35- Sombras do Passado.
Olá, sejam bem-vindos novamente! Como estão? Como vai a vida? Que saudades!
Aproveitem o capítulo extremamente... Intenso escrito, como sempre, com muito amor, carinho e cuidado.
Muito obrigada pelas quase 180 mil visualizações! Estamos à caminho das 200 mil e eu confesso estar ansiosa!
Mas enfim, sem mais delongas, vamos ao capítulo!
PS: A playlist da fanfic está atualizada, caso desejem, leiam o capítulo a ouvindo, ela está no meu mural de observações aqui no meu perfil!
PS²: O mês de novembro está chegando, e pra quem já está aqui há algum tempo, sabe a data importantíssima que esse mês traz. A pergunta é: o aniversário é meu, mas o que o presente será de vocês, então, meu amado público deseja? Além do sagrado capítulo de Contrato de Casamento, é claro! Está nas mãos de vocês! Apenas não se esqueçam que, por mais lisonjeada que eu me sinta, eu não sou o Dumbledore e nem o Gandolff, então desejos realizáveis, por favor! :)
PS³: Me deixem saber o que vocês acharam dos acontecimentos desse capítulo em si, estou realmente curiosa para saber as suas... Considerações.
É isso, aproveitem o máximo! Nos veremos logo, eu prometo!
...
Addison Montgomery;
- Porra! Porra! Porra! - Murmurei irritada para mim mesma batendo no volante do meu carro com força, após ver o meu outro carro sair do estacionamento do prédio levando Meredith para casa.
Eu sabia que ela ficaria chateada, mas não imaginava o quanto! E muito menos comigo.
Meredith estava me odiando no momento, e eu merecia.
Eu profundamente merecia aquilo, por ter sido tão filha da puta à ponto de, a mando da sua mãe, esconder algo tão importante dela por meses, e mais ainda por ter a levado para aquela noite horrível.
Eu merecia o seu ódio, verdadeiramente merecia.
Mas o fato de eu o merecer não anulava a sensação terrível que habitava em meu peito, em resposta ao quão eu havia sido filha da puta para com ela, e para o quão ela me fizera perceber isso apenas essa noite.
Meredith saíra dali chorando, de uma maneira a qual eu nunca imaginei a ver.
Tudo isso por minha culpa. Pela falta de senso em que eu obtive ao aceitar os pedidos da sua mãe em não a contar sobre aquele relacionamento, e, pior ainda, em ter aceitado participar daquele jantar.
- Burra! É isso que você é, Addison Montgomery: uma filha da puta burra!
Soquei novamente no volante do meu carro e, reunindo as forças que eu não possuía, dei partida, decidida a conversar com Meredith e me desculpar, mesmo sabendo que ela não possuía obrigação nenhuma de, sequer, me ouvir.
Eu imaginava como ela havia se sentido a noite inteira, e dei o meu melhor para a mostrar que sim, eu estava ao seu lado, ela não estava sozinha.
Mas não fora o suficiente, era óbvio que não seria. Isso não se tratava de o quanto eu a entendia, ou o quanto eu deveria estar ao seu lado.
Não era sobre mim, e sim sobre ela.
Isso se tratava, desde o início, de como ela se sentiria diante de todo aquele constrangimento armado pela sua própria mãe.
E, por mais que eu tenha tentado fazer com que Ellis desistisse da ideia de contar sobre aquilo para Meredith naquelas circunstâncias, ela não me ouviu. E o que mais eu poderia fazer? Passar por cima dos pedidos da minha própria sogra e contar para Meredith, que provavelmente teria um surto ainda maior ao saber de mim?
Eu não poderia ter escondido isso dela, eu sabia disso.
Mas eu também sabia que eu não queria ser a portadora daquela notícia, e que aquele assunto não era da minha conta. Era um assunto de família, eu não fazia parte da sua família.
Puxei os meus cabelos para trás, sentindo os meus pensamentos confusos demais para que eu pudesse formar uma linha de raciocínio coerente.
Eu precisava me explicar, precisava me desculpar. Mesmo sabendo que Meredith não possuía qualquer obrigação de me ouvir ou me entender.
Eu havia errado, e eu admitia isso. Mas eu precisava a explicar as minhas intenções.
Após pisar no acelerador de maneira veloz, eu consegui adentrar os portões da minha casa apenas um minuto depois da Mercedes, vendo Meredith subir as escadarias da entrada rapidamente sendo seguida por Alex.
Estacionei a Lamborghini atrás da Mercedes e desci rapidamente, pegando a minha bolsa e o meu blazer.
A porta principal se fechou, eu subi as escadas rapidamente, porém apreensiva, com medo da reação em que Meredith supostamente teria.
Abri a porta principal e a vi passar pela governanta a respondendo um boa noite em um fio de voz e subindo as escadas rapidamente.
Eu não sabia se estava preparada para ir atrás dela, ou se ela estava preparada para que eu fosse.
Eu não queria a machucar ainda mais.
Respirei fundo, me sentando em um dos sofás e apoiei os meus cotovelos nas minhas pernas, puxando os meus cabelos que ameaçavam cair em meu rosto para trás.
- Addison? Há algo em que eu possa fazer para ajudar? - Alex me indagou intimamente, se referindo a situação com Meredith em si e eu neguei com a cabeça.
- Vá descansar, pode ir para casa, amanhã... - Suspiro - Amanhã iremos almoçar na casa da minha mãe e depois vamos direto ao aeroporto. Entre em contato com o piloto e o peça para deixar tudo organizado.
- Ok. Tenha uma boa noite, e... Quanto a... Essa situação... Apenas mostre estar do lado dela, mesmo que ela não queira. Eu não sei o que aconteceu, mas ela parece... Brava. Com você. Acredito que ela tenha motivos.
Respiro fundo, afundando a minha cabeça nas minhas mãos e o encaro.
- Ela tem.
- Apenas a dê um tempo, ou... Tente se explicar. Tem certeza que não quer que eu fique?
- Sim, pode ir.
Ele assentiu e o vi se virar, caminhando até a porta, porém, antes de sair ele me encarou novamente.
- Sei que você não é uma pessoa de demonstrar muitos... Sentimentos. Conheço você e a relação de vocês. Mas... Ela não está nada bem, Addison.
Assenti, respirando fundo.
- Boa noite, Addison.
- Boa noite, Alex. Dê um beijo no Luke por mim. - Ele assentiu sorrindo e saiu.
Eu me limitei a respirar fundo novamente e, assim, me levantei do sofá, subindo as escadas sentindo um peso insuportável sobre o meu corpo.
Adentrei o meu quarto e tirei os meus saltos, sentindo os meus pés agradecerem pela liberdade. Tirei o meu blazer e caminhei até o closet, ouvindo o som do chuveiro.
Respirei fundo, me encaminhando até o banheiro e parei na porta, observando Meredith com a cabeça embaixo do chuveiro, enquanto apoiava as suas mãos nas paredes e, mesmo que seu rosto estivesse inteiramente molhado pela água, eu simplesmente conseguia saber, mesmo de longe, que ela estava chorando.
Meu peito se apertou pela milésima vez aquela noite e eu saí dali, resolvendo respeitar o seu tempo.
Me dirigi até o frigobar do nosso quarto e coloquei uma dose do whisky em cima dele no meu copo, me dirigindo até a varanda.
Longos minutos se passaram até que eu pudesse sentir a presença de Meredith no quarto novamente. Me levantei rapidamente, sentindo o aroma delicioso do seu óleo corporal extremamente fresco e a encarei. Ela vestia um robe preto e longo seu, e tinha seus cabelos completamente secos, limpos e ondulados caindo pelas suas costas da maneira... Graciosa em que eu verdadeiramente adorava.
- Meredith... - Senti a minha voz vacilar. Ninguém sequer possuíra essa proeza advinda de mim, além da minha mãe e de Amélia. Aquilo me fez assustar-me comigo mesma, eu estava temendo Meredith? - Por favor, podemos conversar?
A vi, mesmo que de costas para mim, suspirar e, assim que ela se virou e eu tive a mínima esperança de que a sua raiva havia passado, pude ter a certeza que não ao vê-la sequer me encarar.
- Não agora - seu tom de voz fizera-me sentir o meu corpo inteiro arrepiar-se. Eu nunca havia imaginado a ouvir de maneira tão fria e distante. A doçura da sua voz havia se esvaído, tudo em que eu conseguia perceber era uma rouquidão dada pelo seu choro e um ar de tristeza na mesma. Nada da Meredith doce e feliz o tempo inteiro que eu estava me acostumando a apreciar todos os dias.
- Meredith... Por favor...
- Não agora, Addison. - Ela murmurou novamente e mais friamente - Estarei no meu escritório, não se dê o trabalho de me esperar, preciso ficar sozinha por um momento. - Ela murmurou pegando o seu celular e saindo do nosso quarto, deixando-me extremamente perplexa, estática e sem palavras, no meio do cômodo.
Fechei os meus olhos, resolvendo respeitar o seu momento. Mesmo que tudo em mim me pedisse para que eu fosse atrás dela e fizesse qualquer coisa para que ela me ouvisse.
Me sentei, derrotada, no sofá e puxei os meus cabelos para trás, fazendo um coque bagunçado neles.
Abri alguns botões da minha camisa e bebi todo o whisky em meu copo, sentindo-me a pior pessoa do mundo por ter sido a pessoa responsável por levar Meredith para aquela noite de horrores.
Sem mais alternativas, e sem condições de continuar no meu quarto me martirizando daquela maneira, me levantei, indo até o meu closet e tirei toda a minha roupa, ainda sentindo o cheiro delicioso e inebriante de Meredith pairar pelo cômodo.
Vesti um short de academia preto e um top da mesma cor, calçando os meus tênis de corrida. Coloquei o meu smartwatch e prendi os meus cabelos em um rabo de cavalo firme, saindo do quarto.
Cheguei à minha academia após vinte minutos de corrida pelo terreno da minha casa. Já suada, alcancei uma garrafa d'água e a tomei até a metade em apenas um gole.
Tirei as minhas alianças, e vesti as minhas luvas de boxe, resolvendo descontar a raiva em que eu sentia de mim mesma e de Ellis Grey em golpes violentos no meu boneco de boxe.
Eu nunca seria capaz de admitir isso para Meredith, mas a afeição que eu possuía com Flora jamais seria a mesma com Ellis, mesmo que eu conhecesse a morena a menos tempo, mas principalmente depois desse ocorrido.
Somente agora eu consegui raciocinar o quão Ellis Grey havia sido uma tremenda egoísta, durante todos esses meses, escondendo um relacionamento tão sério, á ponto de considerar um casamento, da sua própria filha.
Eu não possuía a mínima ideia do que Meredith havia passado com Tatcher Grey, mas sabia que o que quer que fosse, havia a afetado seriamente, á ponto de a fazer ser uma pessoa tão insegura e cheia de receios consigo mesma e com as pessoas ao seu redor.
Meredith foi machucada, tremendamente machucada por esse homem.
Imaginar a intensidade dessa ferida era quase uma tortura para mim.
Não era possível que Ellis Grey fosse tão egoísta ao ponto de que sequer houvesse pensado na sua própria filha esse tempo todo! Que não possuísse a mínima noção, conhecendo a sua filha, de o quão decepcionada e magoada ela ficaria.
Meredith havia sido forte, extremamente forte. Me colocando no seu lugar, eu nunca seria capaz de possuir a classe e a paciência em que ela possuiu a noite inteira.
Sentindo os meus pensamentos completamente bagunçados, e a raiva, o temor e a ansiedade me possuírem de maneira feroz, eu soquei aquele boneco como se não houvesse amanhã, sentindo o suor pingar do meu corpo e tentando esvair todos aqueles sentimentos ruins pelos grunhidos de raiva que saíam da minha garganta, inconscientemente.
- Senhora Montgomery... Está tudo bem?
Desperto daquele transe e paro de socar aquele boneco, vendo a figura morena parada na porta da minha academia, parecendo preocupada.
- O que faz aqui, Carter? - o indaguei rispidamente, odiando ter sido interrompida.
- Apenas estava fazendo a ronda junto a Helen e vim me certificar de que estava tudo bem, me perdoe a intromissão. - Ele se justificou. Eu assenti, sem paciência para sermões.
- Entre e lute comigo - o ordenei, sem sequer pensar naquilo.
Eu precisava colocar aquela raiva para fora de maneira mais efetiva.
Ele pareceu surpreso.
- Eu?
- Sim, Carter. Não me faça falar novamente, foi uma ordem. - Falo revirando os meus olhos e bebendo a minha água.
Ele, sem hesitar, adentrou a academia e tirou os coturnos que usava e as meias, fazendo o mesmo com o seu blazer e a camisa social, ficando apenas de calça e camiseta. O indiquei o local das luvas e ele as vestiu, vindo até o centro da academia.
Sem sequer o dar tempo para pensar, levantei a minha guarda e comecei a ataca-lo com um movimento direto, inesperado por ele, utilizando a minha mão atrás da guarda.
- Uau! - ele murmurou após se defender do golpe por mero instinto. - Ousada!
- Fale menos e lute mais, Karev! - murmuro irritada, o aplicando outro golpe, o qual ele não consegue defender-se.
Ele, então, pareceu realmente se concentrar em tentar apenas se defender dos meus ataques.
A partir daquele momento a luta se intensificara, e, quanto mais o tempo se passava, mais eu pensava em Meredith e no quão idiota eu fui, e mais a minha raiva aumentava, gradativamente, fazendo-me a descontar completamente naquela luta.
O suor já pingava em meu corpo, eu já conseguia sentir os meus bíceps e o meu abdômen arderem em função do esforço demasiado em que eu estava fazendo para golpear repetidamente o irmão de Alex, assim como os meus pulsos também davam sinais do esforço em que estavam sendo submetidos, como uma alerta do meu próprio corpo para que eu parasse.
Eu não iria parar, o meu corpo sabia disso. Eu, mais do que ninguém, sabia disso.
Assim que a imagem vívida da feição decepcionada e chorosa de Meredith aparece á minha mente, em conjunto com a sua voz que também carregava um ar de choro e decepção, visando afastar aquela imagem e as suas palavras da minha cabeça, eu transferi um golpe em Carter utilizando o meu joelho, o fazendo perder a sua guarda por um segundo, dando-me a chance de o socar novamente e o fazer cair ao chão.
Rapidamente me sentei sobre o seu corpo caído, apertando as laterais do seu corpo com as minhas coxas e o prensando ao chão, vendo-o me encarar completamente assustado o imobilizei, fazendo-o se render.
- Seu irmão é mil vezes melhor que você - murmurei me levantando e tirando as minhas luvas, o vendo completamente suado e sem ação, parecendo tentar falhamente recuperar os seus sentidos.
- Não estou nada afim de perder esse emprego, e o meu irmão é o grande adorado da Meretíssima Montgomery... Tem passe livre para bater na senhora, ou resistir melhor.
Reviro os olhos, indo até o frigobar e alcanço duas garrafas de água, o jogando uma delas.
- Poupe-me das suas desculpas. Apenas aceite que uma mulher seja mais forte e mais esperta do que você, babaca.
Coloco novamente as minhas alianças assim que termino de beber a garrafa de água e guardo as minhas luvas, me preparando para sair dali.
- Ah, mas eu aceito. Foi uma grande honra perder para a senhora, meretíssima, essa noite foi a prova viva de que esses bíceps não estão aí apenas por estética - ele falou se levantando enquanto bebia a água.
- Pode ter certeza que não, Karev. Sugiro que tome aulas com o seu irmão, você é péssimo.
- Claro, Alex sempre melhor do que Carter. Ouvi isso a minha vida toda, meretíssima.
- Estou apenas reforçando, para caso de esquecimento - murmurei prendendo os meus cabelos novamente.
- Sei que o meu irmão é seu melhor amigo e você é a dele, mas a senhora não precisa puxar tanto o saco daquele babaca.
- Isso são fatos, Carter Karev, não apenas favoritismo. - Murmurei saindo dali.
- Boa noite - o ouvi murmurar e respirei fundo, descendo as escadas da entrada da academia correndo.
Como sempre, após tanto esforço, eu não me sentia absolutamente nada cansada. Muito pelo contrário. Eu poderia correr uma maratona naquele momento, poderia fazer mil e uma coisas. Como sempre, o meu cérebro simplesmente não conseguia parar e dar o devido descanso para o meu corpo.
Novamente, me propus a correr pelo terreno da minha casa e dei um total de três voltas em todo ele, parando pela terceira vez em frente a escadaria de entrada, sentindo o meu coração arder dentro do peito, assim como a minha garganta e o suor pingar de maneira intensa pelo meu corpo, enquanto os músculos das minhas coxas e panturrilhas ardiam de maneira feroz.
Engoli em seco, apreciando aquela sensação de total vitalidade e subi as escadas da entrada.
Abri a porta com a minha digital e entrei, caminhando até o meu escritório.
Peguei alguns papéis os quais eu precisaria analisar para me manter atualizada de tudo em Los Angeles no dia seguinte e saí do escritório, subindo até o meu quarto, esperando ver Meredith já dormindo ao seu lado da cama, pois já se passava da uma da manhã.
Porém, a minha teoria se fizera nula assim que adentrei o meu quarto, visualizando a cama arrumada e sentindo apenas o cheiro fraco do perfume de Meredith pelo quarto. Ela ainda estava no seu escritório, e parecia não querer sequer imaginar a opção de dormir ao meu lado essa noite.
E ela estava certa em não desejar aquilo.
Respirei fundo, indo até o banheiro e tirei o meu conjunto de academia completamente suado, ficando completamente nua.
Soltei os meus cabelos e adentrei o chuveiro de água fria, sentindo o meu corpo inteiro estremecer-se assim que mergulhei-me de cabeça no banho.
Passei bons minutos debaixo do chuveiro, imaginando o que Meredith estaria fazendo em seu escritório naquele momento, se ela ainda estava chorando, ou se estava se mergulhando em trabalho, ignorando tudo aquilo.
Provavelmente a última opção.
E, pelo visto, eu havia encontrado mais algo em que possuímos em comum, mas que, inusualmente, não me agradava.
Meredith também parecia preferir ignorar coisas que verdadeiramente mexiam com ela e se alienar delas, assim como eu.
Assim que encarei o relógio digital no chuveiro, me atentei a hora e o desliguei, enrolando os meus cabelos em uma toalha e o meu corpo em um roupão.
Lavei o meu rosto e fiz os meus cuidados com a minha pele de todas as noites, indo até o meu closet. Vesti uma camisola vermelha e uma calcinha da mesma cor e sequei os meus cabelos, aplicando os meus cremes na minha pele.
Voltei ao centro do quarto e, sem a mínima vontade de me deitar, mesmo me sentindo minimamente cansada, enchi um copo de whisky e fui até a varanda com os papéis em que peguei no escritório e meu MacBook, e me sentei em uma poltrona, observando a chuva forte que se iniciara há alguns minutos lá fora.
Tentando fazer o meu consciente parar de pensar em Meredith por pelo menos um segundo, tomei um grande gole da bebida forte, enquanto fechava os meus olhos logo em seguida e a sentia cortar a minha garganta de maneira inebriante.
Mas, apenas alguns segundos após o efeito se esvair, lá estava a loira de olhos azuis extremamente decepcionada comigo, novamente.
Abri novamente os meus olhos, respirando fundo e abri aquelas pastas, ouvindo meu computador apitar e, em seguida, a sua tela acender.
Senti a minha cabeça começar a latejar em dor assim que me deparei com um e-mail extenso em alemão enviado por um dos meus sócios em Hamburgo.
Respirei fundo, colocando os meus óculos e bebendo novamente o meu whisky, me concentrando em ler o que estava escrito ali.
Após alguns minutos concentrada naquele e-mail, ouvi o meu celular tocar e respirei fundo, o pegando. Vi o nome de Amélia na tela e o atendi, ouvindo a sua voz animada ao fundo.
- Oi, maninha! Como está? Me perdoe pelo horário, mas imaginei que não estivesse dormindo.
