• Capítulo 03 •
| DEGUSTAÇÃO|
ALL GOOD THINGS - FOR THE GLORY EN ESPAÑOL (VERSON NICO BORIE)
"Um homem misterioso e objetivo, é uma forma de não falar: grosso e inflexível."
ALEJANDRO • Alejandro Kaleo Ward
Duas semanas antes...
O cheiro da terra era fúnebre.
O cemitério tinha suas peculiaridades trazendo no seu silêncio mortal, uma solidão dolorosa e memórias quase esquecidas. Recordava-me do meu pai, trabalhando em seu escritório... ou em meio ao campo e ao seu lado, sua esposa, a minha mãe. Por mais de trinta anos, eles foram inseparáveis, pois ela era além de sua esposa, a sua secretária.
Podia lembrar vividamente dos meus irmãos e eu, um implicando com o outro... Causando problemas... enlouquecendo os nossos pais. Correndo por toda a fazenda, escalando árvores e arrumando brigas... Crescemos tendo professores particulares, pois nossos pais estavam sempre viajando e não tinham com quem nos deixar... Entretanto, no "fim do dia", a fazenda era o nosso lar.
Recordava saudoso da casa sempre cheia, dos muitos funcionários que se tornaram amigos. Do cheiro forte de grama após a chuva, de trabalhar ao lado dos funcionários, cuidando do gado ou das plantações, até mesmo recolhendo o esterco, além de tantas outras funções.
Meu pai falava que isso nos ensinaria o valor da vida, pois não importava o quão alto poderíamos chegar a nos tornar, fortes ou ricos, ainda seríamos responsáveis até pelas fezes dos nossos animais. Um pai rígido e de muitos valores, uma mãe inteligente, por vezes feroz, mas com um ar gentil. Em todo caso, éramos como uma grande família feliz... Até aquele maldito dia.
Senti meu rosto se contrair de dor, ao lembrar de como foi duro ver aquele homem, que mesmo velho, ainda parecia inabalável. Sofrendo após ter um AVC... era visível toda a fragilidade da vida humana ao olhar aquele homem em sua cama, a sua perda de peso, a vida no brilho dos seus olhos se esvaindo. Sem que muitos funcionários dos hotéis soubessem, tomei a frente no trabalho, mesmo ainda estando na faculdade, para que meu velho pai não precisasse se preocupar, nem sequer a mídia fizesse alarde da sua saúde e causasse ainda mais estresse.
Não demorou o falecimento do meu pai e mesmo com todos esperando o inevitável, aquilo nos desestabilizou. A minha mãe que ficou ao lado dele até o último momento, foi fazer companhia a ele, onde quer que seja no pós vida, apenas poucas semanas depois, enquanto eu estava trabalhando no hotel.
De forma surreal, no mesmo instante em que soube da notícia, um grito cortou todo o hall do hotel, um grito de dor e desespero alucinante. Uma adolescente que estava hospedada no hotel teve um surto, pois tinha acabado de receber a notícia através do plantão de emergência sobre a morte de seus pais. No choro dela, vi a minha dor que não conseguia expressar. Sem pensar muito sobre, ou sem realmente a ver. Fui até ela e a consolei, ao mesmo tempo que tentava apaziguar a minha própria dor.
Uma suave brisa tocou o meu rosto trazendo consigo o cheio de pinheiros, afastando os meus pensamentos e me trazendo a recordação de onde estava, que diante de mim, havia duas lápides e que nada mais poderia ser feito... Com um sorriso fraco, antes de me levantar e ir embora, deixei um buquê das rosas que minha mãe cultivava.
(...)
Logo após dar o primeiro passo para fora do cemitério, vi o meu carro a uma distância razoável e caminhei em sua direção. O motorista me esperava do lado de fora e estava com a expressão culpada. Por um milésimo de segundo me perguntei o que poderia estar errado, mas assim que ele abriu a porta do carro, pude entender o que aconteceu.
Katherine, minha noiva estava lá.
Linda e de corpo bem delineado, rosto pequeno, lábios fartos, cabelos ruivos naturais, bonitos olhos azuis brilhantes que estavam sob cílios tão falsos quanto ela mesma. Seu olhar repousou sobre mim e um sorriso nasceu em seus lábios. Sorriso este que poderia fazer muitos homens se renderem, mas quando ela abria a boca, sabíamos com o demônio que estávamos lidando.
— O que faz aqui? — indaguei, crispando os lábios.
Ela levou a mão aos seus cabelos, pegando uma mecha que estava para frente, o levou para trás da orelha e estreitou os olhos fitando-me satisfeita.
— Oras, não é óbvio?! Vim te encontrar, querido... — disse Katherine, com uma voz sedosa e astuta.
A mulher se inclinou sedutoramente sobre o banco do carro, ao ponto de ficar de quatro e engatinhar até a beira do assento. E mesmo sobre a roupa, tocou-me na altura do abdômen e com a ponta de suas unhas, deslizou até a borda da minha calça e brincou com o meu cinto.
