30- Mudanças De Planos.
Começo, em primeiro lugar, desejando feliz aniversário a autora mais linda e mais maravilhosa desse mundo inteiro, vulgo eu ;)
Brincadeiras à parte, porém, dedico esse capítulo inteiramente a mim mesma e a vocês.
A mim pelo meu aniversário, à vocês por existirem e por sempre me apoiarem.
Obrigada por serem um dos meus maiores presentes!
Amo vocês<3
Não se esqueçam de, como presente de aniversário para essa senhora, comentar bastante e votar, isso me anima pra caramba!
Obrigada por tudo. Nos vemos logo<3
...
Addison Montgomery;
Abro os meus olhos, dando-me conta, então, de que havia cochilado mais uma vez na poltrona da varanda.
Respiro fundo, observando um pássaro pousar no batente da mesma e, só então, percebo a dor de cabeça insuportável que instalara-se em mim, como um passe de mágica.
Tiro os meus óculos, os deixando em cima dos papéis em que Meredith havia me entregado no dia anterior.
Eu já havia os lido. E havia, realmente, me impressionado com a inteligência que aquela garota possuía.
As suas considerações dos livros foram extremamente maduras para a sua idade. Porque, utilizando a lógica, ela não poderia ter mais do que 18 anos, caso contrário, não poderia mais viver em um orfanato.
Alcanço o meu celular, que acende no mesmo momento e visualizo a hora: 4:50 da manhã.
Me levanto, prendendo os meus cabelos do coque em que eles haviam se soltado e pego todos aqueles papéis, saindo da varanda.
Vou até o closet e tiro a minha roupa. Visto um top de academia preto e um short da mesma cor.
Escolho um tênis para exercícios também preto e me sento no puff, calçando as minhas meias e, então, o tênis.
Prendo os meus cabelos em um coque mais firme e pego o meu celular, saindo do quarto.
Desço as escadas, passando pela sala e saindo do interior da minha casa.
Desço as escadas da entrada e me encaminho até a minha academia.
Assim que me aproximo da mesma, vejo Alex boxeando um dos bonecos que havia ali.
Estranho o mesmo estar aqui a essa hora, pois havia o liberado para ir para casa ontem á noite e voltar apenas às 7:00 de hoje.
- Bom dia, Alex - o cumprimento, vendo-o assustar-se com a minha presença.
- Bom dia, senhora. Não a vi chegar, me desculpe.
Assinto, indo até o armário que havia ali, alcanço as luvas que mais gostava de usar e tiro as minhas alianças, colocando as luvas.
O mesmo vem até mim, ajudando-me a fechar a última com mais facilidade.
- Achei que havia o dispensado ontem e dito para estar aqui apenas às 7:00.
Falei me posicionando á sua frente, vendo-o tirar as suas luvas e vestir outras, específicas para que eu golpeasse.
Ele apenas deu de ombros, posicionando-se á minha frente.
Sentindo a minha cabeça ainda doer e o meu corpo ainda cansado, foco-me em golpear aquelas luvas, esperando que aquilo eliminasse aquela sensação em que eu tanto odiava sentir. O cansaço.
- Sabe que precisa acatar quando o ordeno que descanse.
- Sei, senhora. Mas não me sinto cansado. Estou ótimo.
Sem sequer parar para pensar, golpeio aquela luva repetidas vezes, sentindo a adrenalina percorrer o meu sangue de forma satisfatória, e aquela sensação de cansaço desaparecer aos poucos, conforme eu me concentrava apenas em eliminá-la por meio dos meus golpes.
- Lute comigo - o ordenei, parando de golpear aquela luva, sentindo o suor já fazer-se presente.
Ele tirou as luvas e vestiu as outras, posicionando-se.
A minha dedução quanto ao seu cansaço fez-se completamente válida quando o golpeei diversas vezes, e consegui o acertar grande maioria delas. Enquanto ele, apenas errava a sua mira.
- O que está acontecendo, Alex? - pergunto, assim que o acerto mais uma vez.
- Nada, senhora, estou ótimo - ele respondeu.
Sem o dar tempo para se posicionar novamente, o golpeei duas vezes, fazendo-o cair no chão.
Ele cobriu o seu rosto, fazendo menção de levantar-se e eu o impedi, envolvendo o seu pescoço com os meus braços, o imobilizando inesperadamente por ele. Constatando, mais uma vez, estar certa.
- Não tenho certeza disso - respondi o soltando, assim que o percebi perder as forças.
Me levantei, o vendo continuar sentado, de olhos fechados, parecendo querer retomar suas forças.
- Levante-se.
Ele o fez, e contemplei a fúria em seu olhar.
Me posicionei novamente, vendo-o tentar golpear-me, agora, com raiva.
Desviei de todas as suas tentativas, o acertando um golpe no rosto, vendo o canto dos seus lábios sangrar no mesmo instante.
- Diga. O que está acontecendo? - pergunto sentindo o suor pingar pelo meu corpo. Nós já havíamos um bom tempo ali.
Ele tirou as suas luvas, indo até o frigobar e alcançando duas garrafas de água.
Tirei as minhas, colocando novamente as alianças no meu dedo e pegando no ar a garrafa que ele me jogou.
Bebi um gole, vendo-o fazer o mesmo, adiando a sua resposta.
- Está tudo acontecendo novamente - ele murmurou, se sentando no chão. - Com o Luke.
Suspirei, me sentando de frente para ele.
- O que o médico falou dessa vez? - perguntei.
Ele deu de ombros, sem me encarar.
- Não está dando certo. O tratamento.
- O que podemos fazer em relação a isso?
- Eu não sei. Eu só não consigo voltar para casa e o ver... Deitado naquela cama, pálido, sem conseguir, sequer, falar direito. Não consigo fazer isso.
- Mas você precisa.
Ele me encarou.
- Ele precisa de você, Alex. Precisa saber que tem você ao lado dele, e que você está fazendo o que pode.
Ele negou com a cabeça.
- Não estou fazendo nada, porque não sei o que fazer.
Uma idéia surge a minha mente, e, assim que a filtro completamente, percebo ser a melhor opção que ele havia no momento.
- Volte para casa - falo me levantando - Fique com ele por hoje, se preocupe apenas em o dar atenção, eu irei resolver isso.
Ele me encarou confuso.
- Sobre o que a senhora está falando?
- Tenho um sócio que é considerado, no ramo da medicina, um dos melhores neurocirurgiões do país. Tenho uma reunião com ele semana que vem, mas entrarei em contato com ele ainda hoje e marcarei uma consulta para o Luke. Por minha conta. - Acrescentei a última frase, pois sabia que ele não teria condições de pagar, e, mesmo se houvesse, ainda era muito.
O vejo sorrir, assentindo.
Estendo a minha mão, o ajudando a se levantar.
- Não sei como posso agradecer tudo que a senhora tem feito por ele. Eu nunca poderia ter pagado todos os tratamentos, as cirurgias... Se ele está vivo, é graças a senhora.
- Não preciso que me agradeça. Preciso que vá para casa cuidar do seu filho.
Ele assentiu.
- A senhora tem certeza de que ficará bem? Não confio em que a senhora saia sem a minha proteção, sabe disso.
- Com forma tosca a qual você perdeu para mim há alguns minutos atrás? Não, não há nada em que você possa me ser útil hoje - Murmurei socando o seu braço, ele riu. - Limpe esse sangue - falei, vendo-o tocar o canto da sua boca e rir, assentindo.
- Justo.
- Volte apenas na segunda, amanhã não irei para a empresa. Mas, caso precise de mais alguns dias com ele, me avise.
- De forma alguma. Warren logo precisará de uma licença, não me dou o direito de a deixar sozinha, ou a sua esposa.
Assinto suspirando, ao lembrar-me daquilo. Warren precisaria se ausentar por um mês, e eu precisava de alguém de confiança para pôr no seu lugar. O problema era encontrar alguém confiável o bastante para cuidar da segurança de Meredith.
- A senhora já sabe quem irá colocar no lugar dele?
Nego com a cabeça, preparando as barras de peso que iria usar.
- Que tal o meu irmão? Ele está desempregado no momento. Mas ele é de confiança, a senhora sabe disso.
- Duvido que ele queira trabalhar para mim novamente - Murmurei bebendo a minha água.
Alex riu.
- Foi apenas um pequeno tiro no ombro - ele falou dando de ombros. - Que o fez chorar como uma criança, mas foi de raspão, isso eu garanto. E as coisas hoje em dia estão bem mais calmas, do que há dois anos atrás.
- Convença a ele disso, e, se você conseguir, da próxima vez o deixo ganhar.
- Sabe que eu estou fora de mim hoje, apenas por isso a senhora não perdeu, não é?
- Aham, e na semana passada também? - pergunto erguendo uma das minha sobrancelhas.
Ele riu.
- Modéstia nunca foi algo que a pertenceu.
- Nem nunca pertencerá - respondi me posicionando e começando a levantar a barra.
- Não combina com a senhora - ele respondeu vestindo a sua camisa. - Se precisar de qualquer coisa... É só me ligar, ok? Manterei os seguranças de plantão informados disso. A senhora pode ir com Warren hoje, e Helen é perfeitamente capaz de cuidar da sua esposa, com mais quatro.
Assinto e o mesmo sai da academia.
Continuo ali, por um espaço de tempo o qual não me atentei, mas, assim que senti os meus músculos arderem e o meu corpo pingar de suor, deixei os equipamentos e fui até o frigobar, alcançando uma garrafa de água. A bebi completamente e alcancei o meu celular, vendo a hora. 7:00. Eu havia uma reunião às 9:00. Precisaria adiantar.
Saí da academia, com a intenção de entrar na minha casa, mas, assim que vi Meredith deitada na espreguiçadeira, com seu corpo completamente molhado, usando um biquíni vermelho, parei, me permitindo a observar com mais atenção.
A loira usava seus óculos de sol e seus cabelos estavam presos em um coque mal feito.
A observei por mais alguns segundos, realmente apreciando a visão a qual me era proporcionada, mas, assim que me dei conta de que eu precisava entrar logo, voltei a raciocinar normalmente e me dirigi até a entrada da minha casa.
Destranquei a porta com a minha digital e a fechei novamente, entrando na sala.
Miranda organizava algumas coisas na sala, e, assim que percebeu a minha presença, parou imediatamente.
- Bom dia, senhora Montgomery.
Apenas a respondi com um aceno de cabeça.
- Depois envie os documentos das suas férias para que Kepner cuide disso.
Ela assentiu e eu subi as escadas, indo até o meu quarto.
Tirei toda a minha roupa, me colocando debaixo do chuveiro de jato frio e soltei os meus cabelos, os lavando.
Saí do banho alguns minutos depois e, assim que alcancei a minha toalha, senti o cheiro do óleo corporal em que Meredith usava impregnada nela. Estranhei, a levando até as minhas narinas e constatando estar certa, ela havia usado a minha toalha, provavelmente por engano.
Estranhamente, eu não me incomodei com aquilo, e, apesar de não gostar de cheiros doces, o cheiro do seu óleo corporal era uma excessão. Eu gostava de o sentir, pois era extremamente sútil e estranhamente calmante.
Era difícil, para mim, associar cheiros á coisas, porque, normalmente, nada me era tão interessante que me fizesse associar a um cheiro, ou objeto, ou qualquer coisa do tipo.
Mas com Meredith era inusualmente diferente. Aquele era o seu cheiro.
Enrolei os meus cabelos molhados na toalha, envolvendo o roupão no meu corpo.
Fui até o meu closet e escolhi, rapidamente, um terninho preto, o vestindo por cima de um conjunto de lingerie da mesma cor.
Por baixo, coloquei uma camisa também preta e calcei um par de scarpins vermelhos.
Soltei os meus cabelos, indo até o banheiro e os sequei rapidamente, deixando-os completamente lisos.
Apenas passei um batom vermelho em meus lábios e escolhi outra bolsa, a arrumando rapidamente.
Passei o meu perfume e me chequei no espelho antes de sair, observado se a minha roupa estava alinhada. E estava. Como sempre, aos meus olhos.
Saí do meu quarto descendo as escadas e cheguei até o segundo andar.
Focando no que eu iria pegar, me dirigi até a biblioteca e fui direto até as estantes de literatura brasileira.
Deixei a minha bolsa em cima de uma poltrona ali e arrastei a escada da estante até o nicho o qual eu desejava alcançar.
Subi na mesma cuidadosamente por causa dos meus saltos e passei os meus olhos pelos livros extremamente limpos e organizados que haviam ali.
Encontrei os dois títulos os quais eu havia ido buscar e escolhi as edições em inglês que eu possuía e que nunca havia lido. Não em inglês.
Desci a escada e peguei a minha bolsa novamente, saindo da biblioteca.
Desci até a sala e fui até o meu escritório, pegando os portifólios de contratos os quais eu precisaria ler e assinar ainda hoje.
Passei uma mensagem rápida para Amélia, que havia ido dormir na casa da nossa mãe na noite passada, a pedindo para que estivesse na empresa às 12:00, pois eu precisava conversar com ela sobre algumas coisas ainda não resolvidas em Luanda.
Saí do meu escritório, me encaminhando até a sala de jantar, e, antes de chegar lá, pude ouvir a risada de Meredith, que parecia conversar animadamente com alguém.
Entrei na sala, vendo Miranda a servir, enquanto elas conversavam e riam uma para outra. Eu nunca havia visto a minha governanta mudar a feição séria e profissional a qual sempre carregava em seu rosto. E eu a conhecia há vinte anos da minha vida. Eu sequer fazia noção, quando Meredith mudou-se para a minha casa, de que ela conseguiria fazer Miranda rir e parecer relaxada.
Mas ela conseguira. E isso era um enigma para mim. O porquê ela parecia ter algo de estranho e de tão leve consigo, que fazia qualquer um sorrir ao seu lado. A leveza que a acompanhava parecia contaminante. Como um ímã.
- Senhora - Miranda me cumprimentou novamente, segurando o seu riso.
Vi Meredith me encarar e sorrir verdadeiramente, bebericando o seu suco de laranja.
Me aproximei de si, indo até o meu lugar na mesa e parei a sua frente, me esticando.
- Bom dia - a cumprimentei deixando um beijo rápido em seus lábios e sentindo o gosto do seu suco impregnar-se em meus lábios. Laranja. Como constatei. Como sempre.
- Bom dia, meu amor, como está? - ela perguntou me encarando, assim que Miranda veio até mim, servindo o meu café.
A mesma se afastou rapidamente, pedindo licença e eu o beberiquei rapidamente.
- Bem. E você? - perguntei a encarando.
- Também. - ela respondeu com um sorriso - Terminei o seu livro. O primeiro, memórias póstumas.
Assinto.
- E o que achou? - pergunto realmente interessada.
- Ainda estou processando, mas... Foi genial! Fazia tanto tempo em que eu não lia algo que... Realmente me fizesse repensar a minha vida inteira! E olhar as coisas de outra maneira... Achei, no mínimo, um pouco mórbido.
Ergo as minhas sobrancelhas em sinal de obviedade e ela riu, desviando o seu olhar.
- Ok, ok, eu sei que o autor está morto e enfim... Mas você entendeu!
- Sutilmente agressivo. Demasiadamente subjetivo. - comento.
Ela assentiu.
- Exatamente. Eu realmente preciso pensar um pouco mais em tudo que li.
Assinto, bebericando o meu café e encarei o meu celular brevemente, vendo a hora. Já eram quase 8:00.
Terminei o meu café e chequei a minha agenda novamente, percebendo que o dia seria exaustivo.
Me levantei, então, sendo observada por Meredith.
A estendi os dois livros e ela franziu o cenho, parecendo não entender.
- Os leve para a garota que escreveu os relatórios. Ela com certeza irá gostar, são do mesmo autor.
A vejo sorrir daquela forma em que, estranhamente, causava-me um incômodo na barriga e em meu peito. Eu não sabia o porquê, mas causava.
- Você... Gostou do que leu?
Assinto.
- Ela é extremamente inteligente, é visível. Avise-a que, se ela desejar, que escreva sobre esses também. Não me incomodaria em saber o que ela achou.
Meredith sorriu ainda mais, assentindo alegremente, seus olhos brilhavam de forma intensa, e haviam se tornado ainda mais azuis.
- São dela, a propósito, não precisará me trazer de volta - comunico, colocando o meu celular na bolsa.
- Você... Poderia assinar? Eu... Isso significará muito para ela.
Estranho, eu não era a autora do livro, e muito menos uma celebridade fútil para assinar um livro o qual não me pertencia.
- Não acho que...
- Por favor? - ela perguntou sorrindo, e, algo na sua feição, desfez todas as contrariedades que eu havia formado para não assinar aqueles livros. Estranhamente, eu não consegui a negar aquilo.
Persuasiva. Meredith Montgomery havia algo em si que a fazia ser extremamente persuasiva. Eu não sabia se gostava daquilo.
Suspirei, revirando os meus olhos e abri a minha bolsa, pegando uma caneta.
Abri um dos livros, escrevendo rapidamente um recado para a garota e o assinando.
"Aproveite a leitura, e passe para a minha mulher as suas considerações, ela as passará para mim.
Addison Montgomery."
O entreguei a Meredith, que o abriu e sorriu.
- Ela irá enlouquecer!
- Espero que não - murmuro guardando a minha caneta e ela riu.
- Obrigada, Addison - a mesma agradeceu sorrindo alegremente para mim, suas bochechas haviam tomado um tom minimamente vermelho.
Apenas assinto, fazendo menção de sair dali, mas a sinto-a segurar o meu braço.
A encaro, vendo-a se levantar e erguer as suas mãos até o meu blazer.
Era óbvio que ele estava torto. E, pelo visto, além de haver uma dislexia incomensurável para o arrumar, eu também precisaria consultar o meu oftalmologista, porque não conseguia enxergar o problema que havia naquela gola.
- Pronto - ela murmurou, me encarando.
Me surpreendendo, a loira se esticou, ficando na ponta dos seus pés, tocando os meus lábios com os seus, inicialmente, em um beijo breve.
Alcancei o seu rosto com a minha mão esquerda e toquei os seus lábios com a minha língua, sentindo-a abri-los imediatamente, fazendo-me sentir o gosto do seu suco de laranja, impregnado em seu hálito.
A mesma arfou contra os meus lábios, assim que a sua língua quente e extremamente macia enroscou-se com a minha, e eu senti aquele ato seu acender algo dentro de mim de forma intensa, como sempre acontecia, com apenas um beijo. Ela fora a única em que conseguira isso.
E, inicialmente, isso era estranho. Porém, agora, após quatro meses ao seu lado, eu já não me importava mais. Afinal, não havia como não sentir uma extrema atração sexual por uma mulher tão... Única como Meredith.
Ela tocou o meu pescoço com a sua mão quente e eu senti-me arrepiar com o seu toque sútil e extremamente leve de sempre.
Assim que senti a sua respiração falhar, me afastei, mordendo o seu lábio inferior e a vendo repetir o meu ato, ainda de olhos fechados.
- Não me espere para jantar - murmurei limpando o canto dos seus lábios borrado levemente com o seu gloss e ela assentiu, abrindo os seus olhos, que estavam mais escuros, me encarando.
- Tenha um bom dia - ela murmurou, parecendo um pouco menos animada. Eu apenas não entendi o porquê. - E obrigada pelos livros, a Beatriz irá amar.
Assinto.
- Você também deveria o ler. Se gostou tanto assim de Memórias Póstumas.
Ela sorriu, assentindo.
- Temos outra edição na biblioteca, na estante de literatura brasileira. Décimo nicho á direita.
Ela assentiu novamente.
- Irei ler.
Saio da sala de jantar, me dirigindo até o lado de fora da minha casa e, assim que abro a porta, vejo os carros já estacionados á frente da escadaria, apenas me aguardando.
As desço, colocando os meus óculos de sol.
- Bom dia, senhora Montgomery - Warren me cumprimentou.
- Bom dia. Você fica.
Ele franziu o cenho.
- Me desculpe, senhora, mas eu recebi ordens de Alex restritamente para que eu cuidasse da senhora hoje, e a sua mulher ficaria sob a responsabilidade de Helen.
- Você fica com a minha mulher e dois seguranças a mais irão comigo.
- A senhora tem certeza disso? Sem Alex...
- Sim, Warren, faça o que eu mando. Você fica com a minha mulher, porque é o único o qual confio estritamente para isso. Eu sei me defender se algo acontecer - respondo já sem paciência.
- Como desejar, senhora Montgomery. A senhora, então, está num total de oito. Quatro carros. Deseja dirigir hoje?
- Não, o trânsito deve estar infernal - respondo indo em direção a um dos carros.
- Bom dia, senhora Montgomery - um dos seguranças o qual me companharia hoje, me cumprimentou com uma irritante animação.
Sem dar-me o trabalho de o responder, entrei no banco de trás do carro e, dentro de poucos segundos, ele entrou no banco do motorista e outro se sentou ao seu lado.
Saímos da minha casa imediatamente e eu me concentrei em ler alguns e-mails pendentes na minha conta do tribunal.
Recebi a minha agenda do dia especificada por Kepner e a abri, enquanto estávamos parados em um engarrafamento insuportável.
- Ei, aquele ali não foi o garoto de ontem? - ouvi um dos seguranças sussurrar para o outro.
- Que garoto?
- O que a senhora Montgomery impediu de ser espancado por aquele cara.
Franzi o cenho, erguendo o meu olhar para os dois.
- Sobre o que você está falando? - perguntei.
O vi se assustar.
- Ah... Nada... Nada demais, senhora, é...
- Diga!
O vi, pelo retrovisor, engolir em seco.
O outro segurança, que estava no banco do passageiro, me encarou.
- É que... Ontem... Nós dois ficamos responsáveis pela sua mulher. Ela foi até o shopping Leste com a senhora Montgomery, a sua mãe, e, quando elas estavam saindo, a sua mulher viu aquele garoto ali ser enxotado para fora do shopping e quase espancado... Por ser negro, é claro. Então ela... Bem... O defendeu do segurança que fez isso. Um homem muito violento, por assim dizer. Ele apenas não avançou na sua esposa por causa de Warren, e, bem, de nós.
