41- Toda a Minha Devoção.
<3: Para o gelo do meu suco: eu te amo.
...
Olá, meus amores! Não vou me demorar por aqui. Apenas gostaria de dizer duas coisas.
PS: Os 300K estão por vir, e eu já tenho uma surpresa planejada para isso.
PS²: Novembro está chegando, e isso quer dizer... #Luzweek. Me contem o que desejam de postagens por aqui... (Além do nosso capítulo de cdc)
PS extra: As músicas desse capítulo são:
- To make you feel my love - Adele;
- Sweetest devotion - Adele;
- Eu preciso de você - Maria Bethânia;
- Eu não existo sem você - Maria Bethânia;
Não se esqueçam de votar, comentar e me dizer o que acharam, seja por aqui, na # do twitter (#cdcfic), ou no meu perfil de escrita: @/strawhisky_
É isso, nos vemos logo (isso é uma promessa!) ;)
Amo vocês!
...
Meredith Montgomery,
Alguns instantes antes;
Uma das minhas curiosidades mais recorrentes ao longo da minha adolescência e alguns anos da minha juventude era acerca da morte. Não somente sobre o ato de morrer em si, ou sobre o seu real significado, mas sim sobre toda e qualquer coisa que houvesse relação com ele.
Como, por exemplo, se as suas datas de ocorrência tinham algum significado. Ou se alguém realmente pode partir desse mundo deixando pendências para trás, ou, até mesmo, se, antes do acontecimento em si, há o conhecimento de estou morrendo, ou se é apenas como quando antes de pegarmos no sono não sabemos que iremos pegar no sono e apenas acordamos, no dia seguinte, pensando, "Ah, eu dormi mesmo!"
Por isso eu costumava pensar e até mesmo fielmente acreditar que a morte era sim uma espécie de sono, mas sem a surpresa no dia seguinte de "Olha, eu dormi!". Era tão impiedosa e tão cruel que sequer nos dava a chance de ter qualquer conhecimento a respeito dela antes que viesse, nos tocando com tanta sutileza vil que não nos dá, sequer, tempo para a digerir.
Mas essa ainda não era a minha maior questão em relação à morte.
A coisa que mais me interessava sobre esse fato na minha adolescência, antes mesmo que eu possuísse qualquer contato com a sua perversidade e que fosse destruída por ela, mesmo que indiretamente, era em relação aos pensamentos que ultrapassaram o consciente ou subconsciente de cada ser que uma vez já foi vivo antes de deixar de ser.
Qual era o último pensamento de uma pessoa antes de morrer? Ou antes de achar estar morrendo?
Isso era algo incrível de se pensar para mim na época, pois eu costumava achar que haveriam de ser os pensamentos mais importantes e mais significativos de toda a nossa vida.
E eu sempre gostava de imaginar que eles fossem sobre pessoas. Mais especificamente as pessoas mais importantes da nossa vida, ou as que mais amamos. Que mais nos importamos.
Era um deleite para mim criar histórias sobre os últimos pensamentos de pessoas fictícias que eu criava na minha própria cabeça para preencher o vazio que me habitava na minha adolescência.
Para mim, pensar em alguém antes de dar o seu último suspiro, ou de achar que o daria, era uma das coisas mais belas do mundo. Uma das maiores provas de amor que se pode ofertar a alguém silenciosamente em todo o mundo.
E talvez eu estivesse certa.
Eu apenas não sabia que poderia estar prestes a viver uma das minhas maiores curiosidades de adolescente quando adentrei a Maybach sentindo como se o meu coração houvesse sido esfaqueado milhares de vezes pela pessoa que eu nunca esperaria que o fizesse.
O pensamento de que Addison poderia pensar tão baixo de mim, a ponto de acreditar que eu a preferia morta apenas pelo seu dinheiro, me doía como mil facas enfiadas no peito.
E, enquanto aquelas facas eram cravadas em mim, pouco a pouco, conforme ela cuspia todas aquelas palavras para mim, eu percebi algo que fizera tudo aquilo doer ainda mais.
Aquelas palavras, por mais que houvessem feito o perfeito papel de me machucar de maneira inenarrável, não foram capazes de me fazer sentir qualquer coisa ruim que fosse por aquela ruiva. Não me fizeram e nunca seriam capazes de me fazer deixar de... Amá-la.
Aquilo me trouxe um desespero tão grande, misturado a sensação amarga de dor que inundava o meu peito que, no momento em que arranquei as chaves das mãos de Warren e adentrei o meu carro, eu soube que estava arruinada.
Que Addison seria a minha ruína.
E eu nunca, sequer, imaginei que um dia eu teria esse pensamento sobre ela.
Mas era a mais pura verdade, e eu sabia disso.
E onde diabos eu estava com a cabeça nessas últimas semanas, desde que me dei conta de que sim, eu talvez amasse Addison?
Onde, diabos, eu estava com a minha cabeça ao aceitar aquilo de maneira tão natural?
A ideia de me apaixonar por Addison era apavorante.
Mas por que a ideia de amá-la não me pareceu?
E mais ainda, porque eu não conseguia me ver me afastando dela e me afastando desse sentimento?
Por que eu simplesmente não conseguia me imaginar vivendo com Addison, que não da maneira tão descomplicada a qual adotamos nos últimos pouco mais de dois meses?
Por que eu não conseguia me ver a tratando de qualquer outra maneira, que não fosse a qual a trato nesse mesmo espaço de tempo?
Eu estava arruinada.
E esse sentimento apenas me trouxe uma sensação de desespero, por breves segundos, que mais pareceram horas.
Porque, no momento em que fechei os vidros do carro ignorando todos os chamados desesperados de Warren e dei partida cantando pneus, eu simplesmente senti que algo iria acontecer.
Mas, é claro, eu não imaginava o quê.
E, mesmo que a minha parte mais sensata estivesse trabalhando com todas as suas forças para tentar me dominar, não havia espaço para sensatez nos sentimentos de decepção e desespero tão grandes que me assolavam naquele momento.
Não havia espaço para perceber que eu estava dirigindo em alta velocidade, com a visão nublada pelas lágrimas e as mãos tremendo em uma evidência da aflição que assolava o meu peito.
E, no momento em que o meu celular tocou dentro da minha bolsa pela enésima vez e eu, sem pensar, me virei, esticando o meu braço para o atender, eu sequer imaginei o que me aguardava.
Tateando o interior da minha bolsa, entre as inúmeras coisas que eu carregava nela, encontrei o aparelho e, sem conseguir enxergar o nome na tela, pelas inúmeras lágrimas que caíam sem cessar, eu o atendi, o conectando no painel do carro.
Antes que as minhas cordas vocais fizessem qualquer mínimo esforço doloroso para proferir um "alô" da maneira menos chorosa o possível, elas se retesaram assim como todo o meu corpo, no momento em que uma voz desconhecida por mim soou do outro lado da linha.
— Olá, madame Montgomery — A risada irônica e sutil que sucedeu aquele cumprimento me fez gelar — Não se dê o trabalho de falar nada, até porque, eu já estou bem mais que familiarizado com a sua voz, seu andar, sua rotina, seu jeito tão... Alegrinho de ser, enfim, você entendeu. Mas não se engane, não tenho nada contra você, pelo contrário, me compadeço por você, por ser casada com o ser mais odioso que já ousou pisar na face dessa Terra. E, por me compadecer tanto de você, fiz questão de te ligar para passar um recado: aproveite-a enquanto a tem. Porque, quando eu enfim colocar as minhas mãos no demônio com o qual você é casada e a torturar da pior forma possível, antes de comer prazerosamente todos os seus órgãos... Você e toda a família perfeitinha de vocês irão velar os restos que sobrarem dela em caixão fechado. — Sinto as minhas vistas escurecerem por completo diante daquela última frase — Não ouse entrar no meu caminho, caso contrário, eu farei a sua querida esposa assistir todas as coisas dolorosas que farei em você antes de as repetir com ela e fazer você também assistir. Mas não fique ansiosa, eu sou um homem muito paciente, lembre-se disso. Tenha uma ótima semana, professora Montgomery.
Assim que o apito da ligação sendo encerrada soou pelo painel, eu senti o mundo parecer girar ao meu redor, enquanto o meu pé automaticamente pisava o freio do carro com força e, antes que eu pudesse sequer pensar em fazer qualquer coisa, senti o meu corpo desprotegido pelo cinto, que eu inusualmente havia esquecido de colocar, se projetar para frente enquanto o meu carro batia em outro que eu sequer havia percebido que estava à minha frente.
Senti a minha cabeça, o meu pescoço e o meu abdômen doerem de maneira cruel, após baterem no vidro do carro e no volante com força, enquanto o mundo parecia parar por alguns minutos e a minha visão ia se tornando cada vez mais escura. E, após isso, sinto mais um impacto forte me fazer achar, por um milésimo de segundo, que eu não suportaria de tanta dor.
Tudo doía.
Eu queria estar preocupada com o fato de que, talvez, eu corresse risco de morte, ou que eu pudesse ter me machucado feio, pois sentia em minha boca o gosto metálico e em minha testa o escorrer do sangue. Eu queria estar preocupada com o fato de que eu, talvez, pudesse nunca mais ver as minhas mães, ou os meus amigos, ou a minha sogra, ou os meus cunhados, ou, até mesmo, os meus alunos. Eu poderia e queria estar preocupada com o fato de que tudo aquilo poderia ser tão grave, que me impediria de competir em dezembro. Ou de trabalhar.
Mas eu não estava.
Nenhuma dessas coisas fizeram o meu coração se apertar tanto e o meu corpo tentar tanto lutar para se mover daquele banco o quanto o pensamento que inundava todo o meu consciente e até mesmo o meu subconsciente.
Addison.
Addison corria perigo.
Eu poderia morrer e nunca mais ver Addison.
Addison.
Aquele homem planejava matar Addison, a minha Addison.
Addison.
Se a minha crença de adolescência estivesse correta, naquele momento, cada mínima célula do meu ser fazia questão de demonstrar todo o amor que havia em mim por Addison, através de cada mínimo poro existente no meu corpo.
Ninguém além dela poderia ter tanto de mim a ponto de ser o meu possível último pensamento.
Se aquele meu fechar de olhos fosse o último, ele teria sido feito em meio a um único pensamento de um único rosto possível.
O pensamento e o rosto da minha Addison.
E que tipo de sentimento mais insano poderia ser aquele, de estar pensando na única pessoa a qual, no mundo inteiro, eu não poderia estar pensando naquele exato momento?
Que sentimento mais insano poderia ser aquele, senão o amor?
O amor que exalava de cada mínima célula do meu corpo para a única pessoa no mundo inteiro a quem eu não poderia amar.
Eu estava arruinada.
Completamente arruinada.
...
Addison Montgomery,
Alguns minutos depois;
Eu não sei como cheguei até o hospital.
Eu não sei quem foi o responsável por me trazer até aqui, ou quanto tempo o percurso durou, ou, até mesmo, se eu havia sido capaz de proferir qualquer coisa durante todo ele.
Porque, no momento em que eu adentrei as portas do hospital sentindo como se o mundo estivesse em ruína sob os meus pés, tudo antes daquele pensamento pareceu uma imensa e terrível neblina.
Antes que eu pudesse perceber, eu já estava partindo para cima de um enfermeiro que me implorava para aguardar por alguma resposta e me impedia de adentrar a porta escrita "emergência".
Senti alguém me segurar com certa força e me virei, com a mão direita em punho, pronta para socar o rosto de quem quer que possuísse essa audácia, mas, ao ver o rosto preocupado da única pessoa a qual poderia possuir aquela audácia e ao senti-lo me abraçar com força contra si, eu senti como se pudesse desabar ali, naquele mesmo momento.
— Calma, Addie... Calma — Ele sussurrou contra os meus cabelos, enquanto eu sentia os meus pulmões arderem em clemência pelo ar que eu nem sabia que segurava.
— Alex... Eu preciso vê-la... Eu preciso...
— Eu sei, sei que precisa. Warren foi tentar saber alguma coisa.
Senti todo o meu corpo estremecer e a minha garganta arder em um nó insuportável.
Alex me guiou até algum lugar e, assim que percebi, eu já estava sentada, com o corpo inteiro tremendo tanto que sequer conseguia me manter parada.
— O... O que aconteceu? — Pergunto com a voz embargada, sentindo-o afagar as minhas costas.
— Pelo básico que Warren me contou, ela estava dirigindo em alta velocidade e, de uma hora para a outra, freou com intensidade e bateu contra outro carro, saindo da pista e... Bem, batendo na ponte.
Esfrego as minhas mãos contra a minha calça, sentindo-me a ponto de enlouquecer.
— Não sei qual o real estado dela, pois cheguei junto com você.
— Qual... O estado do carro?
Ele suspirou e eu tremi, já sabendo a resposta, sem que ele precisasse dizer em palavras.
Se o carro estava destruído, Meredith...
— Não pense nisso — Ele me puxou contra si, como se houvesse entendido a minha pergunta e me abraçou novamente — A sua Meredith é uma das pessoas mais fortes que já conheci, mil vezes mais do que você e eu juntos, você sabe disso.
Assinto, apertando as suas costas contra mim.
— Eu sinto muito por ter sido... Tão idiota com você. Eu apenas me preocupo, você é a única família que eu tenho, você é... A minha irmã, Addison. É... Praticamente... Uma mãe para Luke, a única família que nós temos — Ele sussurrou contra os meus cabelos, acariciando-os.
Estremeço mais uma vez, assentindo, incapaz de pensar em falar qualquer coisa.
— Meredith irá ficar bem.
— Preciso... Ligar para a minha sogra.
— Me dê o seu celular e eu mesmo ligo, diretamente.
— Eu acho que... Preciso fazer isso.
Ele assentiu novamente e eu peguei o meu celular com as minhas mãos trêmulas, encontrando o número de Flora entre tantos e ligando para ela, incapaz de manter o meu braço esticado o bastante sem o ter estremecendo de maneira desesperada.
Por isso, coloquei no viva-voz, o apoiando na minha coxa trêmula.
— Oi, minha nora! Como vai, meu amor? Estava mesmo querendo falar com vo...
— Sogra... — Engoli em seco, fechando os meus olhos, após sentir as minhas vistas escurecerem — Meredith... Ela...
— O que? O que está acontecendo, Addison? — Sua voz tomou um tom tão doloroso que eu senti o meu peito arder ainda mais — Fale!
— Houve um acidente. Eu... Eu...
Eu era incapaz de falar qualquer outra coisa. A minha garganta havia travado por completo. Aquilo era inteiramente culpa minha. Como eu diria isso para a minha sogra?
— Acidente? Como assim acidente? Addison! Addison! O que...
— Senhora Miller, aqui é Alex, amigo de Addison. Nós estamos no... Langone. A senhora pode... Ok.
Alex encerrou a chamada e eu apoiei os meus cotovelos nas minhas pernas, sentindo-me tonta demais para conseguir ficar ereta.
— Quer que eu ligue para Ellis?
Apenas neguei com a cabeça, sem conseguir parar de me martirizar com o pensamento que estava me deixando maluca a cada segundo que se passava.
Pela segunda vez em menos três meses.
Eu não poderia perder Meredith.
Que tipo de inferno seria a minha vida se aquilo acontecesse?
Aquilo era culpa minha, e eu sabia disso. Eu sabia, mais do que nunca, disso.
Mas, naquele momento, eu sequer conseguia me culpar por aquilo como eu deveria.
Tudo que eu conseguia era imaginar a única mulher pela qual eu poderia enfrentar todas as pessoas, todos os mundos e todas as merdas para proteger... Deitada em uma maca de hospital, machucada demais e correndo risco de...
Puxo os meus cabelos para trás, sentindo a minha garganta doer de maneira impiedosa, enquanto sentia algo que há muito tempo eu não sentia, escorrer quente pelas minhas bochechas gélidas.
Lágrimas.
Eu estava chorando.
Estava fodidamente chorando.
Eu sequer poderia listar a última vez que isso aconteceu. Quando eu era uma criança, provavelmente.
Eu me acharia patética naquele momento, se a pessoa pela qual aquelas lágrimas caíam não fosse mais do que merecedora delas.
Meredith era digna de toda dor que ela poderia me causar nesse mundo, mesmo que indiretamente, pois eu sei que ela nunca me faria sangrar para ela de propósito.
Sentir Alex acariciar as minhas costas e me dar todo o apoio que eu precisava estava apenas piorando todo aquele inundar nos meus olhos. Porque eu sentia como se... Como se ela estivesse...
Não. Eu não pensaria nisso.
Insuportáveis minutos se passaram sem que eu possuísse quaisquer notícias sobre a minha mulher, enquanto sentia o meu peito subir e descer rápido demais para que eu pudesse controlar.
Eu era a culpada por tudo aquilo.
E pensar, a cada segundo que se passava, na minha Meredith sentindo qualquer tipo de dor ou correndo risco de morte por minha culpa... Doía mais do que estar queimando viva no inferno.
— Addison!
Me levantei rapidamente assim que ouvi a voz vacilante da minha sogra e, sem sequer calcular aquela ação, a abracei contra mim com força, sem imaginar que, talvez, poderia estar a machucando.
Eu precisava sentir um pouco de Meredith em mim. E Flora era exatamente isso.
— O... O que aconteceu? — Ela sussurrou, me abraçando com mais força e tremendo contra mim, ou junto a mim.
— Isso... Isso é tudo culpa minha — Solto, sem sequer pensar no que eu estava falando. Eu não mais possuía controle de nada. E nem queria possuir — Isso... Isso é tudo culpa minha.
— Addie... Calma... O que...
— Nós brigamos. Eu... Fui uma grande filha da puta com ela e ela saiu da empresa... Tão... Tão... — Sem que eu esperasse, um soluço escapou dos meus lábios, enquanto eu sentia os meus olhos doerem, mesmo que fechados, pela quantidade de lágrimas acumuladas neles — Ela bateu com o nosso carro. Por minha causa. Ela está... Ela está... Nessa porra de hospital por minha causa — Estremeço, sentindo os meus pés falharem ao chão.
— Shhh, calma, filha... Calma... A nossa Mer vai ficar bem. Eu... Eu sei disso. Ela é forte, forte como nenhuma de nós poderia ser. Ela irá ficar bem, eu sei disso... Calma, por favor. Alex, traga água para ela, por favor.
Me surpreendendo com a sua calma, mesmo que ela ainda tremesse e ainda chorasse, a minha sogra me colocou sentada na poltrona novamente e se sentou ao meu lado, me abraçando contra si e beijando o topo da minha cabeça.
— Ela vai ficar bem...
— Eu não vou... Não vou suportar se...
— Shhh, não pense bobagens, por favor... Por favor, Addie. Não me faça imaginar isso.
— Me des...
— Tudo bem. Vai ficar tudo bem.
— Eu liguei para a sua mãe, Addie. Ela está a caminho com os seus irmãos — Lisa sussurrou para mim, acariciando as minhas costas — Beba um pouco de água, querida, por favor.
Neguei com a cabeça, sentindo a minha sogra me abraçar com mais força e, sentindo-me mais segura em seu abraço do que qualquer outra coisa, encostei a minha cabeça em seu peito, enquanto a sentia acariciar os meus cabelos com as suas mãos trêmulas.
Eu não sabia quanto tempo havia se passado quando a minha mãe se sentou ao meu lado e me abraçou junto a Flora e Amélia se ajoelhou diante de mim, limpando as minhas lágrimas e acariciando as minhas mãos trêmulas.
Também não sei o que elas tentavam me dizer. Ou quantas vezes elas tentaram me fazer beber água.
Em dado momento, eu sequer mais saberia responder o meu nome completo, se me fosse perguntado. Ou a minha profissão. Ou quanto era dois mais dois.
Eu estava tão mergulhada em uma espécie de transe, ouvindo a risada de Meredith, repetindo, na minha cabeça, todas as suas piadas bobas, ou sentindo o cheiro do seu perfume, ou ouvindo o som do seu ronco, ou o som tão angelical da sua voz, ou sentindo a textura da sua pele, ou vendo o brilho em seus olhos, que nada, absolutamente nada nesse mundo seria capaz de me tirar daquele transe além dela mesma.
Nada no mundo havia doído tanto quanto aquela espera estava doendo. O quanto a imaginação de perder a única pessoa a qual foi capaz de me fazer ver o mundo de maneira menos agridoce e mais pura, ou que seria capaz de me fazer comer todos os doces existentes nesse mundo, apenas para a ver feliz, doía. E como doía. Doía como a porra de um inferno estar ali, parada, sem poder entrar naquela sala e dar tudo de mim que fosse necessário para salvar a vida da minha mulher.
Eu seria capaz de dar toda a minha vida, se fosse necessário, para que Meredith vivesse.
Isso deveria ser assustador, assustador para um caralho, mas não era.
Na verdade, eu o faria sem sequer pensar uma vez, quem dirá duas.
Por Meredith, eu queimaria a mim mesma e a porra do mundo inteiro. Tudo para, pelo menos, receber um sorriso seu antes de sucumbir para sempre.
Qualquer coisa. Qualquer coisa que me fizesse poder sentir o seu cheiro de novo, Ouvir a sua voz. Ser tocada por ela. Ser acariciada por ela. Qualquer mínima porra de coisa!
Porra! O que estava acontecendo comigo?
— Mana... Por favor, você está me preocupando! — Amélia me sacudiu, me tirando dos meus devaneios sobre um mundo ideal onde eu pudesse dar a minha vida por Meredith — Ela vai ficar bem, Addie...
Desvio o meu olhar dela, voltando a recostar a minha cabeça no peito da minha sogra, sentindo-me o ser humano mais incapaz, mais inútil e mais amaldiçoado do mundo.
— Me fala... Eu posso fazer alguma coisa por você, Addie?
Suspiro, fechando os meus olhos, mas assinto.
— Reze — A minha voz saiu em um sussurro quase inaudível.
Amélia assentiu.
— Quer que eu reze com você?
— Não. Quero que reze no meu lugar.
Ela assentiu, sem me questionar.
Se houvesse, nesse mundo, qualquer coisa maior do que eu, do que qualquer ser humano, eu sabia que não era digna de me dirigir a ela. O que quer que fosse.
Eu nunca acreditei em um deus. Mas, naquele momento, eu seria capaz de oferecer tudo em que eu possuía para um, se existisse e se fosse capaz de me fazer ter a minha mulher de volta, viva e bem.
Horas se passaram e uma forte chuva começou a cair lá fora, fazendo o dia escurecer por completo.
Eu não sabia mais que horas eram, se já estava perto da tarde ou se da noite.
Eu estava perdida. Em todos os sentidos daquela palavra.
Quando senti o corpo da minha sogra se sobressaltar, abri os meus olhos, visualizando uma médica vir até nós.
— Família de Meredith Montgomery?
Me levantei, com as forças que eu sequer imaginei possuir, sendo seguida pela minha sogra, a minha mãe, Amélia, Alex e Lisa.
— Sim, como ela está? Como... Como ela está? — Pergunto, sentindo como se pudesse vomitar todos os meus órgãos naquele momento.
— A senhora é es...
— Esposa. Sou esposa dela — Adianto, sentindo todo o meu corpo tremer de maneira insuportável.
— Sou a Doutora Mallmann — Ela me cumprimentou com um aperto de mão firme — A sua esposa é... — A vi limpar a sua garganta — Professora da minha... Filha. Sente-se, por favor, senhora Montg...
— Não quero me sentar, quero saber sobre a minha mulher. Como ela está? Ela está...
— Tudo bem. A sua esposa chegou aqui inconsciente, com alguns hematomas evidentes, alguns sangramentos, mas nada muito preocupante, nenhum ferimento externo agravante, graças ao airbag do carro e ao fato dos vidros serem resistentes. Ela estava sem cinto e, se eles não fossem, ela poderia ter sido arremessada para fora dele, o que a poderia ter trazido problemas infinitamente graves. O que nos preocupou foi uma hemorragia interna abdominal e uma distensão cervical grave, pois, como já mencionei, ela estava sem cinto e a colisão foi muito forte, o que fez com que o seu pescoço se esticasse mais do que está acostumado, e de maneira muito violenta. Nós tivemos muito trabalho com esse pescoço, principalmente quando ela acordou e nós pudemos entender a intensidade da sua dor. Imobilizamos o local e, por ora, não é a nossa preocupação maior. E sim a hemorragia. Ela está em observação e assim ficará por mais doze horas, veremos como o seu corpo irá responder aos medicamentos e a drenagem. Mas ela precisará de transfusão de sangue urgente e, no momento, nós estamos em grande crise no hospital quanto ao tipo sanguíneo da sua esposa. Por isso é necessário que toda família faça os testes para avaliar a compatibilidade, e, caso nenhum possua, nós precisaremos emitir um alerta nos hospitais da cidade. Alguém é O negativo por aqui?
Encarei todos ao meu redor, que, pouco a pouco, foram negando com as cabeças de maneira derrotada.
— Addie, você é O, apenas não consigo me lembrar se positivo ou negativo — A minha mãe sussurrou para mim e eu assenti, sentindo tudo dentro de mim se agarrar aquilo. Eu precisava ser compatível.
— Me leve para fazer o teste. Eu... Posso vê-la?
A médica assentiu, me indicando o caminho e eu senti a minha mão ser segurada pela minha sogra.
— Dê um beijo nela por mim — Ela sussurrou em um tom de voz embargado, segurando as suas lágrimas.