- Oi, Amy. Tudo bem, eu não estava.
- Cadê a Mer? Está bem? Tentei falar com ela agora á noite mas não consegui.
- Ela... - Fechei os meus olhos por um breve segundo, respirando fundo - Está no escritório trabalhando. A academia está exigindo demais dela, provavelmente ela não viu a sua ligação.
- Ah, tudo bem então. Queria apenas te dizer que fui hoje novamente na vila em que os moradores de Malanje estão, e... Eles estão tão felizes, mana! A construção das casas ficará pronta em novembro, provavelmente. Mas, até lá, eles estão ótimos na vila.
Suspiro aliviada. Era ótimo saber aquilo. Que aquelas pessoas que não haviam vivenciado qualquer outro cenário em suas vidas além de sofrimento pudessem, agora, ter a oportunidade justa de serem donos da própria vida, e não de estarem submissos as sentenças impostas a eles pela miséria e a desigualdade linear em que eles foram cruelmente colocados.
- As crianças já irão começar a escola na segunda, Addie. E aquela garotinha que você me pediu para saber sobre... Bem, ela está sendo nutrida e acompanhada por um pediatra e uma nutricionista, assim como todas as outras crianças. Eu a vi e a informei que sou sua irmã, ela ficou mais do que feliz! Perguntou se eu conhecia a moça de cabelos cor de mel que estava junto com a que tinha cabelos cor de fogo - ela riu.
- Ela se afeiçoou a Meredith no mesmo momento que a viu - respondo relembrando do momento em que a pequena criança, Aya, agarrou-se aos braços de Meredith para não mais soltar. Estranhamente meu peito se aqueceu com a memória.
- Imagino, a Mer tem esse poder sobre as pessoas. A doçura dela encanta a qualquer um. Até hoje não me perdoo por não ter ido aquela maldita festa com você!
Reviro os meus olhos, ouvindo a porta do quarto se fechar e rapidamente olho para trás, vendo Meredith adentrar o nosso quarto.
- Amélia, eu preciso desligar. Amanhã estarei em LA e a ligo para a atualizar sobre tudo.
- Ok, mana. Boa noite, amo você.
- Eu também - respondi desligando a chamada, sentindo-me subitamente nervosa pela presença da loira no quarto.
Meredith se encaminhou até o banheiro sem sequer encarar o lado do quarto em que eu estava e, dois intermináveis minutos depois, ela estava no centro do quarto novamente.
A vi tirar o seu robe e o apoiar na poltrona ao seu lado do quarto e afastar o edredom da cama.
Me levantei, sentindo-me nervosa. Nós precisávamos conversar.
- Meredith... - senti a minha voz sair menos grave que o normal e me surpreendi com aquilo, mas não me dei tempo de raciocinar aquele fato - Podemos conversar agora, por favor?
A ouvi suspirar e caminhei até o centro do quarto, vendo-a ainda de costas para mim.
- Meredith, eu...
- Estou cansada, Addison. Quero dormir agora, por favor.
A frieza na sua voz me fizera estremecer. Senti o meu coração bater fortemente dentro do meu peito.
- Meredith...
- Addison, pode, por favor, respeitar o meu pedido? - A sua voz saíra como uma súplica irritada. Meredith estava irritada. Imensamente irritada.
Porém, mais ainda, ela estava magoada.
Senti que estava invadindo o seu espaço, e eu realmente estava.
Meredith não queria falar comigo, e com razão.
Eu precisava respeitar aquilo, mesmo que a necessidade de a fazer me entender fosse imensa, a sua vontade era a prioridade ali.
Eu nunca a desrespeitaria.
Nunca.
- Tudo bem - respondi a observando se deitar na imensa cama, que parecia ainda maior tendo o seu corpo pequeno encolhido ao seu lado, sob o edredom branco.
Abaixei a temperatura do ar condicionado para a que ela sentia-se mais confortável e voltei a sacada, levando a garrafa de whisky.
Fechei a porta do cômodo e enchi novamente o meu copo, enterrando o meu corpo sobre a poltrona novamente e suspirando, antes de levar o copo aos meus lábios e dar uma grande golada no líquido quase ácido, que descera queimando satisfatoriamente a minha garganta, fazendo os meus olhos arderem pela quantidade demasiada.
Seria uma noite longa. Eu não conseguiria e nem me permitiria deitar ao lado de Meredith para dormir, iria respeitar o seu espaço, por mais que hoje, justamente hoje, o meu corpo implorasse por um pouco de sono decente e eu não possuísse tanta coisa para resolver, que não pudesse esperar por algumas horas.
Mas eu não conseguiria me deitar ao lado de Meredith para dormir sabendo que ela ainda estava magoada comigo.
Eu a respeitava, mais do que qualquer coisa, e o bastante para colocar as suas vontades acima das minhas.
Seria uma madrugada longa, eu sabia disso.
...
Dia seguinte,
6:15AM;
Fora uma madrugada longa, eu não poderia estar mais certa daquilo.
Por isso, senti-me grata por abrir os olhos de um súbito cochilo e sentir a luz solar invadir os meus olhos com a pouca intensidade dos seus raios que ainda se formavam conforme o sol ia nascendo, tirando o lugar da chuva que havia, finalmente, passado.
Desencostei a minha cabeça da poltrona e um gemido baixo automaticamente saíra da minha garganta ao sentir o meu pescoço doer de maneira cruel, assim como a minha coluna.
Eu definitivamente odiava aquela poltrona.
Respirando fundo, fechei a tampa do meu MacBook e prendi os meus cabelos novamente em um coque, amarrando o meu robe mais firmemente ao meu corpo.
O tempo estava, ainda, úmido e um pouco frio.
Estranhamente, pois, nessa época do ano deveríamos, supostamente, estar no verão.
Alcancei o meu celular, que acendeu a tela assim que a apontei para o meu rosto, reconhecendo automaticamente a minha face e encarei a hora, soltando um suspiro pesado logo em seguida.
Eu precisava de um bom banho para continuar organizando as coisas de Los Angeles hoje, antes de ir.
Por isso, me levantei, pegando as minhas coisas e abrindo a porta da sacada, me surpreendendo ao ver a cama completamente arrumada, sem qualquer resquício de Meredith ali, ou em qualquer outro lugar do quarto.
Soltando um suspiro decepcionado, guardei as minhas coisas e fui até o banheiro, tirando toda a minha roupa e me colocando debaixo do chuveiro de jato frio, sentindo o choque percorrer o meu corpo inteiro, como uma ótima maneira de o acordar por completo.
Tomei um banho rápido e saí logo em seguida, vestindo uma calcinha preta de renda confortável, um short e top pretos e calcei os meus tênis de corrida, prendendo os meus cabelos em um rabo de cavalo firme.
Coloquei o meu smartwatch e coloquei o meu celular para carregar, saindo do meu quarto logo em seguida.
Desci os três lances de escadas rapidamente e, sentindo o vento frio da manhã tocar a minha pele de maneira áspera, fiz um alongamento rápido ao pé da escadaria de entrada e me propus a correr pelo meu terreno pelos próximos quarenta minutos.
Ao fim deles, a mesma sensação agridoce de alívio psicológico, misturado ao ardor dos meus músculos me invadiu por completo, enquanto o meu corpo praticamente pingava em suor.
Encarei o meu relógio, constatando já se passarem um pouco das sete da manhã e vi os portões da minha casa se abrirem e uma das minhas mercedes mais simples o adentrar.
Ela parou perto de mim e o vidro abaixou, Alex franziu o cenho.
- Bom dia, o que faz aqui fora parada? - Ele me indagou, descendo do carro.
- Eu pergunto o mesmo, que eu saiba, dei ordens estritas para que você estivesse aqui apenas perto do almoço. - respondi, deixando claro a minha insatisfação.
- Luke foi passar o sábado com o avô.
Assinto, entendendo o porque ele estava aqui tão cedo.
- Você não respondeu a minha pergunta.
- Acredito que está claro que eu estava correndo - murmuro revirando os meus olhos.
- Ok. Irei colocar o carro na garagem e resolver algumas coisas com a equipe do aeroporto. - Assinto, me virando.
- Addison - me virei novamente para ele - Já está tudo bem entre você e ela?
Suspiro, negando com a cabeça.
- Ela não quer conversar, e eu respeito isso.
Ele assentiu.
- Mas vocês não podem ficar brigadas para sempre.
- Não iremos.
- Então você precisa a fazer a ouvir. Isso não é desrespeitar ela, e sim a mostrar que se importa o bastante ao ponto de querer, mais do que nunca, se explicar.
Suspiro, absorvendo as suas palavras.
- Eu sei que se importa, até demais, eu já percebi isso, por mais que ela não tenha. - Ele comentou dando de ombros e eu estranhei. Estava tão visível assim para ele que eu me importava tanto com Meredith?
- Alex, esqueça isso, ok? - murmuro um pouco incomodada com o olhar estranho em que ele me lançou.
- Ok, Luke mandou um beijo e disse que quer a ver no meu aniversário.
- Certo, estarei lá, como sempre. Vou subir.
Ele assentiu e eu me virei novamente, subindo as escadas.
Me dirigi até o meu escritório e o adentrei, ainda tentando entender o olhar esquisito em que Alex me lançou ao dizer que sabia que eu me importava com Meredith.
E, óbvio, ele estava certo. Eu me importava com Meredith, e, por mais que eu não esperasse isso, não era nada demais.
Nada que explicasse aquele seu olhar.
Resolvendo tirar aquilo da cabeça, apenas liguei o meu computador e verifiquei alguns e-mails, saindo do escritório rapidamente.
Subi as escadas, entrando no meu quarto e sentindo, novamente, a falta de Meredith. Onde ela havia se metido?
Tomei outro banho, dessa vez lavando os meus cabelos para limpa-los do suor e saí, os secando e vestindo um conjunto de lingerie vermelho.
Vesti uma calça jeans preta e uma t-shirt da mesma cor, e, por cima, uma jaqueta de couro também preta.
Calcei um par de scarpins pretos de verniz e, sem me preocupar com maquiagem, apenas hidratei os meus lábios e passei o meu perfume, saindo do meu quarto logo em seguida.
Cheguei até a sala de estar e encontrei uma das empregadas a limpando, como de praxe.
Passei por ela sem me importar com a sua presença e fui até a sala de jantar, observando a mesa já servida para mim e Meredith.
Mesmo que eu sequer soubesse onde diabos ela havia se metido.
- Bom dia, Meretissima - Grace adentrou a sala com o meu café e eu me sentei na minha cadeira de sempre, sem me dar o trabalho de a responder. - Posso a servir o seu café?
- Não agora. A minha mulher já desceu?
- Eu não sei, Meretíssima, eu...
Senti o cheiro de Meredith invadir a sala de jantar e elevei o meu olhar, a vendo a adentrar vestindo uma calça de yoga preta e um top de mangas longas da mesma cor, que deixava poucos centímetros da sua barriga expostos. Seus cabelos estavam presos em um coque folgado ao topo da sua cabeça, com alguns fios soltos. Ela provavelmente estava praticando seus alongamentos na academia.
- Bom dia, Grace. Pode, por favor, pedir para que Helm faça a minha vitamina hoje com, além de morangos, bananas? - Ela cumprimentou a governanta, sem dirigir o seu olhar a mim. A sua voz não possuía o tom doce de sempre, mas ela ainda tratava Grace com a mesma delicadeza de sempre.
- Bom dia, madame. Claro, com licença.
Grace se retirou rapidamente e Meredith se aproximou da mesa, puxando a sua cadeira e se sentando ao meu lado.
- Bom dia - ela me cumprimentou em um tom de voz frio, sem sequer me encarar, servindo as suas frutas.
Senti-me estremecer internamente.
Seu rosto ainda estampava uma feição magoada, sem o mesmo brilho e a mesma felicidade de sempre.
Ela apenas havia me cumprimentado por educação, eu sabia disso.
- Bom dia. - Respondi no mesmo momento tentando encontrar algo para falar a seguir. Esfreguei as minhas mãos na minha calça, um pouco nervosa - Dormiu bem?
- Sim, obrigada. - Ela respondeu de maneira curta e grossa, ainda sem me encarar, começando a comer as suas frutas.
Grace voltou, servindo a sua vitamina e o meu café, pedindo licença e se retirando novamente.
- Hoje temos um almoço com a minha mãe, Flora e Lisa... Está lembrada?
- Sim - O seu tom de voz ainda me fazia sentir cada parte de mim estremecer.
- Você confirmou com Flora a ida dela? - perguntei, em uma tentativa de a fazer conversar novamente. O seu silêncio me incomodava. Muito.
- Sim.
Assenti, bebendo o meu café. Não havia sido Grace que havia o feito, aquilo era uma surpresa, afinal, ela gostava de se encarregar de tudo.
Imaginei mais algo em que eu poderia falar para Meredith.
- Amélia ligou ontem - comecei a falar novamente, esperando que, agora, ela pelo menos me encarasse - Disse que estava tentando ligar para você.
- Irei retornar - ela murmurou contra o seu copo, com o seu olhar focado na parede à nossa frente, o apoiando na mesa novamente.
- Você possui algum compromisso na segunda-feira á noite? - a indaguei.
- Não.
- Se puder, gostaria que me acompanhasse em um jantar com os candidatos à prefeitura da cidade.
- Como quiser. Com licença - ela murmurou deixando o seu guardanapo na mesa e se levantando.
Respirei fundo, ao vê-la deixar a sala de jantar sem sequer ter comido direito e fechei os meus olhos, me odiando profundamente naquele momento.
Filha da puta. Burra.
Era a única coisa que se passava na minha cabeça, em relação a mim mesma.
Terminei o meu café e me levantei, me dirigindo até o meu escritório.
Me sentei na minha cadeira, ligando o meu computador e respirei fundo, resolvendo esquecer tudo em que rondava a minha cabeça em relação a Meredith e me concentrar no meu trabalho.
Assim que observei serem quase meio dia e meia, respirei fundo, soltando os meus cabelos do coque em que eu havia os prendido e me levantei, desligando tudo e saindo do escritório.
Subi até o meu quarto, com o objetivo de pegar a minha bolsa e arrumar a minha mala para Los Angeles e o adentrei, me surpreendendo um pouco ao ver Meredith sentada na poltrona da varanda, com seu computador em seu colo e utilizando os seus óculos de grau, os quais eu tanto adorava a ver usando, ela parecia realmente concentrada no que fazia, e sequer me encarou.
Fui até o meu closet e novamente me surpreendi ao ver uma mala grande aberta e já arrumada, com as minhas roupas e as dela.
Eu não havia tido coragem de a perguntar se ela iria ou não para Los Angeles, pois eu achava que, por sua mãe e Richard irem, ela não suportaria estar lá.
E eu definitivamente não a faria passar por aquilo.
Resolvi esquecer aquilo por um momento e peguei a minha bolsa, a arrumando rapidamente.
Fui até a minha mesa de cabeceira e senti uma sensação boa me tomar quando vi o meu carregador, o meu MacBook, o meu livro e outras coisas que eu sempre levava junto a mim nas viagens separados, já prontos para que eu apenas colocasse na mala.
Eu o fiz rapidamente e voltei ao centro do quarto, deixando meu olhar pousar na loira novamente.
- Meredith? - a chamei um pouco receosa em estar a atrapalhando.
- Hum? - ela murmurou sem me encarar.
- Quando acabar aí, podemos ir.
Ela assentiu, fechando o seu MacBook e tirando os seus óculos, se levantando.
A observei de maneira mais atenta agora.
A loira usava uma calça jeans de lavagem clara, uma camisa social preta, com as mangas arregaçadas e alguns botões abertos de maneira despojada, deixando um decote mínimo aparecer, e, nos pés, um par de sandálias de salto grosso brancas.
Seus cabelos, por mais que eu adorasse soltos no tamanho em que estavam - quase batendo no meio das suas costas -, estavam presos em um coque alto e despojado, com alguns fios soltos, o que me fizera realmente apreciar aquele penteado e o quão o perfil extremamente sutil e bem ornado do seu rosto havia sido destacado.
Apenas Meredith conseguia a proeza de ser delicada e extremamente desejável ao mesmo tempo.
Isso era quase loucura. Mas, se tratando dela, estava se tornando a coisa mais natural do mundo.
Ela conseguia ser extremamente linda, seja usando vestidos de festa, calças sociais ou daquela forma mais casual e despojada.
Eu a adorava vestida de qualquer forma. Ela conseguia focar a minha atenção em si e ficar ainda mais linda de qualquer forma.
Eu era extremamente fascinada pela sua beleza.
Retomei a minha linha de pensamentos coerentes assim que a vi guardar o seu computador e pegar a sua bolsa, indo até o closet.
A vi empurrar a nossa mala até a porta do quarto e a deixar ali, abrindo a porta e saindo.
A acompanhei, a vendo descer as escadas na minha frente e, assim que chegamos na sala, ela se sentou no sofá.
Alex adentrou a sala no mesmo instante.
- A mala está lá em cima, Alex - o situei e ele assentiu, cumprimentando Meredith e subindo as escadas.
Pouco tempo depois ele desceu novamente e Meredith se levantou.
Saímos de casa juntas e descemos as escadas, peguei as chaves da Lamborghini nas mãos de Carter e abri a porta para Meredith, não recebendo o agradecimento acompanhado de um sorriso sutil de sempre, e dei a volta no carro.
Assim que Alex deu partida na Mercedes á nossa frente, eu fiz o mesmo, o seguindo.
Fizemos a metade do percurso caladas. Eu me concentrei em apenas dirigir e Meredith em apenas encarar as ruas lá fora, até que o seu celular tocou dentro da bolsa e ela o atendeu.
- Oi, Mark.
A encarei brevemente, estranhando aquela ligação.
- Sim, ela está. Ok, só um segundo - Ela colocou o celular no apoio do carro.
- Diga, Mark - Murmuro revirando os meus olhos.
- Maninha, sobre aqueles portifólios que você pediu... São somente os desse mês ou quer do mês passado também?
- Apenas desse mês. - respondi encarando a pista.
- Ok. Provavelmente irei me atrasar um pouco, avise a mamãe, por favor.
- Era só isso?
- Sim, até daqui a pouco.
Ele desligou a chamada e Meredith pegou o seu celular e o guardou, voltando a sua atenção para as ruas lá fora.
Passamos o resto do caminho em um silêncio nada confortável e, após trinta minutos, eu abri os portões da casa da minha mãe com o meu controle, os adentrando.
Estacionei em frente a escadaria e desci, no mesmo momento em que Meredith o fez.
Entreguei as chaves para que Alex o estacionasse em outro local e fui até Meredith, que me aguardava pacientemente ao pé da escada.
Subi as escadarias ao seu lado e toquei a campainha, sendo recebida por Marina.
- Meus amores! Que saudades! - ela abraçou primeiramente a Meredith, que a cumprimentou docemente.
- Addie! Como está, minha menina?
Ela me abraçou e eu retribuí.
- Bem, Marina. E você?
- Melhor agora! Entrem, por favor! A sua sogra já chegou, e é uma mulher incrível! Elas estão na área da piscina.
Meredith a agradeceu e caminhou á minha frente até a área já conhecida por ela.
Flora, Lisa, a minha mãe e o Capitão estavam sentados nos dois sofás dispostos frente á frente, rindo, animados.
- Olhe só quem chegou! Minha nora, quanto tempo! - O Capitão se levantou, cumprimentando Meredith com um abraço retribuído instantaneamente por ela.
- Como vai, sogro?
- Ótimo, querida! Sente-se, aceita uma bebida?
- Sim, por favor. Sogra! - Ela cumprimentou a minha mãe com um abraço apertado e eu fui até Flora e Lisa.
- Como está, minha nora? - Flora me abraçou, sendo seguida por Lisa.
- Bem, e vocês?
- Melhores agora!
- Tiveram dificuldades de chegar aqui? Eu esqueci completamente de combinar para que nos encontrássemos.