Senti o meu sangue ferver dentro das minhas veias ao, sequer, imaginar um filho da puta qualquer, sequer ameaçando avançar em Meredith.
- E o que vocês fizeram? - pergunto tentando controlar a minha raiva.
- Warren o controlou, e, pacificamente, ele aceitou voltar para dentro do shopping e deixar o garoto em paz.
- Você ao menos sabe o nome dele? - perguntei.
- Warren provavelmente deve saber o sobrenome... Já que ele ficou mais perto. Mas o nome dele era Harry.
Assinto, colocando os meus óculos de sol novamente e suspirando, tentando acalmar a raiva repentina que havia subido-me de imediato.
- Sabem por que a minha mulher não enviou esse tal garoto para o conselho tutelar?
- Ele fugiu, senhora. Estava com medo e fugiu.
- A sua mulher tem um coração imenso. Ela sequer pensou em ir o defender. - o outro comentou.
Não me dei o trabalho de o responder, até porque, eu já sabia daquilo.
Apenas fechei os meus olhos, sentindo a minha cabeça começar a doer e me mantive daquela maneira até sentir o carro parar na minha vaga do estacionamento da empresa.
Desci do mesmo e fui acompanhada por cinco seguranças até a minha sala, onde Kepner já me esperava.
- Bom dia, Meretissima! Como a senhora está? Espero que bem. O jantar ontem parece ter a feito bem.
A encarei, vendo-a desviar o seu olhar, amedrontada.
- Me desculpe... Bem... O dia hoje está um pequeno caos. A senhora tem uma reunião agora com Rachel Rizzo, mas, em contrapartida, George Washington deseja também ter uma reunião com a senhora hoje, ele...
- Deve marcar. Não estou a disposição dele, e sim o contrário. Portanto marque para o fim do mês, onde eu provavelmente estarei com menos compromissos.
- Como desejar, senhora.
- Ligue para o Doutor Smith e diga-o que estou requisitando-o uma consulta para ainda essa semana.
- Como desejar, senhora. Se me permite perguntar... A senhora está bem?
- Estou, a consulta não é para mim.
Ela assentiu.
- A senhora Rizzo já chegou e a espera na sala de reuniões quinze.
Assinto, apenas deixando a minha bolsa em cima da minha mesa e pegando o meu celular e o meu iPad.
Saio da minha sala sendo acompanhada por Kepner até o 18° andar, onde ficava a sala de reunião a qual eu iria utilizar no momento.
- Entre primeiro, eu preciso fazer uma ligação - ordenei e a mesma assentiu, entrando na sala.
Peguei o meu celular e encontrei o contato de Derek Shepherd, fazendo a ligação logo em seguida.
O mesmo atendeu no terceiro toque.
- Como posso ser útil? - ele fora direto ao ponto.
- Preste atenção, quero que entre em contato com o shopping da área Leste e que peça, em meu nome, a ficha de um segurança chamado Harry, se houver mais de um, mande-me as fotos para que haja identificação. Quero que providencie, o mais rápido possível, uma acusação de racismo e tentativa de agressão, contra a minha mulher e mais um indivíduo não identificado. Quero tudo isso ainda hoje, e que ele seja demitido, o mais rápido possível. Faça de tudo para foder com a vida desse desgraçado, está me entendendo?
- Sim, senhora. Como desejar. Porém posso perguntar em quais níveis?
Respiro fundo, fechando os meus olhos e imaginando a visão daquele homem avançando em Meredith. O meu sangue ferveu no mesmo instante.
- Os mais altos possíveis! - respondo desligando a chamada e entrando na sala.
Assim que bloqueei o meu celular e ergui o meu olhar, observei a mulher a qual eu conhecia bem, sentada á mesa, acompanhada pelo seu acessor.
A mesma elevou o seu olhar, sorrindo abertamente assim que me viu. A vi se levantar e caminhei até ela.
- Montgomery, é um prazer revê-la.
- Igualmente, Rizzo. - Respondo apertando a sua mão e cumprimento rapidamente o seu acessor.
Dou a volta na mesa, me sentando na cabeceira, tendo Kepner ao meu lado.
- Então... Você se casou! Isso é realmente algo inesperado.
- Você sabe que não sou uma mulher previsível - respondo abrindo o meu iPad e a encarando logo em seguida.
- Realmente.
- Então, qual o objetivo desta reunião? - pergunto, mesmo já sabendo exatamente qual era o seu objetivo.
- Ah, você sabe, não se faça de desentendida. Podemos ir direto ao ponto? Como gosta. Sem preliminares - ela me lançou um sorriso malicioso.
Revirei os meus olhos, apenas naquele momento, relembrando que já havia transado com ela. Uma vez. Há um ano e meio atrás.
- Diga - falei me encostando na minha cadeira.
- Sabe que estou concorrendo às eleições como prefeita, e sabe que, nada melhor do que o apoio da praticamente dona de NY. Quero que analise a minha campanha, que veja no que quero investir e que me ajude nisso.
- E por que eu faria isso? Sabe que não me envolvo com assuntos políticos, não dessa forma.
- Simples, porque eu sou a melhor candidata a esse mandato e você sabe disso. Mas também sabe que tenho pouquíssimas chances de ganhar.
- Bom senso de confiança - respondi ironicamente. - Como posso confiar em você se nem você confia em você mesma?
Ela riu.
- Não, Addison, eu confio em mim! - ela respondeu sorrindo - A população não confia em mim, não o bastante.
Ergui as minhas sobrancelhas e ela riu novamente, desviando o seu olhar por um segundo.
- Às vezes esqueço de o quão evoluída você é, preciso a explicar melhor, então.
- Por favor - murmuro cruzando as minhas pernas.
- Sou uma mulher, primeiramente. Uma mulher negra e fora dos padrões sociais. Sou lésbica. Sou mãe solteira de uma filha transexual. Precisa de mais argumentos?
Suspiro, puxando a minha franja para trás.
- A população caiu matando em cima de mim assim que souberam de tudo isso. Não tem sido fácil, porém, eu tenho um ótimo plano de governo, quero exercer esse plano de governo, quero consertar todas as... Merdas que esse atual prefeito tem feito com a nossa cidade. Quero montar projetos de... Acolhimento a crianças de rua, adolescentes LGBTQIA+ que foram abandonados pela própria família, quero alcançar o subúrbio, as pessoas que... Realmente precisam! Não quero um governo focado na elite, e sim o contrário! Quero o povo!
- Me apresente os seus planos de forma mais ampla e detalhada.
Ela assentiu, ligando o retroprojetor e se levantando, começando a apresentar-me todos os seus planos de governo. Que não eram as utopias prometidas pela maioria dos políticos. Eram planos que, facilmente, poderiam ser executados.
- Do que você precisa? - pergunto, já convencida, depois que ela terminou de apresentar tudo.
- Do seu apoio - ela caminhou até mim, se encostando na mesa ao meu lado. - Apenas isso. Você sabe que, de longe, é a pessoa mais influente não só dessa cidade, como desse país. Você fala, o povo concorda. Não somente por causa da sua influência... Mas por você ser tão correta. Entende?
Assinto.
- Esse projeto de acolhimento á pessoas LGBTQIA+ e á pessoas desabrigadas, você tem o meu total apoio. - respondo.
- Jura? - ela indagou. - Tendo direito a... Logotipo da Montgomery's e tudo mais?
- Se assim você deseja... Não me importo em que o povo saiba se estou envolvida nisso ou não, mas se fortalecer a sua campanha, faça.
Ela assentiu sorridente.
- Isso quer dizer que... Você...
- Sim, Rachel, irei financiar a sua campanha.
- Oh, Deus! - ela uniu as suas mãos á frente do seu rosto, parecendo incrédula - Eu a abraçaria agora, mas sei o quão você odeia abraços e o quão eles a tiram do sério, não seria tão profissional também, não é?
Assinto, me levantando e pegando o meu iPad e o meu celular.
- Mande todas as informações, o contrato, e os seus planos para o email da empresa.
Ela assentiu.
- Como desejar. Você poderá estar presente no debate, na semana que vem? Seria incrível a ter lá.
- Farei o possível - respondo apertando a sua mão - Sobre a sua filha, ela já fez a cirurgia?
- Não ainda - ela respondeu dando de ombros - Ela está um pouco... Temerosa com a minha campanha. Em estragar tudo. Mas eu já a assegurei que isso não irá acontecer.
- Não mesmo - respondo - Se ela precisar de qualquer coisa, me contate.
Ela sorriu, assentindo.
- Mais uma vez, obrigada por tudo, Addison.
- Me agradeça quando estiver no poder.
Ela riu e eu a dei as costas, saindo da sala, sendo acompanhada por Kepner.
Ouvi o meu celular tocar e encarei-o, vendo o nome de Derek na tela.
- Diga - falei atendendo a chamada.
- Montgomery... O corpo de Diana Luccas foi encontrado.
Suspiro.
- Onde?
- Em um rio localizado na área sul. A perícia está fazendo as investigações, mas, ao que tudo indica, foi suicídio.
- É impossível que tenha sido suicídio, Shepherd, nós sabemos disso. - murmuro.
- Eu sei, nós sabemos. Mas... Isso não cabe a nós constatar. O IML está, ainda, avaliando... Pela segunda vez. Mas não há nenhum indício de que ela tenha sido vítima de abusos, ou, até mesmo, que tenha sido homicídio. Por mais que você saiba que foi.
Suspiro.
- O irmão dela está escondendo algo.
- É, eu sei. Mas não há o que possamos fazer. Somos encarregados apenas do julgamento, que, pelo visto, será vetado. Já que não há o que julgar.
Desligo a chamada, já sem paciência para tudo aquilo, e entro na minha sala, me sentando na minha cadeira.
Eu sabia que havia algo de errado com aquele caso. Desde que ele fora passado para mim, eu sabia que algo não se encaixava.
Mas, somente quando fiquei frente a frente com o irmão da suposta vítima desaparecida, soube que ele escondia algo. Que ele mentia.
As minhas análises nunca falhavam. Eu sabia disso. E também sabia que havia algo muito maior por trás de tudo isso.
Sem muitas opções sobrantes, alcancei o meu celular novamente e fui até os contatos, selecionando o que eu necessitaria no momento.
Faço a chamada, apoiando o meu celular no ouvido e ligando o meu computador.
- Addison, estou mesmo lendo certo? Porque não é...
- Vamos pular essa parte, Turner - murmurei revirando os olhos.
A ouvi rir.
- Ok, do que você precisa?
- Quero que venha até a empresa agora pela tarde. Caso tenha algo marcado, desmarque. É urgente.
- Claro, sem problemas. Estarei aí.
Desliguei a chamada, vendo Kepner entrar na minha sala, cheia de pastas em mãos.
- Esses são todos que a senhora já leu e apenas precisa assinar, senhora. Os não lidos eu irei trazer em um minuto.
Assinto, indo até o meu frigobar e alcançando uma garrafa de água.
Abri a minha bolsa e, rapidamente, tomei um remédio para dor de cabeça e, voltando até a minha mesa, me concentrei em assinar e ler os contratos em que me foram enviados no último mês.
Isso acabou me mantendo ocupada pelo resto da manhã, e, então, às 12:00 eu entrei em uma reunião rápida com o encarregado de obras em Chicago, terminando a mesma às 12:40.
Apenas fui até o meu bar e me permiti tomar uma taça de vinho, pois a minha próxima reunião era às 13:00, com o engenheiro responsável pelas obras em Bangui.
Me sentei na minha cadeira novamente e me concentrei em ler mais sobre o caso em que eu julgaria às 16:00.
Ouvi batidas na porta e autorizei a entrada, vendo Kepner adentrar a minha sala apressada, como sempre.
- Senhora, há uma mulher lá embaixo querendo falar com a senhora.
- Dispense, não tenho tempo para isso - respondo sem sequer dar-me o trabalho de saber quem era. Provavelmente alguma repórter. E eu nunca possuía paciência para esse tipo de gente.
- Sim, senhora.
Ela saiu da minha sala rapidamente e eu beberiquei o meu vinho, rapidamente lembrando-me de consultar se os presentes da minha mãe já haviam chegado.
Alcancei o meu telefone e, assim que disquei para falar com Kepner, percebi que a mesma estava em outra chamada.
Já sem paciência, me levantei, saindo da minha sala e a vendo sentada á sua mesa, falando ao telefone.
- Oi, Vic, não, a senhora Montgomery está ocupada no momento, ela não deseja dar nenhuma entrevista. Sim, peça a senhora Miller as minhas mais sinceras desculpas, mas...
Algo acendeu-se em mim assim que associei aquele nome a Flora Miller, mãe de Meredith.
- Kepner - caminhei até a mesa da mesma, vendo-a me encarar.
- Só um instante, Vic, sim senhora?
- Quem está aí?
- Vic, você poderia me dizer o nome completo da senhora Miller? Flora Miller, senhora.
Suspiro.
- Peça para que ela suba.
- Tem certeza? A senhora irá dar entrevista agora? É...
Reviro os olhos, já sem paciência.
- Não, Kepner, ela não é uma jornalista, é mãe da minha mulher. Mande ela subir e vir diretamente para a minha sala.
- Sim, senhora.
Entrei na minha sala novamente, me perguntando, internamente, o porquê a mãe de Meredith estava aqui. Obviamente Meredith não sabia da sua visita repentina, pois, se ela soubesse, daria um jeito ou de me avisar, ou de impedir que Flora viesse.
Me sentei na minha cadeira novamente e beberiquei o meu vinho, novamente me concentrando na papelada do tribunal.
Alguns minutos depois, ouvi batidas na porta e autorizei a entrada, observando a mulher de meia idade, vestida com uma calça jeans de barras dobradas e uma camisa social larga por cima.
- Espero não estar a atrapalhando, Addison.
- Não está, Flora. - falei me levantando e devolvendo ao cumprimento inusual de um abraço rápido. - Aconteceu alguma coisa? - fui direta.
- Ah, não. Eu acabei de sair da academia, estou no meu horário de almoço e pensei em vir aqui a convidar para almoçar comigo, afinal, acredito que você também esteja no seu.
Um pouco surpresa, me sento novamente, encarando o relógio.
12:56. Eu havia uma reunião dentro de quatro minutos. Não poderia me dar ao luxo de sair para almoçar.
Mas, assim que lembrei-me de que aquela mulher á minha frente era, de certa forma, importante para Meredith, eu soube que precisava fazer aquilo.
Afinal, ela era mãe de Meredith.
- Realmente - respondo desligando o meu computador e me levantando, pegando a minha bolsa e o meu celular.
Eu não me importei em cancelar aquela reunião. Não me importei em ter que a repor em algum momento de possível descanso.
A vi sorrir e, estranhamente, algo em seu sorriso lembrou-me o de Meredith.
Elas possuíam muito mais em comum do que Meredith possuía com Ellis Grey. Principalmente na personalidade.
- Vamos? - ela perguntou e eu assenti, saindo da minha sala ao seu lado.
- Kepner, desmarque a minha próxima reunião e remarque para segunda-feira às 8:00. Tire a próxima hora para almoçar e veja se os presentes da minha mãe já chegaram.
- Sim, senhora. Tenha um ótimo almoço.
Parei diante do elevador e o chamei, sem precisar esperar muito, pois o mesmo logo abriu-se.
Ouvi o meu celular tocar novamente e suspirei, encarando a tela do mesmo e vendo ser Amélia.
- Com licença, Flora - a pedi, atendendo a ligação.
- Diga, Amélia.
- Mana, você está na empresa?
- Estou saindo para almoçar, por quê?
- Pode pedir para que Kepner deixe separados os papéis que preciso assinar? Passarei aí daqui a pouco para buscar. Estou tão corrida com as coisas do aniversário da mamãe que não consegui ir mais cedo.
- Ok. O que você irá fazer agora?
- Irei para a casa da mamãe, vou ficar por lá hoje.
- Há como você entrar em uma reunião com o engenheiro de Bangui no meu lugar? Da casa da nossa mãe?
- Ah, sim... Mas... Bem, eu não sei bem o que você quer e...
- Você não precisa saber nada, ele irá a passar tudo, e, então, você passa para mim. Se houver alguma decisão a ser tomada, faça-a sem precisar me contatar.
- Ok.
- Pedirei para Kepner remarcar para às 15:00, está bom para você?
- Ótimo. Beijos, te vejo amanhã.
- Ok.
Desligo a chamada, saindo do elevador junto a Flora e ligo rapidamente para Kepner, a passando todas as informações necessárias e a pedindo para remarcar a reunião.
- Para onde a senhora deseja ir, senhora Montgomery? - um dos seguranças perguntou e eu encarei Flora.
- Alguma sugestão? - a perguntei.
- Confio no seu gosto.
Assinto.
- Vamos para o Eleven Madison.
- Sim, senhora. A senhora deseja dirigir?
Assinto.
- Tire o meu carro da garagem. O deixei aqui anteontem.
Ele assentiu, indo rapidamente até a garagem.
Ouvi o som do toque de um celular, e, assim que fiz menção de checar o meu, Flora tirara o seu da bolsa.
- Com licença, Addison.
Assenti, vendo-a se afastar um pouco.
- Oi, filha. Estou indo almoçar, humrum, sim, meu amor, eu irei. Está bem, encontro você lá? Me mande o endereço. Não, Lisa tem que ensaiar as meninas hoje, ela está insuportável com essa apresentação. Sim. Está bem. Eu sei, Mer. Humrum. Ok, ok. Tchau, meu amor.
Assim que a mesma voltara, o segurança estacionou a minha outra Mercedes, a qual eu não usava com muita frequência, em frente a empresa.
Peguei as chaves das suas mãos e dei a volta no carro, vendo-o abrir a porta do passageiro para Flora, me sentei no banco do motorista e o liguei, fechando os vidros e ligando o ar condicionado.
Dei partida no carro, saindo da minha empresa rapidamente.
- Meredith não sabe que você está indo almoçar comigo, correto? - pergunto, já sabendo a resposta.
Flora riu.
- Não, ela não sabe. Porque se soubesse...
- Ela já teria me ligado extremamente nervosa - respondo, fazendo-a rir novamente.
- Exatamente. Eu entendo esse nervosismo dela, eu sou realmente... Um pouco protetora demais. - Assinto.
- Você é importante para ela - comento, pela primeira vez durante muito tempo, tentando manter uma conversa.
- Acho que sou - ela falou sorrindo. - Assim como você também é.
Apenas assinto, consciente de que aquilo não era verdade e me concentrando, então, no trânsito.
Fiz o caminho até o restaurante de forma rápida, dentro de dez minutos estacionei o meu carro em frente ao mesmo e saí, sendo acompanhada por Flora. Entreguei as chaves do meu carro para um dos seguranças o levar até o estacionamento.
Fomos recebidas pelo Maitrê, que nos levara até uma mesa na cobertura.
O mesmo nos entregou os cardápios e pediu licença, se retirando.
- O que irá beber, Addison? - Flora perguntou encarando o seu cardápio.
- Ainda não sei - Murmurei tentando me decidir.
- Posso pedir por nós duas então? Há um vinho grego delicioso nesse cardápio.
- Peça, então - aceitei, passando para o meu prato. Escolhi rapidamente, assim como Flora e o garçom viera buscar os iPads, voltando alguns minutos depois com a nossa bebida.
Tomei um pouco do vinho, me surpreendendo com o gosto diferente que o mesmo possuía.
- Gostou?
Assinto.
- Diferente do que estou acostumada. - constato.
- Imagino. Estranhei um pouco também, quando o tomei pela primeira vez.
- Na Grécia, eu suponho - comentei.
Ela sorriu.
- Exato.
- O que a fez ter a idéia de deixar toda a sua vida aqui e viajar pelo mundo? - perguntei, realmente interessada.
- Humm, acho que... A monotonia a qual eu estava vivendo - ela deu de ombros, bebericando o seu vinho.
E, assim que analisei a sua expressão, percebi não ser somente aquilo, o seu olhar dizia isso, que havia mais. Porém, apenas assenti, fingindo entender.
- Não me orgulho muito de ter feito isso. Você sabe... De ter deixado a Mer. Principalmente depois de tudo.
Franzo o cenho, sem entender muito bem sobre o que ela falava. Mas, assim que lembrei-me do porque Meredith estava casada comigo, tudo pareceu fazer sentido.
- A entendo - respondo.
- Realmente não gosto de imaginar como ela pôde aguentar tudo... Sem a minha presença aqui. Mesmo que... Eu houvesse ido algum tempo depois em que tudo aconteceu. Mas... Ainda sim... Eu não me orgulho de ter feito isso - ela suspirou - Quero dizer... Nós sempre fomos tão apegadas uma a outra.
- Acredito que, em primeira mão, pode ter sido difícil para ela, mas, quando a conheci, ela já lidava bem com toda essa situação. A única preocupação dela era a empresa. - comento.
Flora me encarou, franzindo o cenho.
- Estou... Um pouco confusa... Você está falando sobre...?
Franzi o cenho, sem deixar de me perguntar se aquilo não era óbvio.
- Sobre Tatcher Grey. Tudo em que ele fez na empresa.
A feição da mulher a minha frente pareceu ainda mais confusa, e, algo dentro de mim, teve a certeza de que nós duas não estávamos em um mútuo consenso. Ela não falava sobre a mesma coisa em que eu.
- Ah, sim, claro. - ela claramente tentou disfarçar algo.
Para evitar que a mesma ficasse ainda mais confusa, e mantendo válida a vontade de Meredith, de que ela não soubesse de absolutamente nada e sequer desconfiasse, apenas me calei. Porém, ainda tendo aquela dúvida pairando ao meu redor.
