atrasada... Tudo bem para você tomar sozinha? — A Indago assim que ela parou diante de mim, com os cabelos minimamente ondulados, carregando uma feição cansada no rosto.

Ela suspirou, encarando Miranda, que pareceu entender o seu olhar e pediu licença, se retirando.

— Vai me contar agora o que aconteceu? — Ela me indagou, se aproximando, mas não me tocando.

— Nada... Eu só não consegui dor...

— Não sei por que você ainda tenta. — Ela murmurou, cruzando os seus braços.

Apenas nesse momento parei para observar a sua roupa escolhida.

Addison usava saia hoje. E eu poderia ter apreciado mais aquilo se não estivesse com a cabeça tão aérea.

— Tento... O quê? — Pergunto, confusa, observando a gola desarrumada da sua camisa social preta.

— Mentir para mim.

Respiro fundo, desviando o meu olhar.

— Estou tentando respeitar o seu espaço, mas isso é impossível e eu não me importo de estar sendo um pé no saco.

Um sorriso leve se instalou nos meus lábios, mas não durou muito tempo.

— Eu só... Não quero conversar, ok? Não sobre isso. — Respondo, após um suspiro longo.

— Aconteceu alguma coisa com Rachel ontem?

— Não, foi uma noite legal, acho que somos amigas agora.

Ela franziu o cenho, parecendo confusa, mas nada disse.

— Que horas vamos votar?

— No almoço.

— Tudo bem. A sua roupa para a festa está em cima do puff. Diga ao cabeleireiro para que não faça ondas nos seus cabelos, deixe-os lisos. Estarei em casa mais cedo.

Ela assentiu, se aproximando mais.

— Posso beijar você? — Ela revirou os olhos — Me sinto patética perguntando isso.

Sorrio fraco, assentindo, entrelaçando ambas das suas mãos com as minhas.

Me estico, deixando um selinho demorado em seus lábios.

— Nos vemos no almoço — Ela sussurrou para mim, soltando uma das minhas mãos e colocando uma mecha do meu cabelo para trás da minha orelha, eu levei as minhas mãos até a gola da sua camisa, alinhando-a por completo — Espero que saiba que pode conversar sobre tudo comigo. E que estou aqui por você, apenas por você.

— Tudo bem — Respondo apenas, enquanto sentia uma confusão imensa tomar conta de mim, deixando outro selinho em seus lábios e a desejando um bom dia.

Coloquei os meus óculos de sol logo em seguida e saí da nossa sala, dando de cara com o sol intenso que já se fazia presente lá fora, àquela hora da manhã.

Respirei fundo antes de fazer o que eu desejava, mas aquele medo não era maior do que a minha vontade de alienar a minha cabeça dos pensamentos intrusivos que tanto me infernizavam.

— Bom dia, Warren, tire a Mercedes da garagem, por favor.

— Bom dia, senhora Montgomery, está bem.

Ele o fez e eu fechei os meus olhos, respirando fundo antes de entrar no banco do motorista.

Alienar. Era isso que eu sempre precisava.

...

— Meritíssima, uma palavra, por favor!

— Meritíssima, está confiante?

— Como acha que a possível perda da sua colega vá afetar os seus negócios?

— Quais são as suas expectativas para a vitória da candidata Rizzo?

— Meritíssima, uma palavra, por favor!

Addison bufou irritada ao meu lado e eu pude ter a mais absoluta certeza que ela havia revirado os seus olhos, pelo menos, umas dez vezes por detrás dos seus óculos escuros.

A sua mão que pousava, possessiva, sobre a minha cintura subiu até as minhas costas, me guiando para adentrar a universidade onde iríamos votar.

Eu me mantive calada ao seu lado, torcendo para que todas aquelas câmeras não estivessem focando tanto em mim, e sim totalmente em Addison.

Apenas respirei aliviada quando adentramos por completo o local, e as portas atrás de nós se fecharam, nos separando daquele bando de holofotes lá fora.

Addison respirou fundo ao meu lado, mas nada disse.

Adentramos a nossa sala e eu sorri minimamente ao encarar Rachel, que vestia um conjunto de terninho vermelho sangue e, aos pés, Louboutins de verniz da mesma cor, possuindo os cabelos soltos e com ondas mais volumosas, e uma maquiagem leve no rosto, com apenas os seus lábios destacados em um batom vermelho sangue.

Ela sorriu ao nos ver e pediu licença para o homem com quem conversava, vindo até nós.

— Candidata Rizzo — Ela cumprimentou Rachel com um aperto de mão firme, sem tirar os seus óculos de sol.

— Meritíssima. — Ela devolveu o cumprimento com um sorriso contido — Meredith, como está? — A sua voz tomou um tom mais delicado — Sinto muito por on...

— Estou bem, Rachel. Mas acho que estarei melhor mais tarde, quando a sua vitória for anunciada em todos os jornais.

Ela riu, assentindo e nós nos abraçamos rapidamente.

— Bem, eu realmente preciso cumprir com a minha obrigação como amiga e cidadã agora — Falei, apontando para o local de votação.

— Se surgirem dúvidas, lembre-se dos Louboutins.

Eu sorri, lançando-a uma piscadela e me desvencilhei do toque de Addison, sussurrando para ela:

— Já volto, ok?

Ela assentiu, depositando um selinho leve sobre os meus lábios.

Eu me dirigi até a sala de votação e, com apenas dois poucos minutos, eu já possuía a minha confirmação de voto em mãos, e saía da sala com a certeza de que Rachel venceria tudo aquilo.

Assim que retornei, observei Addison sentada em uma cadeira de espera, mexendo no seu celular, enquanto Rachel parecia ter retornado ao seu assunto com o homem anterior.

Elas realmente não pareciam compartilhar de quaisquer outros assuntos, ao ponto de desejarem manter uma conversa.

Isso era... Bom.

— Pronto — Falei, me sentando ao seu lado.

A ruiva suspirou, guardando o seu celular e se levantou.

— Vamos acabar logo com isso.

Eu sorri, vendo-o caminhar até a sala, e me mantive concentrada em observar a conversa de Rachel, mesmo sem conseguir a entender.

Ela parecia realmente confiante. E deveria mesmo estar.

Pelo que eu havia percebido ao longo do último mês, ter o apoio de Addison na sua campanha foi mais do que o bastante para ganhar o coração de não somente toda a cidade, mas do país inteiro.

— Pronto, vamos — Addison me surpreendeu, ao parar ao meu lado, tendo votado em muito menos tempo do que eu havia.

— Já?! — Indago, surpresa.

— Privilégios de ser uma pessoa jurídica. — Ela falou, dando de ombros.

Juntas, nós saímos novamente ao inferno que estava lá fora, e eu me senti ainda mais desconfortável em estar completamente exposta às câmeras.

Um pouco nervosa, ajeitei os meus cabelos e o meu casaco, apertando firmemente a cintura de Addison.

— Eu socaria o rosto de cada um deles, se pudesse — Ela sussurrou contra os meus cabelos, me fazendo rir.

— Estranhamente, eu acho que não iria repreender você por isso — Murmuro contra o seu pescoço.

— Odeio que seja tão exposta dessa maneira, eu...

— Não é culpa sua, ok, Addie? — Garanti, assim que chegamos ao carro.

Ela apenas suspirou, abrindo a porta para mim e adentrou o lado do motorista.

— É culpa minha, mas estou cuidando disso.

— Por favor, apenas vamos almoçar e esquecer que a mídia existe. Estou implorando. — Murmuro, tentando tirar da minha cabeça todas as palavras que aquela jornalista havia escrito sobre mim.

E, por um momento, me perguntei se Addison havia as lido.

Provavelmente não. Pois não era de uma revista relevante.

— Como foi a sua manhã? — Pergunto, balançando a minha cabeça rapidamente para afastar aqueles pensamentos dela.

Addison suspirou.

— Estressante. Estamos tentando lidar com uma crise no setor de produção em Luanda. Provavelmente terei que adiantar a minha ida para lá para o início de dezembro. Depois das suas competições.

— Passaremos o Natal lá? — Pergunto, confusa.

— Eu gostaria, mas não, a minha mãe não me perdoaria. Vamos passar apenas cinco dias.

— Tudo bem. As férias da academia serão antes das competições.

— Isso é bom.

— Estava pensando... Quando você ficará de férias? — Pergunto, a encarando.

Ela franziu o cenho, parecendo não entender.

— Como assim?

— Quando são as suas férias? Da empresa?

— Eu sou a CEO — Ela falou, me encarando como se eu fosse um alien.

— Oh, sério? Eu não sabia! — Comento ironicamente, revirando os meus olhos.

— Apenas não entendi a sua pergunta. Eu não tenho férias.

— Como assim, não tem férias?

— Não tendo? — Ela parecia ainda mais indignada — Meredith, eu não sou uma funcionária.

— Exatamente. Você é a dona. Ou seja, você decide quando tira férias.

— Eu não tiro férias.

— Ok, tudo bem — Respondo, após um suspiro — Mas... Nem uma semaninha? Duas?

— Duas semanas? Sem trabalho? Você enlouqueceu?

Reviro novamente os meus olhos, mas nada digo, porque eu sabia que discutir com ela sobre aquele assunto naquele momento não seria o ideal.

Mas eu também sabia que esse seria o primeiro ano em que ela teria um momento de descanso. E eu faria questão de ser a responsável por isso.

— O que aconteceu em Luanda? — Pergunto, mudando de assunto, enquanto fazia movimentos circulares sobre a sua coxa nua, pelo tecido da saia um pouco mais levantado.

A ruiva passou a me explicar detalhe por detalhe, até que adentramos o nosso restaurante, e aí, após fazermos os nossos pedidos, ela voltou a sua explicação, adicionando tudo que estava pensando em fazer para contornar a situação.

Passamos todo o nosso tempo juntas com eu inusualmente falando pouco e Addison com o domínio do assunto.

E era em momentos como aquele que eu percebia que, por Deus, eu poderia a ouvir falar todas as horas do meu dia, pelo resto da minha vida.

Era isso que me fazia estar tão, mas tão arruinada por aquela mulher.

Em dado momento, me peguei fascinada pela forma a qual ela conseguia ser tão responsável, tão inteligente e tão perspicaz ao mesmo tempo, enquanto ela me falava sobre todas as suas ideias para reverter a situação.

Addison era um combo completo.

E era por isso que eu ainda não entendia muito bem o que ela havia visto em mim.

Céus! Ela era...

Perfeita.

Em todos os sentidos.

E eu era apenas eu. E isso, pelo menos no momento, não era algo bom.

Talvez aquela jornalista estivesse certa.

Talvez Addison, um dia, ainda fosse acordar, virar para o lado e se assustar por completo com a pessoa que dormia ao lado dela.

E, somente assim, perceber a burrada a qual ela havia se metido pelos próximos dois anos e alguns meses.

Eu apenas esperava que isso não acontecesse até, pelo menos, o nosso segundo ano juntas.

— Você não está aqui. O que aconteceu? — Addison me indagou, apertando a minha mão e me trazendo de volta para a nossa mesa e a nossa conversa.

— Nada, só estou com um pouco de sono. Iremos ficar na festa até que horas hoje?

— O mínimo possível. Amanhã tenho que estar na casa Time antes das nove.

— Tudo bem. Preciso escolher as suas roupas para as fotos.

— A assessoria pode escolher, se você...

— A sua esposa sou eu, não a assessoria. — Comento, sentindo o gosto amargo na minha garganta — Por mais que algumas pessoas não aceitem, eu sou.

Addison franziu o cenho, claramente confusa, mas, para a minha contradição, ela não perguntou nada, apenas concordou com a cabeça, dizendo:

— Tudo bem. Você escolhe. São três visuais diferentes. Um para a entrevista.

— Ok. Podemos ir?

Ela assentiu, quitando a conta e dirigiu para mim até a academia, assim que a Ferrari estacionou em frente a escadaria, eu retirei os meus cintos, pegando a minha bolsa.

— Estarei em casa às cinco. Não se esqueça do que eu disse sobre os cabelos, lisos. Passe essa informação para os cabeleireiros — Falei, fazendo menção de sair do carro.

Addison apertou firme a minha coxa, me fazendo parar.

Eu a encarei.

Ela subiu a sua mão, tocando o meu queixo e se esticou, me beijando.

Eu suspirei contra os seus lábios, no mesmo momento em que a sua língua tocou os meus, pedindo passagem, eu a dei.

Toquei sutilmente o seu pescoço, enquanto entrelaçava a minha língua com a sua em um beijo intenso, mas delicado.

Assim que a minha respiração falhou, a ruiva mordeu o meu lábio inferior, se afastando.

— Eles irão fazer tudo que a minha mulher quiser, fique tranquila. — Ela comentou de maneira séria.

Eu mordi o meu lábio inferior, contendo um sorriso satisfeito e apenas assenti.

— Espero que façam. As unhas. Vermelho, como sempre.

Ela assentiu.

— Como quiser.

Me estico, beijando os seus lábios levemente.

— Até mais tarde. — A cumprimento, saindo do carro e, ao fechar a porta, a observei sorrir levemente, encarando um ponto a sua frente, enquanto se preparava para dar partida no carro novamente.

...

Droga, droga, droga! Droga, Meredith!

Respiro fundo diante do grande espelho do meu closet, naquele momento, grande demais para o meu gosto, enquanto divagava entre desejar olhar para cada parte do meu corpo naquela escolha de vestido ridícula, ou desviar o meu olhar da aberração que eu parecia estar dentro dele.

Fico de costas para ele, virando a minha cabeça para observar melhor as minhas costas inteiramente nuas.

Droga!

Me viro novamente, respirando fundo ao observar a grande fenda que o enfeitava na minha coxa direita, e deixava boa parte dela exposta.

Me certifico, novamente, que o tecido de seda azul daquele vestido longo não estivesse marcando qualquer coisa que não deveria marcar, e realmente me indago se a minha barriga realmente não estava esquisita nele. Ou a minha bunda apertada demais.

Droga de festa dos infernos!

Conserto rapidamente o meu cabelo inteiramente penteado para o meu lado direito, que caía em ondas de babyliss até a minha barriga, deixando o lado esquerdo do meu pescoço e as minhas costas completamente nuas.

Caminho desanimada até a minha penteadeira e retoco o meu batom vermelho, sentindo-me tentada a tirá-lo e trocar por um nude, que chamasse menos atenção.

Mas esse era exatamente o meu problema, certo? Não ser bonita e interessante o suficiente a ponto de chamar a atenção para mim.

Não que eu desejasse ter atenções sobre mim, Deus sabe que tudo que eu mais desejava, especialmente naquele momento, era ser a pessoa mais desconhecida do mundo.

Mas era realmente cruel que eu não pudesse fazer uma escolha.

Porque ou eu era básica demais e não chamava a atenção. Ou eu me produzia demais e, ainda sim, não conseguia ser o suficiente, ou até mesmo poderia ser extremamente ridícula dentro de um vestido longo de seda azul, com alcinhas que deixavam um decote não muito extravagante, e as costas completamente nuas até a base da minha cintura.

Deus!

Onde eu estava com a cabeça quando comprei esse vestido na terça-feira, quando saí para o shopping com a minha mãe?

Bem, eu certamente estava com a cabeça onde ela deveria estar, antes de ter a minha autoestima — que já não era lá das melhores, mas estava ficando um pouco mais alta por causa de Addison — completamente destruída por aquela mulher e as memórias do meu passado.

Respirei pesado novamente, colocando os meus brincos e finalizando com o meu colar de uma única pedra discreta de diamante azul.

Calcei o meu par de sandálias brancas de salto grosso, que amarravam aos meus tornozelos, e decidi não me encarar na frente do espelho de novo, pois eu sabia que se eu o fizesse, decidiria trocar aquela escolha tola e ousada demais para alguém como eu, para apenas um vestido tubinho preto e simples.

Por isso, peguei a minha bolsa de mão azul e coloquei apenas o meu celular e o meu batom nela, passando o meu perfume e saindo do closet depois de desligar as luzes.

Tomando uma boa porção de coragem, e repetindo para mim mesma que nós apenas ficaríamos naquela festa por, no máximo, duas horas, e que, depois dela, eu poderia tirar toda aquela roupa e vestir uma roupa qualquer, a qual eu não precisaria me preocupar em como o meu corpo se portava com ela, e que, assim, eu deitaria na minha cama e dormiria até o dia seguinte, toquei a maçaneta do meu quarto, me retirando dele.

