33- Linha Cruzada.
Capítulo inteiramente dedicado a beatriz_calds pelo seu aniversário daqui há alguns dias. Obrigada por ser esse ser humano tão único e especial, te desejo as melhores coisas desse mundo. Aproveite cada palavra, esse capítulo é seu. Que a força dos aliens, morangos e whisky's esteja com você<3
A todos, obrigada pela paciência (de alguns) e por continuarem me acompanhando aqui. Expliquei com detalhes o porque estou sumida e, se quiserem saber, é só abrir o meu mural de mensagens.
Não sei quando nos veremos agora, então apenas aguardem com paciência, por favor!
PS: Indico a leitura do capítulo ao som da Playlist destinada a Contrato de Casamento, disponível na minha bio.
Aproveitem o capítulo e não se esqueçam de comentar e votar, o nosso trato de sempre<3
Fiquem bem, se cuidem!
...
Addison Montgomery,
Dia seguinte.
- Bom dia, Addison - Meredith me cumprimentou com o sorriso largo de sempre, aparentemente animada, adentrando a sala de jantar. Ela usava um vestido social preto e um blazer xadrez longo e cinza por cima e, em seus pés, um par de scarpins pretos, como ela já havia se habituado a utilizar todos os dias. - Achei que já tinha saído, acordei um pouco atrasada hoje. - ela comentou se sentando.
- Bom dia, percebi. Mas não foi um atraso significativo. Você foi dormir tarde. - Falei comendo as minhas torradas, sem ousar triscar um dedo no café servido para mim. Eu não estava a fim de ter náuseas logo pela manhã.
- Assim como você - ela comentou comendo as suas frutas - Não se sente cansada?
Nego com a cabeça, eu me sentia normal. Havia conseguido dormir muito mais do que eu normalmente o fazia. Pouco mais de quatro horas de sono, isso era inusual e o bastante para que eu me sentisse normal.
- O que irá fazer hoje? - ela perguntou, parecendo interessada.
- Agora pela manhã tenho um compromisso com Karev e pela tarde irei trabalhar na empresa.
Ela assentiu.
- E você? - pergunto curiosa - Algo de especial nas aulas de hoje?
- Irei introduzir um novo ciclo de atividades para as meninas pela manhã. E á tarde irei continuar trabalhando a segunda apresentação, já que estamos com mais ideias para ela do que para a primeira.
Assinto, encarando o meu celular. Já estava quase na hora de ir.
- Já está tudo certo com Grace? - pergunto-a.
- Sim, apenas falta a sua parte, os vinhos. Sabe que não sou muito boa para os escolher. Mas isso você pode fazer isso á noite. Irá chegar tarde?
- Não, não irei. Terei tempo para escolher as bebidas.
- Ok. Os petiscos eu deixei por conta de Grace. Espero que ocorra tudo bem. - ela falou sorrindo fraco.
- Se não ocorrer, iremos a um restaurante - falo dando de ombros, a fazendo rir.
- Por Deus! Isso seria nada delicado da nossa parte, Addison.
- Nem mesmo se a sobremesa estiver ruim? - a provoquei.
Ela mordeu seu lábio inferior, cerrando seu olhar.
- Isso é jogo sujo, Addison Montgomery!
- Apenas possibilidades - falo dando de ombros, me levantando - Ellis virá?
Ela suspirou.
- Não, infelizmente não. Ela está viajando. Voltará hoje a noite e disse que estará cansada. Mas quer marcar um jantar conosco na sexta.
- Ela me avisou. Se você estiver livre, podemos ir.
Ela assentiu.
Peguei a minha bolsa e o meu celular e vi a loira se levantar, virando-se diretamente para mim.
Ela consertou a gola do meu blazer, como sempre, e, dessa vez, também as mangas dele, que provavelmente ao seu olhar estavam tortas ou sei lá.
Eu já não me importava mais com isso.
Me estiquei, tocando o seu rosto e encostei os meus lábios aos seus, sentindo-a envolver o meu pescoço com os seus braços.
Tendo a noção de que eu já estava um pouco atrasada, apenas deixei um beijo rápido e leve em seus lábios, sem utilizar a minha língua. Pois eu bem sabia o quão eu poderia vir a me atrasar bem mais se o fizesse.
Meredith abriu os seus olhos assim que eu me afastei, erguendo a sua mão e limpando o canto dos meus lábios.
- Tenha um bom dia - ela me desejou.
- Igualmente - respondi de volta, deixando outro beijo rápido em seus lábios e me afastando. - Estarei em casa o mais cedo possível.
Ela assentiu.
Assim que me afastei, com o objetivo de ir até a sala, lembrei-me de algo que eu precisava a comunicar.
- Meredith?
Ela virou-se para mim.
- Sim?
- Pode escolher algo para que eu vista hoje? Me poupará algum tempo, o qual usarei para escolher as bebidas.
Ela sorriu, parecendo satisfeita e assentiu.
- Já tenho ideia do que escolher, não se preocupe com isso.
Assinto, vendo-a ainda sorrir para mim e me dirijo até a sala, colocando os meus óculos de sol. Abri a porta da minha casa, a fechando logo em seguida, observando os carros já parados lá fora á minha espera.
- Bom dia, senhora Montgomery - Alex me cumprimentou polidamente assim que eu desci as escadarias, indo até ele.
- Bom dia, Alex.
- Carter já está bem alertado de todas as maneiras possíveis, quanto a como deve proceder com a proteção da senhora sua esposa. Está tudo certo. Eu ordenei que seis dos mais qualificados a acompanhassem hoje, junto a ele. Ela está perfeitamente segura.
Assinto, realmente confiando naquilo.
- A senhora irá usar a Mercedes? Ou outro carro?
- Não a de sempre, tire a Maybach da garagem e mande Carter tirar a de sempre para Meredith. - falei pegando o meu celular e visualizando a hora. 7:30. A consulta estava marcada para as 8:30.
Alex voltou alguns segundos depois, estacionando o carro diante de mim e descendo dele, me entregando a chave.
- Selecionei quatro para irem conosco hoje, senhora.
Assinto, pegando a chave e dando a volta no carro.
- Você vem comigo - falei para ele, entrando no carro.
Ele fizera o mesmo e eu fechei os vidros, dando partida nele, vendo as três Mercedes de modelo mais simples fazerem o mesmo e começarem a me seguir.
- Luke está na sua casa?
Ele assentiu.
- Com a minha mãe. Ele está bem melhor hoje.
- Isso é bom - Respondi saindo do condomínio e começando a fazer o caminho até o prédio de Alex, o qual ficava em KingsBridge, um bairro de classe média em NY.
Estacionei em frente ao seu prédio e desci do carro junto a ele, entrando no local.
- Ele está ansioso - ele comentou enquanto estávamos no elevador, subindo até o quinto andar. - Provavelmente não mais do que eu, mas está.
- Imagino - comento vendo as portas se abrirem e Alex rapidamente abrir a porta do seu apartamento com as suas chaves.
Aquele lugar não havia mudado absolutamente nada, desde a última vez em que eu havia ido ali.
Alex não apreciava muito o ato de mudar, assim como eu. Portanto o seu apartamento continuava exatamente o mesmo.
- É o papai, vovó? - ouvi a voz infantil conhecida por mim pairar sobre o apartamento quieto e vi Alex sorrir, encaminhando-se até a cozinha, o acompanhei, vendo Luke sentado em uma banqueta diante do balcão, com a sua boca inteiramente suja de alguma bebida a qual ele tomava.
Ele não havia mudado absolutamente nada. E faziam cerca de sete meses em que eu não o via, desde a nossa última tentativa, que havia sido bem sucedida até a semana passada. Ele apenas estava mais magro e mais pálido, mas nada extremo, em que mudasse a fisionomia do seu rosto em si.
- Ei, campeão! Como estamos aqui? Muito ansiosos? - Alex o cumprimentou, adentrando a cozinha.
Ele sorriu, abrindo os seus braços para Alex, que o abraçou fortemente, o pegando em seus braços.
- Tô ótimo papai! Eu consegui me vestir quase sozinho hoje, sabia? A vovó só me ajudou a calçar os sapatos porque eu fiquei meio cansado.
Alex riu e eu me aproximei mais da cozinha, deixando-me fazer ser notada.
- TIA ADDISON! - Luke exclamou extremamente animado assim que me viu e Alex viera com ele até mim.
- Oi, campeão! Como está? - pergunto vendo-o sorrir alegremente para mim.
Luke era a única criança a qual eu sabia, mesmo que pouco, como lidar. E a qual eu realmente apreciava.
Aquele moleque era muito esperto, esperto até demais para a idade dele. O que me fazia gostar ainda mais de si.
Ele ergueu a sua mão para mim e eu bati a sua com a minha, em um cumprimento breve.
- Tô ótimo! Melhor agora! Faz séculos que a gente não se vê, a senhora até se casou!
Sorrio, negando com a cabeça.
- Pois é, me diga que, nesse meio tempo, você deixou de ser um perdedor. - o alfineto.
Ele riu.
- Está perguntando se eu ainda torço para os Mets?
Assinto.
- Acho que isso responde a sua pergunta - ele falou suspendendo o seu suéter, me mostrando a camisa do seu time de baseball favorito, que era adversário ao meu.
- Infelizmente você e o seu pai não mudam, apreciam continuar no limbo.
- Não mesmo, a gente detona, não é, papai?
- Com certeza, filho! A tia Addison não sabe como é isso porque ela não está acostumada com a nossa glória - Alex ergueu a sua mão, batendo com a dele. - Agora vá terminar o seu café enquanto o papai organiza as suas coisas, ok?
- Tá bom. Olha quem tá aqui, vovó, é a tia Addison!
Vi a mãe de Alex vir até nós e sorrir para mim, abrindo os seus braços e me abraçando desajeitadamente.
Eu não estava nada acostumada com aquilo, apesar de ela fazer sempre em que me via.
- Como vai, minha querida?
- Bem, senhora Karev, e a senhora?
- Ansiosa - ela comentou sorrindo - Soube que se casou, isso é tão bom, Addison! Sempre desejei que você e Alex tomassem um rumo certo na vida. Qual é o nome da sortuda?
- Meredith - a respondo.
- Ah, é um nome lindo, aposto que tão lindo quanto ela.
- Absolutamente - respondo de imediato, a fazendo sorrir.
- As desejo tudo de melhor nesse mundo, minha querida.
- Obrigada, senhora Karev.
- Tia Addison, é verdade que a senhora é amiga de um dos jogadores dos Mets?
Reviro os olhos em falso tédio, me sentando ao seu lado.
- Não sou amiga, apenas conheço ele. É um sócio meu.
- Humm, a senhora bem que poderia fazer ele me dar um autógrafo bem bonito na minha camisa, né? A senhora sabe que tem poder o bastante pra isso. - ele falou sorrindo descaradamente, deixando as suas covinhas á mostra.
- Você é um moleque folgado, Luke Karev.
Ele riu.
- Mas mesmo assim a senhora gosta de mim - ele falou dando de ombros.
- Gosto, e por gostar tanto, irei arranjar um autógrafo para você.
- JURA?
- Humrum. Joey Gallo é melhor amigo do meu irmão, posso arranjar para você. - o sacaneio, pois Joey era um jogador do time para o qual não só eu, mas toda a família Montgomery torcia.
Ele fez um bico.
- A senhora se acha muito engraçadinha, não é? Não quero autógrafos do grupo de metidos que é o seu time, quero do meu!
Sorrio.
- Acha mesmo que irei pedir um autógrafo a um dos perdedores dos Mets? Prefiro a morte, definitivamente.
- Nós não somos perdedores, somos humildes. A gente sabe perder. Já vocês, são uns esnobes!
Alex riu, entrando na cozinha novamente, já com as pastas de Luke em mãos.
- Isso aí, filho!
- Essa é a sua desculpa? Você é realmente uma cópia do seu pai. - comento me levantando e pegando a minha bolsa novamente.
- Espero que quando eu for crescer eu fique bem fortão igual o meu pai é.
Sorrio sarcasticamente, encarando Alex.
- Eu não apostaria que ele seja tão forte assim, Luke.
Alex revirou os olhos.
- Ah, mas ele é sim! Ele já pegou um monte de caras maus que queriam matar a senhora, não é verdade verdadeira, papai?
- É sim, meu amor.
Dou de ombros.
- Ele pode até ter feito tudo isso, mas continua perdendo vergonhosamente para mim no boxe. Não tão forte, não é mesmo?
- Isso é verdade papai? Você realmente perde pra tia Addison no boxe? Que vergonha!
Eu sorri, encarando Alex, que cerrou seu olhar para mim.
- Isso é um assunto delicado e que deve ser visualizado de muitas vertentes. A tia Addison é só uma metida, filho, e, por isso, o ego dela aumenta muito mais as coisas, além do que elas realmente são. Agora vamos, ok? Dê tchau para a vovó.
- Tchau, vovó. Não esquece de fazer meu bolo, hein!
- Pode deixar, amor. Boa sorte lá, ok? Se comporte!
- Eu sou comportado - ele murmurou em um tom de indignação e eu neguei com a cabeça, ajudando Alex a colocá-lo na cadeira de rodas.
Nós descemos juntos até o térreo e eu peguei Luke no colo, o colocando no carro, enquanto Alex fazia o mesmo com a cadeira de rodas no porta-malas.
- Então, tia Addison, quais as novidades? - ele perguntou assim que eu dei partida no carro.
- Nada demais, Luke. Apenas trabalho. E você? Como estão indo as aulas?
- Ah, tudo normal. Mas eu odeio história.
- Qual a sua matéria favorita então? - pergunto curiosa.
- Matemática!
- Sempre foi a minha favorita também.
- Sério?
- Humrum, eu sempre gostei de números e a lógica deles, desde criança.
- Que legal! Mas então... Por que a senhora virou juíza? Não tem nada a ver com matemática.
- Bem... Gostar de algo não é o suficiente - falei dando de ombros - Direito é algo em que eu não somente gosto, mas é a única coisa no mundo a qual eu sou realmente apaixonada.
- Entendi. E o tio Mark? Como ele tá?
- Irresponsável, como sempre. Mas agora ele está em posse de um novo cargo em San Francisco, por isso não anda muito por New York.
- Que legal. Mas e a sua mulher? Ela é legal? E é bonita? E o que ela faz?
- Eu devo começar a ficar com ciúmes? Por que quer saber tanto assim da minha mulher? - pergunto curiosa, o encarando pelo retrovisor.
- Ah, porque a senhora, assim como o papai, nunca quis se casar. E aí a senhora se casou. E isso é estranho. Então quero saber mais quem é a mulher tão incrível que fez a senhora mudar de ideia. Vai que ela tem alguma amiga igual a ela e apresenta pra o papai, hum?
Eu ri, negando com a cabeça, enquanto Alex revirava os olhos brevemente ao meu lado.
- Agora responde a minha pergunta, tia Addison!
- Você é um garoto exigente, Luke Karev! - ele riu - O nome da minha mulher é Meredith, ela é bailarina e ginasta e atua como professora em ambas das áreas, além de também ser advogada, mas ela não atua na área. E sim, ela é muito legal, bem mais do que eu sou.
- Uau! Que legal! Ela parece ser muito inteligente.
- Ela é - respondo sentindo-me estranhamente orgulhosa daquilo. Meredith era mais do que inteligente. Ela era um gênio.
- Como é que ela é fisicamente? É bonita?
- Além de tudo é atrevido! - comento parando em um sinal e o encarando - Posso saber o porque tanto interesse na minha mulher?
- Porque a senhora disse que ela é legal!
- E ela realmente é.
- Então, como ela é fisicamente?
- Acha mesmo que vou falar? - respondo dando partida no carro novamente, assim que o sinal se torna verde.
- Tudo bem... Papai, como é a Meredith?
Alex riu.
- Ah, filho. Ela é muito legal mesmo, bem mais do que a sua tia Addison. Tipo, um milhão de vezes mais legal. - Encaro Alex, que elevou uma das suas sobrancelhas para mim, me desafiando a o contrariar. Não havia como. Meredith era realmente um milhão de vezes mais interessante do que eu. Isso era indiscutível.
Por isso, apenas revirei os olhos, voltando a minha atenção para o trânsito.
- E o que mais?
- Ela é loira. Os olhos dela são... Verdes azulados, eu acho, e...
- Azuis. São azuis, seu imbecil. - o corrijo, revirando os olhos. Apesar de seus olhos realmente parecerem verdes, de longe, o azulado dos seus olhos era extrema e unicamente perceptível de perto. Apenas de perto.
Ele riu.
- Ok, são azuis. - ele revirou os olhos - Com todo respeito a sua querida tia Addison, ela é muito bonita. E muito simpática.
- Humm, tá bom. Vou pesquisar ela na internet, eu acho, né?
- Infelizmente - murmuro sem humor. Eu estava passando a odiar aquela exposição exacerbada em que a mídia fazia com Meredith. Era, no mínimo, irritante. Além de perigoso para a sua segurança.
Apesar de exigir a minha equipe pessoal de TI que tudo publicado sobre qualquer membro da minha família sem a autorização devida fosse vetado, ainda sim a internet possuía muito sobre Meredith, a minha mãe e a minha irmã. Mais do que deveria.
Resolvendo não me irritar com aquilo logo naquele momento, eu continuei a minha conversa com Luke.
- Então, tia Addison, a senhora sabe de alguma amiga legal da sua esposa? Pra apresentar pra o papai?
Eu neguei com a cabeça, sorrindo.
- Não, Luke. Nenhuma que valha á pena. Não para o seu pai. - Comento lembrando-me da figura irritante a qual Meredith chamava de melhor amiga.
- Droga! - ele murmurou irritado e nós continuamos a conversar sobre amenidades, basicamente sobre as suas aulas particulares e, dentro de poucos minutos, estacionei em uma vaga da clínica privada de um dos meus sócios.
Desci do carro junto a Alex, que se encarregou da cadeira de rodas e eu de pegar Luke no colo, com o objetivo de o colocar nela.
- A senhora é muito cheirosa, tia Addison. Tinha esquecido disso, que a senhora tem cheiro de gente muito rica.
Rio, diante do seu comentário completamente aleatório.
- Eu devo agradecer por esse suposto elogio? - pergunto o encarando, ele sorriu, deixando as suas covinhas á mostra.
- Claro que sim, apesar de a senhora não estar merecendo muito.
Ergo uma das minhas sobrancelhas, evidenciando a minha curiosidade.
- Posso saber por que, senhor Karev?
- Porque a senhora é uma metida que não quer me arranjar um autógrafo de um dos jogadores dos Mets!
- Nem sei o porque você ainda se iludiu achando que eu faria isso, mas isso se faz bem explicado, visto que você torce para um bando de perdedores.
- Papai, como o senhor consegue viver todos os dias com ela? - ele perguntou assim que Alex parou a cadeira de rodas diante de nós e eu o coloquei sentado ali.
- É realmente um esforço e tanto, filho. Porém sou muito bem pago por isso, o que me obriga a ter que a aguentar todos os dias. Mas esse é o melhor mês da minha vida, pois estou acompanhando a mulher dela, que, como eu já disse, é mil vezes mais legal.
Luke riu.
- Prefere dirigir as suas reclamações ao RH, Alex Karev? - pergunto ironicamente.
Ele riu, inusualmente.
Eu e Alex, no dia a dia, sempre mantínhamos o profissionalismo ativo, mesmo que ele fosse a coisa mais perto em que eu possuía de um amigo.
- Até parece que você deixaria - ele falou me lançando um piscar de olhos.
- Fica esperta, tia Addison, a senhora vai perder a Meredith pra o papai. Ele é muito charmoso, tá?
Reviro os meus olhos, realmente me divertindo com aquilo.
- Confio no meu taco, Luke Karev. E, além do mais, a minha mulher não gosta de homens.
- Que pena! Ela bem que poderia ser minha madrasta.
O encaro surpresa.
- Você é... Inacreditável, garoto! Você nem a conhece!
- Sou esperto. É diferente. E ela é mais legal do que a senhora, já é um ponto importante.
- Essa sua esperteza é inacreditável, você é inacreditável, Luke Karev.
Ele riu, dando de ombros.
Nós avançamos até a porta da clínica e a adentramos. O local estava completamente vazio, a não ser pela secretária sentada atrás do balcão.
- Espere aqui - indiquei a Alex, que assentiu.
- Bom dia, senhora Montgomery, o Doutor Josh já está a sua espera. Apenas preciso confirmar os dados do paciente. Luke Karev, sete anos. Há como responsável em seu registro médico Alexander Michael Karev e Addison Montgomery, estou correta?
- Sim.
Ela assentiu.
- Ok, muito obrigada, senhora Montgomery. Podem se dirigir ao corredor á minha direita, a última porta é a sala do Doutor Josh.
Assinto, voltando até Alex e Luke e os guiando até a sala.
Antes que eu precisasse bater na porta, ela fora aberta para mim pelo meu sócio, Dannis Josh, o qual rapidamente nos lançou um sorriso educado.
- Bom dia, senhora Montgomery. Como vai?
- Bem, Josh. Esse é Alex Karev - os apresentei. Alex o cumprimentou com um aperto de mão e Josh rapidamente olhou para Luke.
- Um torcedor do meu time de baseball favorito? Diga, por favor que, você é o paciente o qual eu espero, garotinho.
Luke sorriu.
- Sou eu, sim senhor. Então quer dizer que o senhor também é um torcedor dos Mets?
- Claro que sim! Cinco á um no último jogo, campeão.
- Você viu aquela jogada incrível do Smith?
- Oh, nem me fale! O cara é uma fera! Mas vamos entrando, sintam-se á vontade. Luke Karev, você é o meu convidado de honra hoje, portanto, acomode-se bem aqui, de frente para mim.
- Sim, senhor.
Eu e Alex nos sentamos, tendo Luke ao nosso meio e eu senti Alex me encarar de soslaio.
Ele estava nervoso. Isso era mais do que visível.
Lancei-o um olhar confiante, esperando o acalmar mais e o vi respirar fundo, encarando Josh.
- Ok, vamos lá, Luke Karev, sete anos, diagnosticado com um nódulo benigno, mas inoperável no lóbulo frontal direito aos... Quatro anos. Isso é realmente raro. E... Realmente caro. Você deve ter gastado uns bons milhares de dólares aqui, senhor Karev. Bem... Agora entendo o histórico médico dele. Nem todos os médicos estão preparados para lidar com essa raridade.
- O que importa aqui é saber se você estará, Josh. E não o quanto foi gastado. - O respondo friamente, sem mais paciência para redundâncias - Vamos direto ao ponto. Examine Luke, visualize o seu histórico e dê-nos o seu veredito.
- Como desejar, senhora Montgomery. Vamos lá, pequeno, eu irei precisar o colocar deitado naquela máquina legal do outro lado da sala. Preciso visualizar algumas coisas.
- Ok, Doutor Josh. Pode me ajudar, tia Addison?
- Claro, vamos. - falei o pegando no meu colo e o levando até a sala, observando Alex e Josh conversarem.
Coloquei Luke sentado na maca de exames dali e o ajudei a tirar os seus sapatos e o seu suéter.
- Tia Addison? - o ouvi me chamar e o encarei.
- Sim?
- Você acha que vai dar certo? Tudo isso?
- Eu espero.
Ele assentiu.
- Mas, se não der, continuaremos tentando, ok? - o asseguro, vendo-o assentir.
- Obrigado, tia Addison.
Apenas assinto, o colocando deitado no aparelho de radiografia e saí da sala, parando ao lado de Alex.
- Apenas quero dar uma olhada mais de perto e mais atualizada em tudo. Podem aguardar aqui, eu já volto.
Josh adentrou a sala de exames e, de soslaio, eu encarei Alex, que mantinha o seu olhar fixo em Luke e possuía uma feição preocupada no rosto.
Ele estava com medo, isso era óbvio. Mas aquele sentimento parecia, hoje, estar mil vezes mais aflorado. Ele estava muito mais temeroso do que esteve nas últimas tentativas. Eu apenas não sabia exatamente o porquê.
- Alex? - Chamei a sua atenção, vendo-o me encarar rapidamente - Tudo bem?
Ele assentiu, encarando o vidro da sala em que Luke estava novamente.
Ele estava mentindo. Mas eu resolvi não insistir.
Após cerca de insuportáveis trinta minutos dentro da sala de exames, Josh ajudou Luke a se sentar na cadeira de rodas novamente e abriu a porta. E, sem conseguir mais esperar por uma resposta, Alex foi de encontro a ele.