Assinto, a abraçando de maneira rápida e sussurrando em seu ouvido:
— Eu serei compatível.
— Espero que sim, meu amor.
Acompanhando a mulher alta de cabelos curtos pelos corredores daquele imenso hospital, eu sentia o meu corpo estremecer a cada passo em que eu dava, e conforme mais perto da minha mulher eu ficava.
Eu precisava vê-la como precisava de ar.
Eu precisava tocá-la, sentir a sua pele quente e macia contra os meus dedos, a ver respirar ou, até mesmo, a ouvir roncar para, enfim, ter um pouco de paz.
A doutora Mallmann parou diante de uma porta e me encarou.
— Ela está sedada pela dor, e o pescoço não pode ser movido agora em hipótese alguma, portanto, nenhum movimento brusco, ok?
Assinto, ansiosa.
Assim que a porta fora aberta e eu adentrei aquela sala, eu senti o meu peito queimar em uma dor insuportável ao ver o ser tão pequeno e indefeso pelo qual eu quase tive um infarto nas últimas horas deitada numa maca, com o seu pescoço imobilizado, uma máscara no rosto e vários machucados ao longo do seu rosto e dos braços.
Me aproximei com calma, sentindo os meus olhos marejarem novamente ao vê-la naquele estado.
Um curativo cobria a sua testa. Havia um hematoma em seu antebraço direito e outro no canto da sua boca.
Necessitando senti-la, toquei levemente a sua mão, com o maior cuidado que eu pudesse ter e me curvei, a levando aos meus lábios e sentindo o seu cheiro, enquanto fechava os meus olhos e uma lágrima teimosa escapava de um deles.
Devagar, acariciei a pele livre na sua testa e me estiquei até o seu rosto, depositando um beijo terno ali.
— Estou aqui, meu anjo — Sussurrei para ela, sentindo que ela poderia me ouvir — Estou aqui, eu prometo que não sairei desse hospital sem você. Eu sinto muito, por tudo.
— Isso pertence a você — A médica me entregou as alianças de Meredith e eu as peguei, apertando-as contra a palma da minha mão.
— Pertence a ela — Murmurei, acariciando o rosto de Meredith.
— Ela não pode as usar por enquanto, por causa dos exames radiográficos.
Assinto, as guardando no meu bolso.
— Vamos? A sala de testes é nesse mesmo andar.
Assinto, me esticando novamente e depositando um beijo nos cabelos de Meredith, sentindo intensamente o cheiro do seu shampoo de morangos.
— Eu já volto — Sussurro para ela, soltando a sua mão e a encarando por mais um segundo, vendo-a respirar profundamente.
Ali, naquele momento, eu tive mais do que a certeza de que eu realmente seria capaz de incendiar o mundo inteiro por ela. Ou de queimar viva na porra do inferno, apenas por ela.
Eu cometeria as maiores loucuras do mundo. Tudo por ela. Apenas por ela.
E isso me assustava como um inferno. Porque, perto de Meredith, eu era o ser humano mais descontrolado do mundo.
Descontrole.
Era isso que Meredith significava na minha vida.
E, porra, eu estava fodida!
Tão fodidamente fodida que eu não era, sequer, capaz de mensurar o quanto.
E nem queria pensar nisso nesse momento. E não iria.
Pelo menos não naquele momento.
Segui a médica até uma sala e me sentei em uma poltrona larga, enquanto a via vestir suas luvas e pegar todo o material necessário ali.
— Há alguns requisitos que desejo esclarecer para caso você seja compatível com a sua esposa. Como Meredith é O negativo, ela apenas pode receber doação de sangue do mesmo tipo em que o dela. Caso você não seja compatível, precisaremos conseguir alguém que seja, o mais rápido possível. Caso você seja compatível, terá que se alimentar, porque imagino que não tenha comido nas últimas quatro horas. Nada gorduroso. E, com isso, iremos esperar duas horas para retirarmos o sangue. Você bebeu hoje? Fumou?
— Não — Respondo, me sentindo aliviada por não ter bebido hoje e por não ter, sequer, tocado em uma carteira de cigarros nos últimos meses.
— Ok, vou passar um formulário para que você preencha, caso seja compatível.
Assinto, e apenas naquele momento percebi que ela já havia furado os meus dedos e já havia tirado o sangue necessário para a realização da tipagem.
Suspirei, agradecendo internamente por não ter me atentado ao processo enquanto ela o fazia.
— Teremos o resultado em, no máximo, uma hora e meia. Mandarei essas amostras para o laboratório como prioridade.
Assinto, um pouco nervosa.
— E... Addison?
A encarei, vendo um mínimo sorriso surgir em seus lábios.
— Eu vou fazer tudo que estiver ao meu alcance por ela.
Me surpreendo pela sua fala tão... Delicada e assenti.
— Obrigada.
Ela apenas sorriu para mim.
Após terminar tudo, eu saí sendo acompanhada por ela e a pedi para ficar com Meredith naquele meio tempo.
— Sugiro que coma primeiro. Não desejamos perder tempo, certo? Use esse cartão para passar quando voltar. Apenas você está autorizada a vê-la.
Assinto, indo até a recepção e vendo toda a nossa família ali.
— E então? — Flora foi a primeira a se levantar.
— Ela está sedada. Terei o resultado da tipagem em uma hora e meia. Mas preciso comer, caso seja compatível, precisarei estar alimentada.
— Há um restaurante aqui ao lado, eu posso levar você — Alex se prontificou e eu assenti, saindo dali ao seu lado.
Nós adentramos o restaurante pequeno em comparação aos que eu costumava frequentar, mas aconchegante e escolhemos uma mesa aos fundos.
— O que vai comer?
— Não sei. Nem sei se consigo comer, na verdade.
Ele suspirou, tocando a minha mão.
— Mas precisa. Vou pedir uma salada e um salmão para você, ok? E um suco de laranja.
— Sem açúcar.
Ele fez o pedido e, assim que o garçom se afastou, ele me encarou novamente.
— Addison... Eu... Sinto muito por toda a nossa briga.
— Eu sei — Murmuro encarando as minhas mãos ainda trêmulas em cima da mesa — Não vou dizer que sinto muito pelo soco, pois não sinto.
— Um dos mais fortes, devo admitir.
Assinto, sem conseguir sorrir pela sua piada.
— Meredith não é uma qualquer — Murmurei, ainda encarando as minhas mãos.
— Eu sei. E nunca disse que ela era.
O encarei, confusa. Foi exatamente o que ele disse.
— Ela deveria ser. Na teoria. Mas não é, e eu sei disso. O mundo sabe disso.
Me calo.
— Não me arrependo de ter tentado colocar juízo nessa sua cabeça. Apenas de... Ter provocado você.
— Me provocado? — O indago.
— Sim. Quando disse que Meredith deveria ser uma qualquer, na teoria. Apenas queria comprovar a minha teoria de que ela estava longe de ser.
— Não sei o que ela é, mas sim, ela está.
— Bem... Está na cara que ela não é mais apenas a sua sócia.
Dou de ombros.
— O que você acha que vocês são?
— Não sei. E não quero pensar nisso.
Ele assentiu, parecendo entender.
— Ela vai ficar bem. Aquela baixinha é capaz de derrotar eu e você ao mesmo tempo no boxe.
— É, ela é — Murmuro, entre um mínimo sorriso.
— Luke queria vir ficar com você, mas...
— Nem pensar. Ele não pode sonhar em pisar num hospital. Não quero vê-lo doente.
— Eu sei. Foi o que eu disse a ele.
Assinto, observando o garçom trazer o meu prato e passo a comer com dificuldade, devido ao nó insuportável que habitava o meu estômago.
Consegui comer apenas metade do prato e bebi todo o suco, fazendo o pagamento da conta o mais rápido possível para que eu pudesse passar as últimas horas antes do resultado do teste junto a Meredith.
Adentrei novamente o saguão do hospital e me deparei com a figura desprezível que se denominava melhor amiga da minha mulher ali, tentando a todo custo passar por cima dos seguranças do hospital para adentrar a área restrita.
Tentando, a todo custo, segurar a minha raiva e o pensamento de que aquela desgraçada foi a responsável por todas as merdas que haviam se passado pela minha cabeça para que eu houvesse tratado Meredith daquela maneira e a dito todas aquelas coisas, me aproximo, mostrando o cartão dado pela médica para mim, sendo permitida a passar pelos seguranças.
— O que? Por que essa desgraçada pode e eu não? Ela não é nada! Quem você pensa que...
Me aproximo, sentindo a ardência nas minhas mãos pelas minhas unhas fincadas ali, como uma tentativa de não sair do meu controle. Aquele não era o momento.
Mas haveria um.
E quando houvesse...
Aquela desgraçada iria me ouvir.
— Eu sou a mulher dela. E sou a única autorizada a ver a minha mulher, portanto, caso você não deseje ser expulsa desse hospital, sugiro que cale a porra da sua boca, sente e espere, como todos os outros.
— Sua... — Ela esbravejou, fazendo menção de avançar em mim, eu a impedi, segurando o seu braço, sem utilizar qualquer tipo de força bruta. Afinal, a desgraçada ainda estava grávida.
— Você pode espernear o quanto quiser, pode quebrar essa porra de hospital, pode gritar, fazer a porra do show que você quiser... Mas nada... Absolutamente nada vai mudar o fato de que eu sou a esposa de Meredith. Eu sou a família dela. Ela se importa comigo. E eu com ela. Sugiro que comece a se habituar com isso a partir de agora, caso não deseje ter mais problemas comigo — Murmurei próxima ao seu rosto, me afastando apenas para a mostrar o cartão em minhas mãos e, sem esperar por uma resposta sua, me viro, caminhando até o quarto de Meredith, enquanto ainda ouvia os xingamentos daquela desgraçada.
Porém, resolvendo deixar toda a minha raiva para trás, respirei fundo, abrindo a porta do quarto e, devagar, me dirigi até o seu lado, puxando um banco que havia ali e me sentando nele.
Tomei a sua mão quente, com as unhas curtas enfeitadas por um esmalte rubi entre minhas, sentindo a sua maciez e fechei os meus olhos, sentindo o meu peito arder em uma dor insuportável.
Era a porra de um inferno estar sentindo aquilo.
E, ainda mais, saber que eu era a culpada por tudo aquilo. Eu havia causado esse acidente. Eu havia colocado Meredith naquele estado.
Eu era a pessoa mais... Filha da puta do mundo.
Mas eu não conseguia me culpar veementemente por aquilo porque a dor que eu sentia em meu peito por apenas vê-la daquele jeito era maior do que qualquer outro sentimento que eu pudesse ousar sentir naquele momento.
Eu me culparia da forma devida mais tarde, mas não agora.
Perder Meredith significaria perder a única parte realmente boa da minha vida nos últimos meses.
— O que você fez comigo? — Sussurro de maneira impensada para ela, enquanto sentia os meus pensamentos bagunçados demais para que eu conseguisse agir de maneira coerente — O que está fazendo comigo, Meredith? — Sinto a minha garganta arder e um nó insuportável se formar nela — Eu não posso temer perder você, porque isso eventualmente irá acontecer. Então... O que você fez comigo? — Suspiro, engolindo aquele nó em seco — O que você fez comigo, meu anjo?
Abro os meus olhos e estendo a minha mão, acariciando os seus cabelos sedosos, enquanto a observava respirar por trás daquela máscara e revivia tudo que ela havia me dito sobre poder facilmente se apaixonar por mim.
Sinto o nó na minha garganta triplicar ao pensar naquilo.
Não.
Nem por um inferno!
Aquilo não poderia ser real. Não poderia de porra de jeito nenhum!
— Eu não sou a mulher certa para você. Nunca poderei ser. E eu sei que você não vai me odiar depois de hoje... Porque... Você é incapaz de odiar qualquer ser humano nesse mundo. E é exatamente por isso que eu não posso... Você não pode se apaixonar por mim — Sinto o meu estômago se revirar em nojo diante daquela palavra, principalmente destinada a mim.
Eu não merecia e não suportaria ser alvo daquele sentimento. Principalmente por Meredith.
Sentia o meu estômago se revirar em um nojo insuportável apenas em imaginar aquilo.
Eu nunca me permitiria sentir aquilo. Nunca me permitiria ser tão fraca naquele ponto.
Mas... A quem eu estava querendo enganar? Afinal, eu realmente não era a pessoa mais forte do mundo naquele momento.
Mas era diferente, não era?
Sim, era diferente, pois eu nunca seria capaz de sentir isso.
Eu não nasci para sentir isso. E principalmente por alguém como Meredith.
Suspiro, fechando os meus olhos e me inclinando, deitando a minha cabeça contra a sua mão, tendo os meus pensamentos bagunçados demais para que todas as minhas falas anteriores pudessem fazer algum certo tipo de sentido.
Eu estava anestesiada por tudo aquilo.
Por isso, eu apenas percebi o tempo passar quando ouvi batidas sutis na porta e, suspendendo a minha cabeça, observei a Doutora Mallmann adentrar o ambiente.
— Os resultados saíram — Ela anunciou e eu senti o meu estômago se revirar em ansiedade — Vocês são compatíveis. Vamos fazer a transfusão agora mesmo.
Solto o ar preso em meus pulmões, enquanto fechava os meus olhos em uma demonstração inevitável do meu alívio.
— Se quiser avisar a sua família antes de irmos... Não iremos perder tempo.
Assinto, depositando um beijo calmo na mão de Meredith e me despedi rapidamente dela, indo até o saguão e, ignorando a presença de Yang e Ellis Grey, me dirigi até a minha sogra.
Ela se levantou rapidamente, segurando as minhas mãos, com uma feição aflita no rosto.
— Eu sou compatível — Ela sorriu, soltando o seu ar e me abraçando com força — Iremos fazer a transfusão agora — Sussurro contra os seus cabelos.
Ela assentiu, me apertando mais contra si e eu repeti o seu ato.
— Traga-a de volta nova em folha para mim, por favor... Traga a nossa moranguinho de volta e bem.
Assinto, afagando as suas costas e ela me solta, agarrando o meu rosto com calma pelas duas mãos, depositando um beijo terno na minha bochecha.
— Vá, meu amor.
Acaricio as suas mãos antes de me afastar e me dirigir, junto a Doutora Mallmann, até o terceiro andar e adentrar um laboratório.
Me sentei na cadeira e respirei fundo, engolindo em seco as batidas fortes do meu coração.
— Você pode se sentir fraca depois... Sugiro que descanse... Pode acarretar alguns problemas de saúde para você caso não o faça... Addison, está me ouvindo?
Reato o controle do meu consciente e passo a realmente ouvir tudo que a médica falava, enquanto tentava evitar encarar a enorme agulha nas suas mãos.
Merda de fobia dos infernos!
A minha fobia por sangue e agulhas sequer havia passado pela minha cabeça até aquele momento, até que ela começasse a preparar tudo aquilo.
Engulo em seco, desviando o meu olhar.
— Tudo bem? Está sentindo algum mal estar?
Ouço batidas sutis na porta e, após a médica autorizar a entrada, vejo a minha mãe adentrar a sala.
— Com licença, Doutora. Mas... Será que eu poderia fazer companhia para a minha filha?
— Claro! É um processo meio tedioso mesmo. Sente-se, senhora Montgomery, por favor.
Ela sorriu, assentindo e se sentou ao meu lado, me lançando um olhar compreensível, já sabendo o quanto aquela fobia sempre foi algo sério para mim e segurou a minha mão com força, enquanto a médica se virava para continuar preparando as coisas.
— Para caso precise apertar. Sinto muito que tenha que lidar com esse medo assim, tão inesperadamente, filha.
Nego com a cabeça, desviando o meu olhar.
— Meredith é mais importante do que qualquer medo bobo de infância.
Ela assentiu sorrindo e depositou um beijo terno nos meus cabelos.
Mas, no momento em que encarei o tamanho daquela agulha, senti o mundo girar ao meu redor.
Engoli em seco, desviando o meu olhar e, conforme a médica amarrava o meu braço, eu fechei os meus olhos, sentindo a minha respiração se tornar ofegante, mas mentalizando que seriam apenas alguns minutos e que aquilo era por Meredith.
Ela precisava daquilo.
E, por ela, eu faria aquilo mil e uma vezes. E ficaria tonta e com o coração pulsando forte daquela maneira, e, ainda mais, com aquela sensação terrível de desmaio iminente, exatamente como agora, mais mil e uma vezes.
Eu reviveria aquela fobia dos infernos quantas vezes fossem necessárias para que Meredith ficasse bem.
— Me perdoe... Mas você está bem, Addison? Está tremendo e pálida. Não poderemos...
Assinto, apertando com força a mão da minha mãe.
— Vá, faça! — Murmuro, evitando encarar o meu braço.
Assim que sinto a agonia insuportável da agulha adentrando a minha pele, respiro fundo, sentindo a minha mãe acariciar o meu braço ternamente, enquanto eu sentia a minha respiração mais acelerada do que o normal.
— Pronto. Pode segurar aqui para mim? Você tem veias bem fáceis de serem achadas!
Porra!
Sem desejar fazer aquilo, mas me vendo sem saídas, encaro o meu braço e, no momento em que o faço, sinto as minhas vistas escurecerem ao ver o sangue sair.
Seguro o maldito algodão enquanto ela mexia em algo que não consegui me atentar e senti a minha mãe segurar o meu queixo calmamente, enquanto eu sentia o meu coração bater tão fortemente que eu tinha certeza que ela podia ouvir.
Eu não poderia desmaiar naquela porra de hospital tal como quando eu era criança.
Eu não tinha mais dez anos de idade. Mas... Porra! Aquela sensação insuportável daquela agulha estava fodendo comigo em todos os níveis possíveis!
Meredith.
Isso era por Meredith.
— Acho que precisaremos comprar um bom estoque de sorvetes para a Mer tomar durante a recuperação, não acha?
Assinto, tentando me dispersar daquela agulha e da imagem do meu sangue saindo, conforme a minha mãe falava.
— Quanto tempo, mais ou menos, ela pode passar aqui? — Indago a Doutora, que dá de ombros.
— Precisamos saber como ela irá reagir aos medicamentos nas últimas horas. Ela poderá ser liberada depois de amanhã ou daqui duas semanas. Depende de como ela irá responder. O pescoço não nos preocupa tanto, ela precisará apenas de repouso e muita massagem no local. Sem movimentos bruscos. Mas provavelmente em uma semana ela já estará se sentindo bem melhor em relação a ele.
— Bem, não vão faltar cuidados para que a nossa baixinha fique bem, certo, filha? — A minha mãe falou, me oferecendo um sorriso acalentador e eu apenas concordei, mantendo o meu olhar fora do alcance da bolsa que estava interligada ao meu braço por um pequeno tubo e armazenava o meu sangue.
Depois dos quarenta minutos necessários para retirar a quantidade de sangue necessária, eu fui liberada para voltar ao quarto em que Meredith estava e passei a observar todo o processo feito comigo há alguns minutos atrás se repetir, para que ela recebesse o meu sangue.
— Agora apenas nos cabe esperar e torcer para que a hemorragia seja controlada com os medicamentos e que não tenhamos que fazer uma cirurgia — A médica me indicou, pedindo licença e saindo do quarto.
Eu apenas puxei a poltrona do quarto e me sentei nela, mantendo a minha mão segura à de Meredith por um espaço de tempo o qual eu realmente não me atentei, até que batidas na porta fossem ouvidas e eu visse a médica adentrar a sala novamente, dessa vez com a minha sogra ao seu lado.
Ela tomou o outro lado da cama e se sentou em outra poltrona, segurando a outra mão de Meredith e deitando a sua cabeça sobre ela, chorando baixo enquanto acariciava os seus cabelos.
— Você quer que eu saia, sogra? — Sussurrei para ela, que negou com a cabeça.
— Nós somos a família dela. Nós duas. Acredito que somos exatamente o que ela precisa.
Assinto, voltando a minha posição anterior, enquanto sentia uma dor de cabeça insuportável me tomar e, me sentindo incapaz de manter os meus olhos abertos, recosto a minha cabeça contra a minha mão e a de Meredith e apenas fico ali, ouvindo a minha sogra sussurrar algumas coisas para Meredith e alguns poucos ruídos noturnos do hospital.
Muitas horas depois, ouço batidas na porta e vejo a médica a adentrar novamente.
— Me desculpe a acordar — Ela sussurrou para mim, se aproximando da cama devagar.
— Eu não estava dormindo. Como ela está? — Pergunto assim que a vejo, devagar, subir a camisola hospitalar que Meredith usava e começar a apalpar a sua barriga.
— Vou fazer uma ultrassom em uma hora, mas, por enquanto, ela está bem. Se na ultrassom já não houver mais sangramento interno, irei retirar a medicação e a retirar da intubação. Por ora, descanse. Você vai precisar de toda a energia que puder ter para cuidar dela.
Assinto, vendo-a sair do quarto novamente e observando a minha sogra ainda dormir sobre o travesseiro de Meredith.
Encarei o relógio que apenas naquele momento eu havia percebido haver ao lado da sua cama e visualizei que já se passava das 4 da manhã.
Por isso, sem conseguir sentir um pingo de sono, passei a acariciar a mão quente de Meredith contra a minha e me estiquei, depositando um beijo demorado contra a sua bochecha.
— Você é a pessoa mais forte que eu já conheci na vida — Sussurro para ela, acariciando os seus cabelos sedosos — Aguente por mais uma hora, por favor... Por favor, meu anjo — Fecho os meus olhos, sentindo o meu peito arder em uma dor insuportável — Eu sinto muito... Sinto muito mesmo. Sinto muito por ter dito todas aquelas coisas... Sinto muito por ter sido tão filha da puta — Suspiro, passando a acariciar a sua bochecha — Eu só... Não suporto o fato de que eu não sou e nunca serei o suficiente para você. Você é... Um anjo, Meredith. E eu sou... Essa bagunça. A sua bondade me constrange, Meredith. Me constrange como nada, nesse mundo, seria capaz de me constranger.
Encostei a minha cabeça ao seu ombro devagar e inspirei o seu perfume, fechando os meus olhos e repassando, mil e uma vezes, a nossa briga novamente. A sua feição decepcionada, a sua voz inundada de um choro iminente, o seu olhar... A droga do seu olhar decepcionado.
Eu nunca seria capaz de me perdoar por ter a decepcionado daquela maneira. Por ter a dito todas aquelas coisas nojentas.
Eu simplesmente não suportava a ideia de o quanto a desgraçada da sua amiga estava mais do que certa, todas as vezes que abria a sua boca para falar sobre mim ou sobre a nossa relação.
Eu não era e nunca seria suficiente para Meredith. Ela realmente estaria livre de mim e de toda a minha bagunça de merda no momento em que aquele desgraçado acabasse com a minha vida.
Era um fato.
Por mais que Meredith não aceitasse, ainda continuaria sendo um fato.
Aqueles pensamentos não me deixaram em paz por toda a hora que se seguiu, e, no momento em que a médica adentrou novamente o quarto, Flora acordou e se pôs ao meu lado, enquanto a doutora Mallmann, com a ajuda de uma enfermeira, começou a fazer a ultrassom.
— Ótimas notícias! O sangramento foi controlado!
— Oh, graças a Deus! — A minha sogra exclamou, me abraçando com força e eu respirei aliviada pela primeira vez depois de todo aquele inferno de dia.
— Iremos remover a intubação, talvez vocês queiram esperar lá fora.
Eu concordei, saindo do quarto junto com a minha sogra, que me guiou até a sala de espera, onde apenas Lisa, a minha mãe, Ella, a amiga de Meredith e George estavam.
— Então? — A minha mãe foi a primeira a se levantar, sendo seguida pelos outros.
— O sangramento está controlado. Ela vai sair da intubação agora — A minha sogra falou, se encaminhando até Lisa, que se levantou e a abraçou com força.
— A nossa menina é a pessoa mais forte do mundo! Eu disse, meu amor, eu disse! - Lisa exclamou em um tom de voz emocionado.
— Vem, filha, sente-se um pouco — A minha mãe me puxou até uma cadeira ali e eu me sentei ao seu lado, deitando a minha cabeça no seu ombro e sentindo como se eu houvesse carregado o mundo inteiro nas costas nas últimas dezoito horas.
— Ela vai ficar bem.
Assinto, fechando os meus olhos, enquanto sentia os meus olhos e as minhas têmporas doerem de maneira cruel.
— Vamos comer alguma coisa? — Ela sussurrou para mim e eu neguei com a cabeça.
— Filha...
— Estou bem, mãe, eu só preciso de um momento, só isso.
Ela suspirou, mas não respondeu, me puxando contra si e depositando um beijo no topo da minha cabeça, me abraçando com força.
Nós aguardamos por mais alguns muitos minutos, até que a médica apareceu novamente.
— Então, Doutora Mallmann? Como ela está? Eu posso vê-la agora? — Yang foi a primeira a se levantar, parecendo realmente ansiosa.
— Calma, Doutora Yang. Meredith está acordada.
Todos na sala emitiram sons de alívio, encarando a médica de maneira ansiosa, inclusive eu.
— Eu quero vê-la, eu preciso...
— Calma, Doutora Yang. Meredith está acordada, mas eu não acho prudente que ela passe por muita agitação.
— Eu prometo que não irei...
— Eu sei. Mas ela está pedindo para ver a esposa dela. Addison, pode me acompanhar? — Sinto o meu coração parecer desejar sair do peito ao ouvir aquilo. Meredith queria me ver. Mas para quê? Para brigar comigo? Para realmente confirmar que tudo aquilo havia sido culpa minha? Eu não seria capaz de a encarar depois de tudo.
