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31- Novos Caminhos.

Olhem só, a gente não se vê desde o ano passado, não é? ;)

Estou passando aqui rapidamente pra agradecer a todos vocês por tudo! Principalmente pelos 100K de views, a coisa mais doida que aconteceu no meu 2021. Na verdade, a mais doida não, porque a mais doida foi o fato de eu ter ganhado um bolo por esses 100K. Literalmente. Um bolo.

E é exatamente a essas pessoas que fizeram essa doideira, que esse capítulo é inteiramente dedicado.

Moranguetes, esse capítulo é inteiramente dedicado a vocês! E eu espero, de verdade, que eu possa ter retribuído pelo menos 5% de tudo em que vocês fizeram por mim, e de todo o amor que vocês me dão. Obrigada por serem essa família incrível para mim, de verdade, eu amo cada uma de vocês!

E a todos, o meu também muito obrigada. Os desejo as melhores coisas desse mundo nesse ano, e, maiormente, que possamos estar juntos novamente.

Obrigada por terem feito parte do meu 2021, e por terem dado sentido a todo ele.

Nos vemos logo, eu prometo!

Não se esqueçam de votar e comentar, amo vocês!

PS: Moranguetes, mais uma vez, surpreendi todas vocês, dêem o meu biscoito. Me sinto maravilhosamente bem com isso. Amo vocês!

PS³: Esse capítulo em si possui uma playlist, a qual está disponível no meu perfil, na aba de mensagens, agora mesmo! Indico que ouçam, antes de ler, enquanto lêem ou depois. Pois todas as músicas tem, pelo menos, uma frase em si a ver com esse capítulo. Boa leitura<3

PS³ Apenas uma coisas a dizer: Trinta mil palavras. Obrigada pelos 100K <3

...

Meredith Montgomery,
Uma semana depois;

— Meredith! Não acredito que você voltou a dormir, filha! Você já deveria estar arrumada. — Abro os meus olhos, completamente sonolenta, sentindo o sol os fazer doer no mesmo momento, os fecho novamente, com zero vontade de me levantar da minha cama. Abraço a senhora Moranguinho, a minha boneca de pano favorita, e resmungo irritada.

— Eu não quero ir, mamãe! — murmuro me virando para o outro lado e me cobrindo novamente.

— Amor, o que a mamãe prometeu a você? Depois da sua aula nós iremos almoçar e, então, tomar sorvete com a Nonna! — senti a minha mãe se sentar ao meu lado e um mínimo sorriso se infestou em meus lábios.

— De morango?

— Com certeza!

Eu sorri, afastando o edredom do meu corpo, ainda abraçando a senhora Moranguinho.

— Posso tomar dois?

— Pode, mas não conte para o Papai, ok? Ele irá me matar se souber que você tomou mais sorvete do que ele permite, e ainda mais fora dos fins de semana.

— Prometo guardar segredo, mamãe.

Ela sorriu.

— Agora vamos, amor. Levante-se logo, a mamãe vai a dar um banho rápido e você vai se vestir. Seu pai já está quase pronto e você já sabe que ele não gosta de atrasos.

Assinto, um pouco amedrontada e me levanto.

Com a ajuda da minha mãe, tomei um banho rápido e ela rapidamente me vestiu com a roupa horrível do ballet.

— Mamãe, essa roupa é muito feia! Eu não gostei, eu tô parecendo uma boba.

— Não é não, meu amor. Você está parecendo uma princesa! Olhe só como essa saia é linda!

Sem muitas escolhas, aceito aquele elogio e me sento no banquinho da minha penteadeira, enquanto a minha mãe penteava os meus cabelos em um coque um pouco apertado.

Ela me ajudou a calçar as minhas sapatilhas brancas e verificou a minha roupa novamente.

— Mãe, eu posso levar a Moranguinho?

— Pode, amor.

Pego a minha boneca, deixando um beijo carinhoso nela e a abraçando contra mim. Eu a amava tanto!

— Pronto. Agora vamos. O seu pai já deve estar impaciente esperando por nós.

— Ele vai brigar? — Pergunto um pouco amedrontada. Eu não gostava de ver o meu pai bravo.

— Não, amor. Ele não vai.

Assinto, segurando a mão da minha mãe e saindo do meu quarto junto a ela.

Assim que chegamos á sala de jantar, vi o meu pai concentrado no seu jornal, como em todas as manhãs, enquanto bebia o seu café.

— Bom dia, Papai! — O cumprimento animada, deixando um beijo na sua bochecha.

— Bom dia, querida. Está atrasada, sabe que o papai não gosta de atrasos.

— Eu sei, desculpa, papai. É que eu tava com muito soninho, e dormi de novo que nem percebi.

— Tudo bem, querida, que não se repita, está bem?

— Tá bem, papai. — Respondo tentando me lembrar de que não poderia acordar e dormir de novo depois. O papai não gostava de atrasos. E isso me fazia atrasar.

A minha mãe me serviu a minha vitamina de morango de todas as manhãs e eu comecei a tomá-la, balançando as minhas pernas que sequer chegavam ao chão, observando ela servir mais café para o meu pai e se sentar á mesa, servindo-se então.

— Está animada para o seu primeiro dia, amor? — Ele me perguntou e eu suspirei.

— É... Mais ou menos, papai. — Respondo sinceramente.

O vejo franzir a sua testa, encarando a minha mãe e, então, a mim.

— Posso saber o por quê, querida?

— Ah, é que eu não gosto muito de ballet. Eu preferia ficar em casa brincando com a Juju.

— Meredith, a vida não é feita de brincadeiras. Ballet é uma arte extremamente bem respeitada. Todas as filhas dos meus sócios mais bem sucedidos o praticam. Até mesmo a sua amiga. Por que você, logo você, não pode fazer isso? Porque prefere brincar? Eu e a sua mãe não trabalhamos feito loucos naquela empresa para a dar de tudo que é melhor, para que você pense apenas em brincar!

Sinto o meu coração doer pelo seu tom de voz sério, frio e um pouco bravo. Os meus olhos enchem-se de lágrimas e, sem que eu perceba, elas caem dos mesmos.

— Amor, ela está apenas com sono. Releve, por favor. A nossa menina tem apenas 4 anos. É normal que ela goste de brincar e não ligue muito para essas coisas.

— Não me importo com a idade dela, Ellis. Ela já está bem grandinha para ter total conhecimento das suas responsabilidades.

— Desculpa, papai — Murmuro encarando as minhas sapatilhas, sentindo as minhas lágrimas caírem e o meu coração bater forte dentro do peito, sem ser capaz de o encarar.

— Tudo bem, Meredith. Não há necessidade de chorar, por Deus! Pare com isso! Limpe esse rosto, termine de comer e vamos! Já estou atrasado para a minha reunião.

— Eu já acabei, papai — murmuro fazendo o que ele mandou.

— Vá escovar os dentes.

Assenti, andando até o meu quarto, junto a Moranguinho.

— Não fica com medo, Moranguinho. Meu papai é bem legal. Ele só tá triste com o trabalho dele, tá? Eu tô aqui com você.— Murmuro para a minha boneca, a abraçando mais forte e secando as minhas lágrimas, em uma tentativa de me convencer de tudo aquilo em que eu disse.

Escovei os meus dentes rapidamente, como a minha mãe havia me ensinado e saí do meu quarto, correndo até a sala.

Minha mãe ajeitava a gravata do meu pai, enquanto ele murmurava algo para ela, que não consegui entender.

Nós três saímos de casa juntos e eu fui o caminho inteiro conversando com a Moranguinho, que estava com um pouco de medo, por estar indo comigo para um lugar desconhecido. Tentei a tranquilizar como pude, e, ao mesmo tempo, me tranquilizar. Afinal, eu também estava nervosa e com um pouco de medo.

O meu pai parou o carro e, então, a minha mãe desceu, abrindo a porta para mim e me tirando da cadeirinha.

Peguei na sua mão, um pouco nervosa, encarando aquele lugar imenso.

— Uau — Murmuro, um pouco maravilhada com o tamanho daquela academia.

Nós três andamos até a entrada e o papai disse o meu nome para a moça atrás do balcão. Ela disse que a gente poderia entrar e o papai nos levou até uma sala.

Assim que entramos, vi uma mulher sentada em uma cadeira parecida com a do meu papai na empresa. Ela estava concentrada no computador á sua frente. Eu a reconheci rapidamente. Ela era amiga da minha Nonna.

— Bom dia, Helena.

— Bom dia, Tatcher! Ellis, como vai, querida?

— Muito bem, Helena, obrigada.

— Você nunca mais apareceu para os almoços lá em casa com a sua mãe!

— As coisas estão um pouco corridas na empresa. E essa pequena aqui me dá bastante trabalho, o que acaba me ocupando por cem por cento de todas as minhas horas.

Ela riu.

— Como ela está enorme! E linda! Me desculpe, Ellis, mas ela é a cara do seu pai!

Sorrio, eu gostava de ser comparada ao meu avô. Ele era a pessoa que eu mais amava no mundo inteiro. Até mesmo mais que a Moranguinho, mas ela não precisava saber disso.

— Ah, eu sei. Ela e o Papa são realmente idênticos. Até na personalidade.

Helena riu, concordando.

— Bem, vamos á o que realmente interessa — O meu pai falou, um pouco mais sério. Ele não gostava muito de ouvir que eu era parecida com o Nonno. Eu sabia disso, só não sabia bem o porquê.

— Bem, já está praticamente tudo acertado, apenas preciso de uma foto dessa mocinha para a cadastrar no sistema, ok?

A minha mãe me posicionou em um canto da sala, em pé e eu segurei forte a Moranguinho, encarando a câmera.

— Meredith! Conserte essa postura, por Deus! — O meu pai me repreendeu, um pouco sério e eu o fiz. — E me dê essa boneca. Você não veio aqui para brincar! — Ele a pegou e eu engoli em seco, sentindo o meu coração bater fortemente dentro do meu peito.

— Sorria, querida!

O fiz, encarando a câmera, consertando a minha postura, como o papai havia pedido, enquanto sentia o meu coração pulsar forte dentro do peito.

— Pronto, agora vamos conhecer a sua sala?

Assinto, um pouco amedrontada e encaro a minha mãe, que sorri ternamente para mim.

— Dê tchau para os seus pais. Não precisa se preocupar, eles logo estarão de volta para a buscar. Você nem verá o tempo passar.

Vou até a minha mãe e a abraço fortemente, deixando um beijo na sua bochecha.

— Gellato alla fragola — Ela sussurrou no meu ouvido e eu rapidamente sorri, sentindo o meu coração se aquecer.

Eu ainda não sabia falar italiano como a mamãe, ou os meus Nonnos, mas eu sabia o que aquilo significava.

Sorvete de morango!

Rapidamente eu me convenci de que tudo ficaria bem, e que aquela manhã chata iria acabar e eu iria tomar sorvete de morango com a Nonna e a mamãe.

— Tchau, papai — repito o ato com o meu pai, que deixa um beijo rápido em meus cabelos, fazendo-me sorrir no mesmo momento, eu amava quando ele fazia aquilo.

— Tchau. Preste atenção em tudo e se comporte. Nada de conversas paralelas e muito menos de distrações, certo? — Ele me alertou e eu assenti. Sem conversar e sem me distrair, eu lembraria daquilo.

A minha mãe entregou a minha mochila para Helena e me jogou um beijo no ar, eu o retribuí sorrindo e saí da sala ao lado de Helena.

— Está nervosa? — Ela perguntou pegando na minha mão.

Assinto.

— Fique tranquila. Você terá aula com a melhor professora dessa academia.

Assinto, tentando me convencer de que ficaria bem.

Se ao menos a Moranguinho estivesse comigo.

Helena me levou até o segundo andar daquele lugar imenso e eu me senti ainda mais nervosa quando ela abriu a porta de uma sala.

Rapidamente meus olhos pairaram sobre uma mulher alta, de cabelos ruivos como fogo, que estava de costas para nós, conversando com uma menina que parecia ter a mesma idade em que eu e vestia a mesma roupa horrível. Acabei por me sentir um pouco menos envergonhada, por não ser a única a estar vestindo aquela coisa.

— Essa é a sua sala — Helena falou — Você terá aula aqui até os seus oito anos de idade. Isso se você não repetir de ano. Mas tenho certeza de que você não irá.

Assinto, olhando ao redor.

— Senhorita Miller, venha aqui, por favor.

Vi a mulher de cabelos vermelhos se virar e sorrir para mim. Um sorriso que acabou por, estranhamente, me acalmar um pouco. Ela falou algo para a menina e caminhou até nós.

— Quem é essa princesa tão, mais tão linda de tutu?

Sorrio, sentindo as minhas bochechas esquentarem.

— Meu nome é Meredith Grey. — Falo um pouco envergonhada, mas orgulhosa de mim mesma por ter conseguido me apresentar para alguém desconhecido sem a ajuda dos meus pais. E, por um segundo, me pergunto se o papai ficaria orgulhoso de mim também.

— Uau, um nome tão lindo quanto você. O nome de uma verdadeira bailarina!

Sorrio fraco. Eu não gostava muito da ideia de ser bailarina.

— Cuide dela — Helena falou a entregando a minha mochila. — Querida, aguarde aqui pela sua professora, está bem?

Franzo o cenho, um pouco confusa. Ela não era a minha professora?

Com um pouco de vergonha de perguntar, apenas assinto, segurando a mão da moça de cabelos vermelhos.

— Nos vemos mais tarde, aproveite a sua aula.

— Obrigada, tia.

Ela sorriu, acariciando o meu rosto brevemente e saindo.

— Venha, meu amor. Deixe-me a apresentar as suas novas coleguinhas!

Um pouco nervosa, a acompanho até o meio da sala, que só havia 3 garotas.

— Meninas, essa é a Meredith. Meredith, essas são Clara, Sofia e Júlia. Elas serão suas colegas de classe por alguns anos, então seria bem legal se vocês se dessem bem. As outras crianças ainda estão chegando.

Elas também pareciam um pouco envergonhadas. O que me tranquilizou um pouco mais.

— A professora de vocês já está chegando, mas, enquanto isso, nós podemos conversar.

Um pouco envergonhada, levanto a minha mão, pedindo para falar.

— A senhorita não vai ser nossa professora, senhorita Miller?

Ela riu.

— Primeiramente, você pode parar com as formalidades, ok? Me chame apenas de Ella. Ou tia Ella, como se sentir mais confortável.

Assinto.

— E não, eu sou... Apenas uma assistente. A minha mãe... Digo... A Helena, acha que sou um pouco nova demais para ser professora. Mas fiquem tranquilas! A professora de vocês é a melhor de toda a academia.

— A tia Helena é sua mãe?  — Clara perguntou o mesmo em que eu queria, mas possuía vergonha demais para, sequer, me arriscar em perguntar aquilo.

— Bem... É, mas vocês não deveriam saber disso. Eu falo um pouco demais que o necessário. Mas é. Porém... Se vocês puderem fingir que não sabem disso...

Sorrio, percebendo que ela parecia nervosa.

— Tá tudo bem, tia Ella. Eu não vou contar. — Falo tentando deixar a minha vergonha de lado.

— Nem eu — As outras meninas prometeram.

— Vai ser o nosso segredo — Prometo, sorrindo e ela repete o meu ato, deixando um beijo na minha bochecha.

— Muito obrigada, minhas pequenas bailarinas. Bem, o que vocês acham de a gente brincar de...

Ouvi alguém limpar a garganta atrás de nós e me virei, me deparando com uma mulher de cabelos longos e extremamente pretos, assim como os da Branca de Neve. Os seus olhos, pelo contrário, eram azuis e extremamente claros. Sua pele era branca e ela vestia uma calça legging preta e uma blusa de alcinhas branca. Quase a mesma roupa em que Ella vestia, mas a diferença entre as duas era que a blusa de Ella era rosa. Ela carregava uma ecobag em um de seus ombros e tinha uma feição meio séria em seu rosto.

— Brincar de quê, Ella Miller?

Vi Ella engolir em seco e supus que ela estava com medo, portanto, também passei a sentir medo daquela mulher desconhecida.

— De nada, professora.

Ela assentiu.

— Ajude as meninas a ficarem organizadas na sala enquanto eu organizo as coisas. E bom dia, meninas.

— Bom dia — Nós respondemos juntas.

Eu não havia conseguido desviar o meu olhar daqueles olhos claros. Eles se pareciam com a água do mar de uma praia que eu havia ido no ano passado. Eles eram tão claros quanto as águas daquela praia.

A tia Ella nos ajudou a nos sentarmos no chão da sala, que era coberto por um tapete preto macio de borracha.

Ela se sentou ao meu lado e eu apenas me mantive sentada, com as minhas mãos, suadas, entrelaçadas uma a outra.

— Você está bem, pequena?

Levanto o meu olhar, encarando a tia Ella. E, amedrontada pela sua reação ser parecida com a do papai, mais cedo, eu apenas guardei o que sentia para mim, assentindo.

— Não fique nervosa. Ela é a melhor. Você irá amar o ballet!

Assinto novamente, desviando o meu olhar para as minhas mãos entrelaçadas no meu colo.

Eu não conseguia parar de pensar em duas coisas em específico. Em o quão aquela roupa machucava e aquele coque me apertava, e em o quão eu estava sentindo falta da Moranguinho, e no quão ela deveria estar triste e decepcionada comigo.

Mas eu não tive escolha. Ela entenderia. Nós não podíamos desobedecer ao papai. Isso deixava ele bravo. E eu não gostava de ver o papai bravo.

— Bom, vamos lá. — A professora Branca de Neve falou se virando para nós. — Meu nome é Flora. Flora Miller. E eu serei professora de vocês enquanto vocês estiverem no ciclo um. O que durará, mais ou menos, uns quatro anos. — Ela sorriu para nós. — Vamos começar nos conhecendo. Aviso, desde já, que sou péssima em gravar nomes, mas terei quatro anos para aprender o de vocês. Quero que, de uma a uma, vocês digam seu nome, sua idade e o por quê estão aqui.

Engoli em seco, fechando os meus olhos. Meu nome é Meredith Grey, eu tenho quatro anos e estou aqui porque... Meu pai quis.

Respirei fundo, guardando aquelas palavras, para quando chegasse a minha vez.

Assim que ela me encarou, senti algo diferente em seu olhar me acalmar. Mas não como Ella fizera. Foi diferente. Diferente ao ponto de eu esquecer completamente que estava apavorada e completamente nervosa.

— Sua vez, pequena. — Ela falou para mim.

— Meu nome é Meredith Grey. Eu tenho quatro aninhos e... Eu tô aqui porque o meu papai acha que vai ser bom pra mim.

Respirei aliviada, assim que terminei de falar.

Ela sorriu para mim novamente, e, sem sequer pensar, eu também sorri para ela. Não havia porque sentir medo dela. Algo havia me dito aquilo. Ela era legal.

— Seja bem-vinda, Meredith. Espero que goste do ballet.

Assinto, sorrindo para ela.

— Bem, agora é a minha vez. Meu nome, como eu já disse, é Flora. Flora Miller. Eu tenho 21 anos e sou formada em Ginástica, por essa mesma academia. Porém fiz um ano de Ballet em Paris, no ano passado, e, então, sou completamente capacitada para ser professora de vocês. Eu e Ella estaremos aqui para as ajudar no máximo que pudermos. Espero que, de acordo com o passar do tempo, nós possamos nos tornar mais próximas — Seu olhar pousou sobre o meu e eu apenas sorri, vendo-a devolver o meu sorriso minimamente, porém, não mais com o brilho no olhar em que ela possuía há alguns segundos atrás.

Ela pediu para que nós ficássemos de pé e nós o fizemos, e, então, a aula começou.

E eu não poderia estar mais...

Entediada.

Tudo em que eu conseguia pensar, enquanto a professora Flora nos ensinava o básico, era que, naquela exata hora, eu poderia estar em casa brincando com a Moranguinho e a minha mamãe. E que, dali em diante, eu não poderia mais ir para a casa da Nonna brincar por horas á fio com o meu Nonno. Eu estaria presa naquele lugar imenso, fazendo aquela coisa chata.

Eu me senti entediada pelo resto de toda a manhã, até que, enfim, aquela coisa chata havia chegado ao fim.

Eu fui até o canto da sala, onde ficava a minha mochila, e a peguei, a abrindo e vendo que a minha mãe havia organizado-a do jeito em que eu gostava. Ela havia colocado algumas frutas, dentre elas, morangos, e dois sucos de caixinha, mais dois sanduíches e dois pirulitos de morango.

Ela colocou tudo em dobro na esperança de que eu fizesse amizade com alguém e quisesse dividir o meu lanche. Mas não aconteceu. Algumas meninas saíram da sala juntas, e outras, assim como eu, sozinhas, mas para encontrar amigas de outras salas.

Eu apenas me sentei no chão da sala e peguei o meu lanche, o organizando sobre a minha toalhinha com bordados de morangos.

Abri o meu suquinho, sem me sujar e comecei a comer, sentindo a imensa falta da Moranguinho.

— Ei, pequena, não quer ir comer no pátio com todas as outras crianças? — A tia Ella perguntou e eu apenas neguei com a cabeça, voltando a comer.

Ela saiu da sala e eu suspirei, um pouco decepcionada, pois achei que ela poderia me fazer companhia.

Eu já sentia que não iria fazer amigos, mas, mesmo assim, ainda tinha a esperança de que alguém gostasse de mim, e talvez quisesse sentar comigo na hora do lanche.

Mas não aconteceu.

— Sabe... Morangos também são a minha fruta favorita! — Levantei o meu olhar e vi a Professora Flora de frente para mim, me lançando aquele sorriso em que, estranhamente, me fazia sentir bem.

Senti o meu coração se aquecer, mas a encarei, um pouco confusa.

— Como a senhora sabe que morango é a minha fruta favorita?

Ela riu.

— O seu suco é de morango, a sua toalha é de morango, você trouxe morangos como frutas principais... Não é uma dedução difícil, Meredith.

Sorrio, sentindo as minhas bochechas corarem.

— Você lembra do meu nome?

Ela fez uma careta.

— Acho que sim — Ela falou dando de ombros. — Posso me sentar?

Assenti, feliz por ter a companhia dela comigo.

— Por que não está no pátio lanchando com as outras meninas?

Eu dei de ombros.

— Ninguém me chamou. E eu não tenho amigas aqui.

Ela sorriu novamente.

— Claro que tem! Eu estou aqui!

Eu sorri, sentindo-me extremamente feliz. Ela era minha amiga?

Um pouco temerosa, abri a minha mochila, mordendo o meu lábio inferior.

— Você quer lanchar comigo? A minha mamãe mandou tudo em dobro.

— Para que você dividisse com um coleguinha, eu suponho.

Dou de ombros.

— Quero dividir com você... A senhora. — Me corrijo rapidamente, com medo da sua reação. Era feio chamar os nossos superiores de "você". Era isso que o papai dizia.

Ela riu.

— Muito obrigada, meu amor. E você pode me chamar de Flora, ou tia Flora, como chama á minha irmã. Sei que ela é mais legal do que eu... Mas...

Me surpreendo.

— A tia Ella é sua irmã?

Ela assentiu.

— Mais nova.

— Mas você e ela não se parecem nadica de nada. — Falei a entregando o meu outro lanche, ela o aceitou, agradecendo e começou a comer.

— Somos filhas de pais diferentes. Mas da mesma mãe.

— Quantos anos a tia Ella tem?

— Dezoito.

— Ah, por isso ela não pode ser professora? Porque a senhora é mais velha que ela, né?

Ela assentiu.

— A nossa mãe acha que... Bem... Ela não está preparada ainda.

Assinto, entendendo.

— Então, o que achou da aula?

Mordo o meu sanduíche no mesmo momento, me sentindo, novamente, nervosa.

Eu não queria a decepcionar. Mas também não queria e não poderia mentir.

O papai disse que mentir é feio, e ele não gosta quando eu minto. Ele fica muito bravo.

