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39- Lar.

beatriz_calds Nem todas as palavras no mundo poderiam expressar o quanto amo você, bibia, portanto, te trouxe as palavras que você tanto ama para tentar cumprir com, pelo menos, metade desse papel.

Feliz aniversário atrasado, meu amor, obrigada por me presentear, todos os dias, com a dádiva que é possuir a sua existência na minha vida. Eu te amo e amo a sua existência com cada célula do meu ser. Aproveite cada palavra escrita aqui, elas foram pensadas em você durante todo o capítulo<3

...

Meus amores, obrigada por tudo, por todo apoio durante esses dias meio tempestivos e todo carinho sempre dado a mim e a essa história!

Espero que sintam todo o amor que emana deste capítulo e que ele possa, de alguma forma, os fazer companhia nesse domingo ou durante a semana.

Obrigada por tudo e sempre, amo vocês sorvete de morango + whisky imensamente!

...

Meredith Montgomery,
Dia seguinte;

...

Abro os meus olhos de maneira abrupta, assim que ouço um choro que automaticamente reconheci e, sentindo as minhas mãos suarem em uma alta demonstração de um nervosismo iminente, olhei para os lados, reconhecendo o ambiente da sala de estar do meu apartamento, onde eu havia vivido por 25 anos, mas que nunca havia se configurado como o meu lar de verdade.

O que estava acontecendo?

- O que significa isso, Meredith?

A minha respiração se tornou descompassada e engasgada no momento em que eu ouvi a sua voz severa, que sempre, até mesmo na minha vida adulta, havia me causado tremores que nenhuma outra seria capaz de causar.

Se havia uma coisa na qual ele possuía especialidade, era em me haver totalmente aterrorizada ao sequer ouvir aquele seu tom de voz tão distante e propositalmente gélido.

E ele sabia disso. Sabia o quanto me causava medo. E sempre fazia questão de usar isso contra mim.

- Papai, me perdoe, por favor, eu...

Ouço a minha própria voz, mais jovem, mais doce, mais inocente e mais desesperada do que nunca soar atrás de mim, e, mesmo contra a minha vontade, me viro, enxergando a Meredith de 16 anos ainda mais baixa, mais ingênua, mais inocente, mil vezes mais fraca e, ainda sim, mil vezes menos machucada.

Uma dor insuportável assolou o meu peito no momento em que eu percebi que aquela Meredith, de frente para mim, mal tinha a ínfima noção de tudo em que ainda teria que passar.

Institivamente caminhei dois passos para trás, amedrontada, assim que ele se aproximou mais da eu mais nova e ela realizou o mesmo ato em que eu, amedrontada, com a respiração quase inexistente de tão ofegante, os olhos derramando lágrimas incessantes, o coração batendo tão forte que eu simplesmente poderia sentir naquele momento.

- Eu a fiz uma pergunta, e eu gosto de ser respondido quando faço perguntas, Meredith Machetti, agora me responda, sua criança infeliz, que porra é essa? - Ele elevou o seu tom de voz para um ainda mais frio e raivoso, porém mais baixo e amedrontador.

- Fale, porra! - Ele gritou. A Meredith de 16 anos estremeceu, e eu também.

Fechei os meus olhos e tampei os meus ouvidos, implorando para sair daquela droga de pesadelo, enquanto sentia o meu coração bater acelerado dentro do peito e todo o meu corpo começar a tremer em uma crise de pânico evidente.

- Papai... - Consegui me ouvir gritar assim que, eu sabia, ele havia me puxado pelos cabelos e acertado um tapa no meu rosto.

Devagar, fui me abaixando até o chão, sentindo a minha pele parecer queimar, em especial a região do meu tórax, enquanto o ouvia esbravejar.

Apertei as minhas mãos ao redor dos meus ouvidos com mais força, sentindo-me á beira da loucura quando ouvi o som de outro tapa e o meu grito em seguida.

- Não... Não... Por favor... Por favor acorde... Acorde... Acorde, Meredith, acorde...

Apertei os meus olhos com força, me forçando a acordar daquele maldito pesadelo. Esperando que alguém me acordasse daquele maldito pesadelo.

- Eu realmente não sei o que eu fiz de tão ruim nessa vida para merecer... Isso!

Senti os meus ouvidos doerem de maneira insuportável enquanto eu os apertava com força, evitando ouvir tudo aquilo outra vez.

- Papai...

- Cale a boca! Eu não quero ouvir a sua voz, Meredith Machetti! Eu não quero ouvir a porra da sua voz! Você sabe o que eu deveria ter feito, hum? Sabe o que eu deveria ter feito no momento em que a sua mãe descobriu que estava grávida de você?

Sinto tudo girar ao meu redor, e a sua voz se tornar cada vez mais alta e audível, mesmo diante do esforço demasiado que eu estava aplicando ao ato de tampar com força os meus ouvidos. E, mesmo de olhos fechados, eu ainda conseguia visualizar a minha imagem de cabelos longos e bagunçados, o rosto vermelho de tanto chorar e pelos tapas, o meu corpo estremecendo, as minhas vistas turvas pela tontura iminente que havia me atingido naquele momento.

Eu lembrava de cada sensação que a Meredith de 16 anos estava sentindo ali, mais do que nunca, porque foi real e não foi a primeira e muito menos a última vez.

- Eu deveria ter abortado você! Eu deveria! Se eu soubesse que você se tornaria essa... Aberração! Eu deveria ter matado você, ainda na barriga da imprestável da sua mãe! Onde está aquela idiota agora?

- Não... Por favor... Para... Acorde, acorde, acorde, por favor...

Aperto os meus olhos com força, implorando para que algo ou alguém me tirasse daquele inferno, me fizesse acordar, me fizesse esquecer, me fizesse apagar aquele inferno todo da memória.

- Meredith!

E, quase como um passe de mágica, a voz de Addison apareceu ao meu subconsciente adormecido.

Senti o meu peito arder, em uma súplica para ser tirada daquele inferno o maiss rápido possível.

- Addie... Por favor... Me tira daqui... - Murmurei, sentindo as minhas lágrimas caírem, mesmo de olhos fechados.

- Por favor...

O mesmo tom de súplica com o qual eu estava implorando para que Addison me retirasse dali, a Meredith mais nova implorava por... Eu realmente não sei. Também por alguém que pudesse a tirar dali naquele momento e a levar para bem longe daquele inferno? Ou talvez por amor? Compreensão? Uma família normal? Ou tudo aquilo em um só combo?

Eu não sabia, eu nunca soube pelo que, exatamente, eu pedia.

Para deixar de existir também, talvez?

Eu nunca havia sido alguém que odiava a vida, ou o fato de estar viva, muito pelo contrário, eu apreciava a vida, sempre apreciei, mas certamente era preferível deixar de vivê-la, à viver naquele inferno.

- Você me envergonha a cada dia mais. Você é o maior arrependimento da minha vida, Meredith. O maior arrependimento de toda a porra da minha existência!

- Pa...

- Cale a boca, sua aberração! Cale a porra da sua boca! - Senti o meu corpo se estremecer de maneira insuportável no momento em que ele me acertou outro tapa.

- Eu deveria ter abortado você. Eu deveria ter feito isso por mim mesmo. Uma aberração. É isso que você é. Uma porra de uma aberração!

- Meredith!

- Addie... Por favor... Me tira daqui... Por favor...

...

Desperto sentindo o meu coração parecer desejar rasgar o meu peito a qualquer momento, enquanto transformava a minha tentativa de respiração em uma quase total falha.

Olho para os lados, assustada, com todas aqueles tons de vozes rondando a minha cabeça de maneira enlouquecedora e sinto o meu peito doer ainda mais ao me ver completamente sozinha não somente na cama, mas no quarto inteiro.

Puxo as minhas pernas ao encontro do meu peito e abraço os meus joelhos, sentindo as lágrimas marejarem os meus olhos, enquanto lutava para respirar.

Outro pesadelo. Em uma mesma noite.

Fecho os meus olhos com força, ainda ouvindo a sua voz com clareza, os sons dos tapas, os meus gritos, a minha voz desesperada...

E, novamente, os meus gritos, e mais gritos, a dor, a sensação de impotência, de perda...

Até quando?

Sinto um soluço escapar da minha garganta e, então outro, e mais outro, até que eu não mais conseguisse os segurar.

Aqueles sonhos eram definitivamente o inferno. O meu inferno.

Ouço a porta se abrir e levanto rapidamente o meu olhar, vendo Addison adentrar o quarto com uma bandeja em mãos, parecendo um pouco desajeitada em a segurar.

- Onde... Onde você estava? - A indago um pouco chateada, tentando manter o meu choro apenas na garganta, mas falhando miseravelmente naquilo.

- Eu... Me desculpe, eu achei que você gostaria de tomar café assim que acordasse e... - Apenas nesse momento ela pareceu focar o seu olhar por completo em mim, pois seu cenho franziu-se e ela depositou a bandeja sobre a mesa do quarto, vindo rapidamente até mim.

- O que aconteceu?

Abaixo o meu olhar, não desejando externalizar aquilo.

Addison pareceu entender, pois apenas suspirou e eu senti os seus braços envolverem a minha cintura e, sem que eu sequer tivesse tempo para calcular a sua ação, ela me puxou para si, apertando o meu corpo contra o seu.

- Estou aqui, ok? Me desculpe, eu não queria a deixar sozinha, apenas achei que...

- Tudo bem - A minha voz saiu completamente abafada por um sussurro que apenas carregava toda a dor insuportável que eu estava sentindo.

A apertei mais firmemente contra mim e fechei os meus olhos, me forçando a esquecer aqueles sonhos, as vozes, os gritos, tudo, absolutamente tudo.

Um soluço escapou dos meus lábios novamente e eu os mordi, não desejando chorar novamente na frente da minha sócia.

- Me desculpe - Ela sussurrou novamente, e eu não sabia, exatamente, pelo que ela estava pedindo desculpas.

E eu não sei se aquilo importava no momento.

Eu profundamente desprezava ser vista de maneira tão vulnerável. Mas, estranhamente, com Addison, eu sentia que possuía licença para aquilo. Pelo menos por enquanto.

- Não me solta, por favor... - Sussurrei novamente, engolindo o meu choro e fechando os meus olhos com mais força, sentindo que o seu abraço era o único, no mundo, o qual poderia me proteger. Daquela forma. Naquela intensidade.

Ali, eu senti que nada no mundo seria capaz de me machucar novamente. E tudo isso por causa dela.

- Não irei, estou aqui, meu anjo.

Senti a tempestade dentro de mim parecer se transformar, aos poucos, em apenas uma chuva fraca e passageira ao ouvi-la me chamar daquela maneira.

Seu anjo.

Eu não sabia, exatamente, o que significava e como era a sensação de obter um lar, um lugar onde, não importa quando e como, eu sempre me sentiria segura. Mas eu estava começando a pensar que, talvez, se lar se parecesse com algo, seria com a sensação que era estar nos braços de Addison.

Nada no mundo poderia me machucar, não ali. Eu sentia isso.

- Estou aqui... Eu... Não sei o que aconteceu, e não estou pedindo para que me conte, apenas quero que saiba que... Nada nesse mundo será capaz de a ferir. Não estando ao meu lado, ok? Isso é uma promessa.

Assinto veementemente, sentindo o poder daquelas palavras, em conjunto com os meus pensamentos anteriores, enquanto uma lágrima solitária caía dos meus olhos.

- Eu... - Engulo em seco aquela frase, fechando os meus olhos novamente - Você é a pessoa em que eu mais confio, Addie. No mundo todo.

- Farei tudo que estiver ao meu alcance e fora dele para honrar com isso. Eu prometo.

Nego com a cabeça, enterrando o meu nariz no seu pescoço e sentindo o seu cheiro me preencher de uma paz inexplicável.

- Só... Não me solte, por favor.

- Vamos deitar, está frio. - Ela sussurrou, assim que o meu corpo estremeceu e ela provavelmente sentiu-me arrepiar.

Eu não havia percebido que tremia de frio até aquele momento.

Addison se deitou e me puxou para si, envolvendo as suas mãos na minha cintura e eu deitei a minha cabeça em seu peito e abracei o seu pescoço e a sua cintura com força. E, assim que me acomodei naquela posição, após ela puxar as cobertas e me cobrir, pude sentir uma sensação de paz inenarrável me tomar ao ouvir as batidas do seu coração.

Aquele era, definitivamente, o som mais bonito que eu já havia ouvido na vida.

As batidas do seu coração eram tão calmas e tão... Diferentes. Percorriam um ritmo tão gostoso que, por um segundo, eu esqueci o porque estávamos naquela posição, e apenas me propus a ouvir aquele som que eu havia acabado de descobrir como o melhor som que eu já havia ouvido na vida.

Fechei os meus olhos, sentindo como se o arco-íris estivesse aparecendo, após uma sucessão de chuvas fortes e destrutivas.

Eu estava bem. Ao lado de Addison, eu estava bem, estava protegida, e tudo aquilo... Não se passava de um inferno há muito tempo enterrado.

Addison continuou me abraçando em silêncio, até que eu pude sentir o meu peito não mais doer agonizando por desejar respirar, de qualquer forma em que fosse.

Por um momento, depois de me acalmar, senti o meu coração começar a bater da maneira de sempre e, por um breve momento, senti um sorriso brotar em meus lábios, assim que percebi que, de certa forma, as batidas do meu coração combinavam com as do seu. Eu não sabia se isso era possível, mas eu não me importava.

Naquele momento e estranhamente, diante de algo tão pequeno, eu me senti conectada, e até mesmo pertencente áquela mulher. Mesmo sabendo que eu não poderia.

E, sem sequer perceber, os meus olhos se fecharam em um sono iminente, no qual eu consegui permanecer por muito tempo, e sem qualquer tipo de pesadelos.

Porque eu estava bem. Estava protegida. Estava segura. Estava no meu lugar seguro.

Assim que os meus olhos se abriram novamente, eu pude sentir os dedos da ruiva acariciarem os meus cabelos de maneira tão terna, que me fizera desejar esquecer que nada a mais nos unia além de um contrato, e implorar para permanecer ali para sempre.

Eu nunca imaginei que o carinho de Addison Montgomery poderia ser tão... Bom. Tão acolhedor.

Soltei um suspiro, sentindo o seu calor tão bem-vindo me trazer uma sensação tão incrivelmente boa.

Será que realmente a sensação de lar se parecia com aquela? Porque se sim... Bem, talvez eu houvesse encontrado um. O mais inusitado o possível.

- Está acordada? - Ela sussurrou em um fio de voz e eu assenti, suspirando novamente. - Você precisa se alimentar, quase não comeu ontem no jantar.

- Eu estou...

- Meredith, por favor. - A sua voz saiu como uma súplica cansada, e eu não pude a responder de outra forma que não fosse por meio de um suspiro, seguido de um aceno de cabeça, a observando se afastar devagar.

- As panquecas já devem estar frias, vou pedir para Miranda as esquentar e já volto.

- Addison, não precisa.

- Não irei demorar, eu prometo - Ela falou se aproximando e, para a minha surpresa, depositando um beijo terno na minha bochecha.

A vi pegar a bandeja um pouco desajeitada e sorri, a vendo sair do quarto.

Suspirando, me levantei e fui até o banheiro.

Fiz as minhas higienes e vesti um robe de Addison por cima da minha camisola, prendendo os meus cabelos em um coque bagunçado e, evitando pensar em tudo aquilo, peguei o meu celular, me sentando na cama e passei a checar as minhas redes sociais, lendo alguns comentários em fotos minhas que me tiraram sorrisos sinceros.

As pessoas me achavam realmente atraente. Isso era algo de outro mundo para mim.

Assim que ouvi a porta se abrir, ergui o meu olhar, observando a ruiva adentrar o quarto novamente com a bandeja em mãos.

- Addison... Você não precisava me trazer café. Eu poderia comer lá em baixo.

- Bem... - Ela limpou a sua garganta, dando de ombros e se dirigindo até mim, depositando a bandeja à minha frente. - Achei que poderia acordar com fome. Miranda fez as suas panquecas e, sob um pedido meu, colocou uma porção extra de morangos e chocolate. Seu suco de laranja, sem açucar e bem gelado, como gosta, a coisa nojenta que você chama de vitamina de morango e a sua mistura estranha de uvas, morangos e framboesas que você come pela manhã. Tenho a sensação de que esqueci de algo, mas Miranda me garantiu que não, eu não havia esquecido.

Sinto uma sensação estranha, mas bem-vinda me tomar ao ouvir tudo aquilo, e, ainda mais, em observar a bandeja tão bem feita especialmente _para mim_. E não, ela não havia esquecido nada, eram as coisas que eu sempre comia pela manhã, dispostas ali. E, por mais que um lado de mim desejasse me fazer acreditar que fora Miranda a responsável por lembrar de tudo aquilo, o meu outro lado, um pouco mais emocional, gritava o fato de que Addison sabia exatamente o que eu comia pela manhã. Em cada mínimo detalhe.

- Obrigada - Sussurro para ela, levando a minha mão de encontro a sua em cima da cama, a tocando e sentindo-a estranhamente quente, e, enfim encaro o verde, agora mais claro, dos seus olhos, sem conseguir deixar de a lançar um sorriso que demonstrava toda chuva de sentimentos que me pairavam naquele momento.

Addison Montgomery havia me levado café na cama. Addison Montgomery havia me feito dormir em seus braços por uma noite e manhã inteiras, havia cuidado de mim, me tranquilizado, levado os meus medos para fora e me prometido estar aqui.

Addison Montgomery, a minha apenas suposta sócia, havia se tornado o lugar mais seguro no mundo para mim.

Eu estava sonhando?

A ruiva me lançou um olhar calmo e entrelaçou as nossas mãos por um momento, acariciando o dorso da minha mão brevemente.

- Acho melhor que coma logo, caso contrário as panquecas irão esfriar novamente.

- Você não vai comer? Que horas são? - A indago, afastando a minha mão da sua vagarosamente, não desejando o fazer, mas eu ainda precisava comer.

- Dez horas. Eu tomei um pouco de café, não estou com fome. E nem por um milhão de dólares eu comeria todas essas... Coisas. - Ela encarou a minha bandeja com desdém, me fazendo rir fraco.

- Você não deveria estar na empresa? Está atrasada, sabe disso, não sabe? - A indago, cortando um bom pedaço das minhas panquecas e enfiando na boca, sem utilizar de muita classe ou educação. Afinal, eu estava apenas na presença de Addison, e subitamente uma fome inesperada me surgiu.

- Na verdade... Eu não havia nada de muito importante na empresa hoje, que não pudesse ser resolvido em casa. - Ela murmurou sem me encarar.

Me surpreendo, elevando o meu olhar para si, não conseguindo engolir as panquecas na minha boca.

- Você? Não irá trabalhar? Em um dia de sábado? - A indago perplexa, ainda com a boca cheia.

Addison sorriu, e eu senti o meu coração parar por um segundo ao ver os seus olhos se tornarem mais claros e um pequeno indício de uma covinha ao lado da sua boca aparecer, pela intensidade um pouco maior do seu sorriso. Eu ainda não conseguia ver os seus dentes através dele, mas havia uma covinha. Addison possuía uma covinha.

Senti-me paralisada com aquilo.

A ruiva negou com a cabeça e ergueu um guardanapo de pano, limpando o meu queixo e o canto dos meus lábios, enquanto eu apenas era capaz de encarar os seus lábios tão bem desenhados em um sorriso tão... Puro e acolhedor.

Poderia eu me apaixonar por um sorriso?

Apenas um sorriso?

Porque, se sim, eu estava.

Naquele momento, se eu possuísse apenas um desejo, desejaria ver aquele mesmo sorriso todas as manhãs, para o resto da minha vida.

- Não, senhora Boca Gosmenta de Chocolate. Não há nada de importante hoje, que não possa ser resolvido em casa.

Sinto a massa gosmenta na minha boca se tornar quase líquida e a engulo com dificuldade, sorrindo envergonhada, sentindo as minhas bochechas esquentarem.

- Desculpa... - Murmuro desviando o meu olhar, completamente envergonhada - É que eu estava com tanta fome que...

Senti a sua mão tocar o meu queixo e a encarei, como ela desejava, vendo o seu rosto novamente tomar a expressão neutra de sempre.

- Nunca me peça desculpas por ser você. Eu a garanto que eu apreciei muito mais a ver falar de boca cheia e suja, do que você em comer essa coisa nojenta.

Rio, revirando os meus olhos.

- Eu bem que poderia a fazer provar essa coisa nojenta.

- Nem por cima do meu cadáver. Na verdade, eu prefiro morrer. Agora. Nesse exato momento. À provar essa... Massa estranha, melada, nojenta e extremamente doce.

- Rainha do drama, senhoras e senhores: a minha esposa!

Ela revirou os olhos, prendendo os seus cabelos em um coque bagunçado.

- Posso a beijar com a minha boca nojenta de chocolate?

- Nem morta.

Rio, fazendo cara de falso espanto.

- Então quer dizer que... Se eu estivesse morrendo com a boca cheia de chocolate e massa de panqueca, e precisasse de um beijo seu para me salvar, você me deixaria morrer? - A indago perplexa.

Ela suspirou, desviando o seu olhar.

- Você é tão... De outro mundo, que eu não consigo imaginar qualquer outro ser humano normal no mundo morrendo com a boca cheia de chocolate, mas para você isso me parece algo tão não absurdo, na verdade, eu consigo imaginar tão bem, que se torna quase tangível.

- Ei! - Alcancei um travesseiro, jogando nela com força - Mais respeito, por favor!

- Isso... - Ela falou segurando o travesseiro antes de a atingir em uma rapidez invejável. - É violência doméstica, contra uma juíza! Você é realmente corajosa, ou já perdeu o amor à vida há muito tempo!

- Acho que você ainda não entendeu, meretíssima - Sussurro me esticando até ela enquanto, discretamente, o meu indicador alcançou o recheio das minhas panquecas. - Eu não tenho medo de você - Murmuro contra os seus lábios, a observando desviar o seu olhar para a minha boca e, dessa forma, aproveito o momento para erguer o meu dedo melado de chocolate, o pincelando em seus lábios.

- Mas que porr... - Ela passou a língua pelos lábios e fez uma careta tão fofa, que eu senti uma estranha vontade de apertar as suas bochechas.

O que era estranho, afinal, quem diria que Addison Montgomery seria capaz de inspirar qualquer tipo de... Sentimento além de medo e temor? Bem, eu diria... E como diria, porque há muito tempo eu desconhecia aqueles sentimentos quando tudo se tratava dela.

- Eu não acredito que fez isso, Meredith! - Ela murmurou irritada, pegando o guardanapo e limpando a sua boca veementemente.

- Pare de ser chata! Você sequer experimentou! - Murmuro em um tom de voz mais fino e manhoso, fazendo um bico.

- Eu odeio você, Meredith Montgomery!

Faço outro bico, fazendo questão de a oferecer a minha melhor feição decepcionada.

- De verdade? - Murmuro, também fazendo questão de a oferecer olhos tristes e marejados.

Ela suspirou, revirando os olhos.

- Mas que porra! Isso não é justo! Você me faz provar a pior coisa do mundo e ainda se acha no direito de ficar chateada? - Ela murmurou desviando o seu olhar, parecendo incomodada.

- Tudo bem... - Murmuro abaixando o meu olhar, segurando veementemente a minha risada.

- Isso é inacreditável. Você é inacreditável Meredith Machetti Grey!

- Então você me odeia tanto que já até me chama pelo nome de solteira? E olhe que eu achei que apenas veria a senhorita Altman daqui a três anos.

- A rainha do drama, senhoras e senhores: minha mulher. - Ela repetiu a minha expressão.

Sorrio, revirando os meus olhos.

- Quando foi que ficamos tão idiotas? - A indago genuinamente, acabando com a minha farsa.

- Você acabou de me chamar de idiota? - Ela me indagou, elevando as suas sobrancelhas.

- Oh, supere, por favor! Acredito que apenas nós duas temos o poder de ficar em uma discussão assim para sempre.

- Bem, eu não sei, isso é algo que um idiota faria? Porque se sim, lá estou eu. - Ela murmurou em um tom de voz amargo e zangado, típico seu.

Rio, me aproximando de si e deixando um selinho demorado em seus lábios e, assim que afastei os meus lábios dos seus, toquei o seu rosto, o acariciando, enquanto a observava me encarar de maneira mais intensa.

A ruiva tocou o meu rosto delicadamente, e eu sorri, assim que senti o seu polegar acariciar o contorno da minha boca.

- Sabe... Dentre todos os idiotas no mundo. Todos eles... Você é a mais legal. - Sussurro contra os seus lábios.

- Oh, que gentil da sua parte! Ficarei dias sem dormir pensando no quão incrível eu sou por ser uma idiota legal, apenas aos seus olhos.

- Bem... O resto do mundo não importa - murmuro dando de ombros.

- Sou pelo menos a sua idiota favorita? - Ela me indagou, me encarando com um olhar mortal, enquanto erguia as suas sobrancelhas.

Mordi o meu lábio inferior, encarando o teto por alguns segundos, fingindo pensar, para apenas a deixar ainda mais zangada, pois ela possuía o dom de ficar ainda mais fofa daquele jeito.

- Bem... Você pode estar entre eles, que tal?

Ela revirou os olhos, bufando, e se afastou de mim.

- Não, obrigada.

Eu ri, colocando mais um grande pedaço da minha panqueca na boca.

- Vou tomar um banho. A sua mãe ligou e nos convidou para almoçar com ela, disse que não aceitava um não como resposta, então você deveria ir se arrumar.

Sorrio, assentindo, enquanto comia o meu último pedaço de panqueca, fechando os meus olhos para apreciar a melhor combinação do mundo: morangos com chocolate.

Um pedaço de morango com chocolate acabou caindo dos meus lábios cheios e eu ri sozinha, o pegando e colocando na boca novamente, sorrindo para mim mesma diante de tamanha felicidade em estar comendo aquilo logo pela manhã.