— Eu estava com saudades...
Desci o olhar, erguendo uma sobrancelha para a sua mão que descia ainda mais. Evitá-la não iria resolver absolutamente nada, tampouco expulsar ela do carro. Bufei, cansado de seus jogos baratos e inabalável a empurrei para o lado, para conseguir algum espaço para me sentar. No processo, a fiz cambalear para trás e se sentar sobre suas pernas.
— Estúpido e grosso! — resmungou ela, antes de morder os próprios lábios. — ... Mas admito, eu gosto.
— Não tenho tempo para você, Katherine. Tenho que resolver alguns problemas no hotel. Caso se encontre carente, indico que procure outra pessoa. — O brilho dela de sedução se desfez e o seu olhar, transformou-se da água para o vinho em um segundo, conforme se ajeitava no banco sem se importar menos comigo.
— Bom... Com você é sempre assim, não é? Só queria passar um tempo com você... Mas sou uma boa garota e não me importo em esperar, na área do SPA do hotel... Aliás, fiquei sabendo que agora possuem novas especialidades para tratamento de pele, estou louca para experimentar. — comentou ela, puxando o seu celular e começou ver as publicações mais recentes. Por um momento, fiquei aliviado, pensei que tinha resolvido, mas ela não tinha desistido e então retornou o seu olhar para mim, apoiando o aparelho em seu rosto fazendo charme. — Mas me magoa, que apenas me manda procurar outros. Sou sua noiva, sabia?
A olhei com pouco caso, afinal, não me deixava esquecer.
Peguei o celular do bolso para verificar meus e-mails. Ao longe podia ouvir as reclamações da mulher, insistentes e incansáveis. Porém, quase tudo que se resumia nas preocupações dela eram futilidades e manhas. Não tinha paciência, no entanto, segundo meu tio, eu já estava na idade de casar e ter filhos.
Ele chegou até mesmo a me chantagear, dizendo que a sua morte não tardaria... E em busca de paz para nós dois, resolvi aceitar, mas escolhi alguém que poderia apenas fazer o papel de noiva, em troca de dinheiro e status.
Alguém sem moral...
Katherine foi a premiada.
— Certo. — concordei simplesmente, antes de mandar uma mensagem a minha secretária, para que ela providenciasse a vaga de Katherine. Aproveito o aparelho na mão, para responder as demais mensagens que me foram enviadas. Entre elas, estava uma foto de um potro, enviada pelo veterinário.
Era todo branco e bonito assim como sua mãe, no entanto, segundo a mensagem, era macho. Katherine se esticou para ver o meu celular e viu o potro, pareceu animada olhando. Porém, isso me fez virar a tela do celular. A conhecia, ela não tinha nenhum apego à fazenda. A falsidade de interesse pelas coisas importantes para mim, me deixava com um amargor na boca. Visto que ela não pararia de incomodar, viro-me e a encaro, a fim de esclarecer logo as coisas.
— O que aconteceu de verdade para vir?
Como se estivesse esperando que perguntasse, Katherine colocou o celular de lado.
— É o aniversário de casamento de seus falecidos pais, Alejandro...
Estreito meus olhos deixando-a saber que não acreditava. Então ela se rendeu, revelando a verdadeira face.
— Minhas amigas já estão se casando, tendo filhos... Acredito que essa época também está chegando para mim. — falou num tom sério de negócios, e ficou em silêncio, esperando a minha resposta. O que me fez entender rapidamente o seu intuito de me ameaçar, se não fizesse as suas vontades.
Em sequência, ela leva a sua mão na parte interna da minha coxa deslizando em direção a minha virilha.
— Posso garantir que lhe darei os filhos mais lindos que um dia já se viu.
Pude recordar, do último evento anual que fiz para doação de dinheiro e presentes para os órfãos e como ela fugiu das crianças como se tivessem lepra. E agora me falava sobre casar, tentava me seduzir para ter filhos. A minha aversão a simples existência desta mulher, só aumentou. Teria me desfeito de qualquer ligação com ela, se não fosse justamente por ela ser assim, que aceitava o meu dinheiro e calava a boca.
— ... Não pretendo ter filhos.
Com você, completei meu pensamento.
— Mas já não sou mais tão nova... e nem você!
— Algumas pessoas não vieram ao mundo com o propósito de ser pais. — intervi no pequeno surto de raiva dela. Tirei meus olhos dela e voltei a abrir a tela do celular para verificar agora os endereços eletrônicos.
Contrariada, pelo tratamento de silêncio, com o rosto todo púrpura, se afastou de mim e se silenciou também. Sentou-se corretamente, o mais longe possível de mim. Aproveitei para fazer algumas ligações.
No entanto, aparentemente somente para mim este assunto estava resolvido. Aqueles minutos no carro em silêncio, foram os últimos momentos de paz que tive. Por uma semana, ficou no meu pé. Fez posts sobre bebês em suas redes sociais, ao ponto em que os acionistas me ligaram para parabenizar!