— Mas... Eu... Eu quero vê-la! Doutora! Essa mulher passou o tempo inteiro lá dentro, eu...
— Essa mulher é a esposa dela, Cristina. A família dela — A minha sogra se manifestou — Eu sei que quer ver a Mer, todos nós queremos, mas ela quer ver a esposa dela agora, respeite isso. Todos nós aqui queremos uma única coisa: ver a nossa Mer bem.
— Addison, me acompanhe, por favor.
Eu engoli em seco, sentindo a minha respiração se tornar ainda mais agitada.
Senti um toque quente sobre a minha mão e me virei, vendo a minha sogra sorrir fraco para mim.
— Você conhece a nossa pequena — Ela sussurrou — Ela não quer brigar com você.
Engulo em seco, tomando uma grande quantidade de ar, mas assinto, apertando a sua mão levemente.
— Dê um beijo nela por mim. Dê mil, se puder.
Apenas assinto, apertando a sua mão e me afastando dela, indo até a médica, que me guiou novamente até o quarto.
— Sei que é difícil, mas evite ao máximo movimentos bruscos, ok?
Assinto, respirando fundo e tocando a maçaneta da porta. Sentindo como se eu estivesse prestes a colocar a minha bile para fora, abro a porta devagar e observo Meredith encarando a parede à sua frente, com a cama um pouco mais levantada.
Ela me encarou. Eu senti como se pudesse me desfazer em pedaços, ali mesmo. Ela estava bem, estava viva.
Contenho a minha vontade de correr até a sua cama e a abraçar e a beijar com intensidade, apenas para senti-la.
Apenas senti-la. Era o que eu precisava. Mas eu sabia que não possuía esse direito. Não depois de tudo.
Um silêncio tórrido se espalhou pelo quarto, sendo possível ouvir apenas os sons emitidos pela máquina conectada a ela.
Suspiro, sendo incapaz de encará-la e aperto as minhas mãos nos bolsos traseiros da minha calça, observando o restante do meu sangue descer lentamente pelo tubo que estava conectado em seu braço.
Engulo a sensação insuportável de agonia na minha garganta, após perceber que eu estava há, pelo menos, dois minutos ali, em pé, parada, feito a porra de uma imbecil.
Eu não sabia por onde começar. O que falar. O que fazer.
Pedir desculpas de novo? Qual era o sentido daquilo?
Qual era a porra do sentido de pedir desculpas se eu já sabia que, mesmo sem desejar, eu ainda a machucaria no futuro, porque era simplesmente isso que eu fazia.
Eu não era e nunca seria capaz de dar a Meredith uma estabilidade total ao meu lado. Porque era... Simplesmente impossível, pelo menos para mim.
Eu era a porra de um ser errado, quebrado e fodidamente ruim.
Ter Meredith ao meu lado sabendo disso era uma espécie de tortura. Para mim e para ela.
— Eu odeio você — Eu ouvi ela murmurar em um tom de voz rouco, arrastado e quase inexistente, após muitos minutos me encarando com intensidade, enquanto tudo que eu tentava fazer era não a encarar.
Sinto vontade de abrir um buraco no chão e o adentrar ali, naquele momento, e ir para a porra do inferno ao escutar aquelas palavras vindo da sua boca.
Palavras, essas, as quais eu nunca imaginei que ouviria dela.
Mas, é claro, eu as merecia.
Desvio o meu olhar para ela rapidamente, mas, sendo incapaz de a encarar, o volto para os meus pés e apenas assinto, sentindo as minhas vistas se tornarem turvas e o meu peito parecer desejar explodir de tanta dor.
Eu merecia aquilo. Mais do que qualquer um nesse mundo.
Eu merecia o seu ódio e qualquer sentimento ruim que ela pudesse me ofertar.
Ela estava cansada, é claro que estava.
E eu estava cansada de a fazer se sentir cansada.
— Vou... Chamar a sua mãe — Murmuro em um fio de voz, me virando em direção a porta e, no momento que toco a maçaneta, ouço-a sussurrar de maneira arrastada.
— Por... Conseguir... Estar tão bonita... Mesmo com... Essa cara de... Acabada. E... Essas olheiras. Ah... Essas olheiras ainda... — Ela tossiu intensamente — Ainda vão me matar!
Engulo o bolo que havia se formado em minha garganta, confusa, e me viro, apenas para ter certeza de que eu estava delirando e de que ela me encarava com a feição mais irritada do mundo, mas, ao me deparar com o sorriso doce o qual eu moveria o mundo inteiro para presenciar, sinto o meu peito arder em uma sensação... Incrivelmente boa.
— C... Como? — Aquela indagação saiu da minha garganta de maneira completamente confusa, arrastada e incrédula.
— O que? Eu... Estou com inveja! Olhe para mim!
Sorrio, sentindo os meus olhos se encherem de lágrimas novamente, mas as controlo.
— Você... Não me odeia? — Murmuro, incrédula — De verdade?
— Como não? Eu acabei de... Dizer que sim! — Ela falou soltando um riso rouco e eu sorri, sem conseguir me conter e me aproximei, devagar, segurando o seu rosto entre as minhas mãos e selando os meus lábios aos seus, sentindo a maciez dos seus lábios me acariciarem com ternura.
Meu anjo.
— Eu sinto muito — Sussurro para ela, depositando beijos pela sua boca, sua bochecha, o seu nariz e a sua testa, sentindo-me o ser humano mais sortudo do mundo — Sinto muito, Meredith. Eu sinto muito. Eu... Eu não quis dizer... Eu... Não...
— Eu sei — Ela sussurrou, segurando o meu rosto com delicadeza — Sei que sente — Voltei a beijar o seu rosto e os seus lábios, recebendo um riso fraco seu — Eu meio que preciso de ar, Addie.
— Eu... Me desculpe — Murmurei afastando os meus lábios dos seus, fechando os meus olhos, enquanto a sentia acariciar as minhas bochechas ternamente — Me desculpe por ter causado isso, por...
Ela afastou o meu rosto do seu e eu desviei o meu olhar, incapaz de a encarar.
— Você não causou isso.
— Não tente tirar a minha culpa, Meredith. Eu sei que você é boa demais para aceitar que eu fui a responsável por isso, mas...
— Addison, olhe... Para mim.
Devagar, voltei o meu olhar ao azul intenso dos seus olhos.
— Ele causou isso. Ele me ligou... Addie. Ele... Me ligou. Eu não sei como... Como ele conseguiu o meu número. Não sei... Não sei como ele... Sabe de tantas coisas... Eu...
Franzo o cenho, sem entender absolutamente nada daquela sua frase sem nexo.
— Ele... O que? Quem? — A indaguei, confusa.
— Ren Kinley — Sinto o meu estômago se revirar ao ouvir aquilo, enquanto a minha respiração se tornava ainda mais irregular — Ele me ligou. Ele... Me fez perder o controle da direção... Ele... Ele disse que... Não estava interessado... Em mim. E sim... Em... Em você, Addie. Ele... Ele... Disse que vai... Que vai...
Abraço-a, sentindo o meu peito arder em uma agonia insuportável.
— Eu não posso perder você, Addie — Ela sussurrou para mim, me abraçando com força — Não posso perder você. A minha vida... Não vai ser melhor sem você. Eu não me importo com a droga... Do seu dinheiro. Eu só quero você. Só você. Eu preciso de você. Viva. Comigo. Por isso... Você precisa consertar isso. Você precisa consertar a sua segurança, precisa... Por favor, Addie... Por favor. Me promete. Me promete que você... Que você vai consertar isso. Por favor...
— Eu prometo — Sussurrei para ela, acariciando os seus cabelos, enquanto sentia o meu peito arder em temor — Eu prometo o que você quiser. Eu farei o que você quiser. Mas a sua segurança vai ser mantida. Eu não vou suportar uma terceira vez. Não vou suportar, Meredith. Eu... Me importo com você, Meredith. Mais do que... — Suspiro — Apenas, por favor, entenda isso.
Ela assentiu contra o meu pescoço, emitindo um gemido fraco.
— Eu também me importo com você. Muito mais do que você imagina. Você consegue entender o porquê fiquei com tanta raiva? Eu não iria suportar se algo acontecesse a você por minha culpa.
— Eu sei... Eu fui burra. Eu sei disso.
— Como uma porta — Ela sussurrou e eu emiti um riso baixo, acariciando os seus cabelos — Nós vamos dar um jeito, não vamos?
Assinto, depositando um beijo no topo da sua cabeça.
— Iremos, eu prometo.
Ela suspirou e eu senti os seus dedos acariciarem a minha cintura devagar.
— Como você está se sentindo? — A indago.
— Um vampiro — Ela murmurou e eu me afastei devagar, observando-a soltar um gemido baixo e recostar a sua cabeça ainda mais na cama — Não é um pouco nojento que eu esteja, nesse momento, sugando o sangue de alguém que nem conheço? Digo... Não estou reclamando, de jeito nenhum, mas não deixa de ser esquisito.
— Obrigada pela consideração, mas não aceito devoluções. Em hipótese alguma, na verdade — Murmuro, afastando a sensação terrível da agulha adentrando o meu braço com um balançar sutil de cabeça.
— Como...? Esse sangue é... — Ela parecia realmente espantada.
— Meu, é. Ainda achando nojento?
Ela sorriu abertamente para mim, franzindo o seu nariz, de forma que a fazia parecer o ser mais adorável do mundo inteiro.
— Talvez.
Revirei os olhos e ela riu, entrelaçando a sua mão com a minha.
— Estou brincando! Estou conectada a você para sempre! Agora sim estou com medo de acordar com você me assombrando dentro de mim durante a noite.
Reviro novamente os olhos, em falso tédio e me aproximo, sussurrando em seu ouvido:
— Fique tranquila, querida, você apenas irá acordar comigo dentro de você quando você pedir, sem surpresas, pelo menos nesse quesito.
Ela gargalhou, soltando um gemido baixo de dor logo em seguida.
— Eu simplesmente sabia que você faria essa piadinha!
— Eu sou tão previsível assim?
— Para mim, sim, definitivamente.
Reviro os olhos, vendo-a suspirar e desfazer o seu sorriso no mesmo momento.
— O que houve? — A indago preocupada.
— Apenas... A dor — Ela murmurou em um fio de voz — Eu acho que me restam apenas mais três quase-mortes. Eu realmente preciso usá-las com sabedoria.
Reviro os olhos, sentindo o meu peito se apertar em somente imaginar aquilo.
— Isso não foi engraçado, Meredith — A repreendo, vendo-a bufar.
— Eu tenho o direito de fazer piadas, ok, Zangada?
Antes que eu pudesse pensar em uma resposta irônica para aquele seu comentário, batidas na porta me tiraram a atenção total de Meredith. A Doutora Mallmann adentrou o quarto após uma autorização minha.
— Me perdoem atrapalhar, mas a senhora Miller e a senhora Grey querem entrar.
Meredith suspirou.
— Uma de cada vez, certo? — A indago e ela assente devagar — Pode deixar a minha sogra entrar primeiro.
A Doutora Mallmann continuou parada, parecendo confusa.
— Flora — Meredith falou, soltando um riso — Pode deixar Flora entrar primeiro.
A médica assentiu, sorrindo.
— Infelizmente não é permitida a entrada de mais de uma pessoa nos quartos... Por isso, Addison, você terá que sair, infelizmente.
Meredith me encarou, para, em seguida, encarar a médica.
— Doutora, por favor...
— Tudo bem — Murmuro para Meredith, depositando um beijo sutil na sua bochecha — Eu vou fazer algumas ligações com relação a aquilo que conversamos. Eu já volto, ok?
Ela suspirou, contrariada, mas assentiu.
— Promete não demorar?
— Prometo, querida — Sussurro, beijando levemente os seus lábios — Sem movimentos bruscos, ok?
Ela assentiu, selando os seus lábios aos meus novamente.
Saí do quarto, mesmo contrariada, e me dirigi até a sala de espera, onde todos ainda estavam, em seus mesmos lugares.
— Então, mana? Como a minha maninha está? — Amélia me indagou, nervosa.
— Bem, apenas com dores. Mas já está fazendo piadas sobre estar pronta para outras — Murmuro, revirando os meus olhos.
Ouço a risada de alguns reverberar pela pequena sala.
— Sogra, ela está a esperando — Falo para Flora, que assente, vindo até mim e me abraçando com força.
— Está tudo bem mesmo?
— Sim, você conhece a sua filha. Ela não seria capaz de me odiar, nem se quisesse. Apesar de possuir esse direito. Estamos bem.
Ela se afastou e acariciou o meu rosto, sorrindo.
— Eu sabia que ficariam. Mas vamos conversar melhor sobre isso depois, ok?
Assinto, recebendo, inesperadamente, um beijo terno dela na minha bochecha.
Flora se dirigiu até o quarto e eu, com apenas um olhar, sinalizei a Alex que precisava conversar com ele.
Sorrateiramente, ele se levantou da sua cadeira e saiu da sala.
— Vou lá fora tomar um ar e já volto — Falei para Amélia e a minha mãe, saindo logo em seguida.
— O que houve? — Alex me indagou assim que eu me coloquei fora da sala.
— O celular de Meredith foi encontrado?
— Sim, está junto com a bolsa dela e outros pertences. Estão todos com Warren.
— Vamos lá para fora — Sussurrei, ao observar o corredor movimentado demais para que pudéssemos ter uma conversa tranquila.
Ao chegarmos no jardim do hospital, despejei o que estava me incomodando sobre Alex.
— Kinley entrou em contato com Meredith. Ele foi o motivo para que ela perdesse o controle do volante e batesse o carro.
Ele me encarou assustado.
— Odeio admitir isso, mas você estava certo. Isso significa que você terá que adiar sua ida ao RH.
— Você e eu sabemos que eu nunca faria isso. Posso colocar o meu plano em ação?
Suspiro, me recostando em um parapeito.
— Melhore-o. Quero que faça uma nova seleção dos melhores seguranças da empresa e do tribunal. Quero a segurança balanceada, entre eu e Meredith. De alguma forma... Ele sabe mais sobre ela do que deveria. Ela não conseguiu me contar muito do que ele disse, pelo nervosismo, mas acredito que ele venha a seguindo.
— Ok, mas eu fico com você. Essa é a minha condição.
Assinto, fechando os meus olhos e sentindo a brisa forte do início da manhã tocar a minha pele gélida.
— Eu realmente poderia fumar um pouco agora. Ou muito — Murmuro inconscientemente, respirando fundo e abrindo os meus olhos, observando o sol nascer.
Alex me apontou um maço de cigarros e eu franzi o cenho, curiosa, afinal, faziam anos que ele não fumava.
— Desde que Luke tem tido recaídas — Ele respondeu a minha pergunta mental.
Encaro o maço de cigarros, sentindo o meu corpo, pela primeira vez na vida, implorar por aquilo.
Eu precisava relaxar.
Precisava como um inferno tragar uma boa quantidade de tabaco e o sentir adentrar os meus pulmões e me acalmar, como sempre fazia.
Porém, no momento em que a minha consciência fez o perfeito trabalho de me lembrar do fato de que Meredith odiava tudo relacionado a cigarros, e de que, talvez, ela pudesse precisar de mais sangue, ou que ela claramente sentiria o cheiro de tabaco impregnado em mim e poderia se incomodar com isso, me fez rapidamente desconsiderar aquele desejo.
O cigarro não fazia mais parte de quem eu era. E Meredith era a responsável por isso.
— Passo — Murmurei, pegando a carteira e a jogando no lixo ao nosso lado — E você também. Pelo bem do nosso garoto.
— Ah, então agora ele é nosso? — Ele comentou com um sorriso descarado no rosto. Revirei os olhos.
— Meu garoto.
Ele riu, revirando os olhos e nós continuamos ali, encarando o surgir do dia, calados.
— Vou pedir para Miranda separar algumas coisas para Meredith. O que devo pedir?
— Pijamas confortáveis, itens de higiene, roupas íntimas, os livros que estão ao lado dela da cama e o mais importante, sorvetes de morango da marca favorita dela.
Ele riu, realizando a ligação e, assim que ele finalizou, eu senti o meu celular vibrar no meu bolso com uma ligação de Kepner.
— Me desculpe o incômodo, Meritíssima. Mas como está a senhora Montgomery? Estou rezando muito por ela!
— Ela está melhor. Está em recuperação, mas já fora de riscos.
— Ah, graças ao meu paizinho do céu! A senhora Montgomery é um anjo! O ser humano mais doce que já conheci! Eu sabia que ela ficaria bem. Mas vou continuar rezando pela recuperação dela.
Reviro os olhos, entediada pelo jeito espalhafatoso de ser da minha secretária.
— Ok, era só isso?
— Sim, senhora. Não se preocupe, todos os seus compromissos estão remanejados.
— Ok — Respondo, sem realmente me importar com aquilo.
— Tenha um bom dia, senhora. Melhoras para a senhora Montgomery.
— Ok. Kepner? — A chamei antes que ela desligasse, assim que lembro-me de algo.
— Sim, senhora?
— Lembra dos lírios e dos chocolates que a ordenei que providenciasse ontem?
— Claro!
— Mande-os ser entregues para mim por um segurança, aqui no hospital, agora pela manhã.
— Claro, senhora! Lírios brancos e os melhores chocolates que conheço. Anotado. Tenha um bom dia, senhora! Estou torcendo pela melhora rápida da sua esposa.
— Obrigada, Kepner — Agradeço sinceramente.
— Ahn... O que... O que a senhora disse?
— Disse para que adiantasse logo com o que pedi e deixasse de tagarelar! — Murmuro sem paciência, revirando os meus olhos.
— Ah, claro! Claro, senhora! Me desculpe, senhora. Eu apenas achei que...
— Kepner.
— Ok, estou indo, tchau, senhora!
— Você realmente acabou de dizer "obrigada" para alguém que trabalha para você ou eu estou delirando? — Alex me indagou parecendo surpreso e eu revirei novamente os meus olhos, pela enésima vez, somente naquela manhã.
— Dispenso a sua ironia.
Ele riu e nós nos sentamos em um dos bancos ali, observando o sol raiar aos poucos e, assim que eu ouvi o meu celular novamente vibrar ao meu bolso vendo uma mensagem da minha sogra afirmando que Meredith estava me chamando, saí rapidamente junto a Alex e, em poucos minutos, adentrei o quarto onde ela estava, observando Flora sentada na poltrona onde anteriormente eu estava.
— Oi, atrapalho? — As indaguei, recebendo um duplo sorriso de ambas.
— Nunca, minha nora. A doutora Mallmann não resistiu a nossa dupla persuasão e permitiu que eu e você ficássemos aqui, juntas.
Assinto, emitindo um mínimo sorriso e me aproximo, parando ao lado da minha sogra e me sentando, devagar, ao lado de Meredith, em um espaço livre na cama.
— As dores passaram?
— Sim, amor, graças ao bando de drogas que foram injetadas nas minhas veias. Você resolveu o que precisava? — Ela me indagou com uma expressão séria. Eu assenti, entrelaçando os meus dedos aos seus.
— Alex está resolvendo.
— Ele está aí? Vocês não estão mais brigados? Está tudo bem mesmo?
— Está tudo bem, não se preocupe. Miranda está cuidando de arrumar coisas importantes para que você utilize no tempo que passar aqui.
Ela assentiu.
— Onde estão as minhas alianças?
Eu tateei os meus bolsos e as encontrei. Meredith estendeu a sua mão esquerda e eu as coloquei no seu dedo anelar, sentindo uma profunda sensação de nostalgia ao fazê-lo.
— Sua mão não é a mesma sem elas.
Ela sorriu.
Antes que Meredith pudesse me responder, ouvimos batidas na porta e a Doutora Mallmann adentrou o quarto.
— Professora Montgomery, como se sente?
— Me sentiria mil vezes melhor se parasse com as formalidades, Alexandra — Meredith comentou com um sorriso preguiçoso.
A médica sorriu, se aproximando.
— Apenas se me chamar de Alex.
— Podemos trabalhar com isso. Então, por quanto tempo eu vou ter que usar essa coisa super sexy no pescoço, Alex?
— De acordo com os exames, três dias, no mínimo. E, depois, apenas se sentir muitas dores. Preciso que faça massagens constantes no local, ok?
— Tudo bem.
— E a hemorragia? — Indago, preocupada.
— Até agora, controlada. Se tudo acabar fluindo bem, posso dar alta daqui há dois dias.
— Então eu realmente irei precisar dormir duas noites nesse colchão desconfortável?
A médica riu, junto a minha sogra.
— Sim e não. Estarei a encaminhando para um quarto melhor às nove. A cama não é de qualidade comparada a sua, mas é melhor do que essa.
— Obrigada, Alex.
— Por nada, Meredith. Se houver algo que eu possa fazer por você, me deixe saber.
Ela saiu da sala novamente, após checar algumas coisas e eu observei Meredith bocejar, parecendo realmente cansada.
— Durma um pouco — Sussurro para ela, que negou com a cabeça.
— Não estou com sono.
— Meredith, por favor...
Ela suspirou.
— Não seja impaciente — Ela murmurou, fazendo um bico.
— Não estou sendo impaciente, meu anjo, apenas quero que descanse.
Ela sorriu, mordendo o seu lábio inferior, mas revirou os olhos.
— Não quero!
— Filha, seus olhos estão quase se fechando. Os remédios realmente devem dar sono. Descanse. Eu e a Addie ficaremos aqui com você o tempo inteiro, eu prometo.
Meredith me encarou e eu assenti, em concordância. Ela, então, suspirou, apertando a minha mão e fechando os seus olhos, começando a roncar baixo menos de dois minutos depois.
Eu me mantive no mesmo lugar, acariciando levemente a sua mão macia e observando a paz que ela emanava ao dormir, sentindo-me ser tomada, aos poucos, pela mesma tranquilidade.
— Por que você possui essa ideia tola de não ser o suficiente para a Mer? — A minha sogra indagou, me surpreendendo, alguns minutos depois.
— Como? — A indago, realmente não entendendo a sua pergunta.
— Eu não pude deixar de ouvir você conversar com ela, enquanto ela ainda estava desacordada. Não foi a minha intenção, e eu não queria a constranger. Mas não pude deixar de ouvir.
Respiro fundo, desviando o meu olhar, sentindo-me incomodada.
— Pode me responder?
Dou de ombros, engolindo em seco.
— Porque é a verdade — A minha voz saiu mais baixa do que eu imaginava.
— E o que a faz pensar isso?
Suspiro, fechando os meus olhos brevemente.
— Muitas coisas.
— Addie...
— Sogra, não precisamos fazer isso. Eu não preciso que minta para mim dizendo que eu sou exatamente o que Meredith merece. Não faça isso.
— Você realmente não me conhece — Ela murmurou, tocando a minha mão entrelaçada a de Meredith.
Eu a encarei.
— Addison, apesar de gostar muito de você, eu amo a minha filha. Amo a minha filha como não seria capaz de amar a nenhum outro ser humano nesse mundo. E passei todos os anos desde que conheço ela, tentando a proteger de tudo e todos, mesmo que tenha falhado muito nisso. Eu não gosto de você apenas porque tenho a obrigação de gostar, por ser a minha nora. Meredith é a pessoa que mais sabe que eu facilmente odiaria você se não visse a verdade em você. Eu não gosto de você porque sou obrigada a gostar. Gosto de você porque você faz a minha filha feliz.
Suspiro, sentindo o meu peito pesar pelas suas palavras. Flora não saber sobre o contrato era mais cruel do que eu imaginava que seria.
— Você não conhece a nossa relação.
— Você está certa, eu não a conheço, não toda ela. Mas deixe-me perguntar: o que você acha de mim e Lisa?
Franzo o cenho, achando aquela pergunta estranha.
— Não sei... Você a ama, disso eu tenho certeza, mas não conheço a relação de vocês.
Ela sorriu.
— Sim. Eu a amo. Mas como você sabe disso?
— Suas... Ações — Murmuro, sentindo as batidas do meu coração se tornarem mais aceleradas, pouco a pouco.
— Exatamente. Você não sabe quase nada sobre o nosso relacionamento, mas sabe que eu a amo. Você não sabe que... — Ela suspirou, hesitando por um momento — Nós nos separamos por um ano inteiro, há algum tempo atrás, simplesmente porque ela queria ter uns cinco filhos e eu apenas queria a Mer. Ou que eu fui a pior pessoa do mundo com ela depois da morte do nosso filho. Ou que a machuquei tantas vezes que não seria capaz de contá-las. E... Addie, apenas o amor nem sempre é o suficiente, mas, no meu caso, foi. E, no seu, também pode ser. Se você, enfim, se permitir enxergar.
Engulo em seco, sentindo a minha garganta secar ao ouvir tudo aquilo.
Ela suspirou, me indicando o braço da poltrona onde ela estava sentada, eu me levantei, me sentando ali.
— Sabe o porquê eu gosto tanto de você?
Dou de ombros, desviando o meu olhar, realmente sem saber o porquê daquilo.
— Porque me vejo em você. E eu sei, isso pode parecer um pouco narcisista — Ela falou rindo, eu sorri fraco — Mas me vejo em você quando mais nova. Quando Lisa apareceu na minha vida. Eu me sentia a pior pessoa do mundo ao lado dela, porque... Fui criada por uma mulher sem empatia alguma, que me ensinou que o amor era uma fraqueza. E me criou para ser o ser humano mais imune a qualquer bom sentimento no mundo.