Então, eu apenas dei de ombros.

— Isso deveria ser uma resposta?

Eu dei de ombros novamente, sem conseguir a encarar.

Ela suspirou.

— Você odiou — Ela murmurou, fazendo a minha barriga dar reviravoltas que me fizeram querer pôr tudo para fora.

Eu havia a decepcionado.

Ela havia gravado o meu nome, virado a minha única amiga naquele lugar, e eu havia a decepcionado.

Me mantive de cabeça baixa, sem conseguir a encarar, até que a ouvi rir.

— Eu sabia. Assim que olhei para você pela primeira vez, eu soube que você não pertencia aqui. Ao ballet, a essa sala.

Engulo em seco, sentindo os meus olhos se encherem de lágrimas.

Se o meu pai soubesse daquilo tudo, ele iria ficar tão bravo, que eu ficaria um mês sem a Moranguinho e sem ver o Nonno e a Nonna.

— Ei, não, Meredith! Você está chorando?

Nego com a cabeça, a abaixando ainda mais.

— Ei, meu amor! Não... Não foi isso em que eu quis dizer, eu apenas...

— O meu papai... O meu papai não vai gostar de... De ouvir isso. — Murmuro entre soluços.

Então, pegando-me de surpresa, a tia Flora me puxou para si e me abraçou, me colocando em seu colo.

Eu deitei a minha cabeça em seu ombro, inspirando o cheiro do seu perfume. Era muito gostoso!

Senti as suas mãos acariciarem os meus cabelos, e, estranhamente, senti como se fosse a mina mamãe ali, fazendo carinho em mim.

Havia algo nela que me lembrava a minha mãe. Que me lembrava de... Uma mãe.

— Olhe para mim, Meredith.

Eu o fiz, com um pouco de dificuldade, mas não consegui a encarar por muito tempo. Eu me sentia tão culpada por estar a decepcionando.

Senti o seu polegar tocar sutilmente o meu queixo e ela me fez a encarar novamente, dessa vez, sustentei o meu olhar no azul hipnotizante dos seus olhos.

— Desculpa — Sussurro para ela.

— Por que você está me pedindo desculpas? Fui eu quem a magoou!

Nego com a cabeça.

— Eu magoei você dizendo que não gostei da sua aula. Mas eu gostei. É que...

Ela sorriu, limpando carinhosamente as minhas lágrimas e, novamente me fazendo sentir aquela sensação boa, apenas por um sorriso.

— O problema não foi a minha aula em si, e sim... O ballet, não é?

Assinto, abaixando a minha cabeça novamente.

— Eu já sabia, Meredith. Assim que a vi, eu já sabia que você não gostaria nada dessa chatice!

Franzo o cenho, a encarando novamente. Sem entender o porquê ela estava chamando a sua própria aula de chata.

— Que a minha mãe não saiba dessa conversa, ok? — Assinto — Aliás, que ninguém saiba, está bem?  — Ela ergueu o seu dedo mindinho e eu o entrelacei com o meu.

— Eu prometo — Sussurrei e ela sorriu, assentindo.

— Venha, guarde o seu lanche, quero te mostrar uma coisa.

O fiz, pegando os meus pirulitos e a entregando um deles, ela sorriu, agradecendo e pegou na minha mão, me guiando para fora da sala.

Nós descemos as escadas até o pátio e ela me guiou até um corredor abandonado, com uma única porta ao fim.

A tia Flora a abriu e a fechou novamente, e, pelo escuro em que se instalou naquele lugar, eu a abracei pela cintura, amedrontada.

— Está tudo bem, amor. Não precisa ter medo, olhe só.

Ela acendeu as luzes e eu, maravilhada, soltei a sua cintura, olhando ao redor.

Eu não fazia ideia do que era aquilo e de onde eu estava, mas, instantaneamente eu senti o meu coração bater fortemente, de uma forma boa.

— Onde a gente tá? — Pergunto curiosa.

— Bem, eu, pessoalmente, sempre chamei esse lugar de "a sala da liberdade", mas você pode inventar um nome melhor para ela, se quiser. Sempre fui péssima em dar nome ás coisas.

Sorrio, olhando ao redor.

— O que é tudo isso? — pergunto olhando novamente ao redor.

— Isso tudo é... Ginástica. Na verdade, equipamentos para ginástica.

— O que é ginástica? — pergunto curiosa, eu nunca havia ouvido aquela palavra na vida.

— É um pouco difícil de explicar... — Ela olhou ao redor, olho para o relógio em seu pulso e, então, para mim. — Temos meia hora até que seus pais venham a buscar, então... Você quer ver?

Assinto animada e extremamente curiosa.

Vi a tia Flora prender os seus cabelos longos em um coque firme e ela pegou na minha mão, me fazendo descer as escadas daquela sala imensa.

— Sente-se aqui e... Observe, ok?

Assinto, me sentando no último degrau e a observando se afastar e segurar firme em uma barra, ficando pendurada nela.

Tudo em que eu assisti pelos minutos em que se passaram havia feito total sentido na minha cabeça, como se, de certa forma, eu já conhecesse aquilo á muito tempo.

Mas, mesmo assim, a verdade é que eu estava tão maravilhada, que não conseguia parar de encarar a tia Flora, e não conseguia parar de pensar em duas coisas:

"Ela vai cair e se machucar a qualquer momento."

e em:

"Eu quero experimentar isso. Eu quero que o meu corpo se pareça com um elástico, assim como ela faz o dela parecer. Eu quero ser igual a ela."

Eram essas as duas coisas em que rondavam a minha cabeça enquanto a tia Flora se balançava de um lado para o outro, dando cambalhotas, e fazendo mais inúmeros movimentos que a minha mente infantil seria incapaz de reconhecer.

Assim que ela acabou, eu tive a certeza de que queria não somente fazer aquilo, mas de que queria fazer aquilo tão bem o quanto ela.

— Isso é ginástica! — Ela falou vindo até mim e se sentando ao meu lado — E é isso em que eu realmente amo fazer. E é exatamente por isso que eu entendo o seu tédio pelo ballet. Porque compartilhamos do mesmo tédio.

Franzo o cenho, confusa.

— Mas... Se você ama ginástica, por que dá aulas de ballet?

Ela sorriu, mas não era um sorriso que emanava felicidade ou ternura. Eu senti isso. Era um sorriso triste.

— A vida é um pouco mais complicada que isso, meu amor. Mas... Eu continuo praticando, só não dou aulas.

— Tia Flora?

Ela me encarou e eu desviei o meu olhar por um segundo, a encarando novamente.

— Eu acho que a gente é igual. Eu... Gostei disso, de verdade. E... Eu senti vontade de aprender. De ser igual a você.

Ela sorriu novamente, acariciando o meu rosto.

— Eu sei. Estranhamente eu senti que... Tínhamos algo em comum. E eu estava certa.

Assinto.

— Bem... Para a sua sorte, há outras academias especializadas em Ginástica na cidade, até melhores que essa.

Nego com a cabeça, sentindo-me triste.

— Eu preciso tá aqui. Meu papai quer que eu faça ballet. Ele diz que é uma arte muito bem contemplada. Não posso ir pra outro lugar.

Ela suspirou.

— A mesma coisa em que a minha mãe diz. Somos iguais.

Dou de ombros, já sem humor algum.

— Sabe, Meredith. Eu gosto de você.

A encaro.

— E... Eu talvez possa me arrepender de fazer isso, mas... Vamos lá.

— Do que você tá falando, tia? — Pergunto confusa.

— Primeiro eu preciso que você me prometa, Meredith, que ninguém, absolutamente ninguém vai saber disso.

Assinto, um pouco amedrontada pela sua seriedade.

— Se você me prometer que, em primeiro lugar, ninguém saberá disso, e de que, em segundo lugar, você não desistirá dessa academia... Eu prometo a ensinar tudo que sei sobre ginástica. Você fará, um dia, tudo em que eu acabei de fazer há poucos minutos atrás.

Eu estava sem reação. Completamente sem reação.

— Você... Tá falando sério?

Ela assentiu.

— Eu sei o quão é um fardo pesado ter que, obrigatoriamente, fazer algo que você não quer. Sei como é essa sensação, então... Bem... Eu posso a ajudar com algo em que você quer. Verdadeiramente quer. E... Eu sou a melhor pessoa para isso. Ginástica é a minha especialidade.

Em um ato de impulso, motivado por tudo aquilo em que ela acabara de me dizer, eu a abracei fortemente, me agarrando ao seu pescoço, ainda sem acreditar.

— Eu... Eu vou poder fazer tudo que você fez?

— Tudo isso e muito mais. Eu tenho certeza disso.

— Mas... Eu não tenho dinheiro pra pagar você. Meu papai só me dá dinheiro nos fins de semana, pra eu comprar sorvete.

Ela riu.

— Não preciso de dinheiro, pequena. Eu não sei porque, mas... Eu sinto que você me dará mais do que isso, muito mais.

Sorrio, a abraçando novamente.

— Obrigada, tia Flora.

— Por nada, loirinha. Agora nós precisamos deixar a sala da liberdade, porque seus pais já devem ter chegado.

Assinto e, me surpreendendo, ela me pegou no colo.

— Não se preocupe, sala da liberdade, amanhã estaremos de volta, certo?

Assenti, sorrindo abertamente para ela.

— Tchau, Senhora sala da liberdade, amanhã nos veremos novamente.

Flora riu.

— "Senhora sala da liberdade?"

— Gosto de chamar as coisas que eu mais amo no mundo de senhora e senhor, em sinal de respeito, sabe?

Ela assentiu.

— Gosto disso, Senhora Moranguinho.

Eu ri, deixando um beijo na bochecha dela.

—  É o nome da minha boneca!

— Não irei inventar um novo apelido para você. Esse é incrível!

Sorri, assentindo em resignação.

— Tudo bem, só não deixa a Moranguinho saber disso.

Ela fez um zíper na sua boca e correu comigo até a saída da sala, me fazendo rir, agarrada ao seu pescoço.

E, no dia o qual deveria ser o mais chato da minha vida, eu havia encontrado a mulher a qual não somente seria a responsável por me apresentar a ginástica, e por me fazer realmente gostar do ballet.

Eu, intrinsecamente, naquele dia, senti que havia encontrado a minha alma gêmea, a qual a minha Nonna tanto gostava de falar sobre.

Da forma mais inusitada o possível, eu havia encontrado a mulher que se tornaria, com o passar dos anos, a minha mãe, melhor amiga, a minha pessoa.

E ela construiria, em mim, o meu melhor. E, por ela, eu alcançaria coisas em que sequer imaginava, quando criança.

Ela se tornaria o meu refúgio. Literalmente.

Eu apenas ainda não sabia daquilo.

                                 [...]

Desperto de um sono intenso, um pouco assustada, ouvindo o meu despertador tocar insistentemente ao lado da minha cama.

Tateio a minha mesa de cabeceira e, após algumas tentativas falhas, consigo fazer aquele barulho insuportável parar.

Respiro fundo, abrindo os meus olhos e encarando o teto por mais alguns segundos, numa tentativa de acordar completamente.

Alcanço o controle das persianas e as ligo, deixando os mínimos raios de sol entrarem no quarto.

Rolo pela cama, até o lado vazio de Addison e fecho os meus olhos por alguns segundos, inspirando o cheiro do seu perfume e me convencendo a levantar da cama.

Soltando um suspiro fundo, afasto o edredom do meu corpo e me levanto da cama, caminhando até o banheiro.

Me proponho a tomar um banho quente e demorado, esperando despertar completamente o meu corpo.

Saio do banheiro enrolada na toalha e encaro o meu lado do closet, tentando encontrar uma roupa para vestir.

Por fim, escolho uma calça de alfaiataria social preta, justa ao meu corpo e uma camisa também social branca.

Nos pés, calço um par de scarpins pretos, um pouco mais altos que o meu habitual.

Termino de me arrumar rapidamente e escolho uma bolsa preta, arrumando algumas coisas dentro dela.

Pego o meu celular e saio do meu quarto, visualizando as inúmeras mensagens em que Cristina havia me mandado na madrugada.

Chego até a sala e, para a minha surpresa, encontro Addison, que parecia sair do seu escritório.

A ruiva estava vestida de uma saia social preta, que ia até os seus joelhos e de uma camisa e sandália alta de saltos finos, também pretas.

Ela estava concentrada em seu celular, e apenas ergueu o seu olhar quando ouviu o som dos meus saltos baterem contra o piso.

— Bom dia — A cumprimentei, caminhando até ela.

— Bom dia — Ela respondeu me encarando de cima á baixo. Algo em seu olhar me fez pensar que, talvez, ela havia gostado da roupa em que eu vestia. Que era um pouco mais social que o meu habitual.

Parei diante de si e um pouco temerosa diante do seu olhar intenso, me estiquei, deixando um selinho em seus lábios e, então, consertei a gola vergonhosamente mal arrumada da sua camisa.

— Estou saindo, voltarei para o jantar.

Assinto, vendo-a se esticar e colar os seus lábios aos meus.

Senti a sua língua encostar-se os meus lábios e os abri rapidamente, entrelaçando a minha língua á sua, enquanto sentia a ruiva tocar a minha cintura firmemente, me puxando para mais perto.

Me perdendo no gosto delicioso de café misturado com mente em que seus lábios tinham, eu toquei o seu pescoço com uma mão e, com a outra, o seu rosto, sentindo a extrema necessidade de tê-la mais perto, e de aprofundar mais aquele beijo.

Senti a sua outra mão tocar o meu rosto calmamente e, assim que senti a necessidade de respirar, Addison pareceu perceber, se afastando.

Ainda de olhos fechados, suspirei o cheiro do seu perfume, sentindo uma estranha sensação tomar o meu peito.

Era a mesma sensação de apreciar o seu perfume, mas, dessa vez, mais intensamente. Pois faziam alguns dias que eu não o sentia naquela intensidade.

— Tenha um bom dia — Sussurrei abrindo os meus olhos e ela assentiu.

— Igualmente. — Ela respondeu, saindo de casa.

Suspirei o cheiro do seu perfume novamente, que, na última semana, fora a única presença sua que obtive na maioria dos dias, até mesmo no último fim de semana.

E eu não havia gostado tanto daquilo, de ter a sua presença menos frequente do que normalmente era.

Addison parecia atolada com algum trabalho no tribunal, trabalho esse o qual eu não sabia bem o que era, mas sabia que estava a tirando o mínimo de horas que ela utilizava para descansar.

Isso me preocupava, mas não havia muito do que eu pudesse fazer.

Me intrometer no seu trabalho era algo que eu não poderia fazer, pois sabia que ela não suportava isso. E, até agora, nós estávamos nos dando realmente bem, portanto, eu não poderia estragar com tudo.

Resolvendo esquecer aquilo, encarei o meu celular, verificando a hora. 6:50.

Me encaminhei até a sala de jantar e sorri, ao ver Miranda organizar o meu lugar á mesa.

— Bom dia, senhora Montgomery!

— Bom dia, meu anjo. Como foi o seu fim de semana? — Pergunto me sentando no meu lugar e sendo servida do meu suco por ela. A agradeço, o bebericando.

— Ah, incrível, senhora. Muito obrigada, mais uma vez, pela folga.

— Você não precisa agradecer, querida. Por mais que eu tenha sentido a sua falta imensamente, você precisa descansar.

Ela sorriu, assentindo.

— Não sei como conseguirei passar esse mês inteiro longe da senhora.

Franzi o cenho, sem entender bem sobre o que, exatamente, ela falava.

— Sobre o que você está falando, Miranda?

Ela franziu seu cenho, parecendo também não entender a minha pergunta.

— Estarei de férias, senhora. Por esse mês inteiro. Por causa da Luna.

Senti o meu coração se apertar. Addison não havia me dito nada sobre aquilo.

— Ah, entendo, querida. — Murmuro, tentando disfarçar o quão triste por aquilo eu havia ficado.

— Achei que a senhora Montgomery havia a dito.

Suspiro, me servindo das minhas frutas sagradas de todas as manhãs.

— A minha mulher está um pouco... Ocupada demais essa semana. A cabeça dela está cheia demais. Ela provavelmente esqueceu.

— Imagino, senhora. Mas não se preocupe quanto á minha ausência. Já dei ordem aos outros empregados de como a senhora gosta de tudo. Grace, a governanta de DC, virá para ficar no meu lugar, e eu também já a dei instruções de tudo aqui na casa.

Sorrio.

— Você é um anjo, meu amor. Eu sentirei tanto a sua falta Miranda! Como viverei sem você? Isso é praticamente já impossível!

Ela riu.

— Também não sei se aguentarei muito tempo longe da senhora. Mas a senhora pode ir visitar a minha neta, se desejar a conhecer.

Sorrio, assentindo.

— Eu irei adorar, Miranda!

Terminei de comer, conversando com Miranda sobre amenidades e, logo que encarei a tela do meu celular, percebi estar já atrasada.

— Faça para o jantar algo em que a minha mulher goste, Miranda, por favor.

Ela assentiu e eu me levantei, me despedindo dela e saindo de casa.

— Bom dia, senhora Montgomery! — Warren me cumprimentou polidamente.

— Bom dia, Warren. Tire a Mercedes da garagem, por favor.

Ele o fez rapidamente e me entregou as chaves.

Entrei no carro rapidamente e dei partida no mesmo, saindo de casa.

Ouvi o meu celular tocar dentro da minha bolsa e suspirei, a abrindo, alternando o meu olhar na pista do condomínio, enquanto tentava achá-lo dentro da minha bolsa.

Vi o nome de Cristina na tela, assim que o peguei e o apoiei no carro, atendendo a ligação.

— Bom dia, Cris.

— Bom dia? Só se for para você, não é? Porque para mim ainda é noite. Acredita que esse monstrinho agora resolveu que adora chutar a minha bexiga? Vinte vezes, Meredith Montgomery, eu fui ao banheiro vinte vezes essa noite! Passarei a usar fraldas, parece ser o único meio de conseguir ter uma noite de paz com essa coisa dentro de mim.

— Bom dia, meu príncipe. A sua mamãe é a pessoa mais insuportável do mundo quando não dorme, não ligue para ela.

— Se eu quisesse que você conversasse com o nosso filho ao invés de conversar comigo eu teria dado o celular para ele, Montgomery!

Reviro os olhos.

— Se a sua mamãe ao menos me desse bom dia como uma pessoa normal, eu até poderia pensar no caso dela, meu amor. Mas como ela é uma mal educada e chata, eu prefiro falar com você.

— Essa criança vai abrir um fã clube para você no instagram assim que sair de mim.

Rio.

— Liguei apenas para saber se você está livre no almoço.

— Estou.

— Ok, te vejo no restaurante de sempre ás 12:30. Preciso ir, vou tentar dormir um pouco.

— Ok, descanse. Eu amo você.

— Eu também amo você.

—  Eu estava falando com o meu afilhado.

Ela desligou a chamada e eu gargalhei, negando com a cabeça.

Me mantive concentrada em dirigir até o meu destino e, assim que estacionei o meu carro em frente ao mesmo, sorri no mesmo momento, vendo algumas crianças ali na frente.

— Tia Mer! — Antes que eu pudesse computar algo, senti os braços de Joana rodearem a minha cintura e sorri, acariciando os seus cabelos e me abaixando, deixando um beijo em seus cabelos.

— Bom dia, minha princesa! Que recepção gostosa!

Ela sorriu.

— Eu tava com saudades de você. Faz uma semana que a gente não se ver.

Sorrio.

— Eu também, meu amor. Onde está a...

— TIA MER!

Sorri, vendo Isabella correr até mim e me abraçar fortemente.

— Bom dia, meu amor! Que animação!

Ela riu.

— Eu tô ansiosa pra o nosso passeio no shopping!

Sorrio, acariciando o seu rosto e, então, o de Joana.

— Eu também, meu amor. E, falando nisso, acho melhor irmos logo porque a tia Mer precisa passar bem rapidinho em um lugar, está bem?

Elas assentiram e eu abri a porta dos fundos para elas, que entraram. As ajudei com o cinto e dei a volta no mesmo, entrando logo em seguida.

— Quem aí está animada para tomar um milk shake de morango beeem gostoso e beeem grande?

Elas riram.

— EU!

Sorrio, dando partida no carro e começando uma conversa animada com as duas sobre a sua semana passada na escola.

Parei rapidamente em um restaurante de Drive-thru e pedi três milk shakes de morango para nós.

Fizemos o resto do caminho animadas e, então, eu estacionei o meu carro em frente ao meu primeiro compromisso.

Ajudei Joana e Isa a descerem do carro e as vi observar o local com admiração, sorri instantaneamente, segurando em suas mãos e as guiando para entrar comigo.

Passei pela recepção, sem precisar dar o meu nome e encarei as meninas, que olhavam ao redor maravilhadas.

— Minhas princesas, vocês podem sentar ali e esperar a tia Mer falar com uma pessoa bem rápido?

— Claro, tia.

— Eu já volto — Falei as deixando sentadas num banco ali e pedi para que um dos meus seguranças ficasse de olho nelas.

Me encaminhei até a sala e bati na porta, ouvindo a autorização para que eu entrasse ser dada.

O fiz, olhando ao redor e suspirei, vendo Flora ao falar ao telefone, parecendo ocupada.

Me aproximei da sua mesa, esperando que aquela ligação acabasse para que eu pudesse falar com ela.

Sorri, ao ver, em um porta retrato em cima da sua mesa, uma foto minha e sua, do meu primeiro ano na academia.

Eu me lembrava nitidamente dela.

Ela foi tirada no dia do meu aniversário de cinco anos, eu estava vestida com o uniforme do ballet, abraçada ao pescoço de Flora, em seu colo, enquanto ria espontaneamente para a foto, pois ela havia acabado de me fazer cócegas naquele momento.

Rapidamente me lembrei do sonho em que tive essa noite e o meu sorriso aumentou. Pois ele fora nada mais do que uma lembrança do meu primeiro dia de aula naquela academia.

Vi Flora pedir licença na sua ligação e me encarar.

— Bom dia, meu amor. — A cumprimentei, um pouco temerosa quanto a sua reação, pois eu sabia que ela não estava nada bem.

— Bom dia. Espere um pouco, ok? Já estou quase acabando aqui. — Ela respondeu friamente e eu senti o meu coração se apertar. Eu odiava a ver daquela forma.

— Eu... Irei dar uma volta com as meninas, e depois volto, ok?

Ela assentiu, sem sequer me encarar direito e eu suspirei, encarando aquela foto novamente.

Saí da sua sala, indo até onde Isabella e Joana estavam e as vi conversar animadamente, enquanto olhavam ao redor, ainda maravilhadas.

— Aqui é lindo, tia Mer — Joana falou olhando ao redor, seus olhinhos brilhavam em uma admiração única.

Eu sorri.

— É mesmo, meu amor.

— Mas... Onde a gente tá mesmo, tia Mer?

Sorrio.

— Essa é a academia em que falei para vocês. A minha mãe é dona dela.

Elas me encararam surpresas.

— É aqui que a Lulu estuda, Isa!

Isabella sorriu, olhando ao redor.

— É mesmo linda!

— Bem... Eu preciso falar com a minha mãe, mas ela está ocupada no momento, então... Se vocês quiserem, eu posso mostrar um pouco para vocês.

Elas sorriram, e eu me senti satisfeita.

— Sério?

Assinto, estendendo a minha mão.

— Vamos lá, vamos começar pelo térreo, que é onde estamos.

E, então, as guiei por toda a academia. As mostrei todas as salas, o parquinho em que havia nos fundos, a área da piscina, a área de ginástica, e, por fim, a ala de ballet.

E, naquele momento, eu senti o meu coração arder no peito ao vê-las encarar tudo aquilo como se fosse o lugar mais incrível do mundo. E, para elas, parecia ser.

Elas realmente amavam o ballet, realmente sonhavam com aquilo.

E aquela constatação acabou por encher o meu coração de alegria.