- Então, Doutor? O que o senhor acha? Nós podemos operar? - A sua voz fizera questão de demonstrar todo o seu nervosismo.
- Sente-se, senhor Karev, por favor.
Alex o fez e eu o acompanhei.
- Bem... Como eu já havia dito antes, o caso de Luke é realmente muito raro, porque fora diagnosticado ainda cedo, mas sem chances de tratamento efetivo. Não é algo normal em crianças e...
- Tudo em que você já está dizendo nós já ouvimos. Não só uma vez. Então faça o favor de ser direto. - O ordeno, já sem paciência.
- Eu... Poderia operar. Mas as chances de sobrevivência do Luke são mínimas.
Senti como se algo extremamente pesado descesse da minha garganta até o meu estômago, o queimando de forma insuportável.
- Quanto? - Alex perguntou em um tom de voz que me fizera não ter coragem de o encarar. Aquilo, supostamente, deveria dar certo.
- Eu... Não sei bem, nós precisamos...
- Você sabe. Diga. Quanto. Qual é a porcentagem?
- Eu...
- DIGA, PORRA! - Me surpreendi com a brusca exaltação de Alex, afinal, ele nunca reagira daquela forma em todas as outras inúmeras tentativas falhas.
- Quinze porcento. - Josh respondeu, desviando o seu olhar.
Um suspiro longo fora posto para fora por mim, que também não esperava nada daquilo.
Aquela tentativa, supostamente, deveria dar certo. Josh era um dos melhores neurocirurgiões da América, eu reconhecia isso.
Para a minha surpresa novamente, Alex riu, porém, sem nenhum resquício de humor.
- Eu deveria esperar. O melhor neurocirurgião da América vai rejeitar operar o meu filho porque é a porra de um filho da puta que não sabe de nada! NADA!
- Senhor Karev. Mesmo os melhores médicos do mundo ainda não têm a resposta para todos os problemas...
Alex iria explodir. Eu sentia isso. Mas eu era incapaz de o encarar e tentar impedir aquilo.
- Me poupe da porra do seu discurso motivacional! Você não é a porra do melhor cirurgião da América, porque se fosse, faria isso de olhos fechados! ESTÁ ME OUVINDO? VOCÊ FARIA ISSO DE OLHOS FECHADOS! CONSERTARIA O MEU FILHO DE OLHOS FECHADOS! MAS VOCÊ, ASSIM COMO TODOS OS FILHOS DA PUTA OS QUAIS NÓS JÁ PASSAMOS SÓ ESTÁ INTERESSADO NA PORRA DO STATUS DE MERDA DE SER O MELHOR! SE VOCÊ QUISESSE, VOCÊ CONSERTARIA O MEU FILHO! VOCÊ CONSERTARIA ELE, SEU IMBECIL! - Ele se levantou irado e eu soube que precisaria o parar, assim que ele fez menção de partir para cima do médico.
- Alex! Alex! Vamos parar! PARE, ALEX! - O seguro com força, enquanto ele apenas se debatia contra mim, desejando me ultrapassar e chegar até o médico.
- ME SOLTE! ESSE FILHO DA PUTA PRECISA APRENDER QUE...
- ALEX! - O adverti novamente, fazendo-o parar de falar, mas ele ainda se debatia contra mim.
- Papai... - me assustei, ao ver que Luke havia guiado a sua própria cadeira de rodas automática de volta a sala.
- Luke! - o adverti, sem saber o que falar. Ele não deveria ter ouvido aquilo.
Sem que eu esperasse, Alex soltou-se de mim com violência e saiu da sala, batendo a porta com força.
Me dirigi até Luke.
- Você deveria ter ficado na sala, Luke. Essa era uma conversa entre adultos.
- Eu sei, mas tá tudo bem, eu já esperava tudo isso. A senhora pode ir ver o meu pai pra mim, tia Addison? Eu não sei o que dizer pra ele e eu tenho medo de quando ele tá assim nervoso. Ele fica muito triste depois e eu não gosto de ver o meu pai triste. - Ele estava calmo, inquietamente calmo. Aquilo me surpreendeu. Ele realmente já esperava que nada daquilo se sucedesse da forma em que desejávamos.
E essa constatação se fizera cruel. Luke já não tinha mais esperanças.
Suspiro, assentindo. Mas nem eu mesma sabia o que dizer.
- Me espere aqui.
Ele assentiu e eu deixei a minha bolsa em cima da cadeira a qual eu anteriormente estava sentada, saindo da sala.
O corredor estava vazio, Alex não estava ali.
Mas, o conhecendo como eu conhecia, eu sabia que ele deveria estar no banheiro, o único local o qual ele achava que não seria incomodado. Não por mim.
Respirei fundo, caminhando até o banheiro masculino e, assim que o adentrei, o vi parado diante da bancada, encarando o chão. Tranquei a porta, caminhando até ele.
- Alex...
Ele estava quieto. Estranhamente quieto.
- Alex, Luke está preocupado com você. Eu sei que nada disso era o que nós esperávamos, mas...
- Não era o que nós esperávamos? - ele riu, mas eu sabia que aquela risada não possuía humor algum.
- Alex... - Tentei o fazer me encarar, mas ele apenas suspirou, me dando as costas.
- Me deixe em paz, Addison, por favor.
Suspirei, sem saber ao certo o que fazer. Mas eu não poderia o deixar sozinho, não naquele momento.
- Alex, eu não vou sair daqui, porque se eu ousar retornar áquela sala sem você, Luke não irá sossegar, e você conhece bem o seu filho, ele virá aqui e tratará disso pessoalmente.
O vi suspirar pesadamente, mas não dar o seu braço a torcer.
- Karev, nós...
- POR QUE INFERNOS VOCÊ CONTINUA DIZENDO NÓS? - Me assustei, ao vê-lo se virar para mim com raiva. Alex nunca havia levantado a voz para mim. - NÓS O QUE, ADDISON? NÓS O QUE, PORRA? VOCÊ, JUSTO VOCÊ, ACHA QUE PODE VIR ME DAR UM SERMÃO MOTIVACIONAL?
Suspiro, realmente entendendo a sua irritação e não me importando com aquele fato. Eu era a única a qual ele poderia descontar tudo aquilo de forma efetiva, então que fosse.
- Karev, eu não estou disposta a o dar nenhum sermão motivacional. Acha mesmo que eu, justo eu, tenho algum repertório para isso?
O vi suspirar e puxar os seus cabelos com força para trás. Ele tremia.
- Alex... - ele se virou novamente de costas para mim, a sua respiração estava entrecortada, as suas costas tremiam e eu não sabia o que fazer. Eu simplesmente não sabia o que fazer.
- Meu filho vai morrer - o ouvi sussurrar em um fio de voz, após um minuto ali, parado, de costas para mim - O meu filho vai morrer de qualquer porra de jeito e eu não posso fazer nada por isso!
- Alex... - Nada mais saía. Eu não sabia o que dizer. Eu nunca o havia visto de forma tão vulnerável. Isso me deixara completamente imóvel.
- DE QUALQUER PORRA DE JEITO! ELE VAI MORRER DE QUALQUER PORRA DE JEITO PORQUE AQUELA PORRA DAQUELE TUMOR ESTÁ COMENDO ELE VIVO, ATÉ QUE NÃO SOBRE MAIS NADA! ATÉ QUE NAO SOBRE MAIS NADA, PORRA!
Sem que eu esperasse, ele socou a parede á sua frente, urrando em dor logo em seguida.
Eu não possuía uma reação planejada para aquilo.
Para o fato de o único amigo o qual eu possuía estar chorando copiosamente diante de mim em um banheiro masculino de uma clínica renomada de neurologia em New York.
Então, sem sequer pensar naquele ato, eu m coloquei de frente para ele, o abraçando forte e desajeitadamente contra mim.
Ali ele não era Alex Karev, o meu chefe de equipe de seguranças e o meu segurança principal. O homem o qual eu pagava um salário generoso todos os meses para que se arriscasse por mim, a qualquer momento.
Naquele momento ele era apenas Alex, o único amigo o qual eu possuía, o homem o qual tanto havia se arriscado, durante esses mais de cinco anos, para me proteger de tentativas certeiras de assassinato e praticamente dera a sua vida por mim em todos eles, o único homem o qual eu realmente confiava, no mundo inteiro. O homem o qual era pai e estava apavorado. Apavorado pela ideia assustadora de perder um filho.
Alex estava apavorado, e eu senti isso assim que ele retribuiu o meu abraço, me apertando com força contra si, soluçando contra os meus cabelos.
- Eu não aguento mais, Addison. Eu não aguento mais - ele sussurrou em um desabafo sincero, fazendo-me sentir aquilo. Sentir aquele peso.
Eu sentia o seu medo pairar por todo o meu corpo. E eu odiava aquela sensação.
Afinal, qual sentido aquilo fazia?
Um pai estar apavorado com a ideia de enterrar o seu próprio filho.
Que porra de vida era essa? Qual era a porra do sentido de tudo aquilo? O quão cruelmente injusto aquilo era? Por que, Porra?!
- Eu sei... Eu sei. - Apenas sussurrei de volta, esquecendo de todo o meu desconforto com aquele tipo de contato e o abraçando mais forte, ainda me perguntando o porque de tudo aquilo. Não era justo, nada justo.
Era o que eu desejaria que fizessem por mim se eu estivesse na mesma situação em que ele. Saber que eu não estaria sozinha.
- Eu sou o pior... O pior pai do mundo! A porra do pior pai do mundo!
Eu me afastei brevemente, o encarando.
Ele desviou o seu olhar, fazendo menção de se virar de costas para mim, mas eu o impedi.
- Alex, olhe para mim! - ele suspirou, negando com a cabeça - Olhe para mim, Alex Karev!
Ele o fez e eu senti o meu estômago se revirar ao encarar os seus olhos agora tão mais escuros, eu conseguia sentir a sua dor.
Qual era a porra do sentido de tudo aquilo? Alex, mais do que qualquer pessoa, não merecia aquilo. Não merecia estar apavorado daquela forma. Então, qual era o inferno do sentido de tudo aquilo?
- Me ouça, Alex - Segurei firmemente em seu rosto, o fazendo me encarar - Nem que eu vá até a porra do inferno, com o objetivo de dar uns belos socos no diabo pessoalmente para que deixe o Luke em paz, eu irei fazer de tudo para que isso não aconteça. Luke ficará bem, porque nós vamos até a porra do inferno, está me entendendo? Você não é a porra do pior pai do mundo, porque você está tentando absolutamente tudo, todas as alternativas! Está me entendendo, Alex? Você está tentando tudo, porra! Nós estamos tentando tudo, e não iremos parar por aqui. Eu não irei desistir até ver esse garoto sem esse tumor, indo para a escola e deixando você louco com o número estrondoso de encrencas em que ele vai se meter. Eu não irei parar até o ver completamente bem. Está me entendendo? Estou prometendo a você, Alex. Nós vamos fazer isso. Juntos. Como sempre fizemos. Estou prometendo a você. Nem que eu gaste a porra de todo o meu dinheiro, ou que eu tenha que fabricar um neurocirurgião competente o bastante para o operar, Luke irá viver. Ele irá viver! Você está me entendendo?
Ele assentiu, ainda chorando e me abraçou fortemente novamente.
Eu suspirei, retribuindo o abraço.
- Nós vamos até o fim do mundo. Eu e você. Até o inferno. Como já fomos, muitas vezes, e já voltamos, muitas vezes. Juntos, entendeu? Juntos! E iremos conseguir, porque sempre conseguimos o que queremos, está me entendendo, Alex? Sempre conseguimos o que queremos porque, em apenas um estalar de dedos, a porra do mundo é nossa, Alex Karev!
Ele assentiu e se afastou, me encarando.
- Obrigado, Addison.
- Me poupe de agradecimentos, você sabe o quanto eu os desprezo. Agora seque essas lágrimas e tente se recompor. Nós vamos entrar naquela sala novamente e vamos ouvir tudo em que aquele médico tem para dizer. Depois disso iremos levar Luke para comer algo e eu irei mandar a minha equipe buscar o mundo inteiro por alguém que nos ofereça mais do que 15%.
Ele assentiu novamente, lavando o seu rosto.
- De todos os buracos os quais nós já nos metemos, o banheiro masculino de uma clínica é o mais improvável de todos eles - Ele comentou e eu neguei com a cabeça, achando graça daquilo - Me desculpe... Por ter me exaltado tanto. Eu só... - ele suspirou, desviando o seu olhar.
- Está esgotado. Eu sei.
Ele assentiu.
- Irei perdoar dessa vez, mas na próxima que gritar comigo daquela maneira, eu desconto em 30% do seu salário. - Comento ironicamente, o fazendo rir.
- Como Luke diz... Você se acha realmente muito engraçadinha.
- O meu tipo de humor é... Peculiar. Poucos o entendem. - falo dando de ombros.
- Considerando que você quase não o usa, é realmente difícil entender. Mas o que importa é que o alvo sortudo, como eu, por exemplo, entenda.
- Justo. - murmurei, saindo do banheiro junto a ele. E, assim que o fizemos, senti os olhares das pessoas, agora sentadas no corredor, pairarem sobre nós.
Provavelmente a combinação de ter Addison Montgomery na mesma clínica em que eles, e o fato de que eu, uma mulher assumidamente lésbica, estivesse saindo de um banheiro masculino ao lado do meu chefe de segurança, os fizeram nos encarar em surpresa.
Não demoraria a aparecer murmurinhos sobre isso na imprensa.
Retornei até a sala de Josh junto a Alex, e observei Luke rir com o médico, provavelmente falando sobre os Mets. Era o seu assunto favorito.
Ele realmente adorava aquele bando de perdedores.
- Oi, papai. Eu e o Doutor Josh estávamos conversando sobre o jogo do mês passado. Você tá melhor?
- Estou sim, filho. Me desculpe. Eu só...
- Eu sei, pai, não precisa pedir desculpas. Fico feliz que a tia Addison conseguiu acalmar você, ela é bem durona.
Eu neguei com a cabeça, sorrindo para Luke, mas ainda sentindo aquela sensação ruim pairar sobre mim. Eu precisava encontrar alguém, no mundo inteiro, em que nos oferecesse mais do que 15%. Mais do que nunca, Luke precisava ainda mais de mim. E eu faria de absolutamente tudo em que estivesse ao meu alcance para o ajudar.
- Bem... Eu... Posso oferecer alguns dos meus contatos. Alguns médicos asiáticos ou... Até mesmo europeus que conheço são mil vezes melhores do que eu. - Josh falou se levantando.
- Os passe para a minha secretária por e-mail. - o indico.
- Ok. Eu... Me desculpem. Eu verdadeiramente gostaria de poder o dar mais do que 15%, mas estou sendo verdadeiro. Não possuo a capacidade exigida de exercer essa cirurgia.
Assinto, pegando a minha bolsa.
- E por favor, senhora Montgomery, o seu pagamento será estornado ainda hoje, e eu não aceito não como resposta. Vamos tomar isso como... Um encontro entre colegas de trabalho, apenas.
Assinto novamente, o cumprimentando.
- Senhor Karev, mais uma vez, peço perdão.
- Eu quem o peço, Doutor. Eu apenas...
- Não é necessário, eu o entendo, faria o mesmo, se estivesse no seu lugar. Quando se trata dos nossos filhos... A palavra controle se torna completamente obsoleta. Não é necessário pedir desculpas.
Era exatamente por isso que eu não desejava os ter. Filhos, assim como paixão, eram as duas coisas mais abominantes no mundo para mim exatamente por aquele motivo: perca de controle.
E eu, uma mulher a qual prezo por estar em sumo controle de todos os âmbitos da minha vida, não poderia, nunca, ceder áquele tipo de sentimento banal. Não poderia perder o controle como Alex o fez hoje.
Aquilo era inconcebível para mim. Exatamente por isso nunca aconteceria.
Luke se despedira do médico e nós saímos da sala juntos, caminhando, no meio de todos os olhares curiosamente insuportáveis ali, até a saída.
Mas, obviamente, ela estava coberta pelos decompositores nojentos que gostavam de auto intitular-se repórteres.
Eles haviam me localizado. E não era apenas a minha imagem em que estava em jogo ali.
- Senhora Montgomery! - a secretária viera correndo sobre os seus saltos até mim - Se a senhora quiser, há uma saída pelos fundos.
Suspiro, sem um pingo de paciência para lidar com aquilo, encarando Alex.
- Eu lido com isso. Esperem aqui, ok? - ele falou para nós, saindo da clínica junto aos outros seguranças.
Em menos de dois minutos de espera o problema fora resolvido, e Alex voltara ao interior da clínica para levar Luke até o lado de fora da mesma.
Já conhecendo o caráter baixo daquele bando de filhos da puta e sabendo que eles estariam escondidos em algum lugar, feito ratos em bueiro, apenas aguardando a minha saída para colocarem em ação o seu trabalho sujo, eu peguei Luke no colo, antes de sair, e escondi o seu rosto contra o meu pescoço, tendo a porta do carro aberta por um dos seguranças, podendo o colocar cuidadosamente lá dentro.
Fechei a porta, dando a volta no carro e rapidamente dei partida no mesmo, ainda em silêncio.
- Para onde você deseja ir, Luke? - o pergunto, quebrando aquele silêncio desconfortável.
- Será que a gente pode tomar sorvete, tia Addie? - o observei me lançar um sorriso afável, parecendo nada afetado com o fato de a nossa tentativa ter se tornado falha, novamente. Luke era, ainda, um mistério para mim.
Sorrio fraco para ele, um pouco surpresa pela forma a qual ele me chamara, porque nunca havia ocorrido antes. Mas não me incomodei com aquilo, muito pelo contrário. Eu gostava daquele garoto. E não me importava em ser chamada pelo meu apelido por ele. Não por ele.
- Podemos.
Rapidamente optei por o levar ao restaurante o qual eu era parcialmente dona, já que lá era praticamente impossível ser fotografada e exposta por aqueles vermes.
Fizemos os vinte minutos do caminho em silêncio. Alex estava pensativo e Luke inusualmente quieto.
Estacionei na vaga direcionada a mim no restaurante e dei a volta no carro, abrindo a porta para Luke e o pegando no meu colo, enquanto Karev se encarregava da cadeira.
Entramos no elevador juntos e subimos até a área vip.
- Bom dia, meretissima! Que honra a ter aqui a essa hora da manhã. Onde deseja se sentar? - O Maître me cumprimentou com uma irritante animação.
- Na de sempre.
Ele assentiu, guiando-nos até a mesa.
- Aqui está o cardápio - ele me entregou um iPad - Qualquer coisa, estou a vossa disposição.
Assinto, dispensando a sua presença e acomodando a minha bolsa na cadeira vazia ao meu lado.
- Então, campeão, qual seu sabor de sorvete? - pergunto abrindo a aba de sobremesas.
- Morango, é claro! O melhor sabor do mundo!
Sorrio, negando com a cabeça, lembrando-me de Meredith. Ela e Luke se dariam bem, quando conhecessem um ao outro.
- Como não é todos os dias que você pode se dar ao luxo de estar diante da minha presença, irei o permitir escolher mais qualquer outra coisa.
Ele riu.
- A senhora é realmente muito metida, viu?
Reviro os olhos, o entregando o iPad.
- Escolha.
Ele sorriu alegremente, o fazendo e me entregando-o logo em seguida.
Encarei Alex.
- Whisky? - o perguntei retoricamente.
- Não posso beber, você sabe, irei trabalhar...
- Você está de folga hoje, esqueceu? - o relembro.
Ele negou com a cabeça sorrindo.
- Não posso, Addison. Você sabe que não vou a deixar sozinha. E muito menos a sua esposa. Luke irá para casa e ficará com a minha mãe, está tudo bem.
- Karev, eu ainda sou a sua chefe, portanto, não ouse desobedecer as minhas ordens. Você irá passar o resto do dia com o seu filho. Eu irei sair da empresa mais cedo hoje, Meredith está com Carter e eu tenho seis junto á mim.
Ele suspirou.
- Sabe que não precisa fazer isso, Addison.
- E você sabe que é obrigado a acatar quando ordeno que descanse.
Ele revirou os olhos, mas assentiu.
- Whisky então.
Faço o seu pedido e, para mim, apenas peço um vinho branco, os quais nos foram entregues alguns minutos depois.
- Irei contatar a equipe de segurança para afirmar algumas coisas, já volto - Alex falou se levantando, indo até o outro lado da área vip.
- Obrigado pela folga do papai hoje, tia Addie. Ele tá precisando mesmo.
- Eu sei, Luke. Fique tranquilo, logo ele irá entrar de férias e será inteiramente seu.
Ele sorriu.
- Acha mesmo que o papai vai deixar a senhora sozinha? Ele não vai querer tirar férias.
- Por sorte sou eu quem manda aqui. Então ele irá tirar sim, o mais rápido possível.
Ele riu.
- Queria ser igual a senhora e ao papai quando eu crescer. Bem durão.
Beberico o meu vinho, vendo-o tomar o seu sorvete.
- Você será, Luke.
Ele deu de ombros.
- Se eu não morrer até lá.
Franzi o cenho, sem entender o seu comentário.
- Por que está dizendo isso, Luke Karev? - pergunto-o séria.
- Ah, a senhora sabe... A minha expectativa de vida com esse tumor é bem baixa. Eu já vivi até que bastante.
- Pare com essas baboseiras! - o ordeno, sentindo-me péssima ao ouvir aquilo.
- É a ciência, tia Addie. Mas fica tranquila, eu não tenho medo de morrer - ele falou dando de ombros - Só me preocupo com o papai. O fato de ele não ter ninguém além de eu e a senhora, sabe? Uma namorada. A senhora é casada, tem a sua vida com a Meredith. Mas o papai não.
- Pare de pensar nessas coisas, Luke. Você sabe que o seu pai não se interessa nem um pouco por se casar novamente.
- É, eu sei, ele amava muito a mamãe mesmo. Mas mesmo assim eu fico triste. Queria que ele encontrasse alguém, sabe? A vida dele é meio chata, com todo respeito.
Inevitavelmente sorrio, negando com a cabeça.
- Não discordo. É realmente chato viver atrás de mim para todos os lugares que eu vou. Mas não é como se ele não fosse muito bem pago por isso.
- Dinheiro não é tudo, tia Addie. Eu queria mesmo era ver o papai bem feliz, sabe? Mas ele tá tão preocupado comigo que nem vejo mais ele sorrir de verdade.
Suspiro, sentindo-me completamente incomodada com aquela conversa.
A doença de Luke o fizera amadurecer mais rápido do que o necessário. Eu não gostava daquilo.
Afinal, ser criança é não ter a mínima noção de todos os problemas do mundo, não é? É simplesmente deixar as preocupações para os adultos.
Em tese. Mas com Luke era diferente, completamente diferente.
Respiro fundo, bebericando o meu vinho e o encarando novamente.
- Luke, eu tenho quase trinta e um anos de idade, e, até agora, não obtive um dia da minha vida o qual a minha mãe não se preocupou comigo, muitas vezes, na verdade, a maioria delas, sem motivos. O ponto é: Mesmo que você não possuísse esse tumor, o seu pai viveria preocupado com você, porque isso é coisa de pais. Ele não pode evitar. Á partir do momento em que você nasceu, ele vive por você. - falo dando de ombros.
Luke sorriu.
- A senhora vai ser uma ótima mãe, tia Addie.
Reviro os olhos, bebericando o meu vinho.
- Sonhe, garoto. Não quero ter filhos. Nós, filhos, somos sinônimo de preocupação. E eu já tenho o bastante na minha vida para desejar mais uma.
Ele riu.
- A senhora é tão careta. Idêntica ao papai. Não é por acaso que vocês são melhores amigos.
- A diferença entre nós dois é que o seu pai é um pé no saco e um grande cabeça dura. Eu não.
Ele riu novamente, se sujando com o seu sorvete.
- Até parece! Meu papai é incrível!
- Nos seus sonhos, tampinha. - falei erguendo o guardanapo de pano e limpando a sua boca - Agora coma. Você fala demais!
- A senhora gosta, eu sei disso.
Revirei os olhos, me recostando na cadeira, ainda sentindo uma sensação péssima dentro de mim.
Luke, como uma criança, não merecia estar passando por tudo aquilo. Mas ele sequer parecia se importar. Realmente parecia já estar conformado com a sua doença.
Isso me incomodava de uma forma inexplicável.
- Warren é definitivamente avô - Alex falou se sentando á mesa novamente. - A Luna acabou de nascer e ele acabou de me ligar chorando.