Segurei o meu vestido e passei a descer as escadas devagar, devido ao tamanho dos meus saltos, me indagando se Addison já estaria pronta, pois ela havia ido se arrumar no quarto de hóspedes, assim que eu terminei de fazer o meu penteado.

Lembrei-me, naquele momento, que nós marcamos de nos encontrar com Rachel ainda na nossa casa, para que Addison pudesse avaliar o discurso dela, e que nós faríamos uma boa impressão ao chegarmos juntas.

Por isso, não me surpreendi ao ouvir a voz dela na sala de estar, misturada com a voz do meu cunhado.

Assim que o som dos meus saltos se tornaram audíveis ao fim da escada, eu vi todos eles se virarem, me encarando. E não deixei de perceber a presença de uma garota parda, de cabelos castanhos ondulados, tão longos quanto os meus, e olhos azuis ao lado de Rachel. Ela se parecia muito com Rizzo, era como uma cópia perfeita da mãe.

— Uau — Ouvi a garota murmurar ao me encarar.

Addison já estava no andar debaixo, e estava sentada em uma poltrona, bebendo uma dose de Whisky.

Ignorei por completo a presença de Rachel e a sua filha, e de Mark por alguns segundos, para observar a ruiva vestindo um conjunto de terninho preto que eu havia escolhido para ela, com a camisa de seda azul marinho por baixo, exatamente da cor do meu vestido.

Seus cabelos estavam perfeitamente lisos, o que me agradou por completo, e a sua maquiagem era leve, destacando apenas os seus lábios com um batom vermelho rubi.

Senti o olhar da ruiva cair sobre mim e o meu coração instantaneamente palpitar quando ela elevou as suas sobrancelhas, se levantando no mesmo instante. A observei bloquear a tela do seu celular e deixar o seu copo de Whisky em cima da mesinha de centro e caminhar vagarosamente até mim, enquanto os seus olhos passeavam o meu corpo inteiro, desde o meu penteado até a ponta dos meus pés.

Respirei fundo, sentindo um medo insuportável me atingir por não saber o que aquele olhar significava.

Ela havia odiado o vestido? Achado vulgar demais? Estranho demais em mim?

Engoli o meu medo em seco, enquanto começava a sentir a minha respiração acelerar, conforme ela caminhava até mim.

Até que ela parasse poucos centímetros diante de mim e continuasse me encarando, para, logo em seguida, soltar um suspiro pesado.

— Meu Deus, Meredith — Ela sussurrou para mim e eu senti os meus olhos começarem a arder pelo medo de estar ridícula dentro daquela peça que nada combinava comigo.

Branca demais. Baixa demais. Sem sal e sem açúcar demais.

E completamente desarmônica ao lado de Addison.

— Você... Quer que... Eu troque de roupa? — A indago, sem conseguir mais encará-la. O sentimento de estar a pessoa mais patética do mundo dentro daquela roupa estava se tornando insuportável.

— O quê? — Ela parecia estarrecida, por isso, a encarei.

— A roupa, Addison. Você quer que eu troque?

— Você enlouqueceu?

— Eu... Não... Sei — Engulo a sensação insuportável na minha garganta, esperando que ela se dissipasse, mas ela pareceu apenas aumentar de intensidade.

— Vire-se de costas.

— Addison... — Murmuro, um pouco cansada demais de tudo aquilo e extremamente amedrontada com aquela escolha.

— Por favor — Ela sussurrou com mais calma e eu, após um suspiro, o fiz.

— Deus... — A ouvi murmurar, parecendo estarrecida. E me senti ainda mais idiota por não entender sobre o que ela falava.

Ela havia odiado o vestido? Era isso?

Me viro, pronta para pedir cinco minutos para subir e o trocar, quando a vejo me encarar de lábios abertos e com os olhos... Brilhando tanto que eu não consegui os encarar por mais de dois segundos.

— Você está... Perfeita — Ela sussurrou, ainda parada diante de mim e eu a encarei surpresa — Estou... Sem palavras.

— Não precisa mentir para mim. — Respondo, em um tom um pouco menos suave do que eu desejava.

— Não sei mentir, especialmente para você — Ela falou se aproximando mais — Obrigada por ser a minha esposa, especialmente essa noite — Ela sussurrou, antes de me beijar calmamente, sem utilizar a sua língua.

Senti o meu coração se aquecer de maneira inenarrável e sorri entre o beijo, sentindo os meus olhos arderem.

Addison havia mesmo gostado?

Ouvi um limpar de garganta atrás de nós e afastei as nossas bocas, encarando Mark, que sorria intensamente para nós.

— Boa noite, cunhada. Se me permite dizer, você está... Uau!

Sorrio fraco, sentindo as minhas bochechas arderem.

— Obrigada, cunhado. — Falo, tentando manter o meu sorriso — Olá, você deve ser a Isabela — Me aproximo, cumprimentando a garota com dois beijos no rosto — A sua mãe fala muito sobre você.

— Sobre você também. E ela estava certa quando disse que você era... Deslumbrante.

Sinto as minhas bochechas corarem.

— Sua mãe exagera um pouco. Rachel... Você está linda — Elogio a minha mais nova... Amiga? Sentindo uma pitada de inveja de o quanto ela estava... Poderosa e confiante naquele macacão branco, em cima de Louboutins da mesma cor e com os cabelos presos em um coque baixo de lado.

Volto para o lado de Addison, recebendo um sorriso imenso de Rizzo.

— Obrigada, Meredith, mas não aceito elogios seus quando você se parece... Assim. Azul combina muito com você. Você está realmente deslumbrante.

— Ah, não, eu...

— É, você está — Addison falou e, apenas naquele momento, eu percebi que ela não havia tirado os seus olhos de mim por um segundo sequer desde que me viu descer aquelas escadas. — Sou uma mulher de sorte — Ela sussurrou ao meu ouvido, depositando um beijo calmo na minha bochecha.

Eu as senti praticamente pegarem fogo diante do seu olhar tão... Concentrado em mim, e do seu tom de voz tão suave dirigido à mim.

— Ok — Mark limpou a sua garganta, nos chamando — Vamos, mana?

Addison assentiu e eu senti um arrepio gostoso percorrer o meu corpo quando ela tocou possessivamente as minhas costas, me guiando até o lado de fora da nossa casa.

Addison abriu a porta traseira de uma das Mercedes para mim e eu agradeci, adentrando-a, sendo seguida por ela.

Alex deu partida no carro e eu me concentrei em encarar as ruas lá fora, tentando não seguir uma linha de pensamento que havia começado a se formar dentro de mim.

Addison definitivamente estava cega.

Mas eu não queria estragar completamente a minha noite pensando naquilo.

Eu apenas queria voltar para casa o mais rápido possível.

Senti o olhar da ruiva ainda queimar sobre mim durante todo o percurso de vinte minutos até a Gracie Mansion e, quando observei todos os fotógrafos lá fora e o imenso tapete vermelho estendido sobre a entrada da casa, senti um arrepio nada bom percorrer a minha espinha e já imaginei o que todas as pessoas pensariam ao me ver vestida daquela forma ao lado de Addison.

Será que pensariam que eu fiz de propósito?

Ou que eu estava patética dentro daquele vestido?

Fechei os meus olhos, respirando fundo ao sentir o meu coração bater mais forte do que já senti antes, enquanto a minha respiração se tornava cada vez mais descompassada.

Eu definitivamente poderia estar completamente desarmônica ao lado de Addison.

E eu não suportava pensar nisso. Não suportava pensar que Rachel faria um papel mil vezes melhor ao lado dela do que eu.

Ou em o quanto elas seriam o casal mais adorado do país.

A prefeita e a juíza.

Céus!

Eu sabia que estava sendo patética. Sabia que estava sendo injusta. Que estava imaginando coisas esdrúxulas, mas eu simplesmente não conseguia controlar aquela sensação de impotência e de insuficiência que me rondavam feito uma sombra, durante toda a minha vida.

Nada seria capaz de me fazer deixar de acreditar que Addison merecia alguém melhor do que eu ao seu lado. Em, literalmente, todos os sentidos.

— Vamos? — Ela me indagou, assim que Alex estacionou o carro.

— Posso fazer uma pergunta? — Falo, ignorando a sua pergunta, ainda encarando os holofotes lá fora. — Acha que somos um casal... Minimamente bonito? Digo... — Suspiro, a encarando — Você é... Perfeita. Em tudo. O seu corpo, o seu rosto, a sua forma de andar, de se portar... Mas acha que... Juntas... Nós somos... Não sei.

Ela franziu o cenho.

— Precisa mesmo que eu responda?

Assinto.

— Olhe para você, Meredith. Você faria um casal bonito com qualquer pessoa. Você é o foco das mídias entre nós duas. Eu sou famosa, mas você... Você ganhou a todos com a sua beleza, e o seu carisma. Então não, não acho que somos um casal minimamente bonito, acho que somos a porra do casal mais incrível de todo o mundo.

Suspiro, assentindo.

— Tudo bem.

— Você quer me contar o que está se passando pela sua cabeça desde ontem?

— Não, não quero. Apenas... Vamos, ok?

Ela suspirou, pronta para me rebater, mas eu segurei ternamente o seu rosto.

— Por favor.

Addison nada disse, mas a porta do carro foi aberta e ela saiu, eu a observei dar a volta nele, abrindo a porta do outro lado para mim e me ajudando a descer dele, enquanto todos os holofotes começavam a recair sobre nós. Senti os meus olhos doerem pelos flashs das câmeras.

A ruiva tocou a base da minha cintura novamente e eu respirei fundo, antes de sorrir falsamente para todas as câmeras.

Nós começamos a caminhar pelo tapete vermelho e paramos em certo momento, para uma foto oficial juntas.

Eu sorri, sentindo o meu peito arder pela indagação posterior de como havia ficado aquela foto.

Completamente desarmônica?

Adentramos a Gracie Mansion e eu respirei aliviada quando todos os holofotes caíram sobre Rachel e Isabela.

Fomos cumprimentadas por algumas pessoas e a ruiva me guiou até o bar no canto do imenso salão.

— O que vai querer? — Ela sussurrou ao meu ouvido e eu a deixei escolher, apenas assegurando que desejava experimentar algo diferente.

Ela me pediu um vinho rosê de origem chinesa que, assim que eu bebi, senti-me um pouco tonta pelo teor alcoólico bem maior do que eu estava acostumada. E, por um momento, me senti tentada a pedir outra taça depois, apenas para conseguir me alienar de todos aqueles pensamentos intrusivos com álcool. Mas aquilo era, de longe, uma péssima ideia.

— Meritíssima, pode nos conceder uma palavra, por favor? — Um jornalista se aproximou de nós, com um sorriso amedrontado no rosto.

— Sobre? — Addison respondeu em um tom de grosseria além do seu normal.

— As suas expectativas para essas eleições — Ele falou, fazendo sinal para que a câmera gravasse.

— Acredito que as minhas expectativas para essas eleições estejam mais do que claras. — Ela respondeu de maneira curta e grossa, passando o seu braço pela minha cintura.

O jornalista tomou um tom extremamente vermelho após a sua resposta, e emitiu um sorriso ainda mais nervoso. Ele parecia não ter mais do que vinte anos.

— A senhora... Possui a certeza da vitória da sua candidata, então?

— Não apostaria nela se não houvesse.

Ele assentiu, me encarando.

— E a senhora, madame Montgomery? Pode nos dizer quais as suas... Expectativas?

Sorrio, apertando a cintura de Addison quando senti que ela faria algum comentário o cortando.

Eu não me importava em responder aquela pergunta, porque era óbvio que ele era um jornalista iniciante, e que estava praticamente pingando em suor em somente estar diante de nós. Na verdade, mais especificamente, da minha mulher.

Ele era corajoso.

— Claro! Eu acredito fielmente na excelência da candidata Rizzo, e fiz questão de demonstrar todo meu apoio a ela. Estou confiante com a sua vitória.

— Nós imaginamos, como se dá a sua relação com a senhora Rizzo?

Sorrio.

— Sabe aquela roupa incrível que ela está usando?

Ele assentiu.

— Eu escolhi. Ou seja, traduzindo, somos amigas. Rachel é um ser humano cheio de surpresas boas. A admiro como mãe, mulher e política. Acredito que ela seja exatamente o que a nossa cidade precisa.

Ele sorriu, satisfeito.

— Se me permite dizer, a senhora tem muito bom gosto.

— Obrigada.

— Muito obrigado, senhoras Montgomery. Podem nos conceder uma foto especial?

— Na...

— Sim, claro — Me antecipo diante da resposta negativa iminente de Addison, sentindo-a me encarar intensamente.

Eu não desejava tirar fotos naquela noite, na verdade, era a última coisa que eu desejava fazer, mas aquele jovem me parecia desesperado por aquilo. E eu tenho certeza que uma foto exclusiva e autorizada era exatamente o que ele precisava.

Por isso, sorri para a câmera ao lado de Addison, tentando esquecer um pouco o meu desconforto ao fazê-lo.

— Muito, muito obrigado, senhora Montgomery — Ele me agradeceu, me oferecendo um sorriso cheio de gratidão.

— Por nada, querido. Boa sorte com a matéria.

Ele agradeceu novamente, se retirando.

— Não diga nada. Eu estava apenas ajudando ele — Falo para a ruiva ao meu lado, sem sequer precisar encará-la para ver que ela não estava nada satisfeita com o que eu havia acabado de fazer.

Mas ela se calou.

— Addison, estão nos chamando para as fotos oficiais do governo — Rachel parou diante de nós, com um sorriso no rosto.

Addison assentiu, deixando o seu copo já vazio no balcão e me guiando até uma mesa.

Eu depositei a minha taça sobre ela e nós fomos até o painel de fotos.

— Candida Rizzo, Meritíssima, podem vir, por favor? — O fotógrafo as chamou e eu engoli a sensação ruim dentro de mim ao imaginar o quão perfeita aquela foto saíria.

— Vou esperar aqui — Murmuro para Addison, mas a sinto apertar ainda mais a minha cintura, não me deixando desvencilhar dela.

— Vamos.

— Addison, a foto é você e Rachel, eu prefiro...

— Não me importo, quero você ao meu lado. Pode fazer isso por mim?

Suspiro, negando com a cabeça, já conseguindo ouvir todos os comentários que se sairiam daquela foto.

— Addie...

— Por favor, Meredith.

Suspirei, me deixando ser guiada por ela, mas nada satisfeita com aquilo.

Addison posou ao lado esquerdo, comigo no meio e Rachel ao meu lado. Nós posamos para a foto e eu tentei dar o meu melhor sorriso para ela, tendo todas as coisas ditas por aquela mulher vagando na minha cabeça, fazendo o meu peito arder ainda mais fortemente.

— Agora apenas uma sua e da candidata, Meritíssima, por favor.

Eu me afastei, sendo segurada por Addison no mesmo instante.

— Addie, por favor, não vejo problemas que você tire fotos com Rachel sozinha. E eu realmente não quero mais tirar fotos. — Murmuro para ela, antes que ela pudesse dizer algo.

A ruiva suspirou, assentindo e retornou ao lado de Rachel, a oferecendo um aperto de mão profissional, eu imagino, para que nada fosse mal interpretado naquela foto. Rachel sorria, mas a ruiva apenas mantinha a sua expressão de todas as fotos no rosto.

Addison realmente parecia nada interessada em estar ligada a Rachel de alguma forma.

Logo, Mark apareceu e ambos tiraram uma foto juntos, a qual eu sabia, intimamente, que Amélia ficaria morrendo de ciúmes por não ter participado.

— Boa noite, senhora Montgomery — Me assustei, ao ouvir uma voz feminina atrás de mim e me virei, dando de cara com uma mulher um pouco mais alta que eu, loira, de cabelos cortados à altura do seu queixo, olhos verdes e um rosto muito bem marcado. Ela sorria para mim de maneira contida, e havia um brilho... Um brilho diferente no seu olhar.

— Olá, perdão, não sei se já fomos apresentadas. — Falo, oferecendo-a um sorriso educado.

— Ah, não, creio que não. Mas vamos resolver isso, eu sou...

— Meredith! Quero uma foto apenas com você, pode me dar essa honra? Afinal, você é a mulher mais deslumbrante dessa festa! — Rachel falou, dividindo o seu olhar entre eu e a mulher à minha frente.

— Rachel, como vai? — Ela a cumprimentou, sorrindo.

— Estou ótima, obrigada. — Ela respondeu de maneira curta e grossa, desviando o seu olhar da mulher — Meredith? Pode me acompanhar?