Abro os meus olhos e me deparo com o olhar de Addison queimando sobre mim e, franzo o meu cenho mediante à sua feição. Ela parecia me analisar intensamente.

- Estou suja de novo? - A indago preocupada, limpando os cantos dos meus lábios e o meu queixo.

Ela pareceu não ter me ouvido, pois demorou um pouco a me responder.

- Não, não está.

- Ah, ok. Aconteceu alguma coisa? - Pergunto um pouco insegura, ao observar a feição séria e um pouco desligada em seu rosto.

- Você sabe que... Eu estou aqui por você, não sabe? Digo... De maneira efetiva. Não apenas no sentido imaginário, mas físico. Você sabe disso? Quero dizer... Você tem noção de que todas as minhas promessas não foram vazias e feitas de maneira impensada, não tem? Porque se não...

Sinto o meu coração errar a batida por um momento, e, novamente, engulo o conteúdo na minha boca com dificuldade, enquanto sentia aquela sensação estranha e conhecida, quase como um deja-vù, em meu estômago. Uma sensação incômoda e boa. Extremamente boa.

Parecida e ao mesmo tempo tão nova e tão mais intensa ao que eu acho já ter sentido antes, apenas não sei o quê. Ou por quem. Ou apenas não quero lembrar, porque é algo tão... Específico, que sei, apenas sei, que lembrar de onde eu a conhecia não seria uma coisa boa.

- Sim. Eu sei. - A respondo sorrindo.

Ela assentiu e se virou, mas eu a chamei a atenção novamente:

- Addison?

Ela se virou novamente para mim.

- Eu... - Sinto o meu coração parecer desejar parar de tamanha aceleração quando os meus pensamentos se embaraçaram no que eu iria dizer a seguir. Engoli em seco, sentindo-me estremecer por dentro, ao mesmo tempo em que aquela frase idiota fora embora tão rápido o quanto chegou, sem sequer me dar tempo de pensar nela direito, ou a digerir direito, ou surtar por ela direito - Obrigada. - Foi o que acabou saindo, ao invés do turbilhão de sentimentos causados por ela que habitavam em mim.

Aquela foi a única palavra coerente que eu encontrei, para substituir aquela frase proíbida, em meio à bagunça feita por Addison Montgomery dentro de mim.

- Sempre - Ela sussurrou de volta, me lançando um olhar doce e se virou novamente, caminhando até o banheiro.

Respirei fundo, ao vê-la desaparecer na porta em que dava para o closet e fechei os meus olhos, me obrigando a limpar a minha cabeça e me acalmar de todas aquelas sensações ainda inanimadas.

Eu precisava arrumar a bagunça que havia se instalado em mim desde o dia anterior. E precisava fazer isso logo.

Tentando afastar todas aquelas sensações confusas de mim, voltei ao meu café, mas, no mesmo momento, senti o meu peito se aquecer novamente ao observar a bandeja posta à minha frente.

Addison havia me levado café na cama. Por si só. Sem ter tercerizado o serviço para uma funcionária.

Ela foi até a cozinha, pediu tudo que sabia que eu gostava e subiu, sozinha, com a bandeja.

Addison Forbes Montgomery, a minha suposta "esposa de mentirinha", a juíza mais temida da América pela sua fama de frieza, perversidade e falta de empatia.

Essa mesma juíza havia me trazido café na cama, havia me tomado em seus braços durante uma crise de choro, havia me acalmado e... Céus!

Onde viemos parar? Onde eu vim parar? Onde eu estou, exatamente, nesse casamento?

O que está acontecendo comigo?

O que Addison está fazendo comigo?

"Você está apaixonada por Addison Montgomery!"

A voz de Cristina ecoou a minha mente e eu senti o meu coração parar por um segundo e, então, voltar a pulsar de maneira enérgica dentro do meu peito, como se confirmasse tudo aquilo.

Não.

Era óbvio que não.

Isso não é possível!

Eu não estou...

Estou?

Não.

É óbvio que não!

Eu não seria burra a esse nível!

Certo?

Mas... Talvez...

Certo!

Nós não estamos... Tendo sentimentos... Proíbidos pela nossa sócia, certo, Meredith?

Mas...

Não! É óbvio que não!

Absolutamente não!

- Não irei me martirizar com isso - Murmuro para mim mesma, começando a tomar a minnha vitamina, enquanto ouvia o barulho do chuveiro.

Assim que terminei de comer, Addison ainda estava no banho, portanto, fui até o nosso closet escolher as nossas roupas para o almoço.

Para mim, escolhi uma calça de tecido branca, que caía de maneira justa em meu corpo, o valorizando um pouco mais. Para a parte de cima, uma camisa de seda cor terra, que fazia muito tempo desde que eu havia a usado. Nos pés, uma sandália de salto grosso da mesma cor da camisa, e um casaco preto devido o dia frio que fazia lá fora.

Para Addison, escolhi uma calça de alfaiataria casual cinza, que eu nunca havia a visto usar, uma camisa social azul marinho e, para os pés, o par de mocassins pretos que eu havia realmente gostado de a ver usando.

Assim que me propus ir até o banheiro para lavar o meu rosto e fazer a minhs skincare matinal, ouvi o celular de Addison tocar no centro do quarto e fui até lá, o visualizando em cima da sua mesa de cabeceira. O nome April Kepner estava estampado na tela, o que automaticamente me fez sorrir e revirar os olhos, um pouco entedidada.

Addison não possuía paz nem mesmo quando não havia muita demanda.

Peguei o seu celular e andei rapidamente até o banheiro, observando a ruiva lavar os seus cabelos debaixo do chuveiro.

- Addison, seu celular! É Kepner.

- Deixe tocar.

- Mas... E se for algo importante?

A ouvi suspirar.

- Atenda e diga que estou no banho, mande ela resolver o que quer que seja sozinha.

- Ok. Alô? Oi, April! Como vai?

- Senhora Montgomery! Que... Surpresa!

- Está tudo bem? Addison está no banho, me descupe a decepção - Falo sorrindo.

- Ah, imagina, senhora! É sempre bom conversar com a senhora. Bem...

- Algo aconteceu? Você pode me dizer e eu passo para Addison.

- Nada de muito... Grave. Apenas gostaria de a avisar que consegui remarcar a reunião com a filial francesa para segunda, ás nove. E que... Bem, os acionistas ficarão na cidade até lá, eles não ficaram muito felizes, eu nunca ouvi tantos xingamentos em francês o quanto ouvi nesta manhã, mas já está tudo bem, eu consegui salvar o dia! Então se a senhora puder dizer isso para ela, inclusive a parte final, eu agradeço!

- Ann... E essa reunião estava prevista para que dia mesmo, Kepner?

- Hoje, senhora! Agora pela manhã!

- Tem certeza? Addison... Sabe disso? - A indago preocupada, afinal, parecia ser algo importante. E Addison havia me garantido que não possuía nada de importante marcado agora pela manhã.

- Bem... Considerando que ela me mandou mensagem há uma hora atrás me pedindo para cancelar... Sim, ela sabe.

Cancelar? Por que?

- Ah, ok, querida! Obrigada por ter avisado, irei passar o recado para Addison.

Me despedi de Kepner, sentindo-me mais confusa do que nunca.

Addison havia cancelado uma reunião tão importante, em cima da hora e ainda me dito que não havia nada de importante no seu dia... Por quê?

Será que...

Não, óbvio que não.

- O que ela queria? - Me estremeci em susto assim que senti a ruiva me abraçar por trás e cheirar intensamente o meu pescoço. Fechei os meus olhos por um segundo, apreciando o seu cheiro fresco delicioso pós banho.

- Avisar que conseguiu remarcar a sua reunião para segunda.

- Ok.

Me virei para ela, a devolvendo o seu celular.

- Addison?

- Sim? - Ela me indagou, mexendo no aparelho.

- Por que você não foi trabalhar hoje?

Ela me encarou, parecendo confusa.

- Eu já disse, não havia nada de importante na empresa.

- Essa reunião me pareceu importante.

- Ela é, mas eu preciso de Amélia comigo para a reger de maneira mais efetiva. - Ela falou caminhando até o closet.

- Amélia estará aqui segunda? - Pergunto, a seguindo até o closet.

- Terça.

- Não entendi como você poderá a ter consigo se...

Ela se virou, me encarando.

- Qual o problema, Meredith? - Ela me indagou elevando as suas sobrancelhas, claramente percebendo o quanto eu estava interessada em algo tão aleatório como uma simples reunião.

- Nada - Falo, dando de ombros - Não é nada.

- Tem certeza?

Assinto.

- Separei a sua roupa. Vou tomar um banho.

- Estarei no escritório, quando você terminar me encontre lá.

Assenti, a dando as costas e caminhando até o banheiro. Soltei os meus cabelos e suspirei, tirando a minha roupa e adentrando o box, mudando a temperatura da água.

Por um milésimo de segundo, havia passado pela minha cabeça que talvez Addison houvesse cancelado aquela reunião por tudo em que havia acontecido na madrugada. Por não desejar me deixar sozinha.

Mas, é claro, eu estava errada.

E era realmente patético que eu houvesse cogitado, por pelo menos alguns segundos, que Addison faria aquilo por mim.

Nós poderíamos até ser amigas, Addison pode ter feito todas aquelas promessas, mas deixar de trabalhar por causa de mim? Não, isso não.

Isso era absurdo até mesmo para a nossa relação.

Fechei os meus olhos com força, me colocando debaixo do chuveiro e resolvendo esquecer tudo aquilo, ignorando veementemente a decepção que assolava o meu peito.

A cada dia em que se passava eu parecia possuir ainda mais ilusões em relação a Addison. E isso era mais dolorido do que eu poderia entender, afinal, por que?

Nós somos apenas amigas, certo?

...

Addison Montgomery,
Mesma hora;

Ouço o meu celular tocar e, assim que observo o nome de Amélia na tela, termino de vestir o meu sutiã e o pego, atendendo a ligação.

- Oi, Amy, aconteceu alguma coisa? - A indago curiosa, tendo em vista o horário já ultrapassado da madrugada no Japão.

- Aconteceu alguma coisa? Está realmente me perguntando isso? Addison, você sabe que horas são aqui? Uma da manhã. Você sabe que horas eu acordei hoje? Ás seis! Eu estava dormindo. Em paz. Até a porra do Théo me ligar e começar a gritar no meu pé do ouvido com aquele sotaque lindo, mas irritante, no meio da madrugada, puto com a porra da sua cara por você ter cancelado a porra da reunião para a efetivação dos protótipos... Então me diga você, que porra aconteceu? Porque eu juro que eu quase, eu disse quase, mandei aquele francês metido à merd...

- Amélia, cale-se! Essa sua gritaria está me dando dor de cabeça! - Sibilo irritada - Eu apenas achei que a reunião deveria ser realizada com você ao meu lado. Por isso remarquei para segunda. Trate de estar acordada lá.

- Me poupe, Addison! Desde quando você precisa de mim para algo? Você é a porra da CEO, você resolve essa porra toda! Porra, eu estou tão estressada! Eu estava sonhando com unicórnios e cavalinhos correndo em um campo, e agora estou com frio, estressada e sem sono! Vai se foder!

- Pare de gritar na porra do meu ouvido! Se eu decidi que você fará parte dessa reunião, você fará parte dessa reunião! Como você mesma disse, eu sou a porra da sua chefe!

- Addison, eu sou sua irmã. Mais velha. Eu convivi por trinta anos do seu lado. Acha que eu não sei quando a minha irmã está mentindo? Addie, me diz, o que está acontecendo? Antes que eu realmente caia nesse papo e sinta uma real vontade de estrangular você!

Suspiro, ouvindo o som do chuveiro e saio do closet, evitando ser ouvida por Meredith.

- Meredith não está muito bem, ok? Eu... Não poderia simplesmente ir para a empresa e a deixar sozinha. E eu realmente quero você ao meu lado nessa reunião. Então apenas fiz o que era mais sensato: remarquei.

- O que aconteceu?

- Problemas... Dela.

- Tudo bem. Obrigada por ter sido sincera comigo. Não quero mais te estrangular, ok, maninha?

- Acho bom, porque você sabe que entre nós duas em uma briga, eu não sairei perdendo.

- Oh, e estamos de volta para o estrangulamento novamente! É incrível como você simplesmente tem o dom de me irritar!

- Vá dormir, sua coisa irritante! E mande Théo se foder da próxima vez que ele a ligar para reclamar sobre mim.

- Irei pegar esse conselho. Boa noite, mana. Não amo você, pelo menos não no momento.

- Ok, Amélia. - Murmuro revirando os meus olhos e desligo a ligação, voltando até o closet.

Vesti a roupa escolhida por Meredith e me encarei na frente do espelho, usando aqueles sapatos que nunca haviam me agradado tanto, e ainda não me agradavam. Tudo bem, eles eram realmente mais confortáveis do que saltos altos e, com as roupas certas, até que não ficavam tão ruins assim, mas, ainda sim, eu preferia os saltos.

Porém, por mais que não me agradassem tanto, com aquela roupa, eles não pareciam tão ruins assim. E se Mereidth havia os escolhido... Bem, então assim seria.

Dispensando a maquiagem, sequei os meus cabelos rapidamente no banheiro, observando Meredith lavar os seus cabelos parecendo concentrada.

Parei, por um segundo, para a observar de lado para mim, com a cabeça completamente debaixo do chuveiro e os olhos fechados.

E, inusualmente, naquele momento, não fora o seu corpo que me chamara a atenção, não de uma maneira sexual.

E sim o quanto ela parecia... Pura.

O que rapidamente me levou a uma pergunta sem resposta: por que uma pessoa tão... Celestial como Meredith me parecia ter sofrido tanto?

Não deveria ser o contrário? Todas as coisas ruins que a aconteceram não deveriam acontecer a... Sei lá, eu mesma?

Alguém que realmente merecesse.

Por que Meredith?

Eu não fazia ideia de uma resposta coerente para aquela pergunta, mas não pude deixar de me permitir observar a pureza que exalava de cada poro existente em seu corpo. Desde os seus cabelos, agora maiores, que eu tanto admirava, até a ponta dos seus pés.

Os seus movimentos eram suaves, a sua respiração calma, o seu rosto de perfil que, para mim, era simplesmente uma das obras de arte mais bonitas existentes no mundo.

Meredith era arte.

Pura e bela demais para ser real e palpável.

Mas era.

E não apenas qualquer palpável. Era, coincidentemente, a mulher a qual eu havia escolhido para fazer parte da maior loucura que eu já havia inventado em toda a minha vida.

Mas agora... Já não me parecia uma loucura tão grande assim.

E se era uma loucura... Bem, eu já não me importava mais tanto assim.

- Addie? Tudo bem? - A loira me indagou e, apenas naquele momento, eu a percebi virada para mim, com o rosto inteiramente molhado e os cabelos enxarcados de bolhas de shampoo.

E, ainda sim, ela conseguia ser a mulher mais bonita que eu já tive o prazer de conhecer na vida.

Meredith não era bonita por ser loira, possuir um corpo desejável e um rosto o qual milhares de mulheres no mundo fariam coisas inimagináveis para ter.

Não. A beleza de Meredith não se limitava a coisas tão superficiais assim.

A sua existência, pura e simples, era bela.

A sua alma, se essa coisa realmente existe, é bela, por natureza.

É isso que a faz ser diferente de qualquer outra.

- Sim... Sim, tudo bem - Respondo desviando o meu olhar, puxando a minha franja já seca para trás e desligando o secador, um pouco nervosa por ter sido flagrada por ela em meio a tantos pensamentos divagantes, afinal, eu sequer deveria estar a encarando daquela maneira, com aquele olhar. - Estou indo para o escritório.

Sem me deixar ouvir uma resposta sua, saí rapidamente do banheiro e, após escolher o blazer que fazia conjunto com a minha calça e pegar apenas o meu celular e a minha carteira, saio do meu quarto logo em seguida.

Me sentando diante da minha cadeira, abri o meu notebook e liguei os meus monitores, resolvendo mergulhar a minha cabeça em um pouco de trabalho para evitar pensar em todo o ocorrido dessa madrugada e da manhã, caso contrário, eu sentia que enlouqueceria por possuir tantas perguntas sem resposta.

Mas, como se fosse um pequeno estalo na minha mente, a imagem daquele pendrive pulsou o meu consciente como se houvesse se materializado à minha frente. Encarei o outro lado da minha mesa, que possuía, além de inúmeras pastas empilhadas, a bolsa que eu usava há alguns dias atrás.

Suspirando, fui até ela e abri o bolso em questão, avistando o objeto preto com o meu sobrenome gravado nele em letras douradas.

Empurrei a minha cadeira novamente até o centro da minha mesa e, com um suspiro longo, o inseri no MacBook, sentindo o meu peito acelerar no momento em que o aparelho reconheceu o pendrive.

"Meredith Montgomery, conectado."

Cliquei no botão para abrir os arquivos e, assim que os meus olhos as pastas contidas naquele dispositivo, o meu coração estranhamente acelerou de maneira nada boa.

"Origens". "Relacionamentos". "Família". "Dados pessoais". "Dados bancários". E, por fim: "Confidencial".

Eu, enfim, desvendaria o meu enigma mais difícil? Eu, enfim, saberia o que aquela loira escondia a tanto vigor e com tanto empenho?

Não parecia real.

Sentindo, subitamente, a minha mão direita estremecer, movi o mousepad até a pasta "Relacionamentos", mas, assim que me propus a realizar o ato de clicar nela, senti o meu coração parecer ser esmagado dentro do peito.

"Você é a pessoa em que eu mais confio, Addie. No mundo todo."

Como se, de repente, o meu computador houvesse me enviado uma alta carga de eletricidade ao meu corpo, a minha mão se afastou bruscamente dele.

Porra!

Mas que porra!

Que porra eu estava fazendo?

Eu estava mesmo espionando, da pior forma possível, a pessoa que, mais cedo, me disse explícitamente que eu era a pessoa que ela mais confiava no mundo?

Que porra, Addison Montgomery! Que porra!

Aquilo não era justo. Não com Meredith. Não com a nossa relação, seja lá o que ela for. A... Amizade que temos.

Isso não era justo.

Puxei os meus cabelos para trás com força e, me aproximando do computador novamente, fiz algo que nunca pensei, desde que solicitei aqueles dados, que eu seria capaz de fazer.

Selecionei todas as pastas e, sem titubear, apertei o "deletar", as apagando completamente do pendrive.

Encostei a minha cabeça no encosto da minha cadeira e fechei os meus olhos, respirando fundo e tentando entender aquela minha ação, e o que ela significava. Afinal, eu estava mais do que curiosa para saber o que Meredith tanto escondia.

Porém, depois dessa madrugada e manhã infelizes, eu pude ter a noção de que, o que quer que seja, é sério demais para que eu a traia dessa maneira.

Eu queria ouvir dela. O que quer que fosse. Eu queria conquistar a sua confiança o bastante para que ela desejasse me contar.

Afinal, eu sequer posso imaginar o quanto Meredith me odiaria se soubesse que eu a traí dessa maneira. Que invadi a sua vida e o seu passado de maneira tão... Desrespeitosa.

Portanto, resolvendo parar de pensar um pouco naquele assunto, após uma madrugada inteira em claro me martirizando com aquilo tudo.

Fechei o meu MacBook e voltei ao meu computador, me concentrando em ler as papeladas do meu atual caso no tribunal, até o momento em que Meredith adentrou o meu escritório, após bater na porta, vestindo uma calça de alfaiataria branca, uma camisa social marrom e saltos da mesma cor, carregando um casaco também marrom nos braços, e uma bolsa branca.

- Estou pronta - Ela falou rodeando a minha mesa e se encostando ao meu lado. - Tudo bem por aí?

- Sim, apenas papeladas do tribunal. Vamos?

Ela assentiu e eu desliguei o computador, levantando e pegando apenas o meu celular e a minha carteira.

- Pode por na sua bolsa para mim? - A entreguei ambos e ela os pegou, o fazendo.

Nós saímos do escritório juntas e, assim que Meredith fizera menção de colocar o seu casaco na porta de casa, eu estendi a minha mão, o pedindo.

Ela sorriu, o estendendo para mim e eu a ajudei a o colocar, arrumando a sua gola.

- Não sei se confio muito em você para realizar essa tarefa - Ela murmurou enquanto eu o fazia.

- Posso saber o porquê? - A indago curiosa.

- Porque você é a pior pessoa do mundo para arrumar golas de roupas, as suas vivem tortas!

- Você que as vê de forma torta! - Me defendo, revirando os meus olhos.

- Claro... Você está certa, querida. Agora vamos, hum? - Ela falou em um tom de voz irônico e eu revirei novamente os meus olhos, entrelaçando a minha mão com a sua e abrindo a porta.

Um vento frio invadiu o meu rosto de maneira violenta e eu observei Meredith fechar o seu casaco, a fim de proteger o seu corpo.

Afastei a minha mão da sua e envolvi a sua cintura com o meu braço, a sentindo fazer o mesmo e encostar a sua cabeça no meu ombro, protegendo o seu rosto contra o vento.

Alex me entregou as chaves do carro e cumprimentou Meredith e a mim, abrindo a porta para a loira.

Adentrei o carro rapidamente e liguei o aquecedor, dando partida logo assim que Alex o fez no carro à frente.

Ouvi o som do toque do meu celular dentro da bolsa de Meredith e respirei fundo, vendo-a o pegar e encarar a tela.

- Senhora Karev? É a mãe do Alex?

Assinto, sentindo o meu peito se apertar no mesmo momento.

Haveria acontecido algo com Luke?

- Atenda para mim e coloque no apoio do carro, por favor - A peço, fazendo a curva para sair do condomínio.

Meredith o fez.

- Olá, senhora Karev. - Falo assim que Meredith atende, sentindo o meu peito pulsar mais forte em uma ansiedade insuportável.

- Tia Addie?

Um alívio inexplicável percorreu todo o meu corpo assim que eu ouvi a voz de Luke, que parecia animada.

- Oi, pequeno! Aconteceu alguma coisa? - O indago, sentindo a mão de Meredith pousar na minha coxa e a acariciar devagar, enquanto eu a sentia me encarar intensamente, sem sequer a precisar olhar para saber disso.

- Eu tô bem, tia Addie, não se preocupa. Só queria ligar para saber se a senhora já escolheu o presente do papai.

Suspiro, puxando os meus cabelos para trás, lembrando-me, apenas naquele momento, de que o aniversário de Alex seria daqui a uma semana.

- Não, Luke, não faço a mínima ideia do que irei dar ao seu pai esse ano.

- Sorte a sua, porque eu já sei o que a senhora pode dar!

- Já disse que não irei dar um centavo do meu dinheiro para o seu time de perdedores.

- Deixa de ser chata! Não tô falando de uma camisa dos Mets, eu já conheço a senhora o bastante para saber que o seu ego não iria deixar a senhora fazer isso.

Meredith riu baixinho e eu revirei os meus olhos.

- Pois diga logo, Luke Karev, e pare de me insultar!

- Uma moto nova! A do papai já está caindo aos pedaços, todos os dias ele reclama daquela lata velha. Então, o que a senhora acha? É caro demais?

- Claro que não - Falo negando com a cabeça, parando em um sinal - Vou mandar Mark providenciar isso.

- Ok, mas o tio Mark não vai ficar com ciúmes? A senhora não quis dar uma moto de presente pra ele no ano passado, eu lembro, o papai que me disse.

- No dia que ele for tão responsável no trânsito quanto o seu pai, nós poderemos chegar em um acordo, ou seja, nunca.

Luke riu e eu sorri, revirando os meus olhos, pela sua risada tão pura.

- Ok então, tia Addie. Te espero com a Meredith no sábado que vem, tá bom?

- Ok, campeão.

- Aproveito e levo o seu cartão.

- Comprou tudo que precisava?

- Sim! Vou mostrar pra você no sábado de noite, a gente pode jogar juntos o meu jogo novo?

- Sim, tampinha. Agora preciso desligar, porque estou dirigindo.

- Tudo bem, eu vou jogar! Tchau, tia Addie! Manda um beijo pra Meredith por mim!

- Certo, pequeno. Tchau.

Ele desligou a ligação e eu pude ouvir Meredith rir.

- Então esse é o filho do Alex?

- Em pessoa. Irritante ás vezes, mas é um bom garoto. Vocês vão se dar bem.

- Você está, indiretamente, me chamando de irritante?

- E você não é, ás vezes? - Falo, segurando um sorriso.

Senti um tapa ser depositado na minha coxa e a encarei rapidamente, me surpreendendo com o ato.

- Irritante é você! - Ela respondeu fazendo um bico, claramente irritada.

- Isso é tudo que você tem? Em um tribunal comigo como juíza, você estaria ferrada! - A provoco.

- Nós não estamos em um tribunal, caso contrário, você veria quem estaria ferrada, Meretíssima. Posso não gostar da advocacia, mas eu era uma das melhores advogadas de NY.

- Humrum, posso imaginar. - Falo tentando realmente ter aquela imagem na minha cabeça, mas, estranhamente eu não conseguia.

- Está duvidando de mim?

- Nunca, querida. - Falo sinceramente, evitando deixar brechas para que ela passasse a achar que não era boa o suficiente aos meus olhos, mesmo em algo que ela já não mais praticava - Estava realmente imaginando você como advogada. Confesso que é um pouco difícil.

Ela assentiu.

- Se é difícil me imaginar como advogada, imagine como juíza...

- É impossível.

- É, eu sei - Ela falou sorrindo fraco.

- Vamos passar em uma adega para comprar um vinho para levar. Ligue para Alex, por favor, e informe que iremos na de sempre, para que ele tome o caminho de lá.

Ela pegou o meu celular e o fez rapidamente, e, assim, após alguns segundos, eu pude observar o carro à minha frente adentrar a avenida em que se situava a adega.

- Acho mais prudente que você vá - Falei, estacionando em frente ao estabelecimento, esperando evitar inconveniências com os ratos que estavam por todos os lugares.