Pela primeira vez, percebi o quão eu sabia pouco sobre a vida Meredith. Eu poderia saber as suas manias, os seus gostos, a sua comida favorita, cada significado de, pelo menos, maioria de todas as suas expressões. Eu sabia tudo em que eu deveria saber, em quatro meses de convivência com ela. Mas eu não estava a par sobre absolutamente nada relacionado a sua vida antes de nos casarmos.
E, estranhamente, essa constatação fora um pouco insatisfatória. Principalmente depois de tudo em que Flora dissera.
- Então... - ela limpou a sua garganta, parecendo querer dispersar a minha atenção das suas falas anteriores - A Mer comentou com você sobre a minha proposta?
Assinto.
- O que você acha? - ela perguntou.
- Se isso a fizer feliz, ela deve aceitar - falo verdadeiramente. Era o que eu pensava. - Imagino o quão entediada e sozinha ela deve se sentir em casa, o dia inteiro. Mesmo que ela não precise trabalhar, é uma distração. E é algo que ela ama fazer.
- Então você acha que ela irá aceitar?
- Talvez - falo dando de ombros.
Flora sorriu.
- Há tanto tempo em que eu venho querendo que ela voltasse para a ginástica. Mas ela nunca me ouviu. Aliás, eu fui a única pessoa a qual ela realmente não ouviu - ela suspirou, bebericando o seu vinho.
Resolvendo saber mais sobre a mulher a qual dormia ao meu lado todos os dias, rapidamente me propus a fazer uma das coisas a qual eu mais sabia: persuadir, de forma minuciosamente imperceptível, para obter as informações as quais eu desejava.
Beberiquei o meu vinho, apoiando a minha taça novamente na mesa e encarando a mulher a minha frente.
- Você conhece o bastante a sua filha - comento, me concentrando em observar as suas expressões, conforme eu falava, para que, então, por meio delas, eu fosse guiada de forma sutilmente impercebível até o meu objetivo: saber mais sobre Meredith - E deve imaginar que, desde que nos casamos, ela não se abriu comigo o bastante sobre Tatcher Grey. Obviamente ela me falou o básico, mas, não sei se por uma falta de muita confiança, ou se...
Ela negou com a cabeça, suspirando. Vi o seu olhar rapidamente mudar para qualquer sentimento próximo a raiva. Talvez também rancor, mas, em grande maioria, raiva.
- Não - ela me cortou - Meredith... Sempre evitou falar sobre ele. Ela simplesmente... Ignora tudo. Principalmente o fato de o quão... - ela suspirou - Ele foi o maior responsável por... Tudo de ruim em que já... Enfim... Não se martirize com isso. - ela me encarou novamente, e, então, o seu olhar havia mudado novamente. E, novamente, ela possuía, mesmo que não na mesma intensidade em que, de certa forma, me causava aquele incômodo no peito e no estômago, o brilho no olhar em que Meredith possuía.
- Sabe, Addison - senti a mesma tocar a minha mão, e, mesmo que eu esse tipo de contato não me agradasse, eu não me afastei. - Acho que o maior passo de mudança na vida da Mer foi ter se casado com você. E, mesmo que seja realmente estranho que ela, logo ela, que é tão... Organizada e metódica, tenha se casado em tão pouco tempo, e tão inesperadamente, eu acredito que ela cometeu um imenso acerto. E espero, de todo o meu coração, que ela não seja magoada. Não por você. Porque eu nunca havia visto a minha filha olhar para alguém, assim como ela olha para você. Esse casamento está a fazendo muito bem.
Estranhamente, após de filtrar tudo em que ela dissera, vi a mim mesma vivenciando a mesma sensação estranha em que aconteceu pela manhã, quando beijei Meredith antes de sair de casa, e todas as vezes anteriores as quais aquele ato se repetira.
Ainda mais estranhamente, a idéia de se, por alguma forma ou meio, eu acabasse machucando-a, não intencionalmente, fizera-me rapidamente descartar tudo aquilo.
Meredith era o tipo de pessoa, das quais eu conhecia, que menos merecia ser machucada, mesmo que de forma não intencional.
E, mesmo que eu possuísse a certeza do contrário, o seu jeito de ser e a sua delicadeza intensiva a faziam parecer extremamente frágil. Mesmo que eu soubesse que não, ela não era.
Percebendo que eu havia, anormalmente, introvertido-me para dentro dos meus pensamentos, de forma não percebida, saí deles rapidamente, responsabilizando-me em encontrar uma resposta para as falas de Flora.
Resolvi, então, ser realmente sincera.
- Você tem a minha palavra, Flora. Farei o que for preciso para que ela esteja, a cada dia, mais confortável ao meu lado.
Ela sorriu.
- Eu sei, querida. Confio em você, sei que a minha menina está em boas mãos.
Assinto, vendo o garçom trazer os nossos pratos.
- Então! Conte-me mais sobre o seu projeto na África. - ela pediu, começando a comer.
Eu, então, me comprometi, pelo resto do almoço, a atualizá-la sobre tudo em que eu estava não só planejando, mas colocando em prática na África.
Finalizamos o nosso almoço e a mesma pediu a sua sobremesa, enquanto eu me concentrei em bebericar o meu vinho.
Ela riu, encarando a torta que comia, de morangos com mais inúmeras coisas que eu desconhecia, e que eram, para mim, extremamente nojentas somente em sequer olhar.
- Quando Meredith era criança, ela pediu para o papai Noel um pé de morangos - ela falou rindo e eu franzi o cenho, realmente curiosa.
- Um pé de morangos? - pergunto.
- Pois é. Ela disse que não queria mais nada, nenhuma boneca, nenhum brinquedo. Ela apenas queria um pé de morangos dentro do seu quarto, para que ela passasse o dia inteiro debaixo deles comendo sem parar.
Eu ergui as minhas sobrancelhas, sentindo uma estranha vontade de rir ao imaginar aquilo.
- E, então, quando ela obviamente não o ganhou, ela declarou guerra contra o papai Noel - a mais velha riu - O propôs um duelo, e, acredite ou não, ela aprendeu a escrever somente para mandar cartas para ele, o desejando que... A sua roupa não secasse, que as renas comessem a sua cueca, que... Ele ficasse entalado em uma chaminé e não pudesse mais sair...
Eu sorri minimamente, sem conseguir me conter. Afinal, quem imaginaria que Meredith, a Meredith a qual eu conheço, poderia desejar coisas tão... Desconfortáveis a qualquer pessoa. Mesmo que fictícia.
Ela não era capaz de fazer ou desejar mal a sequer um inseto.
- Quantos anos ela tinha? - pergunto curiosa.
- Cinco. E ela quis aprender a escrever com cinco anos para mandar cartas ofensivas para o papai Noel. E aprendeu.
- Acho justo. Visando que eram morangos e ela é a maior fã deles. - comento, vendo-a rir.
- Realmente.
A mesma terminou de comer a sua sobremesa e, assim que encarei o meu celular, percebi estar atrasada para a minha próxima reunião, e Flora precisaria voltar para a academia.
Fiz o pagamento da conta, dispensando todo argumento retórico de Flora sobre dividirmos e, rapidamente, saí do restaurante ao seu lado.
Dirigi até a minha empresa conversando sobre amenidades com Flora.
Assim que parei á frente da empresa, desci do carro ao seu lado.
- Obrigada pelo almoço, Addison. Foi realmente muito bom conversar a sós com você.
- Igualmente, Flora - a mesma se aproximou e me abraçou rapidamente, devolvi o abraço um pouco desajeitada, por não estar acostumada e confortável o bastante com aquele ato. - Caso você não tenha algum compromisso, traga a sua esposa e jante conosco na nossa casa, no dia vinte.
- Claro! Irei adorar, querida.
Me despeço da mesma e ordeno a um segurança que a acompanhe até o estacionamento.
Subo até o meu andar, encontrando Kepner já sentada em sua mesa, concentrada energicamente no seu computador.
- Ah! Boa tarde, Meretissima! Espero que tenha tido um bom almoço.
Entro na minha sala, sendo seguida por ela.
- A sua irmã viera aqui, como a senhora indicou que ela faria, liguei para a floricultura apenas para confirmar a entrega de rosas vermelhas para a sua mãe amanhã, os livros acabaram de chegar e eu pedi para uma estagiária ir comprar uma caixa bonita para os colocar, a jóia um dos seguranças já foi buscar e também já está aí. Está tudo certo, como a senhora desejou.
Assinto.
- Providencie a papelada das férias de Miranda Bailey e Benjamin Warren.
- Sim, senhora. Já estão prontas. Deseja que eu mande por email ou peça para entregar na casa deles?
- Entregue na casa deles.
Ela assentiu e eu me sentei na minha mesa novamente.
Vi a porta da minha sala se abrir e Mark entrar por ela, sem bater.
- Boa tarde, April. Como vai?
- Boa tarde, senhor Montgomery. Bem, e o senhor?
- Ótimo! Uma pergunta... Você ainda está noiva?
- Sim, senhor. - Kepner respondeu contendo um sorriso.
- Droga! - ele sussurrou e eu revirei os olhos, sem paciência para perder o meu tempo com aquilo.
- Saia, Kepner. - Murmuro, ligando o meu computador novamente.
- Diga, Mark, o que você quer aqui a essa hora?
- Ver a minha irmã favorita, é claro!
Reviro os olhos.
- Não tenho tempo, diga! - respondo sem a mínima paciência.
- Argh! Como você é chata! Esqueceu que preciso estar presente na reunião de hoje também?
- Não, não esqueci. Mas não é como se você fosse responsável o bastante para cumprir restritamente com os seus compromissos.
Ele bufou irritado e se sentou no meu sofá.
- Como está a Mer? Já á ponto de enlouquecer com você?
Reviro os meus olhos, resolvendo não me dar o trabalho de o responder.
Me concentrei na papelada que eu deveria ler até a hora da minha reunião.
Às 14:30, me sentei diante da grande mesa de reuniões que havia na minha sala e liguei a TV, conectando-a no meu MacBook, e, então, fazendo a chamada.
Eu e Mark, juntos, conseguimos terminá-la em muito menos tempo, e, então, eu apenas organizei algumas coisas, antes de a encerrar por completo.
O vi dar a volta na minha mesa e vir até mim e o encarei, observando-o me entregar um copo de whisky.
O peguei, bebericando-o e percebendo estar do jeito em que eu gostava.
- Mas falando sério, Addie, como está a sua convivência com a Mer?
Suspiro.
- Normal - respondo dando de ombros.
- Isso me assusta. O seu normal não é normal.
Reviro os olhos.
- Você não tem nada de melhor para fazer, que não seja se meter no meu casamento?
- Apenas estou preocupado com... A Mer e...
Sinto o meu sangue ferver.
- Que tipo de pessoa você acha que eu sou, Mark? Você realmente também acha que eu mantenho a minha própria mulher em cárcere privado, ou que a deixo sem comer, ou que a obrigo a fazer sexo comigo sem consentimento, ou...
- Ei! Calma! Eu não disse nada disso! Pelo amor de Deus, Addie, é claro que não! Eu a conheço o bastante para saber que você nunca seria capaz de cometer qualquer uma dessas coisas.
Suspiro, voltando a minha atenção para o meu computador.
- Me desculpe. - ele murmurou.
- Não preciso das suas desculpas, preciso que saia da minha sala e me deixe trabalhar em paz. - Murmuro ainda irritada.
- Você vai realmente ficar emburradinha?
Suspiro, buscando por paciência.
- Mas... Espera aí! - ele murmurou - Vocês duas... Transam?
Reviro os meus olhos.
- A minha vida sexual não é e nunca foi da sua conta.
Ouvi ele rir.
- Vocês transam! Uau! Eu nunca imaginaria isso. Vocês dormem na mesma cama? Tipo... Abraçadinhas?
Sinto o resto de paciência em que me habitava esvair-se por completo.
- Vou precisar chutar você daqui para que você saia?
Ele riu novamente.
- Por que falar sobre o seu casamento falso a deixa tão nervosinha, mana?
Fecho os meus olhos por um segundo, segurando-me para não cravar as minhas unhas em seu pescoço.
- Falar sobre o meu casamento não me tira do sério, Mark Montgomery. Você me tira do sério!
- Sei que sou o seu favorito, maninha, não precisa deixar tão na cara assim!
O encarei, sentindo que a qualquer momento eu poderia socar o seu rosto, com força.
Ele riu e se aproximou, deixando um beijo no topo da minha cabeça.
- Apenas gosto de a irritar, mana. Não posso evitar, sou o mais velho e você é a caçula, é meio que obrigação, sabe? - ele deu de ombros - Nos vemos amanhã, ok? Fique bem, e peça para a minha cunhada dar um jeito nesse seu mau humor.
Ele riu, saindo da minha sala e, então, eu soltei o ar preso em meus pulmões, e a raiva em que eu sentia, vagarosamente, fora tornando-se mais intensa, conforme eu me concentrava em beber o meu whisky e repensava na fala de Mark, e, ainda mais, na da amiga de Meredith.
Por mais em que Meredith houvesse me garantido que não se sentia infeliz ao meu lado, as falas daquela mulher ainda rondavam a minha cabeça.
E, mesmo em que eu não desse a mínima para o que aquela mulher dissimulada e sem qualquer discernimento algum dizia, e mesmo em que Meredith houvesse desmentido as suas falas, eu ainda me sentia inconfortavelmente irritada com aquilo.
Porque, por mais em que o nosso casamento não fosse baseado em sentimentos, eu me importava com ela. Me importava com o seu bem-estar. Com a sua felicidade.
E eu tive certeza disso apenas ontem, quando ouvi a sua melhor amiga despejar em cima de mim uma série de frases ofensivas e acusatórias, sobre a suposta infelicidade da sua melhor amiga ao meu lado.
E, após os questionamentos insuportáveis que o meu irmão mais velho acabara de me fazer, aquela certeza fervilhava em mim ainda mais intensamente, fazendo-se acompanhada pela minha raiva.
Eu me importava com Meredith. Por um lado, estranhamente. Por ela ser nada além do que a minha sócia. Mas, por outro lado, a conhecendo como conhecia, como pessoa, e não apenas a minha sócia, não era estranho em que eu me importasse. Estranho seria ser completamente impassível ou insensível quando se trata dela.
Pois não havia como não importar-se com ela. Não com ela.
[...]
Meredith Montgomery;
Diante do espelho, eu parei rapidamente para verificar a minha roupa escolhida para sair com Beatrice.
Uma saia de couro preta, que ia até um palmo antes do meu joelho, na parte de cima, uma blusa de alcinhas e de seda branca. Nos pés, escolhi apenas uma rasteirinha preta, com algumas pedras brancas, que combinavam perfeitamente com o a roupa mais casual em que eu havia optado por usar hoje.
Mantive os meus cabelos soltos, e não pude deixar de observar que eles estavam um pouco mais longos, batendo um pouco mais abaixo dos meus seios.
Analisei a minha maquiagem leve e escolhi uma bolsa também preta e alcancei o presente de Joana, saindo do meu quarto logo em seguida.
Desci as escadas, tirando o meu celular da bolsa, com o objetivo de mandar uma mensagem para Beatrice, mas, assim que ouvi a sua risada incomparável lá embaixo, o guardei novamente, sorrindo, enquanto descia até o primeiro andar.
A vi conversar animadamente com Miranda e me aproximei, passando o meu braço pelos ombros da minha sogra.
- Bom dia, Bizzy - a cumprimentei com um beijo na bochecha.
- Bom dia, minha nora! Como está?
- Ótima, e você?
- Ansiosa - ela respondeu me lançando uma piscadela e se despedindo de Miranda.
A mesma entrelaçou o seu braço ao meu e nós saímos juntas, descendo as escadas da entrada.
- Você dirige - ela falou me entregando as chaves do seu carro.
- Sim, senhora - respondi em um tom de humor e ela sorriu, entrando no carro.
Fiz o mesmo, dando partida e saindo de casa, sendo seguida por Warren e mais dois carros.
- Para onde vamos, Bizzy? - pergunto a encarando rapidamente.
- Humm, algum restaurante diferente. Estou cansada dos mesmos de sempre.
- Ok, já sei para onde iremos - comentei, fazendo o caminho até um dos meus restaurantes favoritos em Nova York.
Dentro de poucos minutos, parei em frente ao restaurante, descendo do carro junto a minha sogra. Entreguei as chaves para que um segurança o estacionasse e, sendo acompanhada por Beatrice e Warren atrás de nós, entramos no mesmo.
- Uau! É realmente diferente dos que sempre vamos - ela comentou.
- É o meu restaurante favorito da cidade. Meu e de Flora - respondo, me sentando em uma das mesas junto a ela.
- Falando nela... Quando você me contou sobre ela, não me disse sobre o quão incrível ela é, Mer.
Sorrio, encarando o cardápio.
- Ela realmente é, mas, acho que assim como você, contar não é o suficiente, é preciso presenciar - respondo a lançado uma piscadela e ela ri, acariciando a minha mão leve e rapidamente.
- E, como eu disse, no fim, ela amou a Addie. - ela comentou me encarando - Você agora, obrigatoriamente, tem que confirmar que eu estava certa.
Sorrio, deixando-me realmente aceitar aquilo.
- Elas parecem ter se dado bem. Apesar de serem o completo oposto uma da outra, e era realmente isso em que me incomodava - comento.
Ela assentiu, concordando.
Nós fizemos os nossos pedidos e, até que eles chegassem, nos concentramos em falar sobre os detalhes da festa de Joana, que aconteceria essa tarde.
- Estou pensando... Alguns deles hoje têm algumas atividades pela tarde, maioria, na verdade. Menos ela, a Isabella e algumas outras meninas. Nós poderíamos levar as duas para o shopping e as entreter, enquanto o buffet faz o perfeito trabalho de deixar tudo pronto até às 16:00. O que você acha?
- Eu acho ótimo! - respondo animada - Ela irá ficar tão feliz, Bizzy!
Minha sogra sorriu.
- Sei que irá. Quando eu tive a minha primeira festa surpresa, também fiquei - ela comentou sorrindo - E, assim como a Joana, eu sequer esperava.
Sorrio, acariciando a sua mão.
- Quantos anos você tinha? - pergunto curiosa - Quando teve a sua primeira festa surpresa?
- Seis - ela respondeu e entrelaçou a sua mão a minha - E... Eu tenho mais em comum com a Joana do que... Gostaria.
Franzo o cenho, sem entender.
- Eu também vivi em um orfanato - ela comentou, me surpreendendo de forma completamente inesperada. A mesma riu - Ah, sim, Mer... Eu não nasci rica, e muito menos tive pais. Fui deixada em um orfanato com poucos meses de vida. E lá passei cinco anos da minha vida.
- Eu... - me perco nas palavras, porque eu realmente sequer possuía noção do que eu poderia dizer - Não sabia, Bizzy. Eu sinto muito.
Ela me lançou um sorriso reconfortante, mostrando estar tudo bem.
- Não se preocupe com isso, meu amor. Eu fui adotada aos cinco anos, e os meus pais são as pessoas mais incríveis que eu já conheci na vida. E a nossa semelhança é realmente assustadora, por isso, às vezes esses cinco anos ficam extremamente nublados para mim.
- Posso imaginar. Seus pais... Ainda estão vivos, certo?
Ela assentiu.
- Moram na França atualmente. Não possuímos tanto contato o quanto eu gostaria.
Addison, então, ainda possuía avós vivos.
- E... A relação de Addison com eles... É boa? - pergunto, a fim de conhecer um pouco mais sobre a minha mulher.
- Razoável. Como já é de imaginar-se, a Amy e o Mark são um pouco mais... Apegados a eles.
- Posso imaginar.
- Acho que eles irão passar o Natal conosco na fazenda. Os comuniquei e, até agora, eles não possuem nenhum compromisso. Eles irão adorar a conhecer, Mer.
Sorrio.
- Eu também irei.
Ela suspirou.
- Acho que a Addie não gostou muito da idéia de ir para a fazenda, não é? - a sua voz havia se tornado um pouco mais triste.
- Bem... Ela não gostou de ser na fazenda em si - respondo sorrindo, e, inevitavelmente, ri, lembrando-me do porquê - Porque ela... Odeia mosquitos - falei rindo e arrancando uma risada da minha sogra.
- Ela realmente odeia. Desde pequena. Mas acho que... Por ela conseguir ter um pouco mais de paz, sem os seus irmãos a tirando do sério o tempo inteiro, ela sempre gostou de ir para lá.
- Imagino o quão a Amy e o Mark poderiam ser crianças... Enérgicas.
Beatrice riu.
- Você não imagina, Mer. - ela sorriu, parecendo lembrar de algo - Uma vez... Fomos para a fazenda no Natal, a Addie tinha cinco anos, a Amy sete e o Mark nove. E, no primeiro dia, tudo ocorreu bem. Como sempre, Amélia e Mark passaram o dia inteiro brincando no extenso terreno que possuímos lá, enquanto a Addie... Bem... Como você pode imaginar, passou o dia inteiro sentada na área da piscina, lendo seus livros infantis e brincando sozinha. No outro dia, quando, praticamente obrigada pelo capitão, ela foi brincar com os irmãos, e, como brincar, eu devo ressaltar, como assistir seus irmãos brigarem, separar a briga, obrigá-los a fazer as pazes e, depois, os observar verdadeiramente brincar. Mas Mark e Amélia nunca foram crianças que deixavam a Addie em paz. Talvez por ela ser a mais nova, talvez por realmente serem implicantes... - ela riu - Então eles, e por Deus, hoje em dia eu estou rindo disso, mas no dia realmente me deixou extremamente irritada... Eles sabiam que a irmã deles morria de medo de patos - eu, sem conseguir me conter, ri.
- Addison tinha medo de patos? - pergunto perplexa.
- Oh, sim! E como! Ela sequer chegava perto do lago.
Eu ri novamente, imaginando Addison com medo de animais tão inofensivos como patos.