- O tio Ben? Chorando? Essa é nova! - Luke falou rindo. Alex o acompanhou.
- Pois é, filhão. Ele tem toda a pose de durão, mas estava chorando feito bebê!
- Essa eu pagaria pra ver - Luke falou enchendo a sua colher de sorvete novamente. - A senhora vai almoçar com a gente, tia Addison?
Suspiro, ainda presa na sensação ruim em que eu estava sentindo á respeito de tudo aquilo. Eu precisava de um tempo, e definitivamente esse tempo não poderia ser tomado ao lado de Luke e Alex.
- Não, campeão. Não estou com fome e tenho muita coisa para resolver hoje ainda.
Ele assentiu e começou a tagarelar sobre as suas aulas particulares.
Mas eu apenas conseguia o ouvir, mas não realmente filtrar tudo em que ele me dizia. Eu estava imersa a injustiça daquela situação. Imersa ao quão Alex desabou diante de mim hoje. E, por fim, ao fato de Luke estar, assustadoramente, preparado para morrer.
Uma criança. A qual deveria possuir as únicas obrigações de brincar e estudar.
Ele não poderia realizar nenhuma das duas efetivamente. Afinal, estava preso em uma cadeira de rodas.
Conforme todos esses pensamentos invadiam a minha cabeça de forma descontrolada, eu senti o meu peito doer de uma forma estranha, então decidi que era a hora de ir embora. Eu precisava de um tempo.
Fiz o pagamento da conta e saí do restaurante ao lado que Alex e Luke.
- Vá para casa com uma das Mercedes. Duas são o bastante para me escoltarem.
Ele assentiu, já sabendo que não poderia ousar me contrariar e buscou um dos carros, enquanto eu conversava com Luke.
Peguei-o no colo para que Alex colocasse a cadeira de rodas no porta-malas e o senti me abraçar com força, beijando uma das minhas bochechas.
Uma sensação boa, mas ao mesmo tempo ruim tomou-me por completo.
Eu adorava aquela criança verdadeiramente.
- Obrigado pelo dia incrível de hoje, tia Addie. Você é incrível, apesar de ser metida e não querer me arranjar um autógrafo dos Mets, mas eu ainda confio que algo vai tocar o seu coração e a senhora vai demonstrar o quanto gosta de mim, pedindo um autógrafo para mim.
Eu revirei os olhos, contendo um sorriso.
- E você é um tagarela, Luke Karev! Aproveite o seu dia com o seu pai.
Ele assentiu, me abraçando novamente.
- Dá um beijão na Meredith por mim, e diz pra ela que eu quero conhecer ela o mais rápido possível, tá? Preciso aprovar quem a senhora se casou.
Eu sorri, negando com a cabeça.
- Não sabia que precisava da sua aprovação para o meu casamento, senhor Karev.
Ele sorriu, dando de ombros.
- Sou bom com essas coisas.
- Sei... - Murmurei o colocando dentro do carro.
- Tchau, tia Addison!
- Até mais, campeão - falei tocando a minha mão a sua e fechando a porta do carro, encarando Alex.
- Obrigado pela folga. Eu... Realmente precisava disso.
Assinto, tocando o seu pescoço, o fazendo me encarar melhor.
- Aproveite. E descanse. A equipe já iniciará as buscas ainda hoje. Por ora, se acalme e dê a atenção devida para Luke.
Ele assentiu.
- Obrigado, Addison. Por... Tudo.
- Sabe o quão eu desprezo agradecimentos, portanto guarde-os para você. Agora vá!
Ele assentiu sorrindo e deu a volta no carro, entrando ao lado do motorista.
Me dirigi até o estacionamento sendo acompanhada pelos seis seguranças atrás de mim e destranquei o meu carro, adentrando-o, vendo-os fazerem o mesmo com os outros dois.
Coloquei o meu cinto e, com um suspiro longo, encarei o volante, ainda presa em tudo o que eu havia ouvido hoje.
Aquela sensação estranha em meu peito não havia passado, apenas se mostrava mais presente conforme eu pensava em o quão tudo aquilo era fodidamente injusto.
Para Luke e para Alex.
Nenhum dos dois mereciam aquilo.
Mas Luke, principalmente Luke, não merecia absolutamente nada daquilo.
Ele era uma criança. Uma criança sem qualquer tipo de maldade dentro de si. Possuía absolutamente tudo para ser uma criança normal, brincar, estudar com outras pessoas, viver uma vida normal.
Mas estava preso a uma cadeira de rodas e a um tumor o qual, a cada dia em que se passava, o deteriorava ainda mais.
Isso era cruel.
Respirei fundo, sentindo o meu peito arder por dentro e me perguntando o que eu faria naquele momento.
Eu não possuía cabeça para mergulhar em trabalho agora. Mas também não queria sair para almoçar como se nada houvesse acontecido.
Alcancei o meu celular dentro da minha bolsa e encarei a hora. 11:00 em ponto.
O que Meredith deveria estar fazendo naquele horário? Terminando a sua aula da manhã, provavelmente. E, logo após, ela iria sair para almoçar com Flora, como fazia todos os dias.
Eu não sabia o porque estava pensando naquilo naquele momento, mas eu estava, era inegável.
Parecendo ler os meus pensamentos, eu me surpreendi ao ver uma notificação de uma mensagem sua no meu aplicativo de mensagens e, rapidamente, desboqueei o meu celular, o abrindo.
"Oi, Addison. Você sabe se Mark já voltou para San Francisco? Estava pensando em o convidar para o jantar também, o que acha?"
Mordi o meu lábio inferior, vendo-a ainda online e, sem sequer pensar no que eu estava fazendo, toquei no ícone de realização de chamada, colocando o meu celular no ouvido.
- Oi, meu amor. Aconteceu alguma coisa? - Ela atendeu um segundo depois, e, pelo seu tom de voz e a sua forma de se dirigir a mim, pude entender que ela estava perto de Flora.
- Mark já viajou, partiu hoje pela manhã. - a respondo.
- Ah, que pena, então. Mas tudo bem, vamos deixar ser algo entre sogras e noras, certo?
- Sim. O que você está fazendo? - pergunto, sem sequer calcular aquela ação.
Que porra eu estava fazendo?
- Ah, eu acabei de sair da minha sala. Estou na direitoria com Flora e irei almoçar daqui a pouco.
- Com Flora? - pergunto curiosa.
- Acho que sim. Ela e Lisa irão e eu acho que também vou.
- Almoce comigo. - indiquei diretamente o objetivo da minha ligação.
A ouvi ficar em silêncio por alguns segundos e indaguei-me se aquela decisão havia sido correta. Afinal, era algo fora da sua rotina.
- Você... Está falando sério? - sua voz parecia satisfeita e uma sensação de alívio apoderou-se sobre mim no mesmo momento.
- Se você quiser, é claro.
- Claro que sim! Irei apenas tomar um banho e trocar de roupa. Encontro você...
- No restaurante em que somos socias.
- Está bem, então. Até daqui a pouco.
- Até - a respondi, desligando a ligação.
Suspirei, fechando os meus olhos, tentando entender o que eu havia acabado de fazer. E por que eu havia feito aquilo.
Não havia uma explicação exata.
E por que eu desejava obter uma explicação?
Meredith era minha esposa, mesmo que fora do comum, ela ainda era minha esposa.
Pessoas normais faziam isso, certo? Saíam para almoçar com seus cônjuges, mesmo que não fosse algo habitual.
Não havia porque estar buscando uma explicação para uma ação tão boba.
Apesar de desejar a sua companhia, nós também precisávamos ser vistas em público juntas com mais frequência, mesmo que isso não me agradasse. Eu odiava a expor de forma tão grotesca.
Resolvendo parar de me introverter em coisas tão banais, desci do meu carro e comuniquei a um dos seguranças que subiria até o restaurante novamente.
O fiz, indo, novamente, até a área vip e escolhi uma mesa ao lado da imensa parede de vidro, a qual me favorecia a imagem de uma vista agradável em uma das ruas mais bem arquietadas de NY.
Pedi outra taça do mesmo vinho branco em que eu havia bebido há alguns minutos atrás e me propus a ler alguns e-mails enquanto esperava-a chegar.
- Aqui, senhora Montgomery - o Maître a entregara pessoalmente - Deseja mais alguma coisa?
- Não por ora. A minha mulher irá chegar em alguns minutos, portanto guie-a até aqui.
- Sim, senhora.
Ele se retirou e eu novamente voltei para os meus e-mails. Resolvi algumas coisas pendentes em Luanda com Amélia por ligação e, assim que desliguei e encarei a escadaria, vi Meredith a subir calmamente, sendo guiada pelo Maître.
Assim que seu olhar encontrou o meu, ela sorriu verdadeiramente e eu me levantei, assim que ela se aproximou mais da mesa.
- Boa tarde - ela me cumprimentou se esticando e deixando um beijo rápido nos meus lábios.
A cumprimentei de volta e ela se sentou de frente para mim, na cadeira puxada pelo Maître.
Fiz o mesmo.
- O que deseja beber, madame Montgomery?
- O mesmo em que a minha mulher, senhor Denver, por favor.
Ele assentiu, pedindo licença e se retirando.
- Tudo bem? - Meredith indagou-me assim que o Maître dera as costas para nós.
Assenti, bebericando o meu vinho.
A vi sorrir fraco, me lançando um olhar doce, que acabara por fazer o meu estômago se revirar.
- Sei que está mentindo. Aconteceu alguma coisa na empresa?
Suspirei, depositando a minha taça na mesa novamente e negando com a cabeça.
- Estou bem. - respondi dando de ombros.
- Para uma das maiores juízas do mundo, você é uma péssima mentirosa.
Eu ergui uma das minhas sobrancelhas em surpresa e a vi sorrir, mordendo seu lábio inferior.
- Se não quiser contar, tudo bem. Mas sei que está mentindo.
Suspirei, novamente pegando a minha taça.
- Apenas tive uma manhã desagradável.
- Sinto muito por isso. Algo com o tribunal?
Neguei com a cabeça, mas continuei calada. Eu não sabia se queria falar sobre aquilo.
Me surpreendi assim que senti a sua mão pousar sobre a minha, em um toque sutil e ela acariciar a minha mão levemente.
- Desabafar as vezes é bom, sabe? Não estou pressionando, você tem o seu espaço para desejar... Fazer o que quiser. Mas estou disposta a ouvi-la, se você quiser.
Suspirei novamente, bebericando o meu vinho e, somente naquele momento, decidi que não queria falar sobre aquilo.
Queria manter aquele assunto apenas para mim, pelo menos naquele momento.
- Não é nada demais - falei, tentando não a decepcionar pelo fato de eu ter negado falar. - Mas obrigada.
Ela assentiu sorrindo e afastou a sua mão da minha. O Maître trouxera seu vinho, impedindo-me de pensar em falar qualquer outra coisa.
Meredith bebericou o seu vinho, ainda me encarando.
- Se eu puder ajudar em algo, mesmo assim, me avise, ok? - ela murmurou contra a sua taça, eu assenti.
- Me conte sobre o seu dia.
Ela poderia me ajudar daquela forma. Fazendo-me dispersar daquela manhã desagradável.
Ela sorriu, erguendo-se para frente.
- As minhas meninas fora excepcionais hoje! Introduzi o novo ciclo com um pouco de medo de estar dificultando demais, mas elas foram incríveis! Estou tão orgulhosa, que poderia sair por aí contando a todos o quão as minhas alunas são incríveis! - ela riu e eu sorri involuntariamente, assim que observei os seus olhos se apertarem e brilharem ainda mais pela sua risada, as suas bochechas corarem levemente e as maçãs do seu rosto ficarem ainda mais marcadas.
Meredith era linda, de qualquer forma. Mas havia algo de especial nela quando ela ria, eu apenas não sabia o quê.
- O mérito não é apenas delas. Tenho certeza de que a ter como professora é o ponto crucial para que isso tenha ocorrido.
Ela sorriu ainda mais, negando com a cabeça, enquanto bebericava o seu vinho.
- Ah! Você lembra daquelas avós de uma aluna minha? As senhoras que...
- São donas de uma fábrica de doces, sim, lembro.
Ela pareceu satisfeita.
- Elas me mandaram mais doces hoje e eu fiz uma encomenda para o jantar, passarei lá para pegar assim que sair da academia. É uma pena que você não goste de doces, os delas são tão incríveis, Addison! Quase tanto quanto os da Miranda. Ah, falando nela, você sabia que a Luna nasceu? Ela me avisou por mensagem há poucos minutos, está tão feliz! E eu mais ainda, mas estou com ciúmes, Luna mal nasceu e já é a garotinha mais sortuda que eu já conheci! Possui a avó mais talentosa do mundo quando o assunto é fazer doces. Por Deus! Sinto tanto a falta da Miranda! Sei que estou sendo egoísta, e me sinto o ser humano mais sujo do mundo por isso, mas eu realmente gostaria que ela não obtivesse férias. Você sabe... Eu não tenho absolutamente nada contra a Grace, mas... Miranda é... Especial. E sabe fazer a minha vitamina de morangos como ninguém! Talvez seja por isso que eu não tenha gostado da de Grace, porque Miranda sabe exatamente como eu gosto, há um toque especial de carinho e afeto em tudo que ela faz. E o meu suco de laranja! Tomei hoje pela manhã e me arrependi. Não sei o que ela colocou nele, mas parecia que eu estava tomando câncer! Aquilo não era natural, não como Miranda faz. Eu realmente me sinto péssima falando tudo isso, mas acho que não tem problema, não é? Afinal, você é minha mulher, estamos apenas conversando, não é? Me sinto mal por isso, Grace parece ser uma boa pessoa. Apenas não possui o carisma de Miranda, ou talvez não goste de mim, não sei - ela deu de ombros - Acha que ela não gosta de mim?
Eu estava boquiaberta, internamente. Meredith nunca havia falado tanto, nos cinco meses em que temos juntas, o quanto falara agora. Essa fora, definitivamente, a maior frase em que ela já disse para mim, diretamente para mim.
E eu não poderia estar mais satisfeita.
Afinal, ela não mais parecia possuir algum tipo de medo relacionado a mim.
Aquela sensação ruim no meu peito havia se dissipado por completo e dado lugar a outra sensação estranha, mas boa, extremamente boa.
Meredith era incrível. Eu não me cansaria de admitir isso.
Havia algo nela... Algo... Especial nela, que me fazia, estranhamente, esquecer de absolutamente tudo ao meu redor e apenas focar em si.
Meredith era atrativa, extremamente atrativa, de todas as formas possíveis e em qualquer tipo de situação.
Se os assuntos os quais ela discutia, no meu dia a dia, fossem proferidos por quaisquer outras pessoas, eu sequer daria ouvidos e provavelmente acharia fútil.
Mas nela aquilo era inconcebível.
Meredith estava longe, muito longe, de ser fútil.
Ela era a pessoa mais interessante em que eu já havia conhecido na vida.
- Addison? - a ouvi chamar-me, tirando-me da minha súbita introversão e a encarei novamente.
- Sim?
- Tudo bem?
- Tudo. - falei bebericando o meu vinho - Não, não acho que Grace não goste de você. Ela sempre foi assim, até mesmo Amélia possui a mesma reclamação em que você, sobre o fato de ela ser séria demais. - Retornei á sua dúvida.
- Ah, me sinto menos preocupada, então. Tinha a impressão de que ela poderia não gostar de mim.
- Não se preocupe com isso. - a peço, tendo noção de que ela poderia realmente se apegar á ideia de que Grace possuía algo contra ela. Conhecendo-a como eu conhecia, eu sabia que, se Meredith colocasse aquilo na cabeça, não tiraria mais.
Ela assentiu.
- O que você irá pedir? - ela perguntou encarando o iPad - Porque eu não faço a mínima ideia!
- Provavelmente o mesmo de sempre. Não desejo nada de novo por hoje.
Ela assentiu.
- Para mim também - ela falou me entregando o iPad - Um cheesecake de framboesa de sobremesa e um suco de laranja, apesar de esse vinho estar incrível, eu não posso ousar beber mais.
Assinto, aceitando o iPad e fazendo os nossos pedidos.
- O que irá fazer pela tarde? - Meredith perguntou, depositando a sua taça na mesa, após beber o seu vinho.
- Tenho uma reunião às 14:00 e alguns projetos para avaliar.
- Humm, entendi.
- E você? Como será a aula agora pela tarde?
Ela sorriu.
- Espero que proveitosa. Tive algumas ideias para a primeira apresentação assim que acordei hoje, acho que eles irão gostar.
Assinto.
- E as duas meninas do orfanato? Tiveram alguma reclamação contra os dois novos seguranças?
Meredith negou com a cabeça sorrindo.
- Absolutamente não. E do jeito que elas são, tenho certeza que já deram um jeito de arrancar algumas palavras deles. Gostaria que as conhecesse, elas são garotinhas incríveis! Extremamente apaixonadas pela sua mãe, inclusive.
- Não há como não ser - falo dando de ombros - A minha mãe realmente gosta de crianças.
- É, isso é verdade. Não há como não gostar da sua mãe. Estou ansiosa para a ver hoje, ela me pareceu um pouco triste ao telefone, quando a liguei mais cedo para confirmar o jantar. Você sabe o porquê?
Suspiro, negando com a cabeça, mesmo que, intrinsecamente, eu sabia.
O aniversário de Harry era daqui há dois dias. E ele havia viajado, como sempre. E provavelmente não o passaria em NY.
A minha mãe estava triste, ao invés de irritada. Essa era a grande diferença entre nós duas.
- Bem... Dependendo do que for, espero que o jantar a faça bem.
Assinto, bebericando o meu vinho.
- Isso se a comida estiver boa - comento, tentando sair daquele assunto.
Meredith riu.
- Você é má, Addison Montgomery!
- Verdadeira - a corrijo. - E você pensa o mesmo, só é boa demais para colocar para fora.
Ela mordeu o seu lábio inferior, contendo um sorriso.
- Nós somos extremamente opostas - ela comentou, bebericando o seu vinho.
Dou de ombros.
- Talvez seja por isso que nos damos bem - comento dando de ombros - Eu não suportaria estar casada com alguém como eu.
Ela riu.
- É, acho que sim. Acho que eu também não gostaria de estar casada com alguém como eu. Gosto de como você é. - ela me encarou por detrás da taça, sorrindo. - Sabe... - a vi colocar a sua taça de volta na mesa - Antes de me casar com você e... De a conhecer verdadeiramente, eu poderia jurar que você odiava todas as pessoas ao seu redor. Literalmente. Quero dizer... Nas fotos, as quais você sempre aparecia sozinha, essa era a impressão em que você deixava passar. Achei que me odiaria também.
Reviro os olhos, depositando a minha taça quase vazia em cima da mesa.
- Eu realmente odeio muita gente, mas todas elas possuem um motivo específico para tal.
Ela assentiu sorrindo.
- Não consigo odiar alguém... Acho que... Não sei, eu somente não consigo.
Ela era boa demais para aquilo. Nós éramos realmente opostas, e isso era mais perigoso do que eu achei que seria.
Os nossos pedidos chegaram e, assim que eles foram postos á mesa para nós e que o Maître se retirara, nós começamos a comer, inicialmente, em silêncio.
Porém Meredith o quebrou, parecendo nada a fim de o prolongar.
Ela gostava de conversar, isso era um fato.
Mas o estranho era que eu, a pessoa a qual mais odiava me comunicar no mundo, realmente gostasse de me comunicar com ela.
Meredith era persuasiva até quando não queria ser persuasiva.
- Hoje, uma das minhas alunas me afirmou que eu e você deveríamos ser um casal de princesas da Disney. Como a Bela e a Fera - ela riu - Só que em versão "amor de mulheres", palavras dela. É sempre difícil as fazerem prestar atenção nos exercícios quando assuntos sobre nós duas, ou sobre os nossos supostos futuros filhos, é abordado.
Eu sorri, negando com a cabeça.
- Muita gente realmente gosta de nós duas juntas! A Beatriz, a garota do orfanato a qual é sua fã, me contou que na escola dela, as meninas se reúnem para falar de nós, Addison! - ela riu - Isso para mim é uma loucura! Quero dizer... Nós realmente somos incríveis juntas!
- Acho que é o contraste que há entre nós - falo dando de ombros - Você é a boazinha, eu sou a má, você é loira, eu sou ruiva, eu sou alta e, bem, você é...
Ela cerrou seu olhar, me encarando surpresa.
- Sou o quê, Addison Montgomery?
- Você é... Um pouco desprovida de altura.
Ela riu, erguendo a sua mão e batendo levemente na minha em cima da mesa.
- Não acredito que acabou de dizer que sou "desprovida de altura". Você é... Inacreditável, Addison Montgomery!
Eu sorri, negando com a cabeça.
- Não estou mentindo.
- E também está sendo nada delicada. Não sou baixinha, eu tenho um metro e sessenta! Você que é um poste!
A encarei perplexa.
- Eu? Um poste?
Ela assentiu, elevando as suas sobrancelhas, me desafiando.
- Você é inacreditável, Meredith Montgomery.
Ela sorriu, me lançando um piscar de olhos.
Terminamos o nosso almoço em um silêncio confortável e Meredith fizera o pedido da sua sobremesa.
- Hum! Estava pensando... - ela chamou a minha atenção, enquanto comia o seu doce - O aniversário da Amy está chegando, não é? O que faremos com ela em Luanda? Você acha que ela virá para NY?
- Não sei, depende da demanda lá em Setembro. Mas acho que sim. Amélia odeia passar o seu aniversário longe da família.
Meredith assentiu.
- Eu e a sua mãe iremos organizar uma festa surpresa. Ela ama surpresas, pelo menos é o que a sua mãe me garantiu.
- É, ela realmente ama.
- O aniversário da Lisa é daqui há duas semanas e eu não faço a mínima ideia do que faremos. Flora é péssima em preparar aniversários. O do George também é em setembro e eu preciso organizar a festa dele.
- Como de fosse um sacrifício para você - comentei a observando, suas bochechas coraram.
- Você é realmente muito engraçadinha, senhora Montgomery - ela comentou cerrando seu olhar e eu dei de ombros, bebericando o meu vinho.
A vi alcançar o seu celular dentro da bolsa e sua feição tomar um ar assustado no mesmo momento.
- Droga! Já são quase 13:00, estou atrasada. Marquei de encontrar com o pai de um aluno hoje e já deveria estar na academia.
Assenti, alcançando o iPad e utilizando a minha digital para que o sistema verificasse que havia sido eu que havia consumido tudo aquilo.
Assim que na tela apareceu o sinal de que a conta havia sido "quitada", me levantei junto a Meredith, a guiando até o primeiro andar.
- Sinto muito por não poder ficar mais. Mas você está melhor?
- Não se preocupe comigo, eu estou bem.
Ela suspirou, assim que chegamos até o lado de fora do restaurante, depois de sermos cumprimentadas novamente pelo Maître.
- Tem certeza? Se eu puder ajudar em algo... Você sabe, sobre o problema que você obteve pela manhã.
- Está tudo bem, Meredith. Fique tranquila.
Ela assentiu e ergueu as suas mãos, consertando a gola do meu blazer e eu toquei a sua cintura, a observando a consertar concentrada.
- Estarei em casa antes das seis - a comuniquei, vendo-a assentir novamente e, para a minha surpresa, se esticar, tocando os seus lábios aos meus.
Me surpreendendo ainda mais, senti-a abrir levemente os seus lábios, deixando passagem para que eu utilizasse a minha língua e assim o fiz, mesmo não gostando da ideia de fazer aquilo na rua, onde, provavelmente, os ratos de bueiro estariam prontos para fotografarem.
Mas, esquecendo daquele detalhe, senti a mão de Meredith tocar o meu pescoço sutilmente e as suas unhas o passearem inconscientemente, enquanto eu sentia o gosto do doce o qual ela havia comido misturado ao seu hálito de suco de laranja.
Uma combinação estranha, mas gostosa, não pelos elementos em si, mas por estarem nela.
Assim que senti o seu ar faltar, afastei os meus lábios dos seus sutilmente e deixei um beijo rápido no canto dos seus lábios, o limpando.
A vi sorrir, ainda de olhos fechados e a vi encostar os seus lábios na minha bochecha.
- Espero que fique tudo bem com o seu problema. Mas... Se você quiser, eu posso tentar fazer algo por você mais tarde.
Senti o meu peito pulsar mais forte e o meu sangue parecer queimar as minhas veias assim que entendi sobre o que ela estava falando.