— Você já estudou aqui, tia Mer?

Assinto.

— Nessa mesma sala. Eu fiz ballet integrado á ginástica. Ou seja, eu passava boa parte do meu dia aqui.

Elas pareceram interessadas.

— Quantos anos você tinha?

— Eu comecei com quatro anos. Mas apenas comecei a ginástica oficialmente aos oito. E, então, eu sempre tinha ballet pela manhã, e, pela tarde, eu tinha escola. Mas a minha outra mãe, a dona dessa academia, sempre ia me buscar na escola e me trazia para cá, para as aulas de ginástica. Nós costumávamos sair daqui bem tarde.

— Uau. Deve ter sido incrível! — Joana murmurou maravilhada.

— Foi sim, meu amor. Estudar aqui foi... A melhor coisa que já me aconteceu. Mas já passou, infelizmente.

Elas assentiram.

— Bem, acho que agora precisamos ir. — Falei percebendo que Flora já deveria estar livre.

Elas assentiram e eu as observei um pouco mais, as duas olharam ao redor novamente, parecendo tentar memorizar cada canto daquela sala.

Eu apenas sorri para mim mesma, sentindo o meu coração se aquecer e uma sensação inusual tomar-me por completo, eu não a conhecia muito bem, mas era simplesmente incrível senti-la.

Após memorizarem cada detalhe daquela sala, as meninas me acompanharam para fora dela.

Fomos até o térreo e eu, novamente, bati na porta da sala de Flora, ouvindo-a autorizar a minha entrada.

A observei, dessa vez, completamente concentrada nos papéis em que havia á sua frente, parecendo irritada com eles.

Ela ergueu o seu olhar e sorriu fraco para as meninas.

— São elas? — Flora perguntou e eu assenti, sorrindo.

— Calma... Ela tava no meu aniversário! — Joana sussurrou para mim e eu assenti.

— Não tive a oportunidade de as apresentar devidamente. Então vamos lá! Meninas, essa é Flora, diretora e dona dessa academia e... bem, minha mãe. E Flora, essas são Joana e Isabella, as meninas as quais eu falei com você sobre.

Ela assentiu.

— É um prazer as conhecer oficialmente, meninas.

— O prazer é nosso, tia Flora — Joana falou sorrindo.

— A sua academia é muito linda! — Isabella comentou, arrancando um sorriso sincero de Flora, o que me fizera sorrir também, pois eu sabia o quão o seu humor esses dias não estava para sorrisos. Apenas Isabella e Joana eram capazes daquilo.

— Vocês gostaram, pelo visto?

Elas assentiram animadas.

— Muito! É um lugar muito lindo!

Flora me encarou e sorriu fraco, e eu devolvi o gesto, me sentando na cadeira de frente para ela, e indicando a outra cadeira, que era grande o bastante para as duas se sentarem.

— Então... O que vocês mais gostaram na academia? — Flora as perguntou.

— Da parte do ballet! — Elas responderam em uníssono, extremamente animadas, e eu não pude deixar de sorrir.

— Que incrível! Então vocês gostam de ballet?

Elas assentiram energicamente.

— Muito! Eu e a Isa queremos ser bailarinas um dia, a tia Mer disse que a gente consegue, que é só não desistir.

Flora me encarou e eu pude ver os seus olhos brilharem de forma extremamente gratificante.

— E a tia Mer está certa!

— A senhora é bailarina, tia Flora? — Isabella perguntou, fazendo Flora sorrir.

— Sou, meu amor.

— Igual a tia Mer!

Sorrio, negando com a cabeça.

— Pois é, por mais que a tia Mer não goste muito de ser reconhecida como uma bailarina, ela é. Além de ginasta, é claro.

Elas sorriram, me encarando.

— A tia Mer é muito incrível!

Sorrio, negando com a cabeça.

— A tia Mer fica lisonjeada em ouvir isso, mas vamos mudar de assunto, ok? — Falo me sentindo um pouco desconfortável em ser a pauta da conversa.

Flora assentiu, encarando as meninas.

— Bem... — Ela alternou o seu olhar para mim, provavelmente sem saber como prosseguir. — Acho que a tia Mer estava extremamente certa quando as disse para não desistirem. Desistir dos seus próprios sonhos é... A maior tolice que um ser humano pode cometer. Quando eu tinha a idade de vocês, sonhava em transformar essa academia aqui, em uma das maiores do mundo. E que eu fosse a responsável por isso. Bem... Ainda não aconteceu do jeito em que eu esperava, mas estou quase lá! O segredo é não desistir.

Elas sorriram uma para a outra.

— A gente vai ser bailarinas um dia, né, Jojo? Eu sei disso!

Eu sorri, sentindo os meus olhos marejarem.

— É incrível ouvir você dizer isso, pequena! — Flora comentou e eu assenti, me levantando e ficando abaixada diante delas.

— E o mais incrível ainda, é saber que hoje... Vocês duas... Bem, vão poder dar o primeiro passo para que esse sonho se torne real.

Elas franziram o cenho, parecendo não entender e eu sorri, sentindo-me, finalmente, completa. Sentindo que, enfim, poderia fazer o que precisei esperar por uma semana consecutiva, coberta de ansiedade.

— Vocês gostaram de estar aqui hoje? — Pergunto segurando em suas mãos.

— Sim, tia Mer, muito! — Elas responderam, me lançando um sorriso verdadeiro.

— Então... Acho que, ter estado aqui hoje, foi um passo enorme para que vocês não desistissem, não é?

Elas assentiram.

— Tá aqui é bem mais real, é como tocar no nosso sonho. — Isabella explicou e eu sorri, assentindo.

— E ao tocar nesse sonho, vocês não sentem a vontade alguma de desistir, não é? Porque ele está bem ali! — Comentei, as vendo assentir.

— Então eu acho que, de agora em diante, vocês nunca mais sentirão vontade de desistir. — Falei as vendo concordar. Sorri com a inocência em que emanava delas, de forma extremamente doce e pura, e além do normal de todas as crianças em que eu já havia conhecido. Isabella e Joana eram diferentes. Muito diferentes. — Porque... Acredito que, se tocar o seu sonho por um dia, já é o bastante para que vocês não pensem em desistir, imagine tocar nele todos os dias!

Elas pareciam confusas, eu parecia estar falando uma língua completamente diferente.

Flora sorriu, suspirando.

— Bem, meninas, vocês sabem o porque estão aqui?

Isabella deu de ombros.

— Porque a tia Mer disse que tinha um assunto importante pra resolver aqui, antes de a gente ir passear no shopping.

— Bem, quanto a isso, acredito que o passeio de vocês precisará ficar para outro dia.

Elas franziram o cenho.

— A tia Mer realmente tinha um assunto importante para tratar aqui... Muito importante. — Flora comentou me encarando. — Ela veio aqui hoje para fazer a matrícula de duas pessoas extremamente especiais para ela, para estudarem nessa academia.

Vi o rosto de Isabella transformar-se para uma feição completamente assustada e a vi empalidecer no mesmo momento, enquanto Joana apenas mantinha um sorriso no rosto, parecendo não ter entendido.

— Que legal! — Joana falou sorrindo.

Eu ri.

— Você sabe quem vai estudar aqui, minha pequena? — A perguntei e ela negou com a cabeça.

— Os seus nomes são... Joana Jones e Isabella Jones. — Flora falou lendo os documentos que eu havia a enviado por e-mail no dia anterior.

Vi o rosto de Joana se transformar e, instantaneamente os seus olhos se inundaram em lágrimas.

— O... O que tá acontecendo? — Ela perguntou em um tom de voz choroso.

— O seu sonho... O de vocês duas, está começando a se tornar real, minha princesa. — Sussurrei para ela, acariciando o seu rostinho, vendo as suas lágrimas começarem a cair de forma copiosa.

— Eu... A... A gente vai estudar aqui? Estudar pra... Pra ser bailarinas? — Isa perguntou me encarando e eu assenti.

— Vocês vão estudar aqui. Para serem duas bailarinas lindas e talentosas. — Falei acariciando o seu rosto com a minha outra mão.

Elas se encararam e, logo após, me encararam.

Sorri, sentindo o meu coração se aquecer e as minhas lágrimas caírem, assim que Joana envolveu-me em um abraço quase desesperado, chorando violentamente com o seu nariz encostado em meu pescoço.

A abracei fortemente contra mim, sentindo o seu corpinho estremecer de forma descontrolada contra o meu, e beijei os seus cabelos, os acariciando, enquanto sentia as minhas próprias lágrimas caírem.

— Isso... É um sonho? — Isabella perguntou e eu neguei com a cabeça, vendo-a vir até mim e me abraçar fortemente, também chorando.

E, novamente, aquela sensação em que me invadiu enquanto eu as mostrava as salas e presenciava o brilho em seus olhares, fez-se presente novamente.

Uma sensação inusual, quase nunca sentida por mim antes, não daquela forma, não naquela intensidade, e não com aquela certeza.

E, enfim, eu sabia nomeá-la.

Era a sensação de saber  que o que se está fazendo, é o certo a ser feito.

A sensação de dever cumprido, de não ter errado em uma decisão.

Era a certeza de que tudo aquilo era o certo a ser feito.

Eram várias sensações em uma só.

Mas, no momento, eu apenas conseguia apreciar com exatidão, a sensação de deleite incrível que era a de fazer alguém feliz, naquele nível.

E, de certa forma, é sobre isso em que a vida se trata. Sobre fazer o que está no seu possível para cooperar com a felicidade de outras pessoas em que necessitam do mínimo que habita em você.

Todos nós possuímos esse mínimo. Que, para alguns, pode ser não somente o nosso mínimo, mas o máximo que elas poderão ter em uma vida inteira.

E não há gratificação maior que essa, não há sensação mais pura do que a felicidade em que eu sentia naquele momento, por estar fazendo o meu mínimo para o máximo de duas pessoas em que eu tanto amava.

Porque, o que, pra mim, fora a coisa mais simples do mundo a ser feita, para elas, era a coisa mais impossível de acontecer, em suas cabeças e em seu mundo, e que estava sendo realizada ali, naquele momento.

Então, apenas fechei os meus olhos, as abraçando mais fortemente contra mim e aproveitando daquele momento de felicidade e gratificação plena.

Assim em que as duas se acalmaram, eu me sentei na cadeira novamente, as colocando, cada uma, sentada em uma perna.

— Agora, a tia Mer precisa que essas duas princesas limpem esses rostinhos no banheiro, para que a tia Flora tire uma foto de vocês, que irá para o sistema e as irá cadastrar oficialmente como alunas dessa academia.

Elas sorriram em meio as lágrimas, assentindo.

— Isso é verdade mesmo, tia Mer? — Joana perguntou e eu assenti, limpando o seu rostinho.

— É sim, minha pequena.

Ela encarou Isabella e as duas trocaram um sorriso cúmplice.

— A gente vai ser bailarinas, Isa!

Isabella sorriu, assentindo.

— A gente vai ser bailarinas, Jojo! É real! O nosso sonho tá se tornando realidade!

Joana me encarou sorrindo.

— Eu não sei o que dizer, tia Mer. Eu te amo muito! Você e a tia Bizzy são os anjinhos da minha vida e da Isa. Eu não vejo a hora de contar pra tia Bizzy! Ela sabe?

Eu sorri, acariciando o seu rosto.

— Eu também amo vocês, muito! E não, a tia Bizzy não sabe ainda, acho que seria bem mais legal se vocês contassem, não é?

Joana assentiu, extremamente animada.

Elas duas me abraçaram novamente e eu deixei um beijo no topo da cabeça de cada uma.

Flora as indicou o banheiro da sua sala e elas foram até lá.

— Obrigada por isso. — Sussurro para ela, que sorri para mim, limpando uma lágrima solitária em que caiu de um de seus olhos.

— Não sei por que está me agradecendo. Você foi a responsável por tudo isso, e eu apenas assinei os papéis e as matriculei, somente. Você fez tudo.

Sorrio.

— Apenas aceite o meu agradecimento, Flora.

Ela revirou os olhos, voltando a sua atenção para o seu computador.

As meninas saíram do banheiro e eu as ajudei, uma a uma, a se posicionarem no canto da sala em que eu, há 21 anos atrás havia ficado para tirar a minha primeira foto de registro.

Flora fizera uma ligação para que uma ajudante viesse até a sala e logo a menina que parecia ter 17 anos apareceu, vestindo a calça legging, que era o principal de todos os uniformes dos funcionários, e uma blusa de alcinhas lilás, que indicava que ela era uma auxiliar de professores.

— Meninas, essa é a Sofia, ela irá ajudar vocês a se vestirem e as guiará para os seus armários. São os de número 7 e 8 da sala do primeiro ano A, as leve até lá e as ajude a trocar de roupa.

— A gente vai começar hoje mesmo? — Isa perguntou animada e eu assenti sorrindo.

— Daqui a pouco vocês terão a sua primeira aula. A professora de vocês... Ainda não chegou, mas logo ela estará na sala. Ela não se atrasa, é mais pontual do que o próprio relógio! — Flora falou revirando os olhos e eu ri, concordando com aquilo internamente — Portanto, sugiro que vocês adiantem.

Elas assentiram, vindo até mim e me abraçando.

— Vão indo se arrumar, eu vejo vocês daqui á pouco, ok? — Murmurei para elas duas, que assentiram.

— Obrigada, tia Mer. Eu te amo muito. — Joana sussurrou para mim e eu sorri, beijando o topo da sua cabeça.

— Eu também amo muito vocês duas, minhas pequenas.

Elas sorriram, deixando um beijo na minha bochecha, cada uma, e saíram, sendo acompanhadas pela auxiliar.

Suspirei, sentindo o meu coração transbordar em alegria e encarei Flora, que novamente encarava a tela do seu computador, parecendo irritada.

— A Lis ainda não chegou? — Pergunto me sentando de frente para si novamente.

— Não, mas provavelmente já está chegando. Ela não se atrasa.

Assinto, percebendo que a sua feição havia mudado.

Eu sabia o motivo da sua chateação.

— Você... Precisa de ajuda? Com... Qualquer coisa. Deve estar atolada...

— A sua vida já é corrida demais, então não. Mas obrigada.

— Flora... Sei que está chateada com...

— Eu estou bem.

— Não, você não está. Acha mesmo que consegue mentir para mim?

Ela suspirou, ainda sem me encarar.

— Você deveria conversar com ela, já faz quase uma semana que vocês estão brigadas. E você sabe o quanto a Lisa é sempre quem resolve tudo. E ser quem resolve tudo é um pouco exaustivo demais, você não acha? Eu só acho que... Esse orgulho seu não vai a levar a lugar nenhum, e você sabe disso.

Ela suspirou.

— Não quero falar sobre isso, Meredith. Não agora.

Suspiro, assentindo.

— Apenas... Queria a ver feliz, especialmente hoje. — Murmuro, entristecida. A sua frieza, por toda essa semana, tem me entristecido de forma dolorosa. Afinal, ela deveria estar feliz!

Ela suspirou, tirando os seus óculos e me encarando.

— Eu... Estou sendo péssima... Eu sei, filha, me desculpe. É que... As competições, o estresse com a Lisa, a briga, o estresse com a mãe daquela aluna... Tudo isso roubou a felicidade em que eu sentia. Mas eu não deixarei isso ocorrer novamente. Não hoje, ok?

Me levanto, dando a volta na mesa e me sentando de lado em seu colo, a abraçando pelo pescoço.

— Sabe que pode contar comigo para tudo isso, e sabe que estou disposta a ajudar em tudo, mãe. Eu... Apenas odeio a ver desse jeito, triste, amargurada, sem o brilho no olhar em que eu tanto amo.

Ela sorriu, acariciando o meu rosto e eu sorri de volta, sentindo o meu peito se aquecer.

— Havia tanto tempo em que você não me chamava de mãe, diretamente.

Sorrio, deixando um beijo em seu rosto.

— É apenas a falta de costume, você sabe... Passamos tanto tempo afastadas que...

Ela concordou, acariciando o meu rosto novamente.

— Eu irei ficar bem, filha.

— Você sabe que eu posso a ajudar, sabe que...

— Eu irei ficar bem. Já lidei com estresses piores que esses e ainda estou de pé! E você... — Ela sorriu — Está achando que terá tempo para pensar em ajudar a sua mãe com quase vinte meninas para lidar todos os dias, Professora Montgomery?

Eu ri, acariciando o seu rosto.

— Sei dar conta do recado, Diretora Miller. Mas adorarei receber algumas instruções para lidar com algumas situações.

— Você não precisa de instruções de ninguém, minha filha! Você irá se sair perfeitamente bem, eu tenho certeza disso.

— Eu espero.

— Agora levante-se do meu colo, porque você não é mais o bebê de 21 anos atrás, e está pesada. E há quase vinte crianças chegando na sua sala, e elas irão querer conhecer a professora delas.

— Ok, agora quem fala é a minha chefe, e não a minha mãe, estou ficando boa em discernir qual fala comigo! — Comentei rindo e ela deu um tapinha na minha bunda, me fazendo levantar.

O fiz, vendo-a abrir a sua gaveta e tirar de lá o meu cartão preto, me entregando.

— Seja bem-vinda, oficialmente, á Miller's Academy, Professora Montgomery. É uma honra a ter como integrante do nosso time.

Sorrio, sentindo-me transbordar em felicidade.

— Muito obrigada, Diretora Miller, a honra é inteiramente minha!

Aceito o cartão, observando, na frente dele, a minha foto, a qual atualizei na semana passada, e o meu nome, em letras douradas e, abaixo dele, escrito, também em letras douradas:

"Meredith Montgomery;
Orientadora Sênior de Ballet e Ginástica, Nível avançado;
Miller's Academy"

Sentindo-me a pessoa mais grata do universo, deixei um beijo no topo da cabeça de Flora, sem conseguir deixar de encarar aquele cartão.

O meu sonho da noite anterior viera á minha mente no mesmo momento, e eu rapidamente sorri, sentindo o meu peito fervilhar em alegria.

Definitivamente, aquela academia havia sido responsável por mudar todos os caminhos em que a minha vida poderia ter tomado.

E eu era extremamente grata por aquilo.

E por, mais uma vez, poder ter a oportunidade de ter os rumos da minha vida mudados por aquele lugar, e por Flora.

Enfim tudo parecia estar se encaixando. Aos poucos. E eu não poderia estar mais feliz por isso!

— Obrigada por isso, mãe. Eu... Não consigo explicar o quão sou grata por você estar confiando algo tão... Grandioso á mim.

Ela sorriu, se levantando da sua cadeira imponente e segurando meu rosto entre as suas mãos, me lançando o seu sorriso em que, por 21 anos, cumpria com o mesmo papel de fazer o meu coração se aquecer em ternura, e a responder áquele ato quase que de forma automática.

— Você mereceu isso, meu amor. E eu quem sou grata por você ter aceitado voltar para casa. Definitivamente.

Sorrio, assentindo.

— Eu prometo que não irei a decepcionar.

Ela acariciou o meu rosto novamente.

— Sei que não irá. Você só me enche de orgulho a cada dia, meu amor. E, um dia, nós estaremos, definitivamente, na lista de melhores academias de dança e ginástica do mundo.

Sorrio, deixando um beijo na sua bochecha e a abraçando.

— Sei disso, mãe.

Ela desfez o nosso abraço.

— Agora vá. Sei que você não gosta de atrasos. Estarei a esperando na sala, ok?

— Ok.

Antes de sair da sala, encarei o porta-retratos em cima da sua mesa e sorri para a Meredith de 21 anos atrás, que não fazia a mínima ideia de que estaria ali, 21 anos depois, pronta para exercer o que ela havia descoberto, naquela época, como uma das suas maiores paixões.

Suspirei, fechando os meus olhos por um segundo e, assim que pensamentos contrários e de incerteza surgiram á minha mente, aquela sensação de estar fazendo a coisa certa me invadiu por completo, dispersando tudo aquilo.

Sorri para Flora novamente, saindo da sala e me encaminhando até o segundo andar.

Entrei na sala dos professores, que, estranhamente, estava vazia, e me dirigi até o meu armário.

Alcancei o meu uniforme e guardei a minha bolsa ali dentro, indo até um dos banheiros em que havia ali.

Entro no mesmo, deixando o meu uniforme pendurado e me encaro no espelho, sorrindo para mim mesma.

O ato de tomar aquela decisão não fora fácil.

Eu havia passado boa parte da madrugada na casa de Beatrice, na semana passada, lutando contra os meus medos interiores para tomar a decisão certa.

Até que todas as coisas em que Addison me disse, quando a contei sobre a proposta de Flora, invadiram a minha mente, me fazendo ter certeza daquilo.

Ela estava certa, e, pela primeira vez na vida, eu senti a segurança das suas palavras acalmarem o eu ansioso em que habitava em mim, desde que eu me entendia por gente. O eu medroso, o eu em que, por toda a sua vida, passou tomando decisões á partir de o que outras pessoas queriam.

Aquela era a primeira vez em que eu pensava em mim mesma.

E, tendo a voz de Addison ecoando na minha cabeça feito um mantra, eu não fui capaz de negar o que eu queria.

Portanto, eu havia tomado a minha decisão.

A única coisa em que eu havia pendente para resolver com Flora fora a possibilidade de o meu suposto salário ser descontado nos estudos de Isabella e Joana. Era a minha condição. Que elas pudessem realizar o seu sonho, e que eu pudesse as ajudar nisso.

Não fora tão difícil o quanto pensei convencer Flora a matricular alunas novas passado o período de inscrições da academia. Na verdade, fora bem mais fácil do que eu pensei.

Ela sequer precisou me ouvir por completo.

E, no mesmo dia eu assinei o contrato e me comprometi a me preparar, por toda a semana, para o início das aulas, que seriam na semana seguinte.

E lá estava eu.

Há pouquíssimos minutos de entrar em uma sala com quase 20 garotas, as quais eu deveria, pelo próximo ano, ensinar tudo em que havia aprendido em, mais ou menos 14 anos.

E, estranhamente, eu me sentia mais preparada do que nunca.

Me encarando na frente daquele enorme espelho, carregando um sorriso bobo no rosto, eu tirei toda a minha roupa, vestindo a calça legging preta e a blusa de alcinhas da mesma cor, o que não somente indicava para os alunos e funcionários que eu era professora daquela academia, mas que eu era uma professora sênior, o que, basicamente, queria dizer que eu também estava responsável por treinar os participantes das competições de dezembro.

Suspiro, fechando os meus olhos e perguntando-me internamente se eu estava realmente preparada para aquilo. Se aquela sensação de me sentir preparada era real.

E, surpreendentemente, a imagem de Addison, naquela sacada, há dez dias atrás, após o jantar de George, surgiu á minha mente de forma completa e estranhamente nítida. Mas não somente a sua imagem, a sua voz, rapidamente, fez-se presente, e eu me peguei um pouco assustada ao conseguir a ouvir tão claramente dentro da minha cabeça

"Você é um gênio. O que a falta é ter a noção disso, e confiar em si mesma."

E, bem, eu não tinha noção daquilo, e muito menos concordava com ela naquele aspecto, mas, pela primeira vez na vida, eu confiava em mim mesma.

Porque ela parecia, de certa forma, não somente confiar em mim, mas, talvez, até mesmo acreditar na minha capacidade.

E aquilo me trazia uma inusual sensação de confiança.

Nela e, bem, em mim mesma.

Porque não há nada mais encorajador no mundo, do que possuir alguém em que realmente acredite em você, e deixe isso á mostra, mesmo quando nem você acredita.

Aquilo daria certo. Porque eu faria dar certo.

Eu era capaz de realizar aquilo.

E, se até Addison, que não possuía nenhum tipo de ligação sentimental comigo, parecia ser capaz de acreditar em mim, por que eu mesma não poderia?

...

Com um suspiro longo, depois de repetir, inúmeras vezes para mim mesma que eu era capaz de fazer aquilo, toquei na porta de vidro da sala e, sem me dar o direito de pensar, entrei na sala, sorrindo ao dar de cara com as, fazendo uma conta rápida, 18 alunas em que eu daria aula por um ano inteiro.