- Ah, imagina! Não tivemos dificuldade nenhuma! Sua mãe nos mandou a localização. E, apesar da distância, até que chegamos rápido, não é, meu bem?
Lisa concordou e eu fui cumprimentar a minha mãe e o capitão, me sentando ao lado de Flora e Lisa logo em seguida, enquanto Meredith, após cumprimentar a sua mãe e a sua madrasta, parecendo não desejar ficar perto de mim, se sentou ao lado da minha mãe, iniciando uma conversa animada com ela.
Enquanto aguardávamos a chegada de Mark para irmos almoçar, eu me propus a conversar com Flora sobre amenidades enquanto Lisa, a minha mãe e Meredith se entretinham em outro assunto.
Trinta minutos depois Mark apareceu, estranhamente sem nenhuma acompanhante e a minha mãe o apresentou devidamente a Flora e Lisa, nos guiando até a sala de jantar logo em seguida.
Puxei a cadeira ao lado da minha para Meredith, que apenas se sentou calada e eu repeti o seu ato, começando a me servir junto aos outros.
Bebi o meu vinho, observando todos conversarem animadamente entre si e me concentrei em comer.
- Então, Mark, você é o primogênito dos Montgomery... Em que você trabalha mesmo? - Flora o indagou curiosa.
- Atualmente dirijo o setor administrativo da sede da empresa em San Francisco, Flora.
- Humm, é um trabalho cheio de responsabilidades, imagino.
- Ah, sim! Muitas! A minha querida maninha finge que eu não trabalho o bastante, mas ela sabe que está errada. E, apesar de ter a Amy como irmãzinha preferida, ela sabe que eu sou tão competente quanto a nossa pequena tampinha.
Eu ri sem qualquer tipo de humor.
- Sonhe, galinha. - Respondi bebendo o meu vinho. - Você realmente gostaria de ser talentoso e responsável quanto a Amy.
- Você sempre faz questão de ressaltar o quanto ama mais a tampinha, mas quando se trata de vir pedir conselhos matrimoniais... O seu irmãozinho mais velho é a primeira opção, não é?
Reviro os meus olhos, ouvindo a minha mãe, Flora e Lisa rirem.
- A Addie foi pedir conselhos para você, filho? - A minha mãe o indagou curiosa.
- Ah, você não imagina, mamãe. Eu fui o primeiro a saber que ela iria pedir a Mer em casamento. Ela vivia no meu pé falando sobre a Mer, chegava a ser insuportável!
Todos riram, menos eu e Meredith, que se mantinha quieta ao meu lado.
- Bem... Eu acho que fui definitivamente promovido a conselheiro amoroso da minha amada irmãzinha. Por que não a Amy, hum? Eu sou seu favorito, mana, você só não aceitou isso ainda.
- Mark, cale a boca. - Murmurei já sem a mínima paciência para aquele seu discurso infantil.
- Vocês dois me lembram a minha amada mulher e a minha cunhada - Lisa comentou rindo - A Flora é uma cópia perfeita sua, Addison. Já a Ella... É simplesmente idêntica ao Mark.
- Hum! Você tem uma irmã, Flora? - A minha mãe a indagou e as duas começaram a conversar sobre aquilo.
De soslaio, encarei Meredith, que mantinha-se concentrada em comer a lasanha em seu prato.
Suspirei, incomodada pelo seu silêncio, mas não me atrevi a começar uma conversa com ela. Eu era a última pessoa em que ela queria conversar, eu sabia disso.
Após o almoço, a sobremesa fora colocada à mesa e eu iniciei uma conversa com Lisa sobre Luanda, enquanto Meredith mantinha-se concentrada em comer o seu doce e conversar com a minha mãe e Flora, e Mark com o Capitão.
Assim que terminamos a sobremesa, a minha mãe nos guiou novamente até a área da piscina e eu me sentei no sofá ao lado de Meredith, pousando a minha mão na sua coxa.
- Então, minha nora, como estão indo os ensaios para as competições? A sua sogra não fala sobre outra coisa!
Meredith sorriu.
- Está tudo indo bem, sogro. Temos boa parte da segunda apresentação montada. Esperamos ir para as finais internacionais!
- E iremos! A Miller's Academy esse ano irá vencer as finais internacionais, eu sinto! - Flora comentou animada.
A conversa se estendeu por mais tempo sobre aquilo, e eu me mantive calada.
Em dado momento, Flora chamou Meredith até o banheiro e a minha mãe fora buscar mais bebidas junto a Marina.
- Mana, preciso da sua ajuda em uma coisinha, pode me acompanhar até o escritório? - Mark me indagou e eu assenti, me levantando e o seguindo até o escritório.
Ele abriu a porta para mim e adentrou, indo até a pequena mesa de drinks e colocando uma dose de whisky para si.
- Diga. É algo relacionado ao Japão? Porque se sim...
- Não, nada relacionado ao Japão, já estamos completamente decididos quanto a isso.
- Então? - o indaguei, indo até a mesma mesa e me servindo de mais uma dose de whisky.
- Apenas quero saber o que está rolando entre você e a Mer.
- Como? - Perguntei fingindo não entender sobre o que ele falava.
- Você pode até me chamar de irresponsável, mas burro eu não aceito! O que está acontecendo, Addison?
Suspiro.
- Está tão na cara assim?
- Bem... Considerando que vocês são ótimas atrizes... Que sempre me fazem esquecer da farsa desse casamento com a bela atuação de vocês... Sim, está bem na cara. Vocês não trocaram uma palavra entre si desde que chegaram. Onde estão aqueles olhares? Os apelidinhos fofos? Os toques? Que merda você fez dessa vez?
Respirei fundo.
- Ela está com raiva.
- De você?
- Também. Porém não só de mim.
- O que aconteceu?
Suspiro, me sentando na cadeira do Capitão.
- A mãe dela... Está namorando há cinco meses com um homem e não a contou. Eu sabia. Ela descobriu de uma maneira... Ridícula. Meredith possui... Grandes problemas relacionados ao pai, mais do que eu consigo imaginar, mais do que apenas o roubo na empresa e o sumiço dele. Essa notícia seria... Pior para ela do que para qualquer outra pessoa que possui os pais separados. E foi a contada da pior maneira possível. E eu... Fui conivente com isso, de certa maneira. Eu sei que errei por não ter a contado - Ele assentiu - Mas eu não poderia. Eu... - suspiro - Isso é um assunto de família, eu não sou da família. E como eu, alguém que sequer estava envolvida nisso tudo, poderia a contar?
Ele se sentou na cadeira de frente para mim.
- E afinal... Na época em que a mãe dela me contou, antes de viajarmos para Luanda, nós não possuíamos uma relação... Como possuímos agora. Ela era apenas a minha sócia.
Ele ergueu uma das suas sobrancelhas, parecendo surpreso.
- Era?
Fecho os meus olhos, bebendo o resto do whisky em meu copo.
- E agora? O que ela é? O que vocês são?
- Eu... Não sei, Mark! Nós... Nós somos... Amigas.
Ele gargalhou.
- Amigas? Amigas que transam, vivem juntas, dormem na mesma cama, se chamam de "Meu amor " e "Querida" a cada frase dita? Amigas que usam aliança e têm uma relação mais verdadeira do que muitos verdadeiros casais por aí? Que conceito de amizade engraçado!
Reviro os olhos, bufando irritada.
- Prefere que eu substitua você por Amélia? Porque ela nunca faria uma piadinha tão ridícula dessas.
- Por que será, não é, maninha? Talvez porque ela, assim como a nossa família, sequer desconfia que o casamento de vocês é apenas uma "amizade colorida".
Reviro os meus olhos.
- Converse com ela, Addie. Você, de certa forma, não tem culpa que a mãe dela tenha sido filha da puta. Você fez o que foi instruída a fazer, e realmente não cabia a você, a apenas "amiga" dela, a contar isso.
Eu suspirei novamente, fechando os meus olhos.
- Apenas não a trate com descaso, nem a ignore, e muito menos a magoe, mesmo que não intencionalmente. Ambos de nós sabemos que a Mer é a pessoa mais incrível a qual você poderia ter encontrado nesse mundo. Não desperdice isso.
- Eu sei - murmurei inconscientemente.
- Você está... Diferente, mana.
Abri os meus olhos, sem entender o seu comentário.
- Por que?
- Não sei - Ele deu de ombros, mas eu sabia que estava mentindo - Espero descobrir logo. Agora vamos!
Nós saímos juntos do escritório e ele subiu as escadas até o quarto de Amélia para pegar algo solicitado por ela.
Eu me encaminhei novamente até a área da piscina.
Apenas Meredith e a minha mãe estavam ali, em um mini sofá em um canto.
Me aproximei, observando a loira com a sua cabeça apoiada no ombro da minha mãe, enquanto ela acariciava os seus cabelos.
- Vocês não podem ficar brigadas por isso, meu amor - A minha mãe murmurou para ela. - Sei que a Addie errou, e errou feio, mas a minha filha nunca faria algo para a machucar, Mer. Tente ouvir o lado dela. Grite com ela, brigue... Mas não a ignore dessa maneira.
- Eu sei, me desculpe. É só que... - a sua voz tornou-se embargada e eu senti o meu peito arder ao ver a minha mãe a abraçar e Meredith começar a chorar em seus braços.
- Isso não é apenas sobre a Addie. - A minha mãe sussurrou e Meredith assentiu. - Você está se sentindo traída por ela e por Ellis, certo? E até mesmo por Flora. Todas as pessoas em que você mais confia no mundo.
Meredith assentiu, a abraçando com mais força.
- Ah, meu amor. Eu entendo. - Ela deixou um beijo no topo da cabeça de Meredith, soltando os seus cabelos do coque para os acariciar, enquanto a loira chorava em seus braços. - Eu entendo perfeitamente o que você está sentindo.
Respirei fundo, resolvendo sair dali antes que eu pudesse estragar com aquele momento.
Adentrei a casa novamente e me sentei no sofá, vendo Flora descer as escadas e se sentar ao meu lado.
Ela suspirou.
- A Mer está chateada comigo.
- Comigo também - Comento, a vendo me encarar surpresa. - Pelo mesmo motivo, eu imagino.
Ela suspirou, puxando os seus cabelos pretos e um pouco mais longos para trás.
- Eu odiei tanto Ellis quando descobri... Nós brigamos feio, ela está completamente cega... Fez absolutamente tudo ser sobre ela, sobre ela ter sido traída e abandonada pelo próprio marido e merecer um final feliz... E não sobre a própria filha ter tido o pior pai do mundo durante os vinte cinco anos de vida dela e... Uma vida destruída por esse desgraçado. Quero dizer... Que bela maneira de ser uma grande filha da puta e simplesmente fechar os olhos para tudo isso, escondendo um relacionamento sério da própria filha por sei lá quantos meses.
Eu suspirei, encostando a minha cabeça no sofá.
- Eu não poderia ser a pessoa responsável por contar isso para ela - murmurei fechando os meus olhos.
- Nenhuma de nós, Addie. - Ela acariciou a minha coxa. - Eu entendo o seu lado, estou na mesma situação, e não me imagino ter tido coragem de contar isso para a Mer. Não depois de tudo que já a vi passar por causa daquele desgraçado. Mas não fique se culpando, você não tem culpa do egoísmo de Ellis, e muito menos eu.
- Mas tenho culpa em ter a levado até aquele show de horrores de noite e ter sido, mesmo que contra a minha vontade, conivente com tudo aquilo.
- Não pense assim, você não iria a deixar sozinha nesse momento. Eu faria o mesmo se estivesse no seu lugar.
Assinto.
- Espero que ela perceba o quão egoísta foi. - Comento.
- Ela irá, por bem ou por mal.
- Onde está a Lisa? - a indago, percebendo, apenas naquele momento, a ausência da sua esposa.
- O seu irmão está a apresentando a biblioteca da casa.
Assenti, ligando a tela do meu celular e vendo já serem quase cinco da tarde. Nós precisaríamos ir, o tempo havia passado de maneira quase que veloz.
- Irei chamar Meredith. Nós ainda iremos viajar hoje. Com
Ellis e Richard.
- Não acredito nisso!
- Pois é. Eles desejam ir até Los Angeles resolver algumas coisas e eu não sabia como recusar a presença deles conosco.
- A minha melhor amiga realmente possui zero censo de incômodo! Por Deus! Quanto cinismo!
- Apenas espero que ela não queira fazer com que Meredith conheça a filha de Richard.
- Ele tem filha? - ela perguntou perplexa.
- Sim. Uma filha da idade de Meredith que a sua melhor amiga fez questão de dizer, com todas as letras, que já sabe sobre o relacionamento deles desde o início e que ela sempre pergunta por Meredith quando se falam.
Flora havia ficado vermelha de raiva.
- Ah! Eu não acredito em uma... - Ela suspirou - Estou tentando parar de xingar, Lisa odeia! Mas desde que cheguei aos Estados Unidos novamente tem se tornado impossível! Eu simplesmente não acredito em tamanha cara de pau!
- Flora, que Meredith nunca imagine isso, por favor... Mas entre você e Ellis... Eu realmente escolho a você.
Ela sorriu, afagando a minha coxa novamente.
- Eu sei, eu sou mil vezes uma mãe melhor para a própria filha dela do que ela mesma, sempre fui. Até os próprios avós da Mer afirmam isso. Eu sou a segunda filha dos dois, e a real mãe da neta favorita deles. Porém, é claro, vamos fazer isso ser um segredo de nora e sogra. - Ela me lançou uma piscadela e eu sorri fraco, assentindo.
- Por favor - Completei, me levantando - Realmente preciso ir chamar a sua filha. Preciso chegar em LA antes das oito da noite.
Ela assentiu, se levantando junto a mim e me acompanhando até a área da piscina.
Meredith havia tirado os seus saltos e colocado as suas pernas no sofá, e estava com a sua cabeça deitada no peito da minha mãe, que acariciava os seus cabelos já soltos.
Elas nos encararam no momento em que chegamos juntas.
- Meredith... Nós precisamos ir. - Tentei soar o menos invasiva o possível, e ela assentiu.
Seu rosto estava um pouco vermelho.
- Obrigada pelo carinho e... Por tudo, sogra. Eu estava precisando. - Meredith falou a abraçando e a minha mãe acariciou as suas costas, deixando um beijo no topo da sua cabeça.
- Sempre que precisar, a sua outra mãe sempre estará aqui, meu amor.
- Me lembrarei disso - Meredith a lançou um sorriso genuíno e calçou as suas sandálias novamente.
- Filha... Podemos conversar rapidamente? - Flora a indagou e Meredith me encarou.
- Leve o tempo que quiser - Respondi e ela saiu junto a Flora.
- Agora é a sua vez. Sente-se aqui, filha.
Respirei fundo, o fazendo e deitei a minha cabeça no seu ombro, sentindo a sensação gostosa em que sempre amei dos efeitos em que o seu carinho em meus cabelos me trazia.
Quanto tempo havia que eu não sentia aquela ternura que apenas o amor da minha mãe era capaz de me trazer?
Eu me sentia bem em ser amada daquela maneira tão incondicional apenas por ela.
Porque não havia como não se sentir.
- Eu sei que nada do que você fez em relação a esse assunto foi de propósito, mas a Mer não sabe disso. Vocês tem pouco tempo de casadas, ela não a conhece como eu a conheço. Não há maneiras de ela adivinhar como você se sente se você não disser, meu amor.
- Eu não quero invadir o espaço dela, mãe.
- Querer conversar e resolver as coisas não é e nunca será invadir o espaço de alguém. Apenas mostra que você se importa, filha. E ela precisa disso.
Assinto, levantando a minha cabeça do seu ombro e deixando um beijo na sua bochecha.
- Obrigada por ter conversado com ela.
- Eu a amo como uma filha. Não suportei a ver com os olhinhos tão marejados depois de ter conversado com Flora. Converse com ela o mais cedo possível, ok?
Concordo com a cabeça, me levantando junto a ela e juntas fomos até a sala.
Meredith estava abraçando Flora, e, no mesmo momento, Mark, Lisa e o Capitão desciam as escadas.
- Bizzy, que casa extremamente linda! Estou embasbacada com tamanha organização e planejamento!
- Ah, Lisa, obrigada, minha querida. A Mer e a Addie já estão indo, mas eu não aceito que vocês vão embora agora! Fiquem para o jantar. Tenho inúmeras fotos da sua nora quando era bebê para a mostrar, Flora.
A minha sogra riu, abraçando Meredith pelos ombros.
- Apenas não exagere, senhora Montgomery - Murmurei para a minha mãe, que sorriu, deixando um beijo na minha bochecha.
- Vamos? - Indaguei Meredith que assentiu, se despedindo de todos.
Abracei a minha mãe e Flora e me despedi de Lisa, marcando uma reunião com o Capitão e Mark na segunda-feira.
Saí ao lado de Meredith e juntas descemos as escadarias, os carros já estavam prontos.
- Você dirige, Alex - Falei para ele, assim que ele me estendeu as chaves do carro.
Abri a porta dos fundos para Meredith e dei a volta, adentrando o carro.
Alex deu partida e eu me concentrei em filtrar toda a conversa em que eu havia ouvido da minha mãe com Meredith.
O afeto demasiado entre as duas me trazia uma sensação boa.
Meredith, mais do que qualquer outra que viera antes dela, mais, até mesmo, que Charlotte King, havia conseguido fazer parte da minha família efetivamente. Sem forçar absolutamente nada.
Ela não apenas era uma Montgomery por possuir um relacionamento extremamente sério comigo, em tese.
Ela era uma Montgomery. Não apenas alguma agregada. Ela estava se tornando parte da família.
A loira passou todo o percurso com a sua cabeça encostada na janela do carro, de olhos fechados.
Nós chegamos ao aeroporto dez minutos depois, porque a casa da minha mãe era extremamente perto.
Descemos juntas e esperamos Alex e os seguranças que iriam conosco se organizarem.
Ele e mais dois nos acompanharam até o avião já pronto para a decolagem.
As portas de um carro estacionado próximo a ele se abriram, e Ellis desceu do carro junto a Richard.
Suspirei, tocando a cintura de Meredith, sem me deixar pensar que eu estava invadindo o seu espaço ao fazê-lo. Apenas queria a passar certa segurança, mesmo duvidando de que eu poderia fazê-lo.
- Boa tarde, filha - Ellis a abraçou.
- Boa tarde. - Meredith não se dera o trabalho de retirar os seus óculos de sol. - Richard - Ela cumprimentou o homem educadamente com um aperto de mão, o qual ele devolveu com um sorriso sincero.
- Addison, como está, minha nora?
Apenas assinto em um gesto positivo, apertando a sua mão.
Tudo em que aquela mulher me fizera sentir naquele momento fora raiva.
Cumprimentei Richard rapidamente e guiei Meredith para adentrar o avião.
Richard e Ellis fizeram o mesmo, sentando-se nas poltronas paralelas as nossas do outro lado do corredor.
Meredith se sentou e eu desci novamente para resolver últimas coisas com Alex.
Subi alguns minutos depois e vi Meredith com a sua cabeça encostada na janela do avião, enquanto a sua mãe e Richard se beijavam e demonstravam afeto de maneira nojenta.
- Com licença, senhoras Montgomery, senhora Grey, senhor Webber. É um prazer os receber. O tempo de vôo estimado para a cidade de Los Angeles hoje está de, mais ou menos, cinco horas, no máximo cinco horas e meia. Chegaremos às oito da noite, no máximo, de acordo com o fuso horário da cidade. Caso estejam todos confortáveis, iremos decolar.
Assinto, o dando passe livre e me sentei ao lado de Meredith.
As portas se fecharam e a aeromoça veio até nós, nos oferecendo bebidas e petiscos.
Apenas Richard e Ellis aceitaram.
Meredith apenas agradeceu e manteve a sua cabeça encostada na janela.
A aeromoça se retirou e o avião começou o processo de decolagem, para, cinco minutos depois, já estar voando.