Engoli em seco, sentindo os efeitos da sua voz um pouco mais rouca, mas extremamente doce e baixa ao meu ouvido repercutirem por todo o meu corpo.
Eu estava surpresa. Extremamente surpresa.
Meredith havia acabado de me deixar sem palavras.
Eu estava boquiaberta.
- Bem... Até mais tarde, então. - Sussurrei de volta, sem conseguir pensar em nada além disso para a responder.
Ela se afastou e a vi sorrir, limpando o canto dos meus lábios, deixando um beijo rápido neles e, para a minha surpresa, senti os seus dentes mordiscarem o meu lábio inferior de forma sutil e a vi sorrir ainda mais, se afastando.
- Tenha uma boa tarde - ela sussurrou, se afastando.
- Vamos, Carter.
A observei destrancar o meu carro favorito e entrar nele, dando partida alguns segundos depois, sendo seguida por mais dois carros.
Eu estava boquiaberta, internamente.
Meredith era incrível. E eu estava adorando descobrir mais sobre aquilo.
Saindo daquela paralisia inusual e tentando retomar o controle sobre o meu próprio corpo, caminhei até a Maybach já estacionada fora do estacionamento do restaurante e entrei na mesma, indicando para o segurança posto no lugar de Alex que iria para a empresa.
Dei partida no carro, sendo acompanhada pelos outros dois e fiz o caminho até a empresa em cinco minutos, graças ao trânsito menos engarrafado.
Assim que adentrei o meu andar, vi Kepner se levantar rapidamente da sua mesa, vindo até mim.
- Boa tarde, senhora Montgomery! Como é bom a ver, a senhora me parece ótima! Enfim... Hoje a manhã foi até que tranquila, a senhora acredita? A sua reunião remarcada ficou para depois de amanhã e agora á tarde a senhora só tem uma reunião as 14:00. O senhor Harold queria conversar com a senhora sobre Los Angeles, mas, como hoje a senhora me indicou que sairia as 17:30, eu achei melhor marcar para amanhã, o que a senhora acha? Se não estiver bom, eu posso arranjar um espacinho. Não sei do que se trata, porque ele quer falar especialmente com a senhora, portanto não acho que fiz mal ao pensar em reservar uma horinha da sua agenda para isso, não é? Ou fiz? Se fiz, me perdoe, é que realmente parecia importante. Acho que a senhora terá que ir para LA, mas apenas acho, não é...
- Ok, Kepner, marque para ainda hoje, tenho tempo. Me traga o meu café de sempre, e mande a chefe de TI entrar em contato comigo ainda hoje, por vídeo conferência.
Ela assentiu.
- Sim, senhora.
Adentrei a minha sala e coloquei a minha bolsa em um dos nichos debaixo da minha mesa e suspirei, ligando as três telas á minha frente e tirei o meu blazer, me sentando na minha cadeira.
Kepner trouxera o meu café e eu tirei os meus óculos de dentro da minha bolsa, começando a avaliar os novos projetos da empresa até o horário da minha reunião, enquanto tomava o meu sagrado café, o qual, ali, era realmente o meu café.
E não aquela porcaria a qual Grace fazia.
Às duas da tarde eu me dirigi até a sala de reuniões no quinto andar e apenas saí dela as 17:30, após terminar três reuniões, sendo, uma delas, com a chefe de TI, para que ela organizasse uma pequena, mas eficiente, equipe para realizar buscas no mundo inteiro por um médico em que se comprometesse a não somente avaliar Luke, mas verdadeiramente o operar.
Apenas subi até a minha sala para pegar as minhas coisas e entreguei a Kepner algumas pastas as quais ela deveria enviar para a equipe de publicidade.
Peguei o elevador e desci até a garagem, entrando no meu carro logo em seguida.
Apoiei a minha bolsa e o meu blazer no banco de carona e dei partida, fazendo o caminho até em casa em quase trinta minutos, em função do trânsito, que iniciava-se ao caos naquela exata hora da tarde.
O carro o qual Meredith usara estava estacionado em frente a escadaria, junto aos outros dois os quais a acompanharam.
Parei o meu ao lado dele e desci, pegando a minha bolsa e o meu blazer.
- Boa tarde, senhora Montgomery - Carter me cumprimentou.
- Mande os seguranças guardarem os carros na garagem. E ligue para a portaria do condomínio, ordene que autorizem a entrada de Flora e Lisa Miller.
- Sim, senhora. Os seguranças que estão lá hoje são da empresa, portanto há mais alguma ordem?
- Não. Apenas a minha mãe virá junto a elas, mas eles a conhecem.
Ele assentiu e eu o entreguei as chaves do meu carro, caminhando até a escadaria.
A porta fora aberta para mim por Grace.
- Olá, senhora Montgomery, seja bem-vinda.
- A minha mulher já acertou os últimos detalhes com você?
Ela assentiu.
- Sim, senhora. Faltam apenas as bebidas, ela garantiu que a senhora iria se encarregar delas.
Assinto, subindo as escadas até o meu quarto e o adentro, ouvindo o barulho do chuveiro.
Deixo a minha bolsa em cima do sofá e caminho até o closet, tirando os meus saltos e os guardando no local devido.
Prendi os meus cabelos em um coque mal feito e tirei a minha roupa, ficando apenas de calcinha e sutiã.
Caminhei até o banheiro, o qual estava aberto e observei Meredith lavar os seus cabelos, enquanto cantarolava baixo alguma música desconhecida por mim, alheia á minha presença.
Me encaminhei até a pia e me propus a lavar o meu rosto com os sabonetes importados os quais realmente faziam um ótimo trabalho na minha pele.
Sequei o meu rosto, observando Meredith tirar o creme condicionante dos seus cabelos, ainda sem perceber que eu havia chegado.
Mordi o meu lábio inferior, tentando controlar-me para não entrar naquele box e fazer o perfeito trabalho de nos atrasar completamente para aquele jantar.
Considerando que faltavam apenas quarenta minutos para que as nossas mães chegassem, nós havíamos, pelo menos, dez minutos livres.
Mas, conhecendo Meredith como eu conhecia, eu sabia que ela iria organizar tudo novamente lá embaixo.
Portanto, saí do banheiro novamente, percebendo, apenas naquele momento, a roupa a qual Meredith havia escolhido para mim, estendida no puff ao meu lado do closet.
Uma calça jeans de lavagem clara e uma camisa social branca, a qual ela havia dobrado as mangas, para que ficasse mais casual.
E, ao chão, um par de sandálias de salto grosso e médio vermelhas.
Ela havia feito uma boa escolha. Melhor do que a que eu faria, definitivamente.
- Ah, você já chegou, que bom, eu estava preocupada com o horário - A ouvi adentrar o closet e a encarei. Ela estava enrolada em um roupão e com a toalha envolta aos seus cabelos molhados, um sorriso abriu-se em seus lábios e eu a observei ir até o seu lado do closet.
- Irei apenas tomar banho e já desço para escolher as bebidas.
Ela assentiu e eu me dirigi até o banheiro, me colocando debaixo do chuveiro e o mudando do jato quente para o frio, evitando molhar os meus cabelos já lavados.
Alguns minutos depois, desliguei o chuveiro, me secando com a minha toalha e caminhei até o closet, vendo Meredith sentada na sua penteadeira.
Ela usava um vestido curto, de tecido leve e branco, com estampa sutil de flores em um tom de lilás claro.
Me concentrei em encontrar um conjunto de lingerie preto e retirei o meu roupão, sentindo o seu olhar pousar sobre mim, sem que eu sequer precisasse me virar para o constatar.
Visto a minha lingerie e a minha roupa rapidamente, dobrando as barras da minha calça, de forma a qual ficara esteticamente mais bonita.
Calcei as minhas sandálias e soltei os meus cabelos, me sentando na minha penteadeira.
Apenas passei o meu creme de rosto noturno, meu perfume e um batom vermelho.
Meredith fora até o banheiro secar os seus cabelos e eu peguei o meu celular, saindo do quarto e descendo as escadas.
Fui rapidamente até a adega, sendo acompanhada por Grace e escolhi dois tipos de vinhos diferentes, um para o jantar e outro para os momentos antes e depois dele.
Quatro garrafas eram o bastante.
As deixei em cima do balcão da adega e me sentei no sofá, me concentrando em resolver algumas coisas pendentes no meu celular.
Ouvi passos da escada e tirei a minha atenção do aparelho á minha frente, observando Meredith as descer calmante.
Ela havia calçado um par de sandálias sem salto brancas e os seus cabelos estavam minimamente ondulados, como ela gostava de os deixar.
Ela também não havia se maquiado, apenas passou um gloss nos lábios e o seu perfume.
- Escolheu os vinhos?
Assenti, vendo-a encaminhar-se até a cozinha logo em seguida.
Dentro de poucos minutos, ela voltara até a sala e suspirou, se sentando ao meu lado.
- Tem certeza de que Grace realmente não possui nada contra mim?
- Meredith, não há motivos para que ela não goste de você.
Ela assentiu, dando de ombros, parecendo concordar comigo.
- Com licença, senhoras - Levantei o meu olhar, observando a empregada inútil a qual encarara Meredith de forma extremamente descarada e desrespeitosa no dia anterior.
- Sim, querida? - Meredith a respondeu e eu revirei os olhos, incomodada com aquela forma tosca a qual Meredith se dirigira a ela.
- A portaria acabou de avisar que a senhora Montgomery, sua sogra, acabou de chegar.
Meredith assentiu e nós continuamos sentadas por algum tempo, até ouvirmos a campainha tocar. Eu me levantei junto a ela, que rapidamente me encarou, se aproximando de mim.
E lá estava o seu alvo. A minha gola supostamente bagunçada.
Meredith a ajeitara da sua forma, alisando o tecido da minha camisa e fazendo o mesmo com as mangas dobradas por ela.
- Pronto.
A empregada, a qual estava parada ali feito um poste nos observando, fora até a porta, finalmente a abrindo.
Me aproximei da porta junto a Meredith, envolvendo a sua cintura com o meu braço, observando a minha mãe cumprimentar a empregada e, logo em seguida, nos encarar sorrindo.
- Boa noite, sogra - Meredith se afastou de mim brevemente para a abraçar apertado - Como está, meu amor? Você está perfeita, Bizzy. Já disse que preto é, definitivamente, a sua cor?
A minha mãe riu, apertando as suas bochechas, deixando um beijo na sua testa e a abraçando novamente.
Preto realmente era uma cor a qual combinava perfeitamente com ela, e a qual a minha mãe mais adorava. E era exatamente por total influência sua que pelo menos 90% do meu closet era composto por roupas pretas.
- Muito obrigada, minha nora. Estou bem, e você? Adorei esse vestido, caiu tão bem em você!
Meredith sorriu, a trazendo para adentrar a nossa casa.
- Boa noite, mamãe - a cumprimentei com um abraço, sentindo-a beijar os meus cabelos e intensificar o meu abraço, me apertando sutilmente contra si.
- Boa noite, meu amor. Como está?
- Bem, e você?
- Bem também - ela respondeu sendo guiada por Meredith até o sofá.
- Então, sogra, me conte, o que você achou da ideia em que tive para o aniversário da Amy?
- Ah, meu amor, eu adorei! Você é realmente uma planejadora nata, Mer. Irei a deixar encarregada de planejar todos os aniversários da nossa família agora. Amy irá adorar.
Meredith sorriu e eu me sentei ao seu lado, chamando a empregada.
- Traga uma taça do vinho de entrada para a minha mulher e a minha mãe, e uma dose de whisky com gelo para mim, rápido.
Ela assentiu, se retirando e eu pousei a minha mão sobre a coxa de Meredith, a observando conversar animadamente com a minha mãe sobre a festa de aniversário de Amélia, a qual elas estavam planejando juntas.
A empregada voltara com as duas taças de vinho e o meu whisky e eu a dispensei logo em seguida, não suportando sentir o seu olhar sobre Meredith.
- Então, filha, como foi o seu dia? Estressante? - a minha mãe perguntou enquanto bebericava o seu vinho.
- Menos cansativo, mãe.
- Fico feliz por isso, sabe que me preocupo com as suas horas de sono mal dormidas, o estresse em que você passa constantemente na empresa. Não sei como não enlouqueceu ainda, filha.
- Estou acostumada, você sabe, mãe.
Ela assentiu e a nossa conversa fora interrompida pela empregada em que novamente adentrou a sala.
- Senhora Montgomery... As senhoras Miller acabaram de chegar.
Meredith sorriu, assentindo e, assim em que fiz menção de retirar a minha mão da sua coxa nua, a senti me impedir, entrelaçando a sua mão e a minha e se levantando, sendo seguida por mim.
- Com licença, sogra.
Caminhamos juntas até a porta de entrada, que novamente fora aberta pela empregada.
Lisa e Flora estavam paradas diante da entrada, Flora possuía o seu braço entorno da cintura da sua mulher.
A minha sogra estava vestida de um conjunto de terno preto, com o blazer aberto e, por baixo, uma camisa branca, com os três primeiros botões abertos, o que a dera um aspecto menos sério e mais ousado. Exatamente como Flora Miller era, de acordo com o pouco que eu conhecia sobre ela. Em seus pés, ela calçava um par de mocassins pretos, sapatos os quais não satisfaziam o meu gosto normalmente, mas realmente ficavam bons nela.
A sua mulher usava um vestido curto com caimento parecido ao de Meredith, porém preto, e sem estampa. E, nos pés, um par de sandálias de salto baixo brancas.
Ambas, juntas, possuíam um contraste e tanto, mas eram um casal esteticamente bonito.
- Boa noite - as cumprimentei primeiramente, dando espaço para que entrassem.
- Boa noite, meu amor! - Flora abraçou a Meredith primeiramente, que soltou a sua mão da minha, e a sua mulher fizera o mesmo comigo, me cumprimentando.
- Boa noite, Addison.
- Seja bem-vinda, Lisa. Fique á vontade. Flora - a cumprimentei com um abraço rápido.
- Boa noite, minha nora. Como está?
- Bem, e você?
- Ótima! Preciso elogiar, que bela casa! Definitivamente a mais bonita de todo o condomínio, e que ótima localização! O trânsito fora extremamente tranquilo do nosso apartamento até aqui.
- Fora um dos aspectos o qual a valorizou ainda mais aos meus olhos, enquanto decidia a sua compra.
- Entrem, por favor, fiquem á vontade - Meredith as deu espaço e as guiou até a sala ao meu lado.
- Bizzy!
Mais cumprimentos, até que Lisa e Flora estivessem acomodadas no sofá menor, ao meu lado.
- Se me permite dizer, Addison, que bela decoração! É realmente a sua cara!
- Obrigada, Flora. Mas não possuo nenhum crédito na decoração ou na mobília. Tudo aqui fora minuciosamente planejado pela minha irmã.
- Sua irmã é designer de interiores? - Flora perguntou curiosa.
- Arquiteta. A melhor de NY. - A comuniquei orgulhosa do título o qual a minha irmã carregava.
Ela sorriu, sendo acompanhada pela minha mãe.
- Estamos realmente precisando dar uma repaginada na nossa cobertura, não é, meu amor? - Lisa sugeriu com um sorriso no rosto.
- Estamos sim, querida. Filha, me passe o contato da sua cunhada depois.
- Pode deixar, mãe. O que desejam beber? Vinho ou alguma bebida em específico?
- Vinho para mim, Mer - Lisa pediu.
- O que está bebendo, minha nora? - Flora me indagou.
- Whisky, sogra. Um dos melhores da Alemanha, deveria experimentar.
- Assim seja, então. Whisky para mim também, filha.
- Irei ajudar Helm com as bebidas, já volto - Meredith falou se levantando e saindo junto a empregada.
- Bizzy, gostaria de a desejar feliz aniversário atrasado pessoalmente. Sinto muito por não ter comparecido com Flora - Lisa se dirigiu a minha mãe - As coisas na academia estão um pouco tensas por causa das competições.
- Ah, querida, relaxe! Não sou a maior fã de aniversários, não se preocupe com isso.
- Oh, tente fazer uma porta entender isso, Bizzy, será mais fácil. Para a minha mulher... Aniversários são sagrados. - Flora comentou, fazendo Lisa revirar os olhos.
- Acho importante comemorar a data em que nascemos, você sabe disso.
- Na nossa família isso não é tão natural. A única a qual realmente ama aniversários é a Amélia. Mark não liga muito para a data, e sim para ser mimado nela, já a Addie...
- Não gosta de aniversários, Addison? - Lisa me perguntou, parecendo surpresa.
- Não vejo muito sentido neles desde os meus treze anos, Lisa. Para mim, é um dia como outro qualquer.
- Oh, céus! Isso é quase uma blasfêmia!
- O que é uma quase blasfêmia? - Meredith perguntou, se sentando ao meu lado novamente.
- Como está casada com uma mulher a qual não gosta de aniversários, Mer?
Meredith riu.
- Ah, isso é o mínimo, Lisa. Ela não gosta de nada que é realmente bom, nem mesmo de doces, que são a oitava maravilha do mundo!
A encarei, erguendo as minhas sobrancelhas.
- Se não gosto de nada que é realmente bom, por que está casada comigo, querida? - A provoquei.
Ela riu, revirando os olhos e pousando a sua mão na minha coxa.
- Porque sou a sua salvação! E a excessão á regra, meu amor!
Meredith estava definitivamente mais leve. De tal forma a qual realmente me fazia ignorar o fato de que deveríamos estar apenas fingindo.
Porque não estavámos.
- Definitivamente, minha nora! - Minha mãe comentou - Você veio para salvar a minha filha dos maus gostos dela.
Meredith sorriu convencida, me encarando.
- Mas me tire uma dúvida, sogra.
- Com todo prazer, querida.
- Ela comia doces quando criança, certo?
- Na verdade quase nada. Sempre os dei doces, mas não em livre demanda. Era sempre apenas na sobremesa e nos fins de semana. Amélia era praticamente uma formiga, vivia impregnada na cozinha atrás de Marina para que ela desobedecesse aos meus pedidos de não os dar doces demais. Mas a Addie nunca se importou tanto. Ela comia, mas não por prazer. Para ela era apenas mais uma refeição qualquer, na sobremesa.
- Definitivamente há algo de errado em você - Meredith proferiu me encarando.
- Em mim? Você é a obcecada por doces e há algo de errado em mim? - a questionei, segurando um sorriso ao vê-la me encarar com um bico nos lábios, também segurando um sorriso.
- Claro que sim! E eu não sou obcecada, apenas gosto... - ela falou dando de ombros, desviando o seu olhar.
- Nem você acredita nisso, filha - Flora comentou rindo. - A Mer, desde criança, mantém essa obsessão saudável por doces. Quando a conheci... Ela costumava levar dois pirulitos de morango para a academia todos os dias, um deles para dar a mim, mas, sempre que ela me entregava, eu conseguia enxergar em seus olhos que ela não queria fazer aquilo, que queria manter os dois para si.
Meredith riu e eu sorri, negando com a cabeça, realmente interessada em ouvir mais.
- E aquele olhar sempre conseguia me ganhar!
- Sou irresistível desde criança, eu sei. Foi exatamente por isso que você me amou á primeira vista. - Ela comentou em falso orgulho, encostando-se no sofá. Ergui o meu braço e o passei por detrás da sua cabeça, o acomodando no sofá.
- Realmente - Flora comentou, repetindo o meu movimento com Lisa.
- Me conte sobre esse dia - A peço, realmente interessada em saber mais sobre a história de Meredith - O dia em que vocês se conheceram.
Flora sorriu.
- Foi, definitivamente, um dos melhores dias da minha vida. Eu havia acabado de voltar de Paris, contra a minha vontade, para dar aulas na academia, contra a minha vontade. Eu realmente não queria estar ali. Crianças nunca foram muito o meu forte, sabe? Eu sempre as adorei, mas nunca soube lidar com elas.
- Então por que estava fazendo isso? - a minha mãe a indagou, verbalizando a mesma dúvida a qual eu havia tido.
- Simplesmente a minha mãe - ela deu de ombros - Ela controlava toda a minha vida, e eu, naquela época, aceitava. Portanto ela decidiu que eu não iria me especializar em ginástica, o que eu realmente amava, e sim faria um ano de especialização em ballet em Paris, e assim foi.
- Céus! Não consigo me imaginar fazendo isso, abandonando um sonho para seguir outro caminho escolhido para mim por outro alguém - a minha mãe comentou.
- Às vezes... A dependência emocional nesse alguém nos faz esquecermos do que verdadeiramente somos e o que verdadeiramente queremos, é um fato infeliz, mas real - Flora comentou dando de ombros.
E, assim que o meu olhar pousou brevemente sobre Meredith, ela havia desviado o seu da conversa, enquanto bebia o seu vinho, parecendo nada confortável.
Eu a conhecia, sabia que ela não estava.
A sua feição me entregava isso de forma explícita.
Toquei o seu ombro com a minha mão antes pousada no sofá e a vi me encarar, sorrindo fraco para mim.
A puxei sutilmente para que o seu corpo novamente estivesse junto ao meu, encostado no sofá e ela o fez, me surpreendendo ao encostar a sua cabeça no meu ombro sutilmente, encarando Flora novamente.
- Então... - voltei a minha atenção para a minha sogra - Assim que entrei na minha sala e enquanto o desespero tomava conta de mim, vi Meredith conversar, ainda um pouco retraída, com a minha irmã, que na época era a minha auxiliar de turma. Eu a achei linda, vestida com um tutu rosa, os cabelinhos loiros presos em um coque tão minuciosamente bem feito, os sapatinhos brancos aos pés... Ela realmente parecia uma bailarina profissional. E era a menor aluna que havia na minha sala. Todas as outras possuíam de cinco á sete anos. E ela quatro. Assim que começamos a fazer as apresentações de nomes, e que ela se levantou, parecendo extremamente retraída, e disse, eu realmente me lembro muito bem! "Meu nome é Meredith Grey, eu tenho quatro aninhos e estou aqui porque o meu papai acha que vai ser bom para mim." Naquele momento, diante da doçura e inocência da sua voz, eu soube que aquela garotinha não era qualquer outra. E eu estava certa. No fim das aulas, ela estava sentada sozinha na sala e eu me aproximei. Suco de morango, morangos frescos, toalha de morango e pirulitos de morango, era o que ela havia levado como lanche no dia, além dos seus sanduíches. - A minha mãe e Lisa riram, junto a Meredith, e eu apenas sorri fraco, sentindo-me incomodada com algo naquela história.
- Definitivamente uma aspirante em Morangos desde o berço - a minha mãe comentou e Meredith riu.
- Definitivamente, sogra.
- Continue, meu amor! - Lisa pediu a Flora.
- Ela estava sozinha porque era tímida demais para fazer amizades, eu me sentei com ela, nós conversamos e eu a chamei para conhecer a minha sala de ginástica na academia, a qual nós... Ela apelidou, no mesmo dia, de "Senhora sala da liberdade", porque ela gostava de chamar as pessoas ou coisas as quais ela mais amava no mundo de "senhor" e "senhora", em sinal de respeito e prova do seu amor. Dali em diante, nós viramos amigas, depois melhores amigas, até chegarmos onde estamos hoje, mãe e filha.
Meredith sorriu docemente, assentindo e, enquanto a minha mãe comentava aquela história, eu me peguei ainda incomodada com uma frase dita por Flora, sem conseguir pensar em imaginar todo aquele enredo.
Meredith não havia começado o ballet porque queria, como maioria das meninas as quais optam por ele.
Ela fora obrigada a fazer ballet pelo pai. Isso deixava muitas coisas mais claras, mas também escurecia completamente outras.
Afinal, absolutamente nada na sua vida, antes de ela ingressar como professora na academia, havia acontecido por sua própria livre e espontânea vontade?
Meredith era um enigma para mim, e, naquele momento, diante daquela frase, a minha curiosidade pareceu querer explodir dentro de mim.
Eu precisava saber mais sobre ela. Sobre toda a sua vida, todas as coisas as quais Flora havia me indicado que Meredith já havia passado.
Novamente, uma outra frase da minha sogra rondara a minha mente repentinamente, mas, dessa vez, não era uma recente.
Ela havia me dito no dia em que saímos para almoçar juntas.
"Principalmente o fato de o quão... Ele foi o maior responsável por tudo de ruim em que já..."
O pai de Meredith fora responsável por todas as coisas ruins as quais haviam a acontecido.
Mas que coisas seriam essas?
Algo me dizia que não eram apenas a falência da empresa, a traição matrimonial a qual ele cometera com Ellis e o fato de ele ter a obrigado a praticar ballet e cursar direito contra a sua vontade.