Algumas estavam reunidas em um canto da sala, conversando animadas, outras, provavelmente mais tímidas, estavam sentadas no chão, e mais outras corriam pela sala, parecendo animadas.

Sorri, assim que avistei Isabella e Joana em um canto, juntas, de mãos dadas, conversando, parecendo felizes.

Quando Flora me informou de que eu seria a professora das duas, o meu coração pareceu dar um salto de alegria dentro do peito.

Afinal, aquilo parecia ser uma ótima confirmação de que, o que eu estava fazendo, era o certo a ser feito.

Assim que as pequenas me viram, elas correram até mim e me abraçaram fortemente.

— Tia Mer! Por que você tá com essa roupa? — Joana perguntou, fazendo uma careta engraçada.

No mesmo momento, Flora, que estava em um canto da sala conversando com algumas meninas, veio até mim e pigarreou, chamando a atenção de todas.

— Prestem atenção — Sussurrei para as duas, que assentiram, se afastando um pouco de mim.

— Bom dia, meninas. — Flora as cumprimentou com um sorriso alegre em seus lábios, o mesmo sorriso em que me tirara o nervosismo, há 21 anos atrás, no meu primeiro dia.

Era incrível o quão ela não havia mudado nada. Absolutamente nada.

— Mais uma vez me apresentarei para vocês. Meu nome é Flora Miller e eu sou diretora e dona da Miller's Academy. Gostaria de, primeiramente, dizer que estou á disposição de vocês na minha sala, que fica no térreo, no primeiro corredor, á direita. Qualquer dúvida, reclamação, ocorrido... Qualquer coisa, estarei lá. Gostaria de as dar as boas-vindas á Miller's e gostaria de dizer que espero que o tempo em que vocês passem aqui seja, além de tudo, divertido para vocês. — Ela fez uma pausa. — Gostaria de as apresentar, rapidamente, o código de cores dos funcionários, o que é, basicamente, como vocês poderão diferenciar professores, de ajudantes e todos os outros funcionários. Os apenas professores utilizam uma blusa branca, os professores sênior, que são também responsáveis pelas competições e, portanto, são mais especializados, utilizam blusa preta. Os auxiliares de professores, os quais cada professor possui um, utilizam blusa lilás, os demais, utilizam blusa azul. E vocês, alunas do primeiro ano, utilizam blusa rosa. Com o tempo vocês se acostumam, tenho certeza disso. Bem... Vocês já devem ter conhecido a auxiliar de turma de vocês: Sofia. Ela, depois da sua professora, é a pessoa em que as ajudará em tudo que vocês precisarem. Ela é nossa aluna e se formará no ano que vem, portanto, conhece tudo sobre a academia.

As crianças assentiram e eu senti alguns olhares pousarem sobre mim.

Provavelmente algumas delas já haviam percebido que eu era a professora.

— Bem, vamos para o que vocês mais estão ansiosas. Saber quem é a professora de vocês, não é? Se ela será uma velha, chata, rabugenta e que as fará aprender espacate no primeiro dia!

As meninas se assustaram e Flora riu, não pude deixar de a acompanhar.

— Se assustaram? — Ela sorriu. — Fiquem tranquilas, porque a professora de vocês é o completo oposto de tudo isso. Ela é, na verdade a professora sênior mais nova dessa academia atualmente. É uma mulher doce, paciente, apenas possui alguns problemas com organização, mas é apaixonada por doces e por crianças. Ou seja, é a melhor professora em que vocês poderiam ter. Ela já foi aluna da Miller's, e... Bem, eu deixarei ela mesma se apresentar. Deem boas-vindas para a Professora Montgomery!

Rio, me colocando ao lado de Flora.

— Muito obrigada, senhora Miller. — Brinquei, a lançando uma piscadela.

Ergui o meu olhar, encarando todos aqueles rostinhos, de certa forma, ansiosos e sorri, sabendo bem como era aquela sensação, e o que eu poderia fazer para a dissipar por completo.

— Bom dia, meninas! — As cumprimentei, primeiramente, sorrindo para elas. E ouvi Isabella e Joana murmurarem algo entre si, me encarando surpresas. — Em primeiro lugar, quero acabar com as formalidades. Eu sou a Professora Montgomery, mas quero que me chamem de Meredith, Mer, tia... Como se sentirem mais confortáveis, o meu objetivo, aqui, é que sejamos como uma família, no ano em que se seguirá. Eu serei a responsável por as dar aulas de ballet do primeiro ano, ciclo um. E espero, de verdade, que possamos nos divertir muito juntas!

Algumas delas sorriram timidamente para mim e eu retribuí, com um sorriso em que, dentro de mim, torci para que tenha tido o mesmo efeito em que o de Flora tivera comigo, há 21 anos atrás.

— Bem, agora deixo essas pequenas nas suas mãos, Professora Montgomery. Ah! — Flora se virou para as meninas, sorrindo para elas — Esqueci do principal, ela é minha filha!

Eu ri, negando com a cabeça.

— Isso não é nada profissional, senhora Miller. Ou posso a chamar de mamãe na frente delas?

Algumas meninas riram baixinho.

— Minha mãe ligava para essas besteiras de profissionalismo, eu não. Portanto, meninas, sim, ela é minha filha, então tratem de a receber bem!

Eu sorri.

— Acho que posso assumir daqui, senhora Miller.

Ela revirou os olhos, mas sorriu, deixando um beijo na minha bochecha e se despedindo das meninas.

Eu sorri para elas, me sentindo um pouco nervosa, mas, tendo a voz de Addison ecoando na minha cabeça, afirmando que confiava em mim, eu sorri ainda mais, me sentando no chão, de frente para elas, me sentindo realmente capacitada para fazer aquilo.

— Vamos começar nos conhecendo. Já aviso, em primeira mão, que a melhor coisa sobre mim é que eu sei gravar nomes muito bem, então quero começar por isso. Vamos lá! Eu vou fechar os meus olhos e, aleatoriamente, vou apontar para uma de vocês, quero que me digam seu nome, idade e o seu doce favorito! Estão de acordo? — Elas assentiram, parecendo animadas.

Eu, então, fechei os meus olhos e apontei para um canto da sala, assim que os abri, ouvi as meninas rirem. Era um canto vazio.

— Ok, eu não esperava por isso. — Falei sinceramente e as ouvi gargalhar.

Eu ri.

— Vamos da forma tradicional, eu escolho e vocês falam, ok?

Elas concordaram.

— Comece, princesa. — Apontei para uma menina negra, de cabelos cacheados, que estava no meu canto direito e me encarava sorrindo.

— Meu nome é Louisa, eu tenho seis aninhos e o meu doce favorito é bolo de chocolate!

Eu sorri.

— Eu amo bolo de chocolate, a minha governanta, inclusive, faz um delicioso, um dia trarei para vocês provarem.

Ela sorriu alegremente, se sentando novamente.

— E você, pequena? — Apontei para uma menina que estava sentada também perto de mim, mas que, ao contrário das outras, eu não havia visto sorrir em momento algum.

Ela suspirou, parecendo não querer fazer aquilo, mas se levantou.

— Meu nome é Heiley Mallmann, eu tenho sete anos e a minha sobremesa favorita é cheesecake de mirtilo.

Sorri alegremente para ela, mas me sinto entristecida logo a seguir, por não receber o sorriso de volta, a vi apenas se sentar e desviar o seu olhar de mim.

— É um prazer a conhecer, Heiley. Espero que possamos ser amigas no ano em que passaremos juntas.

A vi apenas assentir, parecendo não se importar muito e suspirei, resolvendo deixar para pensar em razões para aquilo mais tarde.

Continuei com as apresentações, até chegar em Isabella e Joana.

— Meu nome é Isabella, mas todo mundo me chama de Isa, ou de Bella, eu tenho sete anos e o meu doce favorito também é bolo de chocolate.

— Meu nome é Joana, eu tenho sete aninhos e o meu doce favorito é milkshake de morango.

Eu sorri, erguendo a minha mão, em um high-five para ela.

— Pronto, agora que nos conhecemos devidamente, alguém tem alguma pergunta?

Três meninas levantaram as mãos.

Apontei, primeiramente, para Louisa.

— Sim, minha pequena?

— Qual é a sua sobremesa favorita, tia Mer?

Eu sorri, sentindo o meu coração se aquecer pela forma a qual ela me chamou.

— A minha sobremesa favorita é a torta de morango que a minha governanta faz. Ela é a melhor cozinheira do mundo!

— Deve ser uma delícia! — Emma, uma das meninas, comentou sorrindo.

— É sim, meu amor. Quando ela voltar de férias eu prometo pedir para que ela faça uma torta para que eu traga para vocês, ok?

Elas assentiram sorrindo.

— Agora é a sua vez, Mia. — Indiquei a outra menina que havia levantado a mão.

Ela sorriu, parecendo envergonhada.

— Você é casada, professora?

Sorrio, encarando a minha mão esquerda rapidamente. A ergui, assentindo.

— Sim, meu anjo, eu sou.

— E você tem filhos? — Outra menina perguntou.

— Não, princesa, eu não tenho.

Ela assentiu.

— Sua vez, Sarinha. — Indiquei a última menina, que havia levantado a mão.

— A gente vai precisar saber espacate esse mês ainda?

Eu sorri.

— Não, meu anjinho. Nós iremos trabalhar nisso juntas, aos poucos. Mas eu provavelmente não serei a professora que irá as ensinar, propriamente, a abrir espacate.

Ela assentiu.

— A senhora pode mostrar pra gente? O espacate?

— Claro! — Falei me levantando, e agradecendo internamente por ter me alongado por completo a semana inteira. — Mas, com uma condição. Vocês não podem, em hipótese alguma, tentar fazer isso agora. E, mais para frente, muito menos poderão fazer isso sem um professor por perto. É um movimento difícil, e vocês podem se machucar muito feio se tentarem sem o devido preparo. Estamos combinadas?

Elas assentiram.

Eu me afastei.

— Quero que vocês se levantem, para que eu possa as ensinar o alongamento antes de as mostrar o espacate, ok? Repetiremos ele por todos os dias, duas vezes ao dia. Uma no início e outra no fim da nossa aula. O alongamento é importante, porque, agora, o corpinho de vocês ainda está meio dormindo, meio cansado, tentando entender o que está acontecendo. E, então, quando a gente alonga ele, é como tomar café de manhã. O nosso corpinho precisa de alimento para se preparar para um dia de muitas brincadeiras, porque senão, adivinhem o que acontece?

— O que, tia?

— BU! — As assustei, as fazendo rir logo em seguida. — O nosso corpinho toma um susto. Imaginem, se eu abrisse espacate aqui agora, sem dizer para o meu corpo: "olha, corpinho, agora a gente vai se exercitar!". Ele tomaria um grande susto, não é? E não de uma forma boa e engraçada. Na verdade, esse susto não é nem um pouco legal.

Elas assentiram.

— Então vamos lá, vamos garantir que o nosso corpinho não tome susto algum hoje! Braços para cima da cabeça, bem alto! — elas repetiram o meu movimento — Agora, fiquem na ponta dos pés e estiquem os braços bem mais alto, como se quisessem alcançar uma nuvem bem bonita no céu! Muito bem! Agora, braços para o lado direito — O fiz, as acompanhando — Alonguem bastante, é bem gostoso, não é? Parece que o nosso corpo é um elástico, e está se esticando bem devagar. Agora para o lado esquerdo, isso! Bem gostoso!

— Bem, Agora, o que vocês acham de nós dificultarmos um pouquinho? Está muito fácil, não é?! E as minhas alunas são princesas muito inteligentes, isso vai ser moleza! — Elas sorriram.— Quero, agora, que vocês abaixem e joguem o bumbum pra o ar, tentando tocar o dedão do pé, mas sem dobrar os joelhos, vamos lá? Todas juntas! Três, dois, um! — Me abaixei junto a elas, realizando aquele movimento com facilidade, tocando não só o meu dedão, mas pousando as minhas duas mãos espalmadas sobre os meus pés.

Fiz mais alguns movimentos com as meninas, as ensinando a importância de cada um deles e, ao fim, sorri sapeca para elas.

— Agora nós vamos chacoalhar os nossos corpinhos, dessa forma — As mostrei — E, com isso, vamos falar, juntas: "acorda, corpinho, está na hora de se movimentar!" Ok? Todas de acordo? Então vamos!

Nós o fizemos, juntas, e, no fim, se tornou algo divertido, todas elas riam, enquanto se sacodiam de um lado para o outro. As indiquei que também pulassem.

— Uau! Isso foi legal, não é?

Elas assentiram, animadas.

— E agora, tia Mer? O seu corpinho já tá bem desperto, a senhora pode mostrar o espacate pra gente? — Louisa perguntou eu sorri, assentindo.

— Vou as dar um pequeno resumo. Para que vocês consigam realizar esse movimento, vocês vão treinar bastante essa parte de dentro da nossa coxa. É ela que é a responsável por nos permitir fazer o espacate. Mas, essa parte do nosso corpinho, é muito sensível, então vocês vão precisar de algum tempo para que ela se abra totalmente. E isso vocês apenas conseguirão com o passar do tempo, ok? Então nada de tentarem isso em casa, porque vocês podem se machucar feio! E eu não quero ver nenhuma das minhas princesas machucadas, porque acabei de conhecer vocês, e temos muita coisa pela frente ainda!

Todas elas sorriram animadas, menos Heiley.

— Ok, agora que estamos entendidas, vamos lá!

Dito tudo isso, me posicionei, fechando os meus olhos e abrindo as minhas pernas vagarosamente, em um espacate de frente, sentindo a sensação incrível em que aquele alongamento me proporcionava.

Ouvi as meninas murmurarem expressões de completa surpresa e sorri sapeca para mim mesma, resolvendo as mostrar um pouco mais.

Ergui uma das minhas pernas até acima da minha cabeça, de forma reta no ar e, então, e a envolvi no meu pescoço, inclinando o peso do meu corpo para o lado em que a minha outra perna estava esticada milimetricamente reta ao chão. Apoiei as minhas duas mãos, uma de cada lado da minha perna ao chão e sorri, vendo as minhas alunas me encararem, eu diria, horrorizadas, mas, ao mesmo tempo, maravilhadas.

— Como a senhora consegue?

Eu ri, desfazendo aquela postura e me sentando no chão, para, então, me levantar.

— Tempo, minha pequena. Foi tudo questão de tempo. Vocês também poderão fazer isso, mas um dia, lá para frente!

— Você já estudou aqui, tia?

— Já, meu anjo. Comecei aos meus quatro anos e terminei com dezoito.

As expliquei melhor, como haviam sido os meus anos na Miller's, pois elas pareceram interessadas.

E, então, dei seguimento com o meu planejamento de aula, que havia feito tanto mentalmente, quanto por escrito, no meu macbook.

E, ao fim de toda a minha aula, o meu nervosismo inicial já nem, sequer, mais fazia menção de habitar em mim, mesmo que pouco.

Tudo havia saído melhor do que planejei. Eu havia conseguido dar a minha aula introdutória no tempo exato destinado a ela, e isso me encheu de uma satisfação genuína.

— Ok, minhas pequenas bailarinas, finalizamos por hoje. Agora, se desejarem, vocês podem ir lanchar ou brincar lá embaixo, ok? Nos veremos amanhã, não se esqueçam de, antes de dormir, com a supervisão do papai, da mamãe ou do seu responsável, fazerem os alongamentos de hoje, ok? E, antes de vocês irem, deixem a tia Mer falar uma coisa: O que vocês acham de, amanhã, vocês trazerem para a aula o seu brinquedo favorito? — Elas sorriram — A tia Mer quer conhecer vocês um pouco mais, e isso é uma ótima maneira de fazermos isso, não é? — As vi concordar — Portanto, falem para a mamãe e o papai, ou o responsável, que está tudo bem trazer um brinquedo, porque a professora pediu, ok? — As vi assentir — Ok, agora vocês estão liberadas! Descansem bastante hoje, porque amanhã nós iremos trabalhar um pouco mais do nosso corpinho! E não se esqueçam, tomem café da manhã!

Elas assentiram e, uma a uma, se levantaram.

As ajudei, uma a uma, a colocarem as suas mochilas.

— Tchau, tia Mer, até amanhã! — Louisa me abraçou apertado, deixando um beijo carinhoso na minha bochecha.

— Tchau, minha pequena. Até amanhã. — Respondi devolvendo o seu beijo e vendo-a sair da sala correndo.

Sorri para mim mesma, negando com a cabeça e senti alguém cutucar a minha cintura, eu sorri, vendo uma das meninas, Maggie, sorrir docemente para mim, me entregando um chocolate.

— Para mim, meu amor? — Pergunto um pouco surpresa.

Ela assentiu, parecendo envergonhada e eu devolvi-a um sorriso sincero, deixando um beijo no topo da sua cabeça.

— Muito obrigada, meu amor.

— Até amanhã, tia Mer.

— Até, minha pequena. — Respondi sentindo o meu coração se aquecer de forma deliciosamente prazerosa.

Ela saiu da sala, e algumas outras meninas me cumprimentaram, algumas, ainda tímidas, mas outras, me deram beijos carinhosos na bochecha.

Heiley passou por mim, alcançando a sua mochila e eu suspirei, vendo-a me dar as costas.

— Até amanhã, Heiley, não esqueça o seu brinquedo, está bem?

Ela apenas assentiu, ainda de costas para mim e saiu da sala.

Eu apenas suspirei, sentindo o meu coração se apertar, mas sem ter muito tempo para isso, pois logo senti as minhas meninas me abraçarem fortemente pela cintura.

— Tia Mer, eu acho que se isso for um sonho, é o mais doido e o mais melhor que já tive. Porque a gente vai ser bailarinas de verdade, e você é nossa professora! — Joana falou me abraçando mais fortemente.

Eu ri.

— Vocês gostaram da surpresa?

— Se a gente gostou? Foi a melhor coisa que já aconteceu na nossa vida inteirinha! — Isabella falou, me fazendo rir.

— Fico feliz por isso, meus amores. Agora nós vamos almoçar juntas, porque vocês devem estar tão famintas quanto eu, e adivinhem? Hoje vocês estão livres da escola!

Elas riram, completamente felizes. O brilho que estava presente em seus olhares era impagável. Elas realmente estavam realizadas.

— A tia Mer vai ter que dar aula de tarde, mas o meu segurança irá as levar para casa.

— A gente não pode ficar aqui? Vendo a sua aula? — Isabella perguntou.

— Só se vocês me prometerem um beijo e um abraço bem gostoso!

Elas riram, o fazendo.

E, assim em que encarei a porta da sala, vi uma mulher encostada nela, ao lado de uma das minhas alunas, Mia.

Sorri no mesmo momento, me afastando de Isabella e Joana e indo até elas.

— Bom dia — A mulher me cumprimentou sorrindo — Você deve ser a professora, certo?

Sorrio, assentindo e devolvendo o seu apero de mão.

— É um prazer conhecê-la, sou Daniella, mãe da Mia.

— O prazer é meu, Daniella, Meredith Montgomery. — Me apresentei, percebido, no mesmo momento, em que ela havia reconhecido o meu sobrenome.

— Fiquei extremamente curiosa para conhecer a professora linda em que a minha filha me afirmou ter, lá embaixo!

Sorrio, acariciando o rosto da pequena.

— Fico lisonjeada pelo elogio, minha pequena! A senhora é mãe de uma garotinha extremamente doce, Daniella.

— Ela pareceu amar a sua aula! O que me deixa aliviada. Sempre quis que Mia fizesse ballet, mas sempre tive medo de ela não gostar.

— Imagino, mas, se depender de mim, essa pequena irá amar o ballet. Quero que, além de tudo, ela possa se divertir com o processo, e não somente fazer por obrigação.

Ela sorriu.

— Fico feliz que a minha filha possa ter a oportunidade de estudar com a senhora, senhora Montgomery! A senhora parece ser um tipo raro de professora hoje em dia.

Sorrio, extremamente grata pelo elogio.

— Espero que nós possamos ser muito amigas nesse ano que passaremos juntas, não é, Mia?

Ela sorriu, assentindo e eu dei o meu número para a sua mãe, para que ela me contatasse quando precisasse falar sobre Mia.

Eu gostaria de ter o máximo de contato em que pudesse, não somente com as minhas alunas, mas também com seus responsáveis. Para que tudo aquilo funcionasse da melhor forma possível.

Nós conversamos sobre Mia por mais alguns minutos e, logo após, elas se despediram de mim, alegando que Mia já estava atrasada para se arrumar para a escola.

Eu me despedi da pequena, a lembrando de trazer o seu brinquedo no dia seguinte e, então, me virei novamente para Isabella e Joana, que me aguardavam pacientemente em um canto da sala.

— Quem aqui está com fome o bastante para comer bastante e, ainda sim, sobrar espaço para um milk shake bem grande?!

— EU! — elas exclamaram animadas e eu sorri, deixando um beijo no topo da cabeça de cada uma e pegando a minha bolsa de aula.

Eu as levei para fora da sala e, então, passei rapidamente na sala de Flora.

As deixei lá e subi para trocar de roupa. Assim que alcancei o meu celular dentro da minha bolsa, vi uma chamada perdida de Cristina e uma mensagem dela cancelando o nosso almoço, pois havia ocorrido uma emergência no hospital e ela precisou ir.

Então, apenas desci as escadas novamente, indo, com as meninas e Flora, até um restaurante perto da academia.

Lá, Isabella e Joana contaram para Flora, animadamente, cada detalhe da minha aula.

Almoçamos em harmonia, e, assim que terminamos de comer a comida, percebi já estar um pouco em cima da hora para que eu chegasse no horário em que eu desejava chegar, na minha primeira aula á tarde.

Então, pedi quatro milk shakes para viagem e fiz o pagamento da conta, caminhando de volta com elas até a academia.

Indiquei um banheiro para que as meninas tomassem banho e as surpreendi com tudo que eu havia comprado para elas de higiene pessoal. Tudo aquilo ficaria em seus armários na academia, para que elas não precisassem trazer.

Também tomei um banho rápido e vesti novamente o meu uniforme, prendendo os meus cabelos em uma rabo de cavalo alto.

Desci até o térreo e me encaminhei até a sala 3, que seria a minha sala de ensaio.

Passei algum tempo ali, relembrando da minha programação, um pouco mais simples, para aquele primeiro encontro.

E, as 14:00 em ponto, os alunos começaram a entrar.

Eu os cumprimentei brevemente, conforme iam entrando. A minha auxiliar de classe do primeiro ano estava entre eles, portanto, ela me cumprimentou docemente, se sentando no chão.

— Estão todos aqui? — Pergunto me colocando de pé, um pouco mais nervosa. Afinal, eram adolescentes de 15 a 18 anos, não tão fáceis de lidar quanto crianças de 6.

— Falta só o Peter, professora. Mas aquele lá vive atrasado. — Sofia respondeu dando de ombros.

— Acredito, então, que Peter e eu precisaremos de algum tempo para nos entendermos melhor. — Murmuro, deixando evidente que atrasos não me agradavam muito — Mas vamos lá! Bom, primeiramente, eu quero deixar uma coisa muito importante bem claro, acho que é a coisa mais importante de todas: não, eu não tenho a idade de vocês. Eu sei, nesse momento vocês devem estar chocados, sei que estão, e sei que, quando entraram nessa sala e viram que a nova professora de vocês não é uma respeitosa senhora de idade, mas chata, que vai viver por aí gritando vocês e os dando ordens, talvez, só talvez, vocês podem não ter confiado muito bem de que eu, com esse tamanho e a idade que aparento ter, poderei ser responsável por algo tão grandioso, que é as competições de dezembro. E, na verdade, nem eu acho que seja, dentre todas as professoras mais experientes dessa academia, a melhor escolha de Flora, mas, se tem uma coisa que vocês já devem estar familiarizados, é que nunca, em hipótese alguma, é uma boa ideia contrariar Flora Miller.