Ouvi a risada estridente de Ellis para Richard e revirei os meus olhos, sentindo a minha cabeça doer e vi, de soslaio, Meredith suspirar, parecendo completamente incomodada.
Tirei o meu cinto, me levantando.
- Tudo bem, minha nora? - Ellis me indagou e eu senti o olhar de Meredith sobre mim.
- Eu e Meredith iremos nos deitar no nosso quarto.
- Ah, claro! Sem problemas, querida. Podem ir.
Encarei Meredith, que se levantou e a dei espaço para que passasse á minha frente.
Ela o fez e caminhei atrás de si até o nosso quarto.
Ela abriu a porta e o adentrou. A vi prender os seus cabelos em um coque bagunçado e se sentar na cama.
- Caso queira dormir... A acordo quando chegarmos.
Ela apenas se levantou, tirando a sua calça e a sua camisa, se deitando na cama de costas para mim e se cobrindo.
Eu suspirei, incomodada com o seu silêncio, e me deitei apenas de lingerie, de frente para as suas costas.
Fechei os meus olhos, sentindo o cansaço tomar conta do meu corpo de maneira feroz. Afinal, haviam três noites em que eu havia apenas cochilado por alguns minutos.
Respirei fundo, resolvendo esquecer as coisas as quais eu precisava resolver antes de chegar em LA e me permiti dormir por, pelo menos, duas horas seguidas.
O sono me tomou rapidamente, sem que eu sequer fosse capaz de lutar contra.
...
Acordei, sentindo a minha cabeça latejar em dor e, assim que senti uma perna por dentro das minhas e um braço rodeando a minha cintura, abri os meus olhos, me deparando com as medeixas loiras as quais eu tanto era fascinada espalhadas pelo meu travesseiro.
Senti a sua respiração calma bater contra o meu tórax e suspirei, inalando o cheiro único em que os seus cabelos possuíam.
Meredith não conseguia dormir sem abraçar alguma coisa.
E, quando esquecia-se do seu travesseiro, eu era o seu alvo.
Por mais estranho que aquele tipo de contato fosse para mim, a sensação do toque do seu corpo quente junto ao meu era boa, extremamente boa.
E, dessa vez em específico, tendo o seu corpo frente à frente com o meu, havia sido ainda melhor do que das últimas vezes.
Porém, apesar de estranhamente gostar daquele contato, eu não sabia como reagir a ele.
Se Meredith acordasse e nos visse daquela maneira, ela definitivamente não olharia nos meus olhos por, pelo menos, uma semana.
Respirei fundo novamente, sentindo o aroma único em que os seus cabelos possuíam e, fazendo o máximo esforço para não a acordar, tirei uma mecha de cabelo do seu rosto, observando a sua feição tranquila ao dormir.
Os seus cílios sobre as maçãs marcadas do seu rosto, a sua respiração calma e o seu ronco baixo, e o pequeno bico que havia em seus lábios.
Fechei os meus olhos, me forçando a levantar daquela cama e a parar de a observar daquela maneira.
Afinal, que porra eu estava fazendo? Eu, que sempre fui alguém extremamente enojada de toques físicos de pessoas além de Amélia e a minha mãe, e, às vezes, Mark.
Por que Meredith havia se tornado uma exceção?
Talvez pelo seu jeito, e pelo fato único seu de apenas ser diferente de todas as poucas mulheres além de uma noite que já passaram pela minha vida.
Meredith era diferente. Apenas diferente.
Com cuidado, ergui a minha perna que estranhamente havia permitido a entrada da sua no meio dela enquanto eu dormia, e afastei a sua perna das minhas.
Afastei a sua cabeça calmamente do meu tórax e, por último, tirei o seu braço da minha cintura e me levantei, colocando o meu travesseiro ao seu lado, o qual ela rapidamente suspirou e agarrou da mesma maneira em que estava agarrada à mim.
A observei por um último momento e a cobri novamente, indo até o banheiro.
Escovei os meus dentes e voltei, vestindo a minha roupa e passando os meus dedos entre os meus cabelos para os arrumar brevemente.
Peguei o meu celular e saí do quarto, voltando até a poltrona onde eu estava sentada anteriormente.
Richard cochilava e Ellis estava mexendo no seu celular.
- Onde está a Mer?
- Dormindo - A respondi me sentando novamente.
Encarei a hora no meu celular, faltavam apenas trinta minutos para pousarmos. Eu havia conseguido dormir mais do que esperava.
A aeromoça viera até mim e eu aceitei uma taça de vinho.
Peguei o meu MacBook rapidamente e, pelo resto dos trinta minutos que faltavam, me concentrei em responder alguns e-mails e revisar algumas coisas.
Assim que o piloto avisou que iríamos pousar em cinco minutos, fechei o meu computador e me levantei, indo até o quarto.
Meredith dormia da mesma maneira que eu havia a deixado.
Me sentei ao seu lado na cama e afastei sutilmente a mecha do seu cabelo que cobria o seu rosto.
Desci a minha mão para a sua cintura e a afaguei com cuidado.
- Meredith? - a chamei uma primeira vez, não obtendo qualquer sinal de que ela estava acordando - Meredith, Acorde... Meredith.
Ela soltou um gemido preguiçoso, se virando para o outro lado.
- Iremos pousar em cinco minutos, acorde, Meredith - Afaguei as suas costas nuas e a vi suspirar, gemendo baixo em protesto.
- Ok - ela murmurou e eu me levantei, vendo-a de olhos abertos, encarando a parede.
- Estarei a esperando.
Saí do quarto e me sentei novamente na poltrona. Dois minutos depois a loira apareceu e se sentou ao meu lado, colocando o seu cinto.
- Tudo bem? - a indago e ela assente, fechando os seus olhos.
Pousamos cinco minutos depois e as portas do avião foram abertas. Richard e Ellis saíram primeiro, eu guiei Meredith pela cintura logo após.
Dois carros já nos aguardavam de frente para o avião. Meredith adentrou um deles e eu apenas utilizei de alguns minutos para conversar algumas coisas com Alex e os outros seguranças.
Ellis e Richard adentraram o outro carro e eu fui até o primeiro deles, o adentrando e me sentando ao lado de Meredith.
Alex deu partida e, trinta minutos depois, estacionou em frente a minha casa.
Desci do carro e abri a porta para Meredith, a acompanhando até a entrada.
Ellis e Richard ficariam conosco hoje.
Eles subiram atrás de nós e Sarah nos recebeu com a animação irritante de sempre. Ela e Meredith se cumprimentaram com um abraço apertado e as devidas apresentações foram feitas.
- Apenas iremos subir para deixar as coisas e já desceremos para o jantar, querida. Mostre a minha mãe, por favor, o quarto em que ela irá ficar. Eu e Addison iremos subir.
- Sim, madame. Fiz uma sobremesa deliciosa para a senhora, espero que goste!
Meredith a abraçou novamente, com seus olhos brilhando e eu, por um momento, agradeci internamente àquela governanta por aquilo. Meredith havia ficado feliz.
Nós subimos as escadas sendo acompanhadas de Alex com a nossa mala e ele adentrou o nosso quarto primeiro, a deixando ali e pedindo licença.
Respirei fundo, prendendo os meus cabelos em um coque bagunçado e vi Meredith levar a mala até o closet, a abrindo em cima do puff.
Rapidamente a loira pendurou as nossas roupas e guardou as nossas langeries nas gavetas, fechando a mala e se afastando.
Eu sabia que ela havia a deixado ali porque não alcançava a colocar no devido lugar, e havia silenciosamente me indicado para o fazer.
Me aproximei, o fazendo enquanto ela organizava as nossas coisas no banheiro.
Cinco minutos depois, ela acabou e nós descemos para o jantar.
A sua mãe e Richard já estavam sentados à mesa.
Puxei a cadeira ao meu lado direito para Meredith e ela se sentou, colocando o seu guardanapo no colo.
Fiz o mesmo e começamos a nos servir calados.
Porém, não por muito tempo, afinal, como a minha sogra realmente havia dito, Ellis não possuía qualquer tipo de senso de incômodo.
Meredith apenas se manteve restrita a responder os seus questinamentos, mas logo a mulher passou a conversar com Richard e a loira se calou por completo.
Eu apenas me concentrei em comer e assim que acabei me servi de mais vinho, incapaz de deixar Meredith sozinha à
mesa com eles.
A loira pareceu-me minimante mais feliz depois de começar a comer a sua sobremesa, mesmo que estivesse o fazendo completamente calada.
Assim que ela terminou, agradeceu de maneira doce a Sarah pelo jantar e maiormente pela sobremesa.
- O que irão fazer agora, Addison? Nós poderíamos jogar algo ou... Assistir alguma coisa, o que acham? Um programa de casais em um sábado à noite?
Eu não precisei sequer encarar Meredith para saber que ela me encarava e que o seu olhar me dizia para não aceitar aquilo.
- Estou com um pouco de dor de cabeça.
- Ah, sem problemas, minha nora. E você filha, quer ver algo conosco?
- Na verdade... Caso você não se importe, nós duas iremos subir, certo, querida? - indago Meredith, que assente - Tivemos um dia cansativo e amanhã temos alguns compromissos.
- Sem problemas, então. Aproveitem o descanso, iremos subir também, até amanhã!
- Até.
Me levantei e guiei Meredith, após ela dar boa noite educadamente aos dois, até o nosso quarto.
Assim que demos as costas, os dois começaram a rir e eu senti um enjoo insuportável me tomar ao ouvi-los se beijarem de maneira barulhenta.
Eu e Meredith subimos até o nosso quarto caladas e ela se dirigiu até a sacada, se sentando no sofá ali.
Aquela era uma oportunidade para conversarmos, para que eu me explicasse, para que ela gritasse comigo, que possuísse alguma reação, ou sequer me encarasse.
Me aproximei da sacada e, cuidadosamente, a adentrei, me sentando ao seu lado.
Me propus a observar o céu, assim como ela fazia e suspirei, a encarando. Seu rosto de perfil, com a iluminação baixa do abajur e da lua ficava ainda mais lindo.
Meredith Montgomery era linda, e eu não me cansaria de admitir aquilo para mim mesma ou para quem quer que fosse.
- Podemos conversar?
Ela suspirou.
- Por favor, Meredith, apenas... Me ouça, e, se depois de me ouvir você não quiser dizer nada, eu a respeitarei.
Ela continuou calada, mas apoiou as suas pernas no sofá, como um passe livre para que eu falasse.
- Eu... Sei que você não está nem um pouco afim de me ouvir agora, e com razão. Mas, Meredith, eu apenas quero que você entenda que... Não era algo em que se discernia a mim.
Suspiro, tentando pensar no que eu realmente iria dizer.
- Ok, era só isso? - Ela se levantou, ficando de costas para mim, no parapeito da sacada.
- Meredith, eu me importo com você.
Senti tudo dentro de mim estremecer quando a ouvir rir sarcasticamente, sem qualquer tipo de humor.
- Que eu saiba não há mais ninguém nesse quarto para que você esteja exercendo esse teatro.
Me levantei, parando ao seu lado.
- Por que você está com tanta raiva de mim?
Ela me encarou perplexa.
- Por que eu estou com tanta raiva de você? Está realmente me perguntando isso?
- Sim, e gostaria de uma resposta clara, além de sarcasmos, porque não combinam com você.
Ela riu sem humor novamente.
- Você é inacreditável, Addison Montgomery! Por que eu estou com raiva de você? Por que? Porque você sabia! Porque você sabia de tudo e, mesmo assim, escolheu me fazer de idiota! Porque dentre todas as pessoas as quais eu imaginaria que me fariam de idiota dessa maneira, você não estava na lista, e nunca estaria. Porque eu confiava em você! Eu achava que nós estávamos construindo algo à mais! Mas você sabia, Addison! Você sabia desde o início, sabia sobre tudo, e sequer teve a decência de não me levar para aquela noite terrível! Você sabia! Sabia de tudo e ficou a porcaria da noite inteira ao meu lado, sentindo pena de mim e tentando se fazer sentir melhor canalizando essa pena com seus falsos cuidados. Por Deus! Por que eu estou com raiva de você? Está realmente me perguntando isso? Você deveria estar se perguntando o porque eu não sentiria raiva de você! Você mentiu pra mim, mentiu pra mim a porcaria daquela noite inteira, me fez sentir segura ao seu lado, enquanto tudo aquilo era o quê? Uma caridade? Era você se sentindo minimamente mal pela coitada da filha que havia sido enganada pela própria mãe por meses? Mentir não é se importar. Fingir preocupação não é se importar. Esconder algo tão importante assim não é se importar! Mas como você deveria saber, não é? Você é incapaz de se importar com qualquer outra pessoa além de si mesma e da sua família, afinal, é por isso estamos casadas por conveniência, não é? Eu nem sei o porque eu me importo! Eu realmente não deveria, porque não é recíproco! Eu realmente sou patética! Patética por achar que você poderia... Minimamente corresponder a amizade que eu achei que tínhamos. Sou patética por me importar tanto e me sentir tão segura, como nunca me senti com qualquer outra pessoa, com alguém que é incapaz de retribuir isso. Mas eu sou a única patética, porque, afinal, como você poderia retribuir, certo? Somos apenas sócias! A amizade em que eu achei estarmos construindo foi tudo uma ilusão ridícula minha! Mais uma vez a Meredith é a pequena boba e ingênua que se permite achar que todos ao redor dela terão a mesma empatia em que ela tem por eles. É realmente patético!
Meredith estava com a voz embargada, de frente para mim, me dirigindo todas aquelas palavras enquanto tremia.
E eu sentia o mesmo, porém internamente.
Eu nunca imaginei ouvir palavras tão duras como aquelas vindas dela.
E uma grande maioria delas, por incrível que parecesse, não eram verdade. Poderiam ser antes de Luanda, mas agora que eu a conhecia, verdadeiramente conhecia, era impossível não me importar com ela.
A Addison antes de Luanda sequer se importaria em estar tentando se desculpar.
Mas agora, algo estava diferente, eu sabia disso, mas apenas não sabia o quê.
Engoli em seco, tentando me recompor.
- Você não me conhece, Meredith.
Ela me deu as costas.
- A conheço o bastante para saber que tudo em que acabei de dizer é a mais pura verdade. Agora... Me deixe em paz, Addison. Isso não é um pedido.
- Não. Eu não irei. Não irei porque, ao contrário do que você pensa, eu me importo, me importo o bastante para ter ouvido todas essas acusações errôneas calada. Mas agora você irá me ouvir, Meredith. - Me coloquei de frente para ela. - Eu me importo com você! - Senti algo diferente em meu estômago ao dizer aquilo, que porra estava acontecendo comigo? Respirei fundo, tentando me recompor. - Me importo mais do que já me importei com qualquer outra pessoa fora dos meus laços sanguíneos. E eu sei que eu errei, sei que eu errei ao ter a levado para aquela noite terrível, ao ter sido, mesmo que contra a minha vontade, conivente com o egoísmo da sua mãe. Você pode me culpar até o fim desse contrato por eu ter sido uma filha da puta nessas questões, mas não pode me culpar por eu não ter a contado. Porque você faria o mesmo, e eu sei disso, porque eu conheço você.
Ela negou com a cabeça, se virando de costas para mim e eu me coloquei a sua frente novamente.
- Eu sei que você teria sido mil vezes melhor do que eu fui, que não teria sido uma grande filha da puta como eu fui, mas eu sei que você não contaria. - Ela virou o seu rosto e eu o toquei sutilmente, a fazendo me encarar - E eu também sei que você, no fundo, me entende. - Ela negou com a cabeça, afastando o meu toque - Você me entende porque esse é um assunto de família. Da sua família, a qual eu não faço parte. E, além disso, quando eu soube, há vários meses atrás, eu não me importava o bastante com você.
Ela fez menção de virar-se de costas novamente e eu a segurei.
- Antes de irmos para Luanda, quando a sua mãe me contou, eu a aconselhei que a contasse tudo, ela me prometeu que o faria e eu esqueci. Afinal, eu não conhecia você direito, nós não possuíamos algo além do contrato, uma... Amizade. Foi por isso que eu apenas deixei para lá. Porém, essa semana, quando a sua mãe me contou o que ela faria, eu sabia o quão isso iria machucar você, e a alertei que o fizesse da melhor forma possível.
Suspiro.
- Eu não vim aqui para tentar fazer com que a sua raiva e os seus sentimentos sejam anulados, ou que eles se tornem apenas e unicamente sobre mim. Eles são completamente válidos para mim. Eu errei. Eu fui uma filha da puta. Eu deveria ter feito mais. E eu não possuo desculpas esfarrapadas para isso. Mas Meredith... Não tente descontar em mim a raiva em que você está sentindo da sua mãe. Não tente invalidar o fato de eu me importar com você, apenas por um erro meu.
Ela suspirou, fechando os seus olhos.
- Você está com tanta raiva de mim porque eu fui uma filha da puta, mas também porque eu sou a única pessoa, dentre todas em que a magoou, que você pode descontar a sua raiva de maneira efetiva. E eu aceito isso. Mas não invalide o quanto eu me importo com você por isso. Não diga que eu fingi me importar com você uma noite inteira por pena. Não diga que eu sou incapaz de retribuir a sua amizade, porque eu não sou. E eu nunca perderia o meu tempo tentando fazer alguém que eu não me importo entender que eu me importo. Você sabe disso, Meredith.
Ela se afastou, apoiando os seus cotovelos no parapeito.
Eu respirei fundo, encarando o mar calmo abaixo de nós.
- Você está pensando nele, não é? Desde ontem, você está pensando nele como nunca mais havia pensado.
Ela suspirou pesadamente.
- Por favor, me deixe sozinha. - Ela suplicou em um fio de voz.
Me aproximei com cuidado, parando ao seu lado.
- Não acho que você verdadeiramente queira ficar sozinha agora.
- Addison... Por favor... Por favor! - a sua voz havia tomado um tom embargado.
- Você está pensando nele agora, não é?
Ela suspirou, continuando em silêncio.
- Meredith... Richard não é uma pessoa ruim. Eu não acredito que ele seja capaz de machucar a sua mãe como esse homem machucou. Ele parece gostar da sua mãe, verdadeiramente, por mais que eles sejam o casal mais... Nojento em demonstrações de afeto em que eu já vi.
- O que você sabe sobre gostar verdadeiramente de alguém ou não? - Ela perguntou de maneira grosseira. - Addison, por favor, você não possui nenhuma obrigação de ser legal comigo.
- Não estou apenas "sendo legal" com você. Eu... Apenas... Me importo.
Ela suspirou e se manteve em silêncio.
- Você sente a falta dele? - A indago, não sabendo o porque eu estava indo naquela direção. Eu não queria a machucar ainda mais. Mas aquela pergunta havia saído de maneira completamente impensada por mim.
Meredith suspirou e continuou encarando o céu, calada. Mas eu senti algo nela mudar. Eu pude, estranhamente, sentir a sua angústia, em uma intensidade tão demasiada que no mesmo momento eu me senti estremecer internamente.
- Me desculpe - peço no mesmo momento, me arrependendo daquela pergunta infeliz - Eu sei que esse é um assunto desconfortável para você. Me desculpe por ter tocado nele, eu apenas...
- Se importa. Você apenas se importa.
Solto o ar preso em meus pulmões e resolvo acabar com aquela conversa, eu não deveria ter tocado naquele assunto, eu sabia disso.
- Me desculpe... Eu irei a deixar sozinha, eu...