Algo me dizia que aquele filho da puta havia feito mais, muito mais.
E eu acabara de perceber que iria fazer de absolutamente tudo para descobrir. Nem que, para isso, eu precisasse fazer com que aquele desgraçado, em pessoa, me contasse.
Porque Meredith não o faria, e eu sabia disso.
Ela não me contaria porque, pelo que Flora me dissera, ainda no dia do nosso almoço, Meredith sempre evitou falar sobre ele, e sobre tudo isso, até mesmo para ela.
Portanto, eu precisaria descobrir sozinha.
E iria.
- Amor? - A ouvi me chamar e, saindo dos meus pensamentos, voltei a minha atenção para si. Meu olhar estava vidrado nela enquanto eu pensava tudo aquilo.
- Sim, querida?
- Está tudo bem?
- Sim, apenas lembrei-me de algo que preciso solicitar á Alex, é importante. Podem me dar um minuto? - Pedi, me levantando.
Fui até o canto da sala e desbloqueei o meu celular, encontrando o contato de Alex e o mandando uma mensagem rápida.
"Contate Roberta Green, a chefe de TI e a solicite que pesquise, onde quer que seja, por toda a vida de Meredith. Além do que já fora pesquisado, antes de nos casarmos. Quero saber absolutamente tudo, até mesmo quantos passos ela dera nos vinte e cinco anos em que ela possui. Não quero nada excluído. Quero tudo isso em arquivos enviados para o meu e-mail pessoal, o mais rápido possível."
Ele me respondeu em poucos segundos.
"Pode deixar. Extrema confidencialidade. Reunirei apenas ela e mais uma, de extrema confiança. Nada será vazado. Farei de tudo para que você tenha tudo isso em menos de uma semana."
Satisfeita, bloqueei o meu celular novamente, voltando até o centro da sala.
- Oh, não me diga, sogra! - Vi Meredith rir, me encarando logo em seguida - Então quer dizer que você, além de ter medo de patos, também tinha medo do coelhinho da páscoa? - ela gargalhou e eu revirei os olhos, me sentando ao seu lado novamente.
- Por que está contando isso, mãe? - questionei-a.
- Ah, porque se eu não contar... Você não conta! E a sua mulher merece saber mais sobre você quando criança. Você sabia que a Addie já fez ballet, Mer? Porém por um dia. Apenas um dia.
Meredith me encarou surpresa.
- Por que nunca me contou isso? - ela perguntou curiosa.
- Nem eu lembrava - respondi dando de ombros.
- Essa é realmente uma história interessante, conte-nos, Bizzy, por favor! - Flora pediu e eu suspirei, bebericando o meu whisky.
- Ela tinha seis anos. E estava tendo aulas na escola apenas pela manhã, o que a fazia ter a tarde inteira livre. Amélia fazia aulas de piano, Mark jogava golf, e Addison ainda não possuía um hobby. Foi aí em que eu tive a brilhante ideia de começar a testar algumas coisas nela. Jazz e golf foram os primeiros, ela odiou. A Addie sempre possuiu uma personalidade forte. Não era não e ponto final. E eu não argumentava, afinal, eu queria que ela fizesse o que gostasse. Até que tentei o ballet... Nunca vou me esquecer desse dia! Ela estava tão linda de tutu, eu enchi a câmera fotográfica de fotos! A deixei na escola de artes a qual a sua irmã também estudava, com a esperança de que ela iria adorar o ballet e finalmente acharia algo para preencher as suas tardes. Bem... Eu estava errada. Assim que cheguei ela estava emburrada me esperando, não se comportou mal, porque ela realmente nunca foi de chorar ou fazer birra, mas estava chateada. Havia odiado tudo ali, com todas as suas forças. Estava com os cabelos já soltos porque não estava suportando-os presos em um coque apertado e pesado, havia trocado de roupa e se recusado a fazer a outra metade da aula. A professora não sabia o que fazer e estava completamente desconcertada quando eu cheguei. Quando chegamos em casa, ela me fez jurar que eu nunca mais a levaria naquele lugar de "meninas engomadinhas e metidas".
Meredith gargalhou, me encarando.
- Você era tão rebelde! - ela murmurou para mim sorrindo, eu revirei os olhos, contendo um sorriso.
- Decidida - a corrijo, vendo-a rir novamente, negando com a cabeça.
- Vocês duas realmente foram feitas uma para a outra! Meredith também odiou o ballet, desde o primeiro dia. - Flora comentou rindo, me surpreendendo. Encarei Meredith, sem entender aquilo.
- Bem... Longa história - ela deu de ombros - Eu apenas comecei a gostar de ballet aos 12 anos, quando pude realmente fazer ginástica integrada ao ballet, de forma efetiva. Fora isso, eu fazia apenas porque precisava fazer.
Eu havia entendido aquilo.
Meredith fora obrigada a fazer algo em que não desejava por oito anos da sua vida, até realmente começar a gostar pelo ciclo da repetição. Seu cérebro fora condicionado a gostar daquilo porque, ou ela continuaria odiando, mas ainda fazendo e se desgastando cada vez mais, ou ela poderia começar a gostar apenas porque não possuía outra escolha.
Eu sentia que era exatamente aquilo. E, repentinamente, uma sensação insuportável de raiva cresceu em mim.
Ela havia sido obrigada a fazer oito anos algo em que não gostava por um filho da puta o qual costumava chamar de pai.
Isso era inconcebível para mim, que sempre possuí direito de escolha diante da minha mãe.
Eu escolhi ser juíza. Eu escolhi tomar completa posse da empresa. Eu decidi aprender todas as línguas as quais eu sabia falar. Eu decidi fazer aulas de piano junto á minha irmã aos sete, e boxe com o meu irmão aos doze.
Imaginar que Meredith não havia possuído esse, somente agora, privilégio em que eu possuía, enchia-me de raiva, e de mais absoluta vontade de saber tudo sobre ela.
Eu precisava saber mais.
- Addison então fora uma criança mais do que prodígio, creio eu - Lisa comentou, fazendo a minha mãe sorrir.
- Com certeza. Ela sempre gostou de aprender, e isso, combinado a sua autonomia, é o que eu mais admiro na minha filha. Ela finalmente encontrou o que amava: estudar idiomas. Fez primeiramente alemão, aos sete anos, uma escolha extremamente ousada. Aos onze ela começou francês, aos quinze ela fizera Italiano, aos dezoito Espanhol e, então, a última fora Português.
- Uau! Você é incrível, minha nora! Pretende aprender mais alguma língua? - Flora perguntou-me curiosa.
- Todas as quais eu puder. Mas não estou estudando nenhuma no momento, além das quais já sou fluente.
- Gostaria muito de aprender o Mandarim, mas não possuo tempo algum! - Flora comentou.
- Eu também, é uma variação linguística diferente das quais estou acostumada. - respondo-a.
- Com certeza!
- E você, minha nora? Tenho certeza que não ficou apenas no inglês. - a minha mãe indagou Meredith.
Ela sorriu.
- Não sou um gênio como a minha querida esposa, Bizzy. Mas fiz francês e italiano.
A minha mãe sorriu.
- Como teve tempo para isso? Você não passava o dia inteiro na escola e na academia? - a minha mãe perguntou curiosa. Essa era exatamente a minha dúvida, mas eu sabia que não gostaria da resposta.
- Ah, eu arranjava - Meredith deu de ombros - No início comecei Italiano. As minhas aulas eram das seis às oito da noite. Com francês foi um pouco mais difícil, porque não era uma língua a qual eu estava em constante contato, como italiano, tendo em vista que a minha família materna é inteiramente de origem italiana.
- Que incrível! Eu não sabia disso! Ellis também?
Meredith assentiu.
- Minha mãe nasceu em Veneza, veio para os Estados Unidos com... Dezoito, eu acho. Aos vinte ela me teve e se fixou por aqui. Eu, infelizmente, não cumpri com a tradição da família, pois nasci aqui em New York.
-Ah, mas não deixa de ser italiana, de qualquer forma!
Meredith sorriu, dando de ombros.
- Como foram as suas aulas de francês? - a minha mãe retomou o assunto e eu a agradeci mentalmente por isso.
- Bem difíceis. Eu comecei aos treze. Na época eu estava me preparando para a minha primeira competição em ginástica, foi um pouco complicado, mas eu dava conta. As minhas aulas eram particulares e, diferentemente do italiano, eram três horas por dia. Das sete da noite às dez. Mas eu gostava do francês, era um desafio, afinal.
Eu estava certa.
Mesmo que ela gostasse, eu sentia que aquilo não havia partido de si. Ela também havia sido obrigada, eu sentia isso.
- E por que francês, querida? Você nunca me contou. - a questionei, resolvendo testar a minha teoria.
- Ah, eu não sei - ela deu de ombros - Entre francês e espanhol eu achei que me daria melhor no francês. Não foi nada de especial, meu amor.
Assenti, suspirando.
Era óbvio que ela havia sido obrigada.
Aquela constatação fez-me sentir, novamente, o meu sangue ferver.
Afinal, nada na sua vida parecia ter acontecido por livre e espontânea vontade, além do fato de ela começar a ensinar ballet e ginástica.
E eu sentia que isso só havia acontecido porque o desgraçado do seu pai não estava mais presente na sua vida.
- Irei verificar o jantar, já volto - Ela pediu licença, se retirando e eu suspirei, sem conseguir parar de pensar em tudo aquilo.
- Você sabe tocar algum instrumento, Addison? - Lisa me indagou curiosa.
- Piano, mas sou uma completa amadora.
- E o violoncelo, mas faz tanto tempo em que você não toca, não é filha?
- Era apenas um hobby a mais, mãe. Nunca insisti no violoncelo. E tampouco era boa nisso, admita.
Ela riu.
- Eu gostava de ouvir, filha!
Nego com a cabeça. A minha mãe era boa demais para admitir o quão péssima eu era no Violoncelo.
E eu era péssima porque não me interessava muito em estudar. Não era a minha prioridade.
Meredith voltara da cozinha sendo acompanhada por Grace e se sentara ao meu lado novamente.
- Com licença, boa noite, senhoras Miller, senhora Montgomery.
- Boa noite, Grace, como vai? - A minha mãe a cumprimentou educadamente.
- Bem, senhora, obrigada. O jantar será servido daqui há trinta minutos.
- Obrigada, Grace. - Meredith a agradeceu, e a mesma assentiu, pedindo licença e se retirando.
Uma das empregadas apareceu na sala, trazendo alguns petiscos e eu, sem nenhuma vontade de os comer, os dispensei.
- De que é esse, Eloise? - Meredith a indagou, apontando para um deles.
- É um empanado de Robalo, senhora. Acredito que ambos são.
- Obrigada, meu bem. - Meredith a agradeceu, pegando um deles - Não vai querer, meu amor?
- Não, querida, obrigada. - a respondi, alcançando o meu copo já vazio em cima da mesa de centro - Me traga mais uma dose de whisky. Sogra, aceita mais? - perguntei a Flora, que assentiu, entregando o seu copo para a empregada.
- Então, como está sendo a preparação para as competições? Ouvi dizer que a primeira fase ocorrerá aqui em NY e a segunda em Los Angeles, estou correta? - A minha mãe perguntou.
Encostei-me novamente no sofá, envolvendo o meu braço aos ombros de Meredith, sentindo-a deitar a sua cabeça no meu ombro mais uma vez.
Senti o cheiro dos seus cabelos ainda mais próximo das minhas narinas e o inspirei, mantendo o meu nariz distante, mas, ainda sim, consegui o sentir com clareza.
Eu gostava daquele cheiro. Era absolutamente nada usual. Ele pertencia a Meredith, unicamente.
- Ah, está sendo a correria em que sempre é. Os nervos estão á flor da pele, mas ainda estamos relativamente calmos, considerando tudo em que virá pela frente. Você está certa, Bizzy, será em NY a primeira fase e a segunda em Los Angeles. Estamos tentando administrar tudo isso, mas está complicado. Acho que se não fosse a Mer sendo responsável pelos adolescentes, eu não sei o que faria!
Meredith riu.
- Você definitivamente iria enlouquecer! Sou a sua salvação em todos os sentidos, mamãe - pude-a sentir sorrir da forma travessa em que costumava o fazer e senti, instantaneamente, o meu corpo paralisar-se ao senti-la tocar a minha cintura com uma das suas mãos e a passar pela base das minhas costas, pousando-a do outro lado da minha cintura.
- Você se casou com a pessoa mais convencida desse mundo, filha - minha mãe comentou, fazendo Meredith rir novamente.
Eu assenti, mesmo que não concordasse com aquilo.
Eu realmente gostaria que Meredith fosse aquela versão a qual ela tanto gostava de encenar por diversão.
Mas ela possuía inseguranças. Inúmeras delas. Mais do que qualquer outra pessoa a qual eu já tenha conhecido na vida.
- Então, sogra, faça-me o favor de contar melhor a história sobre a minha querida esposa ter medo do coelhinho da Páscoa, porque eu não consigo acreditar que você poderia, sequer, um dia, possuir medo de uma figura fictícia tão inofensiva!
Eu revirei os olhos.
- Eu era uma criança, Meredith!
- E daí? Você sempre foi muito durona, não é? - ela debochou, mordendo o seu lábio inferior e eu cerrei o meu olhar, a encarando incrédula.
- Você está um poço de ousadia hoje, Meredith Montgomery! - comento, vendo-a sorrir maliciosamente para mim.
- E você gosta, meu amor! - ela me surpreendeu com um beijo rápido nos lábios e virou-se para a minha mãe novamente.
- Acho que ela também tinha seis anos. Nós sempre passamos a páscoa juntos, e eu sempre armava brincadeiras para eles. Dessa vez, eu contratei um homem para que se vestisse de coelhinho da páscoa e os surpreendessem, com a ilusão de que eles iriam adorar. Bem... Mark e Amélia amaram, mas a Addison... Além dos patos, eu nunca havia a visto tão assustada. Era realmente... Nada comum. O fato de ela estar assustada com algo tão inofensivo. Então, só então, eu descobri que Mark a obrigou a ver um filme de terror enquanto eu e Amélia não estávamos em casa, e o filme continha um coelho da páscoa realmente assustador. E, para completar, o seu tão amado irmão resolveu que seria uma ótima ideia pedir um coelho de pelúcia de presente, o mergulhar em lama, terra e algum molho vermelho, decepar pedaços das suas orelhas e pernas e o deixar em cima da cama da Addie de madrugada, enquanto ela dormia. Para completar ainda mais a brincadeira de não gosto, ele fizera todo um cenário com o molho vermelho, colocou uma música estranha para tocar com um fundo vocal demoníaco para a acordar aos poucos. Apenas entendi o trauma quando a vi adentrar o meu quarto pela madrugada gritando e suando frio. Ela demorou a o esquecer, porque realmente foi uma brincadeira de mal gosto e tanto.
- Irmãos! - Flora comentou rindo - Deve ter sido difícil crescer com dois irmãos mais velhos, não é, Addison?
- Você não imagina, Flora - comentei sentindo Meredith me encarar.
- Eu praticamente enlouquecia! Mark era uma criança... Complicada. E adorava pegar no pé da Addison e da Amy. Essa foi a "brincadeira" mais leve em que ele fez com a irmã mais nova.
- Humm, agora eu entendo o porque a Amy é a sua favorita - Meredith comentou e eu assenti.
- Não é uma escolha difícil - comentei, a fazendo sorrir.
Grace adentrou a sala novamente.
- Com licença, me perdoem atrapalhar, mas o jantar será servido.
- Obrigada, querida. Já estamos indo. Peça para que Helm busque os vinhos, por favor. - Meredith a solicitou.
- Sim, senhora Montgomery.
Ela se retirou novamente e eu senti o braço de Meredith se afastar da minha cintura. Fiz o mesmo com o meu aos seus ombros e todas nos levantamos. Meredith fora na frente, as guiando até a sala de jantar e eu me mantive atrás, apenas a observando conversar animadamente com Flora e Lisa sobre a decoração da nossa casa.
Já na sala de jantar, puxei a cadeira ao meu lado direito para que ela se sentasse, recebendo um agradecimento em resposta.
A minha mãe se sentou ao meu lado esquerdo, Flora se sentou ao seu lado e Lisa ao lado de Flora.
As travessas do jantar foram colocadas á mesa e eu senti Meredith me encarar no mesmo momento.
A devolvi o olhar e a observei segurar o seu riso, mordendo o seu lábio inferior.
Ambas de nós duas obtinhamos dúvidas quanto àquela comida.
Eu não estava nem um pouco a fim de a provar. E Meredith também parecia não estar.
- Posso a servir, meu amor? - ela me indagou e eu estreitei o meu olhar, entendendo a sua jogada. Meredith era um poço de esperteza.
- Não, querida. De forma alguma. Você é a minha esposa, não minha empregada. Sirva-se. - a indiquei, apoiando os meus pulsos na mesa.
Ela revirou levemente os olhos, observando, então, a minha mãe começar a se servir, sendo acompanhada por Flora e Lisa.
- Não irão comer? - Flora nos questinou e eu encarei Meredith, buscando por apoio.
- É... Bem... É uma brincadeira boba minha e da Addie, não é, amor? Nós costumamos brigar por quem irá se servir primeiro. Coisa boba de casal, aposto que vocês também têm as suas.
Flora franziu o cenho, e a minha mãe repetira o ato.
E eu apenas consegui focar completamente no fato de que Meredith havia me chamado pelo meu apelido, pela primeira vez desde que nos casamos.
Aquilo fizera-me sentir algo estranho em meu ventre, algo bom.
Eu já estava mais do que acostumada em ser chamada daquela forma pela minha família.
Mas, estranhamente, com Meredith, aquilo fora diferente.
A sua voz havia dado um tom diferente àquele apelido, já tão ouvido por mim, ao longo dos meus quase trinta e um anos.
Eu havia gostado, mesmo sabendo que ela havia se dirigido a mim daquela forma por estarmos na frente da nossa família.
- Vocês duas são estranhas - A minha mãe comentou - Por favor, filha, tenha mais educação, sirva-se!
Suspirei, acatando a sua ordem e vi um sorriso travesso invadir os lábios de Meredith. Ela estava se divertindo com aquilo.
- Isso, meu amor, não seja mal educada! Respeite as nossas convidadas e sirva-se, por favor! - ela falou, evidenciando o seu sarcasmo.
A lancei um olhar o qual demonstrava completamente a minha irritação e ela sorriu, me lançando um piscar de olhos completamente descarado.
- Filha, faça o mesmo, por favor! Não foi essa a educação em que eu e Ellis a demos!
A encarei, erguendo as minhas sobrancelhas e evidenciando o quão eu havia adorado aquilo.
Meredith revirou os olhos, começando a se servir.
Eu a aguardei terminar e, sem qualquer indício de vontade de triscar naquela comida, a esperei o fazer.
A minha mãe, Flora e Lisa já comiam enquanto conversavam e pareciam normais.
- Acha que está ruim? - Meredith se esticou, sussurrando em meu ouvido.
- Não sei, elas parecem normais - falei dando de ombros.
Meredith suspirou.
- Prove - ela me incitou e eu neguei com a cabeça.
- Nem morta. Prove você!
Ela revirou os olhos, mas pegou o garfo e colocou nele um pouco de comida, o levando até a boca.
A vi mastigar, parecendo tentar decifrar algo e ela assentiu, me encarando.
- Está boa! O sal está ótimo e o tempero também.
Suspirei aliviada e, então, comecei a comer.
Não estava boa. Não ao meu paladar já tão acostumado com a comida de Miranda, a qual era realmente boa.
Portanto, eu apenas enrolei com três garfadas, e a deixei de lado, me concentrando no meu vinho.
- Há quanto tempo vocês estão juntas? - A minha mãe indagou Flora e Lisa e eu comecei a realmente prestar atenção na conversa.
- Faremos dez anos de casamento no mês que vem, mas juntas mesmo temos doze. - Lisa respondeu com um sorriso no rosto e Flora o repetiu. Elas realmente pareciam apaixonadas.
E eu apenas me perguntava como elas conseguiram.
Doze anos acordando ao lado da mesma pessoa. Isso era, no mínimo, loucura.
Mais loucura ainda era o fato de elas realmente ainda se amarem. Depois de doze anos juntas.
Verdadeiramente se amarem. E possuírem um relacionamento visivelmente saudável e harmonioso.
E, mesmo possuindo uma curiosidade sobre o assunto, eu nunca conseguiria o entender.
Na minha vida, o amor apenas se restringia a laços sanguíneos. Nada além disso. E, mesmo assim, o grupo de pessoas os quais possuíam esse sentimento de mim era tão seleto, que eu poderia contar nos dedos de apenas uma mão e ainda sobrariam.
Exatamente por esse fato eu estranhava completamente relacionamentos como o de Flora e Lisa.
- Como vocês se conheceram? - As questinei, realmente interessada em entender melhor sobre ambas.
Lisa sorriu.
- Você conta, meu amor, você sabe contar essa história mil vezes melhor do que eu - Lisa falou sorrindo e Flora assentiu, repetindo o seu ato.
- O clássico clichê. Eu estava na minha cafeteria favorita, atrasada para a minha aula e uma desastrada tombou em mim e derramou o seu café gelado inteiramente em mim, no frio de outubro de NY. Eu quase tive uma síncope!
Todas riram e eu sorri, negando com a cabeça.
- Eu não tinha a mínima paciência para a ouvir se desculpar, portanto esqueci. No dia seguinte, ela se sentou de frente para mim na cafeteria, me pagou um café e me entregou um desenho em que ela havia feito de mim. Começamos a conversar, descobri que ela era uma aluna da minha mãe e estava estudando para dar aulas na academia também. Cinco meses depois começamos a namorar e, desde então, não nos separamos mais. Nunca pensei que fosse dizer isso, mas eu realmente agradeço por ter tido que jogar a minha blusa favorita no lixo pela mancha enorme que o café estranho que Lisa tomava a fez nela.
- Eu não esbarrei em você, amor! Nós nos esbarramos juntas!
Flora revirou os olhos.
- É exatamente por isso que eu sou a melhor pessoa para contar essa história.
Continuamos a conversar sobre amenidades até acabarmos o jantar.
Grace serviu a sobremesa e eu me limitei a tomar uma dose de whisky enquanto ouvia Flora, Lisa e a minha mãe conversarem.
Meredith comia a sua sobremesa calada, apenas rindo em alguns momentos. Mas parecia realmente concentrada em apenas comer.
A encarei, em certo momento, um pouco incomodada com o seu silêncio.
- Está tão ruim ao ponto de ter a feito se calar? - a indago, fazendo-a rir.
- Você é inacreditável! - ela sussurrou - Está gostosa. Eu apenas estou observando, assim como você.
Assinto, bebericando o meu whisky.
Elas terminaram a sobremesa e, sob uma decisão de Meredith, nós voltamos até a sala, porém, dessa vez, nós as levamos até a sacada da sala.
Meredith se sentou em um dos sofás com Lisa e a minha mãe e eu observei a minha sogra caminhar até mim.
- A vista aqui é linda, minha nora! É uma casa espetacular, e eu tenho certeza que vi muito pouco.
- Se você quiser, posso mostrar o resto - falo dando de ombros, vendo-a sorrir.
- Irei adorar!
Assenti, depositando o meu copo em cima da mesa ali e fui até Meredith.
- Irei levar a sua mãe para conhecer o resto da casa, ok?
Ela assentiu.
- Eu, Lisa e Bizzy iremos para a área da piscina, está bem mais fresco lá.
- Ok, iremos para lá depois.
Meredith assentiu novamente e eu caminhei junto a Flora até a sala.
- Aqui embaixo há apenas a cozinha, a garagem, a adega e o meu escritório. Os outros cômodos não estão em uso.
- Onde é o seu escritório?
A indiquei o caminho ao lado esquerdo da escada e entramos no corredor que levava até o meu escritório.
- Uau! Que jardim de inverno lindo! Sua irmã, estou correta?
- Com certeza. Tudo aqui é responsabilidade dela. Não tenho muita paciência para escolher decorações.
- Imagino - Flora comentou rindo e eu a guiei até o meu escritório.
- Esse é o meu escritório.
- Um espaço imenso! Quase uma biblioteca!
- A biblioteca é no segundo andar. Iremos chegar lá.
Ela me encarou surpresa e riu, negando com a cabeça.
A apresentei o meu escritório com mais detalhamento e, logo em seguida, nós subimos as escadas até o segundo andar.