Franzo o cenho, estranhando o seu olhar um pouco mais firme e assinto, lançando um sorriso educado para a mulher desconhecida à minha frente.

— Com licença.

— Toda!

Eu subi com Rachel até o painel e posamos juntas, sorrindo para as fotos.

— Tudo bem, Rachel? — Indago, preocupada com o olhar que presenciei em seu rosto há alguns segundos atrás. Ela assentiu, sorrindo fraco.

— Apenas estou ansiosa. Ainda faltam trinta minutos para a contagem dos votos.

— Você já venceu. — Falo, acariciando levemente o seu braço — Mantenha-se calma.

— Rizzo, uma foto? — O atual prefeito apareceu, com um sorriso irônico nos lábios.

— Oh, você sonha — Ela falou, retomando a sua pose de superioridade e o lançando um sorriso mais do que sarcástico.

Eu a admirei intensamente por aquilo.

— Não possui espírito esportivo?

— Não estamos em um esporte, Washington.

— Bem, mas política é um assunto de todos, não acha? Digo... Temos opiniões divergentes, mas ambos desejamos o mesmo, deveríamos...

— Não possuo nenhum interesse em ter algum tipo de contato não obrigatório com você, George. Agora se me der licença, tenho pessoas para cumprimentar.

Ela sorriu, se afastando de nós no mesmo momento em que Addison se aproximou, me envolvendo com seu braço e me guiando até a nossa mesa.

— Quer que eu peça alguma coisa para você comer? Algum doce? — Ela me indagou, e eu suspirei, negando com a cabeça.

Você precisa começar a ser mais saudável, filha. O papai não quer que você engorde mais, pois isso, sem doces, ok?

Fecho os meus olhos, negando com a cabeça no mesmo momento em que aquela lembrança me atingiu.

Eu tinha algo em torno de sete anos.

— Iremos para casa assim que os resultados saírem, eu prometo — Ela sussurrou ao meu ouvido, acariciando levemente a minha coxa exposta pela fenda.

Eu engoli em seco com aquele toque, esperando que ela não desse conta de... Eu realmente não sabia. Apenas não me sentia tão confortável com ele como sempre me senti, pois tinha medo que ela passasse a perceber que eu não possuía o corpo que todas as mulheres as quais ela se relacionou possuíam.

Digo... Eu não estava me vitimizando. Eu sabia que o meu corpo não estava fora dos padrões, e que eu estava muito longe de sofrer algum tipo de preconceito por ele. Mas eu também sabia que ele estava longe de ser o que Addison estava acostumada lá atrás.

Enfim suspirei, tomando outro gole da minha bebida e apenas observando Addison conversar com Mark, e ainda divagando sobre aquela matéria maldosa.

— Vou buscar mais vinho — Sussurrei para ela, assim que a minha taça esvaziou — Já volto, ok? Você não precisa vir, Addie, posso ir sozinha. — Falo, assim que a observo fazer menção de se levantar — As contagens irão começar, me espere aqui.

Addison assentiu e eu me levantei, deixando um selinho em seus lábios.

Me dirigi até o bar, oferecendo a minha taça ao barman e pedindo pelo mesmo vinho que eu estava tomando anteriormente.

— Fico satisfeita que a minha crítica construtiva tenha sido levada em consideração por você, Meredith.

Me assustei, ao ouvir a voz da mesma mulher desconhecida de minutos atrás, agora, ao meu lado.

Franzi o cenho, sem entender uma palavra do que ela havia dito.

— Me desculpe, não acredito que eu tenha entendido o seu comentário. — Falo, um pouco confusa, a lançando um sorriso fraco.

— Ah, é verdade, não tivemos o prazer de nos apresentarmos ainda. É um prazer, Jane Foster, jornalista da revista Você. — Ela estendeu a sua mão.

Sinto a minha garganta arder e o meu sangue esquentar de maneira nada boa dentro de mim, enquanto o pequeno sorriso em meus lábios morria aos poucos.

O sorriso que ela carregava no rosto. A ironia expressa em cada uma das suas palavras. O olhar desafiador.

Sinto-me tremer. Mas não em temor, e sim em raiva, muita raiva.

Ela poderia, sim, ter tido um poder imenso sobre mim no momento em que escreveu todas aquelas coisas e mexeu em uma ferida há muito tempo cicatrizada.

Mas ela não sabia disso.

E, por mais que eu não gostasse de me lembrar de tudo que o homem que se dizia meu pai me ensinava, eu havia aprendido uma única coisa com ele, que levaria para o resto da minha vida:

Nunca mostrar as minhas fraquezas. Especialmente para pessoas que não as mereciam.

— Acredito que eu dispense apresentações. — Comento, elevando o meu queixo e ignorando a sua mão estendida, para que ela entendesse que eu não me colocaria em uma posição passiva perto dela.

Não. Eu havia aprendido melhor do que isso com a minha mulher.

— O prazer é inteiramente meu.

— Eu concordo — Comento, me virando e pegando a minha taça — Ah, e a propósito... Você deveria trabalhar melhor as suas fontes — Falo, sorrindo cínica para ela, engolindo o bolo que havia se formado na minha garganta, além da sensação insuportável de insuficiência e do ardor em meus olhos.

Mas eu não demonstraria aquilo. Eu não a deixaria saber que havia sido certeira naquela matéria.

— As minhas fontes são ótimas, querida. Melhores do que você possa imaginar.

— Se você diz... — Respondo, ainda com um sorriso — Mas, apenas para fins de retificação — Me aproximo, encarando-a nos olhos, desfazendo o meu sorriso falso — A minha esposa possui um metro e setenta e cinco, exatamente, e não um e oitenta.

Ela pareceu ceder a sua pose irônica por um segundo.

— Mas, é claro, eu não a culpo. Isso é algo que apenas eu, que sou casada com ela, possuo a obrigação de saber. — A ofereço outro sorriso sarcástico, erguendo minimamente a minha taça para cumprimentá-la, me afastando. — Boa noite, senhorita Foster.

A dei as costas, retornando para a minha mesa enquanto sentia, pouco a pouco, durante o caminho percorrido, toda a minha ousadia de segundos atrás desaparecer como um passe de mágica, e o receio, o medo e a minha insegurança retornarem com mais força do que anteriormente.

Droga de festa maldita!

— Tudo bem? — Addison me indagou, assim que eu me sentei ao seu lado novamente, e eu apenas assenti, voltando o meu olhar ao telão de contagem dos votos, observando, no mesmo momento, Rachel e Isabela se juntarem a nós.

— Ok, vamos lá, eu estou sentindo tanto que vou... Desmaiar de tanto nervoso! — Rachel sussurrou para mim, e eu apenas apertei a sua mão, garantindo que tudo ficaria bem.

— Vamos começar — O apresentador de TV falou, começando a abrir um dos cinco envelopes nas suas mãos. Cada um deles significava um distrito da cidade. — No Bronx: George Washington, com quatrocentos mil votos.

— Porra! — Rachel murmurou ao meu lado, respirando fundo.

— Calma, por favor! — Falei para ela, assim que os seus lábios tocaram o copo da sua bebida.

Algumas pessoas na mansão comemoraram.

O apresentador abriu o outro envelope.

— Em Staten Island... Rachel Rizzo, com quatrocentos e oitenta mil votos. Em Manhattan... George Washington, com trezentos mil votos. E agora temos George Washington, com setecentos mil votos, e Rachel Rizzo, com quatrocentos e oitenta.

— Puta.Que.Pariu! — Ela murmurou de novo, fechando os olhos.

— Rizzo, você precisa parar de beber! — Addison sussurrou para ela, que assentiu, deixando o copo de lado e abraçando a sua filha.

— No Queens... George Washington, com cem mil votos.

Rachel fechou os olhos, e eu suspirei, sentindo as minhas lágrimas queimarem os meus olhos.

Queens deveria ser a nossa esperança. Afinal, era o maior distrito da cidade.

Addison me encarou, e eu a encarei de volta, compartilhando do mesmo sentimento. Se Rachel havia perdido no maior distrito... Isso significava...

Droga!

— George Washington: Oitocentos mil votos. Rachel Rizzo: Quatrocentos e oitenta. Agora vamos à decisão final. No Brooklyn... Uau! Isso é surpreendente! Nós tivemos um total de um milhão e setecentos mil votos. Dos um milhão e setecentos... Um total de um milhão e seiscentos votos foram para...

Ele sorriu para a câmera, e eu senti o meu peito arder quando a foto de George piscou por um segundo na tela, mas, logo após, ela se tornou preto e branco e a foto de Rachel colorida apareceu.

— Rachel Rizzo! É a nova prefeita da cidade de Nova York. Com um total de dois milhões e oitenta mil votos!

Rachel gritou, e a sua primeira reação foi abraçar a sua filha com força, soltando outro grito animado.

Toda a mansão aplaudiu, alguns com gritos, e outros com palmas, enquanto eu sentia, pouco a pouco, a minha respiração normalizar.

Addison sorriu, se levantando e, pessoalmente, foi até Rachel, a cumprimentando com um aperto de mão firme.

— Parabéns, Madame Prefeita!

— Obrigada, Addison. Obrigada. Obrigada, Meredith! Sem vocês, eu definitivamente não seria nada! — Ela me abraçou com força, controlando as lágrimas.

— Você merece, querida. Agora suba naquele púlpito e comece com o legado dos Louboutins. Faça o seu discurso. — Sussurro, acariciando ternamente as suas costas.

Ela sorriu, estendendo a mão para a sua filha, que limpou as lágrimas, caminhando junto a ela até o púlpito.

— Boa noite, cidade de New York. Eu gostaria de agradecer, em primeiro lugar, a todos em casa, sentados no sofá, por estarem assistindo a essa posse em uma sexta-feira à noite, ao invés de estarem começando a curtir o fim de semana. — Ela falou, arrancando risadas — Gostaria de ser breve, porque sou uma grande fã de ações, e não de palavras. Mas eu não poderia deixar de agradecer a cada cidadão dessa cidade que se dispôs a tirar alguns minutos do seu dia para depositar o seu voto naquilo que acreditam. Eu sei o que é isso. Sei o que é confiar todo o futuro dos seus direitos nas mãos de uma pessoa desconhecida e esperar que ela nos ouça e nos represente. Mas é sobre isso que se trata a política, não é? Confiança. Quando eu decidi deixar de lado o meu trabalho como Senadora e focar na minha campanha como Prefeita, eu sabia que estava comprando uma briga gigante, com todos ao meu redor. Mas, como a minha avó sempre me disse... Se há uma briga, há um motivo. E se vale a pena o risco... Bem, vale a pena brigar. A minha briga, hoje, não é pelo poder. Não é pelo status de ser uma figura política. Porque eu já era, e já estava acostumada a comprar outras — muitas — brigas no Senado. — Algumas pessoas riram. — A minha briga, hoje, é por cada cidadão preto, pardo, mulher, imigrante, periférico, pessoas com deficiências visíveis ou invisíveis aos olhos e LGBT's que burlaram o seu almoço hoje para depositar a sua confiança em mim. A minha briga é pela confiança, pela liberdade e, mais ainda, pela equidade, e não pela igualdade. E eu espero ser lembrada, daqui há quatro anos, por um governo que seja sinônimo dessas palavras. O meu agradecimento especial vai para o Brooklyn, o distrito onde eu, uma criança pobre, neta de uma costureira, cresci até os meus onze anos. Mesmo não sabendo sobre os resultados dessa eleição, eu sabia que o Brooklyn era meu, porque eu faço questão de ouvi-los e representá-los todos os dias. Agradeço a minha filha, pelas três horas seguidas de discurso sobre me tornar prefeita da cidade porque ela simplesmente confia muito em mim. Agradeço, também, imensamente, as minhas sócias, Meredith e Addison Montgomery, que, desde o apoio financeiro, até a escolha da minha roupa — Ela riu, e eu compartilhei da risada — Estiveram ao meu lado durante maior parte dessa campanha. Obrigada. Dedico esses quatro próximos anos a governar por todos e para todos, mas, especialmente, para as pessoas que necessitam ser equiparadas. Eu estou aqui. Eu os escuto. Eu compro essa briga, e comprarei não até o fim do meu mandato, mas até o fim da minha vida. Espero que esses quatro próximos anos sejam o fim das delimitações, em especial a nós, mulheres. Essa posse é a prova viva de que ainda bem que, há centenas de anos atrás, demos um passo para fora das cozinhas e delimitamos que o nosso lugar é o mundo todo. Vamos fazer a política em NY justa e bonita de novo. Muito obrigada! Isabela, isso é por você, espero que esteja orgulhosa. — Ela sorriu para a filha, a abraçando, enquanto todos se levantavam e a aplaudiam de pé, a ovacionando com felicidade.

Eu o fiz, alto demais, e sequer me importei com isso.

Rachel merecia. Ela merecia aquilo como ninguém, no mundo, poderia merecer.

A próxima hora foi dedicada a fotos e conversas sobre a nova política da cidade, a qual Addison participou veementemente, ao lado de Rachel.

A ruiva se levantou, me convidando para fazer o mesmo, quando ela foi chamada para outra sessão de fotos com Rachel.

Eu o fiz e nós tiramos três fotos juntas, até que eu me afastei, as observando segurar a constituição em mãos para a foto. Rachel estava brilhando mais do que o usual, e eu sorri intensamente para aquilo, ela merecia.

— Veja... Eu acho que você estava realmente certa.

Senti o meu corpo arrepiar de forma nada boa assim que a voz irônica daquela mulher soou atrás de mim.

— Há algumas falhas na minha matéria. Eu preciso consertá-las urgentemente, começando pela altura da sua mulher. — Ela deu um ênfase irônico naquela última frase. — Mas também no próprio ranking em si. Olhando para essa cena... — Ela riu — A minha querida colega Charlotte terá que deixar o seu posto de primeiro lugar, para, adivinhe... A nossa Madame Prefeita. Bem... Espero que não se incomode quando eu citar que tenho a mais absoluta certeza de que ela e a nossa amada Meritíssima compartilham de uma química ímpar, gritante a olho nu. Digo... Basta apenas olhar, certo? Foi um prazer, Meredith. Foi uma boa escolha de vestido, acredito que não terá dificuldades para sair dele, o tecido ajuda.

E, então, ela saiu, soltando uma risada tão sarcástica, que me fez desejar, surpreendentemente, cravar as minhas unhas no seu pescoço.

Fechei os meus olhos, ouvindo as batidas do meu coração ensurdecerem os meus ouvidos e as minhas mãos tremerem tanto, que precisei entrelaçá-las para evitar ser notada.

Engoli o meu choro em seco, relembrando todas as falas semelhantes dele e, ao abrir os meus olhos novamente, senti uma lágrima solitária escapar deles. A limpei rapidamente, me dirigindo até o banheiro, agradecendo por estar completamente vazio.

Me apoiei sobre a pia, respirando de forma tão engasgada que precisei fechar os olhos para evitar aquela sensação de pânico que me atingia.

Tomei uma grande quantidade de ar pela boca, soltando pelo nariz e tranquei a porta, me permitindo chorar tudo que estava preso na minha garganta, enquanto tremia tanto, que sequer conseguia me manter de pé.

Me sentei em um puff ao lado da porta e passei a tentar controlar, inutilmente, a minha respiração, me sentindo o ser mais patético do mundo por estar daquela forma por todos aqueles comentários maldosos.

E surpresa por estar doendo tanto, que eu sequer conseguia respirar.

Porque, estranhamente, não ser o suficiente para Addison doía mais do que não ser o suficiente para ele.

Porque Addison...

Addison não me tratava de qualquer outra forma que não fosse com respeito e carinho. E, até mesmo, admiração.

Não ser o bastante para ela doía mais porque ela merecia algo melhor.

Fechei os meus olhos com força, apertando os dois lados do banco até sentir os meus dedos doerem de maneira insuportável.

Você é inútil!

Você não é uma garota feia, filha, apenas... Precisa ser mais interessante.

Corte os cabelos.

Você não quer ser gorda, quer?

Nada de doces, Meredith.

Não me importo com a porra da sua saúde! Eu quero que você seja bonita!

Você está magra demais.

Inútil, Meredith! É isso que você é!

Você realmente acha que alguém seria capaz de se apaixonar por uma aberração como você?

As suas bochechas estão gordas.

Sua bunda está crescendo demais, use calças mais folgadas.

Não sente assim, as suas coxas ficam mais gordas.

Céus, como você está magra!

Acha mesmo que ele vai querer se casar com você... Assim?

Nunca o suficiente. Você nunca vai conseguir ser o suficiente!