Eles sorriram, parecendo achar graça.

— Bem, deixem-me apresentar devidamente...

Ouvi a porta ser fechada e um rapaz entrar na sala, ele era loiro, possuía olhos castanhos e estava vestido com o uniforme da academia, como todos os outros.

— Perdão pelo atraso, professora.

— Está perdoado, Peter. Só espero que não se repita, ok? — Falo tentando ser o menos chata possível.

— Desculpa, professora. Estava terminando de comer. Bolo de chocolate, sabe? Não dar pra parar.

— Apenas perdoo da próxima vez se trouxer um pedaço para mim. — Falei o lançando uma piscadela e ele riu, batendo continência.

— Sim senhora... Ou seria... Senhorita?

— Senhora.

Ele assentiu, se sentando.

— Bem, como eu ia dizendo, vamos fazer uma apresentação rápida. E, então, partiremos para as ideias. Quero saber o que vocês têm em mente, para que eu possa trabalhar em cima disso. Então vamos lá! Meu nome é Meredith Montgomery e, além de ser a professora de vocês, sou, também, do primeiro ano. E, apesar de parecer tão novinha assim, já estou mais que familiarizada com a sistemática das competições.

Vi um deles levantar sua mão e o concedi a fala.

— Não é a senhora que está nas inúmeras fotos espalhadas pela academia? A única dessa academia que já venceu uma competição mundial de ginástica em... Quando mesmo?

— Em 2013, e sim, sou eu. E pelo visto vocês sabem mais de mim do que imaginei.

Ele sorriu, assentindo.

— Bem, vamos lá. Vamos ser rápidos, quero que me digam seus nomes, para que, então, possamos começar a discutir as nossas ideias.

Eles o fizeram, rapidamente, afinal, eram apenas 12 alunos no total.

— Ok, agora quero saber quem aqui irá competir em ginástica?

Sofia, a minha auxiliar de classe, levantou a sua mão e eu sorri, assentindo.

— Quero que saiba que estou a sua disposição, ok? Sei que você já dever ter uma professora responsável pelo seu treino, mas estou á sua disposição de qualquer maneira.

— Muito obrigada, Professora Montgomery. — Ela agradeceu me lançando um sorriso doce. E eu o devolvi.

— Quero começar ouvindo vocês, o que vocês têm em mente, o que podemos ter como base nesse primeiro momento, quem irá começar?

Eles ficaram em silêncio completo, encarando uns aos outros.

— Ninguém? Vocês estão muito quietos, o que aconteceu? Achei que o fato de eu ser mais nova do que vocês poderiam esperar nos ajudaria mais na comunicação.

— Acho que o problema não é vergonha professora, é a falta do que comunicar mesmo. — Peter falou dando de ombros e me lançando um sorriso.

— Pode me explicar melhor, Peter?

— Tá na cara, professora. A gente não sabe de nada. A velha chata que veio antes da senhora não fazia nada além de fumar igual uma... Você não fuma, não é, professora? Acho que não, a senhora é muito bonita pra alguém que fuma.

Vi Sofia revirar os olhos e bufar irritada.

— Cala a boca, Peter!

— E muito casada também, Peter, tira o olho da professora! Não tá vendo que ela usa aliança? — Uma das meninas, Rachel, comentou.

— Não é de namoro?

— Mas é muito burro mesmo, né! Ela é casada com a Juíza Montgomery! Burro!

— Dá pra vocês calarem a boca? — Sofia falou irritada.

— Puxa-saco da nova professora! Aposto que você também tem um crush nela, sua...

— Ok, agora é o momento em que você para de falar, Peter. Não só você, como todos os outros. — Murmuro suspirando, no fundo, eu havia achado aquilo engraçado, mas não poderia admitir de forma alguma. — Vamos determinar algumas coisas, ok? Sim, Peter, eu sou casada, e, apesar de você ser um garoto muito bonito, eu ainda sou a sua professora, portanto, gostaria que, entre nós, se construa uma base de respeito. Não irei os exigir respeito, porque não é algo em que se exige de alguém, e sim é conquistado. Mas eu gostaria que, nesse ambiente, nem a minha idade, nem o meu casamento e muito menos insinuações sobre possíveis crushs sejam a pauta, e sim as competições, em que, já entendi, vocês não tem absolutamente nada para me apresentar. E não há problema nenhum nisso, afinal, eu sou a professora aqui, portanto, essa iniciativa é minha. Eu apenas queria saber se vocês possuíam algo em mente. Mas, como não, vamos montar algo do zero! Eu trouxe alguns vídeos de apresentações em que acho que poderiam nos inspirar. Irei os reproduzir e, então, depois, conversamos melhor sobre as ideias. Todos de acordo? — Eles assentiram. — Fui clara? — Novamente assentiram. — Alguma dúvida? — Peter levantou a mão. — Sobre a nossa aula, Peter?

Ele a abaixou novamente e eu assenti, ligando o meu MacBook e reproduzindo os vídeos em que eu havia, minunciosamente, separado ao decorrer da semana.

E, ao fim, eu me sentei junto a eles e nós começamos a idealizar os pontos principais da apresentação. O tempo que ela levaria e algumas sugestões de músicas que poderíamos usar foram dadas por eles, e eu, é claro, as anotei para ouvir mais tarde, assim como algumas ideias de figurino e de movimentos.

Ao fim da aula, o tempo havia passado tão rápido que nós ainda deixamos muitas coisas pendentes, para o dia seguinte.

— Ok, pessoal. Acabamos por hoje, creio que vocês já estejam cansados, portanto, vamos deixar o resto para amanhã. Os aguardo aqui ás 14:00 em ponto, ok, Peter?

— Sim, senhora! — Ele falou batendo continência e eu ri baixo, negando com a cabeça.

— Sofia, gostaria de conversar com você, se você puder, é claro.

— É claro, Professora Montgomery.

Vi todos saírem da sala juntos e apenas Sofia ficar, vindo até mim.

— A senhora precisa de algo? — Ela perguntou, parecendo preocupada.

— Não se preocupe, meu amor. Apenas gostaria que me desse o seu número de telefone e que criasse um grupo no WhatsApp para mim, com todos eles. Gostaria de os acompanhar por mais tempo, até porque, uma aula de três horas não é o bastante para todo o processo em que temos pela frente.

— Claro, professora.

A entreguei o meu celular e a pedi para que anotasse o seu número, enquanto eu arrumava as minhas coisas. E, assim que ela acabou, ela também me ajudou no processo de guardar tudo.

— Muito obrigada, querida. Agora você pode ir, já está tarde.

— Obrigada pelas aulas, professora. E... Não liga muito para o Peter não. Ele é meio... Assim, mas é gente boa. E todos eles gostaram da senhora, tenho certeza disso!

Sorrio, realmente aliviada.

— Você não imagina o tamanho do meu alívio em ouvir isso, Sofia. Obrigada por hoje. Você foi incrível com as crianças, e até mesmo com eles.

Ela sorriu e me ajudou a levar as minhas coisas até a sala dos professores, onde, assim que eu entrei, vi Lisa conversando com uma outra mulher, que era apenas professora.

— Muito obrigada, meu bem. Até amanhã. — Agradeci a Sofia, que sorriu novamente para mim e pediu licença, se retirando.

Cumprimentei Lisa, que me abraçou animada ao me ver e rapidamente me apresentou para a outra professora, Amanda, ela estava responsável pelos alunos do ciclo dois.

Nós apenas nos apresentamos rapidamente e eu fui até o banheiro me trocar.

Rapidamente vesti a minha roupa com a qual eu havia saído de casa pela manhã e penteei os meus cabelos, os deixando soltos.

Me despedi de Lisa, que alegou estar ainda cheia de coisas para fazer e, então, fui até a sala de Flora, onde Isabella e Joana haviam ficado enquanto eu dava aula. Pois elas haviam perdido o interesse em ver a aula com os adolescentes quando souberam que seria apenas uma aula introdutória.

— Tia Mer! A sua aula já acabou? — Isabella perguntou vindo até mim.

— Já sim, minha pequena. E agora a tia Mer precisa levar vocês para casa, porque vocês precisam ir dormir para acordarem cedo amanhã.

Elas assentiram e se despediram de Flora.

— Você irá embora agora? — Perguntei para ela, que negou com a cabeça.

— Ainda tenho muita coisa para resolver.

— Ok, vou pedir para a minha segurança as levar para casa e já volto.

Joana e Isabella me acompanharam para fora da sala de Flora e eu as levei até o saguão da academia, onde Warren e Helen estavam sentados, conversando.

— Boa noite! — Os cumprimentei — Helen, você pode levar as meninas para casa, por favor? Eu ainda tenho algumas coisas para resolver aqui.

— Claro, senhora. Eu já estarei de volta.

Assinto, abraçando as meninas e depositando um beijo na bochecha de cada uma, que fizeram o mesmo comigo.

— Amanhã um dos meus seguranças irá as buscar as 7:00, ok? Tragam os seus uniformes da escola, porque vocês irão direto daqui para lá.

— Obrigada, tia Mer! Eu te amo muito! — Joana falou me abraçando fortemente. — Eu nem acredito que isso é real, eu tô com medo de dormir hoje, acordar amanhã e ser um sonho.

Sorrio, acariciando o seu rosto.

— De forma alguma! Eu preciso das minhas duas alunas completamente descansadas amanhã, porque vamos trabalhar muito esses corpinhos.

— Tá bom, tia Mer, a gente vai dormir direitinho. E também praticar o alongamento de hoje.

Assinto, as abraçando e as guiando até o carro. As ajudei a entrar e coloquei os seus cintos, as soltando um beijo no ar e voltando até a academia.

Me dirigi novamente até a sala de Flora e entrei, a vendo concentrada no seu computador.

— Elas já foram?

Assinto, indo até ela e massageando os seus ombros, enquanto encarava a tela do seu computador.

Ela bufou irritada e o desligou, se levantando.

— O que aconteceu? — Pergunto preocupada, vendo-a ir até o seu frigobar e o abrir, me surpreendendo ao tirar de lá dois copos de Milk Shake, me entregando um deles.

— Preciso sair dessa sala, caso contrário, sinto que irei enlouquecer, se eu continuar presa aqui!

Sem precisar pensar direito, eu sorri para ela, pegando na sua mão.

— Acho que já sei de um lugar onde você vai poder ter um pouco de liberdade — Falei a puxando dali e caminhando com ela até onde eu lembrava ser o nosso lugar favorito naquela academia.

Assim que paramos diante daquela sala, vi Flora sorrir, negando com a cabeça e abri a porta, acendendo as luzes.

E, ao contrário do que pensei, aquele lugar não havia mudado absolutamente nada durante os sete anos em que eu havia passado longe daquela academia.

— Uau! — Murmuro olhando ao redor, observando a sala inteiramente coberta, em seu chão, pelos tapetes de borracha em que faziam-se extremamente necessários ali, pois evitava que os alunos se machucassem.

A sala era repleta de barras, alguns pares de tecidos acrobáticos ao teto e alguns outros equipamentos necessários para alongamentos, postura, maior flexibilidade, de salto e para outros inúmeros movimentos um pouco mais complexos.

— Nada mudou — Flora comentou me encarando — Ninguém usa essa sala. Eu preferi... Conservar como algo só nosso, como sempre foi.

Sorri, assentindo e tirando os meus saltos, me sentando no chão.

Flora me acompanhou e nós ficamos em silêncio por algum tempo, eu estava imersa demais na energia tão... Nostálgica em que aquela sala possuía.

— Essa noite... Eu tive um sonho. — Comento, após algum tempo calada e ela me encara. — Na verdade... Uma lembrança. Do meu primeiro dia de aula aqui.

A vi sorrir.

— E isso foi como... Uma confirmação. De que... Tudo o que estou fazendo... Você sabe, de certa forma, seja o que eu devo fazer.

— Sei que é. — Ela comentou encarando um ponto em específico — Naquele dia... Quando olhei para você, pela primeira vez, enquanto você conversava com Ella... Senti que... Nós duas seríamos muito mais do que apenas professora e aluna.

Sorrio, deitando a minha cabeça no seu colo e sentindo-a fazer carinho em meus cabelos.

— E você estava certa — comento — Extremamente certa.

— Sim. Você... Me deu muito mais do que eu poderia imaginar receber, filha.

— Acho que foi recíproco, mãe.

Pude a sentir sorrir.

— Então, me conte! Como foi o seu primeiro dia de aula? Como foi com as crianças? E os adolescentes?

Suspiro, abraçando a sua cintura, enquanto sentia os seus dedos acariciarem os meus cabelos de forma terna.

Era disso que eu precisava. De um colo ao fim do dia, para que todo o meu cansaço se esvaísse e eu pudesse realmente relaxar.

— Com as crianças foi... Incrível! Não tive imprevistos, apenas... Uma aluna pareceu não gostar muito de mim. Heiley Mallmann, você... Se lembra dela?

Ela suspirou.

— Infelizmente sim. A mãe dela estudou aqui, junto comigo. Foi minha colega de classe e aluna da minha mãe. Os Mallmann são... Uma família tradicional alemã extremamente insuportáveis. Heiley, infelizmente, mesmo sendo uma criança, já possui a arrogância da família.

— Não fale assim, Flora. Ela é somente uma criança. Não acho que... Ela possua alguma maldade dentro dela, ou até mesmo arrogância. Talvez... Ela só não gostou mesmo de mim. — Falo dando de ombros — Posso ser até boa com crianças, mas isso não quer dizer que todas elas vão gostar de mim.

Ela suspirou.

— Ok, só não fique se martirizando por isso, ok? Você é a melhor professora que elas poderiam ter. Agora me conte, e os adolescentes?

— Bem... No geral, foi ótimo. Mas, como já era previsto, eles perguntaram bem mais do que as crianças. Você sabe, coisas sobre a minha vida pessoal. E Peter... Peter é um pouco....

— Desleixado. É, eu sei. Mas é um bom garoto. Gosto dele.

— Eu também. Não tive problemas com eles, não como me preparei para ter.

Ela riu, acariciando o meu rosto.

— Fico tão feliz por isso, filha! A ver... Seguindo os meus passos é... Algo... — Ela suspirou — Que nunca esperei que acontecesse. Mesmo que sonhasse.

Sorrio, entrelaçando a minha mão a sua.

— Nem eu esperava.

— E o que a fez tomar essa decisão? Porque... Do jeito que você é... Duvido que tenha a tomado rapidamente.

— Bem... Digamos que eu... Já sabia que queria isso...

— Sei. Mas o que a fez tomar a decisão definitiva.

Suspiro, fechando os meus olhos, assim que a imagem de Addison naquela sacada apareceu diante de mim.

Sorrio, sentindo o meu coração estranhamente se aquecer e abro os meus olhos novamente, me levantando do colo de Flora, bebendo um pouco do meu milk shake.

— Bem... Digamos que eu apenas... Tive alguém em que acreditou em mim, um pouco mais do que eu mesma acreditei.

Ela sorriu genuinamente.

— Me lembre de agradecer a minha nora por isso. Aliás, irei não somente a agradecer, mas irei a ensinar todas aquelas posições em que aprendi, ela irá...

A empurro levemente, rindo.

— Como sabe que foi Addison? — Pergunto curiosa.

— O brilho no seu olhar é sempre o mesmo ao falar dela, filha.

Sobre o que ela estava falando? Não havia brilho no olhar algum, eu somente estava feliz por Addison ter me ajudado a tomar aquela decisão tão difícil. Não era algo particular sobre ela, e sim sobre todo o contexto.

Mas, se isso ajudasse Flora a acreditar ainda mais em que tudo aquilo era real, que ela acreditasse naquilo então.

Nós ficamos em silêncio por mais algum tempo, enquanto tomávamos os nossos milk shakes.

— Mer... Eu... Posso fazer uma pergunta?

— Humrum, você sempre pode.

— Por que... Addison não sabe? Sobre... Tudo.

— Sobre tudo o quê? — Pergunto sem entender sobre o que ela estava falando.

— Você sabe... Sobre... Tudo em que aconteceu com...

A encaro, sentindo a minha garganta se fechar.

— Eu sei que... Não devo falar sobre isso, mas... Addison não saber é... No mínimo uma... Grande traição, filha.

Engulo em seco, desviando o meu olhar.

— Meredith... Ela é sua...

— Flora, eu não quero falar sobre isso.

— Eu sei. Você nunca quer. Mas Addison...

A encaro, sentindo o meu coração bater fortemente dentro do peito.

— Você... Você contou?! — Pergunto sentindo a minha boca secar.

— É claro que não! Eu nunca faria isso! — respiro aliviada. — Nós apenas estávamos conversando juntas e... Eu percebi que ela não sabe sobre nada. Absolutamente nada, Meredith!

— Eu não quero falar sobre isso.

— Meredith... Você está mentindo para Addison, está...

Me levanto, sentindo o meu humor decair-se por completo.

Calço os meus saltos, sentindo a minha cabeça doer.

— Eu não quero falar sobre isso, e nem vou. Se Addison não sabe, é porque tem uma razão para que ela não saiba. Não estrague com tudo, Flora.

Ela assentiu, se levantando.

— Me desculpe, filha. Eu só...

— Preciso ir, Addison já deve estar me esperando para o jantar. — Murmuro pegando a minha bolsa e jogando o meu copo com o resto do milk shake no lixo. — Nos vemos amanhã.

— Mer...

Saio daquela sala, sentindo o meu coração bater fortemente dentro do meu peito e a minha respiração tornar-se irregular.

Fecho os meus olhos por alguns segundos, sentindo a minha cabeça doer e os meus pensamentos estarem todos nublados. Eu não conseguia pensar em absolutamente nada.

E isso era bom.

Me acalmo rapidamente e, com um suspiro, caminho até a saída da academia e passo o meu cartão, abrindo a minha bolsa e tirando de lá a chave do meu carro.

— Vamos, Warren. — Falei para o segurança, que já me esperava lá na frente.

Destravo o carro e Warren abre a porta para mim, entro no mesmo e coloco o meu cinto, dando partida nele rapidamente.

Dirijo o caminho até em casa sem conseguir formar nenhum pensamento coerente, apenas estava concentrada no trânsito e no caminho para casa.

Estaciono em frente da escadaria da entrada e desço do carro, entregando as chaves para Warren.

Subo as escadas, sendo recebida calorosamente por Miranda.

— Boa noite, senhora Montgomery! Como vai?

— Estou bem, meu amor. Apenas um pouco cansada. A minha mulher já chegou?

— Já sim, senhora. Ela está no escritório. O jantar será servido ao seu comando.

— Você pode servir, irei a chamar.

Ela assentiu e eu me encaminhei até o escritório de Addison, batendo na porta.

Ouvi a sua voz autorizar a minha entrada e o fiz, sentindo o meu humor mudar por completo no momento em que o fiz.

Senti o meu estômago revirar-se ao ver Violet Turner ali, sentada em uma poltrona de frente para onde Addison estava, no sofá. Ela e Derek Shepherd, novamente.

O resto de bom humor em que me restava desaparecera em um passe de mágica.

A sua presença ali não me agradava, nem um pouco.

— Boa noite, querida. — Addison me cumprimentou.

— Boa noite, amor. — Murmurei vendo os olhares dos dois pousarem sobre mim. — Boa noite, senhor Shepherd, senhorita Turner. — Os cumprimentei educadamente.

— Boa noite, senhora Montgomery — Derek respondeu e Violet apenas sorriu falsamente para mim.

Vi Addison se levantar e caminhar até mim.

— Pedi para Miranda servir o jantar, pois não sabia que você estava... Ocupada. Mas irei a pedir para servir depois.

— Não há necessidade. Nós já acabamos por hoje. Você irá subir antes de jantar?

— Não — Respondo apenas.

Ela assentiu.

— Me espere na mesa então, já estou indo.

Assinto, vendo-a se esticar e deixar um selinho em meus lábios.

— Tenham uma boa noite — Cumprimento Turner e Shepherd.

— Igualmente, senhora Montgomery. Foi um prazer revê-la. — Violet respondera me lançando um sorriso sarcástico.

Apenas me virei e saí daquela sala, sentindo como se o meu humor houvesse sido realmente sugado, apenas pela presença daquela mulher.

Vou até o lavabo da sala de jantar e lavo as minhas mãos, saindo do mesmo e me sentando no meu lugar.

Miranda viera até mim e me serviu uma taça de vinho, a agradeci e logo vi Addison entrar na sala de jantar, se sentando no seu lugar e sendo, também, servida por Miranda.

Eu me concentrei em arrumar os meus talheres novamente, enquanto ela se servia e, assim que ela terminou, eu comecei a me servir calada.

Comecei a comer, me concentrando apenas na minha comida e, só então, percebi que eu realmente estava sem muita fome.

— Amélia ainda está na casa da minha mãe, mas pediu para a avisar que ela quer fazer um jantar lá na sexta, e que gostaria que você fosse mais cedo. — Addison comentou, após algum tempo também calada.

— Ok. Quando ela irá voltar para África? — pergunto encarando a minha comida.

— Segunda-feira.

Assinto, bebericando o meu vinho.

A nossa conversa havia acabado ali. Eu, anormalmente, não estava muito a fim de conversar. Não naquele momento.

Então Miranda me serviu a minha sobremesa, a minha torta de morango e eu a comi, sentindo o meu humor melhorar um pouco mais.

Addison terminou o seu vinho e pediu licença, se levantando.

A observei sair da sala de jantar e suspirei, me servindo de mais um pedaço da minha torta.

Terminei de a comer e me mantive ocupada em uma conversa com Miranda. Afinal, ela iria sair de férias no dia seguinte, nós tínhamos muito para conversar.

O tempo passou tão rapidamente que eu apenas percebi quando encarei a tela do meu celular, que me mostrou já serem quase 00:00.

Dei boa noite para Miranda e subi para o meu quarto, me surpreendendo ao ver Addison sentada na cama, encostada na cabeceira e concentrada no seu MacBook.

Deixei a minha bolsa numa poltrona e tirei os meus saltos. Passei por ela, indo até o closet e, então, até o banheiro.

Tirei toda a minha roupa e entrei debaixo do chuveiro de cabeça, esperando que aquela enxaqueca passasse.

Lavei os meus cabelos e cuidei da minha pele, saindo do banho logo em seguida.

Me sequei e passei o meu óleo corporal, indo até o closet.

Vesti uma calcinha preta e uma camisola da mesma cor.

Me dediquei a secar os meus cabelos, para que no dia seguinte eles já estivessem lavados e bem arrumados.

Terminei tudo e fui até o centro do quarto, desligando as luzes principais e ligando as de descanso.

Peguei o meu MacBook dentro da minha outra bolsa e fui até a cama.

Me sentei na mesma, cobrindo-me e recostando-me na cabeceira, abrindo o meu MacBook.

Tratei de, rapidamente, abrir o meu WhatsApp por ali e mandei uma mensagem para Sofia.

Dentro de poucos minutos ela me respondeu e me colocou no grupo que eu havia a pedido para criar.

Apenas mandei uma mensagem para eles, me identificando e os pedindo para que não esquecessem das ideias do dia seguinte.

Me dediquei a, então, fazer uma planilha com os nomes de todas as minhas alunas da manhã, para que eu pudesse monitorar o seu desempenho nas aulas de forma individual. As dificuldades de cada uma, suas facilidades, seus interesses, curiosidades...

Eu queria as conhecer individualmente, cada uma delas.

Ao fim, fiz o mesmo para os meus alunos da tarde, mas, dessa vez, sem muitas informações para serem adicionadas ali. Afinal, nós não havíamos tido muito tempo para aquilo.

Suspirei, relembrando-me, inevitavelmente, de Heiley e mordi o meu lábio inferior, voltando para a tabela das minhas meninas. Marquei o seu nome de amarelo, para me lembrar de anotar o máximo possível sobre ela.