- Então, como você pode imaginar, eles obrigaram a Addie a usar uma venda e a levaram até o lago. Os dois, muito maiores que ela e mais fortes, a carregaram e a jogaram lá, obviamente porque sabiam que não era fundo e que ela não se afogaria. Essa foi a primeira vez que eu vi a minha pequena realmente desesperada com algo, considerando que ela sempre foi uma criança tranquila, sem muitos medos ou receios.
Eu sorri, tentando imaginar Addison como uma criança. E, já esperadamente, falhei nisso.
Eu não conseguia a imaginar na sua infância.
Para mim, ela era o tipo de adulto em que, ao olhar-se, rapidamente imagina-se que já deva te nascido adulto.
- Você tem... Fotos em casa? Da Addison. Quando era criança.
Ela sorriu.
- Inúmeras! A mostrarei quando vocês fizerem uma visita. Mas tenho uma no meu celular, só um instante.
Assenti, realmente ansiosa para ver Addison criança.
Beatrice pegou o seu celular dentro da sua bolsa e o desbloqueou, o apontando para mim.
Sorri inevitavelmente, assim que vi, na foto de capa do seu celular, uma figura mirim ruiva, abraçada, eu diria, a Addison que conheço hoje.
- Essa é você? - pergunto extremamente surpresa.
Ela riu.
- Não se assuste, sei que hoje estou bem melhor. Nunca gostei de ser ruiva.
Rio, negando com a cabeça.
- Não estou falando disso, apesar de você ser naturalmente linda de qualquer forma, sogra. Eu apenas... Estou assustada. Você e a Addison são idênticas.
- Você acha?
Assinto, deixando-me prestar atenção, então, em Addison ao seu lado.
Um sorriso invadiu os meus lábios assim que vi que a mesma sorria abertamente, pois parecia ser uma foto espontânea.
Ela estava no colo de Beatrice, que também sorria para a foto de forma animada.
Eu nunca me imaginei tendo esse tipo de pensamento envolvendo a minha esposa. Mas ela era extremamente graciosa!
Os seus cabelos ruivos estavam meio bagunçados em cachos extremamente abertos, quase ondulados, que caíam até metade das suas costas. Seus olhos, ali, eram um tom de azul esverdeado mais vivo e perceptível. As suas bochechas estavam rosadas e os seus pequenos dentinhos estavam á mostra.
Seus braços estavam ao redor do pescoço de Beatrice, e ela a abraçava, ao que me parecia, com força.
- Quantos anos ela tinha? - pergunto curiosa, sem conseguir desviar o meu olhar daquela foto. E de o quão diferente Addison estava ali.
- Cinco. Estávamos na fazenda. Foi no quinto dia. Fizemos um piquenique em família. Foi um... Dos melhores dias da minha vida. Eu... Consigo sentir esse momento, sempre que lembro dele.
Sorrio, acariciando a sua mão, ainda encarando a foto.
Addison era linda.
Isso, para mim, já era óbvio. Mas não somente a sua beleza externa. O quão cada parte do seu rosto ornava perfeitamente nela. Não.
Naquela foto havia mais. Havia uma Addison a qual eu nunca conheci e, tenho absoluta certeza de que nunca terei o prazer de conhecer. Seus olhos brilhavam. Ela ria de forma, creio eu, realmente alegre. E exalava uma alegria contagiante, mesmo que apenas por uma foto.
- Não foi um momento qualquer. Acho que... Em toda a sua vida, esse foi um dos risos mais sinceros e, definitivamente, o mais gostoso de ouvir-se, de todos os outros! Ela estava tão feliz. Eu havia feito alguma piada boba, a qual não me lembro muito bem, ou a feito cócegas... Mas... Algo nela parecia estar diferente esse dia. Ela parecia tão mais feliz.
Sorrio, sentindo a alegria daquela foto me contagiar.
- Isso foi no Natal? - pergunto curiosa.
- Ah, não. Esse ano nós fomos mais cedo. Era início de novembro, se não me engano... Dia dez de novembro. É! Dez!
A encaro, um pouco surpresa.
- De qual ano? - pergunto.
- Noventa e... Cinco.
Rio, realmente surpresa.
- O que houve? - ela perguntou curiosa.
- Bem... Enquanto vocês tiravam essa foto... Eu acho que Ellis estava no hospital, berrando em um quarto, tentando me pôr para fora. - falo dando de ombros, enquanto ria.
Ela ergueu as suas sobrancelhas, parecendo surpresa.
- Você nasceu dia 10 de novembro de 1995?
- Exato.
Ela riu.
- Que coincidência incrível! e... Ao mesmo tempo... Estranha!
Assinto, vendo o garçom trazer os nossos pedidos e nos servir a nossa bebida.
Começamos a comer conversando trivialidades e, assim em que acabamos o nosso almoço, nos atentamos a comer a nossa sobremesa rapidamente, pois já estávamos consideravelmente atrasadas.
Pagamos a conta e saímos do restaurante juntas.
Dirigi o mais rápido em que consegui até o orfanato, e, assim que estacionei o carro em frente a casa e encarei o relógio, sorri para mim mesma, ao perceber que eu havia conseguido a proeza de realizar o caminho em exatos quarenta minutos.
Desci do carro ao lado da minha sogra e, nós fomos alegremente recebidas por Mary, que nos guiou até a sala.
- As meninas estão lá em cima se arrumando. Eu, infelizmente, não poderei ajudar. Tenho algumas papeladas importantes para cuidar.
Assentimos.
- Sem problemas, Mary. Você pode ir. - a minha sogra a tranquilizou e a mesma assentiu, pedindo licença e se retirando.
Encarei Beatrice, que me lançou um sorriso cúmplice e, juntas, subimos as escadas.
Bati na porta do quarto das meninas e ouvi a voz de Isabella autorizar a minha entrada, e, assim que o fiz, vi ela, Joana e Maria conversando alegremente, enquanto arrumavam Joana.
- TIA MER! TIA BIZZY! - elas exclamaram animadas, e eu, instantaneamente, senti o meu coração pulsar em ternura.
- Eu e a minha sogra queremos saber se estamos no castelo da tão famosa princesa Joana e das suas amigas: princesa Isabella e princesa Maria.
Elas riram.
- Sim, vossa majestade! Sejam bem-vindas ao nosso castelo!
Rio, indo até elas e abrindo os meus braços, pronta para receber Joana neles.
A mesma se levantou e correu até mim, me abraçando fortemente.
- Feliz aniversário, minha pequena princesinha - Murmuro beijando ternamente o topo da sua cabeça, acariciando os seus cabelos.
- Obrigada, tia Mer - ela respondeu animadamente, deixando um beijo na minha bochecha.
Beatrice a pegou no colo, a envolvendo em um abraço gostoso e fazendo o mesmo.
Cumprimentei Isabella e Maria da mesma forma, me sentando em uma das cadeiras que havia ali.
- Então, quais são os seus planos para hoje, minha princesa? - pergunto para Joana, que veio até mim e se sentou no meu colo.
- Humm, eu acho que a gente vai ver filme, e comer pipoca doce com refrigerante. - ela respondeu sorrindo alegremente. E eu também sorri, sentindo o meu coração se aquecer. Ela sequer parecia triste por não ter uma festa, ou presentes sofisticados.
- Oh, é realmente uma pena então... - respondi encarando Beatrice, que riu.
- Por que, tia? Você não vai poder ver filme comigo?
Sorrio, pincelando o seu nariz com o meu dedo.
- Não é isso, princesa. É que a tia Mer e a tia Bizzy tinham... Outros planos.
- Outros planos? - ela perguntou confusa.
- Humrum!
- Quais?
Sorrio, desviando rapidamente o meu olhar para a minha sogra, e, logo após, fito a pequena sentada em meu colo novamente.
- Você quer mesmo saber?
Ela assentiu, parecendo ansiosa e envolveu o meu pescoço com seus braços, fazendo o mesmo com as suas pernas na minha cintura. Eu abracei-a pela sua cintura, deixando um beijo terno na sua testa.
- Pensamos em as levar para passear no shopping. Com direito a absolutamente tudo em que vocês quiserem! E essa última promessa é completamente minha - Murmuro a lançando uma piscadela.
Vi sua feição tornar-se extremamente animada e sorri, diante do brilho instantâneo que havia manifestado-se em seu olhar.
- Você tá falando sério? - ela questionou, parecendo maravilhada.
- Claro que sim! Hoje é o seu dia!
Ela riu, me abraçando fortemente.
- EU TOPO!
- Então acho que eu e a minha sogra precisamos ajudar essas pequenas princesas a ficarem ainda mais graciosas do que já são, não é?
Elas assentiram, extremamente animadas.
E, nos últimos trinta minutos em que se passaram, eu e Beatrice nos concentramos em ajudá-las a se arrumar.
Entreguei o meu presente para Joana, o que a deixara ainda mais feliz.
Senti o meu coração se aquecer completamente quando ela me abraçou sorridente e eu vi os seus olhos encherem-se de lágrimas.
- Esse é o melhor aniversário da minha vida! - ela exclamou e nós rimos.
Ajudei Isabella a arrumar os seus cabelos e, logo após, nós saímos do quarto, descendo as escadas.
- Só há vocês três aqui? - Beatrice perguntou e elas deram de ombros, sem saber ao certo.
- Vocês sabem se a Beatriz está aqui? - pergunto curiosa e elas negaram com a cabeça. - Vocês podem me esperar no carro, eu irei ver se ela está.
Elas assentiram e eu subi as escadas novamente, caminhei até a última porta do corredor e bati levemente na mesma, não ouvindo alguma resposta por trás.
A abri devagar, constatando o que já esperava: Beatriz não estava em casa.
Assim que fiz menção de fechar a porta, meu olhar pousou em um canto do quarto onde a porta maiormente fechada impedia a minha visão.
A abri um pouco mais e estranhei ao ver uma garota deitada em uma outra cama, a qual, eu tinha absoluta certeza em que não estava ali da última vez em que eu vim.
Eu não a conhecia.
Ela sequer parecia ter notado a minha presença, porque estava de fones e concentrada em um livro, o qual eu rapidamente reconheci. Era um dos livros em que eu havia dado a Beatriz: O velho e O Mar.
Sorri, entrando devagar no quarto e parando ao lado da sua cama, toquei seu braço levemente e me assustei, assim que a vi se assustar igualmente e se levantar de supetão, ficando sentada na cama. A mesma colocou a cabeça entre as pernas, evitando me encarar.
- Ei - sussurrei - Me desculpe a assustar... Você estava tão entretida no livro que não me viu... Qual é o seu nome?
Ela não respondeu.
- Ok... Sem nomes então, o que está achando do livro? - perguntei, na esperança de que ela diria algo.
Assim em que percebi que não, ela não diria nada, eu apenas suspirei, sem saber muito como agir.
- Eu...
Ouvi a porta ser aberta e me virei, vendo Beatriz entrar no quarto.
A garota de cabelos castanhos cortados na altura do pescoço se levantou rapidamente, saindo correndo do quarto.
Encarei Beatriz, um pouco confusa.
- Não liga não, ela é louca.
- Bia... Não fale assim.
- Mas eu estou falando sério. Ela é louca. Tipo... Louca mesmo.
A mesma foi até a cama da menina e pegou o seu livro, bufando irritada e o colocando de volta na sua escrivaninha.
- Além de ladra.
- Bia... Não fale uma coisa dessas! Ela parecia interessada, e...
- Eu não ligo! Tem três dias que essa garota foi aceita aqui, e tudo tem sido um inferno. Um inferno pra ela comer, pra dormir, ela faz xixi na cama! Tem um monte de pesadelos esquisitos e acorda gritando e assustando todo mundo, se rejeita a ir á escola...
Eu estava sem palavras.
- Enfim... Logo ela vai ser aceita em um hospital psiquiátrico da cidade e vai estar tudo bem.
Suspiro, encarando a cama da garota, sem conseguir formar algum pensamento coerente.
- O que você está fazendo aqui hoje?
- É aniversário da Joana - falei dando de ombros - E... Eu precisava ver você.
Ela franziu o cenho.
- Me ver?
- Humrum. Em prol de uma missão... Muito importante, por sinal.
Ela ergueu as sobrancelhas.
Controlando um sorriso, abri a minha bolsa, tirando dali de dentro os dois livros que Addison havia me dado.
- "O alienista" - ela leu o título do primeiro - "Dom Casmurro" - e repetiu o ato com o segundo - Seus outros dois livros favoritos? - ela perguntou animada.
Nego com a cabeça, mordendo o meu lábio inferior.
- Sabe... Ontem, enquanto eu e a minha mulher estávamos conversando sobre... Amenidades... Eu citei você. - ela ergueu suas sobrancelhas, completamente surpresa.
- Você... Você o quê?
- Ahãm - falei dando de ombros, como se não fosse nada - Nada demais, sabe? Apenas a entreguei os seus relatórios e a pedi que os lesse.
- MEREDITH! - ela se sentou na cama, parecendo não conseguir ficar mais em pé.
Rio.
- E... Bem... Hoje, enquanto tomávamos café juntas, ela simplesmente disse, com essas palavras: "Ela é extremamente inteligente, é visível. Avise-a que, se ela desejar, que escreva sobre esses também. Não me incomodaria em saber o que ela achou." E, então, me entregou esses dois livros, para que você os lesse.
Ela estava pálida, extremamente pálida. E a sua respiração havia se tornado completamente irregular.
- Abra o primeiro - pedi.
Ela o fez, e, então, eu pude ter a certeza de que ela desmaiaria, ali, na minha frente.
Suas mãos tremiam.
- Essa... Essa é... É... A... A... Assinatura dela?!
Rio, assentindo.
- Eu sei, é extremamente original e acredito que daria um belo trabalho para alguém a forjar.
Ela engoliu em seco.
- Ela... Ela disse que eu... Eu sou inteligente?
Assinto.
- Com todas as palavras, e eu não mentiria sobre isso para você, você sabe disso.
Ela assentiu, ainda incrédula.
- Ela... Como... Como ela teve tempo de... De ler tudo aquilo? Você...
Eu ri.
- Digamos que ela foi muito bem recompensada por isso - respondi a lançando uma piscadela.
Ela me encarou, incrédula, e, logo depois, riu.
- Eu não acredito que está me dizendo uma coisa dessas!
Eu ri junto a ela.
- Eu... Provavelmente não deveria dizer isso a você... Mas... - ela começou a dizer, mordendo o seu lábio inferior e, ao mesmo tempo, desviando o seu olhar.
- Você tem um crush na minha mulher? - pergunto, fazendo-me séria novamente.
Ela me encarou, incrédula.
- Eu... Meredith! O... O...
- É isso, Beatriz? Eu venho aqui, a trago livros, falo de você para a minha mulher, a faço um enorme favor e você vem me dizer que tem um crush na mulher a qual eu sou casada?
- Eu... É... Me... Me... redith...
Eu gargalhei, sem aguentar encarar por muito tempo a sua feição.
Ela ainda me encarava sem entender.
- Eu estou brincando! - falei ainda rindo, e ela me jogou uma almofada.
- Você quase me matou do coração! - ela murmurou irritada.
- Ah! Você deveria ver a sua feição! "Me... Meredith!" - A imito, sem conseguir segurar o meu riso.
Ela riu, me jogando outra almofada.
- Você é cruel, Meredith Montgomery!
Eu me sentei ao seu lado.
- Oh, a Beatriz tem um crush na minha mulher, o quão eu estou incomodada com isso! - Murmurei em falso tédio.
Ela riu.
- Eu não ia dizer isso!
- Talvez não, mas sei que a minha constatação está certa - falei a lançando uma piscadela.
Ela engoliu em seco.
- Não é nada do tipo... Tão... Uau que me faça odiar você. Muito pelo contrário, Eu... Respeito você. Sei que você é a mulher dela, eu apenas... Eu...
- Bia, você não precisa me explicar nada - falei acariciando a sua mão - Eu estava brincando. Além de que, agora, nós duas temos mais uma coisa em comum, somos bem parecidas, não acha? - perguntei a lançando uma piscadela e ela riu - E, de todas as mulheres nesse mundo, as quais têm crush na minha mulher, dentre todas elas, se ela me deixasse por alguma, eu preferiria que fosse você - falei a lançando uma piscadela - Obviamente quando você possuir 21 anos. E, bem, daqui até lá... - senti o meu coração se apertar, com o pensamento o qual invadiu a minha cabeça.
"Daqui até lá nós não estaremos mais juntas."
Senti o meu humor decair-se de forma estranha.
- Enfim! - resolvi mudar de assunto - O que você iria me dizer?
Ela suspirou.
- Você sabe que eu não sou a única fã da Addison no mundo, não é?
Dou de ombros, assentindo.
- Bem... As garotas... Da minha escola... Também são. Algumas. E elas ontem se reuniram para... Bem... Falar de vocês duas.
Ergo as minhas sobrancelhas, um pouco surpresa.
- Sobre o que, exatamente, elas falaram?
- Ah, você não vai querer saber. Mas... Não foi nada de... Ruim. Talvez desrespeitoso, ao meu ver. Mas não... Ruim.
Franzo o cenho, imaginando qual poderia ser a pauta da conversa.
- Elas as chamam de "Meddison", é o shipp de vocês.
Eu ri.
- Sério? - pergunto incrédula.
- Aham. Elas... Shippam muito vocês duas. Tipo... Muito! Á ponto de... Bem... Criar... Histórias imaginárias sobre vocês.
Eu ri.
- Uau! Isso é... Eu... - Murmurei, tentando encontrar uma reação adequada para aquela descoberta.
- É, eu sei.
Sorrio, mordendo o meu lábio inferior.
- Então elas gostam de eu e Addison como um casal?
Ela assentiu.
- Mais do que gostam da Addison sozinha.
Rio, assentindo.
- Eu também - ela falou dando de ombros. - Ela está... Diferente desde que se casou com você.
- Em quais aspectos? - pergunto curiosa.
- Não sei dizer. Mas está.
Assinto.
- Então? Quando irá começar a ler? - perguntei curiosa, apontando para os livros.
- Agora mesmo - ela murmurou tirando os seus all stars.
- Não quer ir ao shopping comigo e com as crianças?
Ela negou com a cabeça.
- Não tenho saco pra esses programas, mas divirta-se.
Assinto.
- Igualmente. Irei comprar Harry Potter hoje, espero não esquecer novamente.
Ela riu.
- A esposa da juíza mais famosa da América, a qual leva essa fama por ser extremamente fiel a sua palavra, ainda não cumpriu com a sua... Como se sente, senhora Montgomery?
Jogo uma almofada na mesma.
- Eu irei ler! Foi um trato, e eu cumpro com os tratos em que faço, senhorita Beatriz!
Ela assentiu em falso tédio e eu sorri, saindo do seu quarto e descendo as escadas rapidamente.
Assim que cheguei ao lado de fora, vi Beatrice e as meninas sentadas em um banco, conversando animadamente.
- Me desculpem pela demora, eu e a Bia perdemos a noção do tempo.
As meninas me encararam.
- Você é a única que consegue fazer a Bia falar, tia Mer - Maria falou se levantando e pegando na mão de Beatrice, Isabella e Joana repetiram o ato comigo.
- Digamos que nós duas temos muito em comum - falo sorrindo para elas.
Eu e a minha sogra ajudamos as meninas a entrarem nos fundos do carro, e as colocamos os cintos de segurança.
Me sentei no banco do motorista e dei partida no carro.
Chegamos ao shopping alguns minutos depois e eu entreguei as chaves do carro para um segurança, pegando na mão de Isabella e Joana.
- Ok, você decide o que vamos fazer primeiro, meu amor - falo para Joana, que olha ao redor maravilhada.
- Uau! Eu nunca tive num shopping!
- Então vamos fazer o máximo para que você aproveite cada mínima coisa! - Beatrice falou sorrindo.
- Eu não faço idéia de onde ir. - ela falou dando de ombros.
- Humm, o que acha de, primeiramente, irmos tomar um milkshake bem gostoso, com direito a hambúrguer, batata frita e bastante coca-cola? - pergunto, sentindo o meu estômago revirar-se em extrema vontade de comer tudo aquilo.
As meninas se animaram, e, então, nós partimos para o McDonald's. Eu fiz todos os pedidos e, dentro de poucos minutos, eles nos foram entregues.
Nós comemos conversando sobre amenidades, sobre a escola, seus projetos de escola, sua semana, elas haviam muito a dizer, e eu me interessava por absolutamente tudo.
Terminamos de comer e decidimos ir fazer compras.
Passei rapidamente na livraria e peguei o box com os sete livros de Harry Potter. E, assim que me dirigi até o caixa, lembrei da garota do orfanato, a qual eu sequer sabia o nome. Ela parecia gostar do livro de Addison. Parecia realmente gostar.
Mas, por outro lado, Beatriz não havia apreciado tanto dividi-lo.
Sorrindo para mim mesma, voltei até a biblioteca e me encaminhei até a área de clássicos. Feito isso, busquei por O velho e o Mar e, então, escolhi mais outros, de temas parecidos. Ao todo, cinco livros.
Fiz o pagamento no caixa e entreguei as sacolas a um dos seguranças, que se responsabilizou em levá-las até o carro.
E, assim, me encaminhei, junto as meninas e a minha sogra, até o salão.
Fizemos as nossas unhas e os nossos cabelos, com uma animação enérgica das crianças.
Elas realmente estavam felizes.
Após o salão, resolvemos gastar o resto do nosso tempo comprando algumas roupas para elas.
E, então, a sua felicidade parecia estar completa.
- OLHA, TIA MER! - Joana viera até mim correndo, usando um vestido rosa, um pouco rodado, extremamente lindo.
Me abaixei, a recebendo em meus braços e a observando melhor.
- Você está uma verdadeira princesa, meu amor!
Ela riu, beijando a minha bochecha e saindo correndo novamente até o provador.
Ao fim, havíamos comprado o bastante para que elas se vestissem como gostavam por vários dias da semana.
Compramos algumas outras roupas para outras meninas menores e, então, eu fiz o pagamento de tudo pelo meu cartão, saindo ao lado delas logo em seguida.