Eu realmente tenho medo de ter outra filha e vir tão inútil e imprestável quanto você!

Abro os meus olhos novamente, puxando os meus cabelos para trás e respirando fundo, enquanto limpava as minhas lágrimas e afastava aquela voz da minha cabeça.

Me levantei, caminhando até a pia e encarei o meu rosto molhado.

Sequei as lágrimas mais eficientemente com uma toalha e respirei fundo, evitando a minha imagem do espelho e saindo do banheiro, decidida a ir embora.

— Addison, estou com dor de cabeça, vou pedir para que Alex me leve, você pode continuar com os negócios, eu realmente...

A ruiva se levantou, tocando a minha cintura.

— Vamos.

— Eu realmente posso ir soz...

Ela pediu licença, pegou a sua bolsa e me guiou até a saída.

— Sem fotos, a menos que estejam buscando por um processo! — Ela repreendeu os três fotógrafos na porta, que abaixaram as câmeras e me guiou até o estacionamento, onde Alex e Warren estavam.

A ruiva abriu a porta do carro para mim e adentrou logo em seguida, pedindo para que Alex desse partida.

Eu suspirei, encostando a minha cabeça na janela, enquanto sentia a ruiva acariciar levemente a minha mão e tentava, como um inferno, segurar o meu choro diante daquele ato.

— Vou pedir para que Miranda faça um chá para você, na verdade, alguma comida. Você não se alimentou. Pode ser isso. Está doendo muito?

Neguei com a cabeça, tentando ignorar o tom tão preocupado na sua voz.

— Só preciso de um banho. — Respondo, ainda de olhos fechados.

Em poucos minutos, Alex estacionou diante da nossa casa e eu respirei aliviada, abrindo a porta do carro, sem esperar que Addison o fizesse, mesmo que, ao descer, ela estivesse pronta para me ajudar.

A ruiva me guiou em silêncio pelas escadarias até a nossa sala.

— Vou na cozinha pedir o seu chá e uma ceia para Miranda. Já subo com o remédio e uma massagem, ok?

Assinto, recebendo um selinho carinhoso nos lábios e caminho, vagarosamente, pelas escadarias, parando diante da porta do meu quarto assim que senti a minha garganta arder tanto, que o choro saiu sem que eu mais pudesse controlar.

Apenas tive forças para abrir a porta e fechar, me encaminhando até o closet e, então, desabei diante do espelho, sentindo-me a pessoa mais idiota e mais patética do mundo.

Me encarei, vestindo aquele vestido ousado, que nada combinava comigo, mas apenas mascarava o que eu era e sempre seria:

Uma verdadeira aberração.

Nem sequer confiança eu era capaz de possuir.

Bastaram poucas palavras de uma pessoa que eu nunca havia conhecido na vida, para que toda a pouca autoestima que eu havia construído tão aos poucos fosse para o ralo.

Irritada, tiro aquele colar, os brincos e a pulseira, jogando-os em cima da penteadeira com força.

Tirei os grampos do meu cabelo e me livrei dos saltos, por fim, encarando o vestido.

Acredito que não terá dificuldades para sair dele, o tecido ajuda.

Sem sequer pensar no que eu estava fazendo, pego o meu celular, abrindo a maldita matéria e sentindo o meu peito arder ao ver que aquela cobra já havia feito as alterações. A foto de Addison e Rachel enfeitava o primeiro lugar, com uma legenda esdrúxula.

"As donas de toda beleza e química presente em Nova York".

Jogo o aparelho com força no puff e, ainda mais irritada, caminho até a minha penteadeira, começando a tirar a minha maquiagem de forma intensa. Aquele batom vermelho ousado demais para mim. A sombra e todo o resto.

Faço questão de tirar cada centímetro de maquiagem do meu rosto para, apenas depois, me encarar completamente despida de toda aquela artificialidade diante do espelho.

E, somente então, abro o zíper lateral daquela droga de vestido, começando a tirá-lo, enquanto as minhas lágrimas caíam de tanta raiva e frustração.

— Miranda está preparando...

Assim que ouvi a voz de Addison dentro do closet, sem sequer pensar nas minhas ações, subi o vestido novamente, cobrindo o meu corpo seminu e me virei de costas, esperando esconder o meu choro intenso.

— Ei, o que aconteceu? — Ela perguntou em um tom de voz mais desesperado do que uma preocupação normal.

— Nada. Eu só quero... — Um soluço escapou dos meus lábios, eu os mordi — Tomar banho.

— Meredith... — Ela se aproximou, tocando a minha cintura e eu me afastei rapidamente.

— Addison, não. — Sussurrei, ainda sem conseguir encará-la.

— Meu anjo, por favor... O que acon... — A sua fala morreu, e eu apenas entendi o porque quando senti o seu olhar se afastar de mim, a encarei, vendo-a pegar o meu celular e franzir o cenho para ele. — O que é isso?

Ela não havia visto ainda. Sinto o meu coração palpitar.

— Nada, não é...

Ela se afastou do meu possível toque, caminhando pelo closet enquanto lia a matéria inteira.

— Que porra é essa? Que porra ela pensa estar fazendo? O quê? — O seu tom de voz foi se elevando conforme ela lia — Desgraçada, filha da puta! Eu vou matar essa filha da...

— Addison...

— Como... Como ela ousa falar dessa maneira da minha mu... PORRA! Eu vou MATAR...

— Chega! — Gritei, sentindo a minha garganta se fechar, e mais lágrimas se acumularem aos meus olhos.

Addison me encarou, assustada.

— Vai matar alguém por falar a mais pura verdade? — Disparo, sentindo a sensação de amargura me tomar, agora, por completo.

Addison me encarou como se eu fosse o ser mais esquisito do mundo.

— O... O quê?

— Olhe para mim, Addison! Olhe para as merdas dessas fotos e olhe para mim! Olhe para mim, pela primeira vez na vida, como eu verdadeiramente sou... Insuficien...

— Não, eu não vou deixar você me dizer uma porra dessas, Meredith Montgomery! Eu não acredito que você está assim por causa dessa desgraçada, eu não acredito que esteja considerando acreditar em tudo que uma filha da puta mal amada despeja sobre a porra de uma revista que sequer relevante é! — Ela vociferou, completamente irritada, e eu senti os meus pelos se arrepiarem pelo tom da sua voz.

— Sim, sim eu estou, estou porque nada do que ela despejou por aí foi mentira! Nós somos desproporcionais. Olhe para mim, Addison! — Sinto as minhas lágrimas caírem incessantemente, enquanto a minha voz se tornava cada vez mais embargada e incompreensível — Olhe para todas as mulheres com as quais você já... Fodeu por uma noite, e então olhe para mim! — Gritei, me sentindo tão irritada, que sequer estava processando tudo que estava saindo da minha boca — Agora eu me pergunto... Por que? Por que eu? Não queria estar casada com uma mulher gostosa e decidida demais como Rachel, ou Charlotte, ou Naomi para não ser alvo da mídia? Escolheu a advogada falida, boazinha, básica, patética e de corpo mediano para não chamar muito a atenção?! Eu nunca serei o suficiente para você, assim como eu nunca fui para ele! E eu acho que você sabe disso! Então por que, Addison? Por que? Inferno, por que?

Senti o meu corpo inteiro estremecer quando Addison se aproximou de mim e, indo contra tudo que eu achei que ela faria, me puxou contra si com delicadeza e me tomou em um abraço tão apertado, que me fez perder o ar.

A ouvi suspirar contra os meus cabelos, os acariciando.

— Porque eu sou fascinada por você, desde a primeira vez que a vi, de costas para mim, com os seus cabelos ondulados, batendo um pouco acima da metade das suas costas, usando aquele vestido tubinho vermelho, que ia até os seus joelhos, e emoldurava o seu corpo da maneira mais fácil e mais bonita que eu já havia visto na vida. E, quando você, por um milagre do universo, me encarou de volta, eu sabia que precisaria fazer de tudo para que você fosse minha, mas não como as outras eram, não, eu queria você, por tempo indeterminado, sendo apenas minha.

Me sinto estarrecida ao ouvir todas aquelas palavras ditas em alto e bom som por ela, mas não tenho tempo de sentir outra coisa, pois Addison se afastou minimamente, estendendo a sua mão e afastando os meus cabelos do meu busto.

A ruiva segurou as minhas mãos que seguravam o vestido veementemente e, devagar, afrouxou o meu aperto, as afastando e deixando o meu vestido cair, me deixando apenas de calcinha. A minha primeira ação foi tentar me cobrir novamente, mas Addison me impediu.

Ela estendeu a sua mão e eu a encarei, vendo, para a minha surpresa, os seus olhos verdes enfeitados em um tom mais claro me encararem com temor.

— Eu quero pedir uma coisa para você... Posso?

Assinto, devagar, ainda sentindo as minhas lágrimas caindo.

— Confie em mim.

Abro os meus lábios, para dizê-la que eu já confiava, como não confiava em ninguém, mas ela me impediu.

— Não, Meredith. Quero que confie em mim agora.

Engulo em seco, respirando entrecortado e apenas assinto com a cabeça, tocando a sua mão.

Addison caminhou comigo pelo closet e me guiou até o espelho, me colocando de frente para ele. Eu desviei o meu olhar, mas ela segurou o meu queixo, me fazendo nos encarar ali.

— Você quer saber o por que estou casada com você e não com a senhorita Rizzo? Ou Charlotte, ou sei lá, a porra da Madonna?

Suspiro, fechando os meus olhos.

— Por favor, me responda.

— Sim — Sussurro, em um fio de voz, sentindo que eu poderia desabar em outro choro intenso a qualquer momento.

— Porque eu sou fascinada por tudo que envolve você, Meredith, como nunca fui por nenhuma outra mulher, e, por favor, olhe nos meus olhos enquanto eu digo isso, porque quero que veja, neles, que estou falando a mais pura verdade.

Engoli em seco, o fazendo, enquanto os meus olhos novamente se enchiam d'água conforme eu enxergava nada além de uma pureza clara e cristalina no seu olhar e nas suas palavras.

— Nós nos conhecemos no dia vinte e um de agosto do ano passado. E, desde então, você não saiu da minha cabeça por um dia sequer. Até que Charlotte me deu a ideia de um casamento falso, desejando, ela mesma, ser a minha esposa. Mas você sabe qual era a única pessoa com a qual eu conseguia me imaginar estando casada, sendo uma pessoa que sempre negou a si mesma ao casamento?

Nego com a cabeça, sentindo o meu corpo arrepiar ao sentir os seus braços me abraçarem por trás, e ao observá-la cheirar intensamente os meus cabelos, mantendo o seu nariz ali.

— Você. Você foi o motivo desse contrato, não o meio. Eu precisava ter você, Meredith. Depois de trocar poucas palavras com você e dançar com você, e perceber o quão diferente você era, eu precisava ter você. No início, eu precisava ter você na minha cama todos os dias, e você não sabe a tortura que foi ter que esperar pelo nosso casamento para te ter. Eu não me fascinei pela sua beleza durante o nosso casamento, e sim antes dele, muito antes de você imaginar se encontrar comigo novamente.

— Sabe como me sinto todas as vezes em que olho para você? Estando vestida como hoje, ou com calças sociais, de camisola ou, até mesmo, roupas de academia, mas, principalmente, completamente nua?

Nego com a cabeça, sentindo uma lágrima cair.

— Me sinto a, me desculpe, eu não queria falar palavrões nesse momento, mas eu realmente preciso. Eu me sinto a filha da puta mais sortuda do mundo.

Nego com a cabeça, desviando o meu olhar.

— Não me casei com você para evitar foco na mídia pela sua "beleza básica" comparada a das outras, Meredith, por Deus! Eu enlouqueço a cada vez que vejo uma foto sua tirada por paparazzis em um site de fofocas. A minha equipe jurídica nunca trabalhou tanto nos últimos anos, como trabalhou esse ano. Eu enlouquecia a cada vez que sentia todos os olhares de homens e mulheres ao nosso redor recair sobre você. Enlouqueci na nossa lua de mel. Enlouqueci em todos os eventos que já fomos até hoje, enlouqueço quando a inútil da nossa empregada encara você como se pudesse... Despir você com os olhos.

Me surpreendo, a encarando novamente.

— E enlouqueço ainda mais porque você não percebe que, quando entramos em um local, o primeiro olhar das pessoas é para você, e não para mim.

Ela acariciou a minha barriga ternamente, afastando os meus cabelos do meu pescoço para depositar um beijo carinhoso ali.

— Enlouqueci de ciúmes hoje, quando vi você deslumbrante naquele vestido, porque eu sabia que você seria olhada por cada pessoa da festa. E foi. Mas também enlouqueci porque ainda é irreal para mim que você ainda consiga me fazer ficar sem ar com a sua beleza, mesmo depois de sete meses juntas.

Ela suspirou, beijando novamente o topo da minha cabeça.

— Olhe para você. Eu sou fascinada pelos seus olhos, porque, nos cinco meses que fiquei longe de você, eles me atormentaram todos os dias por eu não saber, ao certo, se eram verdes ou azuis. E quando finalmente descobri, depois de alguns meses de casamento, enquanto fazíamos sexo, que eles eram azuis, me senti a mulher mais sortuda do mundo por saber aquilo apenas porque tinha ficado perto o bastante de você, e provocado emoções o bastante em você.

Suspiro, sem conseguir acreditar que estava ouvindo tudo aquilo.

— Eu sou fascinada por cada um dos vinte e nove pequenos sinais no seu corpo. Sim, eu contei. São vinte e nove, e descobri o vigésimo nono enquanto massageava os seus pés, porque você tem um na ponta do último dedo do pé, e isso é tão adorável quanto você.

— Eu sou fascinada pelo seu corpo, fascinada pela forma a qual você consegue me fazer sentir, sem sequer me tocar. Sou fascinada pelos seus cabelos, pelo cheiro único de rosas com morangos que ele possui, você nunca vai encontrar outros cabelos que cheirem como os seus.

Engulo novamente em seco, sem conseguir enxergar mais nada pelas vistas já turvas da quantidade exorbitante de lágrimas que eu segurava.

— Sou fascinada pelos seus seios, e pelo fato de que eles cabem exatamente nas minhas mãos — Ela sussurrou, os tomando nas palmas das suas mãos, e eu não pude evitar um suspiro diante do arrepio que me tomou.

— Adoro que, quando você sorri de verdade, os seus olhos ficam tão apertados que mal conseguem ser vistos, ou que você tenha a risada mais doce e contagiante do mundo, ou que você tenha um sinal exatamente ao lado da sua boca. Sou fascinada pela sua boca, pelo seu beijo, o seu gosto — Ela sussurrou ainda mais baixo, cheirando levemente os meus cabelos. — Você foi o primeiro beijo que conseguiu arruinar com todas as minhas calcinhas. Com apenas um beijo.

— Sou fascinada pelo fato de que você seja tão baixinha ao ponto de precisar ficar na ponta dos pés para me beijar, e de que eu possa sempre cheirar os seus cabelos quando você chega perto, sem parecer uma psicopata. — Ela sorriu e eu soltei um riso que me fez soltar mais três lágrimas.

— Sou fascinada pela mudança de cor dos seus olhos, quando está feliz, eles são azuis... Mas quando está irritada, eles parecem tão verdes quanto os meus.

— Adoro como o seu nome soa nos meus lábios. Adoro o seu nome. Adoro chamá-la pelo seu nome.

— Sou fascinada pelo seu corpo, Meredith, todo ele. E me espanta que você ainda não tenha percebido isso, porque eu acredito que já deixei claro muitas vezes, e seguidas. Inferno, eu sou fascinada pela sua bunda, pelas suas coxas, e, até mesmo, pelo seu pé que consegue ser pequeno, estranho, bonito e fofo ao mesmo tempo. Gosto que seja pequena, porque gosto de que você seja delicada demais para mim. Gosto que a sua mão seja pequena, porque gosto que ela se encaixe perfeitamente na minha. Eu poderia passar o dia inteiro sentindo o seu cheiro, e já encontrei mulheres que usam o mesmo perfume, mas cheira completamente enjoativo as minhas narinas, porque você consegue fazer alguma mágica com ele e o seu óleo, para que se tornem uma fragrância só, e... A mais cheirosa que eu já tive o prazer de sentir.

— Sou fascinada pela sua capacidade de falar sobre tudo, tanta coisa e ao mesmo tempo, e adoro simplesmente sentar e ouvir você falar por minutos a fio. E poderia fazer isso o dia inteiro.