Sinto as minhas mãos gelarem e o meu coração parecer querer sair pela minha boca.
— Mas com a minha Lis... Eu descobri que o amor é a cura de uma fraqueza, e não a causa dela. E... Em vários momentos eu ainda me pergunto o que ela está fazendo ao meu lado após tantos anos juntas, mas, num panorama geral... Hoje em dia, eu acredito que faço tão bem para ela o quanto ela faz para mim. O amor da Lis foi capaz de desfazer tudo que eu sempre acreditei, erroneamente, sobre o amor, Addie. E isso não era culpa minha. Nunca foi.
Suspiro, sem saber o que pensar, ou o que falar, ou que reação obter em meio aquilo.
— A minha filha é um ser humano. Por mais que seja o mais incrível que qualquer um tenha o prazer de conhecer, ela tem defeitos, como qualquer outro. Como você.
— Não há comparações — Murmuro, desviando o meu olhar.
— Eu não sei o que pode ter a feito ter uma visão tão deturpada de si mesma e eu sinto muito por isso. Porque... Quando eu olho para você... A única coisa que vejo é uma mulher que possui amor demais guardado.
Sinto vontade de rir em sarcasmo, mas não o faço. Flora realmente não me conhecia. E isso, incrivelmente, doía como um inferno.
— Você não me conhece, Flora.
— Ah, por favor! Pare com essa conversa melancólica, essa não é você, Addison.
— A sua filha é boa demais para mim. Todo mundo sabe disso, só têm vergonha de falar. Alguns, pelo menos.
Ela ficou em silêncio por alguns segundos e, logo depois, soltou um suspiro longo.
— O que Cristina disse para você?
— Flora...
— Ou você me conta, ou eu descubro sozinha. Sua escolha.
Suspiro, revivendo a última vez que aquela desgraçada dirigiu a palavra à mim. Durante o noivado de O'malley.
Você deveria ter vergonha de continuar sustentando essa mentira idiota. Deveria ter vergonha de acordar, ou sequer dormir, todos os dias, ao lado de Meredith sendo o... Ser repugnante que você é, mas ela é idiota demais para perceber. Mas, no dia que isso acontecer... Ela vai sentir tanto nojo de você quanto eu.
— Apenas a verdade. Talvez seja por isso que eu a odeie tanto.
— Que verdade, Addison?
Me levanto, desejando não continuar com aquela conversa.
— Addison.
— Não quero mais falar sobre isso.
— Addison...
— Flora, eu disse que não quero mais falar sobre isso! — Solto, de maneira mais grosseira do que imaginei que poderia. Mas, sendo incapaz de me virar, continuo ali, parada, feito uma idiota. A porra de uma idiota dos infernos!
Até senti-la me abraçar com força, acariciando os meus cabelos.
— A minha filha não é burra, e muito menos ingênua. Meredith já cruzou os caminhos de pessoas... Terríveis, que destruíram com cada pedacinho seu. E, depois de ser tão machucada, ela não é mais ingênua. Se ela confia em você, se ela... Sente algo por você, é pelo que você é, Addie. Por ser exatamente quem você é.
Suspiro, sentindo o meu peito arder ainda mais.
— Não significa que eu mere...
— Significa exatamente isso. Não sei se acredita nessas coisas de destino, mas eu acredito, e muito, que nada acontece por um acaso. Vocês duas, juntas, muito menos. Você é exatamente o que a minha filha precisa. E no momento certo, não importam as circunstâncias. Pode entender que duvidar do seu merecimento quanto aos sentimentos da minha filha por você também, mesmo que indiretamente, demonstra uma falta de confiança sua nela?
Suspiro, me rendendo ao seu abraço, ainda calada.
— Esqueça Cristina. A forma dela de amar a minha filha... — Ela suspirou — Eu nunca concordei muito com isso. Mas Meredith nunca me ouviu. Vamos comer alguma coisa juntas, meu amor?
— Nós prometemos para Meredith...
— Ela não vai acordar agora e não iremos demorar.
— Tudo bem.
Nós saímos juntas até o café do hospital e nos sentamos em uma mesa afastada. Eu apenas pedi por um café preto, sem açúcar, pois já sentia a minha cabeça doer pela falta dele. Já Flora pediu alguns doces e um suco de laranja.
Era incrível o quanto ela e Meredith eram tão idênticas e tão diferentes ao mesmo tempo.
— Quer me contar o porquê vocês duas brigaram? — Ela me indagou e eu suspirei, assentindo, e contei tudo, nos mínimos detalhes. Desde a minha briga com Alex, a conversa de Meredith com Yang e, por fim, a briga com Meredith.
— Você não precisa dizer, eu sei que fui... Uma desgraçada com ela.
— Não diria essa palavra. Mas você errou, sim. Na verdade, vocês duas.
A encaro, sem entender a sua fala. Afinal, eu era a única responsável por tudo aquilo.
— Meredith errou em não colocar limites em Cristina. O que ela disse em resposta a toda essa... Barbaridade?
Suspiro, sentindo-me ainda mais culpada do que eu já me sentia.
— Addie... Não me diga que você não ouviu!
— Apenas não queria a ouvir confirmando. Mesmo sabendo que ela nunca faria isso.
Ela respirou fundo, acariciando a minha mão.
— Espero que tenha aprendido, mesmo que da pior forma possível, a não ouvir conversas pela metade e deduzir um mundo inteiro delas.
— Eu não deduzi. Cristina está cer...
— Não diga isso se deseja continuar sendo a minha nora favorita.
Me calei.
— Sinto muito que se sinta assim, meu amor. Gostaria de fazer muito mais do que apenas aconselhar.
— Tenho sorte por sua filha não passar a me odiar.
— Ela nunca faria isso. Ainda mais depois de descobrir que você enfrentou um dos únicos e mais assustadores medos da sua vida, apenas por ela.
Franzo o cenho, a lançando um olhar surpreso.
— Eu e a sua mãe somos mais amigas do que você imagina.
— Não conte isso para Meredith, por favor. Eu a conheço, sei que ela começaria a se sentir culpada.
— Não contarei, você tem a minha palavra, minha nora.
— Ainda sou a sua nora favorita? — A indago, em um tom de brincadeira, mas realmente apreensiva.
Ela riu, acariciando a minha mão.
— Acredito que para sempre será, meu amor.
Sorrio, sentindo algo bom me tomar com aquela frase, mas tendo a minha próxima fala interrompida pelo toque do seu celular.
Sinto aquela sensação boa ir embora tão rapidamente o quanto chegou, assim que a feição ao rosto da minha sogra mudou por completo.
— O... O quê? — Ela se levantou rapidamente e eu imitei o seu gesto, a vendo desligar a ligação com os olhos cheios de lágrimas.
Meu peito ardeu.
— A Mer...
Ela não precisou dizer mais nada. Juntas, nós corremos dois andares de escadas até chegar ao quarto e, sem pensar em qualquer outra coisa, o adentrei, vendo a minha mulher rodeada por três enfermeiros e a doutora Mallmann, enquanto vomitava sangue em uma bacia.
— Não... — Murmuro, sentindo o mundo parecer desabar ao meu redor e avanço até o seu lado, afastando um dos enfermeiros — Meredith...
— Está... Está doe...ndo mui...to... Eu... Eu... — Ela vomitou mais e eu senti o meu coração arder.
— Precisaremos de mais sangue... Urgentemente.
— Tire de mim. Agora! — Falo, desesperada — Tire mais de mim, agora!
— Addison, você não pode doar novamente, e eu...
Sem sequer calcular qualquer ação minha, seguro firme na gola do seu jaleco.
— Ou você tira a porra do meu sangue agora, ou eu juro que...
— Doutora, ela apenas doou metade do limite. É possível fazer uma nova transfusão.
— Ok, ok! Merda! Merda! — Ela se soltou de mim rapidamente, indo até Meredith e eu me virei, vendo-a vomitar mais uma grande quantidade de sangue, mais pálida do que já, sequer, pensei em ver. A minha sogra segurava os seus cabelos, com o rosto inundado de lágrimas. Senti o meu mundo desabar ao visualizar aquela cena. — Não temos tempo. Ginny, traga o cateter! Rogers, injeta mais meia grama!
— Ad...die — Ela gemeu o meu nome de maneira tão dolorosa que eu senti os meus olhos se inundarem em lágrimas.
Me aproximei, acariciando o seu rosto, após uma trégua do vômito.
— Estou aqui. Estou aqui, meu bem. Estou aqui. Aguente firme, por favor. Por favor, meu anjo, por favor.
Ela apertou a minha mão com força.
— Não... Nã...o quero morrer. Es...tá doen...do tan..to.
— Você não vai — Sussurro, beijando a sua testa suada — Você não vai.
— Sente-se — A doutora Mallmann me indicou a poltrona e eu me sentei, esticando o meu braço e tocando a mão de Meredith, que recostou a sua cabeça na cama, fechando os seus olhos.
— Meredith, mantenha-se acordada, por favor! Flora, ajude-a a manter-se acordada, ela não pode desmaiar!
Senti a agulha adentrar a minha veia, mas nada daquilo importava, porque eu só conseguia sentir o gelado da sua mão contra a minha e o meu peito arder em dor.
— Meredith... Olhe para mim, por favor! — Imploro, apertando a sua mão.
Ela o fez, com os olhos quase se fechando.
— Me conte o porque ama Titanic — Falo a primeira coisa que se passa pela minha cabeça.
— Ad...die... — Seus olhos estavam inundados de lágrimas.
— Por favor, faça isso por mim, por favor — Imploro, vendo o meu sangue passar por um cateter que se conectava a uma bolsa conectada a ela.
— Por..que... Gos...to da ideia... De... Amor proi...bido.
— O que mais? Fale mais!
Ela piscou vagarosamente, tentando manter os seus olhos abertos.
— Gos...to da ide..ia de... Dar... A vida por... Por quem ama...mos.
Assinto, acariciando a sua mão.
— Gos...to da... Ideia de... Fa...zer tudo por... Por alguém... Que amamos.
Ela tossiu fortemente, fechando os olhos.
— Gos...to do fato... De que... O Jack era... O grande amor... Da vi...da da Rose. Mes...mo que... — A sua voz foi ficando mais arrastada, eu senti o desespero tomar conta de mim.
— Abra os olhos, por favor, por favor, Meredith!
Ela o fez, parecendo estar utilizando de uma grande força para aquilo.
— Ad...die?
— Sim, meu anjo? Estou aqui. Estou aqui, meu bem. Não vou sair daqui. Vai ficar tudo bem... — Murmuro, em um fio de voz.
— Eu... Eu acho que... Vo...cê é... o...
— Conseguimos! O medicamento está fazendo efeito.
Respiro aliviada, mas sentindo o meu peito arder ao ver Meredith fechar os seus olhos.
— Ela vai dormir agora. Está tudo bem, é um efeito do remédio. Vou aumentar a dose do medicamento. Vou tirar você desse cateter daqui há dez minutos.
Assinto, sentindo a minha sogra acariciar os meus ombros e a encaro, seus olhos estavam inundados de lágrimas.
Aperto a sua mão com a minha livre, vendo-a fechar os seus olhos e respirar fundo, apertando a minha mão de volta.
Encaro Meredith, que agora dormia, porém com o rosto ainda pálido e os lábios mais brancos que papel e fechei os meus olhos, apertando a sua mão à minha, enquanto sentia a minha garganta arder em dor e tudo dentro de mim implorar para que aquilo desse certo, pois eu não suportaria sentir aquele medo mais uma vez.
Eu não suportaria.
...
Meredith Montgomery,
Seis horas depois;
Eu estava morta?
Foi a primeira pergunta que se passou pela minha cabeça no mesmo momento em que a minha consciência retornou e eu despertei do que parecia ter sido um sono longo. Ainda de olhos fechados, me mantive parada, quase sem respirar, imaginando se eu realmente havia morrido e sendo incapaz de abrir os olhos para constatar, ou não, aquilo.
No instante em que sinto uma dor insuportável no pescoço, percebo que, talvez, eu realmente poderia não ter morrido.
Porém, apenas no momento que passo a sentir um carinho leve e característico em uma das minhas mãos, imediatamente o reconhecendo, é que tenho a mais plena certeza de que estou viva.
Utilizando de um grande esforço para aquilo, abro os meus olhos, observando um teto branco, sem graça e meio turvo ficar cada vez mais nítido, enquanto eu piscava incansávelmente para focar a minha visão.
Sob um esforço ainda maior, abro os meus lábios, apenas para sussurrar o único nome da única pessoa a qual eu precisava ver naquele momento.
— Addison...
Sinto um aperto carinhoso na minha mão e, quase que imediatamente, ela adentra o meu campo de visão.
Os cabelos presos em um coque bagunçado, os olhos verdes caídos, tristes e sem vida, emanando uma exaustão que me doeu o peito e as olheiras já mais do que visíveis, sem qualquer resquício de maquiagem no seu rosto. Algo nele parecia diferente.
Addison parecia quase... Vulnerável.
— Oi — Ela sussurrou para mim e eu fechei brevemente os meus olhos ao sentir a sua mão macia e fria acariciar o meu rosto ternamente — Como se sente?
— Viva — Sussurro, sorrindo inevitavelmente e abro os meus olhos no mesmo momento em que um mínimo sorriso cansado cresce em seus lábios — Pelo menos... Mais viva do que você.
Ela revirou levemente os olhos e eu ri, me arrependendo no momento em que uma pontada de dor me atingiu.
— Vou chamar a Doutora Mallmann.
Assinto, vendo-a se afastar e, alguns segundos depois, voltar junto a Alexandra e a minha mãe, que se colocou ao meu lado esquerdo, segurando firmemente a minha mão.
Fui examinada de todas as maneiras possíveis e de todos os ângulos possíveis, até que Alexandra detectasse que eu estava realmente bem e já fora de qualquer perigo.
Ela elevou a minha cama e só então eu pude ver que a minha mãe usava uma roupa diferente da anterior, um pouco mais confortável. Porém Addison ainda mantinha-se no conjunto de terninho que ela usava na manhã do dia anterior, apenas sem o blazer e com as mangas da camisa arregaçadas.
Ela não havia saído do meu lado esse tempo inteiro? Nem mesmo para trocar de roupa?
Assim que Alex saiu do quarto e eu pude enfim respirar tranquilamente longe de todas aquelas avaliações, percebi que eu já estava em outro quarto, muito mais aconchegante e menos inteiramente branco.
Não era grande, o que o deixava ainda mais confortável. Possuía um sofá de couro posicionado de frente para a minha cama, uma mesa pequena com três cadeiras, duas poltronas em outro canto, um frigobar e uma porta que eu julguei ser o banheiro.
Me surpreendi ao observar, ao lado da mesa de cabeceira da minha cama, um buquê imenso de lírios brancos, as minhas flores favoritas, colocado sob ela, com um laço vermelho e um pequeno cartão amarrado ali.
— De quem são essas? — As indago, sem conseguir esconder a minha surpresa e o meu sorriso de satisfação. Eu sequer lembrava da última vez em que eu havia recebido flores. Faziam muitos, muitos anos.
Mas aquele ato nunca deixou de ser uma das formas mais belas de demonstração de carinho e amor para mim.
Addison as pegou, me entregando e eu fechei os meus olhos no momento em que o aroma delicioso das flores preencheram as minhas narinas.
Sem conseguir conter a minha curiosidade, peguei o cartão que havia ali e, no momento em que fiz menção de abri-lo, a minha mãe limpou a sua garganta.
— Vou dar notícias suas para Lisa e Bizzy, ok? Já volto.
Assinto, recebendo um beijo terno seu e a vejo sair do quarto, antes lançando um sorriso e uma piscadela para Addison, que não passou despercebido por mim.
A ruiva se sentou numa ponta livre da minha cama e eu observei o seu olhar tomar quaisquer cantos do quarto, menos o meu.
Porém, tendo a minha curiosidade mais do que aguçada, abro aquele cartão, equilibrando as flores no meu peito para o ler melhor.
"Para a vampira mais exigente que já tive o prazer de conhecer;
De: Sua humana / Banco de sangue exclusivo / Dragão / Zangada / AM, ou somente Sua Esposa."
Um riso delicioso escapou dos meus lábios, e eu não me importei com a dor causada por ele, pois a felicidade e completude que me habitavam eram maiores do que qualquer outra sensação que eu poderia ser capaz de sentir naquele momento.
Eu não achava que poderia ser possível, mas, naquele momento, eu senti o meu amor por aquela ruiva de humor peculiar aumentar ainda mais. E como, céus, isso poderia ser possível?
Eu estava realmente arruinada.
— Como você sabe que... Lírios são as minhas flores favoritas? — A indago, sentindo o meu peito arder em... Amor e admiração ao mesmo tempo.
Ela deu de ombros.
— Apenas sei.
Sorrio, tocando a sua mão e a entrelaçando com a minha, sentindo-a passar a acariciá-la devagar.
— Obrigada, Addie.
Ela apenas me lançou um olhar calmo e um sorriso fraco, assentindo.
— As flores deveriam vir com chocolates, mas você não poderia comê-los.
Sorrio, a lançando uma piscadela ao falar:
— Então você ainda me deve uma caixa de chocolates.
— Apenas se você prometer tentar manter o meu sangue aí dentro.
— Farei o meu possível.
Ela assentiu e se sentou na poltrona ao meu lado.
— Addie, você comeu hoje? — A indago, preocupada.
— Não sou eu quem importa aqui.
— Para mim, você é a única.
Ela revirou os olhos.
— Tomei um café com a minha sogra mais cedo.
— Só isso? Não acredito! Você vai comer agora!
— Meredith...
— Sem Meredith! Agora, Addison! Peça para a minha mãe ficar aqui comigo e você irá comer alguma coisa. E vai tomar um banho e tirar essa roupa.
— Mere...
— Já disse, sem Meredith! Estou mandando, Addison!
Ela respirou fundo, parecendo procurar por paciência, mas eu me mantive impassível.
— Você consegue ser insuportável quando quer.
Rio, acariciando levemente a sua mão.
— É um dom.
— Eu volto em menos de uma hora.
— Tudo bem.
A visualizei sair do quarto e, segundos depois, a minha sogra e a minha cunhada o adentrarem, se sentando uma em cada lado da minha cama para ter certeza de que eu realmente estava bem.
Elas me fizeram companhia pelo que jurei ser uma hora, até que Addison adentrasse o quarto novamente, dessa vez, vestindo uma mom jeans de lavagem clara, uma camiseta preta e mocassins da mesma cor aos pés. Seus cabelos estavam presos em um coque mal feito e ela parecia um pouco menos cansada.
— Atrapalho?
— Nunca, meu bem — Falo, sorrindo satisfeita por ter sido fielmente obedecida — Comeu?
Ela assentiu, sentando-se ao lado vazio da minha cama, após Amélia se sentar na poltrona e entrelaçou a sua mão à minha, apenas prestando atenção na conversa, mas não participando em si.
Algum tempo depois, Amélia precisou ir, pois teria que cobrir Addison em uma reunião da empresa e a minha sogra fora para casa almoçar, prometendo voltar mais tarde para ficar comigo.
Sozinhas novamente, Addison se manteve calada, encarando os prédios lá fora pela parede de vidro, enquanto acariciava a minha mão e eu fechei brevemente os meus olhos para aproveitar mais daquela carícia, mas batidas na porta, alguns segundos depois, nos interromperam novamente.
A pessoa a qual eu menos desejava falar naquele momento adentrou o quarto, parecendo já irritada. Cristina.
— Até que enfim! Achei que nunca me deixariam ver você! — Ela falou vindo até mim e depositando um beijo no meu rosto.
A feição no rosto de Addison mudou tão drasticamente, que eu senti o meu peito se apertar no mesmo instante.
Cristina a encarou de soslaio, com o olhar mais carregado de nojo e ódio que eu já havia visto.
— Pode mandar esse seu cão de guarda sair?
Addison se levantou, parecendo estar prestes a matar alguém. E esse alguém, obviamente, seria Cristina.
— Mande me chamar quando precisar de mim — Ela murmurou de maneira fria para mim, afastando a sua mão da minha, antes que eu pudesse segurá-la.
— Addie... — Murmuro, sentindo o meu peito arder ao vê-la sair do quarto com a expressão mais... Carregada de tantos sentimentos ruins que eu já presenciei em seu rosto — Por que você fez isso? Por...
— Meredith, pode esquecer essa mulher por um segundo sequer e focar na minha presença? Eu estava preocupada com você! Ela não me deixou entrar! Mas isso não importa, não agora. Como você está?
— Ótima — Murmurei, já sem forças para todo aquele monólogo sobre Addison.
— O que realmente aconteceu? Porque nós duas sabemos que você é a pessoa mais chata no trânsito. E eu ouvi a Doutora Mallmann dizer que estava sem cinto.
Respiro fundo, antes fechando os meus olhos, resolvendo, no mesmo momento, inventar uma história qualquer para que ela não soubesse da real motivação daquele acidente, porque, por mais que Addison não possuísse culpa nenhuma, eu sabia que ela encontraria uma maneira de a culpar.
— Não sei direito, apenas lembro de sair da empresa sentindo uma dor de cabeça muito forte. Eu não deveria ter aceitado dirigir, mas achei que seria algo passageiro.
— Por Deus, não faça mais isso, Mer!
Eu apenas assenti e me propus a ouvir as suas falas aleatórias, respondendo apenas quando necessário.
Alguns minutos depois, George se juntou a nós, quebrando um pouco do tédio que eu estava sentindo, e nós passamos bons minutos conversando sobre o casamento.
Quando a tarde começou a cair, George precisou ir buscar Daniel no hospital e, após garantir para Cristina que eu estava bem e dispensar a sua presença da maneira menos insensível que consegui, e me vi sozinha no quarto com um turbilhão de pensamentos conflitantes rondando a minha cabeça e a feição decepcionada, irritada e magoada de Addison antes de sair do quarto me assombrando de maneira insuportável.
Ouvi batidas sutis na porta e autorizei a entrada, sentindo-me aliviada por ver a figura da minha mãe adentrar o cômodo.
— Oi, amor. Como está?
— Bem, mamãe — Murmuro, a oferecendo a tentativa de um sorriso fraco.
— O que houve?
Pondero, me indagando se eu deveria ou não desabafar com ela sobre aquilo. Mas, mesmo se eu não quisesse, eu sabia que não iria me safar do super-poder que Flora tinha quanto a saber, exatamente, quando algo estava me incomodando.
Por isso, após um suspiro longo, nego com a cabeça, encarando o teto.
— Não sei, mamãe. Eu só... Estou cansada dessa implicância de Cristina com Addison. Digo... No início do nosso casamento, Addison realmente odiava Cristina, porque achava que... Bem... Os flertes dela eram verdadeiros. Mas, após entender a nossa amizade, ela apenas continuou desgostando de Cristina, mas nada além.
— Diferentemente de Cristina.
Assinto, suspirando.
— Sinto que não é uma briga justa. Porque sinto como se... Eu precisasse fazer uma escolha. Entre a minha melhor amiga e... Bem...
— A sua esposa.
Concordo com a cabeça, vendo-a se sentar devagar ao lado vazio da minha cama, acariciando os meus cabelos de maneira terna.
— Eu imagino como se sente, mas... Se você me permitir dar a minha opinião...
— Sempre, mãe — Falo, acariciando o seu braço.
— Não acho que seja como se você precisasse fazer uma escolha. Porque, se for, a sua amizade é nada além de uma toxicidade sem fim. Filha, isso não é normal! Não é normal que a sua melhor amiga faça comentários tão terríveis para você ao ponto de desejar a morte da sua mulher. Não é normal que você tenha que escolher entre uma das duas, porque são relações completamente diferentes. Entende isso?
Assinto, desviando o meu olhar.
— Você sabe que eu sempre gostei muito da Cris, mas ela, quando quer, atravessa quaisquer linhas de limites estabelecidos. E, caso você não dê um basta nessa situação ou não se imponha da maneira correta... — Ela suspirou — Eu, no lugar de Addison, não sei se suportaria isso por muito tempo.
— Eu sei... É só que... A Cris tem uma visão muito deturpada do nosso relacionamento. E... Eu não sei como desfazer isso.
— Você precisa?
A encaro, sem entender.
— Mer, você tem quase vinte e seis anos de idade. É uma mulher adulta. Independente financeiramente, emocionalmente e mentalmente. Precisa mesmo fazer com que a sua amiga acredite na veracidade do seu casamento? Ou na relação verdadeira que você possui com Addison? Se, até agora, ela não foi capaz de visualizar o que eu fui apenas no primeiro dia que conheci Addison e as vi juntas, ela não irá mudar mais o seu pensamento. E me desculpe por estar dizendo isso, filha, mas se ela realmente se importasse com você como afirma que se importa, não colocaria essa implicância boba acima, até mesmo, do seu bem-estar.
Sinto o meu peito arder ao ouvir aquilo, especialmente porque possuía mais chances de ser verdadeiro do que apenas uma teoria de Flora.
— Qualquer pessoa que a ame o bastante e que a conheceu antes do evento Addison acontecer na sua vida, percebe o quanto ela faz bem para você. Então, por que acha que Cristina insiste tanto nesse ódio?
— Porque ela me acha incapaz de visualizar Addison da maneira em que "ela é".