Meredith assentiu e colocou os seus óculos de sol.

- Peça o grego que sempre tomamos, três garrafas. A senha do meu cartão é os últimos quatro dígitos do seu.

Ela assentiu e se esticou, deixando um beijo rápido em meus lábios.

- Já volto.

Assinto, a vendo descer do carro e ser acompanhada por Alex e Warren até a loja.

Pego o meu celular e, enquanto a esperava, respondi algumas mensagens do tribunal e resolvi me informar dos acontecimentos no mundo.

Abri o jornal online que eu sempre lia em todas as manhãs e li maioria das notícias que se tratavam apenas sobre a economia, as eleições para prefeito em NY e a política mundial.

Até que uma notícia em si me chamou a atenção e eu a abri, visualizando estar certa sobre a minha suposição. Era sobre as competições que Meredith iria participar.

"Olímpiadas mundiais de Ginástica Artística e Ballet, descubra mais sobre os patrocinadores do ano."

Cliquei na notícia e busquei saber mais sobre cada modalidade competitiva, os locais e as datas definitivas, já divulgadas.

Ocorreriam em dezembro, nos dias 10 e 18, em NY e LA, respectivamente.

Pelo que eu havia entendido, Meredith iria competir apenas no segundo dia, com ginástica artística para professores. Por mais que eu nunca houvesse me interessado muito no assunto, essa era uma competição de grande visibilidade, que abrangia alunos de vinte países diferentes, e a Miller's, junto a outra academia em San Francisco, representaria os EUA nas competições.

Aquilo era grande, muito grande.

O prêmio destinado para professores era de cem mil dólares, mais dois meses de um curso intensivo de ginástica artística com uma mulher que eu não fazia a mínima ideia de quem era, mas a notícia dizia estar entre as melhores ginastas do mundo, em Milão.

Meredith precisava ganhar. Eu sabia que ela iria, mas, agora, vendo tudo aquilo de maneira tão... Mais real, eu sabia que ela precisava ganhar aquelas competições.

Ela seria a mulher mais feliz do mundo se o fizesse. E eu também, apenas por provar da sua felicidade em algo para que ela estava se esforçando tanto.

Aqui poderia parecer bobagem sendo visto por uma lente menos ampla, mas, tendo em vista que essa é a primeira vez que Meredith está competindo com total liberdade, e sendo uma professora na área, e não apenas uma aluna que estava participando por esporte.

Não. Aquilo era o seu trabalho agora. Aquilo era uma conquista imensa para ela, que havia se negligenciado por tantos anos, seguindo em uma carreira completamente diferente do que o seu espírito desejava.

Aquelas competições significavam muito mais do que apenas uma modalidade competitiva qualquer.

Era, enfim, Meredith sendo ela. Apenas ela. Fazendo o que realmente nasceu para fazer, como profissão.

Eu não poderia estar mais orgulhosa. Principalmente em saber que ela não havia, sequer, pestanejado para tomar essa decisão, que, aos olhos de qualquer um pode ser insignificante, mas eu, sabendo bem o quanto ela possuía uma insegurança imensa dentro de si, aquela decisão, tomada por ela mesma, havia sido uma vitória e tanto.

Meredith estava amadurecendo. Vivendo para si mesma. Criando as suas próprias raízes. Comandando a sua própria vida.

Isso sim era uma conquista e tanto. E eu apenas conseguia me orgulhar dela a cada dia mais.

As competições que a abrangiam ocorreriam em duas fases. Cada uma no mesmo dia, o que me parecia ainda mais difícil.

Eu não sabia como ela havia dividido a sua apresentação direito, mas eu tinha a mais absoluta certeza de que ela seria a melhor.

Não porque eu sou sua esposa. Mas sim porque eu conheço Meredith, verdadeiramente, e eu sei que ela está dando muito além do seu melhor.

E, se isso não é ser a melhor, eu realmente não sei o que é.

O meu olhar se afastou do meu celular assim que vi a porta do carro ser aberta por Warren e Meredith o adentrar com três sacolas de papel, as colocando no banco detrás.

Dei partida no carro novamente e nós fizemos o caminho até o condomínio de Flora em silêncio.

Meredith deu o seu nome na entrada e nós fomos liberadas instantaneamente. Estacionei o carro na vaga destinada a visitantes e nós descemos juntas.

Solicitei a Alex e Warren que designassem dois seguranças para ficar na portaria e os liberei para ir para casa, pois o condomínio era fechado e, pelo que pude observar, seguro.

Entrelacei os meus dedos aos de Meredith e a loira me guiou até o prédio de luxo onde Flora morava. O condomínio em si parecia-me ser um ótimo lugar, bem ambientado, seguro e luxuoso.

Eu não esperaria menos, afinal, a minha sogra era uma mulher simples, mas eu conseguia perceber que, no fundo, ela apreciava viver de maneira mais do que confortável.

Adentramos o elevador juntas e eu vi Meredith clicar no botão do último andar, na cobertura.

- Você costumava vir muito aqui? - A indago curiosa.

- Humm, você não imagina. Eu praticamente cresci nesse condomínio. Sei os melhores esconderijos para pique-esconde aqui, caso você queira! - Ela falou rindo e eu sorri, revirando os meus olhos - Flora mora aqui desde que voltou de Paris para dar aulas na Miller's, há, para ser mais exata, vinte anos atrás.

- Me parece ser um ótimo lugar, a localização é muito boa para o centro de NY, e para a academia, consequentemente.

- Sim! Esse foi um dos motivos pelo qual ela comprou. Ela odeia dirigir por longas distâncias.

Assinto, vendo as portas do elevador se abrirem. Saí dele junto a Meredith e me deparei com uma única porta grande de madeira no corredor não muito grande.

Um vaso de plantas enfeitava a fachada e, no canto do corredor, havia uma pequena cômoda para acomodar sapatos.

Meredith tocou a campainha e, alguns segundos depois, a porta fora aberta por uma mulher que eu desconhecia.

Ela era ainda mais ruiva do que eu e possuía os olhos na mesma tonalidade de Flora, e consequentemente de Meredith. Vestia uma saia longa e esquisita verde musgo, um top vinho e um cardigã branco por cima. Seus pés estavam descalços e seus cabelos presos em um coque bagunçado. Suas mãos possuíam tantos anéis que eu não ousaria contar.

- Tia Ella?! - Meredith se manifestou alegremente, soltando a minha mão e praticamente se jogando nos braços daquela mulher. Então aquela era a irmã de Flora? Porque elas não se pareciam em absolutamente nada, além dos olhos.

- Ah, minha criança! Que saudades! Você está... Deslumbrante, meu amor! Me deixe ver esses cabelos... Oh, do mesmo tamanho em que eu lembrava! Você está a cada dia mais linda, meu amor!

- Mamãe me avisou que você chegaria, há algumas semanas...

- Tive algumas complicações no hospital, e não é como se a sua querida mãe adotiva estivesse ansiosíssima para me ver.

Meredith sorriu, revirando os seus olhos.

- Pare de bobagens. Deixe-me a apresentar à minha esposa. - Meredith se virou para mim e a mulher sorriu ainda mais - Tia Ella, essa é Addison. Amor, essa é a tia Ella, irmã de Flora.

- É um prazer, querida! - Ela se aproximou e me surpreendeu com um abraço apertado, me balançando um pouco para os lados - Sou a Miller legal. - Ela falou se afastando e eu forcei um sorriso, a cumprimentando, incomodada com aquele excesso de... Felicidade e animação.

Eu definitivamente preferia a minha sogra.

- Igualmente, Ella. - Respondo sem muito ânimo, apenas pela educação me exigida por estar ao lado de Meredith e por aquela mulher parecer ser alguém importante para ela.

- Ella, você vai deixar a minha nora e a minha filha entrarem ou vou precisar arrancar você da minha porta?! - Flora vociferou do interior do apartamento, parecendo irritada.

Definitivamente a minha sogra.

A ruiva á minha frente revirou os olhos e deu espaço para que eu e Meredith passássemos. Nós descemos os quatro degrais de entrada juntas.

- Ela está adorando me ter por perto, como podem ver. - Ella comentou de maneira azeda e Meredith riu.

- Meus amores! Sejam bem-vindas! - Flora nos cumprimentou, caminhando da cozinha até nós.

Ela abraçou Meredith primeiramente, e eu tomei esse tempo para a observar. Ela vestia uma calça jeans preta e um suéter também preto, com uma camisa social branca por baixo, que se fazia à mostra apenas pela gola e as mangas dobradas. Seus pés estavam descalços e ela parecia confortável com aquilo. Seus cabelos pretos estavam presos em um rabo de cavalo com alguns fios soltos.

- Minha nora, como vai? - Ela me abraçou calorosamente e eu retribuí, sem sequer titubear.

- Tudo bem, sogra. E você?

- Tudo ótimo! Sentem-se, por favor, fiquem à vontade! Lisa está chegando daqui há alguns minutos. Dêem os seus casacos a Ella. Filha, você está lembrada da reunião segunda, não está?

- Não vou mentir, mãe, eu havia esquecido completamente, mas lembrei hoje durante o banho. - Meredith comentou tirando o seu casaco, o entregando a sua tia, e eu fiz o mesmo.

- Tudo bem, amor. O que desejam beber? Addison, comprei um whisky novo para nós experimentarmos. Aceita agora?

- Por favor, sogra. Nós trouxemos vinho, duas garrafas para o almoço e uma para você e Lisa.

Meredith me guiou até a bancada da cozinha completamente aberta e nós nos sentamos nos bancos de madeira do local.

- Oh, muito obrigada, meus amores! Uh, esse eu nunca experimentei. - Ela falou ao abrir as sacolas entregues por Meredith.

- É um dos meus favoritos, espero que goste. - Falei me acomodando no banco.

Ela assentiu para mim, sorrindo.

Meredith se dispôs a colocar os vinhos na geladeira e eu me permiti observar o apartamento de grande espaço que a minha sogra possuía.

O chão era inteiramente de um piso de madeira realmente bonito e bem polido, uma escadaria de piso branco estava disposta ao lado da porta de entrada, com os corrimãos em prata. Ao outro lado, havia um pequeno jardim com várias plantas que eu sequer saberia diferenciar.

Eu não precisaria de mais informações para perceber que a minha sogra era uma grande fã delas.

A sala possuía um ar moderno, com dois sofás brancos formando um L, e duas poltronas da mesma cor, dispostas do outro lado. Uma TV imensa tomava parte do painel branco na parede, onde, abaixo e aos lados, acoplado com o painel, haviam algumas prateleiras com vários porta-retratos e alguns troféus dispostos ali. Ao lado da cozinha, havia uma imensa área externa, composta de uma área para churrasco, um balcão grande e preto, e cadeiras altas da mesma cor, além de uma piscina de tamanho médio e um jardim com algumas árvores menores plantadas.

Mais plantas dispostas aos cantos.

Supus que, no corredor ao lado esquerdo da sala ficavam talvez quartos e banheiros.

Ao lado direito da sala, uma mesa de jantar de oito lugares, mas pequena, de madeira clara, posta em cima de um tapete branco, onde as cadeiras ficavam dispostas duas em cada lado da mesa.

No andar de cima da cobertura, após a escadaria, pelas paredes inteiramente em vidro eu pude observar o que me parecia ser mais uma sala no outro andar, além de mais plantas dispostas em alguns outros cantos.

A cozinha, onde estávamos agora, era completamente aberta e espaçosa.

Uma geladeira inox de duas portas, fogão em cima do mármore branco, mais mini vasos de plantas espalhados pelo balcão e mais mil e uma coisas que eu não entendia absolutamente nada sobre.

O apartamento inteiro era um lugar extremamente bonito, moderno, luxuoso, mas confortável e bem organizado, e carregava a essência de Flora e Lisa, ao mesmo tempo.

- Ella, ponha os pratos à mesa.

- Gostaria de saber quanto estou ganhando para ser a sua mais nova escrava pessoal - A ruiva comentou em um ar debochado e veio até a cozinha, alcançando seis pratos de porcelana brancos.

- Acho que não precisar pagar um hotel que cubra todos os seus luxos é mais do que você merece. Agora pare de reclamar e faça o que mandei.

Aquela resposta da minha sogra, estranhamente, me trouxa algum tipo de satisfação.

- Ok, dona Helena.

Visualizei o rosto da minha sogra tomar uma coloração avermelhada e ela suspirou, revirando os olhos.

- Eu a ajudo, tia Ella. - Meredith se propôs, dando a volta no balcão e, parecendo já conhecer aquela cozinha como a palma da sua mão, ela pegou as taças, os talheres e os guardanapos, os levando para a mesa junto a Ella aos poucos.

- Então, Addie, como vão os negócios? - Flora me indagou, enquanto colocava para mim e para si uma dose de Whisky.

- Mais estressantes a cada dia. Obrigada. - A agradeço quando ela me passa o copo - E as competições? - A indago de volta.

- Mais estressantes a cada dia - Ela comentou sorrindo. - Mas é um estresse bom.

- Muita coisa para organizar?

- Oh, e como! Mas isso não me estressa tanto. O problema é que eu sou casada com a mulher mais perfeccionista do mundo, depois da minha filha. Então você pode imaginar o quanto ela vem me tirando do sério por desejar que tudo saia milimétricamente bem.

- Ela e Meredith são mais parecidas do que eu imaginava, então.

Ela assentiu, bebericando o Whisky e eu fiz o mesmo, sentindo o sabor diferente, mas gostoso, em meu paladar.

- Gostei - Falei a apontando o meu copo.

- Forte, do jeito que eu gosto também.

- Mamãe - Meredith caminhou até nós e parou atrás de Flora, a abraçando por trás e depositando um beijo em seu pescoço.

- Sim, amor?

- O que tem para a sobremesa? - Ela a perguntou, com as bochechas coradas e um sorriso quase infantil no rosto, acompanhado de um tom de voz doce e inocente.

Eu me deixei apenas observar o quanto Meredith parecia brilhar mais quando estava perto de Flora, e o quanto as duas pareciam interligadas, em uma conexão em que eu apenas conseguia enxergar entre elas.

Meredith parecia mais... Livre. Mais plena.

Flora riu, pousando os seus braços por cima dos de Meredith.

- Pudim de chocolate e o seu sorvete de morango, meu amor.

- Você fez o pudim? - Meredith a indagou, apoiando o seu queixo no ombro dela.

- Sim! Sei que adora ele, não seria capaz de comprar.

A loira sorriu alegremente, deixando outro beijo na bochecha de Flora e eu ouvi a campainha tocar.

Meredith se afastou, deixando Flora seguir até a porta e me chamou para que nós fôssemos nos sentar no sofá.

A loira havia tirado as suas sandálias de salto e ficado descalça. Ela parecia realmente se sentir em casa ali, como eu nunca a havia visto se sentir na sua antiga casa, ou até mesmo na nossa.

O que me fez sentir um pouco de inveja dentro de mim, mas eu não poderia a culpar. Afinal, ela havia crescido ali, e, para completar, com Flora.

Não haviam espaços para comparações.

- Beatrice, minha querida! Você está deslumbrante, como sempre! - Flora cumprimentou a minha mãe, a abraçando animadamente.

- Imagina, Flora! Você que está linda! Obrigada pelo convite.

- Não me agradeça, é apenas um almoço em família. Entre, por favor, se sinta à vontade, as nossas meninas já chegaram.

A minha mãe adentrou a sala e pude a observar vestir uma calça jeans preta, uma blusa de seda e blazer da mesma cor. E, nos pés, um par de sandálias de salto médio e grosso brancas, que combinavam com a sua bolsa da mesma cor.

Seus cabelos estavam soltos e um pouco ondulados, e ela também usava óculos de sol pretos, que tirou assim que adentrou o apartamento, os passando para a sua cabeça.

Meredith foi a primeira a se levantar e estendeu os seus braços para a minha mãe, a cumprimentando calorosamente em um abraço apertado.

- Oi, sogra! Como está? Você está absurdamente linda!

Minha mãe sorriu, a abraçando com mais força e a soltando logo em seguida.

- Estou ótima, meu amor, e você? Sinto tanto a sua falta!

- Eu sei, tenho sido uma péssima nora, mas prometo me redimir essa semana, ok?

Minha mãe sorriu.

- Você é a melhor nora do mundo! A sua sogra que é apenas uma velha chata.

- Eu troquei de sogra, por um acaso?!

Elas riram e eu me levantei, indo cumprimentar a minha mãe.

- Oi, meu amor! Como está? - Ela me indagou, me abraçando com ternura.

- Bem, mamãe, e você?

- Estou bem.

- Flora, eu não consigo encontrar aqueles sousplat que... Oh, Uau! - A irmã de Flora falou adentrando a sala novamente, até o seu olhar pousar na minha mãe e a sua boca automaticamente se calar.

- Me conte uma novidade, Ella, quando é que você consegue encontrar algo? Deixe que eu pego. Cumprimente a mãe de Addison. Bizzy, essa é Ella, minha irmã mais nova. Me dêem licença por um minuto.

- Olá, Ella! É um prazer! Sou Beatrice, mãe de Addison. - A minha mãe se aproximou da mulher, que ainda estava parada no meio da sala, calada, parecendo ter visto um fantasma.

A sua reação me foi estranha, completamente estranha.

- O... Oi, Beatrice! - Ela, desajeitadamente, se aproximou para abraçar a minha mãe, mas, não passando despercebido por mim, a maluca se embaralhou completamente e quase bateu com o seu rosto contra o da minha mãe. Elas riram e, logo após, vi aquela mulher passear o seu olhar na minha mãe dos pés a cabeça. - Ella... Eleanor Miller, na verdade. É um prazer! Mas me chame apenas de Ella. Ella está ótimo. Ella está maravilhoso! Todos me chamam de Ella, Eleanor não combina muito comigo, não acha? Eu acho um nome muito sério, se você deseja saber! Bem... A minha mãe tentou de tudo para me fazer ser uma mulher... Séria. Ela falhou, infelizmente, mas enfim... Você não vai querer saber dos meus problemas com a dona Helena, porque... Bem... Vai perder todo o encanto, sabe? Quero dizer... Argh!

O que diabos...?

Minha mãe riu, a respondendo e a indicando que a chamasse pelo seu apelido, e eu, estranhando um pouco a forma com a qual aquela mulher havia se dirigido e olhado para a minha mãe, a observei melhor, vendo as suas bochechas corarem.

Eu estava mesmo vendo o que eu estava vendo? Ou era apenas uma ilusão minha?

Aquela mulher estava encarando... A minha mãe... Daquela forma?

- Sente-se, Beatrice, digo... Bizzy! Aceita uma taça de vinho? Água? Whisky? Suco? - Ela a indagou, parecendo nervosa.

- Vinho está ótimo, minha querida.

- E você, sobrinha, não vai beber nada?

- Vinho para mim também, tia Ella. - Meredith falou rindo.

- Tudo bem, já trarei. Beatrice... Não quer me acompanhar? Posso a apresentar o apartamento.

- Claro! Com licença, meus amores.

Assenti, vendo a minha mãe deixar a sua bolsa em cima do sofá e acompanhar a irmã de Flora até o balcão, onde Flora também estava.

- Meredith?

A loira me encarou sorrindo e eu franzi o meu cenho, apontando com o meu queixo para a sua tia completamente maluca.

- Sua tia é casada?

A loira riu, negando veementemente com a cabeça.

- Absolutamente não. Tia Ella nunca, sequer, namorou sério! Isso é simplesmente demais para ela. Ela é meio que como você... - Ela murmurou desviando o seu olhar por um segundo - Mas... Por que está perguntando isso?

Dou de ombros, não desejando expôr o que havia se passado pela minha cebeça, com receio do que Meredith poderia pensar.

- Nada demais. Estava apenas me perguntando se você possuía um tio... Ou tia.

- Bem, eu nunca tive, nenhum dos dois, se é que você me entende.

Então a sua tia era bissexual.

- A tia Ella sempre foi mais... Aventureira do que a minha mãe. Mais ousada também. A Helena, mãe delas, sempre desejou que as duas filhas fossem bailarinas famosas. Mas... Bem... A tia Ella nunca nasceu para o Ballet. E desistiu dele um ano depois de eu entrar para a academia.

- Para fazer o quê?

- Medicina. Ela é uma das melhores neurocirurgiãs de Milano.

Assinto, observando, ainda, Ella e a minha mãe conversarem animadas sobre algo que, dali, eu não conseguia ouvir.

- Lisa já está à caminho. Estava presa na academia com adolescentes, tirando as medidas deles, o que é a coisa mais insuportável do mundo!

- Adolescentes são a coisa mais insuportável do mundo - Respondo, me bebericando o meu vinho - Com todo respeito, querida - Falei para Meredith, esperando a provocar.

Ela me empurrou com seu ombro, rindo, e apoiou a sua coxa por cima da minha, ficando virada pra mim.

- Você é uma idiota, Addison Montgomery!

- Não a sua favorita - Murmuro ironicamente, ainda um pouco chateada por ela não ter me escolhido como a sua favorita.

Que ser idiota eu havia me tornado?

- Não fique triste, meu amor, eu ainda gosto um pouco de você.

Revirei os meus olhos, sentindo-a passar as pontas dos seus dedos do pé no meu tornozelo.

- Gostaria de um tour pelo apartamento antes do almoço, minha nora? Não será tão demorado quanto o da sua casa, por motivos óbvios - Flora falou vindo até mim.

- Claro! - Respondi depositando a minha taça sobre a mesa de centro e me levantando, depois de Meredith ter tirado a sua perna de cima da minha - Já volto, querida - Falei para Meredith, deixando um beijo rápido em seus lábios, que assentiu, sorrindo para mim e Flora.

- Vamos começar pelo segundo andar.

Assinto, a acompanhando pelas escadas até o primeiro andar.

Me surpreendi ao ver uma outra sala, porém, agora, com três paredes de vidro, que davam uma visão ótima para uma parte arborizada do condomínio, e para a piscina. Um sofá grande estava posto no meio do cômodo, com uma mesa de centro branca ao meio e dois puffs grandes e quadrados como apoio de pé ao lado de cada ponta do sofá.

- Eu e Lisa costumamos usar mais essa sala do que a outra, porque odiamos ter que subir essas escadas depois de uma noite intensa de maratonas de filmes.

Assinto, olhando ao redor. Havia outra TV do mesmo tamanho da que havia na sala, pendurada em um apoio branco, com mais inúmeros porta-retratos em cima dele.

Sem me dar muito tempo para os observar, Flora me guiou até o corredor ao lado direito do primeiro andar.

- Aqui é o meu escritório. Nada grandioso como o seu, mas é a minha parte favorita da casa - Ela flou abrindo a última porta de madeira no fim do corredor.

Adentrei o local, olhando ao redor e observando uma mesa de tamanho médio branca, em formato de L, com uma cadeira confortável da mesma cor atrás dela. E, para a minha surpresa, atrás da mesa, uma enorme parede de vidro, que possuía vista para a área da piscina lá embaixo.

Mais duas poltronas ao lado esquerdo, em frente a uma enorme estante de livros, que ia do chão ao teto e estava completamente cheia.

Alguns vasos de plantas enfeitavam alguns cantos do local, principalmente a estante, o que realmente havia, estranhamente, me agradado. O ar do local parecia menos... Pesado e mais aconchegante.

Ao lado da porta havia um pequeno sofá branco, com uma manta marrom e várias almofadas em cima.

Agora sim eu entendia o porque Meredith se sentia tão confortável nessa casa. Porque ela simplesmente exalava conforto, para todos os lados.

- Confesso que estou surpresa - Comento, a fazendo sorrir.

- Por que?

- Nunca pensei que um escritório poderia ser um lugar confortável dessa maneira.

Ela riu.

- Eu e Lisa planejamos a casa inteira para que fosse assim... Para que tivéssemos a sensação, no fim do dia, de que, ao entrar nessa casa, todos os nossos problemas não importariam mais.

- É uma ótima forma de pensar.

- Realmente. Penso que a nossa casa tem que ser um local que nos traga conforto, sabe? O máximo dele. Por isso evito até mesmo trabalhar aqui. Esse é o meu espaço de leitura, basicamente.

Aquilo fazia sentido. Muito sentido.

- Pense sobre isso, minha nora.

- Irei, sogra. - Respondi, tendo o meu olhar pousado em um imenso quadro que estava exposto na parede acima do pequeno sofá.

Me aproximei, sentindo-me fascinada pela pintura.

Era apenas o busto de uma mulher de cabelos longos e castanhos carregando, nos braços, inúmeras flores brancas, algumas murchas, outras vivas, ou quase murchando.

Era uma imagem simples, mas os traços tão bem feitos, as linhas tão milimetricamente bem colocadas... A... Emoção presente naquela pintura.

As sensações de angústia misturada a... Esperança, deslumbramento.

- Isso é... Muito bonito, sogra - Comento, ainda encarando o quadro, fascinada, estranhamente presa àquela quantidade de cores tão quentes, que deveriam me trazer conforto, mas estranhamente me trazia um misto de sensações boas e ruins, pela mistura de um pouco de cinza e azul com os tons amarelo, vermelho e rosa das pinceladas tão bem feitas - Onde comprou? - A indago, observando uma assinatura um pouco confusa ao canto direito da pintura.

- Ah... Isso é... Velho. Faz muito tempo em que comprei, não lembro onde.

- É... Um trabalho muito bonito. O artista deve ser famoso.

- Não... Não acho que seja. Vamos conhecer o resto da casa?

Franzo o cenho, desviando, então, o meu olhar aquela pintura, para encarar Flora, que já estava à porta me esperando.

- Tudo bem, Flora? - A indago curiosa.

- Sim... Tudo ótimo! Tudo ótimo. Vamos? - Ela afirmou sem me encarar, com a sua face momentâneamente vermelha. Ela realmente achava que poderia mentir justamente para mim?

- Flora, o que aconteceu?