- Ok, quem ainda tem um espacinho no estômago para um milkshake bem gostoso? - perguntei animada e elas rapidamente puseram-se ao meu lado, me puxando até a praça de alimentação novamente.
- Sogra, você não quer? - perguntei a Beatrice, que, nos últimos cinco minutos, havia ficado um pouco mais calada.
- Ah, não, minha nora. Estou com um pouco de dor de cabeça. As esperarei no carro, enquanto tomo algum remédio.
Assenti.
- Eu já volto, ok?
Ela assentiu e eu me dirigi até a praça de alimentação com as meninas.
Tomei mais um milk shake de morango mal batido, e, talvez, por o meu ser o maior copo que havia na loja, eu me senti um pouco mais cheia do que deveria.
Levei as meninas até o carro e as ajudei a entrar, fazendo o mesmo.
Toquei levemente a coxa da minha sogra, que estava de olhos fechados, no banco do passageiro. Ela os abriu e me encarou.
- Está passando? - pergunto preocupada, ela sorriu, assentindo.
- Acho que foi apenas a ansiedade - ela falou me lançando uma piscadela e eu sorri, acariciando a sua coxa levemente e colocando o meu cinto logo em seguida.
- Ok, meninas, o que vocês mais gostaram na nossa tarde? - Beatrice perguntou sorrindo.
- EU COMEÇO! - Maria falou animada - Eu adoooorei o salão! Tô me sentindo uma princesa de verdade!
- E eu amei as minhas roupas novas. O meu vestido amarelo parece o da Bela, não é, tia Mer? - Isabella perguntou animada e eu assenti.
- Achei idêntico, princesa. Você irá ficar tão linda quanto a Bela!
Ela riu.
- E você, princesa Joana? - perguntei olhando para Joana rapidamente.
Ela sorriu, parecendo envergonhada.
- Eu amei tudo isso que a Maria e a Isa falaram, mas eu gostei bem mais da parte da comida. Acho que milkshake de morango é o meu favorito!
Eu ri, levantando a minha mão e apontando para ela, que tocou com a sua em um high-five.
- Você é a minha menina! - falei sorrindo, extremamente satisfeita pela sua resposta. Ela riu.
Fizemos o caminho até o orfanato em uma conversa animada sobre o nosso dia, e, assim que eu estacionei em frente a casa, vi o carro de Flora estacionado lá, junto a mais dois carros, que julguei serem do buffet.
- Será que é o dono? - Maria sussurrou para as outras.
- Claro que não, o dono nunca veio aqui - Isa respondeu dando de ombros.
Desci do carro sendo ajudada por Warren, que abriu a porta dos fundos para as meninas fazerem o mesmo.
Elas, uma a uma, desceram, parecendo curiosas quanto aqueles carros.
- Agora? - Beatrice sussurrou para mim e eu assenti, sorrindo para ela.
Ela abriu a sua bolsa, tirando de lá uma venda infantil.
- Agora... Eu quero que a aniversariante mais linda desse mundo inteiro venha até aqui.
Vi as bochechas de Joana corarem e ela o fez, indo até a minha sogra.
- Eu e a tia Mer temos um presente para você, mas você só poderá ver quando entrarmos no orfanato, está bem?
Ela assentiu e fechou os olhos.
Beatrice colocou a venda no seu rosto delicadamente.
- Façam silêncio - sussurrei para Isabella e Maria, que assentiram. - Aqui, amor, pegue a minha mão - segurei a mão de Joana e a guiei para entrar no orfanato.
Assim que o portão fora aberto, eu não pude evitar ficar surpresa.
O jardim estava inteiramente organizado.
Cheio de bolas, pisca-pisca, e, no centro, onde era o pequeno coreto, estavam dispostas a mesa maior, a do bolo e doces principais, e duas menores, de cada lado, com outros doces e decorações.
Atrás, havia o nome de Joana na parede, e, no bolo, sete velas, para comemorar os seus sete anos.
Do outro lado do jardim, havia pula-pula e outros inúmeros brinquedos para que as crianças fizessem a sua própria festa.
Vi, em um canto, Flora junto e Mary, ambas conversando animadamente, como se já se conhecessem há um bom tempo.
Sorri, negando com a cabeça, Flora realmente sabia como conquistar quem a desejava.
Beatrice chamara a atenção de todas as crianças, as pedindo silêncio e eu caminhei com Joana até a entrada da sua festinha.
- Ok, meu amor, você está pronta? - perguntei mordendo o meu lábio inferior, ansiosa para ver a sua reação.
Ela assentiu animada.
- Pode tirar a sua venda - Beatrice falou e ela, devagar, o fez, mas ainda de olhos fechados.
Nós rimos.
- E abrir os olhos, princesa - sussurrei.
Ela o fez, devagar, e eu, instantaneamente, senti a sensação de ternura fluir em mim lentamente, conforme ela encarava tudo ao seu redor, com uma feição demonstrando toda a sua surpresa.
Mas, ainda sim, eu esperava por uma reação falada sua, para que eu soubesse que os meus planos com Beatrice haviam dado certo.
- Isso... É... Porque eu tô fazendo aniversário? - ela perguntou em um fio de voz.
A minha sogra assentiu, acariciando os seus cabelos.
- É a sua festa, amor. Completamente feita para você. - falei me abaixando ao seu lado.
Ela olhou ao redor novamente, parecendo sem reação.
- Pra... Mim?
Assinto, mordendo o meu lábio inferior, esperando por uma reação.
E, então, a mais inesperada aconteceu.
Ela me encarou e eu vi os seus olhinhos castanhos completamente cheios de lágrimas.
Não demorou muito para que ela me abraçasse com uma força em que eu não esperava, fazendo-me ficar sentada na grama.
Eu sorri, ouvindo-a chorar de forma copiosa grudada ao meu corpo.
Acariciei as suas costas, sentindo cada parte o meu coração agradecer por aquilo. Pela sua felicidade. E, ainda mais, pela extrema bondade da minha sogra.
Ela era responsável por tudo aquilo, não eu.
- Obrigada, tia Mer - ela sussurrou, me abraçando mais fortemente.
Sorrio, beijando os seus cabelos e a fazendo me encarar.
- Não é a mim quem você tem que agradecer, amor - falo limpando o seu rostinho banhado em lágrimas e encarando Beatrice - A tia Bizzy... Ela fez tudo isso. Eu apenas sabia - falo dando de ombros e ela sorriu, correndo até a minha sogra e a abraçando fortemente.
- Obrigada, tia Bizzy, eu amo muito você - a ouvi murmurar para a minha sogra, a abraçando fortemente pelo pescoço.
Ouvi a mais velha rir e vi uma lágrima cair dos seus olhos.
- Eu também amo você, minha menina. E você merece muito mais do que sou capaz de a dar - ela sussurrou, acariciando os seus cabelos.
Sorrio verdadeiramente, sentindo o meu coração se aquecer assim que a pequena desce do colo de Beatrice e pega na minha mão e na dela, caminhando diante de todas as crianças.
Seu olhar era extremamente curioso para cada aspecto da sua festinha.
Ela parecia ainda não acreditar.
- OLHA, JOJO, TEM UM PULA-PULA IGUAL AQUELE QUE A GENTE VIU NA TV! - Pedro gritou eufórico, correndo até nós - TIA MER!
Eu ri, abraçando o seu corpo suado contra o meu.
- Como você está, meu príncipe? - pergunto bagunçando os seus cabelos um pouco maiores.
- Melhor do que nunca! Quando a gente vai poder comer esses doces todos?
Rio, beijando a sua testa.
- Logo, meu amor. Vá gastar bastante energia primeiro, ok? Mas, se você realmente quiser, sorrateiramente pegue um da mesa, mas não deixe ninguém ver - falei o lançando uma piscadela e ele riu, assentindo.
Ele deixou um beijo rápido na minha bochecha, puxando as meninas para irem até o pula-pula.
Sorrio, negando com a cabeça e me levanto, indo até a minha sogra e a abraçando de lado.
Sinto o meu coração se aquecer, assim que a mesma deposita um beijo terno na minha bochecha, abraçando-me de volta.
- Me sinto a pessoa mais sortuda do mundo por a ter na minha vida, Bizzy - falei para a mesma, deitando a minha cabeça no seu ombro, que sorriu, negando com a cabeça, enquanto acariciava os meus cabelos em uma doçura única e maternal - Obrigada por isso. Ela está tão... - suspiro, tentando buscar por uma palavra.
- Maravilhada - ela sussurrou, encarando Joana, que, energicamente, brincava extremamente feliz no pula-pula.
Sorrio, assentindo.
- Não sou a maior fã de festas surpresas, mas as acho tão... - ela suspirou - atenciosas. É extremamente prazeroso saber que você é tão importante ao ponto de... Receber tudo isso. Espero que a Joana saiba disso. Da sua importância.
- Ela sabe - respondo.
E, amanhã, você também saberá, sogra.
Meu coração se aquece com esse pensamento. Afinal, era tudo em que eu queria que ela soubesse. O quão é amada.
- Estou inevitavelmente com ciúmes diante dessa cena - Flora falou vindo até nós, fazendo-nos rir.
- Sem espaço para ciúmes, Flora. Eu a divido com você - Beatrice falou a lançando uma piscadela e eu ri, diante da feição em que Flora a lançou.
- Acho injusto, você já tem três!
Ela riu.
- Não posso fazer nada se a sua é a que me dá mais atenção - Beatrice respondeu dando de ombros e deixando um beijo nos meus cabelos - Portanto agora tenho quatro. E a Addie definitivamente perdeu o seu posto de caçula.
Eu ri.
- Você irá arrumar um problemão com a sua mulher - Flora falou rindo.
- Talvez - respondo dando de ombros - Porém não posso evitar ser tão disputada. - falei em falso orgulho.
Elas riram.
- Como foi o seu dia? - perguntei trivialmente para Flora, a abraçando.
- Normal - ela respondeu dando de ombros - Passei a manhã resolvendo burocracias, a Lisa está insuportável com as competições em dezembro, então, adivinhe em quem ela desconta o seu estresse?
Eu sorri, mordendo o meu lábio inferior.
- E olhe que você sempre foi mil vezes mais rígida com as competições. O que aconteceu, senhora Miller? - pergunto sorrindo.
- Sem você para ganhar todas? Já não tem mais muita graça. - ela falou dando de ombros e eu ri, negando com a cabeça.
Nós três nos encaminhamos até uma mesa e nos sentamos, observando as crianças brincarem alegremente pelo jardim.
Passamos alguns minutos conversando sobre amenidades, e, principalmente, sobre algumas crianças.
Até que a noite começou a surgir, e, com ela, nós resolvemos bater os parabéns.
Joana já estava completamente suada e as maçãs bem definidas do seu rostinho estavam completamente avermelhadas.
Sorrio, ao vê-la correr até nós e subir na cadeira que fora colocada para que ela ficasse em alcance do bolo.
- Vem, tia Mer, vem tia Bizzy! Eu quero vocês duas aqui comigo! - ela exclamou extremamente animada e eu encarei a minha sogra, que deu de ombros, sorrindo para mim e nós fomos juntas até a o outro lado da mesa.
Ficamos, cada uma, do lado de Joana e começamos a cantar os parabéns.
Não pude deixar de contemplar o brilho em seus olhos, a sua animação extrema, em o quão ela estava maravilhada com tudo aquilo. Transbordando, de tão cheia.
E, o seu transbordamento encheu-me de forma contagiante.
Ela era uma garotinha especial. Extremamente especial.
Assim que chegou o momento de apagar as velas, eu a vi olhar para mim e, então, para Beatrice, fechando os seus olhos e as apagando.
- PARA QUEM VAI SER O PRIMEIRO PEDAÇO, JOJO? - Uma das crianças gritou.
Joana sorriu, pegando o primeiro pedaço em que Mary havia cortado.
- Pra as pessoas mais incríveis que eu já conheci na vida! A tia Mer e a tia Bizzy!
Eu sorri, extremamente surpresa.
A abracei fortemente contra mim, beijando os seus cabelos.
- Você é a garotinha mais incrível desse mundo, meu amor - sussurrei para ela, a abraçando novamente. E, então, a minha sogra fizera o mesmo.
Nós saímos do outro lado da mesa e nos sentamos na nossa.
- Eu não costumo dividir doces, sogra, mas, por a amar tanto, dividirei com você - falei a lançando uma piscadela, ela riu, guardando o seu celular.
- Então fique á vontade, minha nora. Por a amar tanto, deixarei todo para você.
Franzo o cenho.
- Tem certeza? Há bolo de sobra aqui, e na festa inteira também.
Ela assentiu, e eu pude perceber que os seus olhos não mais brilhavam como antes. Eu só não sabia o porquê.
- Estou sem fome. E já comi doces além do que me permito diariamente.
Assinto, resolvendo não perguntar mais nada.
Comi o meu bolo agradecendo por aniversários de crianças existirem, pois eles eram os melhores, porque, se havia algo em que não se fazia em falta neles, eram doces.
E, havendo doces, havia felicidade em mim.
Eu, Flora e Beatrice conversamos por mais algum tempo, enquanto os garçons iam e vinham até a nossa mesa, trazendo, ao meu pedido, sempre doces. Nada de salgados.
Afinal, Flora não era fã deles, e Beatrice não fazia questão de nenhum dos dois naquele momento.
As crianças brincaram até, literalmente, perderem as energias e irem as recarregar nos doces.
Encarei o meu relógio, dando-me conta da hora e assustando-me com a mesma. 21:00. Eu sequer havia visto o tempo passar.
Pedi licença a Flora e Beatrice e saí com a intenção de ir até o banheiro.
Tendo aparecido em meu abdômen a dor chata, que, provavelmente, dizia que a minha menstruação havia descido, fui até o meu carro, o destrancando e pegando a minha bolsa.
O fechei, mas, assim que lembrei-me dos livros da garota em que eu sequer conhecia, o abri novamente, os tirando do porta-malas.
Entrei na casa, me encaminhando até o segundo andar, mas, assim que a vi, na escuridão em que estava na sala, encostada em uma janela, observando a festa lá fora, caminhei devagar até ela.
- Ei - a mesma se assustou, e, novamente, sem dar-me, sequer, a chance de chegar mais perto dela, ela saíra correndo, provavelmente até a cozinha.
Eu suspirei, sem entender muito bem o porque ela parecia sentir medo de mim.
Resolvendo deixar aquilo para trás, subi as escadas, me encaminhando até o banheiro.
A minha constatação estava errada. A minha menstruação ainda não havia descido, era apenas um alarme falso. Eu estava estranhamente atrasada.
Fiz as minhas necessidades e saí do banheiro, indo até o quarto de Beatriz.
Bati na porta devagar, e, então, a abri, vendo-a deitada na sua cama, concentrada energicamente em um dos livros de Addison.
Ao seu lado, havia um prato com alguns doces e salgados da festa, mas ela sequer tirava os olhos do livro para os comer.
- Está gostando? - pergunto curiosa, me sentando ao pé da sua cama - Sem spoilers, por favor.
Ela tirou os olhos do livro, o fechando.
- Isso é... Tão louco! Mas... Ao mesmo tempo...
- Genial. Como uma obra originalmente feita por Machado de Assis.
Ela assentiu.
- Não consigo parar de ler.
Sorrio.
- Percebi. - falei observando-a, que ainda estava vestida da mesma calça de yoga preta que usava mais cedo, e um top da mesma cor.
- Você deveria ler - ela falou dando de ombros, voltando a atenção para o seu livro.
- Irei. Porém somente depois de ler Harry Potter.
Ela me encarou.
- Você comprou?
Assenti.
- Estou ansiosa para descobrir a sua casa. Você... Está com o seu celular aí?
Assenti, abrindo a minha bolsa e o tirando de lá.
O desbloqueei, a entregando.
Ela, rapidamente, abriu o navegador e fizera uma pesquisa, logo depois, ficando sentada na cama.
- Ok, responda as perguntas com clareza e com base na sua realidade, está bem?
Assinto, me encostando na parede da sua cama.
Ela começou a fazer-me perguntas simples, me fizera escolher entre alguns animais e algumas imagens, e, então, finalizara o teste.
- Uau! - ela sussurrou, parecendo surpresa.
- O que aconteceu? - pergunto estranhando a sua reação.
- Não achei que você fosse Grifinória.
- Isso é bom? - indago curiosa.
- Você verá quando ler - ela falou sorrindo e me entregou o meu celular novamente. - Achei que você fosse Lufa-lufa ou Corvinal.
- Humm, não sei o que significam mesmo - falo dando de ombros, em falsa indignação.
- Mais um motivo para que você leia.
Revirei os olhos, o guardando na minha bolsa.
- Addison é sonserina. Ou Corvinal, ainda não consegui decidir. Apesar de ela ter alguns traços da Grifinória. Quando você terminar... Quero a sua opinião. Apesar de ter 80% de certeza de que ela seria sonserina.
Assinto.
- E você? Qual a sua... Seja lá o que isso é?
- Corvinal - ela falou dando de ombros - Um esteriótipo óbvio.
Sorrio.
- Então todos os pertencentes a essa... Coisa de Corvinal são garotas inteligentes, com crushs em livros e em uma juíza ruiva em específico?
Ela bufou irritada, me jogando uma almofada.
Eu ri, a jogando de volta e me levantando.
- Preciso ir, já está ficando um pouco tarde - a comunico, vendo-a assentir.
- Você voltará essa semana?
- Não sei, mas tentarei.
Ela assentiu novamente.
- Qualquer coisa... Você tem o meu número.
- Ok.
Suspiro, caminhando até a cama da outra garota e, de soslaio, observo Beatriz novamente absorta em sua leitura.
Coloquei a sacola de livros atrás de uma almofada que havia ali e saí do quarto, descendo as escadas.
Fui novamente até a área externa e encontrei Beatrice e Flora conversando animadas sobre algo em que não entendi muito bem. Então, as pedi licença novamente e fui até onde as meninas corriam juntas.
- Tia Mer! Brinca um pouco com a gente? - Isabella pediu e eu não pude resistir ao seu olhar persuasivo.
Me juntei a elas, brincando de esconde-esconde por um tempo em que não me atentei.
- Filha? - Flora viera me chamou alguns minutos depois, vindo até mim. Parei de correr, sentindo a minha respiração falhar e parei ao seu lado.
- Já são 22:00. Acho que já está na hora de ir.
Suspiro, assentindo e ela riu, deixando um beijo nos meus cabelos.
- Você vai ser para sempre a minha garotinha sapeca em que vivia correndo pela academia.
Eu ri, negando com a cabeça e observando Isabella e Joana brincarem entre si, com uma das bonecas em que haviam ganhado.
- Então... Eu seria muito... Persuasiva se quisesse saber se você já se decidiu quanto a minha proposta?
A encarei e sorri, revirando levemente os meus olhos.
- Você disse que me daria espaço para pensar, senhora Miller. - comentei, cruzando os meus braços.
- E estou a dando, como futura chefe. Mas como mãe, tenho direito de a sondar, não é?
Rio, a abraçando pelo pescoço e beijando os seus cabelos.
- Você saberá amanhã, meu amor. Agora... Eu acho que preciso ir, porque o trajeto daqui até em casa deve estar insuportável!
Ela concordou.
Fui até as crianças, com o objetivo de me despedir delas e percebi que Joana não estava mais entre as outras meninas.
Me encaminhei até a parte interna da casa e sorri, assim que a vi deitada no sofá, cochilando. Ela deveria estar exausta.
- Ei, meu amor - sussurrei, afastando os seus cabelos do seu rosto, os acariciando - Acorde. Vamos para o quarto.
Ela abriu os seus olhos, sorrindo para mim.
- Eu tava me escondendo, mas acho que peguei no sono.
Eu ri, assentindo.
- Amanhã você poderá brincar bem mais.
Ela assentiu.
- Eu posso dar um beijo na tia Bizzy primeiro?
- Claro! A levarei lá no seu quarto, ok?
Ela assentiu, subindo as escadas e eu fui até o lado de fora, vendo a minha sogra conversar animadamente com Mary.
- A Joana quer a ver, sogra. Ela está no quarto dela.
Beatrice assentiu, pedindo licença e entrando.
Fui me despedir novamente das crianças, e, então, resolvi ir até o quarto de Joana, para fazer o mesmo com ela.
Subi as escadas, tocando na maçaneta da porta entreaberta.
- Você gostou da sua festinha, então? - Ouvi a minha sogra perguntar para a pequena.
- Muito! Obrigada por tudo, tia Bizzy, eu te amo muito, do tamanho do mundo todinho.
Ouvi a mais velha rir e entrei no quarto, vendo-a beijar ternamente o topo da cabeça de Joana, acariciando os seus cabelos.
- Eu te amo do mesmo tamanho, meu amor. Fico feliz que tenha se divertido.
- Foi o melhor dia da minha vida todinha!
- Era esse o objetivo.
- Você quer saber o que eu pedi quando assoprei as velinhas?
- Se você quiser me dizer, eu ficarei extremamente feliz em saber.
- Eu pedi pra que um dia eu fosse adotada por pessoas tão incríveis quanto você e a tia Mer são. Você acha que vai acontecer?
Senti o meu coração doer e engoli em seco, suspirando.
- Eu tenho certeza disso, meu amor. Você pediu com bastante força?
- Humrum!
- Então irá acontecer, em algum momento.
Engoli em seco novamente, fechando a porta do quarto e indo até elas.
- A minha aniversariante favorita já está com sono? - pergunto tentando desfazer aquela sensação de pesar que me tomara de forma repentina.
Ela riu.
- Eu acho que gastei toda minha energia.
Sorrio, me ajoelhando diante da sua cama e acariciando os seus cabelos.
- Portanto, durma para as recarregar. Amanhã você poderá brincar bem mais!
Ela assentiu.
- Nos vemos logo, ok? - Beatrice sussurrou, beijando os seus cabelos e ela assentiu.
- Eu já tô com saudades.
Nós rimos.