Ela realmente pareceu não gostar de mim. Eu apenas não sabia se por algo em específico, pela minha aula, pelo ballet em si ou por mim mesma.

Mas eu iria descobrir.

Ouvi Addison murmurar algo, tirando-me dos meus devaneios e a encarei rapidamente.

— Hum? Você disse algo? — Murmurei voltando a minha atenção para o meu MacBook.

Eu não sabia bem o porque, mas eu não estava muito a fim de manter um diálogo com ela.

Talvez o fato de ela ter trazido Violet mais uma vez para cá fosse um dos motivos, eu apenas não gostaria de admitir, até porque, nem eu mesma sabia o porquê estava incomodada.

— Perguntei como foi o seu dia. — Ela respondeu de volta, ainda encarando o seu computador, me surpreendendo completamente.

Como havia sido o meu dia? Ela realmente estava me perguntando aquilo?

O que havia de errado com ela?

A encarei, sem conseguir esconder a minha total surpresa.

— O que? Eu... Acho que não entendi bem.

Ela me encarou.

— Como foi o seu dia? — Ela repetiu a pergunta da eu senti o meu coração estranhamente se aquecer, enquanto eu ainda não conseguia deixar de expressar a minha surpresa.

— Bem... É... O meu dia... Foi... — Sinto as minhas bochechas arderem — Incrível, na verdade. — Um sorriso impensado surgiu em meus lábios.

Ela ergueu uma das suas sobrancelhas bem feitas, parecendo perguntar o porquê.

— Bem... Eu aceitei a proposta de Flora. — A comunico, enfim. Pois, na última semana, eu praticamente não havia a visto. Aquela era a primeira vez em que ela fazia menção de que dormiria ao meu lado aquela noite.

— Sei disso.

Franzi o cenho, sem entender como ela poderia saber.

— Tenho os meus meios — Ela falou e eu sorri instantaneamente, negando com a cabeça. Era óbvio, Flora.

— Não sei se gosto dessa sua proximidade com Flora. — falei sorrindo, deixando claro que era apenas uma brincadeira. Na verdade, eu gostava sim.

Ela deu de ombros.

— Acho que tenho direito. Visto a sua proximidade com a minha mãe.

— Humm — Murmurei revirando os meus olhos, em falso tédio.

— Então, hoje foi o seu primeiro dia de aula? — ela perguntou, realmente parecendo interessada.

— Sim — Respondi sorrindo — E... Foi incrível!

Ela pareceu ainda mais interessada.

— Você... Quer... Saber?

— Apenas se você quiser contar.

Sorrio ainda mais, assentindo. Esquecendo rapidamente o quão eu não estava a fim de falar muito.

— Bem, eu tomei a minha decisão na segunda-feira passada, mas eu apenas possuía uma condição... Há duas meninas no orfanato em que eu e a sua mãe frequentamos, que... Simplesmente... Amam ballet. E sonham em ser bailarinas. Realmente sonham, sabe? — Ela assentiu — Mas elas não possuíam condições alguma de estudar, principalmente na Miller's, tendo em vista o valor da mensalidade. Então eu propus a Flora que eu aceitaria a proposta, contanto que o meu possível salário fosse descontado na mensalidade das duas. E ela sequer pensou direito. Então... Hoje, logo cedo, eu fui até o orfanato e as levei para a academia. E... — suspiro, relembrando os olhares das duas — Vê-las olhando para aquele local, para o seu sonho, só me fez ter a real certeza de que o que eu estava fazendo era mais do que certo. Então eu as contei, e... Ah, Addison! Elas... Ficaram tão felizes que... Tudo pareceu se encaixar. Você... Sabe a sensação de... — Suspiro, tentando achar uma palavra para explicar aquilo.

— Dever cumprido. — Ela murmurou e eu sorri, assentindo.

— Exatamente. Foi exatamente isso em que eu senti. E... Tudo pareceu se encaixar ainda mais quando eu descobri, na semana passada, que seria professora delas. Elas amaram a surpresa. E tenho certeza de que não dormirão nada essa noite, com medo de tudo isso ser um sonho.

— Elas estão felizes. E você também.

Sorrio, assentindo.

— Não imaginei que ficaria tão feliz assim. Mas... — suspiro — Sinto que estou fazendo a coisa certa. E... Essa sensação é tão... Incrível! Me faz sentir viva. Realmente viva. Me faz sentir como... Se eu estivesse, pela primeira vez, tendo a chance de decidir os meus próprios caminhos. Essa sensação é... Inenarrável.

Ela assentiu e eu apenas sorri fraco, com medo de estar falando demais. Afinal, eu havia me empolgado.

— Me des...

— Você dará aula apenas para crianças? E apenas para meninas?

Sorrio, sentindo o meu coração palpitar forte dentro do meu peito.

Ela estava realmente interessada. Eu não parecia estar a incomodando.

Ela realmente estava interessada no que eu havia para dizer.

— Não. Pela manhã eu dou aula no ciclo um, que são as crianças, meninas. Dezoito meninas. A mais velha delas tem nove anos. É o primeiro ano delas na academia, portanto é mais fácil. Mais introdutório. E, pela tarde, eu estou responsável por treinar um grupo de adolescentes para as competições de dezembro. Eles já são experientes, maioria deles está no seu último ano na academia, inclusive a minha auxiliar de turma do primeiro ano.

— Então você não é apenas professora, é também treinadora?

Assinto animada.

— Lá nós chamamos de professores sênior. Os professores em que são professores e treinadores. Posso a mostrar... O meu cartão?

Ela assentiu e eu, animada, fui até a minha bolsa e o peguei.

Me sentei na cama novamente, dessa vez, no meio dela, ao lado de Addison e a entreguei o cartão, cruzando as minhas pernas.

— Professora Meredith Montgomery... Gosto disso. — Ela murmurou encarando o cartão.

Sorrio, mordendo o meu lábio inferior, enquanto sinto as minhas bochechas esquentarem.

— É... Lindo, não é? O cartão. Ele é preto porque sou sênior. Isso é... Tão incrível e... Ao mesmo tempo... Doido.

— Consigo imaginar — Ela falou encarando o cartão por mais alguns segundos e, então, o entregando para mim.

Mordo o meu lábio inferior, o deixando em cima da minha mesa de cabeceira e a encaro novamente.

— E você? Como foi o seu dia?

Vi algo em seu olhar mudar, mas não para uma expressão ruim, e sim para uma intensidade a qual me fez, estranhamente, querer sorrir. Ela parecia satisfeita.

— Estressante. Nada além do normal.

— Você me parece cansada.

— Estou bem.

Assinto.

— Nós teremos alguma viagem por esses dias? Porque... Caso sim, eu posso remanejar algumas aulas e...

— Não, não temos. Talvez eu irei para Los Angeles na semana que vem, mas ainda não tenho certeza.

— E... Você não vai precisar de mim lá?

— Não, irei apenas trabalhar na empresa.

Assinto, me cobrindo novamente e me sentando ao meu lado da cama.

— Flora irá jantar conosco no dia vinte. Depois acerte com Grace o prato o qual você quer servir no jantar.

— Ok. Vou sentir tanto a falta da Miranda... — Murmuro, sem sequer perceber direito.

— Posso imaginar. Mas ela precisa de férias.

— É, eu sei. Não sei se foi uma boa ideia me apegar tanto a ela.

— É apenas um mês. Passará rápido.

— Espero.

— Alex irá a acompanhar pelo resto do mês. — ela falou encarando o seu MacBook.

Franzo o cenho, sem entender bem o porquê.

— Por que? Ele... Não é responsável diretamente por você? — pergunto curiosa.

— Warren entrará de férias. Seu último dia de trabalho foi hoje.

— Também? — pergunto um pouco surpresa.

— É. Não gosto dessa idéia também. E é exatamente por isso que Alex passará a acompanhar você.

Me sinto preocupada. Afinal, Alex era o seu homem de confiança. Era qualificado o bastante para a proteger estritamente de qualquer coisa, eu sabia disso. Ela confiava nele como não confiava em ninguém. E ela corria muito mais perigo diariamente do que eu.

Deixar Alex comigo era praticamente um ato de loucura.

Quem iria a proteger da forma em que ela necessitava? E se acontecesse algo?

— Addison, você não precisa fazer isso. Eu estou bem, ficarei bem sem Warren. E estou o dia todo na academia, mal saio dela. Você... Bem... Corre muito mais perigo do que eu. Alex é a única pessoa capaz de a proteger da forma em que você necessita. Não quero que corra perigo por minha...

— Meredith, Alex irá acompanhar você pelo próximo mês. Isso não está sob discussão.

Suspiro, sentindo o meu coração se apertar pelo tom frio em que sua voz havia tomado, e também pelo perigo o qual ela correria por minha culpa. Mas, mesmo assim, assinto, resolvendo não a contrariar.

— Me desculpe, eu não estava a contrariando. É que... Eu apenas... Me preocupo. Você sabe, Alex parece ser o homem em que você mais confia. E o mais capaz de a proteger devidamente.

— E é exatamente por isso que ele cuidará de você. A sua segurança é o que mais importa aqui. — ela respondeu parecendo cansada, então eu apenas assenti, ainda preocupada com aquilo, mas resolvendo me calar.

— Ok, me desculpe.

— Tudo bem, Meredith. — ela murmurou de volta e eu peguei o meu MacBook novamente, voltando a trabalhar.

Organizo as minhas aulas do dia seguinte e aproveito para também reorganizar as aulas da semana inteira, na planilha a qual eu já havia montado.

Me mantenho ocupada naquilo até sentir os meus olhos cansados demais para que eu continuasse.

Termino rapidamente tudo em que eu precisava e fecho a tampa do meu MacBook, o deixando em cima da minha mesa de cabeceira.

Coloco o meu celular para carregar e passo os meus cremes, tanto no rosto, quanto nos braços e cotovelos.

Apago as luzes do meu lado do quarto e me cubro.

Me viro para o outro lado e abraço o meu travesseiro, fechando os meus olhos.

Mas, assim que me lembro de algo importante, me viro novamente para ela.

— Addison? — a chamo, um pouco receosa.

— Sim? — Ela murmurou ainda encarando o seu MacBook.

— Eu queria saber se... Eu posso pedir para que Helen busque as meninas todos os dias no orfanato, pela manhã. Sei que o dever dela é me manter em segurança, mas... Ficaria um pouco... Cedo demais para eu ir as buscar todos os dias do outro lado da cidade, antes das 7:00. E... Eu também não quero as colocar em perigo. Você sabe... Eu sou sua mulher e... Você... Bem... Elas...

— Me passe o endereço do local.

O fiz, um pouco aliviada.

— Então... Helen poderá ir?

— Não. Helen fora contratada estritamente para cuidar da sua segurança, porque é altamente qualificada para isso. Elas terão dois seguranças próprios para elas. Eles estarão lá amanhã de manhã para as buscar, e elas estarão na academia na hora em que precisarão estar.

Sorrio verdadeiramente.

— Obrigada, Addison.

Ela assentiu.

— Quais são os nomes delas?

— Isabella e Joana.

Ela assentiu novamente e eu sorri, mordendo o meu lábio inferior, sentindo o meu coração pulsar forte, diante da vontade inusitada em que me surgiu.

A observo encarar a tela sua frente concentrada, por trás dos óculos vermelhos.

Seus cabelos cobriam parte do seu rosto, e estavam um pouco mais ondulados do que normalmente eram, um pouco mais soltos.

Ela mantinha uma feição séria e concentrada, carregando o leve bico de sempre nos lábios, o qual eu realmente achava... Fofo?

Talvez nem tanto, mas era... Realmente gracioso.

Um pouco temerosa, respiro fundo, sentindo o meu coração bater forte dentro do meu peito, em um insuportável temor.

— Addison? — A chamei novamente, quase sem conseguir escutar a minha própria voz.

Ela murmurou uma resposta e eu continuei calada, esperando que ela se virasse. E, então, ela o fez, provavelmente estranhando o meu silêncio.

A sua feição ainda carregava aquele mínimo bico nos lábios, o que eu já havia percebido ser algo feito de forma completamente impensada por ela.

Aquilo pareceu aumentar a estranha vontade que me surgira naquele momento.

Engolindo em seco e temendo a sua reação, mas focada demais naquele desejo repentino em que havia me surgido, me estico na cama, tocando o seu rosto e vendo-a me encarar de forma intensa, seus olhos rapidamente tornaram-se mais escuros. Arfando contra os seus lábios, fecho os meus olhos, colando os meus lábios aos seus, sentindo como se o meu coração fosse sair do meu peito direito pela minha garganta.

Sinto, após alguns segundos, a mesma parecer afastar o seu MacBook do seu colo, a sua mão tocar o meu rosto e ela arfar contra os meus lábios, causando-me um arrepio delicioso na pele. E, logo em seguida encostando a sua língua neles. E, então, suspiro aliviada, afastando os seus cabelos do seu rosto delicadamente, colocando uma mecha para trás da sua orelha.

Deixo a sua língua entrelaçar-se com a minha e, sentindo o gosto delicioso de menta em que o seu hálito possuía, ele pareceu rapidamente ativar uma estranha, incômoda e ao mesmo tempo gostosa, sensação estranha no meu ventre. Não possuía nada a ver com desejo por sexo, ou algo do tipo. Era... Diferente. Apenas diferente.

Toco o seu pescoço, passando as minhas unhas levemente por ele e sentindo-a enroscar os seus dedos em meus cabelos, enquanto nós duas ditavamos o ritmo meio calmo e meio intenso daquele beijo.

Sinto a sua outra mão tocar a minha cintura, me puxando para mais perto e eu repito o ato com o seu ombro á mostra, puxando-a para mais perto de mim, enquanto sentia o seu corpo quente encostar-se ao meu por debaixo do edredom.

Me senti extremamente alienada assim que encostei a minha perna as suas e uma delas se abriu, para que eu, instantaneamente, colocasse uma das minhas pernas entre as suas, sendo surpreendida por aquela sensação em meu estômago parecer triplicar de intensidade, conforme sentia a maciez incomparável da sua pele contra a minha.

Senti a sua mão esquerda apertar a minha cintura, enquanto a sua direita tocava as minhas costas, trazendo-me ainda para mais perto de si.

Acaricio o seu rosto, inebriada pelo contato dos nossos corpos e pelo ritmo deliciosamente lento em que nós havíamos ditado àquele beijo. E ao quão aquela sensação em meu estômago era extremamente... Nova para mim. Naquela intensidade. Com aquela precisão. Inúmeras borboletas pareciam estar habitando-me naquele momento.

Afasto os meus lábios dos seus, assim que sinto a minha respiração falhar e, ainda com o meu nariz encostado ao seu, sentindo o cheiro do seu perfume ainda mais de perto, mordo o meu lábio inferior, contendo um sorriso.

Abri os meus olhos, dando de cara com os seus, que me encaravam intensamente e me permiti a observar por alguns instantes.

Os seus olhos estavam escurecidos, em um tom de verde completamente inebriante, os seus lábios estavam avermelhados e a sua respiração tão irregular contra a minha.

Fechei os meus olhos novamente, deixando um selinho em seus lábios, deixando-me sentir o cheiro delicioso do seu perfume, mais de perto, enquanto aproveitava da sensação deliciosa de a ter mais perto de mim, de ter a minha perna entrelaçada as suas.

A quentura da sua pele contra a minha, a sua maciez. Tudo isso fazia-me esquecer completamente de tudo. Até mesmo que ela era apenas a minha sócia.

Abri os meus olhos novamente, dando de cara com os seus e, então, mordi o meu lábio inferior, um pouco tímida demais por ter feito aquilo.

Tirei a minha perna de dentro das suas, ainda encarando os seus lábios.

— Boa noite, Addison. Durma bem. — falei me afastando de si, mas sentindo a sua mão tocar a minha cintura, fazendo-me a encarar.

Ela fechou os seus olhos e encostou os seus lábios aos meus novamente, em um selinho demorado. E, então, mordeu o meu lábio inferior, tocando o meu queixo com o seu polegar e, logo em seguida, me encarando.

— Boa noite, Meredith. Igualmente.

Eu me afastei, me deitando novamente e me virando para o outro lado, para, então, finalmente sorrir para mim mesma, me permitindo apreciar aquela sensação diferente em meu estômago.

Deixando-me fechar os olhos novamente e com um suspiro de cansaço, filtro tudo em que havia acontecido naquele dia e, sentindo-me extremamente feliz por estar, enfim, tudo se encaixando, sorrio para mim mesma, me deixando, então, cair em um sono pesado.

                                     [...]

Addison Montgomery,
Dia seguinte;

— Bom dia, Meretíssima! Ah, que bom que a senhora já chegou, o dia está realmente uma loucura! A audiência começa daqui há vinte minutos, e o promotor Shepherd já chegou, assim como a senhorita Turner. Ela está a esperando no seu gabinete, eu devo...

— Organize a papelada do julgamento e envie as já assinadas para o gabinete superior, e marque a minha reunião com o Juiz Andrés para a semana que vem, na sexta. — a ordeno, adentrando o fórum.

— Sim, senhora. A sua governanta de DC já está na cidade e já, provavelmente, a caminho da sua casa.

Assinto, me dirigindo até o meu gabinete e, assim que abri a porta do mesmo, vi Violet Turner sentada em uma cadeira de frente para a minha, concentrada no seu celular.

— Ah, bom dia, Addison! Como vai? — Ela me cumprimentou em uma animação tão irritante, que fizera a minha cabeça dar indícios de dor de forma imediata.

— O que você quer, Turner? — Perguntei, já sem paciência para aquelas perguntas triviais e sem fundamento algum. Não nos levaria a nada.

— Apenas saber se você irá precisar de mim no julgamento.

— O promotor é quem decide isso, não eu. Portanto pergunte a ele! — Murmurei me sentando na minha cadeira e ligando o meu computador.

— Esse escritório é... A sua cara. Literalmente. Fez um bom trabalho aqui, Addison.

Suspirei, encarando a tela do meu computador, tentando me concentrar em ler o documento em que me fora enviado pelo gabinete superior, sobre aquele julgamento.

— É tão... Impessoal quanto você. Sem muitas decorações, sem... Muitas fotos. Na verdade nenhuma, nem mesmo com a sua mulher?

Suspiro novamente a encarando, já sem paciência.

— Você veio aqui para participar da audiência ou para dar palpites na decoração do meu escritório?

— Ah, eu só...

— Saia do meu escritório, Violet! Estou ocupada e você está me atrapalhando. Se resolva com Derek Shepherd, a sua presença para mim não faz diferença.

Ouvi a porta ser fechada e respirei fundo, sentindo a minha cabeça começar a latejar.

Tomei um remédio, esperando que aquela enxaqueca passasse e me levantei.

Vesti a minha toga e peguei alguns dos papéis, me encaminhando até a sala da audiência.

Ouvi o oficial me apresentar e entrei, me sentando na minha cadeira.

— Sentados! — Falei abrindo a pasta sobre o caso e o apresentando.

Eu havia tido exatamente uma semana para conseguir provar ao gabinete superior que a morte de Diana Luccas não fora um suicídio, e muito menos um acidente.

E, ao fim, eu havia conseguido os fazer acreditar nisso, e fazer com que o julgamento desse continuidade, dessa vez, com um foco maior no irmão dela.

E aquele era o primeiro dia daquele julgamento, que duraria um tempo ainda indeterminado por mim.

E, á partir daquele momento, eu já não poderia mais me meter naquele caso de forma mais detalhada.

Eu apenas esperava que Violet e Shepherd pudessem ser minimamente competentes á ponto de juntar as peças daquele quebra-cabeça e demonstrar as provas certas para que tanto o júri, quanto o gabinete superior estivessem de acordo com a minha certeza: de que aquele homem havia matado a própria irmã.

Assim que ele adentrou a sala de julgamento e se sentou de frente para mim, eu senti o meu sangue ferver ao me deparar com o seu olhar, que claramente me desafiava.

Eu sabia que havia algo a mais ali. Algo além da morte da sua irmã. Eu apenas não sabia o quê.

Mas a minha intuição e as minhas leituras de expressão me diziam isso de forma clara e objetiva.

Eu apenas precisava provar isso, sem me envolver mais do que deveria naquele caso.

Afinal, eu infelizmente era a juíza responsável por ele. Coisa a qual tentei, de toda forma, me livrar. Porém sem sucesso.

O gabinete superior de Nova York fazia questão de que eu julgasse aquele caso.

E, de certa forma, eu já havia aceitado aquilo. E me permitido ver o lado bom de continuar sendo a juíza responsável por aquele caso: a sentença final.

Afinal, nada nesse mundo seria capaz de pagar a satisfação em que eu sentiria ao ver aquele filho da puta sendo algemado e saber que ele morfaria na cadeia. E lá teria o tratamento em que merecia.

Não havia satisfação maior que aquela. E eu me empenharia o bastante para, no fim, sentir cada parte de mim deleitar-se com a noção de o quão ele sofreria atrás das grades.

A audiência não durara muito, já que fora apenas para apresentar o novo caso e para que eu desse algumas declarações.

Ao fim, saí da sala, indo até o meu gabinete rapidamente.

Tirei a minha toga e vesti novamente o meu blazer, arrumei a minha bolsa, saindo da minha sala, sendo acompanhada por Kepner e o irmão de Alex, Carter, que, no fim, aceitara voltar a trabalhar para mim, apenas enquanto Warren estivesse de férias.

— Kepner, marque uma reunião á tarde com Violet Turner e Derek Shepherd, na empresa. Ligue para a minha irmã e se informe sobre a reunião dela com o engenheiro hoje á tarde. E providencie as carteiras de trabalho dos dois novos seguranças para que eu assine.

— Sim, senhora. Eles irão trabalhar para a senhora... Por um tempo já determinado ou...

— Não, nada determinado.

Ela assentiu, e eu destranquei o meu carro, entrando no mesmo e dirigindo até a empresa.

Por causa do trânsito insuportável, estacionei na minha vaga da empresa uma hora e meia depois, subindo até a minha sala.

— Qual a minha agenda para antes do almoço? — Pergunto a Kepner, tirando o meu blazer e me sentando na minha cadeira.

— Apenas alguns papéis para ler e assinar, senhora. E a senhora precisa dar uma olhada nos protótipos do novo projeto em Chicago. Apenas precisa da sua aprovação para que a nova máquina comece a ser feita.

— Mande-me por e-mail. E me traga as carteiras de trabalho. Aproveite e cadastre os novos contratados no sistema da empresa.

— Sim, senhora. Deseja tomar o seu café?

Assinto, ligando o meu computador e colocando os meus óculos, para, então me concentrar na pilha de coisas em que eu deveria ler, assinar e aprovar ou reprovar naquela manhã.

O tempo passara mais rápido do que eu consegui acompanhar, e, assim que encarei o meu relógio, percebi já estar na hora de ir almoçar.

Fechei os meus olhos, me questionando se eu realmente estava com fome, enquanto sentia a minha cabeça pesar de forma insuportável.

Suspiro pesadamente, abrindo os meus olhos e, por um momento, sentindo uma tontura inesperada tomar-me por completo.

Os fecho novamente, massageando as minhas têmporas e sentindo que não, eu não estava bem. E talvez sair para almoçar não fosse uma boa ideia.

Ouço batidas leves na porta da minha sala e, ainda de olhos fechados, permito a entrada de Kepner.

— Diga, Kepner. — Murmuro tirando os meus óculos e suspirando.

— Bem, considerando que eu não sou mais ruiva, sou um pouco mais alta e... Um pouco menos... Elétrica. Acho que não sou a Kepner. — abri os meus olhos instantaneamente, ao ouvir a voz da minha mãe. Franzi o cenho, diante da sua presença inesperada.

Ela nunca vinha até a empresa.

— Mãe. Aconteceu algo? — Pergunto preocupada e ela apenas ri, negando com a cabeça e vindo até mim.