Ela se aproximou de mim, sorrindo ternamente.

- Nada, meu amor. Apenas quero que tenhamos tempo de ver o resto, preciso a mostrar o meu quarto.

Assinto, não acreditando naquela sua clara mentira, mas resolvi não a importunar com as minhas habilidades estranhas de juíza.

- Ok - Murmurei observando o quadro novamente - Pode tirar uma foto dele para mim?

- Uma... Foto?

- Sim, por favor. Gostaria de saber quem é o pintor, mas o meu celular está na bolsa de Meredith, lá embaixo.

Ela suspirou, mas tirou o seu celular do bolso e tirou uma foto da obra.

- Pode me enviar, por favor.

Ela assentiu e nós saímos juntas do seu escritório.

- O meu quarto é do outro lado, vamos!

Assinto, franzindo o cenho para a porta sobrante naquele corredor.

- E aqui? O que é? - A indago, curiosa.

- Ah... Esse é o quarto de Meredith, mas está uma bagunça e todo empoeirado! Não tive tempo de o limpar ainda... Então fica para outro dia, ok? - Ela falou puxando a minha mão e praticamente me tirando dali.

Assinto, estranhando aquilo, mas resolvo não a indagar sobre.

Ela me guiou até o seu quarto e eu realmente me impressionei pelo tamanho do local e pelo conforto em que ele exalava, com mais uma parede inteiramente de vidro e inúmeras plantas, além de luzes amareladas e vários outros porta-retratos colocados por ali.

Nós saímos juntas, após ela me mostrar absolutamente tudo do quarto, e voltamos até a sala, onde eu não havia tido a oportunidade de observar direito.

Me aproximei do painel da TV, ao observar uma série de porta-retratos colocados ali e uma foto que me chamou a atenção no mesmo instante em que pousei o meu olhar sobre ela. Me abaixei, sentindo uma estranha vontade de sorrir ao perceber o que eu estava vendo.

- Essa é...

- A sua esposa, sim. - Flora falou rindo - Isso foi em Milão. Seu avô possui um pé de morangos lá, que plantou especialemente para ela. Essa foi a primeira vez que ela os viu crescidos. Acho que ela tinha... Sete anos.

Sorrio, sem sequer me dar conta direito desse ato, ao observar uma Meredith criança, com os cabelos soltos e bagunçados pelo seu rosto, sentada em um grande gramado, ao lado de um pe de morangos, segurando vários na sua pequena mão e os levando a boca.

- O sonho dela era possuir um pé de morangos só seu aqui em NY, mas ela morava em apartamento, eu também... Então isso ficou apenas nos sonhos mesmo.

Eu sorri, negando com a cabeça e me deixando observar a loira com uma careta graciosa no rosto, que deixava o seu nariz e testa franzidos, parecendo não ter gostado de ter sido fotografada.

O meu olhar pousou sobre outra foto e eu sorri ainda mais, sentindo-me ser tomada de orgulho.

- Ela tinha nove anos aqui. Foi a sua primeira competição em ginástica artística. Ela ficou em segundo lugar.

Meredith estava um pouco maior, com os cabelos ainda mais claros presos em um coque alto e, surpreendentemente, de franja cortada à testa. Seu sorriso, por mais incrível que parecesse, não havia mudado em quase nada. Apenas os dentes menores e um pouco da curvatura dos seus lábios.

Mas os detalhes das covinhas e a língua entre os dentes ainda permaneciam até hoje, quando ela sorria verdadeiramente. O que fazia o seu sorriso ser ainda mais único do que já naturalmente era.

A loira vestia um body de cor preta e segurava uma medalha de prata, enquanto estava no colo de uma Flora mais nova, mas que não havia mudado muito. Apenas o comprimento dos cabelos e algumas poucas linhas de expressão não existentes na época.

- Essa aqui - Flora me chamou a atenção para outra foto e eu me levantei, ficando à altura dela, sorrindo novamente ao bater os olhos na imagem - Foi quando ela evoluiu de ciclo no ballet, ela foi a primeira aluna da turma a evoluir tão rapidamente. Seis meses, esse foi o tempo em que ela conseguiu aprender tudo do ciclo um. Óbvio, a prática da ginástica ajudou muito, mas Meredith sempre foi dedicada, desde pequena.

Assinto, observando melhor uma Meredith ainda menor, com os cabelos batendo em sua barriga, completamente lisos, e a franja cortada na altura da testa, carregando um riso... Celestial nos lábios, enquanto segurava um certificado e estava nas pontas dos pés, em uma posição a qual eu realmente não lembrava o nome, ao lado de Flora, que a abraçava de lado e também ria para a foto.

Ela parecia tão... Feliz. Completa. E eu sabia que não era por causa do ballet, pois eu já estava mais do que familiarizada com o fato de Meredith te o odiado nos primeiros anos.

Não.

A real responsável por aquele riso estava ao lado dela, a abraçando de maneira protetiva e rindo para a foto também.

Flora havia sido uma espécie de âncora para Meredith, eu sabia disso. Mas eu sentia que era muito além do que aquilo, poderia até mesmo arriscar dizer que ela poderia ter sido como uma espécie de salvação para aquela criança que possuía um pai narcisista e uma mãe exatamente igual a ele.

Por um momento, eu passei a acreditar na frase dita por Meredith para mim, sobre o fato de algumas almas estarem destinadas a se encontrar.

Elas terem se encontrado não poderia ser uma coincidência. Eu sentia isso.

Por mais que eu nunca tenho acreditado muito nessas coisas de destino.

- Tudo bem, minha nora?

Assinto, percebendo o quanto eu havia me introvertido para os meus pensamentos de maneira tão abrupta.

Meu olhar vagou para o outro lado do painel e, assim que ele pousou intensamente sobre outra foto, pude sentir algo estranho e ruim se fazer presente em meu peito, o fazendo pulsar de maneira notável no mesmo instante.

Flora e Lisa estavam abraçadas em frente a Torre Eiffel, rindo para a foto, vestindo suéteres de frio e com os cabelos voando com o vento. Mas não foi aquilo que me chamou a atenção.

Meredith estava na foto, e já possuía um pouco do rosto o qual eu conhecia hoje, era apenas mais nova, mas seus cabelos estavam do mesmo tamanho em que hoje, grandes e lisos. Ela vestia um sobretudo bege e touca preta.

Um riso o qual eu nunca havia presenciado em seu rosto estava estampado naquela foto, mas não foi aquilo que me incomodou de imediato, e sim quem estava ao seu lado.

Uma garota que parecia possuir a mesma idade em que ela, de cabelos castanhos claros, ondulados e cheios, e um sorriso... Característico.

O problema não era a foto em si, e sim o fato de essa garota estar abraçando Meredith de lado e com o rosto tão próximo do seu... O sorriso tão... Único nos lábios de Meredith. A forma a qual os seus olhos estavam mais apertados e, mesmo assim, eu conseguia saber que eles brilhavam naquele momento.

- Humm, bem... - Flora soltou um riso nervoso e eu a encarei - Eu não deveria ter essa foto. Principalmente... Assim, tão exposta. É que... Esse dia foi especial para nós. Para Meredith, principalmente. E... Por mais que... Enfim, tudo tenha acabado de uma forma tão... Ruim. Eu acredito que momentos como esses merecem ser lembrados.

Assinto, encarando a foto novamente e, apenas por desencargo de consciência, pergunto a questão que estava entalada na minha garganta, mesmo que, de alguma forma, eu já sentisse a resposta:

- Quem é essa?

- Essa é Aurora.

Suspiro, engolindo a sensação insuportável e tão súbitamente agonizante que havia se formado na minha garganta.

Sinto como se, no meu peito, houvessem sido enfiadas mil facas, de uma única vez.

Não fora o fato de a foto em si existir ali, na sala de Flora, para que todos pudessem ver aquela cena tão romântica e familiar. Não.

Mas o sorriso de Meredith na foto... Tão diferente de todos os quais eu já havia recebido dela, ou qualquer outro havia.

Meredith estava... Diferente. Havia um brilho diferente nela. Quase como se ela estivesse flutuando em uma foto, ou estivesse acabado de comer todas as tortas de morango do mundo.

Seu rosto parecia mais iluminado, ela parecia mais feliz, e parecia realmente... Outra Meredith. Não que a Meredith de hoje em dia possua uma feição triste ou qualquer outra coisa diferente de iluminada em seu rosto. Não, absolutamente não. Meredith era iluminada, naturalmente.

Mas aquela Meredith, ali, parecia estar... Em um êxtase de felicidade além do que eu, sequer, já imaginei que ela poderia atingir.

A forma a qual seus braços estavam envoltos entorno do pescoço daquela garota. A forma a qual os sorrisos de ambas pareciam, estranhamente, se completar.

A forma a qual aquela garota olhava para Meredith, ao invés de olhar para a câmera, de forma tão... Devota e entregue.

O sorriso... Eu não poderia negar que ela possuía um sorriso marcante, e um rosto igualmente único.

Mas os sorrisos. Eu conseguia sentir o que quer que houvesse entre elas nas palmas das minhas mãos.

Aliás, eu já sentia nas palmas das minhas mãos, mas algo completamente diferente. O ardor das minhas unhas cravando a minha pele, como se para aliviar a confusão que habitava o meu peito naquele momento.

- Addie... Espero que essa foto não signifique algo negativo para você. Digo... É passado. Você é o presente e o futuro de Meredith.

Assinto, me forçando a parar de me torturar ali e viro novamente para Flora, sentindo o meu dedo indicador pegajoso, e não precisei tirar as minhas mãos das costas para saber que sangrava.

- Claro... Sem problemas - Forço um sorriso - Você pode me mostrar o banheiro, sogra?

- Claro, meu amor! Venha, é por aqui! - Ela me guiou pelo corredor ao lado esquerdo da escada e me indicou a porta. Eu o adentrei e a fechei, abrindo as palmas das minhas mãos e as vendo mais vermelhas do que nunca. E, em uma delas, uma gota de sangue se manifestar.

- Porra! - Murmuro irritada, colocando-as debaixo da torneira aberta e fechei os meus olhos, sentindo que seria capaz de quebrar todos os meus bonecos de boxe, um por um, ali, naquele momento, o que tanto era uma tarefa difícil.

Era óbvio. Tudo se encaixava agora. O motivo pelo qual Meredith havia tido aquele olhar nostálgico e vago na primeira vez em que o nome daquela desgraçada de Aurora havia sido citado na minha frente. Era óbvio.

Se essa coisa ridícula de amor verdadeiro sequer possuísse a ínfima capacidade de existir, aquela mulher havia sido o de Meredith?

Porra. Caralho. Inferno.

Fecho os meus olhos, sentindo a minha respiração estranhamente engasgar e o meu peito lutar em busca de ar e tento lutar contra a porra da tempestade de sensações que estavam me consumindo por inteiro por dentro. Respiro fundo, engolindo o nó na minha garganta e tentando buscar por ar e controlar a minha vontade de simplesmente socar o box de vidro do banheiro para descontar o tamanho... Ódio em que eu sentia. Misturado com a sensação insuportável de... Frustração?

A sensação insuportável em que eu sentia se assemelhava como se algo houvesse sido arrancado de mim com força.

Eu apenas não sabia o quê.

Mas que caralhos estava acontecendo dentro de mim?!

Porra!

Porra!

Meus pensamentos estavam todos emaranhados em uma teia confusa de perguntas as quais eu não obtinha uma resposta.

Meredith ainda amava aquela mulher?

O que havia acontecido entre as duas?

Por que tudo havia acabado?

Respiro fundo, apertando as bordas do mármore da pia e abro os meus olhos novamente, me encarando na frente do grande espelho do banheiro, visualizando o meu rosto inteiramente vermelho.

Aquela porra de foto não me parecia apenas uma paixonite de adolescentes. Aquilo me pareceu algo tão mais íntimo. Mais verdadeiro. Extremamente palpável. Mesmo que houvessem se passado... Sei lá quantos anos! Era como se aquela foto houvesse tomado forma humana e me dado um enorme soco na cara.

Meredith era apaixonada por aquela mulher.

Entender aquilo me fez sentir como se todo o banheiro houvesse começado a girar de maneira insuportável, portanto, novamente fechei os meus olhos.

Que caralho! Porra, Addison!

O que diabos eu estava sentindo, porra?!

Ciúmes? É somente isso?

Se sim, por que aquela sensação pareceu se quadruplicar da intensidade do ciúmes que eu senti quando essa mulher foi citada pela primeira vez?

Porque aquela foto havia me feito pensar, unindo o pouco que eu tinha, que todas as falas de Meredith ditas para mim pela manhã, que tanto haviam me feito sentir, de certa forma, única na sua vida, não passavam de frases amedrontadas suas.

Porque ela estava ao meu lado por pura obrigação, então, se fosse para ter que me aguentar, que fosse, então, tentando me fazer ser a sua amiga.

Amiga.

Era isso que eu era.

A porra de uma amiga.

E por que caralhos isso me incomodava?

Eu nunca desejaria ter o que ela parecia ter tido com aquela mulher.

Desgraçada mentirosa!

Foda-se! Era claro que não! Se Meredith verdadeiramente amou essa mulher... Por que, em mil infernos de anos, eu iria querer que isso acontecesse comigo?

Afinal, eu odiava qualquer coisa que, sequer, ameaçasse abranger-se a essa porra de sentimento dos infernos.

Que se foda!

Aquilo era apenas o meu ego gritando, certo?

Errado.

Porra!

Fecho os meus olhos, tentando calar a porra do meu cérebro que, além de me encher de pensamentos nada racionais sobre o que eu estava sentindo no momento, ainda fazia questão de repetir aquela imagem dos infernos na minha cabeça.

O sorriso...

Solto um suspiro irritado, jogando água gelada no meu rosto e secando as minhas mãos já limpas, mas ainda doloridas, com a toalha.

Eu seria capaz de socar cem Karevs de vez naquele exato momento, sem peso na consciência e sem autocontrole para parar.

- Addison, você está aí?

Suspiro ao ouvir a voz doce de Meredith do lado de fora do banheiro. Era tudo que eu não precisava no momento.

Mas eu não seria uma filha da puta infantil dos infernos em a tratar mal justamente naquele dia.

Não.

Eu teria que engolir aquela porra que parecia estar presa entre as entranhas do meu peito e tanto me incomodava, pelo menos hoje.

Meredith não tinha culpa de... Ainda amar alguém que parece ter sido importante para ela.

- Addie?

Abri a porta, dando de cara com a loira parada diante dela.

- Céus, você está bem? Está vermelha, Addison! - Ela exclamou em preocupação e avançou em mim, tocando o meu rosto - E está quente! O que houve? Você está tonta? Está passando mal? Podemos ir para casa se qui...

- Estou bem, foi apenas uma tontura - Minto.

- Addie...

- Estou bem, Meredith - A asseguro, me afastando do seu toque sutilmente. - Vamos comer.

- Você dormiu essa noite? Ah, a quem eu estou tentando enganar! É claro que você não dormiu, e está cansada! E tudo isso por culpa min...

- Meredith - Paro à sua frente e seguro o seu rosto entre as minhas mãos. - Pare de se culpar.

- Mas...

- Sem mas. Eu estou bem, enquanto você esteja.

Ela suspirou, franzindo o seu cenho para mim, como uma tentativa falha de uma feição brava, mas assentiu, me seguindo pelas escadas.

Todas já estavam sentadas à mesa, inclusive a maluca da sua tia, que havia se sentado ao lado da minha mãe.

- Como vai, Lisa? - Cumprimentei a mulher de Flora, me sentando de frente para elas, ao lado de Meredith.

- Estou bem, Addison! Me perdoe pela demora, mas lidar com adolescentes para tirar medidas de figurinos é a coisa mais insuportável do mundo!

- Imagino - Respondo bebericando o meu vinho, tendo os meus pensamentos ainda um poucos bagunçados por causa daquela porra de foto.

- Espero que gostem da comida, eu não sou a melhor cozinheira do mundo, mas se sou casada hoje em dia, é parcialmente graças a isso - Flora falou rindo.

- Você pode ter certeza disso, meu amor! - Lisa a respondeu, começando a comer.

- Humm - Meredith se manifestou ao meu lado - É a receita do risoto da nonna?

- Sabia que você iria perceber, filha! Luísa me ensinou passo à passo enquanto eu estava lá esse ano, e inclusive a sua lasanha, mas a farei em outra oportunidade.

- Oh... - Meredith murmurou e eu a observei fechar os olhos - É como se eu estivesse voltado a minha infância novamente! Que saudades da comida da nonna! - Ela falou sorrindo e eu pude observar os seus olhos brilharem e, pouco a pouco, marejarem.

- Quando eles virão? - A indago, tocando a sua coxa por debaixo da mesa.

- Não sei bem - Ela deu de ombros, suspirando - É um pouco... Difícil para eles voltar para NY.

- Seus avós são de que cidade da Itália, Mer? - A minha mãe a indagou, após algum tempo calada.

- Milão, sogra - Meredith a respondeu com um sorriso animado e logo o seu rosto tomou uma feição feliz novamente.

Nós almoçamos em harmonia e, mesmo que a minha cabeça não parasse de doer por um segundo sob aqueles pensamentos em relação àquela foto, eu consegui fazer parte da conversa.

Estar com Lisa e Flora era sempre bom. E a presença da minha mãe apenas melhorava as coisas, apesar de ela estar um pouco mais calada, assim como eu, ouvindo apenas as coisas malucas em que a irmã de Flora despejava sobre ela, e rindo sobre elas, parecendo realmente confortável.

Ao fim do almoço, Lisa, a minha mãe e Ella foram até a área externa e eu também me levantei da mesa, junto a Meredith, que se ofereceu para ajudar Flora a retirar os pratos da mesa.

- Na verdade... Não precisa, filha. Addison irá me ajudar, certo, minha nora?

Eu iria?

Eu nunca havia, sequer, lavado uma colher em toda a minha vida.

Mas eu não possuíria a coragem de contrariar a minha sogra.

- Sim, posso a ajudar.

Meredith riu - Você vai... Fazer uma tarefa doméstica? - Ela riu novamente - Mãe, esqueça, Addison é um desastre nessas coisas, eu...

- Por que não? - A indago curiosa, afinal, era apenas tirar os pratos da mesa.

- Addison... - Meredith franziu o cenho, me lançando um sorriso sapeca.

- Filha, nos espere lá fora, esse é um momento de nora e sogra. - Flora falou decididamente e Meredith revirou os olhos.

- Sem revirar os olhos para a sua mãe! - Flora a repreendeu e ela suspirou, saindo da sala.

- Você pode ir me trazendo os pratos na cozinha, minha nora, irei os colocar na máquina.

Assinto, juntando todos os pratos em duas pilhas e os levando até a cozinha, onde Flora já estava vestindo um avental preto de pano com a estampa de um desenho do Homem de Ferro.

Fiz apenas mais duas viagens com os copos e talheres e os depositei no balcão, me sentando em uma banqueta, esperando que ela falasse o que desejava, afinal, eu já a conhecia o bastante para saber que ela não desejava ter a minha presença à sós apenas para a acompanhar a lavar pratos.

- Dividimos o mesmo super-herói favorito - Comento, a fazendo rir.

- Dividimos muita coisa em comum, meu amor.

Assinto.

- Addison...

- Sim.

- Aquela foto...

- Flora, está tudo bem, eu não...

- Não tente mentir para mim, minha nora, é uma grande perda de tempo.

Suspiro.

- Eu sou mesmo a sua nora favorita ou você estava apenas utilizando de meios mais efetivos para puxar o meu saco? - A indago curiosa. Ela riu.

- A única mulher no mundo a quem eu puxei o saco está casada comigo há dez anos, querida, não preciso mais disso. Não possuo motivos para puxar o seu saco, porque eu realmente gosto de você.

Assinto, me servindo de mais vinho e fazendo o mesmo com a sua taça.

- Posso fazer uma pergunta? - A indago, um pouco receosa. Ela assentiu.

- Você acha que... Meredith sente falta dessa mulher?

Ela suspirou, alcançando a sua taça e dando a volta no balcão, se sentando ao meu lado.

- Acho que sim. Mas não... Romanticamente falando. Elas eram melhores amigas, antes de serem... Bem... Um casal. Aurora foi importante para Meredith, muito importante, e isso é inegável. Mas não é porque ela possuiu um significado na vida da sua mulher, que o seu seja menor. Aliás, para mim, é o completo oposto. Eu nunca vi a minha filha olhar para alguém como ela olha para você, Addison.

Suspiro, desviando o meu olhar e me forçando a não acreditar naquilo. Afinal, para Flora, Meredith estava apaixonada por mim.

- Posso fazer outra pergunta? - A indago novamente, resolvendo mudar de assunto.

- Claro.

- Quem é Júlia Stewart?

Flora me encarou rapidamente.

- Por... Que está me perguntando isso?

- Porque em ambas das vezes em que eu e Meredith tivemos o infortúnio de encontrar essa... Ratazana, Meredith saiu extremamente... Abalada.

Flora suspirou, desviando o seu olhar para a sua taça.

- Júlia é apenas uma pessoa amarga e cheia de ódio dentro de si.

- Mas por que esse ódio por Meredith? - Pergunto curiosa.

- Porque ela ainda acredita que Meredith foi a grande responsável por todos os problemas na vida dela. Uma baboseira. Ela mesma estragou com a sua vida.

O que diabos havia acontecido?

- Quando vocês viram essa cobra?

- Ontem. A porra do pai dela faz parte da bancada diplomática de NY, e estava no jantar na Gracie Mansion ontem, junto com ela.

Flora bufou irritada.

- Outro imbecil. Nunca consegui engolir aquele homem.

- Nem eu.

- Como... A Mer reagiu?

Suspiro, ponderando se eu deveria contar ou não sobre os pesadelos e a reação de Meredith mediante aquele encontro.

Mas Flora era sua mãe, que mal havia nisso?

Portanto, após tomar um longo gole de vinho, a contei sobre tudo.

Ela suspirou, puxando os seus cabelos do coque em que havia feito e ficou em silêncio por alguns segundos.

- Eu serei sincera com você, Addison. Por mais que a minha filha tente deixar tudo para trás, isso não vai acontecer. Não dessa maneira, não com ela querendo ignorar absolutamente tudo em que se tange a sentimentos ruins. Mas... Eu verdadeiramente não sei o que fazer. Meredith possui uma ferida aberta, que já está em estado de putrefação à muito tempo, e... Eu não sei até quando tudo isso irá permanecer... Intocável. Porque eu sei que dói. Céus... Eu sou a mãe dela! Eu não vejo a minha filha feliz verdadeiramente há muito tempo, e eu sei, simplesmente sei, que ela sente. E sente muito.

- Mas ela não irá colocar para fora - Murmuro - Nem comigo, e muito menos com ninguém.

- É. Ela não irá.

- Você já considerou a levar à um psicólogo?

- Ela já foi. E falava sobre tudo, menos sobre si. E, quando ele ou ela tentava avançar, ela tinha uma crise e...

- Uma crise?

Ela suspirou.

- Nós não deveríamos estar falando disso - Ela murmurou, no momento em que pareceu perceber que estava falando demais.

- Tudo bem.

- Não me leve à mal, mas isso... A Mer precisa contar, algum dia, eu sei que ela irá.

Assinto, completamente desacreditada daquilo, por mais que eu desejasse, mais do que tudo, que Meredith confiasse tudo aquilo à mim.

- Eu fiz algo terrível esses dias... - Murmuro, não sabendo, exatamente, o porque eu estava falando aquilo para Flora, mas ela apenas... Me parecia ser a pessoa certa para confiar qualquer coisa.

- O que?

- Pedi para que o meu melhor amigo pesquisasse... O que quer que possa ter acontecido com Meredith. Toda a sua vida. Uma... Mulher que ele conhece fez o serviço, e ele me entregou tudo em um pendrive. Ele mesmo não leu. Mas disse que o assunto era sério. Mas eu... Eu simplesmente... Senti como se eu estivesse... Traindo Meredith. Então eu apaguei tudo, hoje, pela manhã. Eu quero que, se um dia eu vier a saber o que ocorreu, que ela me conte porque confia em mim, e não que eu saiba por mim mesma.

Flora ficou em silêncio por alguns segundos, e, sentindo o meu peito se apertar com receio da sua reação, eu a encarei, a vendo me lançar um olhar cheio de... Bem, eu não consegui decifrar ao certo, mas eu sabia que era qualquer coisa que não fosse ruim.

- Eu... Nem sei o que dizer, Addie.

Suspiro.

- Eu sei que se Meredith sequer imaginar que eu cheguei a, sequer, cogitar tudo isso, ela nunca me perdoaria.

- Talvez. Mas porque ela não irá ver o que eu estou vendo aqui, agora. Você... A colocou à frente de si mesma. Isso é... A coisa mais bela em um relacionamento, Addie.

Dou de ombros, desviando o meu olhar.

- Foi algo automático - Respondo, esperando sair daquela conversa desconfortável.

- O que apenas prova ainda mais o seu amor por ela. Olhe, meu amor... - Ela segurou a minha mão com delicadeza e eu a encarei - A minha filha não é uma mulher... Fácil. Ela já passou por muito, Addie. Aquela cabecinha... É uma verdadeira bagunça. E eu sei que pode ser cansativo e... Confuso viver com alguém que simplesmente não se abre. Mas... Se você se permitir... Ter paciência e... Esperar pelo tempo dela... Bem... Eu prometo que valerá à pena. A minha filha é a pessoa mais incrível no mundo para se amar.

Assinto, apertando levemente a sua mão e bebendo o resto do meu vinho.

- Sabe... Nem mesmo Aurora conseguiu um espaço tão grande e significativo no meu coração como você. Espero que saiba que, acima de ser sua sogra, sou sua amiga, e você pode contar comigo para qualquer coisa, meu amor.

- Você também, Flora. Qualquer coisa.

Ela sorriu, assentindo.