— Gosto muito de saber que ainda não conheço você por completo. E adoro adorar ainda mais você quando descubro algo novo. Gosto da sua voz. Sou fascinada pela forma a qual o meu nome e o meu apelido saem da sua boca, principalmente enquanto você geme para mim.

— Adoro que tenha deixado os seus cabelos crescerem, porque adoro que você os mude de lado com as mãos inconscientemente e eles caiam sobre as suas costas da forma mais bonita que eu já tive o prazer de presenciar. Adoro que tenha o pescoço mais gostoso do mundo. Adoro causar todas as sensações que causo em você, apenas você. Adoro o nosso sexo. Adoro como você pode me surpreender sempre. Adoro que você tenha a cara mais ingênua do mundo, mas seja tão... — Ela suspirou — Na nossa cama. Adoro como se importa com outras pessoas desconhecidas ao seu redor. Adoro que seja mais educada do que eu, em mil vidas, conseguiria ser. Adoro que se importe. Com tudo. Com todos. Mas, principalmente, comigo.

Sinto um soluço escapar dos meus lábios, então outro, e mais outro.

— Eu já me relacionei com muitas mulheres, Meredith. Muitas mulheres bonitas. Mulheres magras, gordas, altas, baixas, pretas, pardas, brancas. Mas todas elas deixaram de ser interessantes quando você apareceu. E eu adoro que o seu corpo seja exatamente perfeito em cada curva que ele se propõe ter. Adoro que você seja a mulher mais gostosa que já conheci na vida. Adoro as suas coxas torneadas, adoro ainda mais que elas se encaixem perfeitamente bem na minha cintura. Eu adoro você por inteiro, Meredith Machetti Montgomery. E gosto, muito, de sequer conseguir imaginar olhar para outra mulher quando tenho você casada comigo. Rachel, para mim, é nada. Eu já a achei bonita e atraente um dia, mas hoje ela me traz tanta fascinação como... Sei lá, a minha avó?

Eu ri, me engasgando um pouco com um soluço.

— Todas as mulheres ao meu redor viraram tão atraentes quanto a minha avó. Espero que esteja entendendo que eu acho a minha avó tão atraente quanto... Sei lá, homens?

Sorri, pousando as minhas mãos sobre as suas, sentindo as minhas lágrimas caírem com mais intensidade.

— E eu não me importarei em passar os próximos anos falando tudo isso novamente para você, porque eu sei que não se sente dessa maneira de propósito, sei que tem algo aí, e sei quem é o culpado. Por isso, eu farei questão de lembrá-la, todos os dias, seja com palavras, ações ou olhares, que você, Meredith Montgomery, é muito mais do que eu mereço. Você não é apenas suficiente. Você é além do que eu mereço. E eu sinto medo dessa sorte se esvair de um dia para o outro.

— Consegue entender tudo que eu disse? Consegue ver verdade em mim?

Assinto devagar, me virando para ela.

— E, apenas para retificações, posso dizer que a minha mulher é gostosa da cabeça aos pés, porque adoro tanto você, que adoro os seus pés também.

Eu ri, negando com a cabeça, enquanto acariciava ternamente o seu pescoço.

— Adoro você — Sussurro para ela, encostando a minha testa no seu nariz, desejando dizer outra coisa. Desejando dizer, em alto e bom som, que eu a amava, como nunca havia amado alguém na vida. E que estava ainda mais apaixonada por ela naquele momento do que já estive antes.

Eu amo você, Addison Montgomery. Amo você como nunca amei alguém em toda a minha vida.

— Adoro muito mais você. — Ela falou baixinho, beijando suavemente a minha testa. — E quero que entenda isso de uma vez por todas.

Assinto, sentindo-a descer os seus lábios em beijos sutis pelo meu rosto, percorrendo-o por inteiro, enquanto limpava as minhas lágrimas com as suas mãos, calmamente, chegando até a minha boca.

— Quero que se sinta a mulher mais gostosa e mais linda desse mundo, porque é exatamente isso que você é — Ela sussurrou, antes de me beijar com ternura, acariciando a minha cintura tão docemente, que me fizera suspirar entre o beijo.

Os seus lábios macios se demoraram parados contra os meus, mas, assim que senti a sua língua quente tocar o meu lábio inferior, me senti a mulher mais adorada e mais bonita do mundo, não importava o que uma jornalista qualquer dizia, ou até mesmo aquele homem.

A minha mulher me achava a mulher mais fascinante do mundo.

Eu não precisava de mais nada.

Quando abri a minha boca para ceder espaço para Addison a adentrar com a sua língua, senti a ruiva suspirar contra mim e colar os nossos corpos, me beijando com tanta calma e tanta delicadeza, que eu senti como se fosse quebrar em seus braços a qualquer momento. Segurei ternamente no seu pescoço, o acariciando com delicadeza enquanto sentia a ruiva explorar toda a minha boca com a sua língua.

Ela chupou levemente o meu lábio inferior entre os seus, retomando o beijo de forma mais intensa e eu senti todo o meu corpo implorar por mais dela.

— Adoro você — Ela sussurrou novamente, ofegante contra os meus lábios e se afastou, estendendo a sua mão. — Confia em mim? — Ela sussurrou, entrelaçando os nossos dedos.

— Sempre — Respondi, sentindo outra lágrima descer, a limpando rapidamente. Enquanto sentia o meu peito arder, mas não sob alguma sensação ruim... Não. O meu peito ardia apenas em... Amor.

Amor pela mulher que eu tinha a mais absoluta certeza ser o amor da minha vida, mesmo que eu não fosse o seu, ou que ela não acreditasse nisso.

Eu a amava. E nada, nesse mundo, seria capaz de mudar aquilo.

— Quero que saiba que nada nem ninguém nesse mundo será capaz de machucá-la diante de mim. Você pode respirar tranquila, porque está segura comigo, querida. — Ela sussurrou ao meu ouvido, me puxando delicadamente para caminhar junto com ela até o puff.

A ruiva se sentou nele e puxou sutilmente para mais perto de si. Eu respirei fundo, acariciando os seus cabelos ao senti-la depositar um beijo carinhoso sobre a minha barriga.

— Não quero que tenha medo de sentir perto de mim. Não quero que tenha medo de pensar. Porque não sei tudo que já ocorreu com você, Meredith, e sei que é inevitável sentir ou pensar todas essas coisas. Mas quero que tenha, em mim, alguém que possa pedir por ajuda quando não conseguir respirar. — Ela sussurrou tudo aquilo contra a minha barriga, e eu assenti, mesmo que ela não pudesse ver.

— Estou respirando, Addie. Estou respirando graças a você.

Ela assentiu, beijando novamente a minha barriga e eu fechei os meus olhos, soltando um suspiro pesado ao sentir todas as sensações que ela era capaz de me fazer sentir, com apenas um beijo sutil.

— Quero que se veja através dos meus olhos. Posso fazer isso? — Ela suspendeu a sua cabeça, me encarando intensamente. Eu assenti.

— Pode fazer o que quiser.

Ela assentiu, tocando levemente o tecido da minha calcinha e eu suspirei, fechando os meus olhos ao perceber que eu já estava mais do que pronta para que ela realmente fizesse o que quisesse.

Mas era... Diferente. Não era um desejo desesperado. Não era apenas desejo.

Era amor.

O meu corpo inteiro estava arrepiado, o meu coração batia aceleradamente, e ela sequer havia me tocado, a minha garganta estava inteiramente seca, as minhas mãos suavam.

Aquilo não era apenas sobre o sexo.

Era sobre o amor. O meu amor por Addison.

A ruiva levou a minha calcinha ao chão e eu, estranhamente, me senti o ser mais incrível do mundo diante dela.

Completamente nua.

Completamente despida.

Mas não apenas fisicamente. Os meus olhos faziam questão de demonstrar que eu estava despindo a minha alma para Addison naquele momento.

Porque eu a amava. Mais do que achava ser possível amá-la.

Segurei o seu rosto entre as minhas mãos, observando os seus olhos brilharem ao encarar os meus.

— Eu sou sua, Addie.

Ela suspirou, fechando os seus olhos por alguns segundos, enquanto acariciava a minha cintura.

— Você é minha — Ela sussurrou tão baixo, que me fizera fechar os olhos para repetir as suas palavras dentro da minha cabeça.

Sua. Eu era sua. Completamente sua. Desde o meu primeiro fio de cabelo, até a pintinha que eu sequer sabia da existência na ponta do meu dedo mindinho.

Eu a pertencia, como nunca seria capaz de pertencer a alguém.

— Vire-se de costas para mim — Ela sussurrou e eu prontamente obedeci, sentindo-a me guiar pela cintura para que eu me sentasse entre as suas pernas no puff — Agora abra os seus olhos.

Eu o fiz, me enxergando refletida no espelho, de frente para ela, entre as suas pernas maiores do que as minhas.

Os meus cabelos estavam inteiramente puxados para trás, portanto, o meu corpo nua estava inteiramente exposto diante do espelho.

Addison abriu as minhas pernas levemente, devagar e com delicadeza de outro mundo.

— Estou pedindo para que não feche os seus olhos sob hipótese alguma, ok?

Assinto, observando-a me encarar pelo espelho. Seus olhos brilhavam. Estavam mais claros. A sua feição emanava... Cuidado. Adoração.

— Quero que se veja com os meus olhos. — Ela sussurrou ao meu ouvido, antes de começar a beijar ternamente o meu pescoço.

Segurei intensamente a vontade de fechar os meus olhos e me concentrei na imagem refletida ao espelho.

Aquilo era... Incrível.

A ruiva continuou a beijar intensamente o meu pescoço, enquanto percorria as suas mãos os meus braços, os acariciando com ternura, e, então, pelas minhas coxas, subindo-as, devagar, para a minha cintura e contornando cada linha do meu corpo carinhosamente.

Ela mordeu levemente o nódulo da minha orelha e eu suspirei, observando-a sorrir levemente contra o meu pescoço.

As suas mãos encontraram os meus seios e eu suspirei, gemendo baixo e me segurei para não fechar os olhos ao senti-la apertá-los levemente contra as suas mãos.

— Addie... — Observei a mim mesma respirando já com dificuldade sussurrar o seu nome diante daquele espelho. Os meus olhos mais azuis, a minha boca naturalmente avermelhada, as minhas bochechas coradas, mas não em vergonha, e sim em... Excitação.

Eu me parecia daquela forma tão... Entregue e tão... Intensa todas as vezes que era tocada por Addison daquela maneira.

— Sim, querida? — Ela sussurrou, descendo os seus beijos para o meu ombro esquerdo e segurou a minha mão esquerda, levando-a até os seus lábios para beijar todos os meus dedos, um por um, passando o seu rosto por ela levemente logo após — Você possui as mãos mais macias do mundo.

Eu suspirei, sentindo a minha garganta novamente se fechar diante de tamanha... Devoção.

Utilizo a minha mão para acariciar levemente o meu rosto e me dou conta do que estava prestes a acontecer ali.

Addison não iria me foder como quase sempre fazia.

Nós não teríamos um sexo violento, rápido e com força.

Não.

Addison faria... Amor comigo.

Diante do espelho.

Essa era a sua forma de me mostrar toda a sua devoção por mim.

Addison Montgomery estava prestes a fazer amor comigo.

Sinto uma lágrima solitária cair e a limpo rapidamente, sorrindo para ela diante do espelho.

A minha ruiva sorriu de volta, enterrando o seu nariz novamente ao meu pescoço.

Eu me arrepiei ao senti-la o beijar com a sua língua.

A minha respiração se tornou descompassada no momento em que as suas mãos rumaram para os meus seios e Addison passou a massageá-los com intensidade.

Um gemido baixo escapou dos meus lábios, e eu senti a minha intimidade pulsar com a visão que obtive de mim mesma gemendo para Addison.

Aquilo tudo era... Céus!

A ruiva passou os meus cabelos para o lado esquerdo do meu pescoço e passou a explorar o direito com mais intensidade, enquanto os meus lábios se abriam levemente para deixar escapar um gemido silencioso.

Novamente senti-me pulsar para a visão de o quanto Addison mexia comigo.

Levo uma das minhas mãos até o seu pescoço, o acariciando com as pontas das minhas unhas e sinto a ruiva morder levemente o meu pescoço, descendo, vagarosamente, a sua mão pelo meu abdômen.

Aquela cena...

As suas unhas pintadas em um rubi escuro descendo pela minha pele branca, até encontrar a minha intimidade já encharcada para ela e...

Céus!

Gemi baixo, fechando os meus olhos brevemente para voltar a abri-los. Eu precisava encarar aquela cena.

Recostei a minha cabeça no seu ombro e mordi o meu lábio inferior, sentindo o meu corpo inteiro estremecer com a visão de eu mesma abrindo mais as minhas pernas para tê-la mais intensamente, enquanto a encarava de maneira mais do que intensa pelo reflexo do espelho.

— Me diga como quer que eu faça — Ela sussurrou, beijando levemente a minha bochecha.

— Sem pressa — Sussurro, percebendo, apenas naquele momento, o quanto a minha voz havia mudado para um tom rouco e carregado de excitação.

Ela sorriu, assentindo e eu gemi ainda mais audível ao observar e sentir os seus dedos me adentrarem com calma.

O meu cenho franzido. Os lábios entreabertos, os meus olhos tão mais escuros quanto um azul marinho.

Céus!

Quando Addison começou a se movimentar dentro de mim, eu pude sentir que explodiria com a visão dos seus dedos entrando e saindo de mim com maestria e lentidão, e mais ainda com as claras reações do meu corpo a cada investida.

O meu abdômen contraído. Os meus pés sob as pontas dos meus dedos, também contraídos, as minhas pernas se abrindo ainda mais. A minha mão arranhando o seu pescoço e a sua boca explorando o meu pescoço.

Eu definitivamente poderia chegar ao meu ápice apenas com aquela visão.

Quando comecei a me movimentar junto a ela, um gemido rouco e mais do que audível escapou dos meus lábios, conforme o meu cenho se franzia ainda mais diante da percepção de o quanto nós possuímos um ritmo único.

— Addie... — Sussurro o seu nome, completamente estarrecida com aquela visão diante do espelho.

Os meus cabelos caindo como cascatas ao longo do meu seio esquerdo, até o meu abdômen. A mínima bagunça que Addison já havia feito neles. A minha outra mão sobre a sua coxa se tornando cada vez mais branca, enquanto eu a apertava com força, conforme a sensação de prazer crescia e a minha respiração se tornava ainda mais difícil.

Até que eu realmente passei a me presenciar rebolando contra os dedos de Addison vagarosamente, enquanto gemia de maneira cada vez mais audível, conforme a visão de mim mesma realizando aquele ato tão... Ousado ia me preenchendo ainda mais de prazer.

Eu parecia, literalmente, outra pessoa.

O meu peito subindo e descendo de maneira rápida e descompassada. A minha respiração entrecortada. Os meus cabelos se movimentando conforme eu o fazia. Os meus olhos. A minha boca entreaberta. O meu cenho franzido. A tensão tão forte prestes a ser liberada por todo o meu corpo.

— Sei que está chegando lá, porque conheço o seu corpo mais do que o meu próprio — Ela sussurrou ao meu ouvido e eu desviei o meu olhar para o seu diante do espelho, sentindo-me estremecer ao observar os seus olhos tão mais escuros brilhando em expectativa para mim, enquanto ela sussurrava tudo aquilo com a sua boca enterrada no meu pescoço. — Mas não quero que feche os olhos. Quero que tenha o mesmo prazer que eu tenho a cada vez que a faço gozar para mim. Quero que observe a sua pele se tornando levemente rosada... O seu corpo suado... A sua respiração descompassada e o quão ela orna perfeitamente bem com os seus gemidos... Sim... Assim, querida — Ela sussurrou ainda mais baixo, após um gemido involuntário e entrecortada escapar dos meus lábios — Os seus lábios entreabertos para mim... Apenas para mim. Veja o quanto seus olhos mudam a sua cor natural e delicada para uma extremamente carregada de luxúria. Deus, Meredith! — Ela exclamou em um tom de voz carregado de luxúria no momento em que eu cravei as minhas unhas sobre a sua perna, por cima do tecido da sua calça — Observe a cor fascinante deles. O seu cenho franzido. O seu olhar... Implorando para chegar lá, não há nada que você me peça com esse olhar que eu não seja capaz de oferecê-la. Observe, querida, observe o quão linda você é rebolando contra os meus dedos, e o quão você sabe fazer isso perfeitamente bem e tão naturalmente. A sua cintura se movendo levemente. O quão rígidos estão os seus seios enquanto você anseia para gozar para mim. Observe, Meredith. Observe o quão linda você é... E sinta inveja de mim por visualizar essa feição deliciosa em seu rosto a cada vez em que eu a faço gozar. E agora entenda o porquê você é e permanecerá sendo a minha escolha. Ouça a si mesma gemendo deliciosamente para mim... O quão o meu nome sai dos seus lábios de maneira tão doce e ao mesmo tempo sexy... E agora... Você está quase lá... Observe os espasmos em seu corpo, os seus movimentos se tornando cada vez mais desesperados. A sua respiração mais entrecortada. Os seus lábios se abrindo mais. A vermelhidão em seu corpo. As suas pernas começando a tremer. O seu abdômen se contraindo mais. Os seus gemidos mais altos e tão... Tão mais roucos. A sua voz mudando por completo. Observe, querida. Isso... Observe o quão gostosa você é, Meredith Montgomery. Observe o quão gostosa você é gozando para mim. Unicamente para mim e sobre os meus dedos. Isso... Isso, assim.