- Não precisa estar, viremos logo!
Sorrio, beijando a sua bochecha a cobrindo mais.
- Boa noite, minha princesa.
- Boa noite, titia. Eu amo muito vocês duas.
- Nós também amamos você, do tamanho do copo de milkshake em que a tia Mer tomou hoje - Beatrice sussurrou para ela, que riu.
- Ei! - Murmurei em falsa indignação e ela riu, me lançando uma piscadela.
Nos despedimos de Joana e descemos, fazendo o mesmo com Mary.
- Obrigada por hoje, sogra - sussurrei para ela, a abraçando fortemente.
- Obrigada a você, minha nora. Por tudo.
Sorrio, acariciando o seu rosto e ela deixou um beijo terno na minha bochecha.
- Você... Tem compromissos para amanhã? - pergunto curiosa, mas sem deixar transparecer a minha curiosidade.
- Não - ela falou dando de ombros, e eu pude sentir a tristeza emanar da sua voz - Harry está viajando, passarei o dia sozinha.
Assinto, estranhando um pouco. Ele estava viajando justo no dia do seu aniversário? Ou aquilo fazia parte da sua surpresa?
- A ligarei amanhã, ok?
Ela assentiu, se despedindo e entrando no seu carro. Os seus dois seguranças fizeram o mesmo, e a vi dar partida, saindo logo em seguida, sendo acompanhada pelo outro carro atrás de si.
- Nos vemos amanhã? - Flora perguntou vindo até mim.
- Com certeza. A surpresa será, provavelmente, na hora do almoço, mas a mandarei mensagem para confirmar.
Ela assentiu, me abraçando.
- Diga para a minha nora que o nosso jantar no dia 20 está em pé. A Lisa topou.
Franzo o cenho, sem entender bem, e, antes que eu pudesse responder, a mesma se afastou, indo até o seu carro.
Resolvendo perguntar a própria Addison sobre o que Flora falava, eu apenas me limitei a entrar no meu carro e dar partida no mesmo, saindo do orfanato.
Fiz o trajeto até em casa divagando a minha mente entre tudo que havia acontecido naquele dia em específico, e estacionei em frente a escadaria de entrada uma hora e quarenta minutos depois, devido ao trânsito extremamente conturbado.
A porta rapidamente é aberta para mim e eu sorrio ao ver outra funcionária mais velha, a qual eu não conhecia muito bem, receber-me.
- Boa noite, senhora Montgomery. Seja bem-vinda.
- Boa noite, querida. Qual é mesmo o seu nome?
- Rachel, senhora.
- Ótimo. Sabe me dizer se a minha mulher já chegou, Rachel?
- Sim, senhora. Ela está lá em cima.
Assinto.
- Obrigada, querida. Tenha uma boa noite. - cumprimento-a, a lançando um sorriso e ela os devolve.
Subo as escadas, sentindo o meu corpo inteiro implorar por um banho quente e cama.
Eu estava exausta.
Abro a porta do meu quarto e vejo Addison sentada na mesa da sacada, cercada de papéis, com o seu olhar fixado ao seu MacBook e falando ao celular.
Vou até o closet, e então até o banheiro.
Tiro toda a minha roupa, a jogando no cesto junto com as de Addison e prendo os meus cabelos em um coque alto.
Regulo o chuveiro para que dele saia um jato mais forte e um pouco menos quente do que o normal.
Entro debaixo do mesmo, agradecendo por aquilo, ao sentir os meus músculos relaxarem diante da água quente.
Passo o meu sabonete e o meu óleo corporal, fazendo questão de dar ao meu corpo a atenção em que ele pedia.
Eu precisava marcar uma massagem urgentemente.
Assim que senti-me exausta o bastante para cansar do banho, desliguei o chuveiro, pegando a minha toalha e secando o meu corpo.
Fui até o closet e vesti uma calcinha preta, com um conjunto de baby doll também preto por cima.
Soltei os meus cabelos, os penteando e realizei o meu ritual de passar creme em todo o meu corpo, no meu rosto, tirar as minhas jóias e as guardar.
Fiz as minhas higienes no banheiro e saí do closet, vendo Addison ainda sentada no mesmo lugar.
Fui até ela, parando ao seu lado, observando a piscina lá fora.
- Boa noite - a cumprimentei.
Senti o seu olhar pousar sobre mim.
- Boa noite - ela respondeu, seu tom de voz parecia exausto.
Me sentei na cadeira de frente para a sua.
- Amélia a avisou que á que horas precisamos estar lá amanhã? - pergunto.
- Antes do almoço. Saíremos daqui às 10:30.
Assinto.
- Nós vamos... Dormir lá? - perguntei mordendo o meu lábio inferior.
Addison me encarou.
- Não - ela respondeu - Tenho algumas coisas para resolver.
- Você não pode... Você sabe... Resolver lá? - a indago, um pouco receosa em estar interferindo demais.
Ela suspirou, me atrevo a dizer, em sinal de resignação.
- Você quer dormir lá?
Assinto animada.
- Ok. Faça a nossa mala. Escolha alguma roupa social para mim, se puder. Não virei em casa na segunda. E Amélia pediu para que você levasse biquínis.
- Ok - respondo animada.
A mesma alcançou a sua taça de vinho e a bebericou, me oferecendo.
A aceitei, bebericando um pouco do líquido delicioso que havia ali e a coloquei de volta no aparador.
- Como foi o seu dia? - pergunto.
- Exaustivo. E o seu? - ela respondeu encarando os papéis à sua frente.
- Incrível - respondo verdadeiramente, sem conseguir deixar de sorrir - Beatriz amou os livros, ela quase enlouqueceu!
A ruiva apenas assentiu, sem tirar os olhos da papelada em que lia.
Suspiro, sentindo o meu sorriso desfazer-se aos poucos, em função da vergonha em que senti por estar a atrapalhando em seu trabalho. A peço licença e me levanto, indo até o closet.
Arrumo rapidamente a nossa mala, escolhendo os nossos biquínis e roupas mais frescas para a nossa tarde na piscina.
Completo tudo com a sua roupa social para segunda e roupas de dormir.
Arrumo a sua nécessaire, já conhecendo tudo em que ela usava diariamente e faço o mesmo com a minha, finalizando a mala.
Sentindo os meus olhos pesarem, apenas vou até a cama e coloco o meu celular no carregador, repetindo o ato com o meu MacBook.
Apago as luzes do meu lado do quarto e me deito na cama, me cobrindo e abraçando o meu travesseiro.
Demoro cerca de uma hora, vagando os meus pensamentos em todas as crianças do orfanato, no pedido de Joana, na garota a qual eu não tive a oportunidade de verdadeiramente conhecer e no comentário de Beatriz sobre ela.
Me revirei na cama por algum tempo, até conseguir relaxar o bastante para emergir-me em um sono profundo.
[...]
Addison Montgomery;
- Com licença, Meretissima. O Doutor Shepherd e a senhorita Turner já estão aqui.
- Traga-os até aqui - Respondo desviando o meu olhar da tela do meu computador.
Encaro o meu celular, que se acende, dando-me a visão da hora: 7:00.
Me levanto, caminhando até o mini bar no canto do meu escritório.
Derramo dois dedos de whisky em um copo com gelo e deixo-me sentar-me no meu sofá, sentindo a exaustão emanar por casa parte do meu corpo.
Eu não havia dormido. Passei a madrugada inteira na sacada do meu quarto, tentando resolver burocracias do tribunal.
Às 4:30, quando senti a minha dor de cabeça piorar de forma insuportável, me levantei, permitindo-me tomar um banho demorado.
Então, apenas vesti uma calça jeans preta e uma camisa social da mesma cor, descendo até o meu escritório.
Eu havia marcado uma reunião com Shepherd e Violet ainda hoje, na minha própria casa, pois eu precisava de repostas para aquele caso em que tanto estava me fazendo perder o sono.
Ouvi batidas na porta e autorizei a entrada, me levantando.
- Bom dia, Montgomery - Shepherd me cumprimentou com um aperto de mão rápido.
- Bom dia, Addison - Violet fizera o mesmo.
- Sentem-se.
- O senhor e a senhorita desejam beber algo? - A funcionária perguntou.
Ambos escolheram as suas bebidas e eu fui até a minha mesa, pegando os papéis em que eles iriam analisar.
Me sentei novamente no sofá e deixei os papéis em cima da mesa de centro.
- Bem... Posso perguntar agora o porque precisa de mim aqui? - Violet perguntou.
Suspiro.
- Você é boa no que faz. E preciso de alguém bom o bastante para obter a mesma constatação em que eu.
- Que seria?
- Há algo de errado.
- Seguindo a linha de raciocínio em que você me contou ontem... Não parece haver nada de errado - ela respondeu dando de ombros - Foi um suicídio.
- Ela não acredita nisso - Shepherd falou dando de ombros.
- Por que?
- Porque ela usou do superpoder dela e sabe que o irmão da vítima está mentindo. - Shepherd respondera por mim.
- Ok... Por onde devemos começar então?
Suspiro.
- Não sei - respondo bebericando o meu whisky - O caso será encerrado logo. Consegui fazê-lo estar em aberto até semana que vem, mas, depois disso, não há mais o que eu possa fazer.
- Ok. Temos uma semana então. Vamos partir do começo! - Violet falou bebericando o seu café.
Assenti e, juntos, nós voltamos mais uma vez naquele caso, o qual eu já sabia de cor, porque não conseguia tirá-lo da minha cabeça.
Passamos duas horas seguidas discutindo possíveis acontecimentos, julgando a voracidade de outros, e, principalmente, eu me atentei a rever, pela milésima vez, a gravação da audiência.
- Há algo de errado - murmurei pausando a gravação em um momento em específico - Está vendo como a feição dele muda vagarosamente, mas de forma forçada? Sem qualquer tipo de surpresa. Não é uma ação genuína. Fora algo planejado.
Violet esticou-se, tentando, ao meu ver, perceber o mesmo em que eu.
- É mínimo - ela murmurou - Como... Você percebeu isso?
Dou de ombros, sem muito me importar com aquela pergunta. Ela não nos levaria a resposta relevante alguma.
- Quero dizer... Foi no momento... Ou revendo?
- No momento - respondo.
- Uau. Como... Você consegue?
- Gosto de estudar sobre expressões faciais.
Ela riu e eu franzi o cenho, a encarando.
- Algo engraçado? - pergunto já sem paciência.
- Ah, não, claro que não. É só que... Você é... - ela suspirou - Incrível demais, e sabe disso. - Senti o seu braço encostar-se ao meu, em um toque planejado por ela e rapidamente me afastei.
- Isso não nos levará a resposta alguma. Foque onde a pedi para focar.
Ela assentiu.
- Achou algo? - Pergunto para Derek.
- Humrum, vem aqui.
Paro ao lado da poltrona em que ele estava sentado e encaro o MacBook em seu colo.
- Na sexta à noite, o irmão dela afirmou que estava em um show de uma banda local, certo?
Assinto.
- Que realmente aconteceu - Acrescento, pois eu já havia pesquisado aquilo.
- Aham, mas acabou trinta minutos antes, porque o vocalista passou mal. Eu sei... Trinta minutos são tipo... Muito pouco, mas...
- O bastante para um assassinato - Respondo mordendo o meu lábio inferior. - Essa casa de show fica há trinta minutos do local do assassinato.
- E não daria tempo para que ele fosse cometido, a não ser que...
- Ele possuísse pouco mais de uma hora de vantagem. Trinta minutos restantes do show e mais quarenta pelo trajeto de volta para casa.
Ele assentiu.
- Mande alguém de confiança ir atrás de imagens de câmeras de segurança do local em que o show aconteceu. E peça também por imagens próximas ao local onde o corpo foi encontrado.
- Como quiser.
Encaro o meu relógio, vendo que já eram quase 10:00.
- Eu irei sair daqui à pouco, então resolva isso de casa - falo para Derek, que assentiu, se levantando e começando a guardar as suas coisas.
Terminamos tudo rapidamente e, sentindo que eu precisava de um café forte, saí ao lado dos dois, com o objetivo de tomar um café antes de sair.
- Ah, sobre o seu pedido particular de ontem - ele falou para mim - Tudo feito. A essa hora, ele não apenas está desempregado, como o custará muito algum lugar em NYC o qual esteja interessado em contratar um racista, mal visto pelos olhos de Addison Montgomery.
Assinto, satisfeita ao saber daquilo.
- Analisarei novamente em casa tudo em que vimos hoje, Addison - Violet falou.
- Contate-me caso encontre algo.
- Pode deixar - ela respondeu-me com um sorriso em seus lábios, o qual eu bem sabia o significado.
Vi a porta da frente abrir-se e Meredith entrar, usando um vestido de tecido leve, azul marinho, com seus cabelos presos em um rabo de cavalo baixo. Ela estava, provavelmente, na área da piscina tomando o seu sol, como parecia gostar de fazer em certas manhãs.
Ela franziu o cenho assim que percebeu Turner e Shepherd ao meu lado, mas a vi abrir um sorriso desconfortável para ambos.
- Bom dia - ela os cumprimentou.
- Bom dia, senhora Montgomery. Derek Shepherd - Shepherd a cumprimentou de volta.
- É um prazer, senhor Shepherd. - a loira respondeu sorrindo, caminhando até mim.
- Bom dia, querida - a cumprimentei com um beijo rápido em seus lábios, o qual ela interrompeu brevemente.
- Bom dia, meu amor. - ela respondeu selando os seus lábios aos meus mais uma vez e sorriu, envolvendo a minha cintura com o seu braço e eu apenas repeti o seu ato. - Como vai, Violet?
Estranhei, ao ouvir o seu tom de voz sair um pouco menos suave do que sempre costumava ser.
- Ótima, Meredith, e você?
- Igualmente - Meredith respondeu me encarando.
- Acompanhe-os até a saída - ordenei para a funcionária, que assentiu, o fazendo.
- A manterei informada, Montgomery. - Derek me cumprimentou rapidamente.
Assinto.
- Foi um prazer, Addison. A ligarei mais tarde. - Violet falou estendendo a sua mão, a cumprimentei brevemente.
- Apenas se achar algo importante - Reforço. Ela assente, se retirando ao lado de Derek.
- Saíremos às 10:30? - Meredith perguntou se afastando de mim.
- Sim. - Respondo.
Ela apenas assentiu, subindo as escadas.
Franzi o cenho, estranhando algo em seu comportamento o qual não consegui distinguir ao certo, mas apenas resolvi ignorá-lo e me encaminhei de volta até o meu escritório.
Pelos últimos trinta minutos, me concentrei em organizar algumas coisas faltantes e a organizar os papéis em que eu levaria para trabalhar na casa da minha mãe.
Os guardei em uma pasta, junto ao meu MacBook e saí do meu escritório, no mesmo momento em que Meredith descia as escadas.
Ela usava um short de alfaiataria preto, uma blusa de seda branca e, por cima, um blazer também preto. E, nos pés, ela estava inusualmente sem os saltos em que quase sempre usava, os substituindo por uma sandália sem salto também preta.
- Podemos ir, se você já estiver pronta - ela falou.
- Irei buscar a minha bolsa - falei subindo as escadas.
Entrei rapidamente no meu quarto e arrumei a minha bolsa. Calcei um par de sandálias rasteiras pretas, soltando os meus cabelos do coque em que eu havia os prendido.
Passo apenas um batom vermelho e alcanço a minha bolsa, saindo do quarto e dando espaço para que Warren entrasse e pegasse a mala.
Desci até a sala e, guiando Meredith até os carros, entrei na Mercedes, colocando os meus óculos de sol e dando partida, assim que Warren afirmou estar tudo certo.
- Seu pai viajou? - Meredith perguntou, encarando as ruas lá fora.
- Não sei - respondo. - Por que?
- A sua mãe me disse ontem que ele havia viajado. Mas... Hoje é aniversário dela. Achei que... A suposta viagem poderia fazer parte da surpresa.
Como se ele se importasse o bastante com ela para isso.
Fora o primeiro pensamento que invadiu a minha cabeça. O qual, com obviedade, deixou-me extremamente irritada. Pois era verdadeiro.
Suspirei, evitando pensar muito naquilo.
- Dia 20 a sua outra mãe irá jantar conosco na nossa casa. - comento.
- É, ela me disse. Você a convidou na sexta?
- Ontem.
Pude sentir a sua expressão mudar, sem sequer precisar a encarar para isso.
- Ontem? - ela perguntou.
- Nós saímos para almoçar juntas.
- Vocês duas? Você e a Flora? Juntas? Sem mim? - o seu tom de voz realizara o belo papel de mostrar-me o quão surpresa ela estava.
A encaro rapidamente.
- Está com ciúmes?
Ela sorriu verdadeiramente, daquela forma a qual me agradava, revirando os olhos, e eu me senti minimamente satisfeita.
- Eu só... Achei um pouco... Estranho.
- Por que?
- Ah, você sabe - ela deu de ombros - Você não precisa fazer tudo isso. Ela sequer desconfia de algo. Não quero que... Ter que aguentar a minha família seja um peso para você.
- Então você pode, não só esporadicamente, mas todos os dias, sair com a minha família, manter contato constante com eles, principalmente com a minha mãe, e eu não posso sair com a sua? - pergunto constatando, à partir da sua fala. - O quão justo isso é?
- O que? - ela estava novamente surpresa, e desconcertada - Não... Eu... Não quis dizer isso... É que... Eu... Bem... Eu realmente gosto muito da sua família... E... Bem... Eu... Gosto de sair com a sua mãe. Ela se sente... Sozinha... Eu também... Então... Eu só... Eu gosto da companhia dela.
- Portanto estamos quites! - respondo.
- Você está realmente... Dizendo que não vê problemas em sair com Flora?
- Sim - dou de ombros - Gosto dela.
A encaro de soslaio e vejo o seu rosto formar uma expressão de completa surpresa.
- Não diga que não a avisei depois - ela falou me lançando um sorriso fraco - Quando... Bem... Quando tudo isso acabar... Vai demorar algum tempo para que você se livre dela. - ela murmurou encarando as ruas lá fora.
Me calei, me concentrando apenas em dirigir, perdendo o interesse naquela conversa em específico.
Estacionei na garagem da minha mãe uma hora depois, descendo do carro junto a Meredith.
- Bom dia, Addison! Meredith! - Marina nos cumprimentou com um sorriso no rosto.
- Bom dia, Marina - Meredith a cumprimentou com um abraço.
- Bom dia - a respondo - A minha mãe já acordou?
- Sim, querida. Ela acordou cedo, recebeu os seus presentes, se emocionou, mas acredito que dormiu novamente.
Assinto, realmente satisfeita.
- Harry viajou? - pergunto deixando a minha bolsa em cima do sofá.
Marina suspirou.
- Sim - ela me lançou um olhar o qual afirmava ter algo por trás daquilo.
- Bom dia, mana - Mark me cumprimentou, descendo as escadas.
Apenas respondo com um aceno de cabeça, pois o meu humor para ele não era dos melhores.
- Eu irei fazer uma ligação, querida, já volto - falei para Meredith, que assentiu.
Com apenas um olhar chamei Marina até a cozinha, que me acompanhou.
- O que aconteceu? - pergunto já sentindo o meu sangue ferver.
- Eles brigaram - ela respondeu - Não sei de muito, mas sei que... A sua mãe não está nada... Animada esses dias. Muito pelo contrário, a tristeza dela... Me parte o coração. Ela tem tentado esconder, mas ela não sabe esconder nada de mim. Acho que... A única felicidade dela esses dias tem sido a Meredith. A sua mulher tem... A dado uma atenção tão... Linda, Addie.
Suspiro, assentindo. Eu não imaginava que Meredith e a minha mãe estavam tão mais próximas assim.
- Você não sabe o motivo da briga?
Ela negou com a cabeça e eu, sentindo-me extremamente irritada, fechei os meus olhos brevemente.
- Addie... Não vá fazer nem falar nada. Não hoje. Hoje é dia de festa e comemoração, ela precisa de ânimo, e não de mais tristeza, entendeu?
Reviro os olhos, mas suspiro, em sinal de aceitação.
- Ela realmente gostou dos presentes? - pergunto, tentando aliviar a raiva em que eu sentia.
Marina sorriu e ergueu a sua mão, afagando o meu braço.
- Sim, querida. Ela ama qualquer coisa que venha de você. E vai amar mais ainda a ver hoje.
Assinto, puxando os meus cabelos para trás, tentando me acalmar.
- Irei a ver - a comunico.
- Tem certeza de que está calma o bastante para isso?
Assinto, saindo da cozinha e indo até a sala.
Meredith conversava animadamente com Mark.
Portanto, apenas subi as escadas, me encaminhando até o quarto da minha mãe.
Bati na porta, sem ouvir ao certo uma resposta e entrei, negando com a cabeça, sem conseguir acreditar, assim que o fiz.
Amélia estava estava na cama, abraçada à nossa mãe. Ambas dormiam, ao que, mesmo de longe, me parecia um sono pesado.
Dei a volta na cama, balançando Amélia, tentando a acordar.
- Humm - ela murmurou.
- Acorde! - sussurro para ela, que bufa irritada, abrindo os seus olhos.
- O quê?! - ela murmura irritada. - Para de ser chata e me deixa dormir!
Reviro os olhos, a balançando novamente.
- Vamos, Amélia!
- Argh! Você é INSUPORTÁVEL!
- Vocês duas mal se viram e já estão brigando? - minha mãe murmurou.
- Viu o que você fez, sua chata! - Amélia murmurou para mim, mostrando-me a sua língua e eu revirei os olhos.
- Me desculpe que essa velha chata tenha a acordado, mamãe - ela falou deixando um beijo no topo da cabeça dela. - Mas olhe pelo lado bom, VAMOS APROVEITAR O SEU DIA!
Reviro os olhos, dando a volta na cama e me sentando ao lado da minha mãe.
- Se a sua intenção era estourar um tímpano da nossa mãe, acredito que você quase chegou lá - comento, apenas para a irritar.