— Apenas mais uma prova de o quão pouco ela pensa de você. Amor, eu sei que você pode pensar que toda essa proteção é válida, tendo em vista... Tudo que ela já a viu sofrer. Mas filha... Eu também vi. E eu sei que, hoje em dia, você é perfeitamente capaz de distinguir pessoas boas e ruins. E escolher perfeitamente bem quem você deseja possuir ao seu lado. Eu confio em você. Não a vejo como um ser humano ingênuo ou fraco. Porque... Para mim, depois de tudo que você passou... Você se tornou exatamente o contrário. Essa sua doçura, a sua forma bonita de ver e continuar vendo a vida, mesmo depois... De tanta perda, é o que me faz ter a mais absoluta certeza de que você amadureceu, filha. E muito. E de que você sabe exatamente o que está fazendo. Não deixe que Cristina te diminua o bastante a ponto de te fazer duvidar disso!
Sinto as minhas vistas embaçar, pouco a pouco, enquanto eu ia filtrando cada mínima palavra que saía dos seus lábios.
— O que eu faço, mãe? Não quero perder Cristina. E muito menos Addison.
— Se imponha. Apenas isso. Mas filha... Se a Cris não entender tudo isso, não será culpa sua. E se ela decidir sair da sua vida... — Sinto o meu coração gelar em somente imaginar aquela possibilidade — Ela é quem sairá perdendo, entendeu? Não podemos simplesmente viver a nossa vida em função de tentar manter as pessoas que amamos dentro dela. Se as pessoas ficam, é porque querem ou têm de ficar. Não tente manipular o destino, por mais que eu saiba que isso é quase impossível para você. As vezes... Precisamos abrir mão do leme e deixar os ventos da vida guiarem o nosso barco.
Sorrio, sentindo as minhas lágrimas caírem ao ouvir aquela frase tão repetida por ela ao longo de toda a minha vida. Ela estava certa, como sempre.
— Já disse que você é a melhor mãe do mundo?
— Não hoje.
— Você é a melhor mãe do mundo, Flora Miller.
Ela sorriu, se esticando e depositando um beijo carinhoso no meu rosto, continuando a acariciar os meus cabelos, enquanto o sol se punha lá fora e, pouco a pouco, a noite surgia.
Nesse meio tempo, uma enfermeira trouxe a minha primeira refeição que não fosse injetada na minha veia e eu comi boa parte dela, com a ajuda de Flora.
Fui informada de que poderia tomar banho mais tarde, caso eu desejasse e senti um alívio imenso me tomar por isso.
Uma outra enfermeira adentrou o quarto para me ajudar e, mesmo sentindo muita dor, eu consegui me sentar na cama.
— Podemos... Dar uma pausa? — As indago, sentindo-me um pouco tonta pela dor e tanta movimentação após tantas horas parada.
Elas concordaram e, no mesmo momento, Addison adentrou o quarto após bater levemente na porta e ser autorizada por Flora.
— Tudo bem? — Ela me indagou, ainda carregando uma feição um pouco chateada no rosto, mas com preocupação e cuidado muito maiores do que qualquer chateação.
— Sim, estou indo para o banho.
— Iremos pegar uma cadeira de roda...
— Não, por favor. Eu realmente gostaria de andar um pouco.
Elas assentiram e Addison veio até mim, segurando firmemente na minha cintura.
— Quando quiser — Ela sussurrou para mim e eu concordei, segurando o seu pescoço e sendo ajudada a ficar em pé por um impulso seu.
Um gemido baixo de dor escapou dos meus lábios, após sentir a queimação no meu abdômen, mas aquilo não era nada comparado a dor em que eu havia sentido anteriormente.
— Eu posso levá-la até lá. Você não precisa caminhar agora, Meredith.
— Addie, eu preciso. Eu estou bem — Murmuro, contendo um outro gemido ao sentir pontadas insuportáveis de dor no meu abdômen e coluna.
— Por favor, me deixe fazer isso.
Suspiro, me dando por vencida ao encarar os seus olhos verdes que me imploraram por aquilo.
Envolvi os meus braços no seu pescoço e ela me carregou de maneira cuidadosa, recostando a minha cabeça no seu ombro para que eu não movimentasse muito o pescoço durante o pequeno trajeto.
— Bem, acredito que entre eu, as enfermeiras e a minha nora, a escolha de quem a ajudará no banho é óbvia. Mas caso você queira, posso ajudar — A minha mãe se manifestou e eu ri, negando com a cabeça.
— Posso fazer isso, sogra. Pode separar um dos pijamas para ela? — Addison a indagou, me colocando no chão e a minha mãe concordou, saindo do banheiro junto às enfermeiras.
— Posso tomar ban...
— Não faça isso — Ela se adiantou, ligando o chuveiro e regulando a temperatura.
Revirei levemente os meus olhos, visualizando-a vir até mim e, devagar, despir a camisola terrível do hospital, me deixando apenas de calcinha.
Flora adentrou o banheiro, trazendo todos os meus produtos de higiene e as roupas limpas para que eu vestisse, saindo logo em seguida.
Devagar, a ruiva me guiou até o chuveiro.
— Posso... Tirar a sua calcinha? — Ela me indagou, estranhamente parecendo retraída com aquela indagação. Eu assenti. Ela se abaixou e tirou o pano, me deixando completamente nua e me ajudando a adentrar o chuveiro. Eu não pude conter um suspiro de satisfação ao sentir a água quentinha cair sobre a minha pele.
Com delicadeza, senti Addison prender os meus cabelos em um coque firme em cima da minha cabeça, para que ele não fosse molhado.
— Addie... — A chamo, vendo-a de costas para mim, tentando encontrar algo no meio das necessaires ali.
— Hum? — Ela se virou, segurando o meu vaso de sabonete líquido.
— Sinto muito por...
— Não precisamos fazer isso, ok? Não quero fazer isso, na verdade.
Suspiro, assentindo, vendo-a se aproximar, borrifar um pouco do sabonete e me entregar o pote, me surpreendendo ao se ajoelhar e começar a passar o produto nas minhas pernas.
Aquela ação me trouxe uma sensação... Incrível no peito. Porque não possuía nada de segundas intenções. Addison estava... Cuidando de mim. Estava ajoelhada, me ajudando a tomar banho, podendo muito bem ter deixado essa tarefa para as enfermeiras ou a minha própria mãe.
Devagar, a ruiva passou o sabonete pelas minhas nádegas, não demorando muito ali e subiu, passando pelas minhas costas.
Fechei os meus olhos, sentindo a maciez das suas mãos e a sua delicadeza ao realizar aquele ato me preencherem de uma sensação tão boa e... Já conhecida ao mesmo tempo.
Mesmo que eu não me lembrasse de já ter tido as mãos delicadas e firmes de Addison lavando o meu corpo, eu estranhamente sentia uma familiaridade com aquele ato além do que eu poderia explicar.
A ruiva me ajudou com os meus braços, enquanto eu ignorava por completo os apoios do próprio box do banheiro e me segurava nela.
— Posso? — Ela me indagou, parecendo insegura, ao descer a sua mão pelo meu abdômen.
— Você sabe que não precisa perguntar, Addie.
Ela apenas suspirou, mas não me respondeu.
Devagar, senti a sua mão lavar o meu abdômen e a minha intimidade de maneira rápida e sem, sequer, me dar brechas para pensar em qualquer outra coisa que não fosse o carinho e a delicadeza dos quais ela estava utilizando para performar aquele ato.
Addison me ajudou a enxaguar o meu corpo e, logo após, pegou o meu óleo corporal, passando-o pelo meu corpo de maneira carinhosa e secando-me com a toalha logo em seguida.
— Segure-se em mim com mais firmeza — Ela sussurrou e eu o fiz, levantando uma perna para que ela passasse a minha calcinha. E então a outra.
A ruiva me ajudou a vestir a calça pijama e a camisa, abotoando cada botão com uma paciência e delicadeza que me constrangeram.
Já vestida, ela me ajudou a sair do box e, apenas naquele momento, eu percebi o quanto ela estava inteiramente molhada. A sua calça completamente encharcada e a camisa da mesma forma.
— Addie...
— Eu vou tomar banho.
Assinto, vendo-a desprender o meu cabelo e, devagar, passar a escova por ele, desembaraçando os pequenos nós nas pontas.
Eu conseguiria fazer aquilo por mim mesma. Por mais que o meu pescoço não pudesse mexer-se muito, eu sabia que conseguiria.
Mas eu não ousei interrompê-la e nem ousaria fazer aquilo.
Porque eu, no fundo, queria receber aquela carícia. Queria me sentir tão importante para Addison a ponto de estar recebendo tudo aquilo. Queria sentir os seus dedos sutis acariciarem os fios longos dos meus cabelos e queria sentir aquilo para sempre.
A sensação era... Indescritível.
E, naquele momento, tudo que Flora havia me dito havia começado a fazer ainda mais sentido na minha cabeça.
Addison valia a pena.
Ela valia o risco de perder a minha maior amizade. Ou de, pior, quebrar o meu coração de forma irrevogável ao estar me arruinando a cada dia mais em que me proponho a passar ao seu lado e a amar mais um pouquinho. Um pouquinho mais a cada dia.
No instante em que a senti depositar creme no meu rosto e o passar com toda a delicadeza do mundo, para, no fim, receber um beijo delicado no topo da minha cabeça e um "pronto" vindo dela, eu soube que, não importava o quanto eu pudesse negar, ou o quanto eu pudesse me machucar, ou o quanto tudo aquilo era tão, mais tão errado, que eu estava infinitamente ferrada, eu não possuía saídas, e nem sabia se desejava as encontrar.
Não importava o quanto tudo aquilo era errado, ou o quanto eu estaria arruinada no momento em que os três anos se completassem.
Addison valia toda a dor que eu sabia que sentiria por simplesmente... Ser teimosa o bastante a ponto de a amar.
Não como amiga. E muito menos como uma sócia.
Aquela sensação... Aquele sentimento...
Nada que eu já tivesse tido o prazer ou desprazer de sentir na vida se comparava a intensidade daquele sentimento.
As borboletas. O frio na barriga. O calor no peito. O bater diferenciado do meu coração a cada vez que eu a olhava, a tocava, ouvia a sua voz ou apenas... Pensava nela.
Eu estava arruinada. Arruinada por Addison Montgomery.
Mas também... Apaixonada.
Terrível e assustadoramente apaixonada por Addison Montgomery.
A única pessoa, no mundo, pela qual eu não poderia, nem nos meus sonhos, me apaixonar.
Eu estava, definitivamente, arruinada.
Céus.
— Meredith, tudo bem? Você está pálida — Ela me indagou, parecendo preocupada, após ter dito algo que eu também não ouvi por estar me sentindo tão desesperada e arruinada ao mesmo tempo.
Abri os meus olhos, dando de cara com o verde escuro dos seus e sentindo o meu coração bater ainda mais forte dentro do meu peito ao fazer aquilo.
Tão, tão arruinada!
— Sim... Só estou um pouco tonta...
Ela assentiu, sem que eu precisasse terminar a frase e envolveu os seus braços pelas minhas pernas, se certificando, antes, de que eu estava completamente segura, para então me carregar e me levar até a cama, me ajudando a deitar nela e me cobrindo.
— Vou tomar um banho rápido.
Eu apenas assenti, encarando o teto, enquanto sentia o meu coração bater tão fortemente dentro do meu peito que eu era quase incapaz de ouvir outra coisa além das suas batidas ao meu ouvido.
Eu havia acabado de admitir, mesmo que apenas na consciência, algo que, eu sabia, estava incrustado dentro de mim nas últimas semanas e eu simplesmente preferi ignorar todas as vezes em que aquela possibilidade se fez minimamente presente.
Cristina estava certa.
Fechei os meus olhos, enquanto sentia as batidas do meu coração aceleradas demais para que eu conseguisse pensar com clareza.
Senti a mão da minha mãe acariciar vagarosamente a minha e, alguns minutos depois, senti o cheiro fresco do perfume de Addison invadir as minhas narinas, e eu não precisei, sequer, abrir os olhos para saber que ela havia se sentado em uma das poltronas ao meu lado.
A minha mãe se retirou do quarto afirmando que iria em casa buscar alguns itens de higiene e dar um beijo de boa noite na Lisa, mas que voltaria para dormir comigo.
Me vi sozinha novamente ao lado de Addison, que ajeitou os meus travesseiros e se sentou novamente na poltrona.
— Está com fome?
Nego com a cabeça, sentindo-a entrelaçar a sua mão à minha e contenho a minha vontade de fechar os meus olhos para sentir melhor aquela carícia, enquanto ainda sentia o meu peito arder com aquela descoberta martelando a minha cabeça.
— Você precisa comer. Vou pedir o seu jantar.
— Addie, não estou com fome — Tentei insistir, mas ela negou com a cabeça.
— Tenho algo para você. Mas apenas se você comer.
Suspiro, me dando por vencida. Ela me informou que iria pedir o meu jantar e saiu do quarto, me deixando sozinha com tantos pensamentos conflitantes.
— Precisamos esquecer isso, Meredith — Sussurro para mim mesma, fechando os meus olhos — Precisamos mesmo esquecer isso.
Respirei fundo algumas vezes, enquanto sentia uma dor insuportável começar a se fazer presente no meu abdômen.
Addison voltou poucos minutos depois, segurando desajeitadamente uma bandeja, a trazendo até mim e a colocando, vagarosamente, em pé sobre a cama.
— Mais uma comida sem gosto? — A indago, fazendo uma careta. Ela negou com a cabeça.
Antes que eu pudesse pegar a colher, ela o fez, se sentando na cama e pegando um pouco da sopa, a trazendo até os meus lábios devagar.
— Addie, sabe que eu consigo tomar sozinha, não é?
— Você vai realmente continuar tentando argumentar contra todas as minhas tentativas de cuidar de você? — Ela me indagou de maneira entediada e eu sorri, sentindo o meu peito se aquecer e se apertar ao mesmo tempo. Eu sequer sabia que aquilo poderia ser possível.
— Tudo bem, dragãozinho. Mas se eu me acostumar, a culpa será inteiramente sua!
— Esse é o objetivo. Agora, abra a boca.
Eu revirei os meus olhos, o fazendo, sentindo um gosto delicioso na boca.
— Humm! Definitivamente nada igual a comida sem gosto que eu comi mais cedo.
— Sim, porque foi Miranda quem fez.
Eu sorri, negando com a cabeça, me sentindo mais mimada do que nunca.
Addison continuou a me dar a sopa e eu a comi toda, bebendo um pouco de suco no final.
A ruiva pegou a bandeja, colocando-a sobre a mesa e foi até o frigobar, me surpreendendo ao tirar um pote do nosso sorvete favorito dali.
— A Doutora Mallmann concordou, porque é natural e sem açúcar — Ela falou vindo até mim e me entregando o pote com uma colher.
Sorrio, sentindo-me salivar pelo sorvete.
— Pode fazer o sacrifício de me ajudar a tomar vendo um episódio da nossa série?
Ela fingiu parecer pensar e deu de ombros.
— É realmente um sacrifício imenso tomar sorvete de morango sem açúcar com você vendo uma série de investigação policial.
Eu ri, fazendo o esforço de chegar um pouco mais para o lado.
— Deite comigo?
Ela assentiu, tirando os seus sapatos e, devagar, subiu na cama, se recostando aos travesseiros como eu estava.
A ruiva ligou a TV do quarto e selecionou o episódio em que paramos. Eu abri o sorvete, tomando uma colherada e passei o pote e a colher para ela, que fez o mesmo.
Recostei a minha cabeça no seu ombro e inspirei profundamente o seu perfume fresco, fechando os meus olhos por um segundo ao senti-la rodear devagar o travesseiro e tocar o meu ombro, o acariciando com as suas unhas.
Respirei fundo, voltando a minha atenção para a série e resolvi, pela enésima vez, tentar esquecer todos os meus sentimentos proibidos por Addison e apenas aproveitar a sua presença.
...
Dia seguinte;
Uma pontada de dor no pescoço me fez acordar e, soltando um gemido baixo, me remexi na cama, sem conseguir performar aquele ato direito pois senti um peso em uma das minhas pernas.
Abri os meus olhos, encarando o teto escuro do quarto e tentando recobrar os meus sentidos diante daquela dor e do sono em que eu sentia. Mas, ao sentir uma respiração bater contra o meu rosto, fechei brevemente os meus olhos, percebendo o que estava acontecendo.
Addison ainda estava deitada ao meu lado, com uma das suas pernas levemente sobre uma das minhas, os nossos pés entrelaçados por debaixo do cobertor e as nossas mãos da mesma forma.
Seu rosto estava tão próximo ao meu que eu sabia que, se eu conseguisse virar o meu pescoço para ficar na mesma posição em que ela, os nossos narizes facilmente entrariam em contato.
Sorri, estendendo a minha mão livre para acariciar o seu braço e fechei novamente os meus olhos, enquanto sentia uma mistura agridoce de ternura e desespero me atingir com força, conforme eu relembrava a percepção que eu havia tido no dia anterior.
Eu sabia que não haveria outra forma de sair daquele casamento, senão com o meu coração completamente estraçalhado. Isso já era mais que evidente, muito antes de eu perceber quais eram os rumos dos meus sentimentos por Addison.
Mas agora...
Eu simplesmente sabia que não haveriam outras opções ou outros caminhos, não haveriam outros meios de aplacar aquela futura dor.
Mas, ainda sim... Ainda sim eu não conseguia sentir raiva de Addison, ou a culpar por aquilo.
Porque ela simplesmente... Valia a pena.
Addison valia toda a dor que eu sabia que ela me causaria, mesmo que não intencionalmente.
Até porque ela não possuía culpa em não corresponder aos meus sentimentos.
Céus... Onde eu havia me metido?
Se eu soubesse, há sete meses atrás, que o maior risco corrido por mim nesse casamento seria, talvez, desejar que ele não terminasse... Eu provavelmente daria muita, mas muita risada.
Mas aqui estou eu. Deitada em uma cama de solteiro de um hospital com Addison enlaçada à mim, desejando, mais do que nunca, poder ser o suficiente para que todos aqueles sentimentos fossem recíprocos.
Mas eles não eram. E essa era a minha realidade. Era com ela que eu deveria lidar agora. Ou não...
Até porque, o que mais eu poderia fazer?
Absolutamente nada.
Portanto, ignorar e esquecer seriam, mais uma vez, a minha grande válvula de escape.
Eu só não tinha certeza se conseguiria continuar fazendo aquilo por mais dois anos inteiros.
— Amor, está acordada? — Me assustei, ao ouvir a voz da minha mãe ao meu lado e abri os meus olhos, vendo-a me lançar um sorriso calmo e preguiçoso.
— Bom dia, mamãe. Você dormiu aqui? — Sussurrei para ela, que depositou um beijo calmo sobre a minha testa.
— Bom dia, amor. Sim! Quando cheguei, você e Addison estavam completamente apagadas com um pote de sorvete já derretido. Dormi no sofá. Está na hora do seu remédio.
— Humm, o meu corpo fez questão de me alertar isso...
Eu os tomei, agradecendo a minha mãe e, poucos segundos depois, ouvi um gemido baixo da ruiva ao meu lado e a encarei, vendo-a se remexer levemente na cama e abrir os seus olhos. Senti o meu peito se aquecer. Seu olhar preguiçoso, em combinação com o levemente bagunçado dos seus cabelos formavam um combo irresistível.
Addison se levantou, prendendo os seus cabelos em um coque bagunçado e me encarando.
— Bom dia — A cumprimentei — Dor nas costas?
Ela assentiu, se esticando e depositando um beijo leve sobre a minha bochecha, cumprimentando rapidamente a minha mãe, se dirigindo ao banheiro.
Ouvi o barulho do chuveiro e, alguns minutos depois, ela saiu, usando uma calça jeans preta e uma camiseta da mesma cor, com os cabelos ainda presos.
Nós tomamos café juntas, eu tendo Addison ao meu encalço me ajudando a comer e, depois, escolhemos um reality show qualquer para assistirmos juntas.
Addison me ajudou mais uma vez no banho, depois da minha primeira avaliação do dia com Alexandra.
Recebi visitas de Lisa, tia Ella, a minha sogra, Amélia e Mark pela tarde, além de George e Daniel, que também vieram ao surgir da noite e, por último, Ellis e Richard, que apenas ficaram por alguns minutos, mas, sem que eu precisasse insistir, foram embora quando afirmei estar sendo bem cuidada por Addison e Flora.
Assim que o horário de visitas cessou, eu me vi novamente sozinha ao lado de Addison, que não havia saído do meu lado o dia inteiro. Flora havia ido em casa rapidamente, apenas para dar um beijo de boa noite em Lisa e se trocar.
— Como se sente? — A ruiva me perguntou, trazendo um pote de sorvete e se deitando ao meu lado.
— Mil vezes melhor agora.
— Lei e ordem? — Ela me indagou e eu assenti, sorrindo, recostando a minha cabeça levemente no seu ombro como no dia anterior, vendo-a colocar a nossa série para passar na TV.
Começamos a tomar o sorvete tranquilamente e eu já sentia as minhas vistas pesarem devido ao cansaço de estar literalmente fazendo nada, mas também devido a quantidade exorbitante de remédios que eu estava tomando.
— Desse jeito irá babar todo o sorvete — Ela sussurrou para mim e eu ri, abrindo os meus olhos. — Quer que eu desligue?
Neguei com a cabeça, sentindo-a acariciar os meus cabelos vagarosamente. Sorri, me aconchegando aos seus braços para sentir melhor aquela carícia.
— Você é a vampira mais preguiçosa que já conheci.
Eu gargalhei, sentindo uma mínima pontada de dor na barriga.
— Quer que eu coloque as suas veias para trabalhar de novo, humana?
— Retiro o que disse, querida.
Rio, acariciando a sua outra mão entrelaçada à minha.
O meu riso fora cortado pela porta sendo aberta e a pessoa a qual eu menos imaginava a adentrar como um furacão, mas parar diante dela ao encarar eu e Addison.
— O que está acontecendo aqui? — A minha amiga me indagou, com as sobrancelhas franzidas e um tom de voz nada agradável — Há algum reality show sendo gravado aqui? Câmeras? Onde estão elas?
— Cristina, pare, por favor — Suplico, ao sentir o braço de Addison que me rodeava se afastar.
— Vim dormir com você.
— Bem... Obrigada, mas Flora irá dormir.
— Sim, eu sei. Mas são dois acompanhantes por vez.
— Humrum... Flora e... Addison — Murmurei e, mesmo sem poder ver, eu percebi a energia de Addison mudar.
— Bem, sorte a dela, não precisará mais fingir nada, eu vou ficar.
Suspirei, sentindo o meu coração começar a bater forte dentro do peito e, sem saber o que falar, continuei encarando a minha amiga.
Addison afastou as nossas mãos e se levantou, me surpreendendo ao falar:
— Não, não vai.
Cristina a encarou pela primeira vez desde que adentrou o quarto.
— Oi?
— Não vou repetir. Se quiser visitar a minha mulher, o horário de visitas é apenas até às seis. São oito horas. Volte amanhã.
A minha amiga soltou um riso sarcástico, avançando sobre Addison. Eu segurei a mão da ruiva, a impedindo de fazer o mesmo.
— Você realmente começou a se acostumar a fazer papel de dona dela, não é? Então é assim que funciona? Você decide e ela fica calada? Como a porra do seu cachorrinho de merda?
Addison cravou as suas unhas sobre a palma da sua mão livre, e eu sabia que ela estava se segurando para não fazer uma besteira.
— Vamos variar por uma única vez e ver o que ela prefere, não é, Mer? A melhor amiga dela, a quem ela conhece há mais de vinte anos e quem sempre esteve do lado dela, e é capaz de amar ela... À egocêntrica, filha da puta, mentirosa e controladora com a qual ela se casou por pura falta de opção. Valendo!
Eu senti a minha garganta arder em um choro iminente.
— A melhor amiga que não é capaz de a tratar como um ser humano livre de fazer as próprias escolhas? Me poupe, sua desgraçada! A não ser que o seu problema seja outro... Me diga, Yang — Addison parecia estar prestes a cuspir fogo.
— Addie, pare.
Ela sequer parecia me ouvir. Eu a senti apertar a minha mão, como se sequer percebesse que ainda estava em contato com a minha.
— Porque desde que nos casamos você vem tentando marcar território como se Meredith pertencesse a você! Me diga... Gostaria de estar no meu lugar?
Cristina riu, mas aquele riso não me pareceu sarcástico como o outro.
— Addie...
— É a única explicação para esse seu comportamento infantil em não aceitar que a sua amiga seja, agora, uma mulher casada.
— Em um casamento falso? Quer que eu tenha inveja de um casamento falso? — Ela riu — Me poupe, sua...
— Para nós duas e todos ao nosso redor ele é real, em todos os sentidos. Isso incomoda você, não incomoda?
— Cale a...
— É claro, mas eu sempre soube! Meredith nunca quis acreditar em mim, mas eu sempre soube que essa sua obsessão doentia por ela era devido ao fato de você ser uma imbecil que se apaixonou pela própria melhor amiga!
— Sua...
Assim que vi a mão de Cristina se erguer para bater em Addison e a ruiva a segurar com uma rapidez invejável, eu soube que era a hora de me fazer ser ouvida.
— Chega!
Elas me encararam.
— Mande essa vadia embora daqui, Meredith! Agora! Ou eu juro... Eu vou matá-la com as minhas próprias mãos!