- Oh, eu preciso compartilhar com você uma posição sexual incrível que aprendi na yoga essa semana! Vou a ensinar, a Mer irá adorar!

Eu sorri, surpresa pela sua tão abrupta mudança de assunto. Ela e Meredith eram extremamente idênticas.

- Em primeiro lugar, vocês possuem um relativismo sexual ou... Você sabe... Você é a ativa e a minha filha a passiva? Eu realmente espero que a primeira opção, porque eu simplesmente não consigo conviver com a ideia de que a minha filha não aproveite mais desse corpo tão...

- Mamãe!

Viro-me para trás, observando Meredith adentrar a cozinha com uma expressão horrorizada no rosto.

- Por Deus! O que você pensa que está fazendo?!

- Conversando com a minha nora sobre sexo. Por quê?

- Oh... Céus! Addison! Você realmente se ofereceu para a ajudar com a louça para conversar sobre... Sobre... A nossa vida sexual... E com... A minha mãe?

- Ei, eu apenas me ofereci para ajudar, não falei nada sobre isso!

- Pare de ser careta, filha! Addie, um travesseiro por baixo, uma das duas de quatro em cima dele e... Bem, o resto você pode descobrir. - Ergui as minhas sobrancelhas, realmente curiosa sobre aquilo.

- Estou dentro do meu maior pesadelo! É isso, eu estou saindo! Vim apenas pegar mais um pedaço de pudim, mas perdi a fome.

- Você é tão careta, Meredith Montgomery. E daí? A sua mãe transa! Você transa! Nós transamos! O mundo inteiro transa, Meredith! Sexo, o mundo gira entorno de sexo! Isso é...

- Não estou mais ouvindo! - Meredith gritou já afastada da cozinha e Flora gargalhou, me fazendo sorrir.

A cada dia em que se passava eu gostava mais da minha sogra, e a tinha, verdadeiramente, como uma amiga. Estranhamente eu sentia que, com ela, eu poderia ser verdadeira em relação a quase todas as coisas que me incomodavam, e ela não me teceria julgamentos.

Flora Miller me trazia uma sensação extremamente bem-vinda de confiança e conforto.

...

Meredith Montgomery,
Mesma hora;

- Sinto que adentrei ao inferno assim que entrei na cozinha - Comentei, vendo apenas a minha sogra sentada no sofá em que estávamos. - Onde estão Lisa e Ella?

- Ella foi ao banheiro e Lisa foi buscar mais vinho para nós na adega.

Assinto, me sentando ao seu lado novamente e a observando encarar o céu de maneira pensativa. Eu não gostaria de dizer nada, mas eu havia a percebido tão cabisbaixa e aérea durante todo o almoço...

- Sogra?

Ela me encarou, me lançando um sorriso fraco.

- Está tudo bem? - A indago preocupada. Ela assentiu.

- Claro! Está sim, meu amor.

- Você tem certeza?

Ela assentiu, acariciando levemente a minha coxa.

Lisa voltou com mais uma garrafa de vinho e nos serviu novamente. Tia Ella voltou segurando três livros em uma braço e mais quatro em outro, enquanto tentava segurar uma taça em uma das mãos, em uma verdadeira bagunça.

- Aqui, Bizzy! Graças ao universo a minha irmã os tem em casa. Afinal, não somos tão opostas assim como dizem, certo? Sobrinha, chegue um pouco para lá para que eu me sente ao lado da sua sogra, isso! Obrigada, meu... Oh, merda! - Um dos livros caiu e eu rapidamente me abaixei para pegar, no mesmo momento em que ela o fez e acabou desequilibrando a sua taça e deixou o líquido inteiro derramar em cima da minha sogra.

- Oh, meu meu Deus! Bizzy... Meu Deus! Merda... Merda... Merda... Eu... Eu... Meu Deus! Eu sinto muito, eu... Eu posso a ajudar a limpar, eu vou... Eu... Eu posso a emprestar uma roupa, vamos, eu posso...

- Ella, não se preocupe, querida - A minha sogra a tranquilizou, se levantando - Vou pedir para que Flora me empreste outra blusa. Já volto.

Ela se levantou, caminhando até a cozinha e eu a segui.

- Mamãe, pode emprestar uma blusa para a minha sogra? A tia Ella acabou... Bem...

- Oh, céus, Bizzy! Eu sinto muito! A imprestável da Ella é realmente uma desastrada sem limites! Céus! Suba com ela, filha! E a ajude a escolher uma blusa e uma calça, por favor!

Guiei a minha sogra, que me acompanhou calada, até o quarto de Flora, sentindo um pouco de nostalgia ao entrar naquele local, onde, por inúmeras noites, eu havia dormido exatamente no meio daquela cama, entre Flora e Lisa, ou então somente com Flora, antes de Lisa chegar em nossas vidas.

- Por aqui, sogra! - A guiei até o closet e fui até a parte da minha mãe, sempre ao lado esquerdo, e a ajudei a escolher uma blusa preta e uma calça jeans da mesma cor.

A dei espaço para se trocar e saí do closet, voltanto dois minutos depois para pegar as roupas sujas.

- Ei, posso entrar? - A indaguei, ouvindo-a me autorizar.

Ela já vestia as roupas da minha mãe, e apenas as consertava na frente do enorme espelho do closet.

- Posso a ajudar com a blusa? - A indago, vendo-a assentir me lançando um sorriso.

Me aproximei, consertando a amarração da blusa e a arrumei devidamente, passando, assim, para as mangas curtas nos ombros.

Mas, assim que o meu olhar pousou sobre o seu braço, senti a minha garganta secar.

- Sogra... O que é isso? - Murmurei preocupada, tocando o ponto roxo exatamente em cima do seu bíceps.

- Nada, não é nada, meu amor - Ela respondeu rapidamente, colocando o seu blazer novamente. - Vamos descer?

- Sogra, o seu braço... Está... Está roxo e...

- Não é nada.

- Sogra...

- Meredith, não é nada. Eu apenas bati no box do banheiro enquanto tomava banho. Não foi nada demais. Agora vamos.

Ainda um pouco assustada, demorei a processar a sua resposta, mas, assim que encarei o seu rosto tão sem brilho e tão... Triste, pareci ser trazida de volta a realidade e apenas assenti, sem mais saber o que falar ou fazer.

- Vamos. Vou colocar as suas roupas para lavar e... A minha mãe as leva para a Academia essa semana, eu as devolvo.

Ela assentiu, saindo do quarto à minha frente.

Aquilo realmente havia sido um machucado acidental?

O que estava acontecendo com a minha sogra?

Assim que voltamos à área externa, Addison e Flora já estavam lá, sentadas no mesmo sofá, enquanto conversavam entre si.

Me dirigi até elas, assim que Bizzy se sentou ao lado de Ella e as duas começaram outra conversa.

Suspirei, ainda preocupada com a minha sogra e me sentei no apoio do sofá, ao lado de Addison.

- Tudo bem? - Ela me indagou e eu suspirei, resolvendo não comentar nada, pelo menos não ali, naquele momento.

A ruiva passou o seu braço pela minha cintura e o apoiou na base das minhas costas, eu repeti o seu ato com o seu pescoço e me propus a apenas observá-la conversar com a minha mãe, tendo perdido todo o meu ânimo para participar da conversa, tendo aquela imagem daquele machucado na minha sogra pulsando no meu consciente de maneira insuportável.

...

Às seis da tarde eu e Addison nos despedimos das nossas mães e da tia Ella, resolvendo ir para casa, pois a ruiva possuía algumas coisas para resolver.

Após a minha mãe implorar a Bizzy, ela aceitou fazer parte de uma noite de filmes com as Miller e, assim, iria para casa apenas mais tarde.

Eu e Addison descemos juntas até o carro e a ruiva abriu a porta para mim, entrando logo em seguida.

Após cinco minutos dirigindo, eu resolvi a indagar sobre algo que confirmasse, ou não, o que a minha visão no braço da sua mãe havia significado.

- Addison?

Ela assentiu, encarando a pista, mas sinalizando que estava ouvindo.

- O capitão está em casa esses dias?

- Chegou essa semana, por quê?

- Nada... Nada não.

Ela me encarou, mas não perguntou mais nada.

Suspirei, resolvendo tentar esquecer aquilo. Afinal, isso poderia ser apenas coisa da minha cabeça. O meu sogro parecia ser um homem doce e gentil. E não um covarde.

- Estou com vontade de comer comida japonesa - Comento, após alguns segundos calada, resolvendo calar o meu consciente sobre aquele assunto.

- Podemos ir em um restaurante mais tarde, se você quiser.

- Ah, não... Quero comer em casa. - Murmuro preguiçosamente, me recostando no banco, fechando os meus olhos.

- Pesquise um delivery próximo - Ela respondeu apenas.

E, somente naquele momento eu percebi o quanto ela havia ficado extremamente distante comigo durante todo o almoço. Abri os meus olhos novamente, a encarando.

- Addison?

- Hum? - Ela murmurou, apoiando o seu braço na janela fechada do carro, enquanto parava em uma fila de engarrafamento no centro da cidade.

- Você está bem? - A indago preocupada.

Ela assentiu.

- Pesquise o restaurante.

- Meu celular está descarregado.

- Pegue o meu.

Suspiro, pegando o seu celular dentro da minha bolsa e o aponto para o seu rosto, desbloqueando no mesmo instante.

No mesmo momento, a notificação de uma mensagem de Amélia apareceu e, mesmo que eu não desejasse ver, era impossível, pois o conteúdo apareceu juntamente com ela.

"A Mer está melhor? Consegui amansar o Théo e ele convenceu os acionistas de que você precisou cancelar por problemas pessoais. Me mantenha informada, vou aproveitar o meu dia de folga. Te amo."

Franzi o cenho, relendo a mensagem novamente, para garantir que eu havia a entendido.

Se eu estava bem? Cancelado por problemas pessoais?

Addison havia cancelado a reunião por causa de mim?

Isso não era possível, afinal, ela havia me dito que precisaria de Amélia e...

Sinto o meu peito instantaneamente se aquecer, em uma intensidade imensa de... Amor?

Sim. Amor. Por aquela mulher.

Era óbvio que ela estava mentindo pela manhã. Eu conhecia Addison, ela era uma péssima mentirosa, principalmente para mim.

Mas... Não era possível, era? Addison não iria deixar de trabalhar por um simples... Surto idiota meu.

Certo?

Por mais que tudo me levasse a acreditar que sim, ela havia feito isso, eu simplesmente não conseguia acreditar por completo naquilo.

Afinal, por que ela cancelaria uma reunião tão importante por causa de... Mim?

Addison havia cancelado uma reunião importante por causa de mim?

Addison havia abdicado do trabalho por... Mim?

- Conseguiu? - Ela me indagou, tirando-me dos meus pensamentos tão confusos.

Abro rapidamente o navegador e busco por um restaurante japonês que fizesse entregas e, assim, abro o cardápio.

- Ok, vamos começar a guerra - Falo sorrindo para ela, sentindo, ainda, o meu peito aquecido. - O que você quer?

- Salmão grelhado e... Eu não sei, costumava pedir niguiri de camarão, mas... Bem.

- Você pode comer - dou de ombros - Apenas não vai poder me beijar. Coloque na balança o que é mais importante.

Ela suspirou.

- Sashimi, salmão grelhado e ceviche. Peça molho ponzu extra.

- Eca! - Exclamei em completo nojo, pois aquela mistura, com aquele molho, era realmente... Sem graça e esquisita.

- O que? - Ela me indagou confusa.

- Nada, você apenas é estranha.

- Obrigada pela ofensa gratuita - Ela respondeu, ainda focada no trânsito.

- Não estou a ofendendo, meu bem. Eu gosto da sua estranheza. - Falo delicadamente, pousando a minha mão na sua coxa, e passando a acaricia-la enquanto escolhia o meu combo. - Qual é mesmo o número da nossa casa? - A indago confusa.

- Por Deus, Meredith... 103.

- Obrigada pela paciência - Respondi irônicamente, fazendo o pedido. - Pronto. Marquei a entrega para ás oito.

Ela assentiu.

- Posso fazer uma pergunta?

Ela assentiu novamente.

Suspiro, me virando completamente para ela, sentindo-me um pouco insegura pelo seu silêncio.

- Está... Tudo bem mesmo? Estou sentindo você distante... Eu... A assustei nessa madrugada? Eu sinto muito, Addison, eu...

- Meredith - Ela parou em um sinal e me encarou, suspirando. - Eu estou bem.

- É que...

- Que?

- Nada, esquece - Murmuro desviando o meu olhar, um pouco envergonhada. Por que ela estava tão distante? Onde estavam as piadinhas? As nossas brincadeiras de sempre? Eu havia feito algo?

- Meredith... Me fale.

Suspiro.

- Não é nada, eu só... Eu não sei, você está mais calada do que o normal. Eu apenas achei que...

- Que tinha feito algo.

Suspiro, encarando a minha janela.

- Você não fez. Estou apenas com dor de cabeça. Preciso de um banho e vestir uma roupa confortável.

Sinto o meu peito apertar-se em uma preocupação insuportável, afinal, aquelas suas sensações de mal estar não eram nada normais.

- Tudo bem. Você poderia, por favor, não trabalhar agora de noite? Você está cansada e precisa dormir. E eu não gosto de a ver sentindo dores que sei que são causadas pelo seu cansaço. Sei que estou pedindo demais, mas... Nós podemos apenas... Ver a nossa série e dormir? Por favor?

Ela suspirou, prendendo os seus cabelos em um coque bagunçado, mas assentiu, acelerando novamente com o carro.

- Tudo bem.

...

Addison saiu do banho exalando o cheiro tão fresco e delicioso o qual eu já estava mais do que acostumada. A ruiva vestia uma camisola de seda preta e um robe aberto da mesma cor por cima, e possuía seus cabelos presos em um coque mal feito.

- Vamos comer porque parece que há mil mini Meredith's dentro da minha barriga implorando por comida japonesa! - Falei animada, me levantando da cama e indo até a mesa, onde Miranda havia arrumado anteriormente para que pudéssemos comer, pois eu realmente não estava afim de descer, e muito menos Addison.

- Não consigo imaginar Meredith's menores do que você.

Reviro os meus olhos sorrindo, nem tanto pela piada boba, mas por ela parecer menos fechada.

- Ok, eu tenho uma pergunta! - Falo, me sentando à mesa, apoiando um pé na minha cadeira, graças ao conjunto de baby doll de short que eu usava. Peguei a minha taça de vinho a qual ela havia acabado de me servir e bebi um pouco, sentindo o gosto delicioso em meus lábios.

- Não, Meredith, eu não irei deixar que você coma torta de morango no almoço.

Eu ri, chutando o seu pé por debaixo da mesa.

- Engraçadinha! Até parece que você saberia caso eu resolvesse comer torta de morango no almoço.

- Isso é um desafio? - Ela me indagou, elevando a sua sobrancelha em dúvida.

- Não, Meritíssima! Agora preste atenção...

- Humm - Ela murmurou manuseando os hashis.

- O que você prefere... Passar o resto da sua vida sem sexo, ou o resto da sua vida sem vinho?

Ela suspirou, encarando o teto por alguns segundos.

- Depende.

- De quê?

- Diversos fatores.

- Exemplo?

- Que tipo de sexo estamos falando?

- Há tipos de sexo? - A indago curiosa.

- Claro que há! Eu nunca escolheria um sexo sem graça com uma qualquer acima de um vinho francês de altíssima qualidade.

- Ok, o melhor sexo do mundo.

Ela suspirou.

- Depende.

- Ah, Addison! Não é assim que se joga! - Murmurei, jogando a minha cabeça para trás, entediada, fazendo um bico.

- Em que tipo de universo alguém irá apontar uma arma para a minha cabeça e me fazer escolher entre sexo e vinho, Meredith?

- Desisto. Você é a pessoa mais estraga prazeres que já pisou na face dessa terra!

- Se é tão fácil assim, responda-me.

Mordo o meu lábio inferior, pensando um pouco.

- Que tipo de sexo? - A indago.

- Sexo comigo. Sexo comigo para o resto da sua vida, ou... - Ela me lançou um sorriso diabólico de lado, se ajeitando na cadeira - Sexo com uma das suas ex'es para o resto da sua vida.

- O quê? - Rio, engasgando-me um pouco com o vinho, surpresa com aquela condição inusitada. - Uma das minhas ex'es? Que coisa maluca é essa?

- Apenas responda.

Aquela era uma pergunta injusta, não porque eu precisava pensar ou porque eu possuía ex'es mais incríveis na cama do que Addison. Mas sim porque aquela ruiva descarada simplesmente teria o seu ego elevado para o resto do ano.

- Depende da ex - Falo dando de ombros, apenas para a provocar - Sua condição é muito abrangente.

- Vamos restringir então. Aquela mulher que Flora citou no dia em que veio jantar aqui.

- Que mulher? Isabel? Aurora? - A indago confusa.

- A segunda.

Franzo o meu cenho, um pouco curiosa em relação àquela pergunta em específico, mas resolvo não externalizar a minha curiosidade. Mas, afinal, por que Aurora?

- Eu sequer me lembro direito como era o sexo com Aurora - falo dando de ombros.

- Então você deseja lembrar?

Franzo o cenho, sem entender o sentido daquela frase.

- Não, eu não disse isso. Eu disse que não entendi a sua comparação, porque fazem anos que eu sequer ouço esse nome. O que está acontecendo com você, Addison? - A indago confusa.

- Ok - Ela respondeu apenas, bebendo o seu vinho.

- Addison... Por que me perguntou isso? - A indago novamente, realmente curiosa.

- Para entrar na sua brincadeira.

- Você foi bem mais longe.

- Você não me disse as regras. - Ela rebateu friamente, desviando o seu olhar.

Suspiro, negando com a cabeça.

Por que Aurora?

- Bem, respondendo à sua pergunta sem regras, você. Dentre todas as outras, não somente Aurora. Agora você pode ter o seu ego elevado para o resto do ano.

- Não.

Eu a encarei, colocando uma peça de sushi na boca.

- Não?

- Não. O que me garante que você está sendo sincera?

- A minha palavra? - A indago, sem entender absolutamente nada sobre aquele assunto. - Relacionamentos normalmente funcionam assim. Você diz algo e a outra pessoa acredita.

- Talvez seja por isso que eu não sou adepta a eles.

Aquilo me atingiu como um soco no estômago, e, rapidamente, eu me senti perder completamente a fome.

- Justo - Murmurei de maneira amarga, engolindo, com dificuldade, o sushi na minha boca.

Bebi o resto do meu vinho e me levantei, depositando o meu guardanapo sobre a mesa.

- Com licença.

Me dirigi até o banheiro e, sentindo a minha garganta arder em uma agonia de choro preso insuportável e um amargor em que eu há muito tempo não sentia, lavei o meu rosto, escovei os meus dentes e fiz a minha rotina de skincare.

Assim que saí do banheiro, visualizei a mesa já limpa e Addison sentada na cama. Dei a volta na mesma, me sentando ao meu lado e liguei o meu abajur.

A ruiva se dirigiu até o banheiro e eu, evitando pensar naquela sua frase idiota e nos efeitos que havia causado em mim, abri o meu livro, resolvendo me entreter nele até o meu sono chegar.

Addison voltou ao centro do quarto novamente e se sentou ao meu lado, desligando as luzes principais do quarto e ligando a TV.

- Não quer assistir a nossa série?

Suspiro, utilizando de um grande esforço para não me deixar amolecer por aquele seu lado atencioso.

- A TV está no mesmo lugar de sempre - Falo dando de ombros.

- Meredith...

Suspiro novamente, mantendo o meu olhar focado no meu livro.

Os meus olhos se fecharam automaticamente quando senti o nariz da ruiva se encostar ao pé do meu ouvido, cheirando aquele local intensamente.

- Eu acredito em você. - Ela sussurrou ao meu ouvido, depositando um beijo terno no meu pescoço.

- O que me garante isso? - Respondo, realizando grande esforço para não amolecer por aquele gesto tão carinhoso seu.

- A minha palavra.

- Bem... Isso não é um relacionamento. - Murmuro de maneira ácida.

Ela se afastou e eu, enfim, pude respirar em paz, mesmo sentindo o meu peito se apertar por ter a tratado daquela maneira.

- Relacionamento: capacidade de relacionar-se, de manter relações com alguém de mesmos interesses e objetivos. Parece bastante com o que temos, ou seja, de acordo com o Google, você está errada.

Mordo o meu lábio inferior, contendo um sorriso.

- Bem, não fui eu quem disse isso. - Falei fechando o meu livro e a encarei - Então você está errada. Eu apenas estou errada por consequência.

- Não coloque palavras na minha boca. Eu disse que não era adepta a eles, e não sou. Mas tenho você, Alex, a minha família e... Bem... Flora.

Sem mais conseguir conter-me, a lanço um sorriso verdadeiro, sentindo o meu coração pulsar fortemente diante da última frase.

- Flora?

- Sim, nós somos amigas agora.

- Humm, entendi. - Murmurei, realmente feliz em ouvir aquilo. Afinal, quem diria. Eu havia chegado a pensar que Flora odiaria Addison.

- Me desculpe por ter sido rude. - Addison falou se aproximando e eu assenti, a lançando um sorriso.

- Tudo bem. Me desculpe por ter a feito escolher entre vinho e sexo.

- Foi uma péssima escolha a ter que ser feita, me senti tão pressionada quanto um réu primário em tribunal.

Eu ri, me esticando e selando os meus lábios aos seus demoradamente, sentindo a sua mão tocar o meu pescoço de maneira carinhosa.

- Vamos assistir? - Ela me indagou e eu assenti, tirando os meus óculos e me deitando ao seu lado, inibindo toda a minha vontade de me aconchegar aos seus braços e ouvir as batidas do seu coração, que tanto me fascinavam, novamente.

Mas eu não poderia me deixar esquecer que aquele ato de Addison foi motivado apenas em função da minha vulnerabilidade momentânea.

Não iria se repetir, eu precisava entender isso.

- Na sua opinião, qual será o crime de hoje? - Ela me indagou curiosa.

- Hummm, não faço ideia, mas espero que seja algo bem sangrento. Gosto quando tem muito sangue.

- E eu sou a esquisita dessa relação - Ela murmurou se deitando e ligando a TV.

- Você pode não admitir, mas adora a minha estranheza - Comento, abraçando o meu travesseiro.

- É o que você diz.

- Eu tenho certeza - Respondi começando a prestar atenção junto a ela, para, alguns minutos depois, já começar a sentir os meus olhos pesarem em um sono insuportável.

Porém um medo inesperado de sonhar com coisas indesejadas novamente me assolou, portanto, eu fiz questão de lutar contra o sono, mesmo que os meus olhos já doessem de cansaço.

- Está acordada ainda? - Ela me indagou e eu apenas assenti. - Está tudo bem?

Suspiro, negando com a cabeça, afinal, eu não possuía motivos para mentir para ela.

- Está com medo?

Assinto.

Ela suspirou e, sem que eu esperasse, se aproximou e pousou a sua mão sobre a minha cabeça, começando a acariciar os meus cabelos.

- Você não precisa sentir. Estou aqui, ok? Pode dormir. Caso eu a sinta mais agitada prometo que irei a acordar.

- Mas você precisa...

- Shhh... Eu estou bem. Durma, querida.

Sem conseguir, sequer, abrir a minha boca novamente para a contestar, devido a sensação de extrema proteção que aquele carinho me trouxe, apenas fechei os meus olhos e suspirei, me deixando entrar em um sono tranquilo e sem pesadelos, graças a Addison.

...

Meredith Montgomery,
Uma semana depois;

- Meredith, por Deus, é apenas um jogo! - Addison murmurou já impaciente sentada no puff do quarto, vestindo um robe preto e com os cabelos já secos, pois tinha acabado de sair do banho.

- Não é apenas um jogo! Agora por favor fique calada e me deixe terminar de escolher as nossas roupas!

Ela bufou irritada, mas se calou.

- Por que você é tão difícil de se vestir casualmente? Não há um sapato descente sem salto no seu closet! Preciso resolver isso! Amanhã irei ao shopping fazer uma compra imensa de roupas casuais para você!

- Meredith... Por favor! - Ela murmurou entediada.

- Calada, por favor!

Ela bufou novamente.

Suspirei, alcançando uma t-shirt preta e lisa para ela, uma mom jeans de lavagem clara e uma jaqueta de couro preta por cima, por fim, escolhi um lenço preto meu e os mocassins pretos dela.

- Pronto, pode se vestir.

Ela se levantou, vindo até mim e tirou o seu robe, ficando completamente nua e vestiu a lingerie que eu também havia escolhido, me fazendo sorrir no instante em que ela colocou.

Eu adorava a ver vestindo calcinhas de tamanho tão mínimo que quase não cobriam nada.

- Gosta do que vê, senhora Montgomery? - Ela me indagou, me encarando pelo espelho.

- Mais do que a senhora possa imaginar, senhora Montgomery - Falo me aproximando e depositando um beijo em seu ombro nu.

- Não me faça desejar nos atrasar para esse jogo.

- Nem sonhando! Quero entender tudo, e para entender tudo precisamos estar lá no início! - Falei me afastando, a vendo revirar os olhos e vestir a sua roupa.

Rapidamente escolho para mim um macacão curto e branco, de alcinhas, e sandálias de salto grosso, mas de tamanho tão mínimo que sequer mexiam na minha altura natural.

Os vesti e fui até a minha penteadeira, prendendo os meus cabelos em um rabo de cavalo baixo, com alguns fios soltos ao meu rosto. Passei apenas um gloss e coloquei alguns anéis nas mãos, entregando a Addison um colar para que ela me ajudasse a colocar.

A ruiva o fez calmamente e depositou um beijo terno no meu pescoço, me fazendo sorrir imediatamente.

Ela se dirigiu até a sua penteadeira e prendeu os seus cabelos em um coque alto, com alguns fios soltos.

Fui até o centro do quarto e arrumei rapidamente a minha bolsa, colocando os meus óculos de grau no rosto para que eu pudesse enxergar melhor o placar e as jogadas.