- Aqui são os quartos de hóspedes, o quarto da minha irmã, o escritório de Meredith, a biblioteca, uma outra sala para os hóspedes, os quais nós nunca recebemos, e, mais uma vez, outros cômodos fora de uso.
- Acho que já sei onde eu e Lisa ficaremos quando o nosso apartamento estiver em reforma!
- Faço questão. A nossa casa está aberta vocês a qualquer momento.
Ela sorriu assentindo e eu a apresentei a biblioteca, a sala e, então, o escritório de Meredith.
- Literalmente a cara dela! Os livros organizados por tamanho, autor e gênero...
- Com certeza - respondi, olhando ao redor. - Meredith é o ser humano mais organizado que eu já conheci.
Flora assentiu e eu pude perceber um suspiro seu se reverberar pelo cômodo. O que me intrigou.
- Há mais para ser visto?
- Apenas o meu quarto e de Meredith no terceiro andar.
Ela assentiu.
A guiei até o outro lance de escadas.
- Aqui há apenas o nosso quarto, uma sala a qual nunca foi usada e um jardim de inverno - falei abrindo a porta de vidro ao lado do meu quarto.
Ela olhou ao redor, parecendo gostar do que via e, então, se dirigiu até a porta do meu quarto com Meredith.
- Antes de me casar com Meredith havia um dispositivo com senha aqui, mas eu o retirei. - falei abrindo a porta, a dando espaço para entrar.
- Céus! Isso aqui é... Meu Deus, Addison! É, literalmente, uma casa dentro da sua própria casa.
Dei de ombros.
- Gosto de espaço.
Ela pareceu maravilhada olhando ao redor.
- Deixe-me adivinhar, Meredith dorme ao lado direito, certo?
Assinto.
- Como sabe? - pergunto-a curiosa.
- O seu móvel de cabeceira é extremamente organizado, mas o dela... Dá para perceber. Os livros milimetricamente empilhados, o espaçamento com os mesmos centímetros entre cada objeto... Eu conheço a minha filha.
- Me sinto a pessoa mais desorganizada do mundo ao lado dela - comento, vendo-a rir.
- Não há como não se sentir. Temos algo a mais para ver?
- Apenas lá fora. Há a academia, o jardim, a sala de jogos, a sauna e outra biblioteca abandonada.
- Portanto vamos!
A guiei até o primeiro andar novamente e, juntas, nós caminhamos até o exterior da minha casa.
A apresentei a academia, a sala de jogos, a sauna e, por fim, a biblioteca a qual eu quase nunca lembrava da existência ali.
- É um terreno imenso, eu estou definitivamente impressionada! Quantos metros?
- Doze ou quinze mil. Não lembro bem.
- Uau! - ela riu - Você é realmente espaçosa!
- Foi um bom negócio. Não me arrependo de ter a comprado, apesar de ter sido um investimento caro. Não pretendo a vender.
- Pretende que seus filhos morem aqui também?
Assinto, fingindo obter uma resposta para aquela pergunta. Filhos! Aquilo era, praticamente, uma palavra blasfêmica no meu vocabulário.
- Consequentemente. Penso também na minha irmã e na família imensa que ela quer construir. É um local próprio para isso. Meus planos se restingiam apenas a ela. Mas, então, a sua filha chegou - falei dando de ombros, fingindo que realmente acreditava naquela ideia absurda de possuir filhos e uma vida medíocre, ela riu.
- Imagino o balanço em que ela fez na sua vida.
Assinto. Meredith realmente estava mudando algumas coisas na minha vida, mas não da forma a qual Flora imaginava.
- Há um banheiro aqui, minha nora?
- Sim, na área da piscina.
Nos encaminhamos até lá e eu observei Meredith de pé em um canto da área da piscina, conversando com Lisa. A minha mãe não estava ali, provavelmente havia ido ao banheiro.
Guiei Flora até o banheiro ali e parei há poucos metros de distância de Meredith e Lisa.
Elas estavam quietas, assim que eu cheguei mais perto. Mas, assim que eu fiz menção de caminhar até Meredith, ouvi Lisa começar uma conversa com ela novamente, o que me fizera desistir da ideia de ir até ela.
- Você parece tão feliz, minha borboletinha! A Addison a trata de forma tão doce! Vocês são um casal lindo, Mer.
Mesmo sem conseguir a visualizar direito, eu vi Meredith sorrir.
- Ela é incrível. O jeito em que vocês se olham... A conexão que há entre vocês! Você sente, não é? - Lisa a questinou e Meredith sorriu novamente, assentindo.
- Addison é... Diferente. - ela comentou bebericando o seu vinho.
- Eu percebi. Aliás, eu e a sua mãe percebemos. Parece haver algo além de especial entre vocês. E nela. Com certeza nela. Aquela mulher possui algo mágico nela, Mer.
Meredith assentiu, sorrindo.
- Addison é especial. Diferente de todas as mulheres as quais vieram antes dela. Eu... Me sinto segura com ela. Sinto que ela me entende, verdadeiramente, você sabe... Além de você, da Flora...
- Eu sei, é especial. E eu fico tão feliz por isso, Mer! Que você... Finalmente esteja feliz, realizada! Você não sabe o quanto eu torci para que você encontrasse alguém assim como a Addison. E, principalmente, para que... Tudo aquilo ficasse para trás e você pudesse recomeçar. Me sinto a pessoa mais sortuda do mundo por poder acompanhar isso de perto.
Meredith apenas sorriu fraco, assentindo e eu pude sentir o ar ao seu redor mudar. Resolvendo não me fazer ser notada, eu me afastei dali, culpando-me por ter invadido a sua privacidade.
Me encostei na parede de vidro da outra piscina e suspirei, encarando o céu.
Aquelas duas palavras de Lisa rondavam a minha cabeça de forma repetitiva.
Tudo aquilo.
O que significavam aquelas palavras?
Tudo aquilo.
Tudo aquilo o quê?
O que diabos havia acontecido com Meredith?
E por que, o que quer que houvesse acontecido com ela, sempre era narrado como "tudo aquilo", "seu passado" e mais inúmeras outras expressões as quais cumpriam com o papel de mascarar completamente o seu passado.
Eu achava que a conhecia, mas eu estava começando a imaginar que não. Eu não conheço nem um porcento de quem Meredith é.
E isso me incomodava mais do que deveria.
Afinal, na teoria da papelada em que nos unia, a vida pessoal de Meredith não deveria me interessar, e muito menos a minha a ela.
Mas na prática aquilo se fazia completamente nulo.
Porque eu estava mais do que curiosa para descobrir o que de tão ruim havia acontecido na vida dela.
E eu, essa noite, acabei por quebrar uma das cláusulas do nosso contrato, ao solicitar a Alex um arquivo inteiro sobre toda a vida de Meredith antes de mim.
Eu estava errada, mas não conseguia me sentir culpada por aquilo, ou sequer pensar me auto-punir por ter quebrado aquela cláusula.
Afinal, as coisas na prática eram completamente diferentes.
- Tudo bem, minha nora?
Encarei Flora, a qual fizera o favor de me arrancar da minha introversão bruscamente e assenti, encarando o céu novamente.
- Preocupação com o trabalho? - ela insistiu.
- É, quase isso - comento assentindo. Na verdade eu não havia pensado em, sequer, qualquer coisa relacionada a algum dos meus dois trabalhos aquela noite inteira.
- Imagino. A Mer anda preocupada com você por causa disso. Você sabe... Com o fato de você trabalhar demais.
Suspirei.
- Não é nada demais. É algo dela, Meredith se preocupa demais com as coisas, além do normal.
Flora assentiu.
- É, mas ela se preocupa - ela deu de ombros - É um fato, não há como mudá-lo. A minha filha a ama, e, exatamente por isso ela se preocupa tanto.
Assenti, internamente sentindo o meu estômago se revirar com aquela frase.
Mesmo sendo impossível que aquilo fosse real, ainda me trazia aquela sensação ruim no estômago. Eu enojava profundamente imaginar-me sendo amada por alguém, romanticamente falando. E igualmente o inverso.
Eu definitivamente não havia nascido para aquele tipo de sentimento.
- Se me permite, Addison...
A encarei.
- Gostaria de a agradecer por hoje. Definitivamente foi a melhor noite que já tive desde que cheguei aqui. Na verdade... A melhor noite em que já tive em anos.
- Você não precisa agradecer, Flora. Fico satisfeita que tenha se sentido confortável.
Ela sorriu e eu observei-a erguer a sua mão, tocando a minha.
- Não, você não está me entendendo, minha nora. A comida estava ótima. A conversa foi maravilhosa. A sua casa é incrível. Você foi extremamente atenciosa conoco... Mas... Não é isso.
Franzi o cenho, sem entender sobre o que ela falava.
- Hoje... Eu tive a absoluta certeza de que a minha filha está mais feliz do que nunca ao seu lado. E eu sou mãe dela, a conheço melhor do que ninguém, ouso dizer que até mesmo melhor do que Ellis a conhece. A nossa relação sempre foi mais profunda. Ela não consegue fazer com que absolutamente nada passe despercebido por mim, nem mesmo a sua felicidade e completude. Devo a agradecer efetivamente por ser a responsável por isso. Você está fazendo muito bem a minha filha, isso é mais do que visível.
Engoli em seco, sentindo-me um pouco incomodada com aquilo.
Eu estava me sentindo mal por absolutamente tudo aquilo não passar de uma grande mentira. Flora realmente estava grata a mim por achar que eu e a sua filha realmente estávamos apaixonadas.
Isso deixou-me completamente desconfortável.
Quando eu escolhi Meredith para aquele contrato, eu não imaginei, em momento algum, que acabaria me sentindo desconfortável por mentir para a sua família sobre o nosso falso casamento.
Mas ali estava eu, diante da mulher a qual ela obtinha como mãe, sentindo-me extremamente suja por estar alimentando toda aquela mentira.
Portanto, resolvi ser sincera.
- Não estou fazendo nada, Flora. Eu...
Ela sorriu novamente, negando com a cabeça.
- Você está. Aceite isso. Havia algum tempo em que eu não via a minha filha rir da forma em que ela riu hoje. Ou... Olhar para alguém como ela olha para você. Ela está feliz, eu sei disso.
Assenti, encarando o céu novamente.
Eu não estava fazendo absolutamente nada por Meredith.
Mas eu poderia, talvez, fazer.
Afinal, eu já havia burlado uma das regras do contrato, por que eu não poderia burlar mais uma? Apenas mais uma?
Diante de tudo em que me fora informado desde que eu descobri que Meredith esconde algo, e que a sua vida não fora absolutamente nada como eu poderia ter imaginado, eu havia chegado a conclusão, naquele momento, de que eu poderia ser menos a sua sócia e mais... A sua mulher. Verdadeiramente.
Afinal, estava-se tornando cada vez mais impossível manter uma relação impassível com Meredith.
Ela não era daquela maneira. Não conseguia não se importar ou me tratar como a sua sócia.
Portanto, por que eu não poderia fazer o mesmo?
Por que eu não poderia ignorar parcialmente algumas cláusulas daquele contrato e apenas possuir uma relação normal com Meredith durante o tempo em que ficaremos juntas?
Não haviam desvantagens.
- Fico feliz que eu possa estar fazendo o mínimo em que ela merece. Meredith é especial. Portanto, você não deve me agradecer por absolutamente nada. Eu quem devo a agradecer, por todos esses elogios.
A vi sorrir ainda mais, assentindo e apertando a minha mão.
- Me agradeça continuando a fazê-la feliz da forma em que ela está. Se dedicando a ela da forma em que se dedica. A minha filha... - Ela suspirou, desviando o seu olhar e eu senti o seu sorriso mudar, gelar-se - Já passou por muito, Addison. A coisa em que ela mais merece é ser feliz. E eu agradeço que você entenda isso, mesmo não... Sabendo os motivos.
Assinto, desviando o meu olhar.
- Vocês já brigaram por isso? - a encarei novamente, buscando entender a sua fala - Pelo fato de... A Mer ser tão fechada a falar sobre os seus sentimentos?
Neguei com a cabeça.
- Eu também sou assim. Nós nos entendemos. - minto, dando de ombros.
Ela assentiu.
- Espero que um dia ela possa se abrir completamente para você.
- Eu também - respondo verdadeiramente, mesmo sabendo que aquilo não aconteceria.
Meredith poderia até confiar em mim, mas não àquele ponto.
- Atrapalho? - Meredith se aproximou de nós, nos observando minuciosamente. Seu olhar pousou sobre mim e, então, sobre Flora. Ela parecia curiosa.
- Com certeza não, querida. Eu e Flora estávamos apenas... - Encaro a minha sogra, em busca de ajuda, pois eu não fazia ideia do que responder.
- Conversando coisas de nora e sogra. - ela completou.
Meredith franziu o cenho para mim, encarando-me com o seu olhar cerrado.
Ela não havia acreditado naquilo. E eu tinha certeza que ela iria me indagar sobre assim que as nossas convidadas fossem embora.
Mas eu possuía tempo para inventar algo até lá.
Portanto, a puxei para mim, deixando um beijo rápido em seus lábios, envolvendo as minhas mãos na sua cintura.
- Vim as chamar para se sentarem conosco no sofá da piscina.
Assenti, começando a caminhar ao seu lado junto a Flora.
Lisa estava sentada em um dos sofás de apenas dois lugares ao lado da minha mãe, e as duas pareciam realmente terem se dado bem.
Me sentei no sofá maior ao lado de Meredith e Flora sentou-se também ali, ao lado esquerdo da sua filha.
- Com licença - Uma das empregadas viera até nós, trazendo-nos as nossas bebidas, as quais foram pedidas por Meredith.
Peguei o meu copo de Whisky e encostei-me no recosto do sofá, observando Meredith colocar uma almofada no abdômen de Flora, encostando-se ali, em uma posição a qual a permitia ainda tomar o seu vinho.
Ela me encarou e a vi sorrir, colocando uma das suas coxas por cima da minha.
A fim de a deixar mais confortável, coloquei a sua outra coxa sobre a minha, descansando a minha mão em uma delas.
- Você se casou com uma formiguinha folgada, minha nora! - Flora comentou e eu sorri, bebericando o meu whisky.
- Então, minha nora, você ainda não me contou como foi o primeiro dia de aula das nossas pequenas - A minha mãe se dirigiu a Meredith.
- Foi incrível, sogra. Elas estavam tão animadas! Choraram tanto! Ao fim do dia estavam mais do que ansiosas para o dia seguinte.
Minha mãe riu.
- E eu já estava buscando por academias de ballet na cidade para as colocar! Até mesmo pensei na Miller's, e iria conversar com você sobre isso.
Meredith sorriu.
- Acho que nada as fizera mais feliz do que isso. Elas já fizeram duas amigas na turma, estão extremamente felizes por isso.
- Eu imagino!
- Se você desejar assistir a alguma aula qualquer dia desses, elas ficarão extremamente felizes com a sua presença.
- E eu extremamente lisonjeada por esse convite! Com certeza irei.
- Com licença, senhoras. - Outra empregada aparecera, dessa vez, trazendo duas bandejas de petiscos.
- De que são os salgados, meu bem? - Meredith a questionou.
- O da esquerda Robalo, e o da direita Camarão, senhora Montgomery.
- Passe longe da direita, por favor! - Ouvi Flora dizer e Meredith assentiu.
- Sim, senhora! - ela pegou o Robalo e o comeu, franzindo o cenho. - Isso é o mesmo Robalo dos petiscos de entrada, querida?
- Sim, senhora.
Meredith assentiu, o depositando na mesa de centro e pegando doces.
- Não irá comer nada, amor?
Neguei com a cabeça, de acordo com a sua expressão comendo aquilo, ela não parecia nada satisfeita.
- Nem mesmo o de camarão?
Nego novamente, dispensando a empregada.
- Acho que ela ainda deseja beijar você essa noite, filha - Flora comentou, fazendo a minha mãe, Lisa e Meredith rirem.
- Pare com isso, Flora Miller!
- Estou apenas brincando!
Meredith revirou os olhos, comendo o seu doce.
- Hummm! Isso está divino!
- Grace os fizera? - a minha mãe perguntou, após concordar.
- Não, as avós de uma das minhas alunas. Elas têm uma fábrica de doces para bancar os estudos da neta, e, definitivamente, são os melhores doces em que eu já comi na vida, depois dos de Miranda, é claro.
- Hum! Falando nisso, elas levaram quantas caixas para você no dia da reunião de pais? - Flora a questionou.
- Duas.
- Por Deus! Você comeu uma caixa inteira apenas lá!
- Eu estava nervosa!
- Após as reuniões?
- Sim! Por favor, pare de me julgar. Precisei recorrer aos meus doces para descarregar o meu nervosismo.
Mordi o meu lábio inferior, contendo um sorriso e imaginando se faria ou não o comentário o qual havia passado pela minha cabeça.
Meredith percebeu, pois a senti me encarar com o cenho franzido.
- Algum problema, amor?
- Não, querida, nenhum.
- Diga!
- Eu apenas achei engraçado o fato de você unir doces a alienígenas na esperança de se fazer menos nervosa, apenas isso. Uma escolha... Realmente usual. Todas as pessoas fazem isso em seu cotidiano.
Ela gargalhou, alcançando a almofada em que estava encostada e, ficando novamente ereta no sofá, a jogou em mim.
Me esquivei, pegando a almofada, contendo um sorriso.
- Você se acha realmente muito engraçadinha, Addison Montgomery!
Um bico engraçado havia se feito presente em seus lábios, seus olhos estavam apertados, as suas bochechas coradas, ela segurava-se para não rir.
- Tenho meus momentos, querida - comentei deixando um beijo rápido em seus lábios, vendo-a sorrir, mas morder o seu lábio inferior logo em seguida.
Passei o meu braço pelos seus ombros, vendo-a tirar uma mecha de cabelo em que voava com o vento fraco em seu rosto e tirar uma das suas coxas de cima da minha. Ela se levantou minimamente, sentando sobre a sua outra perna, ainda mantendo sua outra coxa sobre a minha. A observei bebericar o seu vinho, depositando a sua outra mão livre sobre a minha em cima da sua coxa.
- O fato é: eu estava nervosa. E os doces me acalmaram, apenas isso.
- Você não me parecia nervosa. Nem um pouco nervosa, na verdade, Mer. Nem no início e muito menos no fim das reuniões. - Lisa comentou, fazendo Flora rir.
- Vocês duas estão com um complô contra mim, é isso?
- Com certeza não! Estamos sendo verdadeiras. - Flora comentou.
A encaro, um pouco confusa.
Era óbvio que Meredith estava nervosa naquele dia. Como elas não haviam conseguido perceber aquilo?
- Admita, filha, graças a sua amada esposa, você estava nada nervosa durante as reuniões.
Franzi o cenho, entendendo muito menos aquela frase.
- Do que você está falando, sogra? - a questiono.
- Oh, você não sabe? Você não a contou, Mer?
- Não há o que contar, mãe!
- Há sim! Bem... Quando ela chegou na sala dos professores estava um poço de nervosismo, assim que eu e Lisa nos retiramos para a sala de reuniões e ela ficou sozinha por... Vinte minutos? E fora depois nos encontrar, parecia outra Meredith! Estava plena, segura de si mesma e não a vi nervosa diante de nenhum responsável. Ela realmente estava confiante.
Encarei Meredith, realmente surpresa com aquilo.
A minha mensagem havia realizado aquele papel? Eu não acreditava muito naquilo. Afinal, eu não disse absolutamente nada demais. Apenas a desejei boa sorte e a fiz lembrar de que era capaz de performar aquela tarefa.
Não havia nada de especial na mensagem, para que pudesse a acalmar.
Mesmo que esse houvesse sido o meu desejo, ao mandá-la.
- Bem... Ela realmente estava nervosa antes de sair de casa - comento, ainda a encarando curiosamente. - A expressão "de arrancar os próprios cabelos" nunca se fizera tão real.
Meredith riu, batendo levemente na minha mão.
- Pare de me expôr, senhora Montgomery!
- Estou mentindo?
Ela cerrou o seu olhar.
- A sua filha acordou antes das cinco e foi para a academia. Isso já é um motivo de espanto.
- Addison! - Meredith bateu na minha mão novamente, fazendo-me morder o meu lábio inferior, contendo um sorriso.
Flora, Lisa e a minha mãe riram.
- Alguém ficará de castigo hoje... - a minha mãe comentou, bebericando o seu vinho.
- A colocarei para dormir no quarto de hóspedes! - Meredith comentou e eu ergui as minhas sobrancelhas, evidenciando a minha incredulidade diante daquele ato hipotético.
- Você não consegue dormir sem mim, querida. - comentei dando de ombros. Mesmo que aquele comentário fosse uma mentira, pareceu o certo a ser dito.
Afinal, nós estávamos apaixonadas.
Casais apaixonados não conseguem dormir um sem o outro, certo?
- Convencimento é o segundo sobrenome dos Montgomery, sogra? Porque a sua filha é o literal dessa palavra!
- Definitivamente, minha nora. Os três são, mas a Addie e o Mark...
- Principalmente a Addie! - Meredith comentou, fazendo-me conter um possível sorriso.
O meu apelido realmente caía perfeitamente bem na sua voz. Eu não poderia negar.
- Vocês duas são tão opostas! - A minha mãe comentou, bebericando o seu vinho.
- Oh, e como! Eu acho que de todas as poucas, mas existentes, mulheres as quais a Mer já se relacionou, a Addison é a que mais gera um contraste ao lado da Mer, não é, filha?
- Acho que sim - Meredith deu de ombros.
- Hum! A Addie e a... Qual era mesmo o nome dela? A sua primeira namorada, a skatista aventureira, Mer? - Lisa perguntou, fazendo-a rir, e eu apenas endireitei a minha postura, prestando atenção naquela conversa.
- Aurora - Meredith respondeu sorrindo.
- Que nome lindo! - a minha mãe comentou e Flora assentiu.
- Eu gostava dela. Apesar de ousada, era uma menina responsável. E realmente amava a minha filha. Você sabe que foi o grande amor da vida dela, não é, Mer? - Flora a questionou.
Meredith assentiu novamente, parecendo pensativa.
Aquilo me incomodou.
Senti algo insuportável parecer arranhar a minha garganta e parar ao meu estômago. Eu não estava absolutamente nada confortável naquela conversa.
- Aurora era... Realmente incrível. Diferente, mas incrível - Meredith comentou sorrindo.
Seus olhos estavam brilhando.
Que porra estava acontecendo ali?
Meredith ainda era apaixonada pela porra de um amor de adolescência?
O que aquele brilho estranho em seu olhar, junto àquele sorriso significavam?
Porra!
- Ok, eu acho que a Addie não está gostando muito do assunto - Flora comentou rindo - Me desculpe, minha nora. São apenas lembranças.
Assinto, afastando a perna de Meredith da minha.
- Irei ao banheiro - a comuniquei, me levantando e pedindo licença, me encaminhando até o banheiro da área da piscina.
Eu não sabia porque infernos eu estava sentindo raiva, mas eu estava.
Eu não deveria, mas estava.
Afinal, o que porra havia sido aquele sorriso e o brilho no olhar de Meredith?
Quem diabos era Aurora? E por que infernos ela havia se tornado uma pauta da conversa em um jantar em família?
Na verdade, por que caralhos eu me importava? Por que eu estava sentindo raiva de alguém em que sequer conhecia?
Ego, era esse o motivo?
Porque eu não conseguia imaginar Meredith ao lado de outra mulher além de mim mesma?
Era isso?
Porra!
Por que eu estava me questionando tanto?
A porra da pergunta principal era:
Quem caralhos era Aurora?
E por que ela ainda parecia ser alguém importante para Meredith?
...
Meredith Montgomery;
- Acha que ela ficou chateada, Mer? - Lisa perguntou confusa, assim que Addison ter saiu com uma feição estranhamente fechada, alegando estar indo ao banheiro.
Após Lisa relembrar a existência da mulher a qual havia sido... Mais do que apenas uma namorada, no meu passado.
Aurora! Quanto tempo havia em que eu não ouvia esse nome.
- Ah, não, Lisa, claro que não! A Addison não liga para essas coisas, fique tranquila.
- Não tenho certeza disso, minha nora - Beatrice comentou.
Eu dei de ombros, ainda me sentindo um pouco nostálgica diante daquele nome.
Era realmente incrível o quão as pessoas as quais passam pela nossa vida se tornam, ao longo do tempo, nada mais do que lembranças.
Sejam boas ou ruins, importantes ou não, mas, ainda sim, nada além de lembranças.