Addison fez menção de erguer a sua mão e eu a segurei com força, a parando.
— Chega, Addison! Chega!
Ela me encarou.
E, naquele momento, ao me deparar com os olhos verde-escuro que eu mais amava no mundo cheios de dúvida e temor, eu soube, eu soube verdadeiramente que Addison era e, talvez, sempre seria a minha escolha.
Aquilo doía como um inferno, mas eu precisava fazer. Apenas não sabia como.
A ruiva desviou o seu olhar e afastou a sua mão da minha.
— Quando precisar de mim, me chame — Ela murmurou em um tom de voz que me fez desejar arrancar o meu coração do peito.
Mas, antes que ela pudesse se afastar, eu me esforcei para a alcançar novamente e a segurei.
— Não.
Ela me encarou, parecendo confusa.
— Você fica.
— O quê? — Cristina exclamou irritada — Me poupe, Meredith! Eu não vou dividir o mesmo espaço em que essa...
— Essa o quê, Cristina? — A indago, no meu tom de voz mais irritado — Se a sua preocupação comigo for o suficiente, você não verá problemas em dividir o mesmo espaço em que a minha mulher.
— Sua sócia! — Cristina rebateu, irritada.
— Minha mulher! — Respondo, no mesmo tom.
Addison me encarou, franzindo o cenho, parecendo realmente surpresa.
— Meredith... Eu estou cansada dessa mulher, eu vou para cas...
— Não. Eu já disse, Addison. Você fica. Isso é uma ordem! — Murmuro autoritariamente.
— Eu não vou dividir o mesmo ambiente em que essa... Desgraçada — A minha amiga parecia estar prestes a explodir de raiva, mas eu me mantive impassível. Eu precisava fazer isso.
— Então você pode sair.
Ela me encarou surpresa.
— O... O quê?
— Você me ouviu. Ou Addison fica, ou você sai.
— Você só pode estar brincando! Realmente vai escolher ela à mim? Você... Enlouqueceu! O que diabos essa vadia fez...
— Estou apenas me perguntando se o seu amor por mim é maior do que o seu orgulho, ou o seu ódio por alguém que nunca fez nada para o merecer. E pelo visto não, não é. Então, se você não é capaz de acreditar em mim ou de me ver como alguém capaz de fazer as próprias escolhas, não vejo razões para estar aqui. Por favor, Cristina, saia.
Tanto Addison como Cristina me encaravam como se estivessem vendo um alienígena.
A minha amiga riu, parecendo incrédula.
— Ótimo. Quer saber? Eu espero mesmo que ela foda com a porra da sua vida o bastante para que você aprenda a deixar de ser uma ingênua, burra e imbecil!
Antes que eu pudesse calcular, Addison a segurou com força pelo braço, se aproximando dela de maneira enraivecida.
— Eu acho irônico o quanto você fala sobre eu não a merecer, como se você, sendo a filha da puta em que é, a merecesse. Até porque chamar a própria amiga de imbecil e não ligar para os sentimentos dela se configura como um ótimo exemplo de amizade! Ouse a chamar dessas coisas de novo e você vai se ver comigo, sua desgraçada!
— Eu não tenho medo de você, sua vadia! E eu não a trato como se fosse a porra de um animal! Ela é idiota demais para perceber, mas eu não duvido que já tenha até mesmo a estup...
Addison avançou ainda mais sobre ela, soltando um grunhido irritado e eu, incapaz de conseguir imaginar o que poderia acontecer, as interrompi.
— Addison, pare, agora! Saia, Cristina! Saia agora!
A coreana me encarou por um último instante, depois de Addison a soltar violentamente.
— Saia! — Vocifero, irritada — Saia e não volte mais! Saia!
— Vai se foder, Meredith! Vai se foder!
Engoli em seco, sentindo a minha garganta secar e as lágrimas arderem os meus olhos ao vê-la sair do quarto e bater a porta com força, e, enfim, as deixei cair.
Addison me deu as costas, puxando os seus cabelos para trás, até que o coque se desfizesse. Ela se virou para mim novamente, com o rosto vermelho e os olhos tão mais escuros.
— Você quer que eu saia? — Ela me indagou e eu neguei com a cabeça, sentindo mais uma lágrima cair.
— Pode... Deitar comigo?
Ela assentiu, caminhando até mim e tirando os seus sapatos, se deitando no mínimo espaço livre da cama.
— Sinto muito... — Ela sussurrou.
— Eu também. Espero que saiba que eu nunca seria capaz de ver você da forma em que ela fala. Nunca, Addison.
Ela assentiu, depositando um beijo terno sobre os meus cabelos e passou a acariciá-los com ternura.
Nós ficamos em silêncio por algum tempo, até que eu segurei a sua mão, elevando a minha cabeça e não me importando com a dor que eu senti ao encará-la.
— Eu... Sinto muito por...
Ela negou com a cabeça e ergueu a sua mão, acariciando levemente a minha bochecha e, então, o contorno da minha boca.
— Não precisa sentir. Não é culpa sua.
— Eu sinto, de certa forma, que seja. Eu não deveria ter deixado as coisas chegarem a esse nível.
— Não se preocupe com isso. O que você pensa de mim é a única coisa que me importa.
Assinto, depositando um beijo terno sobre o seu polegar e sinto os seus lábios tocarem os meus delicadamente em um selinho demorado.
Toco o seu braço, respirando fundo entre o beijo e encosto levemente a minha língua em seus lábios, sentindo-a arfar contra o meu rosto e abri-los, entrelaçando a sua com a minha. Um gemido baixo escapou da minha garganta ao sentir a maciez da sua língua contra a minha. Addison acariciou o meu rosto levemente, repetindo o mesmo ato com o seu pé em contato com o meu.
— Ops!
Abri os meus olhos, vendo a minha mãe parada na porta do quarto e sorri, sentindo as minhas bochechas arderem.
— Não está atrapalhando nada, sogra — Addison falou, parecendo também um pouco constrangida — Vou buscar um café. Sem açúcar e com creme, certo?
A minha mãe assentiu, segurando um riso e Addison se levantou, calçando os seus mocassins. A ruiva depositou um selinho sobre os meus lábios e sussurrou um "já volto", saindo do quarto.
Flora permanecia parada, ainda segurando um sorriso e carregando uma expressão travessa no rosto.
— O que, mãe? — A indago, revirando os meus olhos.
— Sexo no hospital é uma experiência e tanto! Um pouco desconfortável, mas a adrenalina...
— Ah, não! Não! Não! — Murmuro incrédula, fechando os meus olhos em meio a um gemido de frustração, enquanto ela gargalhava. — Não quero saber! Não mesmo! Por favor! E eu e Addison não... Nós não... Ah, quer saber? Esquece!
Ela gargalhou novamente, se sentando ao meu lado e passando a conversar sobre amenidades da Academia.
...
Dois dias depois;
— Ah, senhora Montgomery! É tão bom tê-la de volta! — Miranda me recebeu de braços abertos na sala da minha casa, me tomando em um abraço carinhoso, com direito a um beijo terno na bochecha.
— É bom estar de volta, Miranda! Eu não aguentava mais o colchão duro do hospital.
Ela riu e todas as outras empregadas, que estavam posicionadas na sala, me cumprimentaram de maneira carinhosa.
— Com essa recepção eu me sinto mais do que mimada!
— Se sentirá ainda mais, então! Porque a senhora Montgomery pediu especificamente o seu prato favorito para o almoço hoje, além da sua torta e dos outros milhares de doces que a senhora ama. Estão todos na sua gaveta secreta.
Franzo o cenho, surpresa, encarando Addison ao meu lado.
— Você... Sabe da minha gaveta?
Ela deu de ombros.
— Que gaveta?
Eu ri, pela sua tentativa de mentira, e mais ainda pela sua feição descarada.
— Humm, bom saber! Irei mudar meu esconderijo!
— Acharei novamente — Ela me lançou uma piscadela e eu revirei os olhos, a acertando uma cotovelada sutil na sua cintura — Miranda, leve um suco de laranja e algumas frutas para a área da piscina. E o sorvete.
A governanta assentiu, pedindo licença e se retirando junto às outras empregadas.
— Você precisa tomar um pouco de sol — Addison se dirigiu a mim — A nossa família estará chegando daqui a pouco para almoçar conosco.
Sorrio, sentindo o meu peito se aquecer por aquela sua fala. Nossa família.
— Apenas se você também for tomar sol comigo.
Ela revirou levemente os olhos, me guiando com a sua mão entrelaçada à minha até a área da piscina.
Nós passamos o resto da manhã sentadas nas espreguiçadeiras da piscina, sob o sol não muito quente e também não muito forte, conversando amenidades, ou simplesmente, em alguns momentos, em um silêncio confortável.
Na hora do almoço, Flora, Lisa, Bizzy, Mark, Amélia, Ellis, Richard e Ella estavam conosco, enchendo a mesa da nossa casa de uma maneira a qual eu nunca havia visto antes.
Sorri, em dado momento, observando Addison e Flora conversarem entre si, sobre algo que não me atentei, e passei os meus olhos por todos à mesa, que riam e conversavam entre si e senti o meu peito se aquecer com aquela visão.
Família.
Aquela era a nossa família.
E eu não poderia ser mais grata, em toda a minha vida, por tê-la. E por poder dividi-la com Addison.
No mesmo momento, senti a mão da ruiva pousar sobre a minha em um ato carinhoso e sorri, entrelaçando os meus dedos aos seus, recebendo um olhar doce e um sorriso de lado de volta.
Nossa família.
...
Assim que a tarde caiu, eu e Addison nos vimos sozinhas, sentadas no banco de balanço da varanda da nossa sala, encarando o céu alaranjado pelo lindo pôr do sol que se fazia naquele dia.
Senti a ruiva acariciar levemente os meus cabelos, de maneira tão terna que me fizera fechar os olhos por um segundo para aproveitar mais daquela carícia, me aconchegando mais em seu peito.
— Addie? — A chamei baixinho, enquanto acariciava o seu braço com as minhas unhas e me ajeitava contra o seu corpo que me servia de apoio atrás do meu. Ela murmurou uma resposta — Não quero perder você... — Sussurro, sentindo o meu peito arder em somente imaginar aquela possibilidade.
Ela suspirou, me abraçando com mais força contra si.
— Você não irá. Eu prometo.
— Mesmo?
— Mesmo — Ela murmurou, depositando um beijo terno sobre os meus cabelos.
Fechei os meus olhos, inspirando o cheiro do seu perfume tão próximo e aproveitando do calor do seu corpo junto ao meu, sentindo que eu estava, literalmente, vivendo em um sonho ao poder estar ali, deitada contra ela, observando o sol se pôr, sem mais ninguém por perto para que aquilo fosse considerado uma performance.
— Você vai trabalhar amanhã?
— Tenho uma audiência pela manhã, mas mandei Kepner limpar a minha agenda pela tarde.
— Tive uma ideia — Murmurei, me levantando, vendo-a me encarar, com o cenho franzido. Segurei os seus ombros, me sentando no seu colo, sentindo-a acariciar a minha cintura delicadamente — Podemos convidar a nossa criança favorita para passar uma tarde conosco. Com direito a muito sorvete, muitos doces e a uma maratona de filmes da Marvel.
Ela sorriu, se esticando e depositando um selinho em meus lábios.
— Sabe que essa criança estuda, não sabe?
Fiz um bico, decepcionada por não ter pensado naquilo
— Poderemos fazer essa tarde no fim de semana. Luke está em semana de provas.
— Tudo bem, ele poderá dormir aqui?
— Não sei, Meredith... Ele tem fisioterapia no domingo pela manhã.
— Então... Ele pode dormir aqui e eu o levo pessoalmente para a fisioterapia... E depois podemos almoçar juntos. Vamos, Addie, por favorzinho!
Ela suspirou em resignação, assentindo.
— Tudo bem. Mas só aceito se pudermos ver homem de ferro.
— Tudo que você quiser, senhora Stark!
Ela sorriu, me beijando com intensidade.
— Hmm... Vamos para o nosso quarto? — Murmuro, acariciando o seu rosto.
— Meredith... Não podemos fazer isso enquanto estiver em recuperação.
Reviro os meus olhos, em completo tédio.
— Lei e ordem e sorvete? — Ela me indagou e eu sorri, assentindo.
...
— Addie, você não precisa me fazer massagem, eu posso fazer sozinha! — Murmuro, saindo do banheiro e me encaminhando até a cama a contragosto, enquanto a ruiva me seguia até ela, com a pomada de massagem indicada pela doutora Mallmann em suas mãos.
— Vou precisar obrigar você a se deitar?
Revirei os meus olhos, me sentando na cama.
A ruiva me ajudou a tirar o imobilizador do meu pescoço e eu me deitei na cama, antes tirando os travesseiros.
— Se doer, você me avisa, ok?
Assinto, sentindo-a se posicionar sobre mim e depositar o conteúdo gelado sobre o meu pescoço. Suspirei, fechando os meus olhos, quando comecei a sentir as suas mãos espalharem o conteúdo sobre o meu pescoço.
Controlei um gemido de dor ao sentir uma mínima pontada quando ela começou a massagear o local. Mas julguei ser normal, pois, pelo que me fora informado, eu havia dado um jeito sério naquele local.
Mas, assim que senti mais duas pontadas, ainda mais fortes, ao senti-la apertar levemente o local com os seus dedos, não pude evitar gemer baixo, em completa insatisfação.
— Está tudo bem?
— Humm... Pode ir mais devagar?
— Tudo bem.
Ela acatou o meu pedido, passando os seus dedos calmamente sobre o meu pescoço, como em uma real carícia, e não uma massagem.
— Não tão devagar, Addie.
— Ah, sim, tudo bem. Se prepare para dizer adeus às dores no pescoço — Ela comentou, parecendo realmente feliz e, no mesmo momento, seus dedos apertaram o meu pescoço novamente, em movimentos completamente aleatórios e eu gemi, em uma pontada de dor insuportável.
— Adeus, pescoço — Sussurrei, em um gemido fraco.
— Disse algo? — Ela me indagou.
— Apenas... Não precisa ir tão forte também.
— Desculpe — Ela murmurou, parecendo um pouco agitada. E me surpreendeu ao começar a apertar o meu pescoço com o seu dedo, como se estivesse apertando um botão.
Ela claramente não sabia o que estava fazendo.
— Ok... Addie... Addie, eu acho que... Acho que... Está bom — Murmuro, entre gemidos de dor.
— Como assim? O creme nem secou ainda, a doutora Mallmann disse que...
— Eu sei, mas estou me sentindo melhor — Minto, esperando não magoá-la por possuir, literalmente, a pior massagem do mundo.
Ela saiu da posição que estava, quase sentada em minhas nádegas e se levantou, ficando ao meu lado.
— O que houve, Meredith?
Me levantei, ficando sentada na cama.
— Nada, Addie. Apenas... — Bocejo falsamente — Estou com sono, vamos dormir?
— Não minta para mim.
Suspiro, desviando o meu olhar.
— O que houve?
— É só que...
— Que?
Fecho os meus olhos, falando de uma vez, pois sabia que ela não me deixaria em paz se eu não fizesse.
— A sua massagem... É... Meio... Ruim.
— O quê? — Ela pareceu realmente ofendida.
— E tudo bem, Addie! Eu posso fazer!
— Não, não pode!
Ela se afastou, puxando os seus cabelos para trás.
— A minha massagem é ruim? Isso é impossível! Você mesma sempre gostou da maneira a qual eu toco você! Ou passou todos esses meses mentindo para mim? — Ela me encarou surpresa — Você mentiu pra...
— Claro que não! — Me levanto, espantada — Mas fazer massagem exige uma delicadeza...
— Eu sou delicada!
Sorrio, indo até ela e envolvendo os meus braços no seu pescoço, vendo-a desviar o seu olhar, com um bico fofo nos lábios.
— Addie, eu gosto do seu toque bruto, mas...
— Eu não sou bruta!
— Não é, mas o seu toque sim. Você sabe ser delicada, sabe fazer carinho, sabe me tocar como eu gosto... Só não sabe fazer massagem. E tudo bem, você não precisa ser boa em tudo que se propõe a fazer.
— Você conviveu comigo por sete meses e não me conhece em absolutamente nada?
Sorrio, vendo o seu bico tomar uma proporção ainda maior.
— Addie... Pare com isso!
— Vou resolver isso!
Ela se afastou de mim e foi em direção a porta do quarto.
— O que irá fazer? Addie.. Vem, vamos dormir, já está tarde, amanhã você acorda cedo.
— Espere.
Ela saiu do quarto e eu suspirei, me sentando na cama e tentando, a todo custo, massagear o meu pescoço de uma maneira que fosse eficaz, mas estava falhando miseravelmente.
Desistindo daquilo, tirei o meu robe e o depositei sobre a poltrona ao meu lado e me propus a passar o meu creme entre as unhas e nos cotovelos que sempre passava antes de dormir.
Até visualizar a porta se abrindo e, para a minha surpresa, Miranda adentrar o nosso quarto.
— O qu... Addison! Não acredito que foi incomodar Miranda...
— Não é incômodo algum, senhora Montgomery.
Bufei irritada, encarando a ruiva, que estava de braços cruzados, com a mesma expressão zangada no rosto e se negava a me encarar.
— Miranda, não precisa, eu posso faz...
— Miranda, pode fazer — Addison falou vindo até mim e, para a minha surpresa, segurou firmemente o meu pescoço, evitando que eu sentisse dor e me virou de bruços.
— Addison Montgomery! — Exclamei irritada, sentindo-a se sentar ao meu lado.
— Venha, Miranda.
A minha governanta se aproximou, entre uma gargalhada e eu senti as suas mãos delicadas espalharem o gel sobre a minha pele, começando a massageá-la com cuidado.
Suspirei, esquecendo por completo da minha chateação, ao sentir a dor se esvair pouco a pouco.
— Não há segredos, senhora, só um pouco de delicadeza e firmeza ao mesmo tempo, está vendo?
— Humm, acho que sim — Addison murmurou.
Alguns minutos depois, Miranda finalizou a massagem e eu já estava quase pegando no sono.
— Obrigada, Miranda. E me desculpe pela indelicadeza da minha mulher.
Ela sorriu, acariciando levemente a minha bochecha.
— Estou sempre à disposição, senhora. Espero que tenha aliviado as dores.
— Definitivamente. Você possui mãos de anjo! Obrigada, meu anjo.
Ela me lançou um sorriso, saindo do quarto após pedir licença.
— Você possui mãos de anjo — Addison murmurou em ironia e revirou os olhos, se levantando.
Eu ri, sem conseguir acreditar que ela ainda estava chateada comigo por possuir uma massagem ruim.
— E ainda sim, são as suas as minhas favoritas!
Ela revirou os olhos, se deitando ao meu lado.
— Se fossem, você não odiaria a minha massagem.
— Mas elas não só servem para fazer massagem, meu bem! — Murmuro, me esticando e depositando um selinho sobre os seus lábios, me sentindo ousada o bastante para fazer um comentário — Na verdade, massagem é a última coisa que eu imagino quando penso nelas — A lanço uma piscadela, mordendo levemente o seu lábio inferior.
A vi fechar levemente os seus olhos, e pude jurar ver a sua respiração falhar.
— Não tente me distrair do fato de que você odeia a minha massagem!
Reviro os meus olhos.
— Addie, esquece isso!
— Não. Boa noite, Meredith.
— Não vai me dar um beijo? — Pergunto, fazendo um bico.
— Não, vai que de uma hora para a outra meu beijo também se torna ruim.
Rio, revirando novamente os meus olhos.
— Pare de ser dramática!
— Boa noite, Meredith.
Bufo irritada.
— Você não vai dormir enquanto não me der um beijo de boa noite.
— Humrum — Ela murmurou, virando para o outro lado.
— Addison Montgomery, me dê um beijo agora!
Ela continuou virada.
— Addison Elise Montgomery!
Ela, enfim, se virou, parecendo assustada.
— Ou você me dá um beijo, ou vai dormir no quarto de hóspedes, e eu não estou brincando!
Ela suspirou, revirando os seus olhos.
— Só se prometer nunca mais me chamar assim.
— Se você não fizer por merecer, eu não chamo.
Seus olhos novamente se reviraram.
— Addison Eli...
— Ok, ok!
A ruiva se esticou, tocando o meu rosto levemente e selou os seus lábios aos meus. Fechei os meus olhos, tocando a sua cintura e abrindo os meus lábios para a sua língua, que os adentrou no mesmo instante.
Gemi baixo contra os seus lábios, puxando-a para mais perto, desejando sentir mais o seu toque.
As suas unhas adentraram a blusa do meu baby doll e acariciaram a minha cintura delicadamente, enquanto a sua perna se enroscava com a minha debaixo das nossas cobertas.
O nosso beijo se intensificou e eu, já sentindo o meu corpo implorar por mais dela, arranhei levemente as suas costas, ouvindo-a grunhir contra o beijo.
— Meredith... — Ela separou os seus lábios dos meus, apenas para murmurar o meu nome da maneira mais sexy e deliciosa o possível — Não podemos.
— Addie, por favor... — Murmuro, a beijando novamente.
— Meredith... Não quero machucar você. A Doutora Mallmann recomendou que...
Afastei os nossos lábios, bufando irritada, mas concordando ao sentir uma pontada ao meu pescoço.
— Tudo bem.
Ela selou os seus lábios aos meus novamente.
— Vamos dormir, ok?
— Ok. Boa noite, Addie.
— Boa noite, querida.
A ruiva depositou um beijo terno sobre a minha bochecha e afastou as nossas pernas, se virando para o outro lado e desligando as luzes.
Sentindo a imensa falta do calor do seu corpo e da carícia das suas mãos, suspirei frustrada, me virando para o outro lado e abraçando o meu travesseiro frio, que não mais possuía graça para mim, após duas noites seguidas dormindo nos braços de Addison.
Por isso, demorei mais tempo do que o normal para pegar no sono, e quando o fiz, não possuí nenhum tipo de conforto nele, pois o mesmo pesadelo que me perseguiu na última semana se fez presente mais uma vez, após alguns dias sem o ter, por me sentir tão confortável nos braços de Addison.
...
Três dias depois;
— Mer? Cadê você? Cheguei!
Sorrio, descendo as escadas, ao ouvir Luke me gritar e o observo correr com a sua cadeira pela sala inteira.
— Você mal chegou e já está fazendo bagunça, carinha? — Falo rindo ao vê-lo quase derrubar um vaso de flores.
— Desculpa, não tô acostumado com essas coisas na casa da tia Addie — Falou apontando para o vaso — Tá tudo muito diferente aqui.
— De forma boa?
— Acho que sim — Ele falou sorrindo.
— Agora me dê um beijo!
Ele correu até mim e eu me abaixei, recebendo um beijo delicioso na bochecha.
— A tia Addie está conversando com o papai, o que vamos fazer?
— Almoçar, em primeiro lugar. Depois vamos maratonar homem de ferro e eu vou estraçalhar você e a sua tia no Uno.
Ele gargalhou.
— Esteja preparada para perder, tampinha!
Fiz cócegas na sua barriga, ouvindo a sua risada angelical se reverberar por toda a sala, enchendo o ambiente de uma áurea... Diferente.
— Tia Addie, me salva dessa tampinha!
Observei a ruiva adentrar a sala usando um conjunto de terninho calça e camisa preto, com uma camisa branca por baixo e me surpreendendo ao estar calçando mocassins, ao invés de saltos. Seus cabelos estavam soltos e levemente ondulados nas pontas, ela carregava uma expressão leve no rosto.
Addison caminhou até nós e me surpreendeu, pegando Luke no colo.
— Ah, obrigado! Eu estava quase...
A ruiva me lançou uma piscadela e o colocou deitado no sofá, começando uma sessão de cócegas. Eu gargalhei, me juntando a ela.
— SUAS SAFADAS! ISSO É UM COMPLÔ INJUSTO CONTRA MIM, UM... POBRE GAROTO... COM CÂNCER. O... O INFERNO ESTÁ CHEIO DE PESSOAS COMO VOCÊS! SALAFRÁRIAS! DESCARADAS! SEM VERGO... TIA ADDIE, NO PESCOÇO NÃO, NÃAAAAO!
Gargalhei, sem conseguir me concentrar em continuar com aquilo, sentindo a minha barriga doer pela intensidade da minha risada.
— Isso é pra você aprender que só quem pode zoar a falta de altura da minha mulher sou eu!
A encarei, cerrando o meu olhar.
— Addison Montgomery...
— Eu não deixaria! — Luke provocou, recuperando o seu fôlego.
— Estou brincando, querida. Apenas brincando.
— Humrum, sei.
Ela se esticou, depositando um selinho leve sobre os meus lábios.
— Ah, é assim? Comigo tem sessão de cócegas, e com ela não? Que injustiça! Bem que a vovó fala, esses casais de hoje em dia...
Eu segurei um riso, beliscando a sua bochecha e Addison o ameaçou com as suas mãos, ele se afastou.
— Não está mais aqui quem falou!
— Vou tomar um banho para almoçarmos.
— Só não demora, senão vamos comer sem você, ruiva chatinha!
Addison se aproximou novamente, o ameaçando com mais cócegas e ele sorriu.
— Estou brincando, tia Addie, vamos te esperar sim!
Ela cerrou seu olhar, mas nada disse, subindo as escadas.