Addison terminou de se arrumar e me entregou a sua carteira e o seu celular para que eu guardasse na minha bolsa e, então, juntas, nós descemos e eu me despedi de Miranda, saindo junto a Addison.

Warren já nos esperava lá embaixo, em frente a Mercedes que eu normalmente gostava de usar.

E, então, uma ideia inusitada me atingiu naquele momento.

- Pode me dar as chaves, Warren - o pedi e ele fez no mesmo instante. Addison me encarou confusa e eu abri a porta do passageiro para ela - Hoje eu dirijo, meu bem.

Ela elevou o seu cenho, parecendo realmente surpresa, mas, para a contradição do que achei que ela faria, ela apenas adentrou o carro.

Eu sorri, fechando a porta e dei a volta, tendo a do motorista aberta por Warren.

- Obrigada, Warren! - O agradeci, adentrando o carro - Como se sente, Meritíssima? Pois a senhora será guiada hoje pela melhor motorista de New York!

- Aliviada, pois o trânsito para o estádio deve estar insuportável, e você acaba de me livrar de gastar todos os meus palavrões no trânsito, ao invés de no jogo. Então, até agora, me sinto ótima.

A encarei, sem acreditar em tamanha descaração. Era óbvio que havia um motivo para que ela tenha aceitado que eu dirigisse.

- Coloque o seu cinto e pegue o meu celular para me guiar pelo GPS até a casa de Alex.

Ela o fez e eu dei partida, vendo, pelo retrovisor, Warren fazer o mesmo atrás de mim.

- Sua senha - Ela me apontou o celular para que eu desbloqueasse.

- 1956 - Respondo, focando a minha visão na pista do condomínio.

- O que significa?

- O ano de nascimento do meu nonno.

Ela apenas assentiu, colocando o meu celular apoiado no painel do carro e esticando o seu braço, apoiando a sua mão no recosto de cabeça do meu banco.

- Ok, eu não faço a mínima ideia de para quem eu deveria torcer - Falo sorrindo.

- Para os Knicks, é claro! - Ela falou em um tom de voz ofendido.

- Me dê motivos - Falo elevando as minhas sobrancelhas.

- Você é uma Montgomery. Esse é o motivo. Nenhum Montgomery, nem mesmo Mark, sequer teve a audácia de pensar em torcer para os Mets.

- Bem, eu também sou uma Machetti, e o meu nonno me deserdaria da família se descobrisse que eu torci para os Knicks em um jogo.

- Seu avô torce para os Mets? - Ela me indagou, parecendo decepcionada.

- Sim. E a nonna para os Knicks. Era sempre um caos quando víamos os jogos juntos. Eles são, ambos, muito competitivos.

- Bem, o seu avô deveria viver triste então, porque a única coisa que o time dele sabe fazer é perder.

Rio.

- Diga isso para ele e ganhe o ódio dele para o resto da sua existência.

Ela suspirou.

- Ele será o primeiro e único torcedor dos Mets que eu respeitarei.

- Fico feliz por isso - Respondo sorrindo. - Ok, mas o que eu ganho, exatamente, se eu, por um acaso, resolver trair o homem mais importante da minha vida e torcer para os Knicks? - A indago, sorrindo travessa.

Senti a sua mão tocar o meu pescoço e acaricia-lo com as pontas das suas unhas curtase suspirei, contendo a imensa vontade de fechar os meus olhos.

- Podemos conversar sobre isso mais tarde.

Sorrio, mordendo o meu lábio inferior, parando em um sinal.

- Agora estamos falando a minha língua. Eu acho que deveríamos parar em um fast food para comprar Milk shakes para tomar durante o jogo.

- Meredith, é um jogo, não uma sessão de cinema.

- E daí? Você ainda não presenciou o meu senso competitivo! Se quer me ver feliz torcendo para o seu time, me alimente!

Ela suspirou, mas assentiu.

- Há um ao lado do estádio.

Assinto, acelerando com o carro novamente, assim que o sinal abriu, contendo uma série de sorrisos por todo o trajeto ao sentir a mão quente de Addison pousada no meu pescoço.

Assim que virei na esquina do prédio de Alex, estacionei em uma vaga livre e desliguei o carro.

- Meredith... - Addison me chamou a atenção e eu a encarei, tirando o meu cinto.

- Sim?

- Antes que... Você conheça Luke... Quero que saiba de algo.

Assinto, estranhando a sua feição tão séria.

Ela suspirou.

- Não quero que se assuste. Ele... Possui um tumor no cérebro, desde que nasceu, mas descobriu aos três anos. E... Bem... As suas funções são um pouco limitadas por causa disso. Ele não consegue andar e... Bem... Está um pouco fraco. Eu...

Um pouco surpresa e sentindo o meu coração se apertar dentro do peito, assinto, tocando a sua coxa e sorrindo fraco para ela, sentindo uma sensação terrível me toma pela tristeza evidente na sua voz.

- Tudo bem. Isso não irá me assustar.

Ela assentiu e abriu a porta do carro, eu fiz o mesmo, descendo dele junto a ela, que entrelaçou a sua mão a minha.

Juntas, nós adentramos o prédio e o elevador, que nos levou até o décimo segundo andar.

A ruiva tocou a campainha e, em poucos segundos, a porta fora aberta por uma senhora que parecia estar com cinquenta anos, ou um pouco mais.

- Addison, querida! Como vai?! - Me surpreendi ao vê-la abraçar Addison desajeitadamente.

- Bem, senhora Karev, e a senhora? - Addison respondeu educadamente.

- Igualmente, querida.

- Essa é Meredith, minha esposa. Querida, essa é Helen Karev, mãe de Alex.

- É um prazer, senhora Karev - A cumprimento com um abraço carinhoso.

- O prazer é inteiramente meu, minha querida! Addison não estava brincando quando disse que você era extremamente linda!

Sorrio, sentindo as minhas bochechas esquentarem.

Addison havia a dito que eu era extremamente bonita?

- Obrigada, senhora Karev!

- Entrem, meus amores, entrem!

Eu e Addison adentramos o apartamento de tamanho médio, mas espaçoso.

Então era ali que o seu melhor amigo tecnicamente morava, pois ele mais morava na nossa casa do que em outro lugar.

Olhei rapidamente ao redor, observando vários desenhos colados à uma parede e sorri imediatamente, me aproximando dela.

Luke era um ótimo desenhista!

Eu ri, sentindo o meu coração se aquecer em amor assim que os meus olhos pousaram sobre um desenho de cinco pessoas juntas e, desejando entender melhor a sua letra que sinalizava cada uma delas, eu me aproximei mais.

"Papai, Tio Carter, Vovó, Luke e tia Addie". Sorri, ao ver uma mulher de palitinho de cabelos vermelhos, segurando um martelo em mãos. Era Addison, e estava ao lado do seu pai, que estava de terno e gravata, os dois estavam de mãos dadas, e Luke estava ao lado de Addison, em uma cadeira de rodas, com a mão unida a dela também.

Acima, havia uma legenda escrito: "Família do Luke".

Sem sequer me dar tempo de processar aquilo direito, ouvi um grito ecoar na sala e me virei, vendo o garotinho correr até nós em cima da sua cadeira de rodas motorizada.

- TIA ADDIE!

Sentindo o meu peito se inundar de amor, visualizei uma cena a qual eu nunca imaginaria ver, em toda a minha vida.

Addison se abaixou e estendeu os seus braços, parando a cadeira e beliscando o seu nariz.

- Oi, seu monstrinho bagunceiro! - Ela murmurou para ele, sorrindo.

- Me dá aqui um abraço! - Ele falou estendendo os seus braços e ela revirou os olhos, o tirando da cadeira e o pegando no colo.

- Eu não deveria, pois você sabe que eu não gosto de tocar nesse trapo que você chama de camisa de time.

Ele riu e a abraçou, ao que me pareceu, com força pelo pescoço.

- Ai! Você quer me sufocar, tampinha? - Ela murmurou contra os cabelos dele.

Ele riu, deixando um beijo na sua bochecha.

- Estava com saudades!

- Fazem menos de duas semanas que não nos vemos, garoto.

- Se a senhora é uma chata insensível, eu não me importo! Mas eu senti a sua falta!

Ela revirou novamente os olhos e eu, sentindo, estranhamente, os meus olhos marejarem diante de tamanha cena... Inusitada, sorri, sentindo o meu peito parecer desejar explodir de mais amor por aquela ruiva.

- Ok, tampinha, tenho alguém que quero que conheça.

Ele me encarou e eu ri, assim que vi os seus olhos cerrarem e ele me lançar um sorriso iluminado de duas covinhas absurdamente lindas.

- Eu vi, e acho que já tô apaixonado!

- Ei! - Addison o cutucou na barriga e ele riu, abraçando o seu pescoço - Mais respeito comigo!

- Me coloca na Stark, tia Addie!

Addison, cuidadosamente, o colocou de volta na cadeira e ele, me surpreendendo, a guiou rapidamente até mim.

- É um prazer, senhora - Ele estendeu a sua mão e eu a minha, vendo-o a segurar e a levar até os seus lábios, a beijando carinhosamente.

- Mas que garotinho mais cavalheiro! Acho que estou apaixonada! - Falo rindo.

- HÁ, chupa essa, tia Addie! - Ele exclamou animado, se virando rapidamente para Addison.

Eu gargalhei, vendo Addison bufar e ele sorriu, me lançando uma piscadela.

- Não liga, Meredith, eu adoro encher a paciência da tia Addie, você não acha que ela fica muito fofa estressada?

Eu ri.

- Eu concordo imensamente com você, pequeno. As bochechas rosadas a deixam parecendo um bebê raivoso, não acha?

Ele gargalhou, assentindo.

- E o prazer é inteiramente meu, Luke - Falei beliscando a sua bochecha.

Ele sorriu.

- Você é ainda mais linda pessoalmente, e ainda mais baixinha também.

Eu esbocei surpresa, elevando as minhas sobrancelhas.

- Está mesmo me chamando de baixinha?! E eu achei que você era o oposto daquela ruiva chata ali! Estou ofendida, Luke Karev!

Ele riu, tirando os seus cabelos lisos dos olhos.

- É que a senhora realmente parecia mais alta, fica do lado da tia Addie.

Eu o fiz.

- É, a senhora parecia muito mais alta!

- Isso se chama salto alto, Luke. - Addison comentou e eu a cutuquei com o meu cotovelo.

- Não sou baixinha, a sua tia Addie que é um poste! - Me defendo, cruzando os meus braços. - Tenho um e sessenta, é uma altura normal.

- Ah, mas isso é verdade mesmo, a tia Addie é um poste. Mas você não tem um e sessenta, Meredith, sinto muito.

- O.. Quê? Como assim não? É claro que eu tenho!

Ele riu.

- Olha pra trás.

Eu o fiz, vendo uma enorme fita métrica infantil desenhada na parede. E eu estava exatamente no... Um e cinquenta e sete?!

Ouvi o som de um riso abafado ao meu lado e encarei Addison, que segurava um sorriso.

- Não acredito que fui humilhada por uma criança de... Quantos anos?

- Sete, senhora Montgomery, o mesmo último número da sua altura.

Reviro os olhos, contendo um sorriso e puxei Addison para perto da fita, a vendo bater exatamente em 1,75.

- Está vendo? Um poste!

- Aceito a sua inveja, senhora anão de jardim! - Ela comentou, fazendo Luke gargalhar.

- Isso pode ser considerado como ofensa!

- Apenas se você tiver algo contra anões, mas aí você estaria sendo uma anãfóbica. - Luke falou dando de ombros - Odiar anãos é tão sério quanto odiar o Papai Noel. Na verdade... Mais sério, porque o Papai Noel não existe.

- Ei, não fale assim! - O peço, um pouco magoada, relembrar que o Papai Noel realmente não existia ainda era um trauma de infância.

- Ah, a tia Addie cortou todo o meu barato. Ela simplesmente me contou que ela que comprava os meus presentes de natal maneiros e sempre mandava um segurança vir trazer depois que eu dormia. E os meus dentinhos da fada do dente? HÁ! Ela pedia para o papai pegar de madrugada e o dava dinheiro para colocar debaixo do meu travesseiro. Enfim... Seja bem-vinda à minha infância traumatizada pela sua esposa, Meredith.

Eu encarei Addison, horrorizada.

- Você é tão insensível!

Ela deu de ombros.

- É porque você não sabe o trabalho que era fazer esse garoto acreditar nessas historinhas idiotas. Ele vivia fazendo perguntas como: "Como a fada do dente consegue tanto dinheiro assim se ela não é um ser humano e não trabalha?"

- Está me culpando por não ser burro, tia Addie?

- Estou apenas compartilhando o quanto você é uma criança difícil, Luke Karev!

- Você sempre me disse que iria tolerar qualquer coisa, menos que eu me deixasse ser enganado por outras pessoas.

- Pare de ser tão adulto ao usar as minhas próprias palavras contra mim! - Addison falou revirando os olhos e eu sorri, encantada com aquele seu lado tão... Infantil.

- Humm, tá bem. Meredith, você tem um apelido? Acho muito sério te chamar de Meredith.

Eu sorri.

- Me chame apenas de Mer então, pequeno.

- Ok, Mer!

- Vamos amarrar esse cadarço, tampinha - Addison falou se ajoelhando diante dele e amarrando os cadarços do seu all star preto. - Onde está a sua touca?

- Não tô com frio.

- Mas você sabe que não pode, sequer, sonhar em ficar doente.

Ele surpirou.

- Tá no meu quarto.

- Vou pegar e aproveitar para apressar a madame que você chama de pai.

Luke riu.

- A sua mochila está arrumada?

- Sim, tá na minha cama.

Addison assentiu, se dirigindo até o corredor.

- Então, Mer, me diz, como é suportar a tia Addie todos os dias?

- É uma tarefa árdua, Luke - Falei me sentando no sofá - Me exige muita paciência e força de vontade. A sua tia Addie é insuportável quando quer.

- Até quando não quer - Ele falou se aproximando. - Quer jogar comigo?

- Claro! O quê?

Ele guiou a sua cadeira até o painel da TV e a ligou, pegando dois controles.

- Aqui.

- Vamos fazer o seguinte, se você ganhar, eu te pago um pote imenso de sorvete. - Ele sorriu alegremente - Mas se eu ganhar, você terá que torcer para os Knicks.

Ele riu.

- Mas nem morto!

- Por que não?

- Porque eu tenho uma honra a zelar! Sabe por quanto tempo eu seria zoado pela tia Addie? Anos! O ego dela atingiria o tamanho do universo! Me desculpe, Mer, mas não disputamos honra!

- Ok, ok! Você tem razão, nem eu suportaria.

- Vamos fazer assim: se eu ganhar, você me dá um pote imenso de sorvete de morango com jujuba e calda, mas se você ganhar, o que eu acho difícil, eu te conto um segredo da tia Addie.

- Um segredo? Que tipo de segredo? - O indago curiosa.

- Você vai descobrir se me ganhar - Ele me lançou uma piscadela.

Eu sorri, cerrando o meu olhar.

- Aceite a sua derrota, tampinha!

- HÁ! Vamos ver quem é o perdedor aqui, e tampinha é você, senhora um metro e cinquenta e sete!

- Ei, isso foi ofensivo! - Falei em um tom indignado, segurando um sorriso. Seria possível que eu já estivesse completamente rendida por aquele garotinho?

Ele riu, iniciando o jogo e eu, que tanto era uma pessoa competitiva, comecei a me estressar por não conseguir acelerar o meu carro tanto quanto ele.

- Você está roubando! - Exclamo irritada.

- Você que é ruim mesmo!

- Garotinho metido!

- Tampinha perdedora!

- Eu vou acabar com você!

- Não se eu acabar com você primeiro - Ele revidou, batendo no meu carro e tomando ainda mais a minha frente.

Me sentei na ponta do sofá, acelerando com aquele carro como se a minha vida dependesse daquilo.

- Adeus, Mer! - Ele falou passando pela linha de chegada e eu soltei um grunhido irritada, jogando o controle no sofá.

- Você roubou! - Falei irritada.

- Você é péssima, foi moleza. Prepare-se para me pagar um balde enorme de sorvete, loirinha perdedora!

- E eu achei que iria gostar de você, garotinho metido!

- Você já me ama!

Eu ri, revirando os meus olhos.

- Convencido, igualzinho a sua tia Addie.

- Eu sou o orgulho daquela ruivinha.

Sorrio, negando com a cabeça e, ao me sentir observada, virei-me para trás, vendo Addison parada no batente do corredor, de braços cruzados, nos encarando, com um mínimo sorriso de canto nos lábios.

- Que bom que está aí, pôde presenciar esse tampinha me roubando!

- Regra número um, nunca aceite jogar esse jogo em específico com ele, ele sabe um truque nerd que eu o ensinei para aumentar a velocidade do carro.

Eu encarei Luke, horrorizada.

Ele deu de ombros.

- Sou um ótimo jogador, e muito inteligente. O que importa é que eu ganhei, e vou tomar um balde de sorvete!

- Você me roubou, criança! - Exclamo surpresa.

- Fui esperto, é diferente. A tia Addie disse que se a gente não machuca ninguém ou não faz mal, não importa como, a gente tem que vencer.

- Ah, por que será que eu não estou surpresa que tenha sido a sua tia Addie que o disse isso?

Ele riu.

- Vamos? - Alex falou surgindo na sala. - Como está, Meredith?

- Derrotada pelo seu pequeno monstrinho, Alex. Feliz aniversário!

Ele riu.

- Obrigada, Meredith. Regra número um, nunca jogue nada com ele ou com Addison... Esses dois são uma máquina de trapaça.

- Inteligência - Addison falou parando ao lado de Luke e os dois estenderam as suas mãos no mesmo instante, batendo com um soquinho.

- Me sinto traída.

- Fica tranquila, Meredith, eu gosto muito de você, e por gostar tanto, eu vou te contar aquela coisa.

- Agora estamos falando a mesma língua, pequeno! - Falei me levantando.

- Que coisa? - Addison o indagou curiosa.

- Nada que seja da sua conta, tia Addie, com todo respeito - Luke falou guiando a sua cadeira até a porta, deixando uma Addison boquiaberta para trás - Tchau, vovó! Torça para nós!

- Tchau, meu príncipe, se comporte!

- Eu sou comportado! - Ele murmurou em um tom de voz entediado - Vamos, Mer!

Eu o acompanhei e, juntos, nós descemos de elevador até o térreo.

- Vou com Warren - Alex sinalizou para Addison, que assentiu.

Nós fomos até o carro e a ruiva pegou Luke no colo. Eu abri a porta traseira e ela o colocou ali, ajeitando o seu cinto, enquanto Alex colocava a sua cadeira no porta-malas.

Dei a volta até a porta do motorista e entrei, sendo seguida por Addison.

- Você não vai dirigir, tia Addie? Eu tô no multiverso, é isso?

Eu ri.

- Não, não está, tampinha. Estou cansada hoje e sem vontade de me estressar com o trânsito.

- Humm, entendi, tá se preparando para se estressar com o seu time, né? Eu entendo. Mer, você torce para os Mets, não é?

- Bem...

Senti o olhar de Addison queimar sobre mim e dei partida no carro.

- Eu sou neutra - Falei dando de ombros.

- Não existe neutralidade entre Knicks e Mets. Ou você torce para os Mets, ou para esse bando de metidos e egoístas dos Knicks. Você não vai querer ser uma metida, não é, Mer?

- Sabe que você tem razão, Luke? - Falo, apenas para provocar Addison.

- Se você torcer para os Mets eu prometo te dar uma colher do meu sorvete.

- Fechado!

- Eu dou um pote inteiro - Addison se manifestou e eu a encarei, vendo-a olhar para Luke pelo retrovisor, o desafiando, com as suas sobrancelhas erguidas.

- Eu dou dois!

- Três? - A sugeri, sorrindo.

- Prefiro que torça para esse bando de nojentos do que a ver passando mal por excesso de glicose no sangue! - Addison falou, empinando o seu nariz.

Eu ri, esticando o meu braço e acariciei a sua bochecha.

Ela me encarou e eu a lancei uma piscadela, sibilando:

- Vai, Knicks!

Ela sorriu de lado, pousando a sua mão na minha coxa nua e passando a acaricia-la delicadamente.

- O tio Mark vai pro jogo?

- Provavelmente - Addison respondeu.

- Então... Loira, ruiva ou morena? - Luke a indagou e eu franzi o cenho, sem entender.

- Loira - Addison respondeu.

- Morena.

- Castanho ou preto? - A ruiva o indagou.

- Castanho. Azuis, verdes ou castanhos?

- Verdes. - Ela respondeu.

- Azuis.

- Fechado. Uma semana sem doces. - Addison falou tirando a sua mão da minha coxa e a levando para trás, onde eu, rapidamente, a vi tocar com a de Luke em um high-five.

- Cem dólares em jogos.

- Fechado! - Addison respondeu novamente.

- Podem me explicar que língua vocês estão falando?

- Eu e Luke sempre apostamos a cor do cabelo da ficante de jogos de Mark. - Addison explicou.

- E dos olhos.

- Vocês dois são sujos! - Comento rindo, enquanto achava aquilo a coisa mais íntima e mais fofa do mundo.

- Quer apostar também, Mer?

- Ok... Morena. Olhos castanhos.

- Humm, já começou perdendo. - Luke comentou.

Franzo o cenho, confusa.

- Como assim? - O indago curiosa.

- É tudo na base da estatística, Mer. Você precisa chutar dois opostos, porque, assim, você tem cerca de quarenta por cento de chances de ganhar, ao invés de vinte e cinco. Veja, existem muito menos loiras dos olhos castanhos no mundo do que, por exemplo, de azuis. Mas é mais fácil que a mulher que o tio Mark leve possua olhos castanhos ou cabelos loiros, do que olhos azuis ou cabelos loiros, é uma combinação, entende? Você pega um extremo e outro extremo e junta ambos. Veja o exemplo da tia Addie... Se o tio Mark aparecer com uma loira de olhos azuis, nós empatamos. Mas se ele aparecer com uma ruiva de olhos verdes, ela ganha.

- Porque ela chutou dois extremos? - O indago, realmente surpresa pela magnitude da sua inteligência.

- Exatamente! Quanto mais destoante, mais chances de ganhar.

- E já aconteceu alguma vez de vocês empatarem?

- Quase sempre. A gente normalmente divide o prêmio. Cinquenta dólares em jogos e três dias sem doces.

- Quatro. - Addison rebateu.

- Três.

- Quatro, Luke Karev!

- A semana possui números ímpares!

- Exatamente, e a regra básica da matemática é que você sempre aproxime para cima, e não para baixo! - Addison falou em tom de indignação.

- Três dias e doze horas.

- Quatro e sessenta dólares.

- Setenta.

- Sessenta e cinco.

- Ok, ok! - Ele murmurou entediado - As vezes não tem como vencer ela, tia Mer.

Sorrio, sentindo o meu coração se aquecer pelo "tia".

- Eu sei bem disso, carinha. Mas vou o ensinar alguns truques que costumam funcionar comigo.

- Divido meu sorvete com você se você me contar.

- Fechado! - Falei estendendo a minha mão para ele, que bateu com a sua em um high-five.

- Vocês são ridículos - Addison murmurou revirando os olhos.

- E você nos ama exatamente assim, tia Addie.

Ela apenas revirou novamente os olhos, mas se calou. O que não me surpreendeu, afinal, o que ela poderia dizer para uma criança que não possuía a ínfima noção das restrições do nosso relacionamento?

"Sem amor da minha parte para a tia Mer, Luke, sinto muito."

Era patético.

Suspirei, afastando os meus pensamentos daquilo e fui guiada por Addison para estacionar na vaga em que ela possuía no estádio.

Saí do carro ao seu lado e, após Alex e Addison colocarem Luke na cadeira, nós adentramos o estádio em si.

- Irei comprar as comidas e o seu sorvete, tampinha. Deseja mais alguma coisa? - O indago e ele assente.

- Jujubas e marshmallow, por favor, Mer!

- Ok. E você? - Indaguei a Addison, que negou com a cabeça.

- Há bebidas no camarote.

Assenti, sendo acompanhada por Warren e mais um segurança até o pequeno shopping ali dentro.

Comprei tudo que precisava, inclusive o meu sorvete e de Luke e fui guiada até o camarote dos Montgomery por Warren.

O local era enorme e estava cheio de aperitivos e bebidas.

Possuía uma série de poltronas confortáveis colocadas juntas, três frigobares e várias camisas, bolas e bandeiras assinadas pelos jogadores. E, era óbvio, a logo da empresa estampada na parede.

Aquilo não mais me surpreendia.

Me sentei ao lado de Addison e à frente de Luke e Alex.

O entreguei o seu sorvete e os seus doces e vi um sorriso lindo se estampar em seu rosto, e, então, ele se esticar e me deixar um beijo gostoso na bochecha.

- Você é a minha heroína!

- Fico lisonjeada com isso, pequeno - O lancei uma piscadela e ele riu.

Addison estava concentrada no telão à nossa frente, enquanto bebia uma cerveja na própria garrafa, e parecia ainda mais bonita do que o seu habitual.

Eu a adorava ver vestida de roupas sociais, mas a Addison casual sempre seria a minha favorita, em todos os sentidos.

- Qual o placar? - Alex a indagou e ela pareceu pensar árduamente.

- 100 à 65 para os Knicks.

- 102 à 54 para os Mets - Alex respondeu e ela bufou.

- Nem nos seus maiores sonhos! - Ela murmurou de maneira ácida.

- Filho?

- Humm, calma, papai, tô analisando estatísticamente.

Eu ri, observando a sua carinha tão concentrada.

Aquele garoto era uma cópia perfeita de Addison.

- 106 à 38.

Addison emitiu uma risada sarcástica.

- Sonhe, garoto!

- E você, Mer?

Me surpreendi, sem saber bem o que responder, afinal, eu possuía anos sem ver um jogo de basquete.