Sem mais conseguir me aguentar, me desfaço em tremores intensos e um gemido alto e longo em um orgasmo intenso, enquanto observava o meu corpo inteiro tensionar para, logo após, estremecer por completo, enquanto o nome de Addison saía dos meus lábios de maneira tão... Vulnerável.

Era essa a definição do que eu parecia ser enquanto chegava ao meu clímax para ela.

Vulnerável.

De uma forma sexy, mas ainda vulnerável.

Mas, estranhamente, isso não era ruim.

Eu sabia que poderia ser vulnerável para Addison. Apenas para ela.

Por isso, me assusto ao observar o meu líquido transparente escorrer intensamente pelos seus dedos e sujar o nosso puff, enquanto Addison ainda me estimulava com intensidade e os meus movimentos se tornavam ainda mais descompassados, conforme eu chegava ao meu segundo orgasmo, muito mais arrebatador para ela.

A última visão que consigo ter antes de fechar os olhos é dos meus lábios se abrindo e do meu maxilar tremendo por completo em um gemido alto, rouco e manhoso, além do meu cenho ainda mais franzido e o olhar... Tão sexy que eu carregava nos olhos. Azuis escuros. Essa era a exata cor deles naquele momento. E, antes de sucumbir por completo, observei a ruiva sorrindo para mim diante do espelho, antes que eu fechasse os olhos e a minha cabeça caísse sobre o seu ombro, enquanto eu tentava recuperar a minha respiração.

— Espero que você tenha entendido pelo menos um por cento da minha fascinação por você — Ela sussurrou, retirando os seus dedos de dentro de mim enquanto beijava o meu pescoço intensamente. — Mas eu prometo que a lembrarei durante todos os dias que passarmos juntas.

Surpreendentemente, sinto a minha garganta se apertar em um choro iminente e suspiro, acariciando a sua perna.

— Obrigada por ser a minha esposa — Ela sussurrou, depositando um beijo leve sobre o meu pescoço, e eu abri os meus olhos, sentindo uma lágrima cair.

Devagar, me levantei, me virando para ela e me sentando no seu colo, sentindo-a me abraçar pela cintura e me encarar com intensidade.

— Me desculpe — Sussurro contra os seus lábios, fechando os meus olhos — Não quero que a minha falta de autoestima seja um peso para o nosso casamento. Eu apenas... — Suspiro, sentindo mais uma lágrima cair e Addison a limpar com carinho — Ouvi por milhares de vezes que eu nunca seria... Bonita o suficiente ou... Interessante o suficiente, que acabei acreditando.

— Nada relacionado a você é um peso para mim ou para o nosso casamento — Ela sussurrou, encostando a sua testa na minha — Eu farei questão de lembrá-la, todos os dias, que você é muito mais do que eu mereço.

Sinto um soluço se fazer presente e, sem mais conseguir segurar o meu choro, a abraço, encostando a minha cabeça no vão do seu pescoço.

— Obrigada por me lembrar de respirar — Sussurro, beijando o seu pescoço. — Estou respirando, Addie, graças a você.

— Você estará. Todos os dias — Ela sussurrou de volta, acariciando os meus cabelos.

— Me leve para a cama — Sussurrei ao seu ouvido, abraçando o seu pescoço e as sua cintura.

Ela se levantou, caminhando comigo até a cama e se sentou nela, acariciando as minhas costas.

— O que você quer, querida? — Ela sussurrou, beijando o topo da minha cabeça.

— Quero que tire a sua roupa — Murmuro, começando a tirar o seu blazer e desabotoar a sua camisa. — Quero que me beije... E que... — Engoli em seco, fechando os meus olhos e pronunciando, ainda mais baixo — Quero que goze comigo, Addie.

Ela gemeu baixo contra os meus cabelos e eu senti o seu pescoço se arrepiar por completo.

— Por favor — Completo, cheirando intensamente o seu pescoço, para, então, começar a depositar beijos sutis sobre ele, enquanto a livrava da sua camisa.

Addison suspiro pesadamente, se levantando comigo e, então, me deitando no nosso colchão de maneira sutil.

A observei vestindo apenas um sutiã de renda azul e sorri no momento em que ela abriu o botão da sua calça, me sentando na cama e levando as minhas mãos até ela, desejando fazer aquilo.

Depositei um beijo calmo sobre o seu abdômen definido e, somente então, passei a abaixar a sua calça vagarosamente, até que ela se encontrasse ao chão e Addison a chutasse para longe.

A ruiva segurou firme em meu pescoço e eu me ajoelhei na cama, desabotoando o seu sutiã para ter os seus seios completamente expostos para mim, demonstrando toda a sua excitação.

Sorri, depositando um beijo leve sobre o seu tórax para, então, descer os meus lábios molhados para o seu mamilo direito.

A ruiva gemeu com o contato da minha língua sobre ele e eu sorri, o mordiscando com os meus dentes.

Addison soltou o seu ar de uma só vez, enquanto eu passava a minha boca para o seu outro seio e as minhas mãos desciam para o cós da sua calcinha.

A ruiva as segurou, quando percebeu as minhas intenções e eu soltei o seu seio da minha boca, elevando o meu olhar para vê-la respirando rápido, com o olhar mais doce que eu já havia presenciado.

— Hoje não — Ela sussurrou, me guiando devagar para deitar na cama — Você é o foco aqui.

Assim que abri os meus lábios para respondê-la, a ruiva abriu as minhas pernas, se colocando entre elas e passando a distribuir beijos por todo o meu corpo, retirando-me completamente da minha linha de raciocínio conforme a sua boca descia cada vez mais.

A ruiva passou a me chupar com delicadeza, parecendo não possuir pressa para me ter gemendo desesperada contra os seus lábios, e me fez gozar para si daquela maneira mais duas vezes, antes de se sentar sobre mim e atender veementemente ao meu pedido.

Em poucos minutos, Addison estava gemendo grudada a mim, com as nossas mãos entrelaçadas, assim como as nossas pernas, enquanto se movimentava vagarosamente contra mim e estremecia intensamente.

Enquanto os nossos corpos se movimentavam intensamente um contra o outro, eu senti os meus olhos novamente marejarem no momento em que ela passou a me encarar intensamente, mas havia algo diferente no seu olhar. Algo... Puro, doce, tão devoto e quase tangível nele que me fizera fechar os olhos no mesmo instante, deixando uma lágrima cair. Eu não sabia exatamente o que eu estava sentindo no momento, mas eu sabia, no mais fundo do meu coração, que eu nunca havia sido tratada com tanta devoção.

O que Addison estava me proporcionando ali, naquele momento, era tão bonito ao ponto de me fazer, literalmente, chorar.

Mesmo que apenas por alguns segundos.

Juntos, os nossos corpos se tensionaram no mesmo instante e todos os meus pensamentos se tornaram fumaça, dando lugar apenas a ânsia pela liberação da nossa tensão, e, logo então, estremecemos, juntas, em um orgasmo ainda mais intenso, conforme a ruiva gemia roucamente contra o meu ouvido e soltava uma série de palavrões entrecortados, ainda rebolando sobre mim e estendendo o nosso ápice de prazer.

Quando finalmente chegamos ao nosso clímax juntas, a ruiva deixou que todo o peso do seu corpo recaísse sobre mim, enquanto respirava com dificuldade contra o meu pescoço.

Afastei as nossas mãos vagarosamente e apenas consegui ter forças para afastar as nossas pernas, envolvendo as minhas na sua cintura e beijando, levemente, o seu pescoço.

Não havia nada a ser dito, porque ambas de nós duas havíamos feito aquilo durante toda aquela noite. Addison, surpreendentemente, muito mais do que eu, fosse por palavras, ações ou apenas olhares.

Por isso, a abracei com força contra mim e passei a acariciar os seus cabelos sedosos vagarosamente, ouvindo-a controlar a sua respiração contra o meu pescoço.

Sem que eu planejasse aquilo, os meus olhos se fecharam por completo e eu, sem mais conseguir me segurar pela noite anterior mal dormida e o cansaço tão grande daquele dia, caí em um sono leve, enquanto sentia as mãos de Addison acariciarem levemente as minhas pernas envolvidas na sua cintura.

Aquela foi a melhor noite de sono que eu tive em toda a minha vida.

...

Dia seguinte;

Abri os meus olhos, sentindo a claridade do sol os fazer arder no mesmo momento e bufo um pouco irritada, amaldiçoando Addison veementemente por não ter fechado as persianas da varanda, como sempre fazia.

Mas, no momento em que sinto um peso característico sobre a minha cintura, retorno a abrir os meus olhos com dificuldade, olhando para baixo.

O braço pesado e pálido da minha ruiva entornava a minha cintura protetivamente, enquanto os nossos pés se entrelaçavam por debaixo do edredom, mas nenhuma outra parte dos nossos corpos se tocavam.

Sorrio ao perceber que, assim como eu, ela também estava nua. E que também havia pegado no sono, talvez apenas poucos minutos depois de mim. Era um sinal de que ela havia dormido a noite inteira.

Soltando profundamente o meu ar, fecho os meus olhos novamente e seguro a vontade que me atingiu de me aconchegar no seu abraço e simplesmente passar a manhã inteira ali, ouvindo a sua respiração calma contra os meus cabelos e observando-a dormir.

Eu ainda não poderia fazer aquilo. Ainda não me sentia confortável o bastante para tomar aquela iniciativa, pois me dava calafrios imaginar a reação de Addison.

Por isso, devagar, afastei o braço da ruiva da minha cintura e apenas a ouvi gemer baixo, mas começar a respirar pesadamente, para, então, voltar a respirar de maneira leve e quase inaudível.

Me levanto, então, dando de cara com as suas madeixas espalhadas pelo meu travesseiro, e o bico tão irresistível de sempre enfeitando os seus lábios. Seus cabelos estavam bagunçados, sua feição parecia tão tranquila e tão preguiçosa, que eu seria capaz de assisti-la dormindo por todos os dias para o resto da minha vida.

Ela estava tão... Linda. Tão calma. Tão em paz.

E era aquela a maneira a qual eu desejava vê-la sempre.

Um sorriso imenso se instalou em meus lábios e eu me estiquei devagar, depositando um beijo terno sobre a sua testa e tirando uma mecha de cabelo bagunçada do seu rosto.

Sentindo um pouco de frio, encontro a sua camisa entre os nosso lençóis a visto, abotoando a partir do quarto botão, sem me importar muito em vestir uma calcinha, pois ela cobria a minha bunda por completo.

Prendo os meus cabelos em um coque bagunçado e me dirijo até o nosso closet.

Primeiramente, me concentro em organizar a nossa pequena bagunça ali, guardando o meu vestido no armário, sem mais qualquer tipo de sentimento ruim destinado a ele, assim como as minhas jóias, carregando um sorriso um pouco maior do que o normal no meu rosto, ao relembrar toda a noite tão... Mágica que tive com Addison.

— Ok, Meredith, quatro looks diferentes para Addison, você consegue. — Murmurei para mim mesma, diante dos armários da ruiva.

Escolhi, em primeiro lugar, o da entrevista, que era o mais importante de todos.

Após revirar todos os seus armários, acabei por escolher um conjunto de terno preto, que dispensava o uso de camisa por baixo e, para os pés, um par de Louboutins pretos de verniz.

Seus cabelos estariam soltos e com poucas ondas, não totalmente lisos, e, por fim, escolhi alguns anéis para a mão direita e um colar de ouro branco meu, que eu achava que chamaria atenção, mas nem tanto, para o decote do terno.

Passei para os próximos três looks, escolhendo uma calça de alfaiataria cinza, que faria conjunto com uma camisa de seda azul marinho. Um macacão branco e reto, que ela já havia usado anteriormente em um evento e, por fim, um terno azul marinho, com uma camisa branca por baixo. Todos seriam usados com o mesmo salto.

Volto para o meu armário e escolho uma calça de alfaiataria marrom escuro e uma camisa social branca, para os meus pés, mocassins também marrons e um cinto preto apenas para quebrar um pouco a cor.

Me dirigi até o banheiro e comecei a fazer as minhas higienes, sorrindo com a escova de dentes na boca quando observei Addison caminhar até mim completamente nua, com os cabelos presos em um coque bagunçado e uma feição completamente preguiçosa no rosto.

— Bom dia, bela adormecida — Murmuro, tirando a escova da boca para depositar um selinho um pouco melado de pasta na sua.

— Prefiro ser chamada de fera, mas bom dia, Feliz. — Ela murmurou de maneira ácida, mas que eu sabia ser proposital — Estaremos saindo às 9:30.

Assinto, observando-a começar a escovar os seus dentes ao meu lado para, então, caminhar até o chuveiro, se colocando de cabeça nele.

Me senti estremecer somente em imaginar a temperatura daquela água e me recostei na pia, observando-a passar os produtos no seu corpo inteiro, e me perdendo por completo em todos os seus movimentos.

— Você pode parar de me olhar e entrar aqui, ou vou precisar ir buscar você? — Ela me indagou, ainda de costas e eu ri.

— Nessa água fria? Nem morta! Por favor, adiante esse banho, ok? Eu preciso mesmo tomar um banho, mas quente. E entrar aí não seria uma boa ideia, pelo menos não agora.

Eu simplesmente sabia que ela havia acabado de revirar os olhos para mim, mesmo que estivesse de costas.

Me dirigi até o closet e peguei o meu celular, evitando encarar a matéria que ainda estava aberta na página principal. Exclui a aba e apenas respondi algumas mensagens importantes por alguns minutos, fazendo questão, logo após, de bloquear a tela novamente e o deixar de lado.

Sem celular por hoje.

Me assusto um pouco ao ouvir Addison tossir atrás de mim e a encaro, observando-a vestir um roupão branco e os cabelos enrolados em uma toalha da mesma cor.

A ruiva tossiu novamente e eu me assustei um pouco ao vê-la puxar o ar de maneira intensa. Meu coração palpitou dentro do peito com a sua feição.

— Merda — Ela sussurrou, caminhando até o centro do quarto e eu a segui.

— Addie, o que aconteceu? — A indaguei, assim que ouvi outra tosse, dessa vez, mais alta.

Ela abriu a sua gaveta do criado-mudo rapidamente, buscando algo por ali. Eu me aproximei, preocupada ao ouvi-la, novamente, puxar o ar com força.

— Addie você está me preocupan... — Paro no mesmo instante que a vejo pegar uma bombinha de ar e a levar rapidamente até a sua boca, inspirando-a intensamente e, então, se recostando na cama.

Addison tinha... Asma?

Que infernos estava acontecendo?

— O que está acontecendo? Por que você está...

Ela elevou a sua mão, me pedindo para esperar e puxou mais uma grande quantidade de ar da bombinha.

— Estou bem — Ela murmurou, soltando o ar, após tirar a bombinha da boca.

Me aproximei preocupada, tocando todo o seu rosto.

— Você tem asma? — Pergunto, em um tom de voz mais alto do que eu esperava, assim que eu me recordei que, há poucos meses atrás, ela fumava.

— Não, eu... — Ela suspirou — Eu tenho uma bronquite leve. Desde criança. Que às vezes... Ataca. Mas não é nada grave e eu não sou dependente de remédios. Apenas quando ataca.

— E você... Fumava?! — Exclamo, nervosa, batendo fortemente no seu braço — Idiota! Onde você estava com a cabeça? Sabia que isso poderia evoluir para algo muito pior? Eu não sei se mato você agora ou...