Alguns minutos depois, a ruiva desceu, usando um short de academia preto, que ia até metade das suas coxas e uma t-shirt da mesma cor, com os cabelos presos em um coque bagunçado e usando os seus óculos de grau.
Nos sentamos à mesa junto a Luke e começamos a nos servir, ambas de nós duas ouvindo Luke falar animado sobre as suas aulas.
— Tirei dez em matemática, tia Addie!
A ruiva estendeu a sua mão, batendo com a dele em dois tapinhas e um soquinho.
— Esse é o meu garoto! E em biologia?
— Oito — Ele coçou a cabeça, enfiando muitas batatas na boca — Não entendi muito aquela dica que a senhora deu.
— Vou explicar melhor mais tarde. História, como foi?
Ele suspirou.
— Levei sete.
— Vamos ter que estudar mais esse semestre, carinha.
— Posso ajudar, se quiser, Luke — Me ofereço, sem deixar de sorrir por toda a interação entre ele e Addison, Afinal, a sobrava tempo para ajudar Luke na escola?
— Sério? Talvez você consiga deixar menos chato toda essa coisa.
— Vamos tentar!
— Ah, tia Addie, sabe aquela equação que mandei para a senhora na semana passada?
— Sim
— Consegui resolver!
— Está falando sério? — Addison parecia surpresa.
— Aham, não é tão difícil fazer por Pitágoras, mas o jeito que a senhora resolveu... me embaralhou todinho!
— É porque esse tipo de conta você apenas encontra em universidades, Luke!
Ele sorriu, dando de ombros.
— Vou mandar seu pai diminuir seu tempo na internet. Você vai acabar enlouquecendo se continuar procurando por essas equações impossíveis.
— Até parece que a senhora não faz o mesmo! Você sabia, tia Mer, que a tia Addie é viciada em resolver equações quase impossíveis?
Me surpreendo, encarando a ruiva.
— É apenas um hobbie. E eu tenho idade o bastante para as resolver e não enlouquecer. Você não!
Ele revirou os olhos, comendo mais batatas fritas.
Eu sorri, me sentindo ainda mais encantada pela relação dos dois.
Nós terminamos de comer em meio às conversas dos dois sobre matemática e um jogo recém lançado que Addison havia comprado para ele.
Eu e Luke tomamos sorvete, com direito a jujubas e marshmallow e, logo após, nos dirigimos até a sala.
Eu desliguei as luzes e fechei as cortinas, a fim de deixá-la mais confortável e, após pegar sorvetes e algumas guloseimas na cozinha, me sentei ao lado de Luke no sofá e liguei a TV, escolhendo o segundo filme do Homem de Ferro e colocando para passar.
O pequeno deitou a sua cabeça no colo de Addison e colocou os seus pés sobre o meu, começando a prestar atenção no filme junto à ruiva.
Ao fim da tarde, havíamos assistido o filme dois e três, jogamos o novo jogo sobre o qual eles estavam falando no almoço, que era de luta e eu, obviamente, perdi para Luke e Addison.
Mas, no Uno, eu os detonei, como havia prometido que faria.
— Você roubou! — Luke falou, cruzando os braços de maneira emburrada e eu ri, vendo Addison revirar os olhos, fazendo o mesmo, porém não de maneira tão infantil como a dele.
— Aceitem a derrota, meus amores. E agora, o que faremos?
— Quero hambúrguer! Por favorzinho, Mer!
— Não sou eu quem precisa convencer, carinha.
Os próximos cinco minutos se tornaram uma sessão de argumentações e contra-argumentações de o porque deveríamos comer hambúrguer. Addison, no fim, acabou cedendo e me deu o seu celular para que eu fizesse os pedidos, enquanto os dois se entretinham com algo que não me atentei.
Só quando os pedidos foram realizados, voltei a me sentar ao lado deles e pude entender o que eles faziam.
Addison estava com um pequeno caderno em mãos e explicava para Luke uma conta gigante que havia ali.
— O que é isso? — A indago.
— É uma equação de Einstein sobre a relatividade — A ruiva respondeu, me encarando. Quer ver?
Assinto, me sentando do seu lado e observei os traçados dos seus números tão desorganizados ali, em uma letra realmente quase impossível de ser lida.
— Não entendo nada do que está escrito aqui, Addie. O que é isso, russo? — Brinco.
Ela sorriu, revirando levemente os seus olhos e passou a me explicar cada coisa escrita ali. E, mesmo que eu não estivesse entendendo absolutamente nada, a ver falando tão animada sobre algo que ela claramente gostava havia se tornado a minha coisa favorita no mundo naquele momento. Seus olhos brilhavam.
— Entendeu? — Ela me indagou ao fim e eu sorri tímida, negando com a cabeça, sentindo as minhas bochechas esquentarem.
— Mas gosto de te ouvir falar.
Ela desviou rapidamente o seu olhar, parecendo momentaneamente envergonhada.
— Esse meu lado é...
— Muito sexy — Sussurrei para ela, que sorriu, parecendo surpresa.
— Tia Addie, mostra aquela outra pra Mer!
— Acho que já chega, Luke.
— Ah, não, por favorzinho!
— Vamos falar sobre as suas aulas de francês. Como está indo?
— Bem, a senhora Cuddle está cada dia mais chata. E agora não me permite mais escrever frases de forma contraída.
— Ela é a melhor, você sabe disso.
— Não deixa de ser uma velha chata!
Eu ri, me deitando no sofá ao lado de Addison e peguei o meu celular, resolvendo me atualizar das redes sociais, enquanto esperava a nossa comida chegar.
Abri o meu instagram e, ao observar a cena de Addison e Luke tão concentrados sentados sobre o tapete e debruçados sobre a mesa de centro da sala, senti a intensa vontade de eternizar aquele momento de alguma forma.
Por isso, abri a câmera do aplicativo, tirando uma foto de ambos concentrados, igualmente com um cotovelo apoiado na mesa e a mão apoiando o queixo.
Eles realmente pareciam... Mãe e filho.
Sorrindo, resolvi que aquela era uma foto bonita demais para ser postada apenas por vinte e quatro horas, e, por isso, apenas adicionei um coração vermelho na legenda e a postei na minha própria página.
Observei a foto por mais alguns segundos, sentindo o meu peito se apertar ao me imaginar, daqui há dois anos e alguns meses, longe daquela ruiva. Longe de Luke. Longe de toda a vida que estamos construindo juntas, tão aos poucos.
Aquilo doeria de uma maneira a qual eu sequer sabia mensurar o quanto.
— Mer, nossos hambúrgueres chegaram!
Eu despertei daqueles pensamentos ruins e sorri fraco para Luke, indo até a porta e recebendo o pedido por um dos seguranças.
Organizei tudo sobre a mesa de centro e nós começamos a comer, vendo o primeiro filme dos Vingadores. Eu e Luke nossos hambúrgueres, batatas, milkshake e refrigerante, e Addison um combo de sushi.
Assim que o filme acabou, eu tinha um Luke praticamente desmaiado ao meu peito, roncando baixinho e em um sono tão pesado que eu implorei para que Addison não o acordasse.
— Ele pode dormir conosco?
Ela assentiu, o pegando no colo e eu a segui pelas escadas. Abri a porta do nosso quarto e Addison foi até a nossa cama, o colocando ao meio dela.
Puxei os edredons, o cobri e fui até o banheiro. Prendi os meus cabelos devagar, sentindo o meu pescoço doer um pouco, mas nada além do normal. Eu havia parado de usar o colar essa manhã, quando a Doutora Mallmann certificou que eu já poderia deixar de usá-lo.
Tirei o meu vestido e adentrei o box do banheiro, ligando o chuveiro na água quente e fechando os meus olhos ao adentrá-lo.
Tomei um banho demorado e saí dele sentindo o sono me tomar por completo. após finalizar as minhas higienes e vestir um conjunto de baby doll, caminhei até o quarto, me deitando ao lado de Luke. Alcancei a minha pomada de massagem e passei-a no meu pescoço, massageando o local com cuidado, sentindo um pouco de dor, mas nada alarmante. Addison foi tomar o seu banho, voltando alguns minutos depois e desligando as luzes, deitando do outro lado do garoto.
— Tudo bem para você se amanhã formos até o clube? Marquei de encontrar com os Martinez lá.
— Tudo bem. Luke também vai?
— Não, o avô dele vai buscá-lo na fisioterapia.
Assinto, ajeitando os edredons no meu corpo e me esticando sobre Luke, alcançando os lábios da ruiva e depositando um beijo suave sobre eles.
— Boa noite, Addie.
— Boa noite, querida.
Me deitei, cobrindo Luke que, para a minha surpresa, se virou para mim, me abraçando com força contra si.
Eu sorri, acariciando levemente os seus cabelos e depositando um beijo carinhoso sobre eles.
— Devo sentir ciúmes? — Ouvi a voz de Addison sussurrar para mim e sorri.
— De mim ou dele?
— Dos dois.
— Há sempre espaço para você nos meus braços, Meritíssima.
Ela não me respondeu, mas, pela meia luz, pude ver um mínimo sorriso em seus lábios, antes que ela virasse para o outro lado.
Fechei os meus olhos, ouvindo o ronco baixo de Luke e sorri, me entregando ao sono ao sentir o cheirinho de bebê que ele ainda carregava consigo.
Sem pesadelos essa noite. Graças a minha criança favorita.
...
Após deixarmos Luke na fisioterapia, eu e Addison passamos rapidamente na casa de Flora para encontrá-la junto à Lisa, por um convite da própria Addison realizado diretamente para a minha mãe.
Em meio a amenidades, nós fizemos o caminho até o interior da cidade. A ruiva adentrou o estacionamento do local após passar o seu cartão de membro e estacionou o carro na vaga destinada a ela.
Nós descemos juntas e Addison tomou a minha mão junto à sua, me guiando, em meio a uma conversa com a minha mãe, até a área da piscina, caminhando diretamente até a mesa onde haviam algumas pessoas sentadas.
— Addison! Quanto tempo! — Um mulher negra, de cabelos ondulados e sorriso imenso foi a primeira a cumprimentá-la, eu a conhecia da primeira vez que havia vindo aqui com Addison, há muitos meses atrás, apenas não lembrava o seu nome.
— Naomi — Addison a cumprimentou da sua maneira usual de sempre, apenas com um aceno de cabeça, repetindo o ato para com todas as pessoas na mesa.
— Meredith! Quanto tempo! — Beatrice Martinez me cumprimentou com um abraço caloroso, sendo seguida por Thomas, seu esposo.
— Como vão? — Os cumprimentei com um sorriso animado. — Essas são Flora, minha mãe, e Lisa, minha madrasta. Esses são Beatrice e Thomas, sócios de Addison. — Os apresentei, cumprimentando as outras pessoas na mesa e me sentei em uma cadeira puxada por Addison.
— Como vai, Meredith? — Naomi me cumprimentou com dois beijos no rosto assim que me sentei, e nós começamos a conversar amenidades.
— Deseja pedir alguma coisa, querida? — Addison me indagou, passando o seu braço por detrás da minha cadeira.
— Um suco de laranja, amor. Mãe, Lisa, querem beber algo?
Lisa pediu o mesmo que eu e a minha mãe acompanhou Addison no whisky.
Logo estávamos todos entretidos em algum tipo de conversa. Addison com Thomas e Sam e eu, Lisa e a minha mãe com Beatrice e Naomi.
Em determinado momento, Beatrice se ofereceu para apresentar o clube para Lisa e Flora e eu as segui, deixando Addison com os outros.
Ajeitei o meu chapéu e os meus óculos e caminhei ao lado da minha mãe, enquanto Lisa e Beatrice iam na frente, conversando amenidades entre si.
— George me disse que você e Cristina brigaram — Flora murmurou para mim e eu suspirei, assentindo. — Seguiu o meu conselho, então? — Assenti novamente e ela sorriu — Pela primeira vez na vida, não é, mocinha?
Eu sorri, revirando os olhos.
— Não seja dramática, mamãe.
— É um lugar lindo! Me espanto nunca ter vindo aqui.
— É um pouco mais afastado do centro, e você odeia dirigir.
Ela fez uma careta.
— Amor! Podemos jogar sinuca depois? — Lisa falou apontando para a grande sala destinada apenas a mesas de sinuca.
— Claro, querida.
Nós caminhamos por mais um longo trajeto, entre risadas e a estupefação da minha mãe em relação ao tamanho do local. E, assim que eu senti a minha barriga dar indícios de fome, sugeri que voltássemos até a mesa.
Assim, retornamos e eu senti o meu sorriso morrer ao bater os olhos sobre a mesa e observar Violet Turner sentada ao lado de Addison, com Rachel ao seu lado.
Revirei levemente os meus olhos, sentindo o mesmo nojo de sempre por aquela mulher me habitar, mais uma vez.
— Voltamos! — Beatrice falou animada, se sentando ao lado do seu marido e depositando um beijo terno sobre os lábios dele.
Me sentei ao lado de Addison, sentindo o olhar de Violet queimar sobre mim.
— Amor, estou com fome — Anunciei para ela, após cumprimentar Rachel brevemente com um sorriso e um aceno.
— Está cedo para o almoço... Quer que eu peça um brunch?
— Humrum, por favor — Murmurei, envolvendo o seu pescoço com o meu braço e entrelaçando a minha mão à sua — Vamos tomar um sol depois? Você está muito pálida.
Ela assentiu, chamando o garçom e fez o meu pedido, junto com o de Lisa e da minha mãe, que me acompanhariam no brunch.
Os nossos pedidos chegaram alguns minutos depois e eu senti a mão da ruiva acariciar levemente a minha coxa assim que eu comecei a comer, enquanto conversava com Thomas.
A ofereci um pouco da minha salada de frutas e ela comeu, voltando a sua conversa.
Após terminarmos de comer, Lisa sugeriu que fôssemos para a piscina e eu concordei, me levantando junto a ela, deixando Flora e Addison, que estavam entretidas na conversa.
Caminhamos até as espreguiçadeiras e escolhemos duas lado a lado.
Tirei o meu chapéu e, então, o meu vestido, ficando apenas com um conjunto de biquíni azul marinho.
Eu e Lisa nos ajudamos com o protetor solar e, enfim, nos deitamos nas nossas espreguiçadeiras.
Fechei os meus olhos, sentindo os raios de sol tocarem a minha pele de maneira sutil, pois o dia não estava tão ensolarado, mas sim numa temperatura perfeita para que eu não ficasse totalmente vermelha no fim do dia.
— Por que Bizzy não veio, Mer? Ela ainda não respondeu a minha mensagem — Lisa me indagou, parecendo preocupada.
— Ah, ela foi à uma feira de artes com a tia Ella, mas disse que provavelmente viriam mais tarde.
— Ella não nos disse nada. Mas provavelmente foi por causa da implicância da sua mãe.
— Implicância por que? — Indago, confusa.
— Essa paixonite da Ella na Bizzy... Sua mãe está enlou...
— Calma... A tia Ella... Com a minha sogra? — Me levanto, realmente assustada com aquilo, para, logo depois, rir. — A tia Ella simplesmente adora ter crushs em mulheres inalcançáveis. Agora duplamente: casada e hétero.
Lisa riu, negando com a cabeça.
— Eu acho que elas fariam um casal fofo.
— Lis! Não há nem a ínfima possibilidade de isso acontecer! A minha sogra é completamente apaixonada pelo meu sogro. Além de hétero.
— Bem, pois eu acho que para tudo há um jeito! E não é como se eu me importasse com o fato de ela ser casada.
— Como assim? — Pergunto, confusa.
— Mer... Bizzy está infeliz. Qualquer um consegue ver isso. Nós nos tornamos boas amigas, e eu, mais do que ninguém, vejo isso. Essa semana então... Ela estava um caco. Harry viajou novamente e eles brigaram mais uma vez.
Suspiro, me dando conta de o quão eu havia me tornado uma péssima nora nos últimos tempos. Pois eu sequer havia percebido aquilo.
— Não sei, só sei que a minha cunhada, mesmo que seja uma maluca completa, faz à Bizzy. E ela está precisando de alguém a quem sinta que não está incomodando. Porque todas as vezes que saímos ela fala que eu deveria estar com Flora e blá, blá, blá!
— É, comigo também... Então elas estão realmente assim tão amigas?
— Completamente. A sua tia maluca não fala de outra coisa que não seja Bizzy. Sua mãe está quase enlouquecendo!
Eu ri, negando com a cabeça e me recostei na minha espreguiçadeira novamente.
Senti uma sombra entrar na frente dos raios de sol em meu corpo e abri os meus olhos, observando a minha mulher carregando uma taça de sorvete, a depositar sobre a mesinha ao meu lado.
— Como adivinhou? — Sussurro, contendo um sorriso e ela deu de ombros, se esticando e, para a minha surpresa, se sentando sobre o meu abdômen.
— É um dom — Ela sussurrou, se esticando e deixando um beijo terno sobre os meus lábios.
— Humm, tire esse short e essa camisa, vou passar protetor em você.
Ela se levantou, o fazendo e ficando vestida apenas com o conjunto de biquini verde musgo que eu havia escolhido para ela, que combinava perfeitamente bem com os seus cabelos e os seus olhos.
Mordi o meu lábio inferior, observando as suas coxas definidas, o seu abdômen e o seu bíceps, sem conseguir deixar de me perder por cada curva do seu corpo.
Eu realmente era a mulher mais sortuda do mundo.
Me levantei, dando o lugar da espreguiçadeira para a ruiva, que se deitou nela de bruços.
Alcancei o meu protetor solar e o depositei sobre as suas costas, começando a passá-lo enquanto as massageava.
— Isso é uma massagem, meu bem — Sussurrei para ela, que me devolveu um grunhido irritado, me fazendo rir.
Desci as minhas mãos para a sua bunda, passando-o sobre ela e, então, nas parte posterior das suas coxas.
Senti-me ser observada na mesa e, mesmo que eu já soubesse de onde vinha aquele olhar, eu levantei o meu por trás do óculos de sol apenas para confirmar. Turner.
Sorri, me sentindo mais ousada do que costumava me sentir, apenas com a ínfima ideia de que aquela mulher nunca teria nenhuma chance de conseguir o que ela tanto queria, que era consequentemente algo que eu sequer precisava pedir para ter.
Addison por inteiro.
Após finalizar com o protetor, depositei um beijo terno sobre os cabelos da ruiva, que se virou, ficando sentada na espreguiçadeira e me puxou para me sentar entre as suas pernas.
— Por que está sorrindo? — Ela me indagou e eu dei de ombros, acariciando as suas coxas.
— Apenas estou aproveitando o nosso dia, meu bem. — Murmurei, ainda encarando o olhar invejoso de Violet por trás dos meus óculos. — Não são todas as pessoas que têm a sorte que eu tenho.
A ruiva pareceu confusa, mas nada disse. Me recostei sobre o seu peito e fechei os meus olhos, sentindo a carícia que ela realizava sobre os meus braços me fazer quase dormir ali, com os raios quentinhos do sol sobre a minha pele e o vento gostoso que fazia naquela manhã.
Pouco a pouco, todos os outros da mesa foram se colocando nas espreguiçadeiras ao nosso lado, e Addison retornou a sua conversa com Thomas, que estava de frente para nós.
Logo, Rachel se sentou na poltrona ao nosso lado e também entrou na conversa, sendo seguida por Turner.
Agradeci por estar de óculos de sol e poder conseguir revirar os meus olhos para cada palavra saída da boca daquela mulher, sempre tentando se dirigir a Addison.
Logo, Thomas e Beatrice foram para a piscina e eu suspirei, já irritada pela presença de Violet ali.
Tudo naquela mulher me irritava. O seu tom de voz, que sempre parecia estar destilando ironias, a sua maneira de falar, os seus assuntos, nada sobre aquela mulher me parecia interessante.
— Addison, você ouviu os rumores no Senado? — Rachel a indagou em certo momento e a ruiva apenas deu de ombros atrás de mim.
— Estão especulando um caso entre você e Rachel — Violet completou e eu a encarei no mesmo instante.
— Como? — A indaguei, sentindo o meu sangue ferver.
— Pois é, queridinha! Irônico, não? — Ela murmurou, me lançando um sorriso cheio de veneno.
— Não quero que a minha campanha seja motivo de desestabilização social para você, Addison — Rachel se pronunciou, ignorando Violet.
— Não vejo o porquê. Eu sou uma mulher casada e nunca dei indícios de precisar de outra mulher que não seja a minha.
Segurei um sorriso, enquanto acariciava as coxas da ruiva.
— Espero mesmo que não seja um problema para você, nem para você, Meredith.
— Não há motivos para que seja — Eu respondi, sorrindo para Rachel — Apesar de achá-la uma mulher muito atraente, confio na minha mulher de olhos fechados.
Rachel devolveu o meu sorriso e eu observei Violet revirar os olhos.
As duas pediram licença, se retirando até a piscina e eu bufei irritada, revirando os meus olhos para aquela especulação idiota.
Era claro que Addison não poderia ser vista com uma mulher atraente ao seu lado que, obviamente, rumores sobre traição apareceriam.
Aquilo me irritava profundamente.
— Está tudo bem?
— Tudo ótimo — Respondi revirando os meus olhos. Como poderia ter me casado com uma pessoa tão... Lerda em certos aspectos?
Addison se calou e nós continuamos ali deitadas até a hora do almoço.
A ruiva vestiu novamente a sua camisa preta e o seu short jeans e eu coloquei o meu vestido longo, prendendo os meus cabelos em um coque alto e dispensando o chapéu e os óculos para ir até o restaurante.
Caminhei com Addison até lá de mãos dadas e a ruiva puxou uma cadeira para mim, se sentando ao meu lado logo após.
Fizemos os nossos pedidos e eu passei a tomar o meu vinho, conversando com a minha mãe entre pequenos goles.
— Então, Addison, como ficou a questão da barragem em Luanda? — Sam a indagou, parecendo preocupado.
— Consegui encontrar uma solução.
— Como sempre — Rachel comentou com um sorriso que, eu realmente me odiei por aquilo, mas não gostei nada.
De onde havia surgido todo aquele ciúmes que insistia me habitar hoje?
— Pode nos contar sobre a sua mais brilhante ideia? — Rachel a indagou.
Addison assentiu, passando a explicar todo o seu plano, sendo escutada por todas as pessoas na mesa.
— Uau! — Rachel se pronunciou, parecendo surpresa — Sempre me surpreendo com a sua inteligência, Addison.
— Por isso me parece tão cansada... Está precisando relaxar, Addison — Violet comentou, tocando a mão de Addison e eu respirei fundo, me segurando para não responder aquele seu ar de ironia — Sabe que precisando... Estou aqui, não sabe?
Não consegui processar tamanha cara de pau sua e a encarei, cerrando o meu olhar.
— Oh, Violet, querida, sempre tão prestativa — Comento, sorrindo falsamente para ela.
— Faço o que posso, Meredith, querida. Espero que saiba que me importo com você, Addison.
Suspiro, apertando a coxa de Addison por debaixo da mesa.
— Sei, Violet — Addison, inusualmente, a respondeu e eu a encarei, vendo-a me lançar um olhar travesso e... Addison estava me provocando?
Senti o meu sangue queimar as minhas veias pelo mínimo sorriso que ela me lançou, apertando a minha mão e, sentindo nada além de raiva, afastei a minha mão da sua, que, no mesmo instante, tocou a minha coxa nua pela fenda do meu vestido.
Segurei-a, tentando afastá-la dali, mas apenas recebi um aperto forte na coxa em resposta, que me fez fechar os olhos de maneira rápida.
Filha d'uma...
— Então, Addie, nos conte, quando volta para a África?
Addie?
Aquela mulher só poderia estar testando a minha paciência!
— Não sei.
— Ouvi rumores de que você estava desejando voltar no fim do ano.
— Sim.
— Mas deve estar tão ocupada, não é? Pobrezinha... Você me parece realmente exausta!
— Agradeço a sua preocupação com a minha mulher, Violet, mas garanto que estou cuidando muito bem dela — Falo, sentindo Addison subir as suas unhas pela minha coxa, quase alcançando a minha intimidade, mas, antes que ela o fizesse, depositei um tapa fraco na sua mão, sorrindo falsamente para Violet, trincando o meu maxilar.
Eu me resolveria com Addison mais tarde.
— Ah, claro que está — A mulher falou com um sorriso irônico — É bem visível.
Cerro o meu olhar, tentando entender sobre o que ela estava falando.
— Bem, Addison, me deixe saber se há algo que eu possa fazer por você. Seja no caso Kinley ou... Qualquer outra coisa.
Encarei a ruiva, elevando uma das minhas sobrancelhas, aguardando pela sua resposta.
— Ok, Turner — A ruiva respondeu me encarando intensamente, sem mais o mesmo sorrisinho irônico de antes.
Senti a sua mão tocar a minha coxa novamente e a afastei, sentindo-a me tocar mais uma vez e, dessa vez, apertar a minha coxa, mantendo-se firme ali, me impossibilitando de tirá-la.
Revirei os meus olhos, bebendo o meu vinho e me concentrando em comer a minha comida.
— Meredith, você vai para a conferência de literatura esse mês? — Beatrice me indagou e eu assenti, me atentando, apenas naquele momento, que o mês de setembro havia acabado e que estávamos no primeiro dia do mês de outubro.
— Sim, a nossa empresa é uma das patrocinadoras.
— Ah, eu não sabia disso!
Addison me encarou.