- Humm... 86 à 72. - Chuto, dando de ombros.

- Para os Mets, é claro! - Alex falou rindo.

- Na verdade... Acho que para os Knicks.

- Traidora! - Luke murmurou com a boca cheia de sorvete.

- Ela é leal ao legado do sobrenome que ela carrega, seu monstrinho desastrado! - Addison falou limpando a sua boca com um guardanapo de pano.

- Blá, blá, blá!

- Vejam só, que imagem mais linda, família! Maninha, meu amor, que saudades! - Mark nos cumprimentou adentrando o camarote, indo, primeiramente, até Addison, depositando um beijo carinhoso no topo da sua cabeça - Faz tanto tempo que você não vê um jogo!

- Ela só veio porque eu precisei implorar, tio Mark!

- Ah, macaquinho! Que saudades de você! - Mark falou indo até Luke e o pegando no colo, o fazendo cócegas. Eu sorri diante da risada tão gostosa emitida pelo pequeno.

- Cunhada, está magnífica, como sempre!

- Obrigada, cunhado - Falei me lavantando e o cumprimentando com um abraço.

- Deixe-me os apresentar, essa é Diana, minha acompanhante.

Eu sorri, assim que percebi a mulher ao lado de Mark e ri, completamente feliz pelo seu visual.

Morena de olhos castanhos. Ahá!

Addison e Luke suspiraram no mesmo instante.

- Sorte de principiante - Addison murmurou para mim, suspirando.

- Você nos deve cento e cinquenta dólares.

- Foi uma péssima ideia unir vocês dois. - Ela murmurou de maneira amarga e eu sorri para Luke, comemorando com um high-five.

- Nós também te amamos, tia Addie.

Ela murmurou um grunhido entediado, enquanto bebia a sua cerveja e pousou a sua mão na minha coxa.

Abri o meu pote de sorvete sem açúcar da marca em que Addison havia gostado, que eu havia comprado apenas para dividir com ela e tomei um pouco, ansiosa para o início do jogo.

E, no mesmo momento, o apresentador anunciou os jogadores entrando em campo.

Luke e Alex gritaram no momento em que os Mets entraram, e eu apenas ri, tomando o meu sorvete e mantendo o meu olhar no telão.

Os Knicks vieram logo depois, e eu pude ouvir a platéia gritar um pouco mais.

Addison se manteve séria.

Enchi a colher de sorvete e a apontei, ela me encarou e eu sorri, como uma confirmação de que era o que ela havia gostado. Ela abriu a sua boca e o tomou, passando o seu braço por detrás da minha cabeça e apoiando a sua mão no meu ombro.

Encostei a minha cabeça no seu ombro e foquei o meu olhar no painel imenso da sala.

O apito soou, o jogo começou e, conforme ele foi se desenvolvendo, eu realmente fiquei nervosa.

- Pode me explicar as pontuações? Eu nunca entendi bem. - Sussurrei para Addison, que assentiu.

- As cestas podem valer de três à um ponto. O que determina isso é a distância do jogador da cesta. Quanto mais longe, mais pontos.

Assenti, finalmente entendendo aquilo.

Um jogador dos Mets se aproximou da cesta e, antes que eu pudesse pensar, ele marcou dois pontos.

Soltei um murmuro irritada, junto a Addison, que suspirou pesadamente.

Eles estavam à três pontos na frente.

- Você quer lencinhos, tia Addie? - Luke a cutucou e eu ri, vendo a ruiva suspirar.

- Guarde as suas piadinhas para o final do jogo, Karev.

- Ela está nervosinha, papai!

- Ela ainda não aceitou que essa é nossa, filho!

- Mais uma palavra sua, Alex Karev, e esse será o seu último aniversário comemorado! - Addison murmurou irritada e eu sorri, acariciando a sua coxa.

O jogo continuou e, conforme ele ocorria, eu fui me animando e realmente adentrando aquele clima.

- ISSO! - Comemorei a terceira cesta feita pelos Knicks, recebendo um sorriso fraco de Addison. - Engole essa, tampinha! - Falei para Luke, que revirou os olhos, fingindo não se importar, mas já estava com a boca inteiramente suja de sorvete de novo.

Eu ri, o limpando e ele não obteve uma reação, pois estava focado demais no telão para isso.

- Porra! - Addison murmurou um palavrão após uma falta de um jogador e eu suspirei, tocando a sua coxa, também decepcionada com aquilo.

- Vai... Isso! Isso! Vai, vai, vai! - Murmurei entretida, alguns minutos depois, assim que o jogador começou a se aproximar da cesta com a bola. - Ah, Merda! - Suspiro irritada por ele não ter conseguido fazer a cesta. Addison suspirou, entrelaçando as nossas mãos em cima da sua coxa.

- Porra! - Addison murmurou e eu suspirei, a oferecendo mais sorvete, ela aceitou.

- Desde quando você toma sorvete? - Mark a indagou rindo e Addison revirou os olhos.

- Vá se foder, Mark! Não me irrite, porra!

Eu ri, deitando a minha cabeça no seu ombro novamente, mas não durando muito, pelo nervosismo de uma quase cesta novamente.

O jogo fez a última pausa, enquanto estávamos todos nervosos pelo empate entre os dois times, e eu aproveitei para guardar o sorvete e ir até o banheiro. Assim que voltei, ele já havia voltado e Addison, Mark e Alex estavam em pé, nervosos, observando cada movimento.

Me coloquei à frente da ruiva, também me sentindo eufórica e a senti envolver a minha cintura com os seus braços.

Assim que um dos melhores jogadores dos Knicks, Fournier, se encaminhou até a cesta com a bola eu senti o meu coração pulsar forte dentro do peito e as mão de Addison apertarem a minha cintura nervosa, mas delicadamente.

- Isso... Isso... Isso... - Eu, Mark e Addison falamos juntos, na expectativa para aquela cesta.

- Por favor... Por favor... Vai... Vai... Vai! - Murmurei impaciente, esfregando as minhas mãos uma na outra.

E, assim que ele, de maneita tão bela, deu um salto e jogou a bola, que caiu perfeitamente na cesta, marcando exatos três pontos, eu gritei, sem sequer filtrar aquela ação.

Me virei para Addison, que havia emitido um palavrão animada e ri, me esticando e selando os meus lábios aos seus demoradamente.

O nosso time havia ganhado!

- ISSO! - Emiti animada, assim que separei os meus lábios dos seus e os selei novamente, a abraçando - Isso foi incrível!

- É essa a sensação de ser fã de um time que preste - Addison caçoou Alex e Luke, que estavam sentados, derrotados, nas poltronas. - Feliz aniversário e parabéns por ser um perdedor!

Alex revirou os olhos, grunhindo irritado e Luke repetiu o seu ato.

Eu ri, extremamente animada com aquilo e Addison selou os seus lábios aos meus novamente, me fazendo sorrir.

- Você é, definitivamente, uma Montgomery - Ela sussurrou para mim e eu ri, me esticando e selando os nossos lábios novamente.

- Fico lisonjeada por isso, mesmo que signifique que, talvez, eu não seja mais uma Machetti.

Ela sorriu.

Me sentei novamente, ao lado de Addison, observando os jogadores comemorarem entre si e, sem desejar continuar prestando atenção no que o narrador estava falando, me virei para a ruiva.

- Como fui de líder de torcida? - A indaguei, mordendo o meu lábio inferior.

- Perfeita - Ela murmurou tocando o meu queixo, beijando-me novamente.

Eu sorri para ela, afastando os meus lábios dos seus.

- Olha, tia Addie, tia Mer! Vocês estão na TV!

Ah, não... Aquilo não! Aquela coisa embaraçosa de beijos no telão não!

Senti as minhas bochechas queimarem em vergonha e suspirei, encarando o telão e nos vendo ali, juntas, e, por um segundo, percebi o quanto nós estávamos realmente grudadas uma na outra. E, por um segundo, um milésimo de segundo, eu gostei de ver aquilo. Gostei que havíamos sido escolhidas, e que parecíamos realmente apaixonadas, vendo daquela forma. Nós parecíamos... Tão... Completas. Observei Addison franzir o cenho e, esperando fugir daquilo o mais rápido possível, segurei o seu pescoço, a puxando para mim novamente, selando os nossos lábios em um beijo que, primeiramente, tive a intenção de ser rápido, mas senti a ruiva segurar o meu pescoço, o aprofundando mais, me fazendo sentir o meu peito vibrar por ela, de maneira desesperada.

Algo parecia estar diferente, eu apenas não conseguia saber o quê.

O seu beijo parecia... Leve. Livre de obrigações. Doce. Protetivo.

Um misto de sensações boas, que apenas ela era capaz de me trazer, e que eu era mais do que fascinada.

A ruiva separou os seus lábios dos meus após alguns segundos e deixou um selinho neles, pincelando o meu nariz com o seu e eu, ouvindo todo o estádio nos aplaudir e gritar de maneira enlouquecida, suspirei, ainda um pouco mexida pela intensidade daquele beijo, e encostei a minha cabeça no vão do seu pescoço.

- A nossa juíza, tocedora favorita, enfim foi flagrada pelo nosso telão! Se nem a juíza escapa, por que vocês, meros mortais, escapariam?

Todos riram e eu senti as minhas bochechas queimarem, mas elevei o meu olhar, observando aquele beijo em replay no telão.

Nós parecíamos tão... Entregues. Apaixonadas. Leves.

Eu nunca havia visto um vídeo de nós duas nos beijando, e, por isso, aquilo havia me prendido a atenção de maneira intensa.

A forma a qual as nossas bocas se encaixavam de maneira perfeita, a maneira a qual Addison tocava o meu pescoço, ou que eu acariciava o seu, inconscientemente naquele momento...

Tudo aquilo mexeu comigo de certa forma. Uma forma a qual eu não conseguia explicar, mas sabia que não significava algo permitido.

Afinal, eu deveria desejar que, o que parecíamos ser naquele painel, fosse a nossa verdade?

Era óbvio que não!

Por isso, fechei os meus olhos, sentindo o meu peito arder em uma sensação insuportável de descontrole.

Eu não poderia continuar tendo esse tipo de pensamento sobre o meu relacionamento com Addison. Aquilo estava longe de ser certo.

- Ah, o amor... Que sentimento lindo, não é, maninha? - Mark falou em um tom de voz tão sarcástico, que eu senti o meu estômago embrulhar-se. Foi como se ele houvesse feito questão de fazer piada sobre o quão aquilo era patético, falso e idiota.

É claro que era, Meredith! O que mais você desejava?

Que fosse verdade?

Suspirei, sentindo o meu humor se decair por completo.

- Vou ao banheiro - Murmurei para ela, me levantando e me dirigindo até o banheiro.

Me encarei na frente do imenso espelho, sentindo o meu coração doer de maneira insuportável dentro do meu peito e a minha garganta queimar em uma vontade de chorar intensa.

- O que está acontecendo comigo? - Sussurro, encarando o meu reflexo, tentando encontrar alguma resposta para aquela pergunta.

Mas eu realmente não sabia se eu queria encontrar algo. Porque, no fundo, bem no fundo, eu já sabia, exatamente, o que estava acontecendo ali.

As sensações...

Todas as sensações...

Eu já havia as sentido, não naquela intensidade, mas já havia.

E não com qualquer pessoa. Não com Cristina, a minha melhor amiga, ou com George, ou quem sabe Flora.

Não.

Eu havia sentido aquilo, mesmo que em menor intensidade, apenas uma vez, há muito tempo atrás.

Balancei a minha cabeça, desejando expulsar os meus pensamentos sobre aquilo e fingir, para mim mesma, que eu estava apenas confundindo as coisas.

Afinal, eu não estava?

Addison é minha amiga. Minha pessoa. Minha sócia.

Apenas isso.

Nada mais, nada menos. Sem sentimentos confusos ou sentimentos já sentidos.

Respiro fundo e faço questão de deglutir aquele choro.

Lavo o meu rosto, fazendo, ao fim, o que eu faço de melhor: ignorar e esquecer.

Abro o baú bagunçado da minha cabeça e, mais uma vez, jogo aquele assunto ali dentro, para não mais mexer, definitivamente.

...

- Ok, perdedor, deixo que você escolha o sabor da pizza para que não se sinta tão triste assim - Comento, agora sentada no banco do carona, enquanto Addison dirigia até a casa de Alex.

- Você consegue ser ainda mais chata do que a tia Addie. É incrível!

- É o que dizem por aí, pequeno, não há nada de ruim que não possa piorar!

- Ok, quero pizza e mais sorvete, por favor.

- A sua cota de sorvete do dia acabou, Luke Karev - Addison falou de maneira tão protetiva e... Um pouco maternal que me fez sorrir, a observando apoiar o seu cotovelo na janela do carro.

- Deixa de ser mandona, tia Addie!

- Você tomou um pote inteiro de sorvete e mais mil e um doces que essa outra criança aqui o deu. Não estou sendo chata, estou me importando com você! A não ser que você deseje ficar internado mais alguns dias naquele hospital de gente maluca, você quer?

Ele suspirou, se rendendo.

- Tudo bem, vai!

Sorri, pegando o celular da ruiva e fazendo os pedidos das pizzas com a ajuda de Luke, colocando o endereço de entrega para a casa de Alex.

Alguns minutos depois, a ruiva estacionou e, após ajudar Luke, nós subimos juntos.

- Topa uma partida, tia Addie?

A ruiva assentiu, tirando a sua jaqueta e se sentando no sofá ao lado dele.

- Venha, vou a ensinar - Ela me chamou e eu me sentei do seu lado. - Está vendo esse botão? - Ela apontou para um dos botões e eu assenti. - Você precisa apertar ele a cada vez que faz uma curva com o carro, ajuda a fazer com que ele não perca velocidade. E esse aqui, se você apertar três vezes depois de sair do start, você ganha mais xp, o que quer dizer mais teto para reparação automática de danos.

- Desde quando você é uma nerd dos jogos? - A indago curiosa, me vendo completamente fascinada por aquele seu lado.

- Há muito sobre mim que você ainda não sabe, querida - Ela respondeu me lançando uma piscadela e iniciando a partida com Luke.

- Ei, para de me cortar, sua barbeira!

- Aqui não há espaço para o seu rítimo de asilo, vovô! - Ela o provocou, me fazendo sorrir, ao a observar tão concentrada.

A forma a qual ela mordia o seu lábio inferior, os seus bíceps marcados pela camisa e pelo esforço com os controles, os seus cabelos caindo bagunçados, quase fora do coque, ao redor do seu rosto... Seus olhos tão focados, sua feição tão mais relaxada, e o mínimo sorriso no canto dos seus lábios, o que mostrava, mais do que nunca, que ela adorava estar com Luke.

- Ei! Isso é trapaça! - Ele reclamou, eu não entendi bem o porquê.

- Cale a boca e jogue, tampinha! - Sorri, ao perceber o quão a sua voz se transformava em uma tão mais suave com Luke, mesmo quando ela o repreendia ou o irritava, ainda havia um tom quase maternal na sua voz, como se ele fosse o único que possuísse o poder de a fazer se sentir... Daquela maneira.

- Sua chata! Eu vou estraçalhar essa sua Lamborghini!

- Tente.

Ele tentou bater em Addison, que apenas desacelerou propositalmente para o cortar na pista, o fazendo bater em uma árvore.

- ARGH! Para de roubar, tia Addie! - Ele choramingou.

- Você dirige mal e eu que roubo? - Ela sorriu - Pare de ser um frango, moleque!

- Você vai ver quem é frango aqui, sua bobona!

- Isso é tudo que você tem, frango? Vai passar a piar para mim?

Ele grunhiu irritado e eu ri, suspirando, sem conseguir desviar o meu olhar daquela ruiva.

Céus, o que estava acontecendo dentro de mim naquele momento?

As minhas mãos passaram a suar e, ali, fora como se o mundo além daqueles dois deixasse de existir. Addison estava tão... Linda. Tão... Concentrada. E exalava uma juventude que eu nunca havia imaginado visualizar em suas feições. Ela me parecia uma adolescente ali naquele momento, tão despojada e à vontade. Sem os seus sapatos, com um dos pés no sofá, enquanto murmurava frases desconexas para o telão.

Eu poderia jurar que nunca mais veria uma cena tão... Pura como aquela, em toda a minha vida. Ela parecia, literalmente, outra pessoa.

Senti o meu coração bater descompassado, em uma sensação quente, confortável e tão, mas tão gostosa, que eu poderia desejar ficar ali, a observando daquela maneira, pelo resto da minha vida.

Naquele momento, tudo parecia ser tão... Descomplicado. Ela era apenas Addison, e eu apenas Meredith, e nós duas éramos... Apenas casadas, aproveitando um final de semana com a nossa criança favorita.

Eu sentia tanto aquilo. Sentia tanto a vontade quase desesperadora de poder fazer com que aquele contrato deixasse de existir ali, naquele momento, e apenas estar com ela por... Amor.

Isso, amor.

Aquela Addison fazia tudo parecer tão fácil, tão simples, tão descomplicado, tão... Real.

O baú havia sido aberto novamente, e eu realmente já não mais sabia como o manter fechado, e como me manter fora daqueles pensamentos tão conflitantes.

- AHÁ! - Ela exclamou animada e eu fiz um grande esforço para deixar de a encarar e desviar o meu olhar para a TV, onde o seu personagem estava dançando em cima do carro capotado de Luke.

- Ladra. É isso que você é.

- No dia que você for tão bom quanto eu, poderemos conversar civilizadamente, garoto.

Ele bufou.

- Eu e o papai contra você e a Mer, quero ver se você aguenta.

O que? Eu?

- Ah, Luke, não seria justo, eu sou péssi...

- Fechado - Addison respondeu de imediato, sem me deixar completar a frase.

- Addison! Você sabe que, comigo, você está ferrada, não é?

Ela se esticou, tocando o meu queixo e me fazendo perder o ar por alguns segundos, ao me fazer a encarar.

- Confie em mim, querida, nós já temos esses paspalhos nas nossas mãos - Ela murmurou, deixando um selinho em meus lábios.

Eu assenti, sem conseguir obter outra resposta, pois aquele simples selar de lábios havia me feito perder toda a minha linha de raciocínio por alguns segundos.

Eu definitivamente amava o seu lado competitivo. A fazia parecer tão... Leve.

- Vamos, campeão! - Alex se sentou ao lado de Luke, pegando outro controle e Addison me entregou outro.

- Eis a nossa jogada - Ela se aproximou de mim, sussurrando no meu ouvido: - Você acelera, eu faço todos os outros movimentos.

- Ok! As curvas são suas?

- Você acha que consegue as fazer?

Assinto, confiante.

- Então são suas.

Eu sorri, assentindo e me sentei confortávelmente ao seu lado, colocando as minhas duas pernas por cima da sua coxa e me encostando no seu tórax.

- Ok, respire, calma, nós iremos conseguir - Ela sussurrou para mim e eu assenti, posicionando os meus dedos sobre o controle.

A jogada começou e eu me mantive fixada em acelerar e fazer as curvas, enquanto Addison, engenhosamente, realizava outros movimentos para atrapalhar os dois que, até agora, estavam colados conosco.

- Pare de roubar, Addison! - Alex murmurou irritado, quando a ruiva o cortou em uma curva feita por mim, após eu conseguir acelerar o carro ainda mais.

- Cale a boca e jogue, babaca! - Ela falou girando o carro na pista de maneira inteligente para os tirar dela. - Isso! Acelere o máximo agora, querida! Isso, mais, você consegue, mais... - Forcei os meus dedos naqueles botões o máximo que pude, até os sentir doer e ver o velocímetro do carro marcar 100 por hora - Isso! Consegue chegar a 120?

- Absolutamente sim! - Respondi soltando um grunhido irritado por uma decaída do voltímetro em cinco quilômetros.

- Use o seu polegar deitado, e não as pontas, você pode se machucar - Ela sussurrou para mim e eu assenti, fazendo aquilo e, surpreendentemente, conseguindo atingir 110. - Isso! Só mais dez, acha que consegue?

Assinto, utilizando de toda a minha força ali, aqueles dois botões.

- 115, estamos quase lá... Quase lá, querida, você consegue! - Addison murmurou para mim e eu respirei fundo, afundando os meus dedos no contole e conseguindo alcançar 120.

Eu sorri, sentindo o meu peito se aquecer ao senti-la depositar um beijo terno na minha bochecha, sem tirar os seus olhos a TV.

- PAPAI FAÇA ALGUMA COISA, ELAS ESTÃO EM 120 E NÓS EM 90!

- ELAS SÃO UM TIME MAIS ORGANIZADO, PARE DE ACELERAR E FREIAR, LUKE!

- VOCÊ QUE ESTÁ COM O DEDO NO FREIO, SEU DOIDO!

- PORRA! - Alex murmurou irritado.

- Olhe a boca, Karev - Addison o repreendeu seriamente.

- Ah, me dá um tempo, insuportável!

- Pare de falar palavrões na frente do meu garoto! - Ela rebateu e eu sorri, sentindo o meu coração derreter de tanto amor por aquela frase. Eu nunca imaginei que Addison poderia possuir um instinto tão... Maternal. Isso era quase uma blasfêmia para mim.

- Cale a boca! - Ele murmurou de volta e ela o empurrou com o seu ombro.

- PAPAI PARA DE APERTAR O FREIO!

- ESSA SUA TIA MALUCA ESTÁ ME DESCONCENTRANDO!

Eu ri, vendo, de soslaio, Addison sorrir travessa.

- Está afim de irritar esses dois? - Ela sussurrou para mim e eu sorri, mordendo o meu lábio inferior.

- Sempre!

- Freie - Ela murmurou.

- Tem certeza? Vamos perder velocidade.

- Eles irão perder mais, confie em mim, freie nessa curva e acelere no mesmo momento.

Eu o fiz, vendo o nosso carro bater com o deles, mas apenas o deles ficar para trás, enquanto eu afundava os meus dedos no controle para retomar os 120.

- LADRAS! SALAFRÁRIAS! ESTELIONATÁRIAS! PAPAI, FAÇA ALGO! - Luke proferiu nervoso.

Alex empurrou Addison com o seu ombro e eu gargalhei.

- É tudo que você tem, frango?

- Frango é você, babaca! - Ele murmurou irritado.

- Reclame menos e jogue mais, Alex - Eu respondi sentindo o meu ego pulsar.

- Até você, Meredith? - Ele pareceu surpreso - Você transformou um monstro! - Ele murmurou para Addison.

- Nós somos um time, frango, ou seja, você insultou Addison, insulta a mim também - Respondo, vendo Addison sorrir.

- Corruptas! É isso que vocês duas são! - Luke proferiu irritado - E PARA DE FREIAR DO NADA, PAPAI!

- Elas estão me distraindo!

- Você que é ruim mesmo - Addison falou girando o carro na pista.

Os dois se calaram e começaram a acelerar mais, até estar lado a lado conosco.

- Agora me diga, quem sãos os frangos aqui? - Alex falou rindo.

Eu e Addison nos mantivemos caladas, concentradas no nosso jogo.

- Bate neles, Addie! - Sussurrei para ela.

- Calma... Precisa ser no lugar exato e no momento exato!

- Mas nós estamos quase na linha de chegada! - Profiro nervosa.

- Confie em mim, querida.

Suspirei, continuando a manter o carro naquela velocidade, estando há vinte metros da linha de chegada.

- Addie, faça algo!

Ela se manteve calada, concentrada no jogo. Eles passaram um metro na nossa frente.

- Addison Montgomery! Iremos perder para dois homens, onde está o seu feminismo?

- Calma, querida, calma!

Eu suspirei irritada, sem a mínima paciência para aquilo.

Dez metros.

- Addison!

Oito.

Sete.

- Addison, nós vamos empatar!

Seis.

- Addison, por Deus!

Cinco e...

Addison jogou o nosso carro por cima do carro deles, que foi empurrado para fora da pista e nós ultrapassamos a linha de chegada.

- NÃAAAAAAO! - Luke proferiu irritado.

- UHUL! ISSO, GANHAMOS, ADDIE! - Comemoro animada, soltando o controle e me levantando, erguendo os meus braços em uma comemoração. Addison me puxou para si e eu abaixei o meu rosto, deixando um selinho em seus lábios. - Frangos! - Murmurei para os dois, que estavam derrotados, encostados no sofá.

- Como se sente sendo humilhado por mim duas vezes seguidas no seu próprio aniversário? - Addison indagou alex, que bufou irritado.

- Vocês são um time de corruptas! - Luke falou irritado, repetindo o ato do pai - Estelionatárias!

- Você nem sabe o que significa essa palavra, criança! - Addison falou sorrindo.

- Mas sei bem qual é o sentido dela, e se encaixa perfeitamente em você, ruiva metidinha nariz empinado!

Addison se levantou, indo até ele e, para a minha surpresa, começou a o fazer cócegas, o fazendo gargalhar.

- Para, sua chata! Eu não... Não quero rir para você!

Ele gargalhou novamente.

- Diga que eu e a Meredith somos as melhores! - Ela o ameaçou.

- Nunca! Tenho uma honra a zelar!

Ela continuou com a série de cócegas e eu ri, vendo Luke se retorcer em gargalhadas.

- SUA CHATA!

- Diga!

- NUNCA!

A ruiva continuou.

- Tia Addison e tia Meredith são as melhores, diga!

Ele continuou a gargalhar.

- Diga, moleque!

- Tá... Tá bom! Vocês são as melhores! Agora para!

- Não ouvi nossos nomes.

Ele gargalhou.

- Tia Addie... E tia Mer... São... São as melhores!

A ruiva parou e beliscou o seu nariz com as pontas dos seus dedos, me fazendo desmanchar de amor diante de tamanha cena.

- Eu odeio você, sua metidinha! - Luke falou fazendo cara de bravo.

- Você me adora, criança!

- Nem nos seus maiores sonhos, metida!

Eu ri, negando com a cabeça para aquela cena tão fofa e ouvimos a campainha soar.