Ela revirou os olhos.
- Nem o seu veneno será capaz de me irritar hoje, maninha.
A nossa mãe riu, se sentando na cama.
- Achei que estaria trabalhando hoje, filha - ela murmurou me encarando, um pouco sonolenta.
- Não hoje. Feliz aniversário.
Ela sorriu, me abraçando e eu devolvi o ato.
- Obrigada, meu amor.
- Você está bem? - pergunto, assim que vejo Amélia sair, indo até o banheiro.
Ela assentiu, afastando o edredom do seu corpo e se sentando na cama.
- Adorei as flores, apesar de saber que você não as escolheu.
Ela me conhecia o bastante para saber daquilo.
- Não sou boa com flores.
- Sei disso. Mas... Eu adorei a pulseira, filha. - eu assenti, observando a jóia que enfeitava o seu pulso - E as edições dos livros! Onde você as encontrou? São raras!
- Dei o meu jeito.
- Onde está a minha nora?
- Lá embaixo com Mark.
Ela assentiu.
- Irei tomar um banho rápido e já desço. Vocês irão almoçar aqui hoje?
Assinto.
- Vamos embora amanhã pela manhã.
Ela sorriu, parecendo feliz.
- Por que sinto que essa foi uma decisão da minha nora, e não sua?
- Foi um palpite dela - falo dando de ombros - E eu aceitei.
Ela assentiu.
- Fico feliz por isso. Sinto a sua falta, Addie.
Suspiro.
- Onde está Harry? - pergunto, vendo a sua feição mudar.
- Addie, não o chame assim...
Reviro os olhos.
- O seu pai viajou. Não pôde adiar. Ele sabe que não sou fã de aniversários - ela falou dando de ombros, fingindo não se importar. Mas se importava, e eu sabia disso.
Ela deixou um beijo no topo da minha cabeça, indo até o seu closet.
Suspirei, me levantando, saindo do quarto.
Desci as escadas, vendo Mark e Meredith sentados no sofá, rindo juntos.
- A mamãe já acordou? - ele perguntou assim que me viu. Assinto em resposta. - Ótimo, o tio Richard e o resto da família estão chegando depois do almoço, já está tudo organizado na área da piscina, ela só não pode ir para lá.
Me sentei no sofá ao lado de Meredith, pousando a minha mão na sua coxa nua.
- A Amy está aí? - ela me perguntou e eu assenti.
- Já está descendo.
Ela assentiu, pousando a sua mão por cima da minha e eu encarei a tela do meu celular, atualizando alguns e-mails.
Alguns minutos depois, Amélia e minha mãe desceram, e todos nos encaminhamos até a sala de jantar.
Puxei uma cadeira para Meredith ao meu lado e ela me agradeceu sorrindo e se sentando logo em seguida.
Fiz o mesmo, começando a me servir, enquanto ouvia Mark e a nossa mãe conversarem animadamente sobre o time de baseball para o qual nós torcíamos.
- Quanto no último jogo? - Perguntei curiosa.
- Três à um! - a minha mãe respondeu animada.
- Então, Mer, como foi o aniversário ontem? A mamãe me contou quase nada! - Amélia perguntou cortando a carne em seu prato.
Ouvi Meredith soltar uma risada baixa, enquanto bebericava o seu vinho.
- Foi incrível, Amy. A felicidade dela... Não há nada nesse mundo em que se compare. Acredito que ela deva ter acordado hoje nas nuvens, não é, sogra? - ela perguntou para a minha mãe, que assentiu.
- Ela inclusive me ligou agora pela manhã, junto a Pedro, Isabella e Maria, que, juntos, cantaram parabéns para mim - ela comentou rindo e Meredith a acompanhou.
- Você... Sabe algo sobre a garota nova? - Meredith perguntou, claramente receosa.
- Não muito. Não tive a chance de a conhecer ainda.
A loira apenas assentiu.
Ao fim do almoço, todos comeram a sobremesa conversando aleatoriedades, e eu me mantive, em maior parte do tempo, apenas observando.
A minha mãe parecia mais feliz. Uma percepção que realmente me satisfez.
Assim em que todos terminaram, nós saímos da mesa, indo até a sala.
- Podemos ir até a área da pis...
- Vamos ver um filme no cinema? Aquele que você ama, mamãe! - Amélia se apressou.
- Ah, tudo bem, se todos concordarem.
Assentimos, nos encaminhando até o cinema.
Me sentei em uma poltrona para dois e logo Meredith sentou-se ao meu lado.
Todos se acomodaram e Amélia selecionou o filme, deitando a sua cabeça no colo da nossa mãe.
Eu apenas me limitei a pousar a minha mão na coxa nua de Meredith e a encarar a enorme tela disposta á minha frente, tentando me concentrar no filme.
No fim, não havia sido tão ruim o quão eu pensei que seria. Era uma história clichê, mas relativamente suportável.
Assim que os créditos começaram a aparecer, ouvi uma fungada ao meu lado e encarei Meredith, percebendo que ela segurava-se para... Não chorar?
- Você está chorando? - a indago, sem conseguir deixar a minha surpresa passar-se despercebida.
Ela negou com a cabeça.
- Meredith...
- Não gosto de despedidas.
Suspiro, segurando a inusual vontade de rir que me atingiu em cheio.
- O que? - ela me encarou.
Dei de ombros.
- Nada, estou respeitando o seu espaço. Precisa de um lenço? - pergunto ironicamente e ela riu, emanando uma onda de leveza subjetiva, apenas através do seu riso, socando levemente o meu braço.
- Eu me emocionei, ok?
- É perceptível - murmurei a fazendo rir novamente.
- Me desculpe atrapalhar o momento, casal, mas eu preciso que alguém fique responsável por levar a mamãe até a área da piscina, e você será a escolhida, maninha! - Amélia sussurrou, me fazendo levantar.
- Posso saber por que eu? - pergunto curiosa.
- Porque você se sairá maravilhosamente bem a inventando uma desculpa convincente para o nosso sumiço e para a ida dela até a piscina.
Reviro os olhos, assentindo.
- Mamãe, eu irei buscar sorvete, já volto - Amélia falou saindo, antes me lançando uma piscadela.
- Vou com você, Amy - Meredith falou se levantando e a alcançando.
Eu apenas suspirei, me sentando ao lado da minha mãe, vendo Mark sair sem se fazer ser notado.
- O que você achou da Flora? - ela perguntou inesperadamente, me surpreendendo.
- Ela e Meredith são muito parecidas. - respondo apenas.
- É o bastante para saber que você a amou - ela respondeu rindo. - Mas vocês conseguiram manter um diálogo fluído? Ela expôs as opiniões dela sobre você? Me conte mais, filha!
Suspiro.
- Nós saímos para almoçar ontem, ela apareceu de surpresa na empresa. E sim, ela deixou bastante claro tudo que pensa sobre mim, e tudo que espera de mim. E eu a dei a garantia de que cumpriria com as suas expectativas.
- Sei que irá - ela respondeu acariciando o meu rosto - Eu conheço você, minha filha. E é tão perceptível o quão a Mer a faz bem... E vice-versa. Vocês simplesmente se completam!
Ouço o meu celular apitar em uma mensagem e o pego, vendo ser de Amélia. Ela dizia já estar com tudo preparado.
- Mãe, estou com um problema no tribunal e preciso de uma opinião de alguém de fora... Será que você poderia me ajudar com isso? - pergunto me levantando.
- Claro, meu amor! No que posso ser útil?
- Vou buscar as papeladas, você pode me ajudar?
Ela assentiu, se levantando e caminhando comigo até a sala.
- Por que está tudo tão escuro aqui? - pergunto a incitando a abrir as cortinas que davam para a área da piscina.
- Marina estava limpando, provavelmente - ela murmurou, indo até elas e as abrindo.
Parei ao seu lado, vendo o seu rosto transformar-sem em uma completa e genuína surpresa, assim que ela se deparou com todas as pessoas que haviam ali.
Algumas da nossa família, outras amigas próximas, todas conhecidas por ela.
- Oh, meu Deus!
- SURPRESA! - ouço a gritaria, ao meu ver, desnecessária, e a observo completamente em choque.
- Você... Você sabia... Você sabia disso? - ela perguntou para mim e eu dei de ombros.
- Não planejei, você sabe que festas surpresas não me agradam, isso foi tudo... Meredith e Amélia.
Ela riu, enfim saindo até a área da piscina.
- Richard!
- A minha irmãzinha favorita realmente acha que eu iria perder a sua festa de aniversário surpresa?
Ela riu, o abraçando alegremente e ele a ergueu, girando-a no ar, e eu apenas me limitei a me encaminhar até um canto, evitando todo aquele alvoroço de, mais ou menos, quinze pessoas.
A observei, extremamente feliz, cumprimentar cada pessoa, e, ao fim, abraçar Meredith de forma intensa.
Cruzo os meus braços, as observando de longe.
O brilho no olhar da minha mãe ao encará-la era perceptível, ela realmente gostava de Meredith.
Não havia como não gostar, mas ela parecia mais que apenas gostar por Meredith ser sua nora, ela verdadeiramente a apreciava. Atrevo-me a pensar que ela verdadeiramente a amava.
E isso não estava nos meus planos. Aliás, muito pouco, do que eu inicialmente havia concatenado para esse contrato, realmente estava.
Pois Meredith é uma caixa de surpresas. E eu sequer imaginava isso quando a vi pela primeira vez.
Era estranho, mas eu não me importava muito em não ter previsto tudo que estava acontecendo. A sua proximidade demasiada com a minha família, principalmente.
Não era uma preocupação. Pois, a conhecendo melhor hoje em dia, percebo que seria quase impossível para ela manter uma relação rasa com a minha mãe.
Elas duas têm muito em comum.
E eu gostava daquilo.
E, talvez, não houvesse nada demais em não ter planejado tudo isso.
Mudanças nos planos não necessariamente precisam ser ruins.
- Está escondida nesse canto para fugir de todas essas pessoas, senhora Montgomery? Não me parece muito... Apropriado. - me surpreendi ao vê-la parada ao meu lado, observando o mesmo ponto em que eu.
- Talvez. E você acaba de estragar com o meu esconderijo. - falo ao perceber Richard e a sua mulher virem até nós.
- Me desculpe - ela sussurrou mordendo o seu lábio inferior, contendo um riso.
- Addison! Como está, querida? - Richard estendeu a sua mão, me cumprimentando brevemente e eu a apertei.
- Bem. - respondi cumprimentando a sua mulher.
- Havia tanto tempo em que eu não pisava em Nova York! É tão estranho estar aqui, não é, querida?
- Sim, realmente - ela respondeu.
- Você já está com o seu biquíni? - pergunto para Meredith, que negou com a cabeça - Vamos lá em cima colocar. Com licença - pedi a Richard, guiando Meredith até o interior da casa.
Subi as escadas ao seu lado, indo até o meu antigo quarto, onde eu havia pedido para colocarem a nossa mala.
O abri, dando espaço para que Meredith entrasse primeiro.
- Esse quarto... Era seu? - ela perguntou olhando ao redor.
Assinto.
- Faz muito tempo que você se mudou daqui?
- Nove anos - respondo me sentando na cama, tirando a minha sandália.
Fui até o closet e tirei toda a minha roupa, abrindo a mala.
Escolhi, entre os dois biquínis que Meredith colocou para mim, um preto.
A loira viera até mim, amarrando-o nas minhas costas e eu vesti a minha saída de praia preta.
A vi prender os seus cabelos em um coque alto, parecendo sentir calor e tirar a sua roupa.
Me permiti a observar, do canto do closet, vestir um biquíni azul marinho, que contrastava perfeitamente com a sua pele pálida.
- Você pode... Amarrar para mim? - ela perguntou me encarando pelo espelho e, por um segundo, me perdi na intensidade do seu olhar.
Me encaminhei até ela, amarrando-o, primeiramente, em seu pescoço, e, então, nas suas costas.
A observei diante do espelho, contemplando o seu corpo coberto apenas por aquelas duas peças.
Senti o meu ego inflar-se assim que, pela milésima vez desde que havia me casado com ela, relembrei-me que tinha passe livre, concedido por ela, para explorar aquele corpo conforme eu quisesse.
A vi fechar os seus olhos assim que sentiu a minha respiração contra o seu pescoço e eu encostei o meu nariz ao mesmo, sentindo o seu cheiro invadir as minhas narinas e fazer-me perder a minha linha de raciocínio por alguns segundos, levando-me a experienciar sensações as quais eu ainda não compreendia muito bem, como o estranho incômodo em meu estômago.
Assim que afastei brevemente o meu nariz do seu pescoço, algo atrás do mesmo me chamara a atenção.
Franzi o cenho, levando a minha mão até o local e esfregando ali, tirando a pequena fita que possuía a mesma cor da pele pálida de Meredith, surpreendendo-me, assim que o faço, ao constatar o que ela escondia.
Meredith era realmente uma caixa de surpresas.
- Como eu nunca havia visto isso? - a indago curiosa.
- Isso o quê? - ela perguntou, parecendo sair do seu transe.
Encaro o desenho pequeno, de traços leves, um pouco abaixo de onde os seus cabelos começavam a crescer, o que me parecia ser dois corações em forma anatômica unidos um ao outro, porém de forma desproporcional, contrária e completamente desmedida ao tamanho.
- A sua tatuagem.
- Ah - ela murmurou se afastando. A vi colocar o seu vestido branco e soltar os seus cabelos. - Não a deixo visível.
- Você não me parece o tipo de pessoa que gosta de tatuagens - constato, intigando-me ao observar a sua brusca mudança de humor.
- Você está certa - ela respondeu consertando os seus cabelos na frente do espelho - Podemos ir?
Resolvendo deixar aquilo para trás, pelo menos por enquanto, porque ela parecia nada confortável com aquele assunto, assenti, saindo do quarto ao seu lado.
Descemos até a área da piscina e eu escolhi uma espreguiçadeira afastada para me sentar.
O fiz, tirando o meu vestido e colocando os meus óculos de sol, me permitindo deitar ali e fechar os meus olhos, sentindo o meu corpo inteiro agradecer pelo sol quente o qual ele já não mais estava acostumado.
Ouvi Meredith conversar animadamente com Amélia, então apenas me concentrei em tentar relaxar o meu corpo.
Mas aquele caso no tribunal ainda rondava a minha mente, sem dar-me paz.
Eu precisava o resolver o mais rápido possível.
- Addison? - ouvi Meredith me chamar e abri os meus olhos, a encarando - Você pode passar nas minhas costas? - ela estendeu o protetor solar para mim e eu apenas me levantei, ficando sentada na espreguiçadeira.
A mesma se sentou entre as minhas pernas e eu derramei o líquido nas minhas mãos, o espalhando pelas suas costas.
Afastei os seus cabelos do seu pescoço e passei as minhas mãos por ali, sem conseguir deixar de visualizar o mínimo desenho, agora sem a fita, presente ali.
A entreguei o vaso novamente, assim que terminei.
- Você já passou? O sol está forte hoje. - ela me lembrou.
Suspiro, somente naquele momento percebendo que havia esquecido daquilo. E que, se ela não me lembrasse, mais tarde eu estaria completamente vermelha.
Passeio-o pelos meus braços, as minhas coxas e pela minha barriga, a entregando o vaso e me deitando de bruços na espreguiçadeira.
Suspirei, ao sentir as suas mãos suaves passarem o líquido pelas minhas costas, estranhamente aquilo era extremamente relaxante, e me fizera limpar a minha mente por alguns segundos.
- Oi, maninha. - suspirei, ao sentir Amélia sentar-se ao meu lado na espreguiçadeira. - Chega pra lá.
Revirei os olhos, o fazendo e ela se deitou ao meu lado.
- Sua cara está péssima. Você está cansada, não é?
- Estou bem - respondo sem dar muita importância para a sua constatação.
- Aham - ela murmurou - Uau! Você tem uma mulher... Extremamente gostosa. Sabe disso, não é?
Ouvi Meredith rir.
- Sim, Amélia Montgomery, eu sei. Mas não é para a minha mulher que você deveria estar olhando. - murmuro.
- Ah, me deixa! Oh! - a ouvi exclamar animada e senti ela se levantar rapidamente.
Me virei, curiosa para saber o que poderia ter a prendido tanto a atenção.
Vi a minha irmã correr até um homem o qual eu desconhecia.
Franzi o cenho, ao vê-la o abraçar fortemente e, para a minha surpresa, o beijar.
Me levanto, sem entender o que estava acontecendo ali, até a ver o puxar até mim.
- Deixe-me apresentar vocês! - ela falou animada e eu o encarei de cima à baixo, não satisfeita com o que via. - Mana, esse é o Link. O meu...
- Namorado? Nós... Não rotulamos ainda. - ele falou estendendo a sua mão para mim, franzi o cenho, sem entender absolutamente nada. Desde quando Amélia namorava? - É um prazer conhecer você pessoalmente, Addison. Sou Atticus Lincon. Mas todo mundo me chama de Link.
Sem dar-me o trabalho de apertar a sua mão, apenas assenti. Eu precisei de poucos segundos para constatar que ele não me agradava. Nem um pouco.
Aliás, sequer o seu nome fazia jus a alguém que deveria me agradar.
- Deve ser - murmurei, chamando um garçom.
- É... - ouvi a minha irmã suspirar - Essa é a Mer, a minha cunhada.
- Você é a famosa Meredith? Estava ansioso para a conhecer.
Ouvi Meredith rir.
- Espero que tenha falado muito bem de mim, Amy, caso contrário você se verá comigo!
- Ah, é claro que sim, cunhada! Você irá para a piscina agora?
- Já estou indo, Amy.
Vi Amélia se afastar com ele e revirei os meus olhos, pegando a bebida em que o garçom me oferecera.
- Você está bem? - Meredith perguntou e eu apenas assenti, sentindo-me ainda irritada.
- VEM MER! NÓS VAMOS BRINCAR DE GUERRA! - Amélia a gritou, já dentro da piscina.
Meredith riu, indo até lá e prendendo os seus cabelos antes de entrar.
Observei-a rir com Mark e Amélia, claramente à vontade diante da presença deles.
Me concentrei em a observar interagir com todos eles, e, então, vi a minha irmã montar nos ombros do homem o qual trouxera, e Meredith fazer o mesmo com Mark.
Me atentei a prestar atenção no que eles fariam, até ver as duas começarem a tentar derrubar uma a outra.
Franzi o cenho, tentando entender a graça daquela brincadeira, e visualizando se não haveria possíveis meios os quais qualquer uma das duas poderiam se machucar.
Depois do que me pareceu séculos, vi Amélia se desequilibrar e cair de costas na água.
Ouvi Meredith gritar animada e a vi descer dos ombros de Mark e ele a girar na água, comemorando junto a ela.
A observei gargalhar de forma leve e genuína, nunca ouvida por mim, não nessa forma em específico.
Estranhamente sinto a sua risada parecer eliminar toda a irritação e o cansaço em que eu sentia, dando lugar a uma leveza inusitada.
Suspirei, me sentindo estranha diante daquela sensação. A qual eu não sabia se gostava ou não.
Vi a minha mãe entrar na água e, então, ela e Amélia trocarem de lugar, por inúmeros pedidos de Mark para que ela participasse.
- Você está com medo de perder para mim, sogra? - ouvi Meredith a desafiar.
- Você está um poço de ego, minha nora. Vamos acabar com esse ego dela agora, Link!
- Vai, mamãe! - ouvi Amélia torcer para ela - Acaba com essa loirinha metida!
Meredith riu, subindo nos ombros de Mark novamente e eu me sentei, observando a minha mãe subir nos ombros do homem em que Amélia havia trazido.
As duas resistiram de forma concentrada as tentativas de ambas para se derrubarem.
Eu apenas conseguia pensar em como Meredith havia conseguido conquistar todos eles, em apenas quatro meses de casamento.
Ela parecia mais íntima de todos eles, mais do que eu mesma era.
E isso não me incomodava, porque era simplesmente algo subjetivo dela.
O seu jeito de ser, a sua forma... Demasiadamente delicada de tratar todas as pessoas. Tudo nela havia feito o perfeito papel de conquistar a minha família para si.
Naturalmente.
Isso ainda me era estranho, porém, satisfatório.
Se antes a minha mãe parecia desanimada, agora ela sequer exalava uma feição contrária a satisfação.
Pelo contrário, ela ria alegremente enquanto tentava derrubar Meredith.
E, então, tirando-me da minha intensa e momentânea percepção, vi a minha mulher desequilibrar-se dos ombros de Mark e, inesperadamente, cair na água.
A minha mãe e Amélia comemoraram, e eu neguei com a cabeça, vendo a mais velha gritar animada.
Me alarmei ao ver que Meredith ainda não havia subido, e, então, a vi emergir para fora da água, tussindo violentamente.
Me levantei rapidamente, indo até ela, que havia saído da piscina e se sentado na beirada.
- Mer, você está bem? - ouvi Amélia perguntar.
- Meredith, o que aconteceu? - a indago preocupada.
Ela negou com a cabeça, erguendo a sua mão e afirmando estar bem.
- Eu apenas... Esqueci de prender a minha respiração e engoli muita água. Mas estou bem.
Suspiro aliviada.
Toquei o seu queixo, a fazendo me encarar e observando-a, por mim mesma, se ela parecia bem.
- Você conseguiu colocar a água para fora?
Ela assentiu.
- Traga uma garrafa de água - falei para o garçom, que rapidamente o fez.
- Obrigada - ela o agradeceu, abrindo a garrafinha e a bebendo.
- Você está mesmo bem, Mer? - a minha mãe perguntou preocupada.
- Sim, sogra. Estou bem. Você sabe que só ganhou porque é o seu aniversário, e eu não poderia deixar você sair como perdedora nesse dia, não é? - Me senti aliviada ao perceber que ela realmente estava bem.
Minha mãe riu.
- Admita que sou mais forte do que você!
- Nunca! - Meredith falou me encarando logo após. - Você não vai entrar?