A ouvi soltar o seu ar, fechando os seus olhos. Ela ficou em silêncio por alguns segundos, parecendo decidir se diria algo ou não, até a sua voz sair completamente arrastada da sua garganta:
- Tatcher tentou se matar quando eu era criança. - Ela murmurou em um fio de voz, engolindo em seco. Eu senti algo dentro de mim estremecer-se com aquela frase, enquanto o meu coração começara a pulsar forte no meu peito. - Na minha frente. - Ela suspirou e o meu peito se apertou de maneira grotesca, enquanto a minha garganta pareceu diminuir de maneira instantânea de tamannho. O quê? - Eu tinha nove anos. Ellis havia viajado à negócios e me deixou sozinha com ele. Então ele simplesmente me chamou até a cozinha e cortou os seus pulsos com uma faca, diante de mim. Eu me lembro de nunca ter visto tanto sangue em toda a minha vida. Lembro dos seus gritos, do frio grotesco de dezembro, da neve caindo. Lembro de ligar em completo estado de choque para a emergência e deles entrando no nosso apartamento rapidamente. Lembro do cheiro horrível do hospital, e da imagem desesperada de Flora chegando algumas horas depois. Lembro de tudo como se fosse hoje, como se estivesse diante de mim. De dormir naquela noite na casa de Flora, e de saber, com a absoluta certeza, que o segundo homem que eu mais amava no mundo desejava morrer. Lembro de me perguntar se ele não me amava mais, se eu não era uma boa filha, se havia sido pela nota péssima que eu havia tirado em matemática naquela semana... Lembro de me culpar veementemente por aquilo por meses. - Ela respirou fundo, parecendo tentar filtrar as suas próprias palavras - Então não, Addison. Eu não sinto a mínima falta dele. O que estou sentindo... Não tem nada a ver com eu sentir saudades dele, ou de o querer de volta na minha vida, porque não quero.
Eu estava em choque. Em um imenso e assustador estado de choque.
Naquele momento, as únicas vontades em que eu senti foram as de matar aquele homem, com as minhas próprias mãos, e o fazer pagar por absolutamente tudo em que ele havia feito para Meredith, em uma morte lenta e mais dolorosa possível, e de proteger veementemente aquela mulher e criança do passado que estava à minha frente.
Senti uma vontade excruciante de a agarrar contra mim e a proteger de todo mal em que ela já havia sido submetida, por mais passados em que eles fossem.
O que, de certa forma, me assustou.
Eu desejava veementemente proteger Meredith.
A minha inicialmente suposta e apenas sócia.
E ali, naquele momento, eu tive a total certeza de que aquele homem havia feito um mal imensurável a Meredith.
Justamente à Meredith. A pessoa mais pura e doce em que se pode ter o prazer de possuir na vida.
Ele havia destruído com ela, internamente. Naquele momento eu soube, mais do que nunca, disso.
Eu estava sem palavras.
- Meredith... - Um sussurro completamente estarrecido saíra da minha garganta.
Ela se manteve calada.
- A sua mãe...
- Ele estava em um estado de depressão profunda na época. Ela considerou como uma de suas crises e, quando ele melhorou, nada disso passou a ser citado. Foi como se não houvesse acontecido.
- Meredith... - A faço me encarar e sinto o meu peito arder ao observar os seus olhos, os quais eu tanto apreciava, completamente inundados em lágrimas que ela parecia segurar como se sua vida dependesse disso. Porra! O meu desejo de a agarrar contra mim e nunca mais a soltar pareceu triplicar de tamanho ao vê-la me encarar de maneira tão vulnerável e indefesa - Você sabe que se você quiser fazer com que esse desgraçado pague por tudo em que ele fez... Eu posso o encontrar em menos de trinta minutos e o fazer pagar por tudo, sabe disso, não é?
Ela negou com a cabeça, parecendo desesperada.
- Não. Eu não o quero na minha vida novamente. Eu... Não, Addison. Não faça isso, por favor.
- Meredith... - Toco seu queixo, a fazendo me encarar - Ele não estaria na sua vida novamente. Eu não deixaria isso acontecer. Você está segura o bastante comigo, sabe disso, não é? A sua segurança é a prioridade aqui. Sempre será. - Falo tentando a fazer se sentir segura ao meu lado, porque, naquele momento, era o que eu mais desejava. Fazer aquela mulher do presente e criança do passado se sentir segura.
- Estou segura com você por mais dois anos e alguns meses. Depois disso, não mais.
Suspiro incomodada, soltando o seu rosto e a vendo encarar o céu novamente, respirando fundo, enquanto limpava as suas lágrimas que haviam caído.
- Enfim... Apenas não comente sobre nada disso com Ellis e muito menos com Flora, por favor.
- Eu nunca faria isso.
- Eu sei.
- Por que me contou tudo isso? - a indago.
Ela deu de ombros.
- Porque me sinto segura com você, Addison. Porque confio em você, mais do que confio em qualquer outra pessoa além de Flora, Cristina e George. E porque você se importa, mas não me ama. Enfim... Os meus amigos e as minhas mães se importam de uma maneira diferente da sua, não me sinto tão confortável sabendo que irei os machucar falando sobre essas coisas.
Ela estava errada. Completamente errada. O fato de eu não possuir sentimentos amorosos por ela ou nada do gênero, não excluía o fato de eu ter ouvido tudo aquilo sentindo como se uma faca estivesse sendo cravada no meu estômago. Lentamente.
- Espero que saiba que pode contar qualquer coisa para mim. Afinal... Ainda somos amigas, certo?
Ela sorriu, assentindo.
- Obrigada por isso. Por... Validar o que eu sinto. Significa muito para mim.
Assinto, me aproximando e passando o meu braço por trás do seu ombro.
Meredith deitou a sua cabeça no meu ombro e eu respirei fundo, a abraçando contra mim.
A senti se virar de frente para mim e envolver o meu pescoço com os seus braços, encostando o seu nariz nele e respirando levemente contra a minha pele, fazendo-me arrepiar no mesmo momento, assim que uma sensação inusual me tomou.
A ter em meus braços daquela forma parecia... Certo. Estranhamente, parecia a coisa mais certa a qual eu poderia ter realizado essa noite.
Meredith, apenas Meredith, parecia certa.
Encostei o meu nariz no topo da sua cabeça e inspirei o cheiro delicioso que os seus cabelos possuíam, enquanto o meu peito parecia se aquecer aos poucos e, sentindo, mais do que nunca, a necessidade de a proteger de qualquer coisa ruim que ameaçasse a atormentar.
Aquilo havia se tornado, agora, a minha prioridade.
Meredith não seria machucada enquanto estivesse ao meu lado, e muito menos após o fim do contrato.
Eu me certificaria disso.
Porque ela, dentre todas as pessoas as quais eu já havia conhecido, simplesmente era pura demais para ser machucada.
Principalmente por aquele demônio o qual costumava chamar de pai.
A apertei mais fortemente contra mim, esquecendo de o quão eu me sentia desconfortável com abraços. Estranhamente, o seu não me causava nenhum desconforto.
A única coisa em que o seu abraço me causava era uma inundação de ternura a qual eu nunca havia sentido antes.
Meredith apenas me trazia sensações boas.
E o calor do seu pequeno corpo ao meu era uma delas.
- Me desculpe por ter a machucado e por ter a feito pensar que não me importo com você ao ter sido conivente, mesmo que contra a minha vontade, com a loucura da sua mãe. Espero que saiba que você ainda pode confiar em mim. - Murmuro contra os seus cabelos, ainda abraçando o seu pequeno corpo contra o meu.
Ela suspirou, me abraçando mais fortemente.
- Me desculpe por ter descontado toda a minha raiva e frustração com Ellis em você. Você não merecia.
- Tudo bem. Sempre que precisar de um saco de pancadas estou à disposição.
Ela riu contra o meu pescoço e eu sorri, sentindo o meu peito se aquecer por completo, e inspirei o cheiro delicioso dos seus cabelos, fechando os meus olhos.
Aquela sensação era... Estranha. Nova.
- Me desculpe por ter agido como se você possuísse a obrigação de ter me contado. Sei que estava fazendo apenas o que Ellis pediu. E sim, eu confio em você, Addison, muito.
Ela suspirou, encostando o seu nariz no meu pescoço novamente.
- Eu apenas tenho medo. Medo que a minha mãe sofra tudo novamente. Medo de... Esse homem fazer o mesmo em que ele fez. Eu apenas tenho medo porque não quero a ver destruída como vi quando tudo aconteceu.
Respiro fundo, apertando a sua cintura sutilmente contra mim.
- Eu sei... Eu entendo os seus medos, mas a sua mãe é uma mulher adulta, possui idade o suficiente para escolher as suas relações e o que a faz bem ou não. Se ela se machucar... Não será culpa sua, e muito menos sua responsabilidade. Sei que a ama e que quer a ver feliz, mas comece a pensar um pouco mais na sua vida, Meredith. A sua mãe está vivendo a dela... Faça o mesmo.
Ela suspirou, deitando a sua cabeça em meu ombro.
- Eu sei. Apenas é difícil.
- Richard é um bom homem. Eu sei que não entendo nada sobre o amor, mas entendo muito sobre pessoas, e afirmo que ele é uma boa pessoa e tem sentimentos verdadeiros pela sua mãe. Não estou dizendo isso para que você comece a gostar dele e o chame para fazer palavras cruzadas junto com a filha dele. - Ela riu - Apenas quero que relaxe. Viva e deixe-a viver.
Ela afastou a sua cabeça do meu ombro e pousou o seu olhar sobre o meu, ainda abraçando o meu pescoço.
- Obrigada, Addison.
- Não precisa me agradecer. Afinal... Eu ainda sou aquela sua pessoa a qual você pode desabafar sobre qualquer coisa e a qualquer momento, não sou?
Ela sorriu.
- Sim, você ainda é.
- Fico feliz em saber disso.
Ela encarou os meus lábios e sorriu ainda mais, fechando os seus olhos e encostando os seus lábios aos meus. Toquei sutilmente o seu pescoço, a puxando para mais perto e adentrei os seus lábios com a minha língua, sentindo o gosto delicioso de algum outro doce em conjunto com o seu sabor naturalmente adocicado. A beijei de maneira sutil e, resolvendo não ultrapassar aquela linha, afastei os meus lábios dos seus deixando um beijo rápido e sutil neles.
- Que tal se como um pedido de desculpas melhor você fosse lá embaixo buscar um vinho para nós? E pedir para Sarah um pote do meu sorvete favorito, enquanto eu tomo um banho?
Eu sorri, revirando os meus olhos.
- Então era apenas isso que eu precisava ter feito ontem e hoje? A comprar com doces ou sorvete? Guardarei essa informação para a nossa próxima briga.
Ela riu, com a sua testa encostada à minha.
- Vou querer brigar com você muitas vezes então.
- Se eu puder a comprar com doces todas as vezes, por mim tudo bem.
Ela sorriu novamente e eu me afastei, saindo do quarto.
Desci as escadas enquanto sentia-me mil vezes mais leve e fui até a cozinha.
Solicitei a Sarah o vinho e o sorvete e peguei as taças, subindo novamente.
Me sentei no sofá da sacada e deixei as taças e o sorvete na mesa de centro, abrindo o vinho, enquanto esperava Meredith sair do seu banho.
...
Meredith Montgomery;
Com a cabeça debaixo do chuveiro e a água morna gostosa caindo sobre mim, eu sentia um alívio e uma leveza tomarem conta de mim de maneira reconfortante.
Toda a raiva e a decepção em que eu sentia de Addison havia sido extinta por ela mesma, de forma a qual eu nunca imaginei que ela poderia fazer.
Ela estava certa, afinal. A minha raiva de si era não somente de si, mas de Flora e de Ellis também, e eu apenas descontei nela, porque ela me pareceu a pessoa mais fácil de canalizar aquela raiva naquele momento.
Mas também porque eu, antes de saber o seu lado da história, senti a sensação insuportável de ter iludido e mim mesma quanto a Addison. O que me fizera sentir mais patética ainda. Porque eu possuía sentimentos por Addison, mesmo que não soubesse os nomear ainda, por ser algo tão... Inesperado.
Mas agora, após todo o seu esforço para me fazer entender que ela realmente se importava comigo, eu não poderia estar me sentindo mais leve.
Eu nunca havia me aberto dessa maneira para qualquer pessoa além de Cristina, George e Flora. Porém aquela história em si, apenas Ellis e Flora sabiam. Eu não havia tido coragem de falar sobre isso nem para os meus melhores amigos.
Mas Addison... Com Addison era diferente, apenas diferente.
Agora eu sentia, mais do que nunca, que eu poderia confiar em Addison. E hoje, mais do que nunca, eu tive a coragem em que nunca tive de olhar para trás e falar sobre o passado. Graças a ela.
Addison simplesmente havia me feito... Sentir confortável o bastante para isso, mesmo no meio de uma discussão.
Nós havíamos tido a nossa primeira briga. E quem diria que Addison seria a pessoa, entre nós duas, que procuraria resolver tudo da maneira mais pacífica e paciente o possível.
Afinal, aquela ruiva me surpreendia a cada dia mais com algo inimaginável sobre si.
Terminei de lavar os meus cabelos e os enrolei na toalha. Me sequei e passei o meu óleo corporal calmamente sobre o meu corpo, tirando o excesso logo depois. Cuidei do meu rosto e sequei os meus cabelos, observando-os já estarem batendo na metade das minhas costas. Eu nunca havia os deixado tão longos, mas a imagem deles me refletida ao espelho me trouxe satisfação.
Após os secar e passar um pouco de óleo, fui até o closet e vesti uma calcinha branca e uma camisola da mesma cor.
Me dirigi até a sacada novamente e observei a ruiva sentada no sofá, observando o mar abaixo de nós, parecendo imersa
àquilo. O tempo em Los Angeles estava gostoso, um típico verão banhado da ventania, quente e refrescante ao mesmo tempo, do mar.
Me sentei ao seu lado, vendo-a me encarar no mesmo momento.
Ela se esticou até a mesa de centro e pegou o meu sorvete e uma colher, me entregando ambos.
- Estou definitivamente absolvida do meu caso, juíza Montgomery? - Ela me indagou com um mínimo sorriso nos lábios e eu ri, revirando os meus olhos pelo trocadilho tão bem feito.
- Está, ré Montgomery.
- Fico feliz em saber disso.
Aceito o sorvete das suas mãos e o abro, sentindo a minha boca encher-se d'água.
- Aceita?
Ela fez uma careta fofa, eu ri, sentindo-me ainda mais encantada por aquela mulher.
- Nem morta, Meredith. Apenas imaginar tomar isso me dá náuseas.
- Você é um alien, Addison. Como consegue viver bem sem uma bomba de glicose no sangue?
Ela me encarou com as suas sobrancelhas erguidas.
- Como consegue ter tanta energia sem doces? - a indago novamente.
- Bem, há outras fontes de energia na natureza além das que podem me dar diabetes.
Reviro os meus olhos, colocando a minha coxa por cima da sua.
- Você e Flora já estão bem? - Ela me indagou pousando a sua mão sobre a minha coxa nua e iniciando movimentos circulares sobre ela com as suas unhas.
- Sim, ela não admite que fiquemos brigadas por tanto tempo.
- Vocês brigaram porque ela sabia. Estou certa?
Assinto.
- Não pude evitar me sentir traída por ela também.
- Meredith... Nem eu e muito menos Flora traímos você. Não olhe as coisas por esse ângulo. Eu tenho certeza que a sua mãe apenas quis proteger você.
Suspiro, assentindo.
- Eu apenas... Não me sinto confortável com isso, Addison. Em todos acharem que eu sou como uma boneca de porcelana, que precisa ser protegida a todo tempo. Quero dizer... Eu não sou mais uma criança, sou uma mulher de quase vinte e seis anos. Acho que consigo decidir se quero ser protegida ou não, certo?
Ela assentiu.
- Entendo. Mas eu acho que é isso que mães foram feitas para exercer, certo?
Reviro os olhos, assentindo em resignação.
Nós ficamos caladas por algum tempo, apenas observando o mar lá fora e eu terminei metade do pequeno pote de sorvete, o deixando de lado.
Servi o vinho nas duas taças dispostas para nós e a entreguei uma delas, recebendo um agradecimento de volta.
A ruiva continuou encarando o mar, enquanto passava as suas unhas delicadamente pela minha pele. Porém, assim que ela dirigiu a sua carícia para a parte interna da minha coxa, parecendo sequer pensar nos efeitos em que iria me causar, eu suspirei, sentindo todo meu corpo se arrepiar e estremecer levemente ao mesmo tempo.
Ainda era incrível o fato de Addison conseguir me fazer sentir tantas coisas com um toque simples como aquele.
A ruiva me encarou, parecendo perceber e eu sorri, sentindo as minhas bochechas corarem em vergonha.
Ela me lançou um sorriso mínimo, acompanhado de um olhar o qual eu bem conhecia e repetiu o seu movimento, dessa vez, um pouco mais para cima.
- Addison... - murmurei o seu nome, fechando os meus olhos brevemente, enquanto sentia todo o meu corpo responder a apenas um toque, em um local nada sugestivo.
Os abri novamente e deixei a minha taça ainda intocada em cima da mesa de centro, me permitindo a observar melhor daquela maneira tão despojada.
Seus cabelos estavam presos em um coque mal feito e ela ainda usava a jaqueta de couro, a qual eu realmente havia adorado.
- Gosto de você assim... Menos social. Gostei da jaqueta.
- Devo a usar mais vezes então? - Ela me indagou passando as suas unhas para a minha pele por debaixo do tecido fino da camisola.
- Definitivamente - sussurrei encarando as suas íris verdes, sentindo tudo dentro de mim parecer derreter-se para aquela mulher.
Aproximo o meu rosto do seu, não suportando mais aquela distância e encarei os seus lábios, e, então, novamente os seus olhos.
A ruiva encostou o seu nariz ao meu e eu entreabri os meus lábios, sentindo o cheiro delicioso do vinho misturado ao seu hálito me inebriarem por completo.
Toquei o seu pescoço, o acariciando com as minhas unhas e mordi o meu lábio inferior, encarando os seus olhos mais de perto, agora quase pretos de tão dilatados.
A ruiva deixou a sua taça sobre a mesa sem romper o contato dos nossos olhos e encostou os seus lábios aos meus, fazendo-me fechar os olhos no mesmo instante, enquanto o meu estômago fazia questão de demonstrar a presença das inúmeras borboletas fictícias que o habitavam.
Os seus lábios não demonstraram qualquer indício de pressa contra os meus, a ruiva os selou demoradamente aos meus uma primeira vez, então uma segunda, fazendo-me arfar para si quando senti a sua língua encostar-se sem pressa aos meus lábios. Os abri de imediato e enrosquei a minha língua à sua, sentindo o meu coração bater de maneira acelerada no mesmo momento.
Senti o seu gosto de vinho misturar-se ao sorvete de morango em que eu havia acabado de tomar e arfei contra os seus lábios, adorando aquela mistura agridoce.
Devagar, afastei a minha perna de cima da sua e me sentei ereta sobre o sofá, sentindo as suas mãos tocarem a minha cintura de maneira sutil, me guiando para me sentar no seu colo, de frente para si.
Acariciei o seu pescoço, sentindo uma onda de ternura me habitar por completo enquanto os nossos lábios se moviam de maneira lenta em um beijo intenso.
Céus! Como eu amava aquilo!
Desfiz o seu coque, sentindo a maciez das suas madeixas contra os meus dedos e os acariciei, sentindo as mãos da ruiva acariciarem as minhas coxas de maneira lenta.
Assim que o ar se fez necessário, contra a minha vontade, afastei os meus lábios dos seus, mantendo a minha testa e o meu nariz grudados em si, enquanto eu tirava a sua jaqueta, a ruiva abriu os seus olhos, me encarando de maneira intensa, e fazendo o meu estômago embrulhar-se no mesmo momento.
- Meredith... Você tem certeza que está bem o bastante para isso?
Assinto, selando os meus lábios aos seus como uma outra confirmação de que sim, eu estava.
- Sim, por favor... Eu quero isso.
- Ok - ela murmurou, apoiando uma das suas mãos nas minhas costas e me deitou no sofá.
Suas íris verdes me encaravam de uma maneira diferente, além de desejo.
Senti o meu coração parecer querer sair pela minha garganta enquanto as borboletas pareciam gritar ao meu estômago esperando serem ouvidas com clareza por mim naquele momento.