— Não, amor. Eu apenas... Achei que você pudesse estar indo almoçar, e quero a sua companhia para isso. Se não for a atrapalhar, óbvio. Na verdade vir aqui foi uma... Atitude bem ousada, visto que você deve estar atolada de trabalho.

— Estou. — respondo massageando novamente as minhas têmporas, sentindo-me ainda tonta.

— Imaginei. Me desculpe, meu amor. É que eu liguei para a Mer e ela está também ocupada, mas me indicou que eu viesse até aqui para almoçar com você, afinal, ela sabe bem o quão você pode burlar os seus almoços por trabalho, então acredito que ela estava tentando garantir que você se alimentasse direito.

Suspiro, assentindo. Isso era realmente a cara de Meredith.

— Escolha um lugar, mãe. Eu apenas preciso ir ao banheiro. — falo me levantando e me dirigindo até o banheiro da minha sala.

Fecho os meus olhos, apoiando-me no balcão da pia e respiro fundo, abrindo a torneira e lavando o meu rosto com água fria, esperando que aquela sensação indesejada passasse.

Seco o meu rosto, saindo do banheiro e vou até o meu frigobar, pegando uma garrafa de água.

Vou até a minha bolsa e acho o meu remédio, o tomando rapidamente, torcendo para que aquele mal estar repentino passasse logo, pois eu possuía inúmeras de coisas para resolver, ainda hoje.

— Você está bem, filha? — Vi a minha mãe se aproximar e tocar o meu rosto, me analisando. — Você dormiu essa noite, Addison?

Não, eu não havia dormido. Era impossível dormir com aquele caso martelando a minha cabeça como um dever ainda não cumprido.

— Eu estou bem. Apenas com dor de cabeça, vamos.

Ela suspirou, ainda me encarando.

— Não sei mais o que fazer com você, Addie!

— Irá almoçar comigo. Agora vamos, mãe!

Ela revirou os olhos, bufando irritadada e veio até mim, segurando em meu braço e eu a guiei para fora da sala.

— Kepner, você pode ir almoçar. Quando a senhorita Turner e o promotor chegarem, os guie para a sala de reuniões 15.

— Sim, senhora. Tenham um bom almoço, senhoras Montgomery.

Me dirijo até o elevador junto a minha mãe e fizemos o percurso até o carro caladas.

Abri a porta para ela, dando a volta no mesmo e entrando no lado do motorista.

— Onde está Alex? — Ela perguntou olhando ao redor, observando os seguranças entrarem em seus carros.

— Está com Meredith.

— Por que? Aconteceu algo com a minha nora? Ela me parecia bem ao telefone.

— Sua nora está ótima. Warren está de férias, junto á Miranda. E a senhora sabe que não confio em ninguém como confio nos dois, portanto, Alex está cuidando de Meredith pelos próximos 30 dias.

De soslaio, a vi sorrir, negando com a cabeça.

— Você está tão... Apaixonada, minha filha!

Franzo o cenho, sem entender o porque daquela constatação fora de hora. Para ela eu realmente estava, mas por que falar daquilo justo nesse momento?

— Nunca pensei que a veria abdicar de si mesma por outra mulher. Isso é surreal para mim.

Aquilo era o mínimo a ser feito. Visto em que, se algo acontecesse, eu saberia muito bem me defender, ou lidar com a situação, seja ela qual fosse. Eu já estava acostumada e muito bem preparada para qualquer possível eventualidade.

Porém Meredith não. E eu não arriscaria a sua segurança. Não daquela forma.

Era uma decisão simples. Eu não precisava estar apaixonada para me importar com ela e com a sua segurança.

Afinal, eu me importo com ela, porque... Gosto dela. E somente esse fato já deveria ser uma explicação suficiente para aquela constatação errônea da minha mãe.

— Para onde você quer ir, mãe?

— Humm, escolha. Eu não me importo com o local, apenas com a sua presença.

Assinto, rapidamente escolhendo um restaurante perto da empresa.

Estaciono em uma vaga livre alguns minutos depois e desço do carro junto a ela, subindo até a área vip.

Escolho uma mesa ao lado da grande parede de vidro, que nos dava uma visão privilegiada de boa parte do centro de NY e me sento nela, sendo seguida pela minha mãe.

Escolho a nossa bebida e, então, o meu prato, fazendo os pedidos logo em seguida.

Vi a minha mãe me analisar e, assim que a encarei ela suspirou, sorrindo para mim.

— Você está exausta, filha.

— Estou bem, mãe.

Ela suspirou, unindo a minha mão a sua.

— Faz tanto tempo em que não... Ficamos sozinhas. Só eu e você. Acho que desde a sua infância, não é?

Penso um pouco melhor, constatando que não.

— Não, desde...

— Ah! Sim! Desde aquela noite em que o seu pai viajou com Mark e Amélia dormiu fora de casa. Você se lembra? Acho que você tinha... Quinze anos. Não me lembro bem, mas...

— Você está certa — falo me lembrando claramente daquela noite. Fora divertida. Eu e a minha mãe passamos juntas, vendo um filme no cinema, enquanto ela comia um monte de doces e eu apenas pizza.

Nós realmente nos divertimos.

Ela sorriu.

— Por mais que os seus irmãos sejam mais... Apegados a mim. E que você seja a mais... Adulta dos três. Você sempre será a minha caçula. E eu sinto a sua falta, filha. Fico feliz que pôde vir almoçar comigo hoje.

Suspiro, sentindo uma sensação estranha tomar conta de mim.

— Gostaria de fazer isso mais vezes, mas... Você sabe. — falo desviando o meu olhar.

— Sei. Você é um pouco ocupada demais.

— O que você irá fazer no dia 20? — Pergunto na expectativa de sair daquele assunto.

— Nada. Seu pai estará viajando, provavelmente.

— Convidei Flora e a esposa dela para jantarem comigo e com Meredith na nossa casa, venha também.

Ela sorriu.

— Não quero as atrapalhar. Esse deve ser um jantar para que você conheça mais a sua outra sogra, filha.

— Mãe, eu estou a convidando porque quero a sua presença, assim como Meredith também.

Ela assentiu.

— Ok, então.

Os nossos pratos chegaram e nós começamos a comer.

— Você ligou para Meredith antes de ir para a empresa? — pergunto curiosa e ela assentiu.

— Nós costumamos almoçar juntas algumas vezes, por isso achei que ela poderia querer, mas ela alegou estar atarefada hoje.

Assinto.

— Posso imaginar.

Ela franziu o cenho e eu percebi que ela não sabia sobre o trabalho de Meredith.

— Você não sabe que ela está trabalhando?

Ela pareceu surpresa.

— Na verdade não. Não nos falamos muito essa semana. Onde ela está trabalhando?

— Na academia de Flora. Como professora. Na verdade, professora e treinadora.

Ela sorriu.

— Sério?! Uau! Eu não esperava isso! Ela não me contou nada, provavelmente contaria pessoalmente.

Assinto.

— Mas... Ela está feliz?

Beberico o meu vinho, assentindo. E, no mesmo momento, sentindo uma sensação estranha de satisfação me atingir por completo. Meredith estava realmente feliz.

— Está. Realmente feliz. É algo em que ela ama fazer. E ela ensina crianças, algo em que ela também gosta. Então foi unir o útil ao agradável.

Minha mãe sorriu novamente.

— Fico tão feliz por isso. A Mer merece essa felicidade, e muito mais! Ela é... Simplesmente... Um anjo.

Assinto, eu concordava com aquilo, tirando a última parte, afinal, para mim, anjos eram nada mais do que ficção.

Mas eu concordava com o fato de que Meredith merecia aquilo. Mais do que ninguém. E estava realmente satisfeita em saber que, pela primeira vez na sua vida, ela estava pensando em o que era melhor para si mesma, e não para outras pessoas ao seu redor. Isso me enchia de uma genuína satisfação. Ver o quão ela realmente estava feliz. O brilho que habitava o seu olhar no dia anterior me mostrou isso com clareza, fazendo-me sentir realmente satisfeita com a sua felicidade. Afinal, ela merecia.

Eu não sabia sobre quais coisas ruins Flora estava falando, quando me deixou explícito que eu não sabia absolutamente nada sobre a minha mulher, mas eu já sabia que Meredith não era uma pessoa superficial.

Vê-la realmente feliz, desde que a conheci, há quase um ano atrás, me faz realmente satisfeita. E eu faria de tudo em que estivesse ao meu alcance para que aquilo desse certo. Porque aquilo a fazia realmente bem.

— E falando nisso, eu estava pensando... O que faremos no aniversário dela? Está chegando!

Suspiro, bebericando o meu vinho.

— O aniversário da Meredith é apenas em novembro, mãe. Estamos em agosto.

— Sei que o seu está mais perto, mas você odeia aniversários, e a Mer parece amar. Estava pensando em irmos para a fazenda mais cedo. Talvez passar o aniversário dela lá.

— Não sei, precisarei fazer algumas viagens em novembro. E Meredith agora está trabalhando.

Ela assentiu.

— Você está certa, mas já irei começar a planejar a festa. Dia dez de novembro, esse ano, cairá em uma... Quarta-feira. Como é um dia de semana, ela provavelmente estará trabalhando, então faremos a festa no fim de semana.

— Ok, mãe. Você decide.

— Você tem o número daquela melhor amiga dela?

Reviro os olhos, sentindo o meu humor decair-se. Eu odiava aquela mulher, e não sentia o mínimo de remorso por isso. Afinal, ela poderia ser melhor amiga de Meredith, mas isso significava nada para mim. Ela era completamente descartável.

— Não, não tenho. — respondo bebericando o meu vinho.

— Você não gosta dela, não é?

Suspiro.

— Não quero falar sobre isso.

— Ok, eu respeito. Mas... Você sabe que pode conversar comigo. Sobre qualquer coisa, não sabe?

Assinto, sentindo-me um pouco menos irritada.

— O aniversário da sua irmã está chegando. Estou pensando no que faremos. Afinal, ela estará em Luanda.

— Ela poderá vir para cá — falo dando de ombros.

— Espero. Sabe que a sua irmã ama aniversários, esse não poderá passar em branco só porque ela está longe. Quando você pretende ir para África novamente?

— Talvez em dezembro. Mas ainda não tenho nada confirmado. Dependerá do andamento das obras.

Ela assentiu e fez o pedido da sua sobremesa.

A vi rir para si mesma e me encarar.

— Olivia me ligou hoje. E adivinhe o primeiro assunto dela?

— Os possíveis filhos que eu e Meredith teremos. — constato fazendo sinal para que o maître trouxesse mais vinho.

A minha mãe riu novamente.

— Pois é.

— Ela é algum tipo de guru? Relacionada a gravidez ou algo do tipo? Porque ela realmente parece um ímã insuportável, destinado a somente ser atraído quando for para falar sobre filhos!

Ela riu.

— Inicialmente eu achava que era apenas uma consequência de ser mãe de seis filhos. Mas, quando a conheci, ela já era mãe de três, e já era assim. Bem, eu sou mãe de três e não sou assim. A minha vida gira entorno apenas dos meus filhos, não na dos outros.

— Ela é louca. — Murmuro negando com a cabeça.

Minha mãe riu novamente, parecendo realmente feliz e eu me senti satisfeita por aquilo. Afinal, ela não estava tão bem nos últimos dias.

— Ela está insuportável com isso. Acredita que ela tentou me fazer convencer a você a ser quem vai engravidar? Porque, segundo ela, uma criança ruiva seria tão mais "conveniente".

Ergo as minhas sobrancelhas, surpresa por aquilo. Nego com a cabeça, achando graça daquele comentário.

Eu. Grávida. Algum dia.

Isso era, definitivamente, a coisa mais impossível de acontecer na minha vida.

Dentre um milhão de possibilidades.

— Eu sei, é uma utopia. Nem eu, que sou sua mãe, consigo a imaginar grávida. E sem contar que seria um terror. Essa seria a causa do apocalipse. Você com hormônios de gravidez seria capaz de explodir o mundo.

Sorrio, negando com a cabeça.

— Prefiro a morte. Definitivamente.

— Sei disso. Mas a Mer... Algo em mim sente que ela nasceu para ser mãe. Ela simplesmente... Exala um cuidado maternal que... Apenas uma mãe consegue sentir. Eu acredito que os meus netos serão os bebês mais sortudos do mundo. Ah, filha! Apenas imagine, crianças correndo pela casa, a chamando de mamãe, a Mer... Tão paciente, tão... Dócil. É, definitivamente, um sonho.

Definitivamente. Um sonho, completamente irreal e impossível de acontecer.

Eu não queria ser mãe. Mais uma vez, preferia a morte.

Portanto, nunca aconteceria.

— Bem... Eu preciso ir, marquei de encontrar a sua irmã às 14:00 para irmos ao clube. E tenho certeza de que você tem inúmeros compromissos agora á tarde.

Assinto, somente naquele momento percebendo o quão o tempo havia passado rápido.

E, pela primeira vez, eu havia me esquecido completamente de tudo em que precisava fazer.

Ao fim, aquele momento com a minha mãe havia sido realmente proveitoso.

Fiz o pagamento da conta e nós saímos do restaurante juntas.

Entramos no carro e eu comecei a dirigir até a empresa.

— Addie?

— Sim?

— Você sabe que... O aniversário do seu pai é esse mês.

Suspiro, já imaginando o rumo em que ela daria para aquela conversa.

— Estava pensando em fazermos um jantar especial para ele. Ou...

— Você realmente está me dizendo que irá fazer um jantar especial para o homem em que sequer foi capaz de estar no seu aniversário? — Murmuro irritada, sentindo o meu sangue ferver dentro das minhas veias.

— Addie, não fale assim. O seu pai teve... Motivos.

— Quais? — perguntei estacionando o carro na garagem da empresa e a encarando. — Me diga, mãe, quais motivos?! Porque, não adianta você dizer que ele estava coberto de trabalho, porque não, ele não estava! A existência dele para a empresa é completamente inútil, porque quem resolve tudo sou eu! Ele não esteve presente no seu aniversário porque é um desgraçado egoísta que só pensa em si mesmo. Então se você quiser continuar acreditando nessas desculpas esfarrapadas, isso é um problema seu. Mas não me peça para adiar trabalho para que eu e a minha mulher nos prestemos a um papel tão... Idiota de gastar o nosso tempo com alguém que não merece!

A vi desviar o seu olhar de mim e engolir em seco, assentindo.

— Ok. Obrigada pelo almoço, nos vemos quando você puder. — ela murmurou em um tom de voz mínimo, abrindo a porta do carro e saindo logo em seguida.

Suspiro, fechando os meus olhos e encostando a minha testa no volante do carro, sentindo que eu havia sido extremamente grosseira com ela.

Sinto aquela tontura insuportável e aquela dor de cabeça aparecerem novamente como um passe de mágica e bufo irritada, saindo do carro e batendo a porta com força, em função da raiva em que eu sentia.

Eu já tinha a noção de que o resto da tarde seria um inferno, e eu estava certa.

A minha paciência já não mais existia, e muito menos o bom humor em que eu havia tido enquanto almoçava com a minha mãe.

E o meu mau humor só havia feito piorar na reunião em que eu havia tido com Violet e Derek.

Os dois pareciam, realmente, incompetentes o bastante para deixarem passar coisas mínimas sobre aquele caso. Ou seja, eu precisei resolver absolutamente tudo, o que só me fez ficar ainda mais irritada.

Às 18:00, senti aquela dor de cabeça aumentar de uma forma a qual me fizera parar de trabalhar, e realmente me sentir mal a ponto de querer ir para casa.

Então apenas me levantei, pegando o meu blazer e desligando o meu computador, sentindo tudo ao meu redor girar de forma insuportável.

— Você está dispensada — falei para Kepner, indo até o elevador.

— Mas já? A senhora ainda tem uma reu...

— Cancele e remarque para amanhã.

— Ok. — a senti parar do meu lado, enquanto eu apenas era capaz de esperar pelo elevador de olhos fechados, sentindo aquela tontura insuportável — A senhora está bem, senhora Montgomery? A senhora está pálida! Está passando mal? Eu...

— Sim, Kepner, eu estou bem. Ligue para Carter e avise que estou descendo. Mande-o preparar meu carro e avise que não irei dirigir.

— Sim, senhora. Melhoras, senhora.

Apenas assenti, entrando no elevador e me encostando na parede do mesmo, respirando fundo.

Assim que desci, os seguranças já estavam á postos, então eu apenas entrei nos fundos do carro, indicando que estava indo para casa.

O trânsito, estranhamente, estava menos engarrafado do que o nomal, o que me fez chegar em casa quarenta minutos depois.

— Boa noite, senhora Montgomery. — Grace me cumprimentou e eu apenas assenti, sendo incapaz de pensar em a responder.

Subi as escadas, utilizando os corrimãos como apoio e entrei no meu quarto, constatando que Meredith ainda não havia chegado.

Portanto, apenas tirei a minha roupa, indo até o banheiro e tomando um banho demorado, esperando que aquela sensação diminuísse um pouco. O que aconteceu.

Saí do mesmo e vesti uma camisola preta, e uma calcinha da mesma cor, indo até a minha cama.

Alcancei o meu remédio e, novamente, o tomei, esperando que aquela sensação horrível passasse.

Me sentei na mesma e, suspirando, peguei o meu MacBook, me cobrindo.

Resolvi, então, continuar lendo as papeladas em que eu precisava, esperando Meredith chegar para o jantar, ainda sentindo aquele mal estar me habitar de forma insuportável.

Alguns minutos depois, ouvi o som dos saltos de Meredith baterem contra o piso e, sem precisar erguer o meu olhar, ouvi a porta ser aberta e vi, de soslaio, ela tirar os seus saltos, deixando a sua bolsa na sua poltrona do quarto.

— Boa noite, Addison — ela me cumprimentou e eu ergui o meu olhar, a vendo me analisar com o cenho franzido. — Achei que chegaria mais tarde hoje, por isso cheguei agora, me desculpe.

— Você não precisa se desculpar.

Ela assentiu.

— Eu não estou com fome, tudo bem para você jantar sozinha?

— Não estou com fome. — falo voltando a me concentrar na tela á minha frente.

— Você... Está bem?

A encarei novamente e a vi se aproximar, sentando-se ao meu lado na cama.

— Estou apenas com dor de cabeça.

— Já tomou remédio?

Assinto.

— Irei pedir para Grace fazer um chá, eu já vol...

— Não precisa, eu estou bem. — respondo ainda não acostumada com tudo aquilo. Com o fato de ela... Se importar. Verdadeiramente. E com o fato de eu gostar. Gostar de... Ter alguém que se importe. Verdadeiramente.

Ela sorriu. Causando-mas as mesmas sensações estranhas de sempre com apenas um sorriso.

— Um chá irá a fazer ficar melhor ainda, então. Eu também irei tomar. Já volto, ok?

Assinto, ainda estranhando tudo aquilo.

Ela saiu do quarto e voltou alguns minutos depois, carregando uma bandeja com duas xícaras nela.

Ela tá repousou sobre a cama e me entregou uma, pegando a sua logo em seguida.

Tomei um pouco do líquido quente, observando-a fazer o mesmo.

— Como foi o seu dia? — ela perguntou me encarando.

— Normal. — respondi bebericando o chá. — E o seu? — Perguntei realmente interessada.

Ela sorriu.

— Ah! Foi incrível! As crianças parecem me conhecer há... Anos. Elas já estão se soltando mais. Tanto comigo, quanto umas com as outras.

— Isso é bom. Principalmente para o aprendizado delas.

Ela assentiu animada e eu apenas me limitei a observar o brilho em que se instalara em seus olhos. Ela estava realmente realizada.

Estava praticamente escrito na sua testa.

Eu nunca havia a visto tão... Feliz.

E, estranhamente, a sua felicidade parecia haver algo quase contagiante em si. Pois eu estava realmente satisfeita com aquilo.

Meredith merecia aquilo, mais do que qualquer pessoa.

— Uma mãe de... Uma das meninas apareceu hoje. Alegando que precisava me conhecer, porque a sua filha realmente gostou de mim. Isso foi... Surreal! — ela falou sorrindo alegremente, realmente animada. — Não imaginei que... Seria tão incrível assim. Tudo isso. Até agora estou um pouco... Receosa por não conseguir dar conta de tudo. Mas está sendo incrível.

— Isso é apenas o seu lado incerto falando. Não o dê ouvidos.

Ela assentiu sorrindo.

— E você? O que você... Fez no seu dia? — ela perguntou novamente, mordendo o seu lábio inferior. Rapidamente entendi que ela queria saber sobre a minha mãe.

— Tive uma audiência e depois trabalhei o resto do dia na empresa.

— Humm. — ela murmurou — Você... Almoçou?

— Sim. — respondi esperando que ela perguntasse o que queria.

— Sozinha?

— Não.

Ela sorriu.

— Com a sua mãe?

Assenti, vendo-a sorrir novamente.

— Fico feliz por isso — ela falou bebendo o seu chá. — Ela estava um pouco... Receosa de a atrapalhar.

Assenti novamente, relembrando a feição decepcionada da minha mãe ao sair do meu carro.

Aquela conversa não estava me agradando, pois eu não queria relembrar aquela feição novamente, eu sabia que havia me deixado tomar pela raiva.

— Vocês... Tiveram um bom momento juntas?

— Consideravelmente — respondi voltando a minha atenção para a tela a minha frente, bebendo o resto do meu chá e colocando a xícara na bandeja.

— Fico feliz por isso — ela murmurou se levantando da cama e pegando a bandeja, a encarei, assim que ouvi o seu tom de voz baixar-se e vi a sua feição tornar-se um pouco mais fechada.

Ela levou a bandeja até a mesa no canto do nosso quarto e, então, a vi caminhar até o closet e, alguns minutos depois, ouvi o barulho do chuveiro.

E, então, algum tempo depois, senti o cheiro do seu óleo corporal pairar pelo quarto inteiro e a vi sair do closet, vestindo uma camisola branca e tendo seus cabelos soltos.

A vi ir até a poltrona em que ela havia deixado a sua bolsa e a pegar, a abrindo e, para a minha surpresa, tirando de lá uma rosa vermelha.

A observei sorrir de forma genuína, encarando aquela flor e a vi ir até o banheiro.

Ela voltou alguns segundos depois, trazendo-a dentro de um vaso pequeno de água e deixando ao lado da sua cama.

Ela se sentou ao meu lado e pegou o seu MacBook, se cobrindo e o abrindo.

Lembrei-me rapidamente de algo em que precisava falar com ela e suspirei, a encarando.

— Amanhã á noite você está livre? Às 19:00?

Ela me encarou.

— Sim, a minha última aula acaba às 17:00. Por quê?

— Preciso ir á um debate político, e, se você puder, quero que vá comigo.

— Claro. A encontro na empresa ou...

— Na empresa.

Ela assentiu.

— Estarei lá às 18:30, tudo bem?

Assinto.

— Eu estava pensando... — ela me encarou novamente — Em convidar a sua mãe para jantar conosco no dia 20, junto a Flora e Lisa. O que você acha?

— Eu já a convidei — respondi, vendo-a sorrir.

— Ótimo, então. Irei organizar o cardápio com Miran... Grace. — ela sorriu e eu vi as suas bochechas tomarem um leve tom avermelhado — Ainda não me acostumei.

— Posso imaginar — murmuro sentindo a minha cabeça ainda doer.

— Está passando? — a encarei, sem entender a sua pergunta — A sua dor de cabeça.

— Sim, está. Obrigada. — minto.

Ela assentiu sorrindo fraco para mim e voltando a sua atenção para o seu computador e a vi sorrir para a tela, mordendo o seu lábio inferior.

A sua felicidade era perceptível pelo brilho em seu olhar, que demonstrava que ela realmente estava onde deveria estar.

Aquele desânimo em que ela possuía há algumas semanas atrás parecia ter sumido por completo.

E a teoria ridícula da sua melhor amiga, sobre ela estar infeliz ao meu lado, parecia realmente nula.

O que me deixava satisfeita. Pois a última intenção a qual eu possuía para com ela, era a de fazer infeliz ao meu lado.