— Não precisa me matar — Ela murmurou, deixando a bombinha de lado — Eu não fumo mais, estou bem, eu não fumava muito, você sabe, eu não era uma viciada. Vou ao médico com frequência e estou bem. Apenas preciso tomar o meu remédio. E tenho que repetir a dose daqui há três horas. Pode me lembrar?

— Eu vou definitivamente lembrar você. Agora vamos, tome o remédio e me dê a cartela para que eu coloque na bolsa, além da bombinha. Você quase me matou do coração agora, sua idiota! Por que não me contou isso antes?

Ela sorriu, depositando um beijo leve sobre os meus lábios.

— Desculpe, querida. Faz realmente muito tempo que não tenho uma crise.

Eu assenti, ainda preocupada e ainda sentindo o meu peito apertado.

— Vista o terno preto agora. Eu vou tomar um banho, ok? Por favor, coloque o remédio e a bombinha na bolsa em cima da penteadeira.

— Sim, senhora — Ela brincou, e eu revirei os olhos, cerrando o meu olhar logo em seguida e me dirigindo ao banheiro.

...

— Bom dia, senhora Montgomery! Está melhor? — Miranda me cumprimentou com a sua doçura de sempre e eu sorri para ela, a abraçando apertado.

— Bom dia, meu anjo. Estou ótima, e você? — Respondo animada.

— Posso saber o por que a senhora está tão radiante hoje? — Ela me indagou, com um sorriso travesso.

— Hummm, não sei, talvez seja porque eu tenho a melhor governanta do mundo? — Falo, apertando a sua bochecha ao perceber a minha torta de morango sobre a mesa.

— Eu diria que a senhora possui a melhor esposa do mundo, porque foi ela quem solicitou a torta.

Eu sorri, encarando Addison.

— Ah, isso também. — Comento, me perdendo no olhar leve que a ruiva me lançou e me estiquei, deixando um selinho demorado em seus lábios. — Você está linda. Vou morrer de orgulho por trás das câmeras. Estou autorizada a gritar e aplaudir junto com a plateia?

Ela cerrou seu olhar e eu ri, recebendo um sorriso de volta, enquanto ela puxava a minha cadeira para que eu me sentasse.

— Apenas se você desmentir aquela coisa chata de que eu me apaixonei primeiro.

— Consigo me segurar para não gritar — Falo dando de ombros e começando a me servir.

Addison revirou os olhos, fazendo o mesmo, e nós passamos a conversar sobre amenidades enquanto tomávamos café juntas.

Às 9:30 em ponto, Addison estava abrindo os portões da nossa casa e dando partida no carro, enquanto eu cantarolava uma música de The Smiths que eu havia colocado para tocar, enquanto acariciava o seu pescoço e focava a minha visão na paisagem lá fora.

Trinta minutos depois a ruiva estacionou em frente a mansão Time e nós descemos do carro juntas, sendo recebidas calorosamente pelos estilistas e a assessoria.

Eu tratei de me manter ao lado de Addison por todo o percurso até o local onde ela iria retocar a maquiagem.

— Nós temos as roupas perfeitas para a senhora, Meritíssima — A assessora falou sorrindo, abrindo o zíper de um cabide e mostrando um vestido tubinho que não tinha nada a ver com Addison.

— Ela já está vestida para a entrevista — Me adianto, oferecendo-a um sorriso para que o meu comentário não fosse confundido com prepotência.

— Bem, mas sou eu quem decido isso, com todo o respeito. A senhora poderia esperar lá fora?

Elevei as minhas sobrancelhas, sem conseguir acreditar no que eu estava ouvindo e resolvo, então, deixar a minha delicadeza completamente de lado.

— Não, eu não poderia. E estou dispensando os seus serviços quanto a produção da minha mulher.

Ela me encarou horrorizada, puxando os seus cabelos pretos para trás e piscando os longos cílios falsos para mim.

— A senhora não pode fazer iss...

— Sim, eu posso. Agora, por favor, pode me deixar à sós com a minha esposa?

Ela me encarou novamente como se eu fosse o ser humano mais desgraçado do mundo, e eu me senti um pouco desconfortável por ter me dirigido a ela daquela maneira.

— Me desculpe, sei que é o seu trabalho, mas eu já tenho tudo sob controle aqui, ok? — Me retifico, recebendo um olhar duro de volta e vendo-a sair da sala pisoteando sobre os seus saltos altos.

Ouvi uma risada leve ao meu lado e me virei, encarando Addison.

— Falando grosseiramente com seus subordinados? Tsc, tsc, tsc... Seu lugar no inferno ao meu lado já está garantido.

Eu avancei sobre ela, acertando um soco bem dado no seu ombro.

— Cale a boca, sua chata! Estou me sentindo péssima, mas você viu a prepotência dela? Digo... Eu sou casada com você, não ela.

— Eu tenho certeza que ela, agora, sabe disso, de alguma maneira, não me pergunte qual — Addison comentou carregada de ironia e eu revirei os meus olhos, socando o seu braço novamente.

— Apenas cale a boca e vamos ajeitar o microfone — Falei a puxando para sair da sala.

Nos próximos minutos eu auxiliei a produção a ajeitar os microfones em Addison, o colocando por dentro do seu paletó eu mesma e o prendendo ali, enquanto arrumava os seus cabelos levemente.

Claire fez questão de não encontrar com Addison antes da entrevista, pois ela queria que aquela se decorresse da forma mais natural o possível.

Por isso, antes que Addison subisse ao palco onde já era aguardada, a ruiva se aproximou de mim, depositando um beijo leve sobre a minha boca.

— Obrigada por estar aqui — Ela sussurrou, me beijando novamente.

— Eu adoro ser a sua esposa troféu, eu precisava estar aqui.

Ela sorriu, assentindo e eu ajeitei o seu terno pela milésima vez, beijando os seus lábios novamente e limpando a mínima borra do batom.

— Arrase, meu bem. — Sussurrei para ela, apertando a sua cintura.

— Sempre, querida — Ela rebateu, me lançando uma piscadela e depositando um beijo no canto dos meus lábios antes de subir para o seu posto e esperar o seu nome ser chamado.

— Pode se sentar aqui se quiser, senhora, possui uma ótima visão da sua esposa — A produtora me indicou uma cadeira ainda ali na produção e eu agradeci, me sentando. — Ok, vamos começar! Não teremos pausas, porque Hunt quer que isso seja o mais natural possível, por isso, sem interrupções, pessoal!

Observei, atenta, toda a plateia e então o palco composto de uma poltrona e um sofá pequeno, onde Claire e Addison se sentariam.

A apresentadora subiu ao palco, se sentando na poltrona e recebendo os últimos ajustes do seu produtor.

Para, logo então, dar início a apresentação da entrevista. Encaro o relógio, percebendo que faltavam apenas trinta minutos para que Addison tomasse o seu remédio, mas isso não me preocupou, pois a entrevista teria essa exata duração.

— Vamos receber com a nossa maior salma de palmas, a nossa Pessoa Time do Ano, Addison Forbes Montgomery!

A plateia inteira ficou de pé, inclusive Claire e eu sorri, observando a minha mulher caminhar tranquilamente até o palco, subindo as escadas com uma postura que apenas ela era capaz de possuir.

Ela cumprimentou Claire com um aperto de mão firme e recebeu o prêmio de ouro em mãos.

— Obrigada — Ela se dirigiu à plateia, agradecendo pelos aplausos.

— Espero que saiba o quanto você merece esse prêmio, Addison! A sua humanidade combinada a sua influência, tem mudado as vidas de muitas pessoas, em especial, na África.

A ruiva assentiu, tendo uma expressão amena no rosto e se sentou no sofá, enquanto Claire se sentava na poltrona.

Durante os primeiros dez minutos da conversa, Claire fez perguntas diversas sobre a economia da empresa e os planos de Addison para o ano seguinte, que foram respondidas de maneira direta e inteligente pela minha mulher. Eu não poderia estar mais do que orgulhosa daquilo!

— Podemos falar sobre Luanda agora? Fiquei sabendo que você está cheia de planos para serem executados lá no ano que vem, pode nos dar uma pequena pitada deles?

— Luanda estará sob um novo governo no ano que vem, um governo o qual todos sabem que eu apoio, e, por isso, estamos traçando planos para entrelaçar ainda mais as nossas economias. A minha irmã está no comando desses planos.

— Falando nisso... A sua irmã está comandando a sede da empresa lá?

— Exatamente.

— É muita responsabilidade, certo?

— Sim, mas ela é mais do que capaz de dirigir a empresa sem precisar de mim.

— Eu posso imaginar. Agora, se me permite perguntar, qual foi a sua inspiração para tanto envolvimento com as políticas na África? Porque todos nós sabemos que vai muito além do que os seus próprios lucros.

— A África, por inteiro, é um continente frequentemente desmerecido pela sua economia, por não ser desenvolvido o bastante. E toda a situação de subdesenvolvimento do continente inteiro não é uma coincidência. As grandes empresas preferem assim, porque é mais difícil lidar com um continente subdesenvolvido do que simplesmente o esquecer e apenas utilizar da sua mão de obra barata. Isso vai contra os meus princípios empresariais. É por isso que eu fui a primeira empresária a oferecer um salário em dólar, e não na moeda de Luanda, além de todos os direitos trabalhistas que sequer existem lá ainda. E não me vanglorio por isso, e nem acho que eu mereça esse prêmio por fazer o óbvio.

— Entendo... Mas também entendo que o óbvio, em meio a tantas ações negativas, também merece ser comemorado. Mas... Falando da parte humana de Luanda. A parte fora dos negócios... O que você sente quando está lá?

Addison suspirou, cruzando as suas pernas, e eu percebi aquele ato seu como a adoção de uma postura mais rígida, porque ela estava prestes a se abrir um pouco mais.

— Angústia. Definitivamente. O sistema que predomina sobre Luanda foi minuciosamente criado por cada empresário bilionário como eu para que continuassem bilionários, porque esse é o lema desse sistema. Eles precisam de não somente pessoas de vida básica, mas sim de pessoas na miséria para se manterem no topo.

— E por que você é uma exceção?

— Porque tudo que eu construí durante toda a minha vida não foi sobre a necessidade de subir em cima de pessoas inocentes para chegar ao topo. Eu não preciso disso.

— Então qual é a sua garantia? Ou qual foi, durante todos esses anos?

— A minha inteligência. Eu não preciso de mais nada além dela.

— Então está me dizendo que prefere aderir a uma abordagem empresarial completamente diferente e arriscada porque confia em si o bastante para isso? — Claire a indagou com um sorriso de admiração no rosto, e eu carregava o mesmo, porém maior, muito maior.

— Sim, porque eu sei que, se um dia eu perder tudo que eu tenho, eu reconstruo tudo novamente. Não há temor quando se há inteligência.

— Não se importa de soar prepotente?

— Todos nós somos, de um jeito ou de outro, não? Que sejamos pelas causas certas, então.

Claire sorriu, assentindo.

— Qual a sua visita mais marcante à África?

— A última.

— Posso perguntar o por que? — Claire a indagou com um sorriso enigmático nos lábios.

— Por causa da minha esposa.

Eu sorri, mordendo o meu lábio inferior ao ver a ruiva me buscar ao redor com o olhar, até me encontrar. Meu sorriso aumentou e eu lancei-a uma piscadela. Ela segurou um sorriso e se virou para Claire novamente.

— Por que?

— Tudo que Meredith toca, acaba virando especial. Eu nunca me conectei tanto com todo o meu trabalho por lá, como quando fui com ela. Ela não é como eu, que trabalha indiretamente. Ela gosta de conhecer as pessoas, conversar, perguntar sobre as suas vidas, mostrar, no tato, que se importa. Ela me ensinou muito nessa viagem.

— Como o quê?

Addison suspirou e voltou o seu olhar para mim.

— Que ser humano vai muito além de apenas sensibilizar-se com as coisas e fazer algo por elas indiretamente, sem o contato... Físico. Essas pessoas precisam não somente saber que alguém as vê, mas ver, com os próprios olhos, que alguém o faz. Para que possam dormir tranquilas a noite, sabendo que são importantes para alguém. Meredith me ensinou isso, mesmo sem saber.

Sorrio, sentindo os meus olhos se encherem de lágrimas e o meu coração arder em amor por aquela mulher.

A minha mulher.

— Bem... Ela está bem ali e parece feliz com isso!

— Podemos gravar você? — A produtora me indagou em um sussurro — Isso seria uma cena linda!

Eu a encarei, um pouco surpresa, pois eu não havia me arrumado o bastante para aparecer diante das câmeras.

Por isso, apenas ajeitei os meus óculos de grau, vendo a câmera focar em mim e encarei Addison, a lançando um beijo leve no ar, enquanto tentava limpar as poucas lágrimas que haviam caído.

— Olá, Meredith! Espero que não se importe, estamos falando de você!

A produtora me entregou um microfone e eu sorri, o pegando.

— Ah, eu não me importo, Claire, a minha esposa realmente adora falar sobre mim, é uma coisa tão chata, mas não podemos culpar a mulher que se apaixonou primeiro, certo? — Falo em um tom de ironia, revirando um pouco os meus olhos, tirando algumas risadas da plateia e uma gargalhada de Claire.

Addison cerrou o seu olhar, não conseguindo disfarçar um sorriso.

— Oh, ela possui realmente um senso de humor único!

— Oh, você não imagina! — Addison respondeu, apoiando o seu braço no sofá.

A câmera saiu de foco em mim e eu entreguei o microfone para a produtora, voltando a prestar atenção na entrevista.

— Sobre o seu casamento... Você e Meredith pensam em ser mães? — Claire a fez a pergunta de milhões de dólares.

— Pensamos sobre a ideia. Mas não para os próximos dois anos.

— Entendo. Mas, quando acontecer... Como acha que vai conseguir dividir a vida na maternidade, o casamento e os dois empregos?

— Bem... Eu e Meredith somos um ótimo time juntas. E o nosso casamento é a nossa prioridade. Então eu provavelmente abriria mão da minha agenda cheia.

— Isso é... Uma surpresa.

— Sim, por isso apenas acontecerá quando nós estivermos preparadas o bastante.

Claire assentiu, passando para a próxima pergunta.

— A que você atribui o seu sucesso, Addison? Além da sua inteligência.

— A minha confiança. — Ela respondeu, ajeitando o seu terno.

— Pode elaborar melhor para nós?

— Sou uma mulher lésbica dentro de duas profissões altamente masculinas e machistas. Acredito que eu não precise elaborar muito mais.

— Então a sua confiança a ajudou a conquistar esses locais de prestígio?

— Sim, mas não acredito que eu tenha "conquistado" algo. Não foi uma luta passiva. Eu precisei me impor nesse meio e construir essa figura que tanto amedronta as pessoas, porque o medo é o maior aliado do respeito, pelo menos em um meio machista como o que eu vivo. Eu não deixei espaços para pensarem, por um segundo sequer, que eu não era capaz de realizar o meu ofício com excelência por ser uma mulher.

— Acredita ser esse o motivo pelo qual a sua sexualidade foi tão normalizada pela sociedade tão homofóbica que vivemos hoje?

— Sim. As pessoas apenas opinam quando acham que a sua opinião vai ser ouvida. Mesmo que não seja respeitada. E eu sempre deixei claro que com que sexo eu me relaciono ou deixo de me relacionar, não é da conta de ninguém.

— Eu vejo isso. E vejo várias outras mulheres de poder que se inspiraram em você. Acha que o seu casamento também foi uma demonstração disso?

— Sim, acho.

— Como é para você saber que inúmeras garotas jovens se inspiram em você quanto a não ter medo de ser quem é?

— Sinto que estou cumprindo o meu dever. Eu não vou me vitimizar aqui, sofri homofobia poucas vezes na vida comparado a essas garotas, porque a minha família... A minha mãe, na verdade, sempre fez questão de me proteger de tudo isso, e, até mesmo, de me fazer tomar esse assunto com naturalidade, quando eu não era capaz de fazer isso. Ela foi a responsável por toda a confiança que eu tenho hoje. Então, o que eu digo para essas pessoas é: cerquem-se de pessoas assim. Não necessariamente familiares. Mas de pessoas, em geral, que os ajudem a normalizar isso dentro de vocês enquanto vocês ainda não conseguem. A minha mãe foi e para sempre será a minha pessoa.

— Então a sua mãe é responsável por essa grande... Figura que você é hoje?

— Definitivamente.

— Pode me dizer como?

Addison suspirou.