- Não, eu...
- Ah, vamos filha! Por favor! Não quero a ver sozinha naquela espreguiçadeira. Quero que se divirta conosco. Por favor!
Suspiro, dando-me por vencida.
- Eu irei, mas daqui à pouco - respondo colocando os meus óculos de sol novamente.
- Eu também irei sair um pouco, mas já estarei de volta - Meredith falou se levantando.
A loira me acompanhou até a espreguiçadeira a qual eu estava deitada e se sentou na outra.
A vi chamar um garçom e o pedir algo que não me atentei.
Me deitei novamente, vendo, alguns minutos depois, o garçom vir até ela com alguns petiscos e bebidas, as quais ela escolheu e as deixou em cima da mesa, o agradecendo.
- Você não irá comer nada? - ela perguntou.
Levanto os meus óculos, tentando visualizar se ali havia algo em que eu gostava.
Ela estendeu o prato para mim e eu peguei, alcançando um petisco salgado ali, em meio a tantos doces.
Meredith sentou-se na espreguiçadeira em que eu estava e me ofereceu o seu copo, o peguei, bebericando o seu suco de laranja.
Me deitei novamente, fechando os meus olhos.
- Addison! - suspirei, ao ouvir o meu nome ser chamado por, provavelmente, algum conhecido da minha mãe.
Abri os meus olhos, vendo uma das suas amigas vir até mim.
- Como está, minha querida? Faz tanto tempo em que não a vejo!
Antes que eu pudesse respondeu, o seu olhar se fixou em Meredith.
- Ah! Então essa é a mais nova... Sortuda da família?
Meredith sorriu educadamente para ela.
- É um prazer, querida, Olívia. Eu e a sua sogra fomos colegas de classe na faculdade.
- O prazer é meu, senhora. Me chamo...
- Ah, não precisa se apresentar, eu já a conheço o bastante.
Ouço o meu celular tocar e suspiro, já imaginando o que me viria agora.
- Pegue para mim, querida, por favor - peço a Meredith, que estava mais próxima dele.
Ela o fez, e, assim que percebi os seus olhos rapidamente passarem pela tela do celular, vi o seu sorriso desfazer-se.
Peguei-o, vendo o nome de Violet na tela e suspirei, o atendendo.
- Diga, Violet. Espero ter encontrado algo útil o bastante para me ligar.
- Isso você quem dirá. Abra os documentos que a mandei para o seu email pessoal e veja por você mesma.
Abri o meu e-mail, lendo rapidamente as planilhas em que ela havia me enviado, sem conseguir entender o que havia de importante ali.
- Explique - falei consertando os meus óculos de sol.
Ouvi então, ela pacientemente explicar-me a sua teoria. E, me interessando nela, me levantei, fugindo do barulho que havia ali, me dirigindo até o interior da casa.
[...]
Meredith Montgomery;
- Então, querida, há quanto tempo você e Addison estão casadas mesmo? - a amiga de Beatrice me perguntou se sentando ao meu lado. Sorri fraco para ela, apenas conseguindo pensar em o que Addison e Violet haviam em comum para estarem tão... Próximas.
- Quatro meses - Respondo tentando dispersar a minha mente daqueles pensamentos.
- Ah! Muito já! Quando pretendem ter filhos? Já está na hora! - ela falou rindo e eu apenas sorri.
- Decidimos... Esperar um pouco mais. Queremos aproveitar mais da vida à duas.
Ela assentiu.
- Nem me fale, quando eu tive...
- Olívia! - Beatrice a cortou, vindo até nós - Acho que o Peter estava a chamando, querida.
- Ah! Já estou indo. Foi ótimo conhecer você, Meredith. Nos vemos por aí.
Assinto.
- Igualmente, Olívia.
Ela sorriu saindo e Beatrice riu, se sentando ao meu lado.
- Me agradeça, minha nora, porque se não fosse por mim ela ficaria aqui até amanhã. Provavelmente deve ter enchido o seu saco sobre filhos, não é?
Rio.
- Mais ou menos isso.
Ela negou com a cabeça.
- Onde está a Addie?
- Lá dentro - falo dando de ombros - Ela recebeu uma ligação que parecia... Importante. - murmuro com desdém.
Beatrice assentiu.
- Vamos voltar para a piscina?
Assinto, me levantando junto a ela e desprendendo os meus cabelos do coque em que eu havia feito.
Entro na piscina novamente e tento dispersar os meus pensamentos daquela ligação inesperada. E de o quão eu estava... Um pouco insatisfeita com ela.
Afinal, o que era tão importante ao ponto de Violet não poder esperar o aniversário da mãe de Addison passar?
Respirei fundo, mergulhando na água e indo até a outra piscina, que era um pouco maior e estava completamente vazia.
Me encostei no parapeito, fechando os meus olhos.
Passei algum tempo ali, pensando em inúmeras coisas, e ao mesmo tempo em nada, até que Mark, Beatrice, Amélia e Link vieram até mim.
- Aqui está mil vezes melhor - Amélia murmurou encostando-se ao meu lado.
Assinto.
- Você está bem, cunhada?
- Estou, Amy. - respondo sorrindo, consertando os meus óculos de sol.
- Acho que a Addie não gostou muito do Link. Ela a disse algo?
Nego com a cabeça.
- Ela só está um pouco estressada esses dias. Acho que não tem nada a ver com o Link. É o trabalho. - respondo tentando aliviar a sua decepção.
- É, sempre esse maldito trabalho - Amélia respondeu revirando os olhos - Não sei como você suporta, de verdade.
Dou de ombros.
- Então... Você e o Link...
Ela sorriu.
- Estamos bem. Conversei com ele, como você sugeriu. Ele só... Não sabe ainda. Mas... Eu... Enfim, talvez eu conte.
- Um passo de cada vez, certo?
Ela assentiu sorrindo.
- Lá vem a ranzinza - ela sussurrou para mim, indo até Link.
Suspendi o meu olhar, vendo Addison caminhar até onde estávamos.
Não consegui deixar de perceber, novamente, o quão aquele biquíni acentuava cada parte do seu corpo perfeitamente bem.
A observei entrar na água e vir até mim, ficando ao meu lado.
- Como conseguiu se livrar de Olívia tão rápido? - ela sussurrou para mim e eu não contive um riso.
- A sua mãe realizou o belo papel de me resgatar.
- Imagino - ela respondeu.
- Ela já estava quase decidindo o nome dos nossos futuros filhos - falo rindo, mas logo percebo que a minha forma de falar não fora tão correta - Quero dizer... Supostos filhos...
- Eu entendi - ela respondeu ficando por trás de mim, suspirei, ao sentir o seu corpo molhado encostar-se ao meu dentro da piscina e os seus braços envolverem a minha cintura.
Pousei os meus por cima dos seus, sentindo-a afastar os meus cabelos para o lado.
- Filha, você quer beber algo? - Beatrice a perguntou.
- Whisky, mãe.
- E você, Mer?
- Um suco de laranja, sogra, por favor.
Ela assentiu, passando os pedidos para o garçom.
Me entreti em uma conversa com Beatrice, que estava encostada na outra parede da piscina, junto a Mark, Amélia e Link.
Senti as unhas de Addison fazerem leves movimentos contra a minha barriga, talvez inconscientemente, mas, mesmo assim, provocando uma onda de arrepio na minha pele.
Entrelacei as minhas mãos as suas, fazendo-a parar com aquilo e, sentindo o meu coração pulsar dentro do peito, mordi o meu lábio inferior, encostando o meu corpo ainda mais ao seu.
Suspirei, ao sentir a sua respiração bater contra o meu pescoço e os seus dentes mordiscarem o nódulo da minha orelha sutilmente.
- Eu quero tirar esse biquíni - ela sussurrou roucamente em meu ouvido e eu contive um sorriso genuíno, mordendo o meu lábio inferior.
- Mais tarde - sussurrei de volta, vendo o garçom trazer a minha bebida e a sua.
Passamos algum tempo ali, conversando sobre amenidades e eu sorri instantaneamente, ao ver Flora caminhar até onde estávamos, vestindo um conjunto de biquíni preto, que combinou perfeitamente com ela.
A mesma entrou na piscina, cumprimentando Beatrice e vindo até mim.
- Achei que você não viria mais, Flora - falei soltando as mãos de Addison e a abraçando.
- Lisa está literalmente insuportável! Como vai, minha nora? - Ela cumprimentou Addison rapidamente.
- Bem, Flora, e você?
- Estressada. Eu juro por tudo que é mais sagrado, Mer, eu nunca vi a Lis tão... Focada em uma apresentação como essa.
- É a primeira desde que vocês voltaram. Ela deve estar nervosa, Flora.
A morena revirou os olhos, encostando-se na piscina ao nosso lado.
- Deixe-me apresentà-la a minha cunhada. Amy! - chamei a atenção de Amélia, que me encarou - Essa é Flora, minha outra mãe. Flora, essa é Amélia, irmã do meio de Addison.
- Uau! É um prazer conhecer você! Agora entendo o porquê a minha cunhada a ama tanto.
Flora riu, a abraçando.
- O prazer é todo meu, querida. Você é a cara da sua irmã!
- Eu sei, não é? Mas sou bem mais bonita do que ela, porque sou mil vezes mais legal. Ok, eu sei que isso pareceu um pouco narcisista... Mas qualquer um é mais legal do que essa ranzinza aí.
Encarei Addison, que mantinha a sua feição neutra, por trás dos seus óculos de sol pretos.
Flora riu.
- Então, ela a ensinou qual matéria, Mer? História, você tem cara de professora de história. Todas as minhas professoras de história eram gostosas.
- Amélia! - Addison a repreendeu.
- Você está bêbada, Amy? - pergunto rindo.
Ela revirou os olhos e Flora riu.
- Na verdade, eu não dei aula na escola para a sua cunhada. Fui professora de ginástica e dança dela.
- VOCÊ DANÇA?
Eu suspirei, mordendo o meu lábio inferior e assenti.
- Odeio você - Amélia murmurou para Addison - Por ter conhecido a Mer primeiro. Se eu estivesse, você ainda seria a senhora Montgomery, cunhada, mas não por causa dessa chata.
Rio, me surpreendendo com o seu comentário.
- Você não é... Heterossexual, cunhada? - pergunto curiosa.
- Você está brincando? - Amélia gargalhou - Por Deus, Mer. Óbvio que não.
Eu estava extremamente surpresa.
- Você é Bissexual? - pergunto chocada.
- É claro! - ela respondeu enfaticamente - Não acredito que você achava que eu era hétero, Meredith Montgomery!
- Bem...
Ela revirou os olhos.
- Falando nisso... E você, minha nora? É bi... - Flora perguntou curiosa.
- Lésbica - Addison respondeu rapidamente.
- Ótimo ouvir isso - Flora falou sorrindo, a lançando uma piscadela.
- Então, Flora, você namora? - Amélia perguntou.
Eu gargalhei, sem conseguir me aguentar. Ela realmente estava interessada em Flora?
- Bem, não. - Flora respondeu sorrindo.
- Uau, jura? Então eu tenho alguma chance? Posso ser sua madrasta, Mer.
- Oh, pelo amor de Deus! - murmuro imaginando aquilo.
- Por mais tentador que seja, não, querida. Sou casada.
Vi Amélia a encarar surpresa e Flora ergueu a sua mão, mostrando as suas alianças.
- Relacionamento aberto? - ela perguntou, em um fio de esperança.
- Nem na imaginação. A Lisa é extremamente ciumenta.
- Droga!
- Você realmente estava flertando com outra pessoa enquanto eu estou aqui, Amélia Montgomery? - Link perguntou e ela riu.
- Não poderia deixar essa oportunidade escapar. Já olhou para ela?
Ele riu e eu o acompanhei.
O resto da tarde passou-se de forma completamente hamoniosa.
Flora e Beatrice passaram boa parte do tempo conversando animadas sobre amenidades, e eu me fiz presente na conversa em maior parte do tempo.
Às 19:00, todos já estavam indo embora. Apenas o irmão de Beatrice e a sua cunhada ficariam para ir no dia seguinte.
- Meredith, Addison! - ouvi Olivia nos chamar e Addison me encarou, suspirando. A mais velha viera até nós - Já estou indo, mas as deixo meu cartão. Quando você engravidar - ela falou me encarando - E sei que será você, me ligue. A ajudarei com o tão temido monólogo da arte da gravidez, e, é claro, com dicas sobre absolutamente tudo. Fui mãe cinco vezes, então tenho a experiência de sobra em que vocês não têm! - ela riu.
- Eu... Bem... Obrigada, Olívia - a agradeço, passando o meu braço pela cintura de Addison.
- Vamos, Olívia! - um homem a chamou.
- Estou indo! - ela o respondeu - Espero que seja um menino.
Suspiro, assentindo e a lançando um sorriso desconfortável.
Ela sorriu de volta, se despedindo e saindo.
- Você entendeu algo do que ela disse? - Ouvi Addison perguntar, fazendo-me rir, cessando com o meu desconforto, que provavelmente não saíra despercebido por ela.
- Absolutamente nada. Quero dizer... Monólogo da arte da gravidez? O que seria isso?
- Eu não faço idéia! - ela respondeu me fazendo rir novamente.
Nós, então, nos encaminhamos até o interior da casa e fomos informadas de que o jantar já estava servido.
Nos sentamos todos diante da grande mesa e jantamos em harmonia. O tio de Addison era uma pessoa extremamente engraçada. E, junto a Beatrice, eles conseguiram me arrancar boas risadas.
Logo após o jantar, nós desfrutamos de uma boa garrafa de vinho na piscina, ainda conversando amenidades.
Beatrice me contou mais sobre si, e eu me peguei surpresa ao saber que ela havia feito faculdade de letras, mas atualmente não atuava mais na área.
Addison, algum tempo depois, pediu licença, alegando possuir algumas coisas para resolver, e se retirou, subindo as escadas.
Eu continuei conversando com Bizzy, Amélia, Lívia, Link e Richard, até Richard e Lívia alegarem também estarem cansados e nos cumprimentarem, subindo até o quarto de hóspedes.
- Bem, nós também já vamos - Amélia falou se levantando e sorriu para Link, um sorriso o qual eu entendi bem o significado. - Estamos realmente cansados.
- Posso imaginar - Comento a lançando uma piscadela e ela ri, nos dando boa noite e subindo as escadas.
Eu e Beatrice continuamos sentadas na beira da piscina, em um silêncio confortável.
- Você também deveria ir, minha nora - Ela falou balançando os seus pés na água - A Addie deve estar cansada. A relaxe, ela está realmente precisando.
Sorrio, sentindo as minhas bochechas esquentarem.
- Você já irá dormir também? - pergunto.
- Daqui a pouco. Quero ficar um pouco mais aqui.
Assinto deixando um beijo na sua bochecha.
- Durma bem, sogra. Até amanhã.
- Até, meu amor - ela falou encarando o céu.
Me levantei, pegando o meu celular e fechando a saída de praia que eu usava, pelo frio que se instalou em meu corpo.
Subi as escadas, entrando no quarto de Addison e a vi sentada diante da grande mesa de escritório que havia em uma das paredes do quarto.
Ela estava concentrada no seu MacBook.
Fechei a porta e prendi os meus cabelos em um coque alto, relembrando da sua fala mais cedo.
Mordi o meu lábio inferior, um pouco receosa em atrapalhar o seu trabalho e, então, fui até o closet, tirando a minha saída de praia e ficando apenas de biquíni.
Senti o seu olhar pousar sobre mim e, internamente, sorri satisfeita, a encarando.
- Pode me ajudar a tirar o meu biquíni? - pergunto sentindo a minha garganta secar em uma mistura de nervosismo e ansiedade.
A vi me encarar por detrás das armações vermelhas do seu óculos de grau e senti os meus pêlos se eriçarem quando a vi os tirar, afastando a sua cadeira da mesa e se levantando.
Engoli em seco, vendo-a caminhar até mim vagarosamente e fecho os meus olhos, assim que sinto-a perto demais para que eu conseguisse os manter abertos, diante do cheiro extremamente alienante do seu perfume.
Senti-a ir para trás de mim e os seus dedos tocarem as minhas costas.
Suspirei, enquanto ela desamarrava a parte de cima do meu biquíni vagarosamente.
Arfei ao sentir os seus lábios tocarem o meu pescoço livre, no local da minha tatuagem, agora à mostra e descoberta por ela.
Suas mãos passearam pelos lados do meu corpo, até chegarem aos meus seios, onde ela os apertou contra as suas mãos, fazendo aquele ato repercutir uma sensação deliciosa entre as minhas pernas.
Suspirei, ao senti-la afastar as suas mãos e começar a desamarrar a parte debaixo do meu biquíni, até que eu estivesse completamente livre dele.
- Precisa de ajuda com a debaixo também? - ela sussurrou em meu ouvido e eu arfei, sem conseguir conter um sorriso.
- Por favor - sussurro de volta, fechando os meus olhos.
Me surpreendi ao sentir a mesma me virar para si rapidamente e suspirei, sentindo os seus lábios descerem do meu pescoço até os meus seios. Onde, ao chegar, ela rapidamente os envolveu, um de cada vez, em seus lábios puxando-os com força.
Sentindo já as minhas pernas formigarem, abri os meus olhos, vendo-a se ajoelhar diante de mim e abaixar a minha calcinha.
O meu coração bateu fortemente quando a ruiva empurrou-me até a parede e envolveu as minhas pernas em seus ombros, rapidamente tocando a minha intimidade com os seus lábios.
Um gemido rouco escapou da minha garganta e eu apenas segurei firme em seus cabelos, sentindo-a chupar-me com intensidade.
Assim que eu senti indícios do meu clímax me invadirem, e aquela ansiedade gostosa tomar conta de mim, enquanto eu apenas era capaz de gemer para si, a ruiva se afastou, fazendo-me abrir os olhos imediatamente.
As minhas pernas foram tiradas dos seus ombros e ela se levantou.
- Addison - murmurei o seu nome, sem entender o que estava acontecendo e sentindo a sensação de frustração me tomar por completo.
A ruiva encostou a sua língua em meus lábios, fazendo-me sentir o meu próprio gosto e, sem que eu esperasse, ergueu-me contra a parede, envolvendo as minhas pernas na sua cintura.
Gemi alto, sem esperar aquele ato e, então, senti os seus lábios explorarem o meu pescoço, enquanto ela me desencostava da parede e me levava até o centro do quarto.
Addison jogou-me na cama e eu abri as minhas pernas, a puxando para mim.
A beijei, sem mais conseguir aguentar-me longe do seu toque e, com dificuldade, desfiz o nó do seu robe, o tirando pelos seus ombros. Para, então, tirar a sua camisola, a deixando apenas de calcinha.
A ruiva se afastou de mim, segurando firme em minha cintura e, inesperadamente, me virando de bruços.
Senti ela afastar os meus cabelos do meu pescoço e os seus lábios novamente explorarem aquele local novo para ela.
A sua mão afastou as minhas pernas e eu gemi abafadamente contra o travesseiro, ao senti-la entrar em mim por trás, com força.
A ruiva me estocava com força, enquanto eu apenas me limitava a gemer contra o travesseiro, apertando os lençóis da cama, sentindo a necessidade de tocà-la, mas, ainda sim, adorando a onda de prazer deliciosamente intensa que aquela posição me proporcionava.
O meu ápice invadira-me de forma tão veemente que chegara a ser assustadora, obrigando-me a gemer alto contra o travesseiro, evitando ser ouvida por qualquer um em que não fosse Addison.
Senti os seus lábios explorarem aquela parte do meu pescoço e ela sair de cima de mim.
Me virei para si, vendo-a me encarar de forma intensa.
- Qual o significado? - ela perguntou inesperadamente.
- De quê? - pergunto, mesmo já sabendo sobre o que ela perguntava.
- Da sua tatuagem.
Sinto o meu coração apertar-se e apenas nego com a cabeça, dispersando aquela sensação e as memórias em que davam indícios de chegar.
- Não há um significado. Foi apenas algo bobo que fiz na época da faculdade - minto.
O seu olhar rapidamente disse-me que ela não havia acreditado naquilo, e que ela sabia que eu estava mentindo.
Mas, ao contrário do que pensei que ela faria, ela apenas assentiu e eu a puxei para mim, beijando-a novamente.
- Tire a sua calcinha - Murmurei afastando os meus lábios dos seus, vendo-a se levantar e o fazer, deitando-se por cima de mim novamente.
Sorri, abrindo mais as minhas pernas e fechando os meus olhos, sentindo-a começar a movimentar-se vagarosamente em cima de mim, enquanto arfava contra o meu pescoço e levava-me, lentamente, à um ápice perfeito, porque, dessa vez, era simultaneamente junto a si.
[...]
- Bom dia, minha filha! - Flora me cumprimentou animada, assim que adentrei a sala da diretoria.
- Bom dia, meu amor - a cumprimentei de volta com um beijo no topo da sua cabeça e me sentei diante de si - A Lis está aí?
- Sim, lá em cima, ensaiando as meninas.
Assinto.
- E Addison? Está bem? - ela perguntou.
- Está sim, voltamos hoje pela manhã da casa de Beatrice. Ela foi direto para o trabalho.
Flora assentiu.
- Agora que eu já cumpri com a minha obrigação de sogra, ao querer saber da minha nora, podemos ir direto ao ponto? - ela perguntou e eu ri.
- Sim, senhora.
- Então, meu amor? Qual a sua resposta?
Mordo o meu lábio inferior, tentando saber por onde eu começaria.
- Eu... Primeiro preciso que você me ouça. E, então, você pode... Falar. Pode ser? Por favor.
Ela assentiu e eu suspirei, preparando-me para a apresentar a minha decisão definitiva, a qual eu havia somente tomado ontem à noite, enquanto me dava um tempo à sós comigo mesma, na expectativa de que eu conseguiria me decidir.
E acontecera. Eu apenas precisava ir para a parte mais difícil: falar com Flora.
[...]
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