Mas apenas o meu subconsciente entendeu o que estava acontecendo comigo naquele exato momento, e exatamente por esse motivo eu senti o meu coração pulsar ainda mais forte, como uma forma de tentar me alertar que aqueles sentimentos, naquele momento, não possuíam absolutamente nada a ver com apenas desejar Addison.
Uma lâmpada parecia estar prestes a ser acesa na minha consciência, como a evidenciação de uma linha de raciocínio, em relação àquele misto de sensações, a ser claramente formada, mas ela desapareceu no momento em que os lábios da ruiva se encontraram aos meus novamente.
Como sempre, ao ser beijada por ela, tudo pareceu virar apenas fumaça e eu apenas foquei-me naquilo, na sensação deliciosa que era de ter os seus lábios macios contra os meus.
Puxei a sua camiseta, a tirando com a sua ajuda e sentindo o seu corpo se deitar de maneira sutil sobre o meu, sem que eu sequer sentisse o seu peso, apenas o seu calor.
Abri o botão da sua calça, enquanto as suas mãos passeavam as minhas coxas de maneira deliciosa, e ela puxava a minha camisola para cima.
Afastei as minhas costas brevemente do sofá para que ela a tirasse por completo, separando os seus lábios dos meus apenas para isso.
Um gemido abafado pelo beijo escapou dos meus lábios quando a senti passar as suas unhas levemente pela minha cintura, fazendo-me estremecer para si.
Afastei os meus lábios dos seus, completamente incomodada com o seu excesso de tecido.
- Addison... - Sussurrei contra os seus lábios, sentindo-a distribuir beijos deliciosos pelo meu rosto, descendo para o meu pescoço e o meu colo, fazendo-me sorrir no mesmo momento. - Tire essa calça... Por favor.
Ela se afastou automaticamente e se levantou.
A observei tirar a calça rapidamente e sorri ao observar o seu corpo iluminado pela luz da lua, apenas vestindo um conjunto de lingerie preto que contrastava de maneira gritante com a palidez da sua pele.
Ela se deitou novamente por cima de mim e me beijou, enquanto eu tirava o seu sutiã e o jogava em qualquer canto da sacada.
A ruiva tocou o tecido da minha calcinha e eu automaticamente afastei o meu corpo do sofá, sentindo-a a tirar.
Fiz o mesmo com a sua, sendo ajudada por ela e acariciei os seus cabelos, sentindo-a me tocar de maneira lenta, parecendo sentir o quão o meu corpo reagia de forma perfeita para ela, apenas para ela.
Desci a minha mão dos seus cabelos para a lateral do seu corpo, parando na sua cintura e a levei até a sua intimidade, sorrindo entre o beijo ao ouvir um gemido baixo escapar da sua garganta.
Addison estava extremamente molhada para mim. Eu adorava, mais do que nunca, saber que eu causava aquilo.
A ruiva afastou os seus lábios dos meus e me encarou, eu sorri, acariciando o seu rosto e a adentrando com os meus dedos e a vi entreabrir os seus lábios, arfando para mim com o cenho franzido, enquanto fechava os seus olhos e encostava os seus lábios no meu pescoço, o beijando com a sua língua, da maneira em que ela sabia ser capaz de me enlouquecer.
Senti dois dos seus dedos me adentrarem sutilmente e gemi baixo, inebriada por aquela sensação deliciosa.
A ruiva começou a se movimentar dentro de mim de maneira lenta e eu fiz o mesmo, seguindo o seu ritmo, sentindo-a arfar contra o meu pescoço.
O som do mar abaixo de nós, o calor do seu corpo movimentando-se contra o meu, a sua voz gradativamente mais rouca gemendo ao meu ouvido enquanto ela gradativamente era levada ao mesmo local delicioso de sempre junto à mim fizeram, aos poucos, o meu corpo parecer adentrar a uma espécie de transe, enquanto o seu nome saía dos meus lábios junto aos meus gemidos como um mantra.
Assim em que o meu clímax começou a dar sinais de chegar, agarrei as suas costas com a minha mão livre, jogando a minha cabeça para trás enquanto a sentia apertar os meus dedos dentro de si, em evidência do seu clímax também próximo.
Sentir aquilo me fizera estremecer para ela no mesmo momento, enquanto os espasmos de um orgasmo delicioso me tomavam, o seu corpo estremecia sobre o meu e ela gemia deliciosamente ao meu ouvido, aumentando a intensidade dos seus movimentos, enquanto eu fazia o mesmo, desejando que o seu prazer fosse tão intenso para ela quanto estava sendo para mim.
O meu clímax me atingira no mesmo momento em que o seu a atingiu e eu gemi alto o seu nome, sem me importar com absolutamente mais nada, além dos seus gemidos ao meu ouvido levando-me para o local cada vez mais intenso o qual eu já tanto conhecia através dela.
Senti a ruiva estremecer em cima de mim e, então, o seu corpo deitar-se completamente sobre o meu, enquanto ela tentava recuperar a sua respiração e eu tentava o mesmo.
Tirei os meus dedos de dentro de si, a sentindo fazer o mesmo e, assim, permitir que os nossos corpos se tocassem mais intensamente.
Levei a minha mão em suas costas até os seus cabelos, os acariciando enquanto pousava a minha outra mão nas suas nádegas, fazendo o mesmo.
O calor do seu corpo ao meu pós-sexo e a sensação imensurável de segurança em que ele me trazia, me fazia desejar, mais do que nunca, ficar ali, deitada naquele sofá com o seu corpo sobre o meu, sentindo as batidas do seu coração contra a minha pele, assim como a sua respiração, até pegarmos no sono.
Mas eu sabia que não poderia desejar aquilo. Eu sabia estar ultrapassando uma linha irrevogável ao querer que Addison correspondesse àquele desejo e realizasse aquilo.
Portanto, suspirei, pensando na maneira mais fácil de parar de pensar naquilo.
- Vamos tomar um banho de banheira? - a indaguei, sentindo-a assentir contra o meu pescoço e se afastar, levantando-se.
- Irei a colocar para encher, mas você escolhe os sais, nunca sei como os usar.
- Humm, é por isso que estou aqui.
Ela assentiu, se esticando e deixando um selinho nos meus lábios. Sorri, a observando caminhar nua até o quarto, e me permitindo apreciar o seu corpo completamente malhado e suado se afastar de mim.
Respirei fundo, me sentando no sofá e vesti a sua camiseta e a minha calcinha, prendendo os meus cabelos em um coque mal feito.
Alcancei a minha taça de vinho e comecei a tomar, me levantando e indo até o parapeito, observando as ondas do mar se quebrarem e a a luz da lua refletida sobre a água.
Fechei os meus olhos, sentindo a brisa gostosa e o cheiro do mar me acalmarem por completo e suspirei, ao sentir o perfume da ruiva impregnado em mim.
- Tudo bem?
Abri os meus olhos, a vendo parada ao meu lado, vestida com um roupão e com os seus cabelos presos em um coque bagunçado, bebendo o seu vinho.
Assinto, encarando o mar novamente.
- Gosto da sensação em que o mar me trás. Quando eu era criança sonhava em morar na praia. - Comento sentindo a brisa gostosa no meu rosto.
- Gosto também. Poucas coisas me acalmam tanto quanto nadar ao mar.
A encaro, lembrando-me de algo.
- Addison?
Ela murmurou uma resposta, ainda encarando o mar.
- Você não tem fumado mais?
Ela me encarou, franzindo o cenho.
- Na verdade... Não. - Ela também parecia surpresa, mas deu de ombros. - Não sou uma viciada, nunca fui.
- Eu sei, é que você costumava fumar para se acalmar. Mas desde que chegamos de Luanda isso não ocorreu.
- Não sinto mais vontade - ela deu de ombros, parecendo pensativa em relação àquilo.
- Isso é bom, certo? Preciso confessar que não suporto cigarros.
Ela assentiu, me encarando novamente.
- Eu sei. A banheira já deve estar cheia.
Assinto, indo até o banheiro e desligo a torneira, colocando alguns sais com cheiro de morango e um chá relaxante junto.
Addison apareceu com a sua taça e a garrafa de vinho e tirou o seu roupão, entrando na banheira.
Eu fiz o mesmo, após tirar a sua camisa e a minha calcinha e me sentei de frente para ela, bebericando o meu vinho.
A ruiva se deitou na banheira e eu suspirei, sentindo a sua coxa tocar a minha e passei a acaricia-la com as minhas unhas, enquanto bebia o meu vinho.
- Quando você irá conversar com Ellis? - ela me indagou e eu respirei fundo, fechando os meus olhos.
- Não há o que conversar.
- Meredith, não assuma esse papel. Você sabe que precisa fazer ela perceber que a machucou.
- Não quero a chatear, Addison. É melhor deixar isso para lá. Eu...
Ela suspirou, se levantando e ficando sentada de frente para mim.
- Você precisa parar de colocar os sentimentos das outras pessoas à frente dos seus, Meredith. Você precisa, acima de qualquer pessoa, validar o que você sente. Não adianta que eu faça isso, ou que Flora o faça, ou os seus amigos, ou até mesmo Ellis Grey, se você não o faz em primeiro plano. Ela machucou você, ela foi egoísta, ela não teve a ação de uma mãe, não pensou em você e precisa saber disso! Eu não admito que você guarde tudo isso para si mesma e aja como se não estivesse machucada.
Engoli em seco, desviando o meu olhar.
Eu não estava acostumada a ser tão validada daquela forma. A ter os meus sentimentos como uma importância para alguém além de Flora e dos meus amigos, e muito menos para mim mesma.
Addison estava me desarmando aos poucos, por completo.
Eu ainda não sabia se gostava disso.
- Sei que não quer a magoar, mas ela magoou você, e você precisa a fazer perceber isso, caso contrário isso só irá ficar pior.
Assinto, dando-me por vencida.
- Não sei como fazer isso.
- Apenas diga o que sentiu. A faça perceber o egoísmo dela. A faça perceber que ela errou, mostre o seu lado da situação.
- Ok - murmuro deitando-me na banheira, sentindo a ruiva acariciar a minha coxa. - Podemos mudar de assunto, por favor?
- Ok. Amanhã teremos um almoço com as Torres. Caso você queira, Arizona a convidou para um passeio na praia pela tarde.
Sorrio, assentindo.
- Você irá trabalhar na empresa?
- Sim, há muita coisa para ser resolvida aqui.
- Imagino, apenas tente pegar leve consigo mesma, ok? - Murmurei a encarando.
- Ok. Amélia estará aqui na terça. Irá para o Japão resolver algumas coisas no meu lugar, mas passará aqui antes.
- Estou com saudades dela. Quem assumirá a sede em Luanda?
- Mark - ela murmurou parecendo entediada.
Eu ri.
- Uau. Vai realmente deixar o Mark assumir Luanda? Amélia sabe disso?
- Saberá amanhã. Realmente não estou pronta para a ouvir as suas birras quanto a irresponsabilidade de Mark.
- Eu realmente espero que ele não cometa nenhum erro. Caso contrário...
Ela suspirou.
- A minha cabeça dói somente em imaginar tudo em que irei ouvir de Amélia.
Eu ri.
- Esse é o peso em que se carrega por ser tão madura à ponto de deixar o posto de caçula e virar a primogênita. Ainda é irreal para mim o fato de você ser a mais nova.
- Pareço tão velha assim?
Eu ri.
- Só um pouco.
- Não tenho culpa de ser tão responsável.
- Acho que não é só a responsabilidade... Você é extremamente protetora com os dois.
Ela deu de ombros.
- Estou acostumada a separar as brigas deles desde criança, caso contrário esses dois já teriam se matado.
Eu ri, negando com a cabeça e ouvi o toque do seu celular.
Gemi baixo em reprovação e Addison se esticou, o pegando ao lado da banheira.
- Não me diga que precisa ir trabalhar.
- Não, é a sua mãe.
- Qual das?
- Ellis.
Fecho os meus olhos, suspirando.
- Alô? Não, não estava. Sim, ela está. - Ela suspirou, me encarando - Um minuto. - A vi murmurar para mim sem voz: - Café da manhã, amanhã, com a filha dele.
Nego com a cabeça rapidamente, sentindo-me desesperada apenas em imaginar aquilo. Ela assentiu.
- Na verdade... Amanhã pela manhã nós queremos fazer algo entre nós duas, Meredith quer muito passear pela cidade. Também não, temos compromisso. É realmente importante. Sim, ela precisa estar. Não. Ela realmente deseja estar presente, Ellis. Eu sei, mas respeito as vontades da sua filha. - A sua voz havia tomado um tom grosseiro. Addison realmente estava chateada com Ellis? - É importante. - Addison suspirou - Ok, está bem. Idem.
Ela suspirou.
- Pelo visto a sua teimosia não foi apenas herdada de Flora.
- Ela insiste - murmuro revirando os meus olhos.
- Sim.
- Típico Ellis Machetti Grey. - murmurei revirando os meus olhos.
- Bem... Mas, para a sua sorte, eu sou uma Montgomery, portanto consegui adiar para um jantar. Até lá teremos tempo para digerir isso, certo? E para conversar com ela.
Assenti sorrindo fraco e me estiquei, deixando um selinho demorado em seus lábios.
- Fico feliz em ter me casado com alguém que consiga ser mais persuasiva do que os Machetti.
- Persuasão é o codinome dos Montgomery.
- Concordo, mas que a nonna não me ouça dizendo isso.
Ela sorriu levemente.
- Me fale mais sobre os seus avós.
Sorrio, mordendo o meu lábio inferior. Falar sobre os meus avós sempre seria motivo de felicidade para mim.
- Bem... Alfredo e Luisa Machetti são os seres humanos mais... Incríveis, doces e aventureiros desse mundo. Eles vivem viajando pelo mundo, e da última vez em que nos falamos eles já tinham visitado mais de duzentas cidades e trinta países juntos, provavelmente agora esse número aumentou, já que eles acabaram de voltar de uma nova temporada fora.
Addison pareceu surpresa, eu assenti sorrindo.
- Pois é, eles viajam desde que eu me entendo por gente, e nas minhas férias escolares sempre me levavam com eles. Quando eu nasci eles se mudaram para NY, mas aos meus dezoito eles voltaram para a sua casa em Milano. Eles são... As pessoas que mais amo nesse mundo, há muito de mim em que devo a eles, praticamente tudo, na verdade. Nós temos um ano e alguns meses sem nos ver, e eu sinto tanto a falta deles! Esse ano eles estão de volta de mais uma viagem longa e espero conseguir os ver.
- Por que não os chama para passar o Natal conosco? Gostaria de os conhecer.
Sorrio, extremamente feliz por aquilo.
- Já aviso que eles não serão fáceis como Flora foi. Eles são mil vezes mais exigentes, principalmente o vovô. Ele... Sempre foi mais um pai para mim do que avô, e eu sempre fui mais apegada a ele do que a qualquer outra pessoa no mundo. E, pelo que Flora me disse, ele está extremamente chateado por não ter me levado ao altar, como prometeu. - Suspiro, um pouco triste por aquilo. Eu tinha esperanças de me casar com alguém de verdade, e ser levada ao altar pelo homem o qual eu mais amava no mundo.
- Sou boa em conquistar pessoas que quero conquistar, fique tranquila.
Eu sorri, assentindo.
- Se você se garante... Irei ligar para eles amanhã, estou adiando isso há tanto tempo... Irei levar um sermão tão grande!
- Qual é mesmo o fuso horário de lá para cá?
- Humm, estamos há três horas atrasadas de New York, e New York possui seis horas há menos... Nove horas.
- Por que não liga agora?
Me surpreendo.
- Agora?
- Sim. São quase dez da manhã lá. Não imagino melhor hora.
- É... Bem... O meu celular está...
- Use o meu. Acredito que se lembra do número de telefone dos seus avós.
- Você é realmente insistente, Montgomery.
- Apenas a quero ouvir tomando um belo sermão.
Bato em seu braço levemente rindo e pego o seu celular, discando o número já tão conhecido por mim.
- Coloque no viva-voz.
Revirei os olhos, o fazendo.
- Não posso falar inglês com eles - Murmuro para ela.
- Sorte sua ter se casado com uma mulher poliglota.
Reviro os olhos, sorrindo.
- Metida - murmurei para ela, a vendo revirar os seus olhos com um sorriso típico seu no canto dos seus lábios, bebendo o seu vinho.
O telefone foi atendido e eu senti os meus olhos marejarem ao ouvir a voz tão reconfortante do meu avô atrás da linha.
- Pronto! Chi parla? - "Quem fala?"
Sorrio.
- La nipote preferita del signor Machetti, forse? - "A neta preferida do senhor Machetti, talvez?"
Senti o olhar de Addison queimar sobre mim e a encarei, vendo a sua feição ao me encarar mudar completamente. Ela parecia surpresa, e parecia ter gostado dessa surpresa. Ela nunca havia me ouvido falar em italiano. Senti as minhas bochechas corarem e sorri.
- Oh! Dio Mio! Luisa! È la nostra mini fragola! Mer, mia bambina! - "Oh, Deus meu! Luisa, é a nossa moranguinho! Mer, minha filha!" - Senti um lágrima cair dos meus olhos e sorri, a limpando.
- Quanto mi sei mancata, nonno! - "Senti tanto a sua falta, vovô"
- Oh, Dio! Come stai, fragolina mia? Quanto mi sei mancata, mia bambina! Ti amo così tanto, mia bambina! - "Oh, Deus, como está, minha morango? Senti tanto a sua falta, minha filha! Eu te amo tanto, filha!" - Oh Dio!
Fammi parlare con lei, Alfredo! - "Me deixe falar com ela, Alfredo!" - Eu ri, ao ouvir a voz da minha avó atrás da linha.
- Ti amo, nonno! Fammi parlare con la nonna - "Te amo, vovô, me deixe falar com a vovó"
- Lo metterò in vivavoce. - "Irei colocar no viva-voz" - Mia principessa! Quanto mi sei mancata, mi amor!" - "Senti tanto a sua falta, meu amor!"
- Anche tu mi sei mancato, nonna! Come va? - "Também senti a sua falta, vovó, como está?"
Eles começaram a falar juntos e a me atualizar de tudo em que estava acontecendo em suas vidas, tirando-me boas gargalhadas.
Passamos mais de dez minutos conversando sobre amenidades, até o assunto o qual eu mais temia aparecer.
- Che mi dici di te e di questo matrimonio, Mer? Chi è questa donna, Meredith? Non siamo affatto soddisfatti con esso! - "O que me diz desse casamento? Quem é essa mulher, Meredith? Não estamos nada satisfeitos com isso!" - Meu avô começou, em um tom de voz irritado.
Eu e Addison nos encaramos e eu suspirei, sentindo o meu coração se apertar.
- Nonno, non parliamo di questo ora... Per favore! Parliamone di persona. Addison, mia moglie, vuole che tu passi il Natale qui... - "Vovô, não vamos falar disso agora, por favor! Falamos disso pessoalmente. Addison, minha esposa, quer que vocês passem o Natal aqui."
Ele concordou em resignação e logo voltamos a falar amenidades.
Passamos cerca de uma hora no telefone, e apenas no momento em que a nonna precisou sair para as suas aulas de yoga, eu me despedi deles prometendo ligar mais tarde para que eles falassem com Ellis também.
Assim que eles desligaram, eu respirei fundo, entregando a Addison o seu celular.
- Eles realmente já me odeiam antes de me conhecer.
Eu ri.
- Eles não odeiam você... Apenas... Não gostam. Mas você irá mudar isso, não é?
- Irei.
Eu sorri, assentindo.
- E os seus avós? Você nunca falou sobre eles. - A indago curiosa.
- Não tenho uma relação com eles como você tem com os seus. Na verdade... É bem longe disso. Acredito ser a neta que eles menos gostem.
- Por que? - pergunto um pouco surpresa.