— Ninguém sabia — Ela falou cerrando o seu olhar. Eu dei de ombros, cerrando o meu olhar em desafio.
Estamos quites!
— Bem, surpresa! — Comentei, com um sorriso descarado nos lábios.
Addison cerrou ainda mais o seu olhar e eu apenas elevei uma das minhas sobrancelhas, a desafiando.
Ela apertou a minha coxa e eu suspirei, não me permitindo deixar meu corpo reagir àquele toque.
— Será um evento e tanto! Teremos muitos autores de prestígio esse ano. Você já viu a programação, Meredith?
— Não, ainda não, Beatrice. Você a tem aí?
Ela assentiu, pegando o seu celular e eu levei a minha taça de vinho à boca, quase engasgando com o líquido ao sentir as unhas de Addison passearem o interior da minha coxa e pararem sobre o tecido do meu biquíni.
O que Addison estava fazendo?!
— Mia Couto estará aqui! Já ouviu falar dele, Mer? Eu sou uma grandíssima fã!
— Ele... — Engulo em seco, tocando o braço de Addison por cima da mesa — É um escritor africano, certo? Ouvi muito sobre... — Contive a minha vontade de fechar os meus olhos ao senti-la afastar a calcinha do meu biquíni e cravei as minhas unhas no seu braço — As histórias dele quando fomos para África, não é, amor? — Falei me virando para Addison e, sutilmente, tentando tirar a sua mão do meio das minhas pernas, não obtendo resultado.
— Sim, querida. Ele é muito famoso mundialmente, mas principalmente lá.
Assinto, depositando a minha taça sobre a mesa.
— Amor, pode me acompanhar até o banheiro? — Falei para Addison, segurando a minha vontade de cravar as minhas unhas no seu pescoço.
— Claro, meu bem — Ela falou me lançando um sorriso e se levantou. Pedi licença, fazendo o mesmo e segurei firme no seu braço, puxando-a para andar comigo.
No meio do caminho, ela parou, encarando o seu telefone.
— Humm, isso é urgente, pode ir, eu vou atender — Ela falou, mas eu observei a tela do seu celular, que não tocava. Ela se soltou de mim, me lançando uma piscadela e, antes que eu pudesse dizer algo, a ruiva saiu rapidamente de perto de mim.
Descarada!
Respiro fundo, sentindo o meu corpo inteiro formigar em desejo e raiva ao mesmo tempo.
Addison me pagaria cada uma daquelas provocações mais tarde.
Fui até o banheiro e lavei o meu pescoço, sentindo-o mais quente do que o normal. Eu estava vermelha.
E tudo isso por culpa de Addison.
— Ah, oi, Meredith — Naomi falou me lançando um sorriso terno, saindo de uma das cabines — Tudo bem?
— Tudo sim — Minto, lavando as minhas mãos.
— Fico feliz que tenham vindo hoje. Desde que se casou, Addison abandonou todos nós — Ela falou, me lançando uma piscadela — Não a culpo, isso quer dizer que o casamento de vocês está ótimo.
Sorrio, assentindo.
— Nós temos pouco tempo livre. E o pouco que temos... Eu realmente não me animo muito para sair.
— Entendo. Addison realmente não para, certo? Violet vive falando sobre isso!
— Humm, imagino — Murmuro, desviando o meu olhar.
— Bem, se você algum dia estiver afim de fazer algo... Diferente para relaxar, tanto você como Addison, eu e Violet estamos disponíveis.
Franzo o cenho, a encarando para constatar se eu havia entendido realmente o que eu havia entendido.
— Não sei se entendi — Falo, confusa.
— Ah, você é uma mulher incrível! E eu não me incomodaria nem um pouco em transar com a sua mulher de novo. E com você ainda... Bem, você entendeu.
Ergo as minhas sobrancelhas, completamente estupefata.
— Você e Addison?
Ela riu.
— Ah, sim. Somente uma vez, infelizmente. Mas podemos ter uma segunda — Ela falou piscando para mim e se aproximando de maneira estranha.
— Naomi — Me afasto, colocando a minha mão entre nós — Você é uma mulher casada.
Ela gargalhou, sorrindo para mim logo em seguida.
— Sam sabe, Meredith. Temos um relacionamento aberto.
Me surpreendo com aquilo.
— Bem, mas eu e Addison não. Estamos muito satisfeitas somente uma com a outra. Agradeço pelo elogio, mas passo o seu convite. Peço que não retorne a fazê-lo, se não desejar não nos ver pisar mais os pés nesse clube.
Ela ergueu as suas mãos em forma de rendição.
— Tudo bem. Mas, se mudar de ideia... Bem, estou por aí.
Reviro os meus olhos, sentindo a raiva me consumir ao vê-la sair do banheiro rindo.
Mas que inferno era aquele?!
Addison já havia transado com o mundo todo e eu não sabia disso?
Inferno!
Saio do banheiro, batendo a porta com força e me encaminho até a mesa, me sentando ao lado da ruiva.
— Tudo bem? — Ela sussurrou para mim e eu apertei firmemente a sua coxa, cravando as minhas unhas nela — Ai! O que houve, Meredith?
— Em casa, Addison Elise, em casa! — Murmurei contra a minha taça.
— O que eu fiz? — Ela sussurrou para mim, acariciando a minha coxa, mas eu segurei firme a sua mão, sentindo raiva demais para aquilo e não me deixando levar pelo seu tom de voz preocupado e um pouco amedrontado.
— Já falei que nos resolveremos em casa!
Ela suspirou, passando o seu braço pelo meu pescoço, mas nada disse.
Terminamos o nosso almoço e eu sequer consegui comer toda a minha sobremesa, de tanta raiva que estava sentindo ao ver Violet, Rachel e Naomi encararem Addison da forma em que encaravam.
Rachel nem tanto, ela apenas conversava coisas triviais com Addison, mas, mesmo assim, eu ainda sentia ciúmes, e sentia mais raiva de mim ainda por estar sentindo ciúmes dela também.
O almoço se findou e nós voltamos para a área da piscina.
— Sam e Thomas vão jogar tênis e me chamaram para jogar com a sua mãe... Algum problema que eu vá? — Ela me indagou, assim que eu me sentei sobre a espreguiçadeira.
— Vá — Murmurei grata por aquilo. Sem Violet, Naomi ou Rachel por perto. Me deitei na espreguiçadeira, colocando os meus óculos. A ruiva se esticou para deixar um beijo nos meus lábios, mas eu virei o rosto, deixando-os cair sobre a minha bochecha.
— Vamos, sogra?
A minha mãe saiu ao lado de Addison e eu me concentrei em beber a taça de vinho que a ruiva pediu para mim, em meio a uma conversa com Beatrice e Lisa.
A tarde passou mais rapidamente do que eu esperava, pois eu, Lisa e Beatrice resolvemos passar boa parte dela na sauna.
Ao fim da tarde, eu tirei um cochilo na espreguiçadeira e fui acordada por Addison, que calmamente me chamava para ir.
Seus cabelos estavam molhados e ela não mais usava o biquíni por debaixo da roupa, o que me fizera entender que ela havia tomado banho após o jogo.
— Quem venceu? — Lisa as indagou.
— Nós, obviamente — Flora falou erguendo a sua mão e batendo com a de Addison em um high-five.
— Humm, vocês são uma dupla e tanto!
— Nós sabemos, Lisa — Addison respondeu — Vamos? — Ela me indagou e eu assenti, guardando as minhas coisas e ajeitando o meu vestido.
Rapidamente nos despedimos de todo mundo, indo até o carro.
— Ella e Bizzy estão nos convidando para jantar — Lisa falou no banco detrás ao lado de Flora — O que acham?
Addison me encarou.
— Você decide.
— Estou um pouco cansada e preciso me preparar para voltar ao trabalho amanhã — Falei, me virando para Lisa e a minha mãe — Tudo bem para vocês?
— Claro, Mer! Você vai precisar mesmo de energia, as crianças estão malucas de saudades de você!
Sorrio, voltando a minha atenção para o trânsito.
Addison deixou Flora e Lisa no apartamento delas e a ruiva dirigiu calada até a nossa casa.
Assim que ela estacionou em frente a escadaria, abri a porta por mim mesma e saí do carro, antes a ouvindo bufar, parecendo irritada.
Eu mereço!
Subi as escadarias da entrada e, novamente, as da sala, caminhando até o meu quarto e fechando a porta com força, sem conseguir deixar de me sentir irritada por toda aquela chatice de tarde dos infernos!
Violet. Naomi. Rachel.
Todas elas tão rendidas por Addison que era simplesmente... Uma coisa irritante de se ver!
A ruiva abriu a porta do quarto quase no mesmo instante após ser batida.
— Vai me falar agora o que eu fiz?
Reviro os meus olhos, me sentindo mais irritada do que eu deveria diante daquela pergunta boba.
— Não sei, pergunte para Naomi. Ou Violet. Ou Rachel. Ou o mundo todo, quem sabe!
Ela pareceu ainda mais confusa, vindo até mim.
— Meredith, eu não estou entendendo nada.
— Meredith, não estou entendendo nada — A imito, apenas para deixar claro a minha irritação com a lerdeza que ela possuía — Ah, pelo amor de Deus!
— Você vai falar o motivo para esse seu surto ou eu vou precisar adivinhar?
— Não sei, quem sabe o fato de você ter adorado ser o centro das atenções hoje "ah, Addison você é tão inteligente!", "Ah, Addison, me parece tão cansada... Coitadinha... As minhas pernas estão sempre abertas para você! Quem sabe eu possa te oferecer algum conforto ou relaxamento ao meio delas!" Ah, me poupe!
A ruiva ficou em silêncio e eu me virei para ela, prestes a destilar toda a minha raiva sobre si, até vê-la completamente vermelha, mordendo os próprios lábios, segurando...
Um riso.
Addison riu... Não. Não riu. Addison gargalhou.
E eu, sem conseguir mais computar qualquer outra coisa, parei feito uma idiota no meio do quarto, repassando, de novo e de novo, o som tão... Gostoso da sua risada.
— Ah, essa foi realmente boa!
Eu não sabia o que dizer. Eu havia perdido todos os meus argumentos ali, naquele momento.
— Está com raiva de mim porque sou desejada por outras mulheres?
Mas, ali estava. Era incrível o quanto Addison Montgomery possuía facilidade em me irritar.
Me aproximei, acertando um soco bem dado no seu ombro.
— Ouch, tampinha! Está me batendo por ser desejável demais?
Sinto o meu sangue ferver e o meu coração bater tão rápido e tão forte dentro do peito que, eu soube, naquele momento, que ou eu mataria Addison ou ela me mataria de tanta raiva.
— Idiota! — Soco novamente o seu ombro, recebendo um sorriso lindo e descarado de volta.
— Sua idiota — Ela murmurou, me surpreendendo ao segurar firme a minha cintura, me puxando para si de maneira nada delicada.
— Por que não disse isso para aquelas... Argh! — Solto um grunhido irritada, ao não encontrar o não-palavrão certo.
Como eu odiava o fato de não conseguir falar palavrão às vezes.
— Eu não precisei, você fez questão de desenhar o seu nome na minha testa a tarde inteira, querida.
Revirei os meus olhos, socando o seu ombro novamente.
— E você gostou! Idiota! Você é uma...
— Sua idiota — Ela sussurrou contra os meus lábios, me segurando com força contra si — Apenas sua.
Senti tudo dentro de mim derreter com aquelas palavras.
Idiota!
Antes que eu pudesse pensar em mais alguma coisa, a ruiva puxou o meu vestido para cima, o tirando sem nenhum tipo de delicadeza e desamarrou o meu biquini rapidamente, tirando a parte de cima e debaixo de maneira tão veloz que eu apenas percebi quando já estava nua.
E, sem me deixar sequer computar aquilo, a ruiva me jogou na nossa cama com cuidado, mas sem deixar a sua brutalidade de lado.
— Você estava tão irada com o fato de haverem outras mulheres me cobiçando... Que sequer percebeu onde estavam as minhas atenções durante todo esse dia.
Engoli em seco, fechando os meus olhos ao senti-la depositar beijos molhados e nada delicados sobre o meu pescoço.
— Estavam em você. E no quanto você fica gostosa com esse biquíni. Eu estava apenas provocando você, porque adoro a ver irritada e ser o seu calmante, querida.
Suspiro, adentrando a sua camisa com as minhas mãos e arranhando a sua cintura com força.
— Onde está a sua marra agora, senhora Montgomery? — Ela me indagou diabolicamente, mordendo o meu lábio inferior — Hum? Não estava desejando me bater?
— Ainda... Estou — Murmuro entre um gemido, quando sinto a sua língua traçar o meu pescoço vagarosamente.
— Por que não bate, então? Suas mãos estão livres.
Gemi baixo, ao sentir a sua coxa nua esfregar-se ao meu centro que mais do que pulsava, implorava por ela.
— Vamos, querida, não estava com raiva de mim? — Ela soltou uma risada sarcástica ao meu ouvido, lambendo o nódulo da minha orelha, para, em seguida, o tomar entre os seus dentes — Passou tão rápid...
Seguro firme em seu pescoço, a fazendo me encarar e o puxo em minha direção, apertando-o com força moderada.
— Ou você tira essa roupa agora e para de me provocar, ou eu juro, Addison Montgomery, você vai dormir por um mês no quarto de hóspedes!
Ela me encarou intensamente e se afastou, abaixando o seu short e desabotoando a sua camisa rapidamente. Abaixei a sua calcinha com os meus pés e, assim que ela veio ao meu encontro novamente, puxei o seu sutiã, desfazendo o seu fecho e o tirando, com a sua ajuda.
A ruiva grudou os seus lábios aos meus com volúpia, segurando firme em cada uma das minhas coxas e abrindo intensamente as minhas pernas, se colocando entre elas e esfregando o seu abdômen sobre a minha intimidade.
Gemi contra os seus lábios, arranhando as suas costas nuas com força e puxei os seus cabelos para fora do coque, ouvindo-a emitir um palavrão baixo contra os meus lábios.
— Ainda estou com raiva — Murmuro contra o nosso beijo intenso, segurando firme em seus braços fortes e a pegando de surpresa ao desfazer o seu apoio na cama, invertendo as nossas posições.
Me sentei sobre o seu abdômen, vendo-a me encarar surpresa com uma intensidade no olhar que me fizera estremecer.
— Muita, muita raiva — Sussurrei contra os seus lábios, rebolando devagar contra a sua barriga.
— Meredith... — A ruiva fez menção de subir as suas mãos para me tirar daquela posição e eu rapidamente as segurei contra as minhas, as entrelaçando na cama.
— Abra as suas pernas — Murmurei, mordendo o seu lábio inferior, sentindo-a estremecer, mas obedecer aos meus comandos.
Sorrio, me ajeitando contra ela para que as nossas intimidades se tocassem, sentindo o nosso contato ainda mais facilitado pela minha flexibilidade.
A ruiva fechou os seus olhos com força, jogando a sua cabeça para trás e gemendo roucamente para mim. E eu sorri, sentindo-me... Poderosa por um milésimo de segundo, antes de começar a me movimentar sobre ela.
— Porra! — Addison gemeu baixo e eu fechei os meus olhos, me sentando sobre ela e sentindo-a desfazer o toque das nossas mãos, segurando as minhas nádegas com força e me guiando para me movimentar mais rapidamente sobre si.
— Addie... — Murmurei o seu nome entre gemidos desesperados, conforme, a cada movimento, eu a sentia mais molhada para mim.
Aquilo era... Divino.
Mas, me tirando daquela percepção tão intensa, senti a ruiva segurar firmemente as minhas nádegas e inverter as nossas posições, me jogando na nossa cama com força e se sentando sobre mim, voltando a se movimentar.
Naquele momento, nada mais me importou, nem mesmo a mínima percepção de que, com um pouco de esforço, eu conseguiria fazer Addison se submeter à mim na cama.
Aquele seria um pensamento posterior.
Segurei a sua bunda com firmeza, a arranhando com as minhas unhas e a fazendo ir mais rápido e exatamente da maneira a qual eu adorava.
Os meus gemidos foram se tornando cada vez mais intensos, conforme a ruiva aumentava a sua intensidade e eu sentia aquela sensação em meu ventre crescer cada vez mais, me fazendo estar quase perto.
A ruiva se deitou sobre mim, continuando a se movimentar com força, enquanto mordiscava a minha orelha sem quaisquer tipo de delicadezas.
— Ainda... Com raiva de mim? — Ela sussurrou, enquanto eu arranhava as suas costas com força.
— Muita...— Murmurei entre um gemido manhoso, sentindo-me próxima — Muita raiva... Addie... Mais rápido... Assim... Ah! Addie... Eu vou...
— Goze, meu bem — Ela sussurrou para mim, em um tom de voz quase escasso — Goze para mim.
Apertei os meus olhos com força, enquanto estremecia intensamente sob ela, em um orgasmo tão intenso, que me fizera cravar as minhas unhas com força nas suas costas, enquanto a ruiva gemia contra o meu ouvido, deixando o meu nome sair dos seus lábios em meio a um gemido rouco e longo.
Sem me deixar, sequer, pensar direito, a ruiva afastou as nossas pernas e me invadiu com força com os seus dedos.
— Addison... — Fechei os meus olhos com força, sentindo-a mordiscar os meus seios e continuar me estocando, para, alguns segundo depois, me ter revirando-me em prazer sob o seu corpo, enquanto a sua outra mão fazia o perfeito papel de passear todo o meu corpo sem nenhum tipo de delicadeza — Addie...
Me agarrei às suas costas com força, sentindo uma sensação infinitas vezes mais intensa me tomar e abracei a sua cintura com as minhas pernas, me derramando em um orgasmo violento contra si, sentindo-me molhar com intensidade o nosso lençol.
— De novo — Ela sussurrou ao meu ouvido e, antes que eu pudesse argumentar, os seus lábios desceram pelo meu corpo, chegando até a minha intimidade.
Revirei os meus olhos, fechando as minhas pernas contra a sua cabeça, enquanto me revirava na cama, gemendo tão alto o seu nome que eu sabia que poderia estar sendo ouvida até pelos seguranças lá embaixo, mas nada daquilo me importou.
A sua língua me fizera desmanchar para ela mais duas vezes seguidas, sendo, a última, a mais intensa de todas, onde eu tenho certeza que fiz um belo de um estrago no seu rosto e no nosso lençol.
Addison subiu, me beijando com intensidade, até que eu perdesse rapidamente o meu fôlego e me afastasse, fechando os meus olhos com força para me recuperar.
— Ainda com raiva? — Ela sussurrou, depositando beijos leves sobre o meu pescoço.
— Não sei... Se sou capaz de sentir algo... Agora — Murmuro, com a respiração quase falhando.
Ela riu baixo contra o meu pescoço.
— Quer testar? Posso voltar a ficar entre as suas pernas.
— Quer ficar viúva? — Sussurro, sorrindo entre um bocejo. — Precisamos trocar os lençóis.
— Humrum — Ela murmurou, se deitando sobre mim.
Eu sorri, mesmo que sentisse um pouco do seu peso, eu não seria capaz de me mover dali.
Passei a acariciar levemente as suas costas, sentindo-me tão cansada que apenas percebi que havia cochilado quando acordei, alguns minutos depois, sozinha na cama.
Respirando fundo, enquanto sentia o meu pescoço doer um pouco e as minhas pernas formigarem, me sentei na cama e me espreguicei, prendendo os meus cabelos em um coque mal feito e me levantando de vez.
Tomei um banho demorado, lavei os meus cabelos e hidratei o meu corpo, saindo dele após me sentir completamente renovada.
Sequei os meus cabelos e vesti uma camisola azul marinho, colocando um robe de Addison da mesma cor por cima.
Saí do quarto e desci as escadas, observando tudo calmo demais lá embaixo.
Fui até o escritório de Addison e bati na porta, não ouvindo resposta. O adentrei, vendo-o vazio e sem indícios de que ela havia sequer estado ali anteriormente.
Estranhando, me dirigi até a cozinha, a fim de indagar a Miranda sobre o paradeiro da minha mulher, mas, assim que cheguei na porta, me surpreendi ao ver a ruiva sentada sobre um banco, com Miranda ao seu lado, e mais ainda ao ver Addison segurando o braço da governanta com delicadeza.
— Estou delirando? — Murmuro, entrando na cozinha e vendo a ruiva se assustar, afastando a sua mão de Miranda rapidamente.
— Estava a aguardando para jantar — Addison falou, vindo até mim, depositando um selinho em meus lábios.
— Estou vendo. O que está fazendo na cozinha?
— Apenas tratando de negócios com Miranda, nada mais.
Ela estava mentindo, eu sabia disso, mas resolvi não a indagar sobre.
— Ok. Meu anjo, pode servir o jantar.
Miranda concordou, com um sorriso enigmático nos lábios e eu franzi o cenho, dando de ombros.
Addison me acompanhou até a sala de jantar. Nós comemos em um silêncio confortável e eu estranhei no momento em que ela se levantou, pedindo licença e me informando que iria para o escritório.
Terminei de comer a minha sobremesa e tomei mais uma taça de vinho, agradecendo a Miranda por tudo e subindo as escadas, me sentindo um pouco cansada e um pouco sonolenta.
Eu realmente precisaria de uma boa noite de sono para conseguir dar conta das minhas meninas no dia seguinte.
Abri a porta do meu quarto, o adentrando e tendo um único objetivo em mente: escovar os dentes e ir dormir. Mas, no momento em que observo as luzes principais apagadas e apenas as de descanso acesas e encaro a minha cama, um sorriso confuso se abre em meus lábios.
Duas velas pequenas estavam acesas ali. E Addison estava sentada em uma ponta da cama.
A ruiva caminhou até mim e me estendeu a sua mão, eu ri, confusa.
— O que está aprontando, Addie?
— Venha.
Eu a segui até a cama e ela me parou ao lado da mesma, abrindo o nó do meu robe e o tirando. Addison me virou de costas para si e prendeu os meus cabelos levemente em um coque alto.
— Deite-se de bruços, querida — Ela sussurrou para mim, depositando um beijo terno sobre o meu pescoço.
Franzi o cenho, completamente confusa, mas sorri, o fazendo.
— Não acha que já descontamos a nossa raiva no sexo o bastante hoje? — Murmuro entre uma risada, gemendo baixo ao senti-la sentar sobre as minhas nádegas.
— Não vamos fazer sexo. Feche os seus olhos e... Tente relaxar.
O faço, sem conseguir deixar de sorrir.
Fui completamente surpreendida ao sentir algo gélido sobre as minhas costas e o meu pescoço e sorri, entendendo exatamente o que Addison faria.
Mas já me preparei mentalmente, para fingir gostar daquilo. Eu não queria magoá-la uma segunda vez.
Porém, no momento em que senti os seus dedos, todos juntos, começarem a massagear as minhas costas e o meu pescoço de maneira... Delicada e firme ao mesmo tempo, e nada dolorida, um gemido baixo de satisfação e surpresa escapou dos meus lábios.
— Addie... Oh, céus! Isso... Só não pare, por favor! — Murmurei contra o travesseiro, sentindo-a massagear as minhas costas com mais intensidade, mas com delicadeza e precisão impressionantes.
— Aqui dói? — Ela me indagou, tocando uma parte do meu pescoço e eu assenti devagar, sentindo-a, para a minha surpresa, aliviar aquele ponto de tensão com maestria.
— Meu Deus... Eu não sei o que está acontecendo, mas não pare, por favor!
— Passei os últimos dias aprendendo com Miranda. Estou melhor?
Sorri, erguendo o meu pescoço muito menos dolorido e assenti, recebendo um selinho em meus lábios.
— Agora deite novamente, quero que relaxe e durma, ok?
— Humm, isso não vai ser difícil, meu bem.
— Quem possui a melhor massagem do mundo agora?
Eu ri, depositando outro selinho sobre os seus lábios, me deitando novamente.
— Definitivamente a minha mulher — Sussurrei, gemendo baixo logo em seguida ao senti-la voltar a me massagear — Absolutamente. Obrigada, Addie.
Senti um beijo terno ser depositado nos meus cabelos e sorri, fechando os meus olhos e sendo incapaz de conseguir pensar em qualquer outra coisa que não fosse...
Addison estava na cozinha aprendendo a fazer massagem com a nossa governanta.
Por mim.
Addison se dedicou a aprender algo por mim.
Apenas por mim.
Sorri, mais do que feliz, sentindo-me o ser humano mais completo do mundo.
Estar perdidamente arruinada por amar tanto aquela mulher era, definitivamente, algo que valeria a pena.
Ter o meu coração futuramente quebrado por Addison valeria a pena.
Porque ela era a única pessoa no mundo que havia conquistado o direito de possuir para si não somente o meu coração, mas a minha alma e tudo que houvesse de mais profundo dentro do meu ser.
Eles pertenciam a ela. Como nunca ousaram pertencer a nenhuma outra pessoa, em toda a minha vida.
Eu, inteiramente, pertencia a ela.
Addison me tinha. Por inteiro. Cada mínimo pedacinho existente em mim pertencia a ela. Unicamente a ela.
Por mais doloroso que isso me parecesse ser no futuro, eu não desejaria mais voltar atrás, e, mesmo se desejasse, não haveria como.
Cada parte de mim já era dela, pressinto que, até mesmo, muito antes de verdadeiramente serem dela.
Eu já pertencia a Addison muito antes de realmente pertencer.
E, quanto a isso, não haviam saídas.
...
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