Pelo contrário, eu realmente me sentia satisfeita com a sua felicidade, e com o fato de que ela estava, enfim, fazendo o que gostava. E vivendo em função de si mesma.

Tudo em sua vida parecia estar se encaixando aos poucos. E estar acompanhando tudo aquilo era realmente agradável.

Ela merecia aquela felicidade, mais do que qualquer pessoa.

E eu estava gostando de presenciar o quão a sua vida parecia estar se encaixando, aos poucos.

A ouvi, alguns minutos depois, se remexer na cama e desligar as luzes principais, me dando boa noite.

A encarei, estranhamente sentindo uma sensação estranha em meu estômago, perguntando-me se ela teria a mesma iniciativa em que teve na noite anterior.

Essa a qual me pegara completamente de surpresa, e me fizera sentir... As mesmas sensações estranhas de sempre, porém, em intensidade maior.

A vi sorrir fraco para mim e puxar a coberta para cima, cobrindo o seu corpo, ainda me encarando.

Seu olhar pousou sobre os meus lábios e eu tive a certeza de que, talvez, ela estivesse sentindo a mesma coisa em que eu, mas apenas não possuísse mais a mesma coragem do dia anterior.

Portanto, eu me estiquei, tendo a certeza de que havia a pegado de surpresa e encostei os meus lábios aos seus, em um beijo rápido, sentindo-a tocar o meu rosto com a mesma delicadeza de sempre.

Me afastei logo em seguida, voltando a minha atenção para o meu MacBook, ainda sentindo aquela coisa estranha em meu estômago.

— Durma bem, Addison.

— Você também, Meredith — respondi-a calmamente, estranhando ao sentir que o meu mal estar havia passado, de forma tão rápida e sútil, a qual eu sequer consegui perceber.

...

Meredith Montgomery,
Mesmo dia, 8:00 da manhã.

— Bom dia, minhas princesas! — cumprimentei as crianças alegremente, entrando na sala — Quem aqui acordou bem animada hoje?

Algumas delas responderam animadas, outras, ficaram quietas, parecendo ainda sonolentas.

— Ok, vamos lá! Não quero ver ninguém com carinha de sono por aqui, vamos começar com o nosso alongamento e, logo depois, a tia Mer quer conhecer os seus brinquedos, ok?

Elas assentiram e assim o fizemos.

A aula acabara sendo completamente divertida, eu estava conseguindo as fazer interagir mais não só comigo, mas umas com as outras.

— Tia Mer, qual era o seu brinquedo favorito quando a senhora era criança?

— Era uma boneca de pano que a minha Nonna fez para mim. Eu a amava! O nome dela era Moranguinho.

— E faz muito tempo, tia?

Rio.

— Está me chamando de velha, princesa Lis?

Ela negou com a cabeça e eu vi as suas bochechas tomarem um tom vermelho.

— Quantos anos a senhora tem, tia Mer? — Maria, outra aluna, perguntou.

— Quantos anos você acha que eu tenho, pequena?

— Hummm, vinte e três!

Sorrio.

— Oh, eu fico lisonjeada pelos dois anos á menos!

— Então você tem vinte e cinco?

— Exatamente, pequena!

Nós continuamos conversando sobre amenidades, até a hora em que eu realmente precisei dar a minha aula do dia.

As ensinei três posturas fáceis e introdutórias e as passei, como dever de casa, para que elas praticassem aquelas posturas, é claro, sempre com os responsáveis.

A minha aula pareceu durar menos do que eu gostaria, e logo eu tive meninas completamente animadas correndo pela sala para pegarem as suas mochilas.

Isabella e Joana me cumprimentaram alegremente, abraçando-me e eu as deixei um beijo em cada uma, sugerindo-as que fossem logo tomar banho, porque sairíamos para almoçar em poucos minutos.

Elas o fizeram.

— Pra você, tia Mer! — Liz viera até mim, me entregando uma rosa vermelha.

Eu sorri, sentindo o meu coração se aquecer de forma incrível dentro do peito. Sem conseguir acreditar naquilo.

— Para mim, meu amor?

Ela assentiu.

— Eu vi e lembrei de você, daí eu peguei pra te dar porque ela é linda igual a você.

— Ah! — exclamei a puxando para um abraço, enquanto sentia os meus olhos marejarem. Eu realmente estava no lugar certo. — Você é uma garotinha incrível, minha pequena. Muito obrigada, vermelho é a minha cor favorita!

— Sério?! Então eu acertei!

— Acertou sim, meu amor. Ela é linda, e cheirosa! Eu irei a colocar do lado da minha cama, para que eu durma sentindo o cheiro dela, ok?

Ela sorriu animada e me abraçou, deixando um beijo na minha bochecha.

— Você é a professora mais linda que eu já tive, tia Mer! E mais legal também.

— E vocês são as melhores alunas do mundo inteirinho, minha pequena.

Ela sorriu novamente, e eu beijei a sua bochecha, sentindo o cheirinho delicioso do seu perfume.

— Tchau, tia Mer! — duas alunas falaram animadas, soltando um beijo no ar para mim.

— Tchau, minhas princesas. Não se esqueçam do dever de casa, está bem?

Elas assentiram e algumas outras também vieram até mim, me abraçando e se despedindo.

— Olha, tia! A minha mamãe veio pra conhecer você! — Lis falou segurando a minha mão e apontando para a porta da sala, onde eu puder ver uma mulher parada ali, que sorria para nós duas.

— Uau! A sua mamãe é muito linda! — falei pincelando o nariz da pequena e indo até a sua mãe, junto a ela.

— É mesmo, né tia? Ela parece uma princesa, assim como você!

Eu sorri, acariciando o seu rosto e sorrindo também para a mulher.

— Então essa é a professora a qual a minha pequena não para de falar desde ontem?

Sorrio, sentindo as minhas bochechas corarem.

— Acho que sou eu — falei estendendo a minha mão — É um prazer, Meredith!

— O prazer é inteiramente meu, Meredith. Me chamo Kate. E, pelo visto, a minha princesa estava certa, a sua professora é realmente uma princesa de contos de fadas, filha!

Lis riu, abraçando a minha cintura e eu sorri, encarando a mulher que parecia ter a minha idade e possuía cabelos loiros, assim como a pequena ao meu lado, e olhos azuis, esses os quais Lis não havia herdado, pois seus olhos eram castanhos escuros.

— Assim você deixará a tia Mer constrangida, pequena! Você é a princesa aqui!

Ela sorriu.

— É um prazer a conhecer oficialmente, Meredith. Confesso que fiquei surpresa com a felicidade da minha filha ao chegar em casa ontem, falando sobre a aula, e, principalmente, sobre a sua professora. Eu precisava vir checar pessoalmente.

Sorri, acariciando os cabelos da pequena.

— A sua filha é um anjo. E eu fico feliz que ela tenha gostado da aula, meu amor.

— Ela ama o ballet. Sempre sonhou em estudar. E agora, pelo visto, a sua felicidade está completa! Com uma professora como você, e fazendo o que ela mais queria!

— Posso imaginar. Ela está se saindo muito bem nos exercícios iniciais. Possui uma postura e uma leveza que nem eu, em anos de experiência, possuo. É uma verdadeira princesa, não é, meu amor?

Ela sorriu novamente, assentindo.

— Fico feliz por isso. Agora vamos, não é, amor? Você precisa almoçar e se arrumar para a escola! Dê tchau para a tia Mer.

— Tchau, tia Mer. Até amanhã. Guarda bem a rosa, tá bom?

— Pode deixar, minha princesa! Eu irei a guardar muito bem. — falei a abraçando e deixando um beijo em seus cabelos, a ajudando a colocar a sua mochila.

— Foi um prazer a conhecer, Meredith. Outro dia venho para conversarmos melhor, ok?

Assinto.

— O prazer foi meu, Kate. Obrigada por ter vindo.

Ela sorriu e saiu junto a sua filha.

Eu suspirei, olhando ao redor da sala.

Apenas Heiley estava ali, pegando a sua mochila num canto.

Fui até ela, a ajudando a tirar a mochila do gancho.

Ela sequer me encarou direito.

— Está tudo bem, princesa? — perguntei preocupada, sua feição não era das melhores.

— Sim — ela respondeu saindo da sala.

Suspirei, resolvendo não me deixar ficar triste por aquilo.

Eu iria a conquistar. Apenas demoraria mais do que demorou com maioria das alunas.

Fui até a minha bolsa e sorri, ao ver um papel em cima dela.

O abri, vendo um lindo desenho, ao que parecia eu, em um jardim florido, dançando.

Sorri imediatamente, ao ver o que havia escrito embaixo.

"Você é a minha bailarina favorita, tia Mer."

Rindo alegremente para mim mesma, o guardei dentro da minha bolsa, junto com a minha rosa e calcei as minhas sapatilhas, saindo da sala.

Me encaminhei até a sala dos professores, vendo algumas delas sentadas na mesa em que havia ali.

Guardei as minhas coisas e peguei o meu celular, vendo que nele havia uma ligação perdida de Beatrice.

Me sentei em uma poltrona e retornei a chamada.

— Bom dia, minha nora! Como vai?

— Bom dia, sogra. Bem, e você? Me perdoe, eu não havia visto a sua chamada.

— Sem problemas, meu amor. Estou bem. Apenas liguei para saber se você estará ocupada agora pela tarde.

Suspiro, mordendo o meu lábio inferior. Eu preferia a contar sobre tudo pessoalmente. Portanto, precisaria inventar algo.

— Infelizmente sim, sogra. Tenho... Algumas coisas para resolver.

— Ah! Tudo bem, meu amor.

— Era algo importante?

— Não, eu apenas iria a convidar para almoçar.

— Me desculpe, sogra. Mas... Podemos ir amanhã, se você puder.

— É claro! No mesmo lugar de sempre?

— Por mim tudo bem!

— Ok, Mer. Irei a deixar...

Uma ideia surgiu á minha mente de forma inesperada e, assim em que a filtrei, percebi que sim, era uma ideia incrível!

— Espere, sogra. Eu... Tive uma ideia.

— Diga, meu amor.

— Bem... Eu não poderei almoçar com você, mas acredito que você iria gostar ainda mais de almoçar com uma companhia melhor do que eu.

— Ah, não há companhia melhor em que você, meu amor.

— Nem mesmo a sua filha?

— Como assim? Do que você está falando? Addie está trabalhando, não está?

— Está. Mas... Bem... Ela precisa almoçar. E você também. Então, você poderia simplesmente aparecer na empresa e a fazer uma surpresa. — falo dando de ombros. Era unir o útil ao agradável. Eu bem sabia que Addison era mais do que capaz de burlar os seus almoços para por mais trabalho por cima. Portanto, eu só conseguia visualizar vantagens em persuadir Beatrice a ir almoçar com ela. Eu estaria fazendo uma mãe matar a saudade da filha e estaria, ao mesmo tempo, fazendo Addison comer, sem sequer precisar estar lá para isso. — Confie em mim, sogra. Ela irá adorar a surpresa. E vocês poderão ter um tempo sozinhas, o que acredito que vocês não têm há muito tempo.

— Você tem certeza, minha nora? Não quero a atrapalhar, e...

— Você é mãe dela, meu amor. Se tem algo nesse mundo em que você nunca fará, é a atrapalhar.

Ela riu.

— Você está realmente utilizando a minha própria fala contra mim mesma?

— Exatamente!

— Eu não sei, Mer...

— Sogra, vá por mim. Addison precisa tirar um tempo de folga. Mesmo que seja apenas uma hora. E você é a pessoa certa para fazer isso.

— Ok, ok... Eu irei. Mas você ainda me deve um almoço!

— E pagarei com todo prazer!

Ela riu e nós conversamos por mais alguns minutos, desligando logo a seguir.

Cumprimentei algumas professoras e fui até o meu armário novamente, pegando a minha roupa.

Tomei um banho rápido e coloquei novamente o meu vestido tubinho preto e os meus saltos, soltando os meus cabelos.

Saí da sala, indo até a sala de Flora, a um pedido seu, antes de eu entrar na minha sala antes da aula.

Bati na porta, ouvindo-a autorizar a minha entrada e vi Lisa ali, diante da mesa, ainda utilizando do mesmo uniforme que eu, com seus cabelos loiros presos em um coque bagunçado.

O clima na sala não parecia estar muito bom, eu pude sentir que elas estavam discutindo.

— Me desculpem atrapalhar. É que... Você pediu para que eu viesse aqui depois da minha aula. Mas eu já...

— Você não está atrapalhando nada, Mer — Lisa falou me lançando um sorriso triste, enquanto Flora apenas mantinha-se concentrada no seu computador, com uma expressão extremamente fechada em seu rosto.

Lisa passou por mim, pedindo licença e saindo da sala.

Suspirei, encarando Flora.

— Sério? — falei indo até ela. — Você realmente estava brigando com Lisa novamente? Realmente jogou tudo em que eu a disse no lixo?

— Você não gosta que se metam no seu casamento, portanto, não faça o mesmo comigo — ela murmurou sem me encarar.

Eu ri, sem acreditar naquilo.

— Você está realmente comparando uma briga boba com Lisa com... O fato de eu possuir o direito de decidir o que a minha mulher sabe sobre mim ou não?

— Meredith...

— Não, Flora. Eu não vou brigar com você, porque sei que você está exausta, e que tudo em que tem acontecido ultimamente tem a deixado completamente... Fora de si. Mas descontar isso na pessoa que mais a ama no mundo não é a solução. — parei diante dela, afastando a sua cadeira da mesa, a fazendo me encarar. — Me desculpe por ter sido grossa com você ontem. Sei que você deve estar chateada, mas... Eu apenas peço que você tente me entender, ok?

Ela suspirou.

— Flora, por favor. A tristeza no olhar de Lisa é... Extremamente visível. Eu odeio a ver assim. E ver você assim! Então, por favor, por tudo em que é mais sagrado, se resolva com ela!

Ela suspirou novamente, me encarando com uma feição nada boa.

— Isso não foi um pedido, foi uma ordem. Você decide. Ou se resolve com ela, ou ficará não só brigada com ela, mais comigo também.

A vi bufar irritada. E um mínimo fio de esperança me atingiu.

— Você está me atrapalhando, se puder, volte mais tarde.

Suspirei, sem acreditar que ela realmente não daria o braço a torcer.

— Ok, você decide.

Saí da sua sala, sentindo-me realmente irritada e fui almoçar com Isabella e Joana.

As duas conseguiram reerguer o meu humor, e, juntas, nós nos divertimos bastante.

Os dois novos seguranças as levaram para a escola e eu voltei para a academia, me deixando descansar um pouco antes da minha aula á tarde.

Às 13:30 eu troquei de roupa e prendi os meus cabelos, pegando o meu MacBook e o meu celular, me encaminhando até a minha sala.

Sorri ao ver Peter já sentado em um canto da sala, comendo algo em que não consegui destinguir o que.

— Uau, você realmente levou a conversa de chegar mais cedo a sério, não é, Peter? Bem a sério.

Ele riu, ainda de boca cheia.

— Com certeza, professora. Não quero a decepcionar. Realmente gostei da senhora.

— Fico feliz por isso, Peter. Também gostei muito de você — falei indo até a minha mesa e deixando as minhas coisas ali. Me sentei na minha cadeira e liguei o meu computador, encontrando o documento de ideias em que eu havia feito na noite anterior.

— Não cheguei atrasado hoje, mas para me desculpar por ter chegado ontem — o vi parar diante de mim e me entregar um pote. Eu sorri, franzindo o cenho, mas, assim que o abri, vi ser um pedaço de bolo de chocolate. Meu sorriso aumentou — A minha mãe quem faz. É muito bom, o melhor que a senhora vai comer na vida!

Rio.

— Desse jeito pedirei para você chegar atrasado todos os dias, Peter.

Ele riu.

— Podemos fazer um trato, professora.

O solto uma piscadela, aceitando o garfo descartável que ele me entregou e começo a comer o bolo, que realmente estava uma delícia.

— A sua mãe é a segunda melhor cozinheira do mundo!

— E eu posso saber quem ousa ficar acima dela?

— A minha governanta, ela faz uma torta de morango... Deliciosa!

— Eu deixo, apenas porque é a sua governanta.

Sorrio, assentindo, enquanto terminava de comer o meu bolo.

— E a propósito, a senhora está linda hoje, professora!

— Muito obrigada, Peter. O quão cavalheiro você é! Me sinto lisonjeada.

Ele riu.

— Uma pena que a senhora seja casada.

Rio.

— Você está realmente dizendo isso? Por favor, não estrague com esse momento, ok?

— Não tenho culpa de ter um crush na minha professora casada.

— Quarenta e oito horas, Peter. Esse é o tempo em que você me conhece.

Ele riu e eu sorri.

— É que a senhora é muito bonita, sabe? E muito paciente também. Muito doce. Diferente da última professora.

— Fico feliz com esses elogios.

— A sua mulher é ciumenta? E a senhora é realmente casada com uma mulher?

— Ah, você não imagina o quanto! E sim, eu sou — Murmuro comendo o meu bolo — Portanto, para o seu próprio bem, eu tiraria essa história de crush da cabeça, ok? Digamos que a minha mulher não vai gostar nada de saber que um adolescente tem um crush na mulher dela.

— Não vou querer me meter com ela, a senhors é inteiramente dela, infelizmente. Mas serei um eterno apaixonado, professora.

— Quarenta e oito horas, Peter!

Ele riu, erguendo as mãos em sinal de rendição e foi até o canto da sala, se sentando novamente.

Dentro de poucos minutos, os alunos começaram a chegar e eu comecei a minha aula, dessa vez, sem nenhum emprevisto.

Nós continuamos a concatenar as idéias em que havíamos tido no dia anterior e seguimos a nossa aula da melhor forma possível todos participaram dela, e alguns apresentaram ideias, outros, opiniões.

Ao fim, nós havíamos evoluído bastante. E já havíamos algumas coisas definidas, como o movimento inicial da apresentação e algumas músicas para decidir.

A maioria deles ainda estavam um pouco fechados, um pouco mais tímidos, mas haviam conseguido expressar as suas opiniões.

Os liberei às 17:00 em ponto e organizei as minhas coisas, saindo da minha sala.

Subi até a sala dos professores e novamente me troquei, vestindo a minha roupa novamente e pegando as minhas coisas.

Desci até o térreo e, suspirando, fiquei em dúvida entre ir até a sala de Flora ou não.

Eu não estava a fim de brigar com ela. Não novamente.

Mas, lembrando-me que, talvez, ela poderia possuir algo de importante para falar comigo, respirei fundo, me dirigindo até a sua sala.

Bati levemente na porta, não ouvindo uma resposta sua, e estranhei, batendo novamente, dessa vez, um pouco mais forte.

Ela não respondera.

Provavelmente não estava ali.

Mas, apenas para conferir, abri a porta, dando-me conta, em primeiro momento, de que não, ela não estava ali, pois a sua mesa estava vazia.

Mas, assim que encarei o canto da sua sala, onde ficava um sofá pequeno, senti-me completamente constrangida no mesmo momento com a visão em que tive.

Sorri para mim mesma, cobrindo a minha boca para não fazer barulho algum e dei meia volta, fechando a porta com cuidado novamente.

Lisa estava em seu colo. E elas estavam... Bem... Realmente... Se beijando de forma... Imprópria para qualquer um ver.

Mas elas pelo menos pareciam estar bem. E isso me enchia de felicidade.

Me dirigi até o saguão da academia e passei o meu cartão, saindo dela.

— Boa noite, senhora Montgomery — Alex me cumprimentou, abrindo a porta do carro para mim.

— Boa noite, Alex. Você realmente ficou aqui o dia inteiro?

Ele assentiu.

— Imagino o qual entediante deve ter sido. Me desculpe por isso, tentei fazer a minha mulher desistir da ideia boba de fazer você me acompanhar, mas você deve a conhecer o bastante.

— A senhora Montgomery se importa muito com a senhora, se me permite dizer. E a sua segurança é o que mais a importa. Ela sabe bem se defender caso algo aconteça, e está sob cuidados do meu irmão. Não se preocupe.

Assinto sorrindo para ele.

— Obrigada, Alex.

— Por nada, senhora. Deseja ir para casa?

— Sim, Alex, por favor.

Ele dirigiu para mim até em casa, e eu cheguei, sendo recebida polidamente por Grace. Subi as escadas, decidindo que estava cheia demais com o bolo e as outras besteiras que havia comido durante a tarde para jantar.

Eu estava realmente sem fome.

Abri a porta do meu quarto e estranhei ao ver Addison deitada na nossa cama, já de camisola e concentrada no seu MacBook.

Estranhando tudo aquilo, a cumprimentei e perguntei se ela estava bem.

Dor de cabeça. Era óbvio.

Preocupada, fui até lá embaixo e pedi para Grace rapidamente fazer um chá.

A levei e a mesma tomou enquanto conversávamos amenidades.

Eu me senti extremamente feliz em poder dividir o meu dia com ela. Em poder chegar em casa e... Ter alguém disposta a me ouvir. Realmente disposta.

Ela parecia realmente interessada no que eu havia para dizer.

Apenas parecia cansada, o que me fez sentir extremamente culpada em estar a enchendo a cabeça.

Resolvi tomar um banho rápido e fiz as minhas higienes noturnas, colocando a minha rosa num copo e me sentando na cama.

Resolvi mais algumas coisas do trabalho, e, assim que me senti cansada o bastante, deixei o meu MacBook de lado, me cobrindo e apagando as luzes do quarto.

Encarei Addison, que estava concentrada no seu computador e consertei os meus travesseiros.

— Boa noite, Addison. — falei vendo-a tirar o seu olhar do seu computador e me encarar.

— Boa noite, Meredith — ela respondeu e eu puxei o meu edredom, ainda a encarando.

Algo dentro de mim possuía a ilusão de que a mesma coisa do dia anterior aconteceria, mas eu parecia estar errada.

Sem conseguir me conter, encarei os seus lábios, desviando o meu olhar logo em seguida.

Senti-me surpreendida quando os lábios de Addison tocaram os meus em um beijo rápido, toquei o seu rosto, sentindo aquela sensação deliciosa em meu estômago fazer-se presente no mesmo momento.

Fora um beijo rápido, mas, ainda sim, possuíra o imenso papel de fazer-me arrepiar por completo.

Ela se afastou, voltando a sua atenção para o seu computador e eu sorri.

— Durma bem, Addison. — falei me deitando.

— Você também, Meredith — ela respondeu tranquilamente.

Me virei para o meu lado e, sentindo o seu cheiro em que eu já não mais conseguia dormir sem, abracei o meu travesseiro, sorrindo para mim mesma, ainda sentindo aquela sensação estranha em meu estômago.

Afinal, tudo parecia estar, aos poucos, se encaixando.

E Addison possuía uma certa responsabilidade para com isso.

Afinal, se não fosse por ela, eu ainda estaria estagnada na vida.

Talvez esse contrato houvesse muito mais a me dar, do que apenas a recuperação da minha empresa.

Talvez Addison houvesse muito mais a me oferecer do que apenas o seu dinheiro, e a sua cooperação com a grey's.

Eu sentia que tudo aquilo estava acontecendo por um motivo. E que tudo aquilo deveria estar acontecendo. Eu, talvez, deveria estar destinada a me casar por um contrato com Addison.

Porque ela estava me oferecendo muito mais do que o seu dinheiro.

Eu me sentia... Realmente segura ao seu lado. Em todos os aspectos da minha vida.

Tudo parecia estar se encaixando. De uma forma a qual eu realmente não esperava. Novos caminhos os quais eu nunca poderia imaginar estar seguindo. Mas... Eu realmente era grata por tudo aquilo. E não poderia pedir por algo melhor, pois eu estava realmente vivendo um momento... Único da minha vida.

E estar dividindo tudo isso com Addison era um ponto crucial para tudo aquilo, o que parecia deixar tudo mais... Único.

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