- Não sei. Talvez pela minha orientação sexual. Ou por não ser incrível em todos os sentidos como Amélia, e amorosa como ela, ou por não ter o humor de Mark - Ela deu de ombros - Quando eu era criança eles pareciam gostar de mim, verdadeiramente. Mas, conforme fui crescendo, isso foi mudando - Ela falou dando de ombros.
- Sinto muito por isso, Addison - Murmuro acariciando a sua coxa, sentindo os meus olhos marejarem - Eu não sei o que seria de mim sem o amor dos meus avós.
Ela deu de ombros, desviando o seu olhar. Eu senti o ar entre nós mudar.
Eu sabia que ela sentia aquilo. Que se importava com o fato de seus avós não gostarem tanto dela.
- Não há pelo que sentir muito, está tudo bem.
- É por isso que você não quer ir passar o Natal na fazenda, não é? Porque eles estarão lá. Não tem nada a ver com mosquitos.
- Eles estão todos os anos, e todos os anos é um inferno.
Suspiro.
- Eu sinto muito por isso. Mas... Você não estará sozinha lá. - falo esperando passar para ela, pelo menos, cinco por cento da segurança em que ela me passava.
Ela assentiu, ainda sem me encarar.
- Vamos sair?
Eu assenti e nós nos levantamos da banheira juntas.
Eu me sequei, vestindo o roupão e coloquei a banheira para despejar a água fora.
Fiz as minhas higienes e vesti apenas outra calcinha e a minha camisola anterior.
Addison já estava deitada na nossa cama, concentrada em um livro que, assim que eu me aproximei para me deitar, percebi não ser em nenhuma língua conhecida por mim.
Me deitei ao seu lado, acendendo o meu abajur e a encarei.
- Que língua é essa? - a indago curiosa.
- Russo. - Ela falou tirando os seus olhos do livro e me encarando.
Me surpreendi.
- Você sabe falar russo? Por que eu não sabia disso?
- Porque eu não sei.
- Mas você disse que não estava aprendendo nenhuma língua no momento... Não acredito que esteja apenas encarando um livro em uma língua a qual você não faz a mínima ideia de como ler.
- Porque eu não estava. - Ela suspirou - Comecei a estudar russo há três anos atrás, mas parei por falta de tempo. Havia voltado antes de nos casarmos, porém parei novamente. E agora... Resolvi retormar.
- Uau! Você é... Inacreditavelmente incrível, Addison! Preciso admitir que tenho um pouco de inveja.
- Gosto de línguas. É apenas um hobby. - ela deu de ombros.
- Pode dizer algo em russo?
- Não - Ela franziu o cenho e me encarou como se eu houvesse acabado de dizer a pior coisa do mundo - Não possuo dominância o bastante na língua, Meredith.
- Ah, por favor! Apenas uma palavra... Que você goste. Tenho certeza que há.
- Meredith, não...
- Por favor, vai! Só uma palavrinha? - falei mordendo o meu lábio inferior e a vi revirar os seus olhos.
Ela suspirou, parando para pensar por um segundo.
- Tоска - Ela murmurou em um sotaque diferente, que havia deixado o seu tom de voz ainda mais rouco. Eu sorri, sentindo-me arrepiar com aquilo. Addison Montgomery era simplesmente incrível.
- O que significa? - a indaguei maravilhada.
Ela deu de ombros.
- Não há um significado literal para o inglês, ou para qualquer outra língua. É como... Um tédio espiritual. É a sensação de uma insatisfação eterna, de sentir faltar algo.
Sinto-me extremamente encantada, e ao mesmo tempo descrita por apenas uma palavra.
Eu sentia exatamente aquilo. Eu sabia que sentia.
Mas eu não me deixei pensar naquilo por mais de alguns poucos segundos.
- Uau. Profundo. - Murmuro sentindo o meu peito apertar-se por um momento, mas, assim que percebi estar entrando em um local proibido por mim mesma, foco o meu olhar em si novamente.
Ela assentiu.
- Pode dizer mais alguma coisa?
Ela revirou os olhos.
- Meredith, está na hora de dormir.
- Ah, por favor! - a implorei, mordendo o meu lábio inferior.
- Dormir, Meredith. Já são quase três da manhã. Vamos dormir.
- Pode falar amanhã então?
- Irei pensar no seu caso - Ela murmurou guardando o seu livro e se deitando - Agora vamos dormir. Boa noite, Meredith.
- Como se diz boa noite em russo? - a indago curiosa.
Ela revirou os seus olhos, virando-se de costas para mim.
- Boa tentativa.
- Não custava nada! - murmuro um pouco chateada, fazendo um bico.
- Boa noite, Meredith.
- Não vou responder os seus boa noites até você me ensinar a falar boa noite em russo.
- Ok - ela murmurou desligando o seu abajur e eu bufei irritada.
- Você é má, Addison Montgomery!
- Boa noite para você também, Meredith Montgomery.
Me deitei ao seu lado, abraçando o meu travesseiro e suspirei, encarando as suas costas á minha frente e os seus cabelos ruivos e extremamente sedosos esparramados pelo travesseiro.
Engoli em seco a vontade já inibida por mim de sentir o seu corpo quente e que me trazia tanta segurança grudado ao meu. De dormir daquela maneira, sentindo o seu perfume tão próximo e que tanto me acalmava.
Neguei com a cabeça, dispersando aqueles pensamentos e suspirando, sentindo o cheiro delicioso do seu perfume.
- Boa noite, falsa esposa poliglota, metida e chata, que se nega a me ensinar falar uma mínima frase em russo.
Sorri, assim que ouvi um resquício de ar sair do seu nariz, dando-me a entender que ela havia soltado um riso.
- Boa noite, falsa esposa tagarela que se nega a me deixar dormir.
Eu ri.
- Parece que já temos a nossa segunda briga acontecendo.
- Adie para amanhã, por favor, não quero ter que ir lá embaixo pegar sorvete para você novamente, e você já excedeu seu limite de doces hoje.
Sorri, mordendo o meu lábio inferior, sentindo o meu coração se aquecer em ternura por aquela mulher.
Quem diria que Addison Montgomery poderia ser tão... Unicamente incrível?
- Ok, irei adiar apenas porque estou com sono, mas amanhã você promete me ensinar como falar algumas palavras em russo?
- Pensarei no seu caso.
- Addison! Por favor!
- Meredith, hora de dormir.
Bufo irritada, me virando de costas para ela, fechando os meus olhos e acabei pegando em um sono profundo e confortável em poucos minutos, devido ao meu cansaço de uma noite anterior extremamente mal dormida.
...
Dia seguinte;
- Meredith, acorde!
Respiro fundo, abrindo os meus olhos e, instantaneamente os fecho pela claridade demasiada no quarto.
Um gemido baixo escapa da minha garganta e eu suspiro, alcançando o travesseiro de Addison e o colocando no meu rosto.
- O que? - murmuro irritada, sentindo-me extremamente exausta. Eu parecia não ter dormido absolutamente nada.
- Você precisa acordar para sair comigo e fingir para a sua mãe que iremos passar o dia fazendo coisas de casal, caso não queira ir tomar café com a sua nova irmã.
Bufo irritada, tirando o travesseiro do meu rosto e o jogo em sua direção.
- Que horas são?
- Oito horas. Tentei a deixar dormir o máximo que pude, mas já estou um pouco atrasada para ir para a empresa, tenho uma reunião ás nove.
Respiro fundo, abrindo os meus olhos e observando a ruiva sentada ao seu lado da cama.
Seus cabelos estavam presos em um coque com alguns fios soltos e sua feição parecia descansada.
Fico sentada na cama e prendo os meus cabelos em um coque bagunçado, me levantando efetivamente.
Alongo o meu corpo de maneira rápida e a encaro novamente, somente naquele momento verdadeiramente a observando.
Addison usava uma calça jeans de lavagem clara um pouco larga, mas que havia caído perfeitamente bem ao seu corpo, com um cinto preto de couro, e uma camisa social branca, com os três primeiros botões abertos e as mangas arregaçadas. E, por fim, nos pés, os scarpins pretos de verniz de sempre.
Eu a adorava daquela maneira mais despojada e menos social.
Ela conseguia ficar ainda mais linda.
- Irei tomar um banho rápido.
Ela assentiu e eu me dirigi até o banheiro, me colocando debaixo do chuveiro de jato morno, pois o tempo estava um pouco mais fresco.
Saio do banho e rapidamente e faço as minhas higienes, passando meu perfume e o meu oléo corporal, por fim, escolho um macacão curto e branco de alcinhas, calço um par de sandálias sem salto também brancas e prendo os meus cabelos que estavam um pouco mais ondulados nessa manhã em um rabo de cavalo com alguns fios soltos.
Arrumo a minha bolsa vermelha e dispenso a maquiagem, passando apenas um batom vermelho nos meus lábios.
Saio do closet, observando Addison sentada á nossa cama mexendo no seu celular, ela rapidamente me encara assim que, provavelmente, sente a minha presença.
- Tentei ser rápida, que horas são?
- Oito e quinze. Vamos tomar café.
Assinto, saindo do quarto ao seu lado.
A ruiva me guiou pela cintura para descermos as escadas e, assim que saímos da sala de estar e chegamos no corredor para a sala de jantar, eu ouvi a risada estridente de Ellis em meio á falas incoerentes:
- Amor... Pare! Querido, por favor - mais risadas - Richard!
Revirei os meus olhos, ainda sentindo um pouco de raiva dentro de mim e suspirei, sentindo o olhar de Addison sobre mim.
- Tudo bem?
Assinto.
- A melosidade deles também a incomoda? - ela me indagou parando no meio do corredor.
Eu cerrei o meu olhar, a encarando.
- Incomoda você? - perguntei um pouco surpresa.
- Como não? Eles se chamam de "meu amor" e "querida" a cada frase dita.
Eu ri baixinho, assentindo.
- Acho que nem se nós duas estivéssemos apaixonadas, seríamos assim. - comentei revirando os meus olhos em falso tédio.
- Com certeza não. Sinto agonia somente em imaginar.
Eu ri.
- Quer tentar? - murmuro mordendo o meu lábio inferior.
- O que? Ser tão melosa quanto eles? Impossível!
- Também acho um pouco, mas aposto que conseguimos.
- O que estará sob aposta?
- O que você quiser - sussurro, novamente mordendo o meu lábio.
- Qualquer coisa? - seu olhar deixava claro para que lado aquela conversa estava indo, e eu senti as minhas bochechas corarem.
Assinto.
- Proposta aceita. Como iremos fazer isso?
- Bem... Precisaremos tentar fazer com que eles se sintam tão desconfortáveis com as nossas demonstrações de carinho em público o quanto nos sentimos com as deles.
- Ok, temos até segunda-feira. Caso não consigamos...
- Você terá de mim o que quiser.
Ela sorriu maliciosamente para mim, mordendo o seu lábio inferior.
- E caso consigamos...
- O inverso. - Respondo dando de ombros.
- Justo.
Assenti.
- Mas você precisa se esforçar - eu a adverti seriamente - Não tente me passar a perna, senhora Montgomery!
- Ah, meu amor, eu nunca faria isso, meu bem! - ela murmurou em um tom de voz meloso e eu gargalhei, sem conseguir me conter.
Ela ergueu a sua mão.
- Temos um trato então, querida? - ela me indagou, fazendo-me rir.
- Com certeza, meu amor! - aperto a sua mão sorrindo.
Ela agarrou a minha cintura novamente e me encarou.
- Pronta?
- Com certeza.
Nós voltamos a caminhar juntas até a sala de jantar e eu me surpreendi ao sentir os dedos de Addison cutucarem a minha cintura, fazendo-me cócegas, eu a encarei surpresa, rindo e ela me lançou uma piscadela.
- Amor! O que você está fazendo? Pare! - Nós chegamos até a sala de jantar e eu estava verdadeiramente rindo por toda aquela situação em si - Addison! Pare, amor!
Addison se esticou, me deixando dois selinhos demorados nos lábios e eu sorri, limpando o canto dos seus lábios do meu batom.
Senti o olhar da minha mãe e de Richard sobre nós e senti as minhas bochechas esquentarem e uma estranha vontade de rir.
Aquela aposta seria extremamente hilária de ser realizada.
- Bom dia - Os encarei, os cumprimentando.
- Bom dia - Addison fez o mesmo.
Richard nos respondeu educadamente.
- Bom dia, queridas. Pelo visto acordaram felizes hoje.
Addison me guiou até a mesa de jantar e me puxou a cadeira ao seu lado direito.
- Obrigada, meu amor - a agradeci, me sentando e Addison se sentou na cabeceira.
- Quais os seus planos para hoje, filha?
Comecei a servir o meu suco de laranja o qual Sarah já sabia ser o meu favorito.
- Eu e Addison iremos passear agora pela manhã, e temos um almoço de negócios.
- Ah, que pena! Addison a contou do meu convite, certo?
- Sim - respondo bebericando o meu suco.
- Realmente não podem ir?
- Não, mãe. Nós queremos passar algum tempo juntas e sozinhas, Addison trabalha demais e o único horário livre em que ela tem é agora pela manhã.
- Entendo, tudo bem então, para onde vocês irão mesmo?
Suspiro, levando o meu copo de suco até a minha boca novamente, sem nenhuma ideia de algum possível lugar.
- À um SPA - Addison respondeu por mim.
- Um ótimo programa em casal - Richard respondeu e Addison apenas assentiu.
Acabo me lembrando de algo para falar com Addison e a encaro, segurando o meu sorriso para aquela nossa aposta.
- Meu bem, você tem algum compromisso envolvendo a Amy hoje? - a indago curiosa.
- Apenas uma reunião pela tarde, querida, por quê?
- Você pode pedir para ela que, por favor, me traga uma caixinha de morangos de lá? Eles são tão mais saborosos! E alguns doces típicos também.
- Por que você mesma não pede, senhora Montgomery?
- Porque eu tenho certeza que ela irá me chamar de criança e me encher o saco por isso, amor. E a você ela irá no máximo rir. - Ela negou com a cabeça - Por favor, amor! - murmurei acariciando a sua mão pousada sobre a mesa.
Eu iria ganhar aquela aposta, eu sabia disso!
Addison assentiu revirando os seus olhos.
- Ok.
Sorrio, me esticando e deixando um beijo nos seus lábios.
- É por isso que sou casada com você.
- Por causa de morangos e doces da África?
- Exatamente, meu amor - Falei deixando outro beijo em seus lábios.
- Filha, o jantar poderá ser aqui? Ou vocês possuem a ideia de algum outro lugar? - Ellis me indagou bebendo o seu café.
- Prefiro que seja aqui.
Ela assentiu e nós continuamos a tomar café em silêncio.
Encarei o meu celular, visualizando já serem quase nove horas.
- Meu bem, estamos quase atrasadas, vamos? - Chamei Addison, que assentiu, limpando o canto dos seus lábios com o guardanapo e se levantando.
Ela me ajudou a fazer o mesmo e nós nos despedimos rapidamente dos dois, saindo de casa.
Alex nos aguardava em frente a casa.
- Bom dia, Alex - Addison o cumprimentou e eu fiz o mesmo.
- Bom dia, senhoras. Deseja dirigir? - Ele indagou Addison que assentiu, pegando a chave.
- Para onde você irá? - Ela me indagou.
- Humm, provavelmente ao shopping - falei dando de ombros.
- Vamos á empresa primeiro e você pega o carro depois.
Assinto e entro no carro, sendo acompanhada por ela.
Addison fez o caminho até a empresa conversando com Amélia por telefone e estacionou poucos minutos depois, desligando o telefone.
Ela desceu do carro, abrindo a porta para mim e eu agradeci, fazendo o mesmo.
- Me encontre aqui ás 12:30.
Assenti, me esticando e deixando um selinho rápido em seus lábios, evitando borrar o meu batom.
- Tenha um ótimo dia, meu amor, já estou morrendo de saudades! - murmurei contra os seus lábios, a fazendo soltar um sorriso.
- Você não existe, Meredith Montgomery.
Sorrio, pegando as chaves das suas mãos.
- Vamos até o Shopping Center, Alex.
- Sim, madame.
Ele abriu a porta do motorista novamente para mim e eu entrei, sendo observada por Addison.
Dei partida no carro e a vi caminhar até a entrada da empresa pela garagem com mais três seguranças.
Dirigi até o Shopping e, sendo seguida por Alex e mais três seguranças, me propus a, primeiramente, ir até um salão SPA.
Fiz uma hora de massagem, lavei e hidratei os meus cabelos, fiz as minhas unhas, as pintando no tom de vermelho o qual eu tanto gostava, e uma skincare realmente relaxante.
Por fim, saí em direção à algumas lojas e comprei algumas roupas para mim e uma jaqueta de couro preta para Addison, um pouco mais casual do que a que ela havia utilizado no dia anterior.
Passei na praça de alimentação e escolhi um milkshake de morango e batatas fritas, me sentando para comer.
Ao meio dia, eu me dirigi calmamente até a empresa em meio ao trânsito um pouco engarrafado e subi até o andar do escritório de Addison.
Kepner estava sentada na sua mesa parecendo desesperada como sempre.
- Kepner! Bom dia!
- Senhora Montgomery! Como é ótimo a ver! - Ela se levantou e me abraçou.
- Você não veio conosco, achei que não viria dessa vez.
- Ah, eu precisei resolver algumas coisas para a sua mulher em NY ainda ontem, por isso vim hoje pela manhã.
Eu assenti.
- Addison está em reunião?
- Não, ela já está livre. Pode entrar!
- Obrigada, Kepner.
Bati na porta, ouvindo a voz de Addison autorizar a minha entrada e o fiz, a vendo sentada na sua grande mesa de reuniões, com seus óculos de grau ao rosto, lendo alguns papéis.
- Ei, cheguei muito cedo?
Ela me encarou.
- Que horas são?
Encarei o meu celular.
- 12:30.
Ela respirou fundo, tirando os seus óculos e se fechou os portifólios em que lia.
- Está tudo bem? - a indaguei preocupada com a sua feição que emanava uma grande exaustão.
- Sim, apenas não vi o tempo passar. Vamos.
Ela pegou a sua bolsa e veio até mim, me deixando um selinho rápido nos lábios, guiando-me para que saíssemos juntas da sua sala.
- Senhora Montgomery! Eu esqueci de a perguntar, a senhora leu os relatórios que a mandei ontem? Enviei também para a sua irmã.
Addison respirou fundo, franzindo o cenho.
- Não, não li.
Kepner pareceu surpresa, assim como Addison.
- Irei ler hoje, lembre-me no Whatsapp.
April assentiu e nos desejou um bom almoço após Addison a dispensar.
Nós descemos juntas e a ruiva dirigiu calada até o restaurante, ela parecia concentrada em algum pensamento, e eu resolvi apenas me calar, resolvendo não a incomodar.
Callie e Arizona Torres já estavam sentadas em uma mesa do restaurante mais caro de Los Angeles.
Eu as cumprimentei devidamente e Addison puxou uma cadeira para mim, eu agradeci, a observando se sentar ao meu lado e começar a conversar com o casal enquanto escolhia os nossos pratos sob um pedido meu.
Arizona me puxou para uma conversa animada sobre amenidades do dia a dia e Addison se concentrou em resolver assuntos da equipe administrativa da empresa com Callie.
Os nossos pratos chegaram em poucos minutos e nós começamos a comer em meio a conversa.
O almoço passou-se de forma rápida, e antes que eu pudesse perceber essa alta passagem de tempo, Addison sinalizou que precisaria ir para uma reunião que iniciaria em poucos minutos.
A ruiva pagou a conta e me cumprimentou na saída do restaurante com um beijo rápido nos lábios. A desejei um bom trabalho e a observei adentrar o carro, saindo acompanhada de outros dois.
Me virei para Arizona, que havia acabado de se despedir de Callie e nós sorrimos uma para a outra no mesmo momento.
- Vamos andar um pouco pelo calçadão, quero a apresentar mais para frente um bistrô de vinhos que eu adoro.
Eu assenti, começando a caminhar do lado dela enquanto conversavámos amenidades, até chegarmos ao assunto da minha nova rotina com a academia.