Alex se levantou e foi até a porta, recebendo as pizzas que havíamos pedido.

- Vamos ver Homem de Ferro um! - Luke falou animado.

- Ah, não! - Alex murmurou entediado - É o meu aniversário, eu quero ver Clube da Luta.

- Tia Addie? - Luke olhou para a ruiva, erguendo as suas sobrancelhas.

- Homem de Ferro um. - Addison falou se sentando ao meu lado novamente.

- Isso! - Luke comemorou.

- Meredith? - Alex recorrou a mim e eu mordi o meu lábio inferior.

- Filmes de luta me deixam entediada...

Ele bufou irritado e eu sorri, me recostando nas almofadas do sofá e colocando as minhas pernas em cima das de Addison.

- Tia Addie, posso sentar do seu lado?

Addison assentiu e Alex ajudou Luke a se acomodar do outro lado de Addison.

O pequeno encostou a sua cabeça no peito da ruiva e eu oude jurar que ela segurou um sorriso, envolvendo o seu braço ao redor do corpinho dele.

Alex colocou as pizzas em cima da medinha de centro, junto com os pratos e talheres, o refrigerante e duas cervejas.

Ele serviu primeiramente a Luke e, então, a mim e a Addison.

- Obrigada, Karev - O agradeci, recebendo um sorriso de volta.

Senti toda a minha linhagem familiar se revirar em seus túmulos ao ver os três pegarem os talheres para cortar a pizza.

- Calma... Eu não acredito que vocês comem pizza de talher.

Eles me encararam, como se eu fosse um alien.

- Ah, ela possui origem italiana - Addison falou dando de ombros, cortando a sua pizza.

Senti uma agonia insuportável me tomar.

- O que tá acontecendo? - Luke indagou confuso.

- Essa estranha aqui só come pizza com as mãos, como os italianos fazem.

- Sim, porque os talheres tiram a experiência culinária!

- Ah, deve ser mais legal comer com a mão mesmo - Luke falou dando de ombros e deixou os talheres de lado - Eu tô mesmo cansado demais pra cortar pizza.

Karev deu de ombros, fazendo o mesmo.

Encarei Addison, queimando o meu olhar sobre si.

- Nem morta - Ela murmurou cortando a sua pizza.

- Addison...

- Já disse que não.

Suspirei, revirando os meus olhos, começando a comer.

O filme foi colocado e me tirou diversos sorrisos ao ver Addison e Luke maravilhados a cada vez que o Homem de Ferro fazia algo incrível. A ruiva muito menos aparente, é claro, mas eu conseguia ver os seus olhos quase que brilharem.

Assim que a pizza acabou, Luke deixou o seu prato em cima da mesa de centro e deitou a sua cabeça no colo de Addison, apoiando os seus pés no colo do seu pai.

A ruiva o encarou por um segundo e passou a acariciar os seus cabelos, voltando a sua atenção para o filme.

Eu sorri, vendo o pequeno emitir um sorriso verdadeiro e se aconchegar mais para receber melhor aquele carinho.

Recostei a minha cabeça no ombro da ruiva e a senti envolver o meu pescoço com o seu braço, o apoiando no
meu ombro, me fazendo ficar mais confortável.

- Esse é o melhor aniversário do papai, não é, papai?

- Apesar de só ter sido derrotado hoje, estou feliz, filhote - Alex falou massageando os pés do garoto, que sorriu.

- Eu sei, faz muito tempo que eu não me sinto feliz assim.

- Por que, campeão? - Addison sussurrou para ele.

- Ah, porque faz muito tempo que a gente não faz algo assim, como uma família. Eu, você e o papai.

Senti o meu peito se aquecer, assim que o pequeno pousou a sua mão na minha perna acima da coxa direita de Addison, a acariciando.

- E agora foi ainda mais legal, porque a nossa família está completa - Ele me encarou e piscou para mim, eu sorri, beliscando o seu nariz e me esticando, deixando um beijo terno na sua bochecha.

Ele sorriu, voltando a sua atenção para o filme e eu, de soslaio, senti Addison me observar intensamente.

A ruiva voltou a acariciar os cabelos de Luke e, antes do filme acabar, eu já conseguia o ouvir roncar baixinho.

Parei, por um segundo, para observar aquela cena de Addison tão relaxada, fazendo carinho nos cabelos de Luke. E, por um segundo, senti como se aquela visão fosse tão familiar, que me trouxera uma sensação inexplicável de pertencimento.

Era como se eu precisasse estar ali, com aqueles três, e como se... Eu sempre estivesse ali, com eles, e não como se fosse a nossa primeira vez fazendo algo em família.

Família.

Senti o meu peito se inundar de uma alegria tão pura e deliciosa que eu poderia passar dias, meses e anos tentando encontrar algo que me desse tamanha felicidade, mas eu sentia que não acharia.

Porque aquela sensação de pertencimento que eu sentia ali, naquele momento, era designada apenas aqueles três.

Família.

Seria isso que éramos naquele momento?

Uma família?

Sorri, aconchegando o meu rosto no pescoço de Addison e suspirei em paz, ao senti-la me puxar para mais perto e me abraçar contra si.

Fechei os meus olhos brevemente, sentindo a sensação tão nova dentro de mim ao estar nos braços de Addison.

Pertencimento.

Cada célula do meu corpo parecia pertencer àquela mulher, mesmo que eu tentasse lutar contra, mesmo que eu tentasse fechar aquela droga de baú e o encostar para sempre em um canto escuro do meu subconsciente, eu não conseguia.

Porque era uma sensação tão viva, uma sensação tão... Livre e tão... Leve, que eu simplesmente não conseguia controlar.

Eu estava inexoravelmente, com cada célula do meu corpo, cada molécula de oxigênio e carbono do meu ser, a cada respirar dos meus pulmões e pulsar do meu coração, pertencente aquela ruiva de olhos tão verdes, humor tão ácido e coração tão puro.

Lar, talvez, se parecesse com aquela sensação. E, se sim... Bem, eu havia encontrado o meu, na última pessoa no mundo em que imaginei que poderia encontrar.

...

O filme acabou após alguns minutos e eu suspirei, sentindo um pouco de sono, devido ao tanto de energia que eu havia gastado naquele dia.

- Vou colocar Luke na cama e vamos embora - Addison falou, parecendo perceber o meu cansaço e eu assenti.

A ruiva, devagar, se levantou e segurou o pequeno com cuidado, o pegando no colo.

Ele automaticamente abraçou o seu pescoço e eu sorri, observando aquela cena tão maternal, ao vê-la o levando até o seu quarto.

Eu me levantei junto a Alex, começando a o ajudar a limpar toda aquela bagunça.

Juntos, nós tiramos as caixas de pizza e levamos as louças para a cozinha.

Eu me recostei no batente da parede da cozinha, observando Alex lavar as louças.

- Obrigado por ter vindo, Meredith - Ele falou me lançando um sorriso - Há muito tempo eu não vi Addison tão... Relaxada o quanto hoje.

Eu assenti, sorrindo.

- Se você não viu, imagine eu.

Ele riu.

- Luke tem esse poder sobre as pessoas.

- Concordo, apenas ele é capaz disso.

- E você. - Ele falou me encarando de soslaio.

Eu neguei com a cabeça, rindo fraco.

- Apenas Luke.

- Bem, se você pensa assim...

- Não sei se possuo motivos para pensar o contrário - Falo dando de ombros, tentando testar a minha teoria sobre Alex saber ou não sobre o contrato.

- Você pode pensar que não, mas uma hora irá perceber que estava errada.

Franzi o cenho, sem entender aquela resposta ao certo, mas resolvi a esquecer.

- Você nunca... Sentiu vontade de formar uma nova família? Digo, com Luke e outra mulher.

Ele negou com a cabeça.

- Nenhuma mulher teria paciência. E nem o trataria como um filho. Então não.

- Bem, Addison trata - Eu falo dando de ombros.

Ele riu.

- É, ela trata, mas é muito lésbica e muito casada, além de muito pé no saco e muito mais... Minha melhor amiga do que qualquer outra coisa.

Eu ri.

- Não estou falando nesse sentido.

- Eu sei, é que... Antes de você chegar, Luke possuía a ideia boba de que eu e Addison um dia teríamos algo e ela seria a mãe oficial dele.

Sorrio, imaginando o quanto eu havia sido uma decepção, então.

- Ele deveria me odiar então.

- Ah, não. Ele entendeu com o tempo que eu não possuía o que a tia dele gostava. E eu nunca vi Addison dessa maneira. Ela é mais... Uma irmã mais nova para mim.

- Eu posso imaginar. Vocês me parecem tão... Diferentes fora de todas as formalidades de trabalho - Comento.

- É, nós somos. Addison é a única família verdadeira que eu e Luke possuímos, além da minha mãe. E, bem, você, agora.

Sorrio, me sentindo lisonjeada por aquilo.

- Na verdade... Fazia muito tempo que eu não me sentia tão... Completa o quanto me senti hoje. Obrigada.

- Fazia muito tempo que nós não nos reuníamos assim, como uma família, e nos divertíamos tanto. Então eu quem agradeço.

- Vamos? - Addison me indagou adentrando a cozinha, já vestindo a sua jaqueta e os seus sapatos, com os cabelos soltos agora.

Assinto, me despedindo de Alex com um abraço, assim que ele nos levou até a porta.

A ruiva tateou o seu bolso e o entregou algo que, assim que o vi abrir a mão, visualizei ser uma chave.

- Feliz aniversário, perdedor.

Ele sorriu.

- O que é isso?

- Desça mais tarde até a garagem e veja. - Ela falou dando de ombros e socando o seu ombro.

- Addison...

- Não me encha a paciência.

Ele sorriu novamente, se aproximando e me surpreendendo ao vê-lo abraçá-la.

- Obrigada, tampinha.

Ela retribuiu o abraço rapidamente, socando o seu braço.

- Tampinha é a sua avó!

Nós dois rimos e eu novamente me despedi dele, descendo junto a Addison.

A ruiva me jogou as chaves do carro e eu sorri, o adentrando na porta do motorista.

- Gostou de me ver dirigindo, Meritíssima? - A indago com um sorriso travesso.

- Você não imagina o quanto, madame Montgomery.

Eu ri, colocando o meu cinto e a oferecendo a minha bolsa para que ela segurasse, dando partida no carro logo em seguida.

Senti a ruiva apoiar o seu braço no meu banco e cocar o meu pescoço, o acariciando com as suas unhas de maneira mais provocativa.

- Quer me fazer bater o carro, Addison? - Sussurro para ela, controlando a minha vontade de fechar os meus olhos.

- Não, senhora Montgomery, a desejo inteira essa noite, de preferência na nossa cama.

Eu sorri, a encarando rapidamente e pisei no acelerador.

A ruiva sorriu de lado e focou o seu olhar na pista mais calma naquele horário da noite.

Após vinte minutos de um trânsito confortável, eu abri os portões da nossa casa com o controle nas chaves e o adentrei com o carro.

Estacionei em frente a escadaria e tirei o meu cinto, tendo as portas aberta para mim e Addison pelos seguranças da casa.

A ruiva desceu do carro segurando a minha bolsa e, juntas, nós entramos em casa e subimos até o nosso quarto.

Senti o meu coração pulsar forte assim que fiz menção de abrir a porta do nosso quarto, mas senti Addison segurar a minha cintura com força e me prensar na parede de vidro da sala do nosso andar.

- O que está fazendo, Meritíssima? - A indago com um sorriso nos lábios.

- Matando a vontade que tive que inibir o dia inteiro - Ela sussurrou no meu ouvido, mordendo o nódulo da minha orelha e passando a sua língua vagarosamente por ali.

- E que vontade seria essa? - A provoco, descendo as minhas mãos para a sua bunda, a apertando contra mim e a ouvindo suspirar no meu ouvido.

- De tirar esse macacão que me deixou maluca o dia inteiro, pois valoriza muito bem a sua bunda.

- Ah é? - Sussurro em seu ouvido, sentindo a minha pele queimar diante dos chupões molhados que ela depositava no meu pescoço. - E depois, irá fazer o quê?

Senti a minha respiração engasgar e as minhas pernas estremecerem assim que a sua boca se encostou ao meu ouvido, sussurrando, diabólicamente:

- Vou foder você, senhora Montgomery. Vou a fazer gozar para mim quantas vezes você desejar.

Fecho os meus olhos, gemendo baixo ao sentir a minha intimidade se contrair ao ouvir todo aquele palavreado sujo, mas que eu mais que adorava ouvir ao som da sua voz.

Envolvi uma das minhas pernas na sua cintura e a ruiva segurou com força atrás das minhas coxas, me carregando e me tirando do apoio daquela parede, abrindo a porta do quarto e jogando a minha bolsa em um canto qualquer.

Sem mais conseguir aguentar a nossa distância, a beijei com volúpia, sentindo-a apertar a minha bunda contra si de maneira deliciosa, enquanto aceitava a minha língua dentro da sua boca.

Envolvi as minhas pernas na sua cintura com mais força e a puxei pela sua jaqueta, a tirando apressadamente e a jogando em um canto qualquer do quarto, sentindo a ruiva me prensar com força contra a porta.

Puxei a sua camisa, a tirando com a sua ajuda e a senti descer o zíper do meu macacão, me deixando completamente nua da cintura para cima ao se desfazer das alças em meus ombros.

Sua boca se afastou da minha abruptamente e eu gemi ao senti-la desfazer o meu rabo de cavalo e puxar os meus cabelos para trás, deixando o meu pescoço livre para traçar, nada delicadamente, um caminho com mordidas em locais que ela já conhecia como os meus pontos fracos, até os meus seios, onde ela mordeu, delicadamente, cada um dos meus mamilos.

Sentindo o meu coração pulsar fortemente dentro do meu peito, seguro firme em seus braços, me sentindo já perdida em relação a força do meu corpo.

A ruiva tirou as minhas pernas da sua cintura e me virou contra a porta com força, abaixando o short do meu macacão e me deixando apenas de calcinha.

Senti-a afastar os meus cabelos para o lado e descer os seus lábios pelo meu pescoço e as minhas costas em mordidas nada delicadas, se ajoelhando diante de mim.

- Addison... - Murmurei o seu nome em um gemido ao senti-la apertar uma das minhas nádegas com força e chupar a outra, me causando uma sensação de ardor misturada a prazer deliciosa.

A ruiva subiu novamente e eu senti as minhas pernas vacilarem assim que a sua mão encontrou o meu abdômen, traçando o caminho vagarosamente, com as suas unhas, até a fenda da minha calcinha. Tocando a minha intimidade por cima dela.

- Isso é tudo para mim? - Ela sussurrou ao meu ouvido, mordendo o nódulo da minha orelha com intensidade.

- Sempre - Sussurrei de volta, a sentindo puxar os meus cabelos e os enrolar no seu braço, fazendo-me virar a minha cabeça para o outro lado, a apoiando na porta.

- Se você soubesse o quanto fica gostosa assim... Tão entregue para mim, querida.

Gemi baixo, pressionando as minhas pernas uma contra a outra para conter o meu prazer.

- Por favor... - Sussurrei para ela, sentindo-a passar a sua língua pelo canto dos meus lábios.

- Você não precisa pedir por favor - Ela sussurrou de volta e, sem que eu esperasse, tirou a sua mão dos meus cabelos e a desceu junto a outra, rasgando a minha calcinha sem precisar de muito esforço. - Ela já estava destruída de qualquer maneira - Ela sussurrou diabólicamente ao meu ouvido e afastou as minhas pernas, traçando o caminho do meu abdômen até a minha intimidade.

Segurei com força os seus cabelos atrás de mim e encostei o meu rosto na porta, gemendo alto, ao senti-la me invadir com seus dedos com a força de sempre e começar a me estimular de maneira enlouquecedora.

Senti o seu nariz se encostar ao meu pescoço e a sua outra mão pudar os meus cabelos novamente, os enrolando em seu braço.

- Já disse que adoro o seu cheiro? - Ela sussurrou para mim, me fazendo deitar a minha cabeça no seu ombro e presando ainda mais o meu corpo ao encontro da porta, ao sentir as minhas pernas fraquejarem.

Fechei os meus olhos com força, sentindo o meu peito parecer desejar explodir para si a qualquer momento, enquanto eu já me sentia mais do que próxima.

A sua mão ao meu cabelo desceu pelas minhas costas e pousou na minha bunda, a apertando fortemente contra si.

- Addie... - Murmurei o seu nome em um gemido, sentindo as minhas pernas fraquejarem - Vamos para a cama.

A ruiva acatou o meu pedido, me virando para si rapidamente e me tomando em seu colo, levando-me até a cama e se sentando comigo nela.

Me posicionei diante dos seus dedos e passei a me movimentar em cima dela, cravando as minhas unhas nos seus ombros e jogando a minha cabeça para trás, gemendo o seu nome repetidamente.

- Addie... Ah!

Senti os meus cabelos serem puxados com força para trás e consequentemente a minha cabeça, enquanto ela deixava o meu pescoço livre para o explorar com os seus lábios.

Após alguns segundos, o meu clímax se aproximou e eu a senti estimular o meu ponto que pulsava pela sua atenção, me fazendo gemer alto e colar a minha boca à sua, em um beijo desesperado, enquanto eu arranhava as suas costas com força, desejando descontar aquela sensação incrível em algo.

- Tire a sua calça - Murmurei para ela, após me desmanchar para si pela primeira vez.

Me afastei do seu colo e a ruiva se levantou, o fazendo rapidamente.

Me deitei na cama e abri as minhas pernas, a recebendo em cima de mim e fechei os meus olhos com força, ao senti-la tão excitada.

- Sinta comigo... - Sussurrei para ela, mordendo o nódulo da sua orelha e a sentindo começar a se movimentar contra mim, passando a gemer deliciosamente ao meu ouvido.

Desci as minhas mãos para as suas nádegas e a pressionei ainda mais contra mim, gemendo com aquele contato e a arranhando com as minhas unhas, a ouvindo gemer baixo.

Juntas, nós chegamos ao nosso clímax uma vez, e mais outra, e uma terceira, tendo os nossos corpos quentes e suados grudados um ao outro, enquanto ela se desmanchava em cima de mim novamente e, juntas, em um único frenesi, nós estremecíamos e gemíamos como se nada mais existisse no mundo, apenas o ali, com ela, dentro daquele quarto, debaixo do seu corpo suado.

Ao fim do nosso terceiro round juntas, a ruiva me beijou de maneira carinhosa, enquanto eu acariciava as suas nádegas e envolvia a sua cintura com as minhas pernas, não desejando sair dali para nada, até ouvir o seu celular tocar dentro da minha bolsa.

Ela suspirou, separando os nossos lábios e se afastando de mim, fazendo-me sentir a terrível sensação de vazio e desolamento assim que ela o fez e caminhou, ainda nua, até a minha bolsa, enquanto eu observava e me (re)encantava por cada curva perfeita do seu corpo.

Os seus cabelos bagunçados, seus músculos tão evidentes, as suas costas definidas, os seus seios de tamanho perfeito, as suas coxas malhadas e a sua bunda...

Eu poderia passar o resto da minha vida olhando para aquela imagem em específico.

A vi falar algo no telefone e sorri, vendo a sua feição zangada a qual eu tanto adorava aparecer em seu rosto novamente.

Ela desligou a chamada e suspirou, me encarando.

- Se eu jogasse o seu celular contra a parede todas as vezes que vamos fazer sexo, você iria se importar? - A indago com um sorriso travesso nos lábios.

- Eu seria capaz de a pagar para que faça isso - Ela falou se aproximando e deixando um selinho demorado em meus lábios. - Vou tomar um banho, preciso resolver uma merda que Mark fez.

- Onde está a novidade?

Ela bufou irritada, se dirigindo até o banheiro e eu sorri, negandocom a cabeça e me deitei novamente.

...

Meredith Montgomery,
Dois dias depois;

- Estão liberadas, meus amores, não se esqueçam dos alongamentos da noite e até amanhã!

Recebi uma grande dose de abraços apertados das minhas meninas assim que elas, uma por uma, saíam da sala.

Como sempre, arrumei a minha sala junto a Sofia e, após isso, fui me trocar para almoçar com a minha mãe.

Vesti a minha calça de alfaiataria bege e a minha camisa social branca, calçando as minhas sandálias de salto grosso da mesma cor da camisa.

Soltei os meus cabelos e peguei a minha bolsa branca, me dirigindo até o escritório de Flora.

Mas, assim que passei pela recepção da Academia, estranhei a quantidade de funcionários que estavam parados diante da TV da entrada.

Curiosa, rumei até ali e me deparei com o noticiário do dia.

- O que está acontecendo? Quem morreu? - Pergunto a Nina, a recepcionista, curiosa.

- Ninguém, não ainda. Um serial killer maluco fugiu do corredor da morte e a sua gangue espalhou mensagens assustadoras pela cidade.

- Que horror! - Falei sentindo o meu peito se apertar no mesmo instante - Não gosto de ver essas coisas. Sabe se a minha mãe ainda está em aula?

- Ela já saiu há alguns minutos.

- Ok, obrigada, Nina - A agradeci me virando para rumar até a sala da minha mãe, até ouvir a jornalista dizer algo que fez o meu coração parar de bater por alguns segundos e o meu mundo parecer desabar inteiramente.

- Em uma das mensagens de horror deixadas pelo Central Park por Ren, estava escrito as seguintes palavras: "Morte, vadia, beber o seu sangue, comer os seus órgãos, a fazer pagar e Montgomery." Assinadas em vermelho. A polícia que está responsável pelas buscas alega que a Juíza e empresária Addison Montgomery, a responsável pela prisão e sentença de morte do serial killer, há um ano atrás, estaria fortemente em perigo, com a sua iminente fuga. Para mais detalhes...

Parei, sentindo o mundo ao meu redor parecer girar como se, de uma hora para a outra, eu houvesse adentrado em uma bola de futebol em campo.

Engoli em seco, sentindo os meus olhos marejarem, a minha boca secar, e, de alguma forma, o meu corpo parecer se desintegrar ali, naquele momento. A minha bolsa caiu no chão e eu, sentindo como se estivesse acabado de ter sido jogada em alto mar para me afogar, senti o choro já se fazer presente na minha garganta.

- Meredith... Calma - Nina havia se colocado ao meu lado, ao ouvir também o que eu havia acabado de escutar.

Sentindo-me mais tonta do que já me senti em toda a minha vida, me seguro em seu braço, sentindo medo de cair ali mesmo, enquanto as minhas mãos tremiam de maneira insuportável e o meu peito lutava em busca de ar.

- Ligue... Por favor... Ligue para o meu segurança... Eu... Eu preciso... - Sinto o meu fôlego cair completamente e a simples atividade de respirar se tornar uma dificuldade imensa. A minha garganta parecia ter se fechado por completo naquele exato momento, enquanto eu me ajoelhava diante da minha bolsa e as minhas mãos trêmulas a tateavam a minha bolsa de maneira nervosa à procura do meu celular.

- Calma, Meredith! Lara, por favor, me ajude a levá-la para a diretoria. - Ela me ajudou a levantar.

- Nina... Addison... Eu... Eu não posso... Eu não posso perder Addison... - A encaro, sentindo as minhas lágrimas caírem de maneira veemente do meu rosto, enquanto os meus soluços já se faziam presentes e uma sensação de medo a qual eu apenas havia sentido uma única vez na vida me assolar por completo - Eu preciso ver... Eu... Eu preciso... Eu preciso... Ver Addison.

- Eu sei, Mer, calma! Vamos para a sala da sua mãe... Calma.

Com dificuldade, fui guiada até a sala da minha mãe por Nina e outra mulher e, assim que a adentro, sinto a minha cabeça nublar completamente ao ouvir todos os gritos daqueles pesadelos ecoarem a minha mente como um coral de horrores e, assustada, derrubo o meu celular ao chão, tampando os meus ouvidos com força com as minhas mãos, ouvindo-me gritar, de maneira dolorosa, dentro da minha própria cabeça.

Addison...

Eu não poderia perder Addison...

Não de novo...

Não de novo...

- Filha!

Senti o mundo ao meu redor girar ainda mais rapidamente e tudo ao meu redor ficar extremamente escuro, enquanto eu ouvia os meus próprios gritos dentro da minha cabeça, ecoando como se eu houvesse aberto uma ferida há muito tempo não cicatrizada. Aperto os meus olhos com força, soluçando dolorosamente ao sentir o meu peito parecer ser esmagado aos poucos.

- Shh, filha, calma! Calma, meu amor, calma!

- Mamãe... A... A...

- Eu sei, eu sei. Calma! Pegue um copo com água para ela e você, contate os seus amigos para ver se está tudo bem com a minha nora, ok? Mande-a vir para cá, por favor!

- Mamãe... Eu... Eu não posso... Não de novo... Não... Não de novo... Mãe... Por favor... A minha cabeça... Os gritos... Mãe...

A senti me abraçar com força, me apertando contra si em uma tentativa falha de me acalmar.

- Não vai acontecer de novo. Eu prometo. Addison está bem, meu amor, eu sei disso. Calma, por favor, se acalme. Ela tem uma ótima equipe de segurança treinada exatamente para isso, calma, por favor! Foram apenas ameaças... Isso é normal filha.

- Mãe...

- Shh, calma, meu amor, calma. Não vai acontecer de novo, eu prometo, eu prometo, meu amor. Foi só um susto... Você só está assustada... Não deixe esses pensamentos dominarem você... Você está tendo uma crise... Calma...

- Mamãe...

- Shh, calma, amor, calma. É apenas uma crise, vai passar, eu prometo, vai passar...

A aperto contra mim, sentindo como se o meu coração houvesse sido arrancado do peito e apertado com força pelas mãos de alguém, a ponto de me deixar sem ar, enquanto as palavras sangue e morte rondavam a minha mente de maneira ineterrupta.

Eu não poderia perder mais alguém que eu amava. Não de novo. Não daquela forma.

...

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