Aurora era, definitivamente, a mistura das duas tênues.
Eu a amei tanto!
Ela me amou tanto!
E, no fim, cá estava eu.
Cultivando, dentro de mim, apenas uma lembrança dela. Uma mulher a qual eu tanto amei.
Uma lembrança. Ela era, hoje em dia, nada mais do que aquilo.
Uma lembrança boa, em suma.
Mas, ainda sim, apenas uma lembrança.
Isso era mais do que estranho. Pensar dessa maneira era mais do que estranho.
Addison também seria uma lembrança. Daqui há alguns anos, eu a lembraria de forma boa, mas, ainda sim, apenas como uma lembrança.
Assim como Aurora. Assim como todas as outras.
Esse pensamento estranho acabou por me entristecer.
Lembranças de pessoas especiais eram dolorosas. Eu não gostava de pensar sobre isso.
Suspirei, resolvendo parar de pensar naquilo de vez.
Observei Addison caminhar até mim novamente e se sentar ao meu lado.
Analisei a sua expressão, ela parecia-me estranha, mas eu não poderia imaginar porquê.
- Tudo bem? - A questionei sussurrando em seu ouvido, vendo-a assentir. - Tem certeza? - ela assentiu novamente e eu senti o seu braço envolver os meus ombros e ela me puxar para mais perto.
Ela parecia estar bem.
Suspirei, sentindo o cheiro delicioso do seu perfume, um pouco mais acentuado aquela noite, e, desejando o sentir mais de perto, deitei a minha cabeça em seu ombro e pousei a minha mão na sua coxa, observando Lisa, Beatrice e Flora conversarem animadas.
Eu não tinha certeza se realmente deveria gostar da sensação extremamente boa em que era estar ali, deitada no ombro de Addison, sentindo a sua respiração extremamente calma e o seu cheiro ainda mais fresco.
Mas eu gostava. E não poderia negar aquilo.
Talvez fosse por eu gostar tanto do calor do toque, em geral, de pessoas as quais eu gostava, as quais me fizessem sentir segura.
Não havia nada de específico com Addison.
Era apenas um fato relativo meu, a minha forma de sentir outras pessoas.
Nada em que se restringia apenas a Addison.
Suspirei, resolvendo parar de pensar naquilo e me afastei rapidamente de si, chamando Eloise.
- Sim, senhora?
- Traga mais uma dose de whisky para Addison e mais uma taça de vinho para todas nós, por favor - peço-a, sentindo a minha garganta arranhar, por estar um pouco seca.
- Sim, senhora. Já trarei.
Assenti, a agradecendo e apenas continuei a observar a minha mãe, Lisa e a minha sogra conversarem animadamente, como se já conhecessem uma a outra há eras.
Eu nunca poderia imaginar, no início do meu casamento com Addison, que as nossas famílias se dariam tão bem.
E, ainda mais, que Addison se daria tão bem com a minha família.
A forma a qual ela e Flora pareciam haver se aproximado ainda mais, de uma maneira realmente desconhecida por mim, realmente me satisfazia.
Addison não parecia a tratar bem por obrigação. Ela realmente parecia gostar de Flora.
Esse fora o meu maior medo, que elas não se dessem bem.
Mas elas superaram as minhas expectativas.
Esse fato acabou por me fazer sorrir brevemente, encarando Addison.
Ela observava as nossas mães conversarem animadas, e também parecia satisfeita por elas terem realmente se dado bem.
Ela havia conseguido estar extremamente mais bonita aquela noite.
Ela estava completamente natural, sem qualquer tipo de maquiagem em seu rosto, e eu a preferia mil vezes daquela forma. Natural.
Seus cabelos estavam lisos e a sua franja caía milimetricamente bem estruturada ao redor do seu rosto, seus lábios estavam relaxados, ela parecia realmente relaxada.
Mas eu desejava a ver ainda mais relaxada, assim como havia, ousada e temerosamente prometido a ela mais cedo.
A minha promessa havia saído completamente não pensada por mim.
Apenas havia passado pela minha cabeça e eu disse.
E realmente me satisfaz a ver me encarar surpresa.
Eu estava começando a adorar descobrir outras expressões suas. A causar sensações diferentes, assim como ela fazia comigo.
Mesmo que eu soubesse que eu não obtinha absolutamente nenhum poder sobre as suas sensações, comparado a como ela possuía comigo.
Ela não precisava de muito para me surpreender.
Addison me encarou, parecendo curiosa com a minha breve observação e eu sorri, sentindo as minhas bochechas esquentarem por ter sido pega no flagra por ela.
- Tudo bem? - ela me indagou e eu apenas assenti, deitando a minha cabeça no seu ombro novamente e acariciei a sua coxa, sentindo-me brevemente ansiosa pelo momento em que ficaríamos completamente sozinhas, no nosso quarto.
Helm fora quem trouxera as nossas bebidas, a agradeci, pegando a minha taça de vinho e o whisky de Addison e a dispensei.
- Ok... Então começaremos na segunda, certo? - Ouvi Beatrice perguntar para Lisa, que assentiu.
- Estou tão ansiosa! - Lisa comentou e eu franzi o cenho, sem entender sobre o que elas falavam.
- Mãe? Sobre o que Bizzy e a Lis estão falando? - questionei Flora, que sorriu.
- Elas irão fazer pilates juntas. Começarão na segunda.
Sorrio, realmente satisfeita.
- Isso é... Incrível! Bizzy realmente precisa disso.
Flora assentiu.
- Será bom para as duas. Lisa está um poço de nervosismo esses dias.
- Eu a entendo.
- Vocês duas são mais parecidas do que eu gostaria.
Sorrio para ela.
- Exatamente por isso que nós duas somos os amores da sua vida!
Ela revirou os olhos em falso tédio.
- A sua tia destrambelhada estará de volta na sexta - Ela comentou, bebericando o seu vinho.
- Ainda não entendi por que a Ella viajou para Paris tão repentinamente. Eu nem tive tempo de a ver!
- Como se isso fosse algo anormal para alguém tão irresponsável quanto a Ella.
- Pare já com isso, Flora Miller.
Ela revirou os olhos.
- Pare de ser tão ranzinza! - sussurro, deixando um beijo na sua bochecha.
- Amanhã estarei menos chata. Apenas preciso de um pouco da minha dose de calmante, mas ela parece nada interessada em ir embora agora.
Eu ri.
- Flora! Deixe-a conversar o quanto ela quiser. Ela e Bizzy se deram extremamente bem. Aproveite isso.
- Já são onze e meia, filha! Nós realmente precisamos ir. Amor? - Flora chamou a atenção de Lisa, que a encarou.
- Sim, meu bem?
- Já são quase meia noite. Precisamos ir.
- Oh, mas já? O tempo passou tão rápido!
Beatrice concordou, também sinalizando que precisaria ir.
- Filha, vocês possuem algo marcado para o almoço sábado? - Bizzy questinou Addison, que negou com a cabeça.
- Por ora não, mãe.
- Ok, espero vocês quatro na minha casa no sábado para almoçarmos juntas. Mark chegará na sexta a tarde, quero que conheçam melhor o meu filho mais velho, Flora apenas o viu no meu aniversário, mas havia tanta gente lá!
Lisa e Flora concordaram, parecendo animadas para aquilo.
Eu e Addison nos levantamos e, enquanto eu conversava com Flora sobre trivialidades da academia, Addison, a sua mãe e Lisa conversavam sobre algo em que eu não me atentei em perceber.
Nós chegamos até a escadaria de entrada da nossa casa e eu solicitei a Helm e Eloise que pegassem as bolsas de Lisa, Flora e Beatrice.
- Muito obrigada por tudo, minha nora, a noite foi uma delícia! As aguardo na minha casa no sábado, ok?
Assenti, abraçando a minha sogra apertado, deixando um beijo no seu rosto.
- Obrigada a você por tudo, sogra. Mande-me mensagem para dizer que chegou bem, ok?
Ela assentiu, cumprimentando Addison, Flora e, por fim, Lisa.
As duas terminaram de acertar a sua ida ao pilates na segunda e Beatrice entrou no seu carro, nos cumprimentando e dando partida no mesmo, sendo seguida por mais dois carros atrás de si.
- Mer, estava tudo incrível! Muito obrigada pelo convite, você não sabe o quão fizera eu e a sua mãe felizes!
Sorrio, abraçando Lisa.
- Eu quem agradeço pela presença e pela noite maravilhosa, Lis. Nos vemos amanhã, certo?
- Com certeza - ela respondeu e eu observei Flora abraçar Addison, sussurrando algo em seu ouvido.
A minha mulher assentiu, a agradecendo pela presença e a lançando um sorriso fraco, mas verdadeiro.
Lisa a cumprimentou logo em seguida e Addison repetiu o ato para com ela.
- Carter - a observei chamar o, agora, meu segurança, enquanto se aproximava de mim, envolvendo a minha cintura com o seu braço - Peça para que dois seguranças as acompanhem até o apartamento delas e volte logo em seguida.
- Ah, não, Addison por favor, não há necessidade disso! - Flora discordou. E eu sabia que aquilo não daria em absolutamente nada. Não adiantava discutir com Addison sobre aquilo. Não sobre aquilo.
- Há toda necessidade, sogra. Por favor, não discorde.
- Ossos do ofício, mãe - comento, dando de ombros.
Ela negou com a cabeça sorrindo e nos despedimos novamente.
As observei, parada ao lado de Addison, entrarem em seu carro e Flora dera partida. Uma Mercedes atrás delas fizera o mesmo, saindo junto a elas.
Suspirei, abraçando o meu próprio corpo e subi as escadas ao lado de Addison.
- Bem... Ao fim, estamos bem, não tivemos nenhuma intoxicação alimentar, a sobremesa estava até que gostosa e... O seu whisky, estava normal? - a questiono, curiosa.
- Sim, mas não por mérito de Grace. Não fora ela quem o preparou. - Ela comentou abrindo a porta com a sua digital.
- É, justo - dei de ombros, entrando ao seu lado - Mas ocorreu tudo bem. Não foi um desastre, como eu imaginei que seria.
Addison assentiu.
- Você irá subir agora? - A questinei, vendo-a assentir novamente. - Irei apenas na cozinha agradecer a Grace pelo jantar.
- Sabe que não precisa...
- Eu sei - a cortei, assentindo - Mas sinto que devo. Quero a conquistar, de alguma forma. A fazer gostar de mim. E se Miranda estivesse aqui, eu faria o mesmo.
Ela assentiu e eu me aproximei, deixando um selinho em seus lábios e, então, a encarei, sentindo as borboletas de sempre mostrarem-se completamente presentes em meu estômago.
- Pode esperar por mim? - A questiono, vendo-a morder o seu lábio inferior, assentindo.
- Não demore - ela murmurou, encostando os seus lábios aos meus novamente, mordendo o meu lábio inferior.
- Não irei - respondi, a observando caminhar até as escadas.
Mordi o meu próprio lábio inferior, contendo um sorriso e me dirigi até a cozinha, vendo Grace, Eloise e Helm a organizarem.
- Com licença, me perdoem as atrapalhar.
Os seus olhares pairaram em mim.
- Em que posso a ser útil, Madame Montgomery? - Grace questinou-me seriamente.
Sorrio, um pouco nervosa.
- Em nada, mas obrigada, querida. Apenas gostaria de as agradecer pelo jantar de hoje. Estava tudo muito bem feito. E principalmente a você, Grace, muito obrigada - Toquei o seu braço, o acariciando levemente e, então, afastei a minha mão.
A sua expressão séria não mudou, ela apenas me encarou ainda mais seriamente, apenas assentindo. Meus pelos se se arrepiaram em temor, seu olhar me causava medo.
- Não é necessário que agradeça, Madame. Não fizemos nada além da nossa obrigação.
Assinto, sentindo-me um pouco chateada por aquilo.
Ela realmente parecia não gostar de mim. Eu só não sabia o porquê.
- Helm, querida, você pode, por favor, pegar um pote pequeno de sorvete de morango no freezer para mim?
- Claro, senhora! - A observei prontamente o fazer. - Quer uma taça? Uma colher? Ou...
- Uma colher, apenas. Por favor, querida.
Ela assentiu sorrindo e me entregou o pote e a colher.
- Obrigada - a agradeci.
Grace voltara aos seus serviços e eu mordi o meu lábio inferior, um pouco curiosa para saber o que os outros empregados estavam achando dela.
- Helm, pode me acompanhar até a sala, por favor? - a perguntei, vendo-a assentir rapidamente e me acompanhar.
- O que deseja, senhora Montgomery? Em que posso ser útil? - um sorriso realmente satisfatório enchia o seu rosto, eu gostava tanto daquela garota!
Olhei para os dois lados, me certificando de que estávamos sozinhas.
- O que você está achando de Grace? - a questiono, vendo-a franzir o cenho.
- Ah, bem... Ela é... - ela se embolou na sua fala, parecendo temerosa.
- Seja sincera comigo, por favor. Apenas quero saber se... Você pensa o mesmo em que eu.
Ela suspirou.
- Ela é um pouco séria demais. E um pouco... Mandona demais. Eu, pessoalmente, prefiro a Bailey. Mas... Bem... Eu tenho a Miranda como uma mãe, então não sei... E não tenho desejo de... De... Falar mal dela, eu apenas...
- Entendo. Também penso o mesmo. Acho que ela não gosta muito de mim.
Ela riu.
- Ah, senhora Montgomery! Isso é impossível! É impossível não gostar da senhora! A senhora é... É... Doce... É... Linda e... E... Engraçada e... E... É impossível. Ela é apenas chata.
Eu ri, mordendo o meu lábio inferior.
- Você não existe, Helm! Obrigada pelos elogios, mas eu realmente acho que não, ela não gosta de mim - dou de ombros - Não sei por quê.
- Fique tranquila, daqui há poucos dias Miranda estará de volta!
- Ah, eu espero! Sinto tanto a falta da Miranda! Essa casa não é a mesma sem ela.
- Definitivamente não, senhora.
- Pode voltar agora, querida. Muito obrigada por tudo essa noite. Você foi excepcional!
Ela sorriu e eu vi as suas bochechas corarem.
- Obrigada, senhora. Se... A senhora me permite dizer... - Assenti, curiosa - A senhora está linda nesse vestido. Combinou muito com a senhora.
Sorrio, realmente satisfeita com aquele elogio, acariciando o seu braço.
- Obrigada, meu amor. Agora vá descansar.
Ela assentiu e eu caminhei até as escadas, começando a subi-las até o meu quarto, ainda me questionando o por que Grace parecia não gostar muito de mim.
Adentrei o meu quarto, vendo Addison sentada na nossa cama, mexendo no seu celular, já sem as suas sandálias e com os seus cabelos presos em um coque bagunçado.
- É, ela definitivamente não gosta de mim! - comento suspirando.
- Meredith...
- Eu estou falando a verdade! A forma a qual ela me olha... Eu sinto medo do olhar dela!
- Meredith, ela é sua subordinada, e não o contrário.
- Eu sei! Mas... - suspiro - Ela me olha de forma tão... Oh, céus! Que saudades da Miranda! Sinto como se, a cada dia em que se passe, o vazio que existe em mim sem a Miranda aumentasse. Por favor, não a dê férias mais esse ano, eu não vou suportar!
- Meredith, faltam apenas quinze dias. E iremos para Los Angeles esse fim de semana, segunda e terça serão feriados, estaremos lá. Conte como quatro dias a menos. Ou seja, onze dias para que Miranda volte.
Sorrio, realmente satisfeita.
- Iremos para LA? - pergunto, mal conseguindo conter a minha felicidade.
Ela assentiu.
- Se você não possuir nenhum compromisso no feriado com a academia.
- Não possuo. Oh, graças a Deus! Iremos comer a comida deliciosa de Sarah! E sábado a de Marina! Essa é, definitivamente, a melhor semana da minha vida! - comento, sem conseguir conter um riso de extrema felicidade.
Senti Addison me encarar e a observei.
Ela mordia o seu lábio inferior e realmente me observava com atenção, o que me fizera esquecer completamente da minha chateação com Grace e da minha extrema felicidade em irmos para Los Angeles.
Mordi o meu lábio inferior, caminhando até o frigobar e colocando o meu sorvete ali.
Ele poderia esperar. A minha mulher, sentada na nossa cama me encarando daquela maneira após um dia estressante e provavelmente decepcionante em algum âmbito o qual eu desconhecia, não.
Sorri, tocando o tecido do meu vestido e o puxando por mim mesma, o tirando.
Vestindo apenas um conjunto de lingerie branca, caminhei até ela, sem conseguir desviar o meu olhar do seu.
Eu havia esperado a tarde e a noite inteira por aquele momento.
O meu corpo gritava por ela. De todas as maneiras possíveis.
Assim que me fiz perto o bastante para estar em pé no meio das suas pernas, toquei os seus ombros, apoiando um dos meus joelhos ao lado do seu corpo.
Senti as suas mãos me puxarem com força para si, fazendo-me ficar completamente sentada em seu colo.
Sem mais preliminares, do jeito em que eu realmente amava, Addison me beijou intensamente, fazendo-me realmente esquecer de absolutamente tudo em que rondava a minha cabeça a segundos antes, assim em que a sua língua adentrou a minha boca e tocou a minha.
Gemi baixo, assim que senti as suas unhas arranharem as minhas nádegas e desfiz o seu coque, sentindo-a tirar o meu sutiã.
Afastei os meus lábios dos seus e abri os meus olhos, me afastando brevemente para conseguir desabotoar a sua camisa social branca, sob o seu olhar quente ao meu.
Tirei a sua camisa, fazendo o mesmo com o seu sutiã e senti os seus lábios envolverem os meus seios de maneira deliciosa, a qual me fizera, no mesmo momento, jogar a minha cabeça para trás, a fim de aproveitar ainda mais daquela carícia extremamente deliciosa realizada pela sua língua.
Ela fizera o mesmo para com o meu outro seio e a senti subir os seus lábios para o meu pescoço.
- O que é isso? - ela sussurrou em meu ouvido, distribuindo beijos pelo meu pescoço.
- Isso... O quê? - Sussurrei de volta, sentindo a minha voz extremamente rouca.
- Seu pescoço. Está vermelho.
- Não é nada demais. Agora... Tire a sua calça, por favor - Murmurei levando as minhas mãos até o cós da sua calça, a desabotoando.
Me afastei do seu colo, vendo-a se levantar e fazer o que pedi, ficando apenas de calcinha.
Eu sorri, sentindo o meu coração pulsar de maneira deliciosa em demonstração a ansiedade a qual eu sentia por a ouvir gemer deliciosamente para mim.
Me ajoelhei diante de si, mordendo o meu lábio inferior, sem conseguir parar de e a encarar.
Abri as suas pernas um pouco mais, para que eu pudesse me colocar entre elas e sorri novamente, sentando-me sobre os meus calcanhares e levando os meus lábios até a sua intimidade, coberta pela calcinha.
A vi fechar os seus olhos e arfar para mim, segurando firme em meus cabelos.
Encostei o meu nariz na sua calcinha e suspirei, sentindo o seu cheiro delicioso me inebriar por completo.
- Sente-se mais para frente, por favor - Sussurrei para ela, vendo-a fazer o que pedi, sentando-se mais para frente.
Sorri, ficando ajoelhada novamente no nosso carpete e levei os meus lábios até os seus seios, observando cada expressão sua.
Addison entreabriu os seus lábios minimamente, arfando novamente para mim.
O mesmo aconteceu quando repeti o meu ato em seu outro seio e desci vagarosamente os meus lábios em beijos sutis pelo seu abdômen bem definido, suas coxas e, então, novamente, a sua intimidade.
Puxei a sua calcinha, vendo-a se levantar minimamente para que eu a tirasse e sorri, mordendo o meu lábio inferior ao perceber o quão Addison estava encharcada para mim.
A senti segurar os meus cabelos com força e, então, eu fechei os meus olhos, encostando os meus lábios em si.
Vagarosamente, como ela gostava, comecei a utilizar a minha língua em movimentos ritmados, mas vagarosos, me concentrando em sentir o seu gosto extremamente delicioso em meus lábios e em a ouvir gemer baixo para mim, abrindo mais as suas pernas.
Desejando mais contato, agarrei-me as suas nádegas, as acariciando enquanto me concentrava em a dar prazer da melhor forma em que eu conseguisse.
Senti os efeitos dos seus gemidos baixos eclodirem na minha intimidade em que não somente pulsava, mas doía por desejar a sentir.
Eu nunca me imaginei sentir tanto prazer em apenas fazer alguém sentir. Definitivamente.
Mas Addison era diferente, e eu já sabia disso.
A senti arranhar o meu couro cabeludo e sorri, continuando naquele ritmo, a sentindo cada vez mais próxima do seu orgasmo.
Abri os meus olhos, a observando.
Seus cabelos caíam ainda ondulados pelo coque ao redor dos seus ombros, seus lábios estavam entreabertos e ela ora arfava, ora gemia deliciosamente para mim.
Eu, definitivamente, poderia a observar daquela maneira por horas e horas á fio.
Addison era dolorosamente linda. As suas expressões, os seus lábios finos entreabertos para mim, gemendo para mim. O suor começando a se fazer presente em seu corpo, seus músculos completamente enrijecidos, seu abdômen definido extremamente contraído, sua pele avermelhada.
Eu me sentia a mulher mais sortuda do mundo por estar casada com quem era, para mim, a mulher mais linda e mais atraente em que qualquer pessoa no mundo desejaria ter a mesma sorte em que eu.
Tirando-me dos meus pensamentos, senti-a começar a se retrair em meus lábios e sorri, a adentrando com a minha língua.
Seu ápice chegara e eu a encarei novamente, observando-a gemer deliciosamente para mim, entreabrindo ainda mais os seus lábios, enquanto estremecia em um orgasmo delicioso ao redor da minha boca e puxava os meus cabelos deliciosamente, fazendo-me pulsar de forma desesperada por ela.
Addison abriu os seus olhos, me encarando ainda entre as suas pernas e eu afastei a minha boca de si, limpando os meus lábios com a minha língua e o canto dos mesmos com o meu dedo.
Ela segurou a minha mão, fazendo-me levantar e, sem perder tempo, tirou a minha calcinha completamente encharcada.
Eu fechei os meus olhos, sentindo o meu líquido escorrer por uma das minhas coxas e Addison me puxou para que eu me sentasse em seu colo novamente.
Eu o fiz, já sem conseguir pensar em absolutamente mais nada, mas apenas em o quão eu estava pulsando por ela, de forma terrivelmente agoniante.
Com força.
Eu precisava dela com força dentro de mim, preenchendo-me por completo.
Addison me deitou na nossa cama, ficando por cima de mim e eu joguei a minha cabeça para trás, gemendo roucamente assim que senti a sua coxa se esfregar na minha intimidade completamente encharcada.
Eu precisava dela. Com força.
- Addison... Por favor! - a puxei para mais perto, beijando os seus lábios e senti a sua coxa dar lugar aos seus dedos, os quais me tocaram lentamente. Ela parecia sentir o quão molhada eu estava, ao ponto de poder estar sujando a nossa cama. Mas eu não me importava com aquilo.
- Você está encharcada para mim - ela sussurrou em meu ouvido, mordendo o nódulo da minha orelha - Completamente encharcada para mim, Meredith Montgomery.
Eu já não conseguia respirar direito. Engoli em seco, sentindo a minha garganta arranhar.
- Addison... Por favor - Sussurrei novamente, já não mais suportando aquela tortura.
- Diga-me como você quer - ela sussurrou de volta, passando a sua língua lenta e deliciosamente pela minha orelha - Diga como quer, e eu farei.
Engoli novamente em seco, arranhando as suas costas.
- Com força - Murmurei de volta, sem qualquer tipo de temor - Quero... Quero que você faça com força. Como sempre. Por favor.
- Você não precisa pedir por favor - ela sussurrou novamente em meu ouvido e, sem que eu sequer conseguisse raciocinar a sua fala, a senti me invadir com três dos seus dedos com força, fazendo-me gemer alto com a sensação deliciosa de dor misturada a prazer a qual me preencheu por completo.
Envolvi a sua cintura com as minhas pernas e me alienei em senti-la me estocar da maneira a qual ela sabia que eu amava.
Os meus gemidos tornaram-se incontroláveis, enquanto eu sentia a sensação deliciosa que era a de ser preenchida por ela, apenas por ela.
Os seus seios roçando-se aos meus, a sua respiração descompassada em contato com o meu pescoço, enquanto ela se concentrava em, provavelmente, marcar a minha pele pálida com os seus lábios.