— Quando eu tinha seis anos, me virei para ela e disse que queria colocar homens maus na prisão. E que faria isso quando crescesse. Que seria uma juíza. Maioria das mães enlouqueceriam com essa frase, mas a minha mãe sorriu para mim e disse: "Se houver paixão e verdade em você o bastante para fazer isso, eu estou com você, filha. Vamos colocar homens maus na prisão!" No mesmo ano, no meu aniversário de sete anos, ela me deu a Constituição dos Estados Unidos de presente. E, desde então, não deixou de acreditar em mim por um segundo sequer. Ela sempre me disse que apenas confiar em mim mesma o bastante me levaria longe. E eu acreditei. E sou grata por ter acreditado nela. A minha mãe é a mulher mais forte que eu já conheci na vida. E sempre foi o meu exemplo a ser seguido.

— Isso é... Lindo, Addison. E os seus irmãos? Como é a sua relação com eles?

— Nós sempre fomos criados pela nossa mãe para sermos os melhores amigos um do outro. E isso perdurou por toda a nossa vida. Somos diferentes, completamente opostos, mas somos os melhores amigos um do outro.

— Sua mãe fez um ótimo trabalho, então.

— Ela fez.

Claire continuou fazendo mais algumas perguntas pessoais, mas não tão íntimas para Addison e, no momento em que o meu relógio apitou e eu percebi que a entrevista não estava sequer perto de acabar, senti o meu peito palpitar.

Addison não poderia ter uma crise de bronquite no meio da entrevista.

Por isso, chamei a produtora até mim, sussurrando toda a situação em seu ouvido. Mas ela me encarou um pouco amedrontada.

— Não podemos pausar agora, senhora Montgomery...

— A minha esposa precisa tomar esse remédio agora, senhorita Evans. — Falo utilizando de um tom de voz mais firme, sem deixar espaço para objeções.

— Eu sei... Eu... Droga, Claire vai me matar! Calma, um segundo, ok?

Assinto, vendo-a sussurrar algo no seu microfone e observo Claire deixar de encarar Addison para prestar atenção no seu ponto.

Ela limpou a sua garganta, soltando um sorriso e assentiu, esperando Addison terminar de falar.

— Entendi... Bem, eu tenho um aviso... Na verdade uma ordem da sua esposa aqui no meu ponto.

Addison me encarou.

— Ah, é claro, Claire Hunt vai fazer disso o momento ideal para haver mais cliques nesta entrevista. — A produtora sussurrou, em meio a um sorriso.

Eu apenas entendi o que aconteceria ali quando Claire me chamou ao palco.

Eu engoli em seco, não desejando ter toda aquela exposição, mas a saúde da minha mulher estava em primeiro lugar.

— Meredith, por favor, pode vir.

Eu me levantei, encontrando o remédio na minha bolsa e caminhei, devagar, até o palco. Subi as escadas, ouvindo a plateia gritar animada e sorri, entregando a cartela a Addison.

— Me desculpem pela intromissão, não era a minha intenção, mas eu não posso deixar de cuidar dessa idosa.

As pessoas riram e eu me estiquei, deixando um selinho nos lábios de Addison.

— Você está incrível — Sussurrei, antes de fazer menção de me afastar.

— Graças a você, pareço estar casada com a minha babá, então obrigada, querida.

Assim que eu ouvi a plateia rir, Addison lembrou que estava com o seu microfone ligado.

— É sempre um prazer mostrar o seu lado apaixonado para o público, meu amor. Se me dão licença... Claire.

A apresentadora sorria mais do que nunca, e fez questão de se levantar e me abraçar, antes que eu saísse, carregando aplausos da plateia.

Me sentei novamente no meu lugar e observei a entrevista se decorrer para o seu fim.

— Bem, não sei se ficou sabendo, Addison, mas nos últimos dias uma matéria bem maldosa foi colocada ao ar por uma mulher que se diz jornalista, falando coisas horríveis e nojentas sobre a sua esposa. Pode falar um pouco mais sobre isso para nós?

— Sim, aprecio a oportunidade de deixar claro, de uma vez por todas, que o meu casamento não concerne a absolutamente ninguém fora dos meus núcleos familiares e dos da minha esposa. E as mulheres com as quais eu já me envolvi em relacionamentos não confirmados não são no presente e nunca foram no passado do concernimento de ninguém, muito menos da mídia. Eu sou uma mulher casada. Com a mulher que, para mim, é a pessoa mais incrível que qualquer um possa ter o prazer de conhecer. Os comentários nojentos sobre a sua personalidade, a sua autoestima e o seu corpo não serão jogados para debaixo do tapete, principalmente porque foram feitos por uma mulher. Esse fato é ainda mais nojento do que os comentários em si. As pessoas olham para alguém como eu ou como Meredith, pessoas públicas, e acham que podem comentar sobre elas as merdas que quiserem. O mundo não funciona assim. Isso não ficará impune. Eu não me importo que falem sobre mim, mesmo que sejam mentiras. Mas todos e quaisquer comentários sobre a minha mulher serão caçados pela minha equipe jurídica e perfeitamente punidos, conforme a lei. Isso é tudo.

Eu me senti estarrecida pelo tom de voz tão rude que Addison havia utilizado para falar aquilo, mas, mais ainda, pela sutileza dela ao não expor que eu havia me sentido péssima sobre aquilo tudo. Addison me protegia em todos os sentidos, e eu sabia que completamente intencionalmente. E eu era a mulher mais sortuda do mundo por ter tamanha proteção dela.

— Conte comigo para o que precisar em relação a isso, Addison. Isso não é jornalismo, é maldade pura e completa. Não passará.

Addison assentiu e elas trocaram mais algumas palavras, até que Claire anunciou o fim da entrevista.

— Você possui alguma dedicação a esse prêmio?

A ruiva assentiu.

— Para a minha mãe, que é responsável por tudo que eu sou. E para a minha esposa, que me ajuda a manter-me nos trilhos.

— Muito obrigada, Addison. Obrigada!

Elas se cumprimentaram com um aperto de mão e toda a plateia ovacionou Addison com alegria, que se retirou do palco segurando o prêmio em mãos.

Eu me levantei, ao vê-la caminhar até mim e corri até ela, a abraçando com força pelo pescoço, o beijando inúmeras vezes.

— Obrigada — Sussurrei, a apertando mais fortemente contra mim.

Addison se afastou, deixando um beijo leve nos meus lábios e me entregou o prêmio.

— Um troféu para a melhor esposa troféu do mundo.

Eu gargalhei, tomando a estatueta com o seu nome gravado em ouro em mãos e a abracei novamente.

— Boba! — Sussurrei, beijando o seu pescoço.

— Sua — Ela sussurrou de volta, me beijando e, logo após, me guiando ao seu lado para a sessão de fotos, onde eu fiz questão de acompanhar cada trocar de roupa e cada foto tirada ali.

Às 12:30 eu e Addison já estávamos no nosso carro, indo em direção a nossa casa para o almoço.

O fizemos juntas, conversando amenidades sobre a academia e as competições e apenas nos demos conta do horário de Addison quando ela recebeu uma mensagem de Kepner, a informando que ela estava atrasada para uma reunião.

A ruiva se levantou rapidamente e me beijou com intensidade, mordendo o meu lábio inferior logo em seguida.

— Bom trabalho, esposa.

— Obrigada, esposa. — Ela sussurrou, se afastando e eu a observei caminhar até a porta, sentindo o meu coração se encher ainda mais de amor quando ela se virou, suspendendo os seus óculos de sol — Não veja Lei e Ordem sem mim.

— Nunca cometeria tal traição.

Ela assentiu, saindo e eu me peguei parada no meio da nossa sala sorrindo feito boba.

Addison Montgomery ainda iria me matar de amor. Eu sabia disso.

— Viu algum passarinho verde, senhora? — Miranda me indagou, sorrindo.

Eu ri, mordendo o meu lábio inferior, sem conseguir controlar o meu sorriso.

— Ou devo dizer ruivo?

— Engraçadinha! — Falo, a abraçando contra mim — Podemos comer torta juntas?

— Apenas se a senhora me contar o motivo de estar tão sorridente.

Respiro fundo, dando de ombros, sem conseguir deixar de emanar um dos meus melhores e mais sinceros sorrisos.

Eu sabia que estava parecendo uma boba. Mas eu não ligava.

Eu definitivamente não ligava em ser uma boba quando se tratava da minha ruiva.

— Amor, Miranda. Amor. Existe motivo melhor para sorrir?

A minha governanta riu, me acompanhando até a cozinha.

— Não, senhora. Não existe melhor motivo.

...

Cinco dias depois;

— Senhora Montgomery! A senhora me deixou preocupada ontem à noite! Não avisou que não jantaria em casa. — Miranda me repreendeu no momento em que eu adentrei a sala de estar pela manhã, já pronta para ir para a academia.

— Ah, querida! Me desculpe, eu acabei indo jantar na casa da minha mãe e cheguei em casa tão tarde! Já se passavam das duas da manhã. Não quis incomodar você. Me desculpe, não irá ocorrer novamente.

— Tudo bem, senhora — Ela acariciou a minha mão com delicadeza. — Mas a senhora irá jantar em casa hoje?

— Acho que não... Não estou muito acostumada a jantar sozinha. Provavelmente irei para a casa da minha mãe, estou pensando em dormir lá. A minha cama parece imensa depois desses quatro dias.

Ela sorriu.

— Saudades da senhora Montgomery? Achei que estariam juntas hoje.

— Você não imagina o quanto, Miranda. Mas ela estará de volta no domingo. Enfim... Já estou um pouco atrasada. — Falo me levantando da mesa, após apenas comer as minhas frutas — Tenho muitas coisas para fazer hoje. Amanhã a Academia não abre, mas em compensação... O trabalho hoje será triplicado para as competições. Tire o dia de folga, Miranda! Vá aproveitar a sua neta. Dê muitos beijos nas bochechas gostosas dela por mim. Nos vemos amanhã, ok?

— Pode deixar, senhora! Prometo que amanhã farei a sua torta novamente.

— Amo você, meu anjo! — A deposito um beijo terno na bochecha, sorrindo, mais do que feliz com aquilo.

— Amo muito mais a senhora! — Ela falou beliscando o meu nariz, eu ri.

Ela me cumprimentou com um abraço e eu coloquei os meus óculos de sol, tendo a porta aberta por ela para que eu saísse da sala.

No momento em que me preparo para começar a descer as escadas, ouço o meu celular tocar dentro da bolsa.

O alcanço, vendo o nome de Mark na tela.

— Oi, cunhado — Atendo a ligação, estranhando o horário. Mark não costumava acordar cedo.

Meu coração instantaneamente palpitou. Addison.

— Oi, maninha! — Ele me cumprimentou animado, me fazendo respirar aliviada logo a seguir pelo seu tom de voz. — Você está com Addison aí? Queria ser o primeiro a falar com ela hoje, porque a Amy ainda está dormindo, AHÁ! Veja só quem é o melhor irmão mais velho do mundo!

Eu ri, um pouco confusa pela sua comemoração.

— Não, não estou. Addison está em LA desde o domingo passado, achei que você soubesse.

— Eu sei, mas... Achei que você estaria com ela, pelo menos hoje. — Ele comentou, parecendo decepcionado.

— Não, não estou. Infelizmente não pude ir com ela, mas ela está atolada de trabalho também, não faria muita diferença.

— Ok, deixe-me ver se estou entendendo... Mer... Você sabe que dia é hoje? E por favor me diga que não, porque se você sabe... Você realmente está me surpreendendo.

— Humm, a data? — O indago, um pouco confusa com a sua mudança de voz. — Treze de outubro — Falo um pouco desconfiada, após checar no celular. — Por que? Não tem calendário no seu celular? — Brinco, fazendo-o rir.

— Ok, eu não sei como você não sabe disso, e no momento estou começando a considerar você a pior esposa do mundo, mesmo que falsa. Por Deus, Meredith!

— Mark... O que aconteceu? Você está me deixando nervosa! — Murmuro, batendo impacientemente um dos meus pés no chão.

— Hoje? Nada. Mas há trinta e um anos atrás, nessa exata hora, eu estava chorando de ciúmes pela minha irmã recém nascida possuir todas as atenções do mundo para si.

Os meus lábios se abriram em um perfeito O.

Não... Não poderia ser possível.

— O que você... O que você quer dizer com isso? O que está... Eu não estou entendendo.

— Meredith, você já se perguntou quando é o aniversário da minha irmã?

Não.

Não era possível.

Deus do céu, não era possível.

Como infernos eu nunca havia me perguntado isso?

— Por favor, Mark, não me diga o que estou achando que você vai me dizer...

— Sinto muito, maninha, mas o prêmio de pior esposa do mundo vai para você. Sim, hoje é aniversário da sua amada, ops, me desculpe, querida esposa.

— Merda, Mark! — Sussurro, fechando os meus olhos, enquanto me sentia a pior pessoa do mundo.

Addison estava passando o seu aniversário sozinha, rodeada de trabalho.

Inferno!

— É, eu sei. Mas fica tranquila, ela odeia aniversários. E provavelmente está feliz em não ter ninguém enchendo o saco dela, não que você encha. Mas você entendeu. Ela odeia ser o centro das atenções nesse sentido.

— Ok, eu preciso ir, mas obrigada por estragar por completo o meu dia. Deus, eu sou a pior esposa do mundo!

— Sempre que precisar, estou aqui. Essa é a minha especialidade, inclusive com a minha irmãzinha. Mas relaxa, Mer, ela odeia aniversários. Na verdade, se eu fosse você, fingiria mesmo que não sabia. Enfim... Preciso desligar, tenho que tentar dar parabéns para ela antes de Amélia, é a nossa competição todos os anos. Tchau, mana!

Ele desligou, me deixando completamente estarrecida, ainda com o celular no ouvido.

Aniversário de Addison.

Hoje era aniversário de Addison.

E eu era, definitivamente, a pior esposa do mundo por não saber aquilo.

Eu sequer havia me dado o trabalho de ler as suas informações pessoais no nosso contrato.

Primeiro, o seu nome de batismo. Agora, o seu aniversário.

Não havia perdão, eu sabia disso.

Mas também sabia que o dia não havia acabado, na verdade, estava bem longe de acabar.

Por isso, desço as escadas rapidamente, sem me importar com o tamanho dos saltos que eu usava.

— Bom dia, Warren. Por favor, comunique a Alex que eu estarei indo para Los Angeles no final da tarde, quero o jatinho no aeroporto às 17:00 em ponto, ok? E diga para ele garantir que a minha mulher não saiba disso, por favor!

— Sim, senhora. Como desejar. Eu apenas posso perguntar se... Aconteceu alguma coisa? A senhora está um pouco... Ofegante. — Ele realmente parecia preocupado.

— Aconteceu. Aconteceu que eu sou a pior esposa do mundo, Warren. Definitivamente a pior esposa do mundo. — Falo, fechando os meus olhos em evidência do meu desespero.

— Tenho certeza que a senhora Montgomery discorda.

— Provavelmente, mas eu não — Respondo, adentrando o carro, enquanto mordia o meu lábio inferior, me indagando sobre o que faria para ela, mas, conforme uma ideia nada usual surgiu na minha cabeça, assim que eu me lembrei de algo, senti o meu peito pulsar fortemente.

Céus, eu realmente não acreditava que eu estava considerando aquilo.

Era loucura, certo?

Droga!

Alcanço o meu celular, discando o número da minha mãe rapidamente e ligando para ela.

— Oi, filha, o que houve?

— Mamãe, pode chegar na academia um pouco mais cedo? Sei que está atolada de coisas... Mas preciso de ajuda.

— Claro, aconteceu alguma coisa?

— Sim, e você vai me ajudar a reverter isso. Estarei a esperando na sua sala.

Desligo a ligação, encostando a minha cabeça no banco traseiro do carro, enquanto me sentia o pior ser humano do mundo.

Mas eu iria reverter aquela situação. Eu apenas não sabia se seria o suficiente para apagar o quanto eu havia sido dispersa com uma das pessoas que mais se importava comigo no mundo.

Droga, Meredith! Droga!

Mordo o meu lábio inferior, sentindo o meu coração palpitar no momento em que repassei o meu pequeno plano repentino e completamente impulsivo na cabeça.

Eu apenas não sabia, na verdade, não tinha nenhuma noção se Addison gostaria.

E isso seria o motivo de toda a minha ansiedade pelo resto do dia, até chegar em Los Angeles.

...

Referências:

¹Harry Houdini foi um dos mais famosos escapologistas e ilusionistas da história.

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