- Eu nunca poderia imaginar que você desse aulas de ballet e ginástica, Mer! Mas agora que você me disse... Isso me parece ser tão certo para você. Principalmente o fato de dar aulas para crianças.
Eu sorri, assentindo, enquanto observava o mar se quebrar abaixo de nós e olhei rapidamente para trás, vendo Alex e mais quatro homens nos seguirem.
- Nem eu poderia me imaginar sendo professora de crianças e treinadora de adolescentes, mas a vida é realmente uma caixinha de surpresas.
- Realmente. Eu também estou em um processo de tentar reconhecer o que realmente quero para mim. Quero dizer... Eu amo trabalhar no meio administrativo, mas não tanto quanto a minha mulher, e nem sinto que isso é realmente o que quero fazer para o resto da minha vida.
- Bem... Se o conselho de alguém que negligenciou suas próprias vontades a vida inteira vale algo para você... - Ela assentiu sorrindo - Eu a indico que comece agora a considerar as suas opções. Experimente. Você é nova e tem uma vida inteira pela frente, Arizona. Nós somos, por mais que eu tenha soado como a minha avó falando - Falei rindo, sendo acompanhada por ela - A minha avó costumava me dizer quando criança para aproveitar o máximo de todas as sensações em que a vida pudesse vir a me oferecer, com tanto que elas não ferissem outras pessoas nem a mim mesma, mas que a vida era muito curta para viver fadada a sensações monótonas, e agora eu percebo que ela estava extremamente certa. Ela sempre está, na verdade.
Arizona sorriu, encarando o céu azul acima de nós.
- Eu concordo plenamente com a sua avó, e essa nossa conversa parece ter sido apenas mais uma confirmação para tudo em que venho pensando nos últimos dias.
- Eu fico extremamente feliz por isso, Arizona. Por mais que não sejamos ainda tão próximas e eu não a conheça tanto, você é um ser humano incrível, isso é inegável.
Ela sorriu, me abraçando pelos ombros.
- Se eu sou incrível você é praticamente o literal de deusa.
Eu ri, negando com a cabeça.
- Mas me diga, você já tem algo do que deseja fazer em mente? - a indago curiosa, atravessando a rua junto a ela até o bistrô.
Ela suspirou.
- Bem... - A vi sorrir, deixando as suas covinhas à mostra - Na verdade eu sou pediatra. Não sou formada em administração, apesar de ser muito boa com números e questões administrativas desde criança. Cresci precisando ajudar o meu pai com a empresa que ele era sócio, e, apesar de ter feito uma faculdade e uma especialização, não tive muito bem a escolha de seguir na área. Quero dizer... Eu amo os números! Amo trabalhar com a Calliope! Amo a nossa rotina, mas sinto falta da medicina, de cuidar de crianças, das cirurgias, do clima caótico dos hospitais...
Eu sorri, acariciando o seu braço, assim que nos sentamos em uma mesa do bistrô.
- Bem, eu realmente não sei o porque você está procurando por algo se possui o que realmente ama bem à sua frente.
Ela riu, seus olhos brilhavam.
- Você acha, Mer?
- Queria que você pudesse ver a intensidade do brilho nos seus olhos agora ao falar de tudo isso. Vá por mim, Arizona, eu reconheço alguém que é verdadeiramente apaixonado por algo. Estou reconhecendo esse olhar agora.
Ela sorriu ainda mais, negando com a cabeça e nós fizemos o pedido dos nossos vinhos, retomando à nossa conversa que duraria pelo resto da tarde banhada em vinho, na brisa e no cheiro gostoso do mar, e do sol delicioso lá fora.
...
Às 18:10 Alex estacionou em frente à mansão e eu a adentrei, cumprimentando Sarah alegremente e a acompanhando, sem necessitar de muita insistência, até a cozinha para que eu pudesse provar da sobremesa que seria servida no jantar de hoje.
- Você, Miranda e Marina poderiam claramente abrir um restaurante juntas e ficarem milionárias com isso, Sarah. - Comento colocando a colhar do doce novamente na minha boca, o experimentando uma segunda vez.
Ela riu.
- A senhora irá mesmo querer perder suas três governantas favoritas de uma única vez? - ela me indagou com um sorriso travesso nos lábios.
- Oh, por Deus, Sarah! Não me coloque em um pesadelo desses. Mal estou conseguindo viver sem Miranda, imagine sem vocês três!
Ela riu, me oferecendo um pote pequeno de sorvete e eu aceitei, o tomando enquanto conversávamos amenidades.
Algum tempo depois, enquanto eu ria de uma piada de Sarah, ouvi os saltos os quais eu já tanto conhecia o som baterem sobre o piso de maneira cada vez mais alta.
Addison adentrou a cozinha, me encarando com o cenho franzido.
- O que está fazendo aqui uma hora dessas? Você já deveria estar arrumada, Ellis disse que queria iniciar tudo ás 19:00.
Eu revirei os olhos.
- Não gosto da ideia de ela ser a anfitriã aqui.
Ela suspirou, se aproximando de mim.
- Ela não será se você não deixar. Mas apenas se você deixar de estar na cozinha batendo papo e ir se arrumar.
Reviro os meus olhos novamente.
- Diga que podemos inventar que esquecemos completamente do jantar, podemos ir para um restaurante incrível da cidade que Arizona me indicou e depois lidamos com essa situação. Eu tenho certeza que Sarah não irá dizer que nos viu aqui.
- Meredith...
- Eu sei, eu sei - murmuro irritada, revirando os meus olhos - Ok, eu vou me arrumar para esse jantar chato, com essa mulher chata, o pai chato dela e a minha mãe não muito legal nesses últimos dias.
Addison negou com a cabeça, contendo um sorriso.
- Fico satisfeita em ser a única pessoa minimamente legal nesse jantar.
Mordo o meu lábio inferior, contendo um sorriso.
- Você também é chata, a diferença é que eu suporto a sua chatice, e até gosto um pouco dela.
Ela se aproximou mais de mim, tocando a minha cintura, me encarando intensamente.
- Então eu sou chata, senhora Montgomery?
- Pode deixar de ser se me ensinar a falar boa noite em russo.
Ela revirou os olhos.
- Ok, faremos um trato. Você irá subir, se arrumar e descer em menos de vinte minutos, e irá tomar o seu posto de anfitriã e reger esse jantar da melhor forma possível. E então, eu a ensino a falar boa noite e mais alguma outra palavra em russo.
Sorrio, sentindo uma felicidade sem tamanho me habitar.
- Você promete? - a indago mordendo o meu lábio inferior em expectativa.
- Eu prometo, Meredith. Agora vamos.
Assinto, me levantando do banco e a acompanhando até o andar de cima.
Tomei um banho rápido e escolhi um vestido curto e soltinho preto e a mesma sandália sem salto que eu estava usando anteriormente.
Deixei os meus cabelos soltos e dispensei a maquiagem.
Addison tomou um banho rápido e vestiu uma calça jeans preta, uma t-shirt da mesma cor e um par de sapatilhas pretas nos pés, seus cabelos estavam presos em um coque mal feito, e o seu rosto também dispensava qualquer tipo de maquiagem.
Nós saímos do quarto juntas e, ao chegarmos à sala, vimos Ellis e Richard sentados no sofá.
Addison entrelaçou a sua mão com a minha e me guiou para que nos sentássemos em uma poltrona da sala, ao lado do sofá, após cumprimentarmos os dois.
- Como foi a manhã no SPA? - Richard nos indagou.
- Ótima. - Addison respondeu se acomodando no espaço vazio ao meu lado, pousando a sua mão na minha coxa.
- Sua mãe está realmente precisando também, anda extremamente estressada nos últimos dias.
Ellis revirou os olhos.
- Estou ótima, querido. Mas não é uma má ideia.
Sarah adentrou a sala trazendo as nossas bebidas e alguns petiscos e Richard fizera questão de manter uma conversa com Addison por trinta minutos seguidos.
Após tanta demora, a minha mãe pareceu se tocar do tempo e pediu para que Richard checasse se algo havia acontecido com a sua filha, ele pediu licença e se levantou, indo até um canto da sala para realizar a ligação.
- Provavelmente ela deve ter se atrasado da saída do plantão. Ela trabalha no hospital mais renomado da cidade e é a cardiologista mais jovem dele, não é incrível isso?
Respirei fundo, apenas assentindo.
Eu nunca havia ouvido a minha mãe falar de alguém com tanto orgulho. Até mesmo sequer a havia ouvido falar com tanto orgulho de mim tantas vezes e tão facilmente nos últimos anos.
Aquilo me incomodou, mas eu resolvi ignorar. Ao invés de ficar pensando naquilo, eu fiz o que já era mestre em fazer: esquecer.
- Meu amor, está sabendo da conferência de literatura que irá ocorrer aqui em LA em outubro? - indaguei Addison, saindo daqueles pensamentos.
- Sim, querida. A Montgomery's é uma das patrocinadoras do evento.
Eu me peguei um pouco surpresa.
- Uau! Então viremos?
Ela assentiu.
- Já há uma data marcada?
- Não, não ainda.
- Ah, espero que seja depois do nascimento do bebê de Cristina. Mas não há outras datas importantes em outubro, então não há muito pelo quê se preocupar. Acredita que pode ser em que época do mês?
- No final, provavelmente.
- Dará tempo, o bebê irá nascer no início.
Ela assentiu e eu observei Richard caminhar até nós com uma feição não muito boa no rosto.
- Maggie pediu desculpas, mas não poderá vir. Um dos seus pacientes teve um problema gravíssimo e ela precisou entrar em cirurgia, não tem previsão de sair.
Parte de mim agradeceu veementemente por aquilo.
- Ah, tudo bem, meu amor. Entendemos que a Maggie tem uma profissão realmente imprevisível, o que a torna ainda mais admirável.
Ele sorriu, assentindo e eu suspirei, encarando Addison e não me permitindo pensar demais naquele orgulho demasiado da minha mãe em relação àquela mulher.
- Podemos jantar então? - Os indaguei.
Após os dois concordarem, Addison me guiou até a sala de jantar e puxou a minha cadeira, eu a agradeci com um sorriso e me sentei, reorganizando o meu lugar na mesa.
O jantar nos foi servido e nós comemos conversando amenidades, com Addison inusualmente falando na maioria do tempo, pois eu ainda não me sentia confortável o bastante com Richard e Ellis.
Assim que acabamos tudo, eu agradeci imensamente a Sarah pela comida maravilhosa e a sobremesa melhor ainda.
- Podemos ir até a área da piscina? A noite está linda!
- Eu irei até o escritório, possuo algumas coisas à serem resolvidas - Addison falou se levantando e me encarou intensamente. Eu já sabia o que o seu olhar me dizia.
- Tudo bem, minha nora. Não se esqueça de descansar, ok?
Addison assentiu e se esticou, deixando um beijo terno no canto dos meus lábios.
- Converse com ela - Ela sussurrou, se afastando. - Estarei a esperando, querida.
Assinto.
- Ok, amor.
- Vamos subir também, amor? Estou um pouco cansado. - Richard indagou a minha mãe e ela assentiu.
- Na verdade... Eu queria... Conversar com você, mãe, se você puder.
- Claro, meu amor, de que se trata?
Eu encarei Richard.
- Pode nos dar licença por alguns minutos, por favor, Richard?
- Claro, querida. Irei subir. Boa noite.
O cumprimento e me levanto da mesa junto à minha mãe, e, juntas, nós caminhamos até a área da piscina.
- O que aconteceu, filha?
Respiro fundo, quase desistindo de tudo aquilo quando a ouvi me indagar.
Mas Addison estava certa. Eu não poderia continuar a negligenciar os meus sentimentos. Pelo menos não nesse caso. Eu não teria paz com a minha mãe até resolver tudo isso.
- Mãe... Eu só... Fiquei um pouco chateada por ter me escondido esse namoro por tanto tempo. Quero dizer... Por que? Não confiava em mim o bastante? Ou... Não se sentia confortável para falar? O que aconteceu? Por que todo mundo sabia e eu não?
Ela suspirou.
- Eu não sabia qual seria a sua reação.
- E por isso me escondeu um relacionamento por cinco meses?
- Meredith... Eu achava que você não se importaria! Afinal, eu estou feliz! Era o que deveria importar!
- Eu fico satisfeita com isso, mas isso não muda o fato de você ter tirado um direito meu de saber disso tudo, mãe. Até a Addison sabia! Até mesmo ela! Eu sou sua filha! Eu merecia saber, eu tinha o direito de saber.
Ela suspirou, fechando os seus olhos.
- Por que está sendo tão egoísta? - Ela me pegou de surpresa.
- Eu? Egoísta? - a indago completamente surpresa.
- Sim, Meredith, você! Por Deus! Você está casada, tem uma vida perfeita, uma esposa perfeita, está trabalhando, está vivendo! E queria o que para mim? Que eu continuasse no meu eterno luto por um marido que sequer morreu? Queria que eu continuasse vivendo sozinha naquele apartamento? Que eu vivesse em função de você, como vivi todos os anos naquele casamento fracassado?
Sinto como se ela estivesse cravando uma faca lentamente ao meu estômago.
Vivendo em função de mim em um casamento fracassado?
- O... O quê? Eu... Eu não estou pedindo por nada disso, estou pedindo por um mínimo de consideração sua! Por estar em um relacionamento com alguém em que pensa em se casar por cinco meses e sequer ter me contado! Tudo que eu mais quero é a sua felicidade, mas não pude evitar me sentir traída pela maneira com a qual você agiu mediante à tudo isso.
Ela riu, um riso sarcástico e me encarou. Senti o meu corpo estremecer no mesmo momento. Eu nunca havia a visto me olhar daquela maneira.
- Por que eu deveria sempre pensar em você, Meredith? Por que? Me diga! Eu vivi vinte e seis anos em um casamento fracassado por sua causa! Eu joguei toda a minha vida no lixo porque não queria que você crescesse sem pai! E veja só? Você se casa com uma completa desconhecida, sequer me conta sobre isso também e simplesmente me apaga da sua vida! Afinal, Flora é e sempre será a sua real mãe, não é? E, quando ela está, eu realmente não existo. Agora diga-me se isso é justo? Diga-me! Diga-me que preferia que eu estivesse ainda sofrendo por tudo em que seu pai me fez! Porque você está feliz! Você está casada, você, pelo visto, está ótima! Porque eu não posso o mesmo?
Nego com a cabeça, fechando os meus olhos.
- Você me culpa por estar dando a volta por cima, mas não é capaz de olhar um pouco para você e perceber que você já fez o mesmo, com absolutamente tudo, e não somente com o sumiço daquele desgraçado! - Ela esbravejou irritada.
- Isso não é justo... - Murmuro sentindo os meus olhos marejarem - Não é justo que me culpe por não querer viver em função no meu passado! Por ter escolhido esquecer tudo e continuar vivendo. Isso não é justo, mãe! Não é justo que você me julgue tanto sem sequer saber de... O quão vazia eu me sinto desde que... - Engulo em seco, sentindo os flashs começarem a aparecer na minha cabeça, mas, como um ato automático de defensão do meu cérebro, eles rapidamente viram fumaça - Não é justo que me culpe por eu simplesmente me importar com você e querer saber da sua vida!
- Agora você sabe. Eu e Richard iremos nos casar em breve, quer você queira, quer não. E não adianta continuar nos tratando como se nós não existíssemos, ou simplesmente se fechar a cada vez que estamos no mesmo cômodo. O que você pensa ou deixa de pensar sobre o meu relacionamento não irá influenciar em nada as minhas decisões. Eu preciso, pelo menos uma vez, viver para mim desde que tive você, Meredith.
Sinto as minhas lágrimas caírem.
Então era isso? Eu sempre fui um estorvo na sua vida? Sempre fui o grande motivo da sua infelicidade? Eu havia a prendido ao lado daquele homem por todos aqueles anos e somente estava sendo informada daquilo agora, da pior forma possível?
- Não é justo que me culpe por algo que eu não tenho culpa, eu não pedi para nascer! - Esbravejo enquanto os meus soluços saíam de maneira incontrolável.
- E você acha que eu pedi para viver uma vida... À favor do seu amado pai? E à favor de tudo em que ele me fez? Eu mereço isso, Meredith! Eu mereço alguém que me ame de verdade, alguém que queira estar comigo! Alguém que me veja como eu realmente sou! Alguém com quem eu possa dar a volta por cima! Essa é a minha vida!
Assinto, limpando as minhas lágrimas, enquanto me sentia a pior pessoa do mundo.
- Meu amado pai não apenas arruinou com a sua vida, mas com a minha também, e você, mais do que qualquer pessoa, sabe disso. - Murmuro entredentes, engolindo o meu choro.
- Eu sei, e sinto muito por isso. Para sempre vou sentir, mas...
- Mas? Não há mas. Não sobre esse assunto, e você deveria saber disso. Mas eu já entendi. Me desculpe por... Tudo. - Falo sinceramente, sentindo a faca ir mais fundo, cada vez mais fundo. - Eu irei dormir, com licença.
- Mer...
A dei as costas e, querendo sair dali o mais rápido possível, eu andei rapidamente até o outro lado da casa, e, assim que vi a areia da praia abaixo do deque, corri até lá, tirando as minhas sandálias.
Me sentei de frente para o mar e, sem mais conseguir, deixei o meu choro sair.
A cada soluço o meu corpo parecia tremer ainda mais, não sei se pela brisa fria da noite, ou pela dor em que eu sentia.
Ellis estava certa.
Eu havia sido o grande estorvo da sua vida por anos, e agora, no momento em que ela desejava ser feliz, eu estava tentando, mesmo que sem desejar diretamente isso, me intrometer na sua felicidade.
Aquilo doía ainda mais. Doía porque eu sabia que era verdade, mas que eu também havia sido destruída, eu também havia tido cada sonho meu pisado por ele como se fossem pequenos insetos.
Eu sabia que aquele julgamento não era ao todo justo, mas que parte dele era verdade.
A minha mãe havia sido infeliz em um casamento fracassado por minha culpa.
A minha mãe havia abdicado de viver por minha culpa.
E eu não havia tido o mínimo de compaixão para reconhecer isso.
Ela estava machucada. Estava com raiva. Com raiva de mim.
E aquilo doía como mil facas, cada vez mais fundas.
Mas doía ainda mais perceber o descaso com o qual ela havia passado a tratar as minhas próprias dores, afinal, ela sempre havia estado ao meu lado, junto a Flora.
E agora... Agora parecia que nada do que já havia acontecido fazia mais diferença. Não para ela.
E aquilo doía. Aquilo doía de maneira excruciante.
- Meredith! O que...
Addison estava de frente para mim, com os seus cabelos voando com o vento e com um olhar extremamente preocupado no rosto.
Eu apenas a encarei, sentindo o meu peito doer de maneira insuportável e sentindo, pela primeira vez depois de alguns anos, o medo do meu passado me atormentar novamente. Então, eu a abracei, sem me importar se ela gostaria ou não de me abraçar.
Eu apenas a abracei porque precisava sentir que eu ainda tinha alguém a quem eu não tinha machucado.
Alguém a quem eu não havia feito mal.
Mas, principalmente, alguém a quem eu, mais do que nunca, me sentia segura.
A ruiva retribuiu o abraço no mesmo momento, se sentando na areia e me apertando ainda mais contra si.
- Calma... Eu estou aqui, ok? Eu estou aqui. - Ela sussurrou contra os meus cabelos.
A apertei contra mim, sentindo o meu corpo estremecer de maneira feroz contra o seu, e o meu choro se fazer ainda mais evidente.
- Shhh, eu estou aqui. Chore o quanto precisar. Eu estou aqui.
A senti me apertar mais contra si, me puxando par ainda mais perto.
Ela estava ali. Os meus medos, o meu passado, a minha dor também estavam, mas Addison conseguia ultrapassar a potência deles e os fazer parecer nada.
Ela estava ali. E, naquele momento, aquilo foi mais do que o suficiente.
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