Sua boca desceu até o meu ombro, onde eu a senti o morder levemente e, no mesmo momento, massagear-me em meu ponto em que pulsava pela sua atenção, enquanto me estocava com força.
O seu nome tornou-se um mantra em meus lábios, conforme eu ansiava pelo meu orgasmo, em que já dava indícios de aparecer.
Senti os lábios de Addison encostarem-se aos meus e os entreabri para que a sua língua completasse o incrível trabalho de me inebriar ainda mais para as sensações que apenas ela era capaz de me proporcionar.
Fechei os meus olhos com força, jogando a minha cabeça para trás assim em que comecei a sentir o meu ápice chegar e arranhei as suas costas com força, sem me importar se ficariam marcas ou não.
A ouvi gemer baixo em meu ouvido e, então, para a minha completa confusão, a senti parar.
- A... Addison! O... O que... O que você... - abri os meus olhos, dando de cara com os seus, que me observavam de forma deliciosa.
Sem que eu conseguisse dizer qualquer coisa além, a senti afastar as minhas pernas da sua cintura e, sem que eu esperasse, me virar de bruços, beijando as minhas costas.
- Fique de quatro para mim - ela sussurrou, fazendo-me contrair para si e, então, eu o fiz, me surpreendendo ao senti-la segurar as minhas mãos delicadamente nas minhas costas, desfazendo o meu apoio, deixando-me completamente imóvel, apenas com o meu quadril erguido para si.
Sem que eu conseguisse pensar em qualquer outra coisa, Addison me invadiu com seus dedos novamente, dessa vez, com mais intensidade e, tendo-me ainda mais acessível para si, ela começou a me estocar novamente da forma em que eu amava.
Entreabri os meus lábios contra o seu travesseiro, gemendo alto e repetidamente o seu nome enquanto acompanhava os seus movimentos, sentindo-me completamente agoniada em não poder descontar a sensação incrível em que eu estava sentindo nela, em sua pele, em seu corpo, o que fizera-me não obter absolutamente nada para alienar-me da intensidade demasiada daquela sensação.
Senti o meu coração bater ainda mais fortemente e o meu corpo começar a dar indícios de que o meu ápice estava a vir.
Mas, assim que senti o meu orgasmo me tomar de maneira a qual eu senti, por milésimos de segundo, que iria desmaiar, um gemido alto e extremamente rouco escapou da minha garganta, carregando o nome da única pessoa a qual poderia ser a responsável por aquele ato, o meu corpo inteiro estremeceu e, após eu sentir os efeitos daquele orgasmo descerem pelas minhas coxas e molharem o lençol, eu não mais consegui me manter naquela posição e caí deitada novamente, sentindo como se o nosso quarto estivesse inteiramente girando.
Fechei os meus olhos com força, sentindo Addison depositar um beijo nos meus cabelos e, então, no meu pescoço, saindo da cama logo em seguida.
Ainda me sentindo tonta e sem forças, suspirei, sentindo o meu peito arder e o meu estômago se revirar diante do pensamento o qual eu obtive, no mesmo momento em que ela se levantou.
Eu desejava que ela não o fizesse. Que continuasse deitada ao meu lado para que eu sentisse a segurança em que emanava do calor do seu corpo.
Eu sabia que não poderia querer aquilo.
Não poderia querer que Addison continuasse na nossa cama após o sexo, porque ela não possuía nenhuma obrigação naquele sentido para comigo.
Portanto, apenas resolvi esquecer aquele pensamento bobo e suspirei, ainda sem forças para conseguir me levantar.
Eu estava me sentindo momentaneamente estranha.
A minha garganta doía e parecia completamente seca, a minha pele estava extremamente quente e eu sentia o meu peito subir e descer de maneira quase desesperada por ar, em claros efeitos do ápice extremamente avalassador em que Addison havia me feito chegar.
Respirei fundo, virando-me de barriga para cima, esperando que aquela sensação passasse.
Após alguns minutos, senti o cheiro extremamente fresco de Addison adentrar o quarto e respirei fundo, abrindo os meus olhos.
- Pode ligar o ar condicionado? - a questinei, observando-a vestir uma calça jeans preta e uma blusa da mesma cor. Ela não iria dormir agora?
Ela assentiu e eu respirei fundo novamente, me levantando.
Prendi os meus cabelos em um coque bagunçado e comecei a retirar os travesseiros da cama para trocar aquele edredom sujo.
- Eu troco, vá tomar seu banho.
- Ok, obrigada - a agradeci, caminhando até o banheiro e resolvi tomar um banho gelado e demorado.
Cuidei da minha pele e lavei os meus cabelos, saindo enrolada em um roupão logo em seguida.
Sequei os meus cabelos, os deixando completamente lisos e fui até o closet.
Vesti apenas uma calcinha preta e uma camisola da mesma cor, voltando até o quarto.
Addison estava sentada no sofá, de frente para o seu MacBook.
- Você não irá dormir agora? - a questinei, vendo-a negar com a cabeça.
- Tenho uma reunião daqui há alguns minutos, é importante.
Assenti, indo até o frigobar.
Alcancei uma garrafinha de água e tomei um pouco, sentindo aquela sensação horrível na minha garganta me incomodar de forma insuportável.
- Eu estava pensando... - Chamei a sua atenção, a vendo me encarar - O que acha de fazermos um trato com a sua mãe? De jantarmos com ela pelo menos uma vez na semana? Acho que ela ficaria feliz com isso.
Mordi o meu lábio inferior, um pouco temerosa diante da sua reação.
Mas Addison apenas assentiu.
- Também acho. Marque com ela todas as sextas. Menos essa, porque iremos jantar com a sua mãe.
Sorrio, assentindo.
- Irei marcar. Ela irá ficar tão feliz!
Addison assentiu, ainda concentrada no seu computador.
Me sentei na nossa cama, alcançando o meu MacBook e abri o Google, tendo, como primeira coisa estampada na tela do mesmo, uma foto minha e de Addison hoje pela tarde, em frente ao restaurante em que éramos sócias.
Abri a matéria, vendo ser apenas um grande texto sobre o quão eu e Addison éramos o casal mais badalado dos Estados Unidos no momento.
Mas nada daquilo me prendeu.
Apenas as fotos tiradas nos momentos em que eu consertava a gola vergonhosamente torta do seu blazer e a beijava.
Nós realmente pareciamos um casal de verdade. Realmente pareciamos apaixonadas.
O mais curioso havia sido o fato de eu sequer ter percebido que aquelas fotos estavam sendo tiradas, e de que eu sequer havia encenado algo ao lado de Addison hoje.
Todas as piadas as quais eu a dirigi, ou todos os meus toques, ou, até mesmo, reações ao seu lado, foram completamente genuínas.
Eu estava confortável ao lado dela, não havia como negar isso.
Addison me trazia segurança.
Sorri, negando com a cabeça e salvei aquelas fotos, saindo daquela matéria.
Fingir estar apaixonada por Addison não estava sendo absolutamente nada difícil.
Não como era antes de eu começar a conhecer verdadeiramente.
Fechei o meu MacBook e me levantei novamente, levando o meu corpo de água até o frigobar.
Observei Addison completamente imersa no seu MacBook, ela havia colocado os seus óculos de grau e lia algo ali extremamente concentrada.
- Quando você terminar aí... Tente descansar um pouco, está bem?
Ela me encarou, assentindo.
Tomando coragem, me aproximei de si, apoiando um dos meus joelhos no sofá e aproximei o meu rosto do seu, deixando um selinho em seus lábios.
Addison me encarou novamente e eu mordi o meu lábio inferior, vendo-a encostar os seus lábios aos meus novamente, fazendo-me fechar os meus olhos no mesmo instante.
A sua língua adentrou os meus lábios e eu toquei o seu pescoço, buscando por mais contato, enquanto a sentia apertar a minha cintura.
Assim que o ar me faltou, um pouco mais rapidamente do que sempre era, eu me afastei de si, deixando um selinho em seus lábios, sentindo o meu peito arder em busca de ar.
- Boa noite, Addison - Sussurrei para ela, tentando esconder a sensação estranha e ruim em que pairou sobre mim naquele momento.
- Boa noite, Meredith. Durma bem.
- Obrigada, bom trabalho.
- Obrigada.
Sorri, me afastando e caminhei até a nossa cama novamente, tentando respirar normalmente.
Desliguei o meu abajur e abracei o meu travesseiro, me cobrindo.
Fechei os meus olhos, sentindo aquele mal estar estranho, composto por uma falta de ar inusual e algo estranho parecer queimar o meu peito e, após alguns minutos revirando a cama, eu consegui pegar em um sono de qualidade extremamente péssima, em função do meu cansaço.
...
Addison Montgomery;
- Mark, não teste a minha paciência! Diga, o que você acha dessa proposta? - o pergunto já sem paciência, encarando a hora.
Quase três da manhã. Eu já sentia a impaciência derivada do meu cansaço tomar-me por completo, após duas horas á fio em reunião com os possíveis investidores asiáticos. E Mark não estava ajudando em absolutamente nada sendo a porra do pé no saco de sempre.
- Ok, ok, maninha! Eu acho que você deveria mandar a Amy ir, já que ela é a sua favorita e a mais responsável e blá blá blá. Eu poderia ir para África e cuidar de tudo lá pessoalmente, já que é bem menos responsabilidade.
Suspiro, realmente considerando aquela opção.
Amélia era a única em que conseguiria fazer vista grossa na empresa em que desejava uma parceria com a Montgomery's no Japão.
- Irei pensar melhor nisso. Sábado irei para a casa da mamãe e entraremos em reunião. Eu, você e Amélia.
Ele assentiu.
- A Mer está bem?
- Sim, está. Irei dormir, me mande os relatórios da empresa por e-mail.
- Ok, boa noite, estrelinha mais linda e emburrada do meu céu - ele falou ironicamente e eu revirei os olhos, desligando a chamada.
Respirei fundo, fechando os meus olhos e soltei os meus cabelos do coque em que eu havia os prendido, sentindo a minha cabeça doer de forma insuportável.
Fechei a tampa do meu MacBook, o deixando em cima da mesa no canto do meu quarto.
Me levantei, indo até o frigobar e peguei o copo em que Meredith havia tomado água, colocando um pouco ali para mim.
Caminhei até a minha cama e me sentei, abrindo a gaveta do meu móvel de cabeceira, tentando encontrar o meu remédio.
O tomei, bebendo a água e deixei o copo em cima da mesa, pegando o meu celular.
Respirei fundo, me encostando na cabeceira e verifiquei a minha caixa de e-mails, abrindo o que Mark havia acabado de me enviar.
Impedindo-me de começar a ler aquele documento, eu me atentei ao ruído esquisito em que havia saído de Meredith e a encarei.
Ela dormia, inusualmente, virada para mim, abraçando o seu travesseiro e roncava ainda mais pesadamente do que o normal.
Franzi o cenho, ao observar o seu rosto com algumas manchas pequenas minimamente vermelhas e o toquei, sentindo-o um pouco quente.
Estranhei aquilo, sentindo-me momentaneamente preocupada, mas, assim em que o meu celular tocou, eu desviei o meu olhar de si, vendo o nome de Alex na tela.
- Diga, Alex.
- Senhora, acabei de chegar na sua casa. Carter foi descansar e eu queria saber se amanhã irei acompanhar a senhora ou a sua esposa.
- A minha esposa. Carter vem comigo. Solicitou para a equipe de TI o que eu pedi?
- Sim, senhora. Extrema confidencialidade, fique tranquila. Logo estará em suas mãos.
- Ok. Luke está bem?
- Sim, está. O deixei dormindo junto a minha mãe e a babá, ele está bem.
- Ok. Tente descansar, até amanhã.
- Até, senhora. Durma bem.
- Igualmente.
Desliguei a chamada, rapidamente lembrando-me de ordenar a Kepner que enviasse alguns arquivos em que Amélia iria necessitar no dia seguinte, logo pela manhã.
Suspirei, indo até o meu MacBook e o trouxe até a cama, tentando achar os arquivos em que eu havia analisado e refeito no dia anterior.
Assim que me preparei para fazer uma pasta com apenas aqueles documentos, ouvi Meredith roncar alto e a encarei novamente, a vendo virar-se para o outro lado.
Neguei com a cabeça, me perguntando em como um ser tão pequeno poderia produzir um barulho tão alto e suspirei, voltando novamente para o meu MacBook.
Mas, no mesmo segundo em que o meu olhar pousou sobre a tela, eu a ouvi roncar alto novamente, parecendo puxar uma alta carga de ar, revirando-se na cama.
Ela não parecia normal, o que me fez rapidamente deixar o meu computador de lado, e, me erguendo sobre ela preocupada, toquei o seu pescoço, sentindo-a extremamente frio e me alertei.
- Meredith? - a balancei, tentando a acordar e tentando não me exaltar.
Ela apenas poderia estar tendo algum sonho ruim, aquilo poderia ser nada demais.
A vi se remexer na cama e, sem que eu esperasse, ela se levantou rapidamente de supetão, apertando o meu braço contra a sua mão.
Meu coração pareceu querer pular do meu peito.
- Add... Addi... Addison.
Senti o desespero tomar conta de mim ao vê-la inteiramente vermelha, agonizando tentando puxar ar.
- Meredith! O que está acontecendo? Fale comigo, Meredith!
Ela me encarou com olhos completamente espantados e inteiramente vermelha.
- Eu... Eu não... Eu não consigo respi... Eu... Eu...
A senti me apertar com força, e me encarar com desespero, enquanto se debatia a procura de ar.
Sentindo o desespero tomar conta do meu corpo, e sem conseguir pensar me qualquer outra coisa, tirei o edredom do seu corpo e envolvi os meus braços nas suas pernas e nas suas costas, a pegando em meu colo.
- Se acalme, se acalme! - Murmurei desesperadamente para ela, enquanto sentia o meu coração parecer querer sair pela boca em uma agonia insuportável e abri a porta do nosso quarto, descendo os três andares de escadas rapidamente com ela em meu colo, sentindo as minhas pernas doerem pelo seu peso e o esforço demasiado, enquanto a sentia se debater contra mim, a procura de ar.
- Addi... Addison! Eu... Eu... Não consigo... Eu...
- ALEX! ALEX!
O ouvi correr desesperado da cozinha até mim.
- VAMOS PARA O HOSPITAL, AGORA!
Ele abriu a porta e eu rapidamente desci as escadas com Meredith agonizando em meus braços.
- Por favor, Meredith, por favor! Aguente firme, por favor! - a pedi desesperada, sentindo o meu coração parecer estar sendo esmagado aos poucos.
Alex abriu a porta dos fundos da Mercedes para mim e eu coloquei Meredith ali, entrando logo em seguida, vendo-o dar partida rapidamente.
- RÁPIDO, PORRA! RÁPIDO! - O ordenei desesperada, apoiando a cabeça de Meredith em meu colo.
Ele acelerou ainda mais, saindo da minha casa e eu senti o desespero aumentar gradativamente em meu corpo, conforme Meredith se retorcia em busca de ar.
Após um minuto ou mais ali, a vi começar a fechar os seus olhos, ainda agonizando desesperadamente em meu colo.
- Meredith, olhe para mim! OLHE PARA MIM, MEREDITH! Não feche os olhos! Está me ouvindo? Não feche os olhos!
Ela me encarou, passando as suas mãos pelo seu pescoço extremamente vermelho, completamente desesperada.
- Aguente firme, por favor! Aguente firme, está me ouvindo, Meredith? Estamos indo para o hospital, aguente firme, por favor! Por favor, Meredith!
- Addie... Addie... Eu... Eu... N... Não... Não quero... Addi...son... Eu... Não... Eu não quero... Não quero... Não quero morr...
- VOCÊ NÃO IRÁ MORRER! ESTÁ ME OUVINDO? VOCÊ NÃO IRÁ MORRER, MEREDITH! Aguente firme, por favor! Por favor! PORRA, ALEX, PISA NESSA PORRA DE ACELERADOR, CARALHO!
Ele o fez e eu puxei Meredith para mim, a mantendo sentada no meu colo e deitei a sua cabeça extremamente quente no meu peito.
- Aguente firme, aguente firme, Meredith! Está me ouvindo? - Sussurrei, sentindo o meu corpo inteiro estremecer e ela assentiu, tussindo fortemente, enquanto me apertava contra si, em evidência ao seu desespero. - Aguente firme! Por favor, aguente firme! Faça isso por mim, Meredith! Por favor! Não feche os olhos - A balancei contra mim, vendo-a abrir os seus olhos desesperada - Não feche os olhos, está me ouvindo? Não desista! Não feche os olhos! Não feche os olhos, Meredith!
- Addie...
A abracei mais fortemente, encostando o meu nariz nos seus cabelos, assim em que vi as suas lágrimas caírem.
- Aguente firme por mim, por favor! Aguente firme, Meredith!
Alex estacionou, no mesmo momento, em um hospital perto do meu condomínio e eu, desesperadamente, a segurei mais fortemente, vendo-o abrir a porta.
- Me dê ela, senhora.
Neguei com a cabeça, saindo rapidamente do carro com Meredith em meus braços.
- Aguente firme, por favor!
Corri até a entrada do hospital, vendo rapidamente inúmeras enfermeiras virem até nós e a coloquei em uma maca a pedido do médico.
- O que aconteceu? - um enfermeiro perguntou.
- Eu... Eu não sei! Ela... Ela estava bem, estava dormindo e... Acordou agonizando, inteiramente vermelha e... Eu não sei! - Solto extremamente nervosa, sentindo a minha respiração falhar, puxando os meus cabelos para trás, vendo-a ser levada pelas enfermeiras.
- Ela tem alergia a algo?
Puxo os meus cabelos novamente para trás, tentando raciocinar a sua pergunta. A minha cabeça nunca estivera tão bagunçada.
- Sim! Ela tem a camarão mas... Ela não...
Eu estava confusa. Inteiramente confusa.
- Ok, a senhora sabe se ela tem alguma alergia a algum medicamento?
- Não, não que eu saiba. - falo lembrando-me da folha do nosso contrato em que estava descrita todas as suas alergias. Não havia nenhum remédio ali.
- Aguarde aqui, iremos cuidar dela. Por ora, tente se acalmar, senhora.
Puxei os meus cabelos novamente para trás, sentindo a minha respiração falhar e o meu coração doer de forma insuportável dentro do peito, enquanto eu caminhava desesperadamente de um lado para o outro naquela emergência.
Nada poderia acontecer a Meredith. Absolutamente nada de ruim poderia a ocorrer.
Ela era forte. Ficaria bem.
Ela ficaria bem.
Nada poderia a ocorrer, nada. Absolutamente nada.
Meredith ficaria bem.
- Addison, calma, vai ficar tudo bem, se acalme!
- Não me peça para que eu me acalme, Karev! Não me peça isso!
Meredith iria ficar bem. Meredith não poderia morrer. Isso não iria acontecer. Não iria acontecer porque eu simplesmente não conseguia imaginar aquilo acontecendo.
Ela ficaria bem. Meredith ficaria bem.
- Porra! - Murmurei, inteiramente desesperada com a sensação horrível em que eu estava sentindo.
O mundo inteiro ao meu redor parecia estar girando.
Meu peito parecia estar completamente cheio d'água. Eu não conseguia, sequer, respirar direito. O meu estômago doía de forma insuportável. Eu parecia estar a beira de um precipício e poderia cair a qualquer momento.
Meredith precisaria ficar bem.
Os minutos passavam lentamente e eu sentia, a cada segundo, que iria desmaiar de tamanha tontura.
Me sentei em uma das cadeiras ali, sentindo as minhas pernas já não aguentarem o meu peso e entrelacei as minhas mãos suadas e trêmulas uma a outra, apoiando a minha testa nelas, fechando os meus olhos.
Alex se sentou ao meu lado e o senti passar a sua mão pelas minhas costas, em uma vã tentativa de me acalmar e, ali, eu esperei os mais insuportáveis minutos de toda a minha vida.
- Senhora Montgomery - uma enfermeira viera até mim e eu me levantei rapidamente, caminhando até ela.
- O que aconteceu? Ela está bem? Está... - Eu não consegui terminar a minha frase. Ainda estava confusa, ainda não conseguia obter controle sobre mim mesma.
- Sua esposa estava tendo uma forte crise alérgica, devido ao camarão, ou algo derivado dele, em que ela ingeriu. O que a fizera ter um grande choque anafilático, causando o fechamento das suas vias respiratórias. Sua esposa vomitou muito e está fraca, mas estamos conseguindo a estabilizar. Peço que a senhora se acalme, iremos fazer uma lavagem estomacal, mas ela não corre mais nenhum perigo. O pior já passou, a crise já está quase controlada.
Suspiro aliviada, sentindo como se o peso do mundo inteiro estivesse sido tirado das minhas costas.
- A avisarei quando a senhora puder a ver. Por ora, apenas se acalme. Ela está bem.
Assinto, me sentando novamente e solto todo o ar preso em meus pulmões, sentindo o meu corpo inteiro suar.
Mas, então, sinto uma sensação insuportável de culpa me tomar por completo.
Eu deveria ter prestado mais atenção nela. Deveria ter prestado atenção no que ela havia comido, no fato de ela ter estado minimamente vermelha no momento em que adentrou o nosso quarto. Eu deveria ter prestado mais atenção.
Se eu não houvesse sido tão dispersa, nada disso teria acontecido.
- A senhora deseja que eu ligue para alguém?
Nego com a cabeça.
- Quero saber o real estado dela por mim mesma antes de avisar as minhas sogras.
Ele assentiu e eu puxei os meus cabelos para trás novamente, os prendendo em um coque bagunçado.
Quase uma hora depois, o médico apareceu e eu rapidamente me levantei, ainda preocupada.
- Ela está bem? Está tudo bem?
- Sim, senhora. A enfermeira provavelmente já a explicou tudo em que aconteceu. O caso de crise anafilática da sua esposa foi inusual, pois já haviam algumas horas desde a ingestão do alimento, por isso o tratamento também foi mais demorado e, exatamente por isso ela não conseguia vomitar o alimento e também se queixava de dores no estômago. A injetamos um antialérgico e fizemos uma lavagem estomacal, ela está fraca e tivemos que a dar um sedativo mais forte, porque ela estava inquieta chamando pela senhora. Já está tudo bem, e a senhora já pode a ver, me acompanhe, por favor.
Suspiro aliviada, assentindo e o acompanho até o quarto em que haviam a colocado.
Assim em que a porta fora aberta por ele e eu vi Meredith deitada naquela cama de hospital, apenas vestindo o pijama do próprio hospital, eu senti a culpa pairar sobre mim de maneira insuportável.
Ela estava daquela forma por minha causa. Se eu houvesse prestado mais atenção em si, ela não haveria de ter passado por tudo aquilo.
Suspirei, me aproximando e a observando dormir calmamente, respirando com o auxílio de uma máscara.
Segurei em sua mão e fechei os meus olhos, a sentindo quente e macia.
Ela estava bem.
Nada mais me importava além daquele fato.
Ela estava bem.
- Irei a liberar amanhã pela manhã, por ora, precisamos ter certeza de que ela está realmente bem.
Assinto.
O médico pediu licença, se retirando e eu suspirei, me sentando na poltrona ao seu lado e entrelacei os meus dedos aos seus, fechando os meus olhos.
Eu nunca havia sentido tamanho medo em toda a minha vida. Nunca havia me sentido tão desesperada o quanto me senti essa noite.
Eu nunca havia experimentado aquele combo de sensações horríveis em que me foram apresentadas hoje.
Medo.
Eu tive medo, pela primeira vez em toda a minha vida adulta, eu tive medo.
Eu nunca mais queria sentir aquilo novamente, nunca mais queria sentir como se o mundo estivesse desabando ao meu redor.
Mas Meredith estava bem agora. Era tudo o que me importava naquele momento.
Abri os meus olhos novamente, no mesmo momento em que a ouvi murmurar algo e me levantei.
Seus olhos ainda estavam fechados, ela ainda dormia, mas, por baixo da máscara, pude ouvi-la claramente murmurar:
- Add... Addison...
Aquilo me satisfez. Ela estava buscando por mim.
- Estou aqui - Sussurrei de volta para ela, apertando a sua mão e retirei uma mecha de cabelo bagunçada do seu rosto ainda com manchas vermelhas, sentindo-me a pessoa mais aliviada do mundo naquele momento. Ela estava bem, era tudo que importava. - Está tudo bem, você está bem agora, descanse. Eu estou aqui.
...
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