Neguei, mas não pareciam me ouvir. Ela ia a hospitais próprios para fertilidade, tirava fotos e entregava a mídia. O fim da minha paciência foi quando comecei a receber presentes e roupas de crianças vindos do estrangeiro.
A chamei ao escritório, para mandar parar com essas publicações, no entanto, Katherine decidiu chegar no momento mais conveniente - para ela, é claro - em meio a uma reunião. Com a minha secretária logo atrás, tentando a impedir.
— Ah! Querido desculpa... cheguei num mau momento?
— Oh! Não, senhorita Katherine. Já estávamos terminando... — disse sorridente um cliente idoso.
Furioso, fechei os olhos para tentar conter a minha raiva. Ela sabia que não poderia maltratá-la, seja sendo grosso ou fazendo o que no meu íntimo mais queria. Esganá-la.
— Desculpem-me o inconveniente, se pudermos retomar a nossa reunião dentro de um curto tempo.... — Comecei, ignorando-a.
— Ah! Rapaz, não deveria deixar sua noiva lhe esperando. Irei tomar um café e comer algo, já não sou tão jovem e tenho que comer pequenas quantias em hora em hora. Tomem seu tempo. — Disse ele sorrindo enquanto se levantava e saia da sala com a sua secretária.
Uma vez que o homem saiu da sala e a porta se fechou atrás dele, me virei focando toda a minha irritação para ela.
— Primeiro, o que você quer, Katherine? Agindo infantilmente dessa forma degradante e ridícula porque falei que não vou te dar um filho. Além disso, tenho sido forçado a olhar as redes sociais. Você? Frágil? Desastrada? Sonho de mãe? Apaixonada por roupas de bebês. Dificuldade de engravidar? Malditos postes nas redes sociais e toda essa merda. — exclamei puxando um bolo de papéis impressos de uma gaveta e joguei na mesa. — Além de invadir meu escritório como se fosse a sua casa... Você não tem vergonha?
Ela abriu muito os olhos, assim como ergueu as sobrancelhas. Fazendo uma falsa cara de surpresa antes de dar um baixo riso maldoso.
— Te disse o que quero, enquanto não concordar... bom ... Todos me veem como a adorável noiva do frio homem de negócios que a trata como uma bonequinha de luxo... não tem direito de me negar o sonho!
— Sonho? — questionei enojado. — Sério que irá mentir para mentiroso? Aliás, como pai desta possível criança, que inclusive, não existirá! Pois, já deixei bem claro a minha resposta. Tenho todo direito.
Pude ver seus olhos brilharem faiscantes de fúria antes de começar a caminhar em minha direção, sentou-se no meu colo de frente para mim e passou os braços pelos meus ombros. Katherine parecia corajosa, confiante de sua sensualidade... Fui obrigado a sorrir sarcasticamente frente a sua ousadia, contudo a minha expressão se fechou rapidamente.
— Katherine, nós acabamos aqui. Lembra da cláusula do contrato? O contrato poderá ser cancelado assim que o contratante determinasse?
Pois bem, acabou. Se quiser fique com tudo que te dei, referente a joias e toda essa merda, não me fará falta. Apenas... Suma da minha frente e tire esse seu rabo de cima de mim.
— Você é gay?
— É o que? — Questionei indignado erguendo friamente uma sobrancelha para ela.
— Muitos homens me querem, você não.
— Tenho bom gosto e você não vale nem uma foda, Katherine. — Respondi mal-humorado.
— Olha se você for gay, eu entendo. Só precisamos de uma noite. Tenho o que eu quero, Al. Ser sua noiva apenas não é mais o que eu quero... — falou num raro momento com sinceridade, ignorando as minhas palavras. — Quero ser sua mulher e ter um filho seu. Preciso dessa estabilidade, como disse: já não sou mais tão nova. Estaria casado e seria pai. Seu tio nunca mais reclamaria, não é?
— Você é repulsiva — afirmo, levando as mãos aos seus braços para a segurar com firmeza e a tirar de meu colo. — O único motivo que me fez a propor, foi em nome da minha paz. O que, aparentemente você esqueceu disso, mas vou te lembrar e ser bem claro. Nem mesmo minha afeição pelo meu tio, vai me fazer continuar com você!
— Você não faria nada que o magoaria. — Insistiu ela, com um sorriso confiante.
— Ele me quer com uma companheira, poderia pagar uma prostituta para te substituir e alegar que amo. Ele seguiria feliz. — Cortei, fazendo-a perder o sorriso. — No máximo, chateado pelo seu pai , já que é amigo dele.
— Está me comparando com uma puta? — Indagou ela ignorando o resto.
— Não faria isso com uma profissional do sexo. Elas sabem obedecer às regras simples. — Respondi. — Agora, saia e me dê paz.
— Nestes últimos anos, você não se apaixonou por mim? — insistiu ela fazendo algum charme, embora seus olhos chamejassem seu ódio.
— Me apaixonaria pelo quê? — indaguei, levando o olhar lentamente ao seu rosto, passando pelo corpo até seus pés, em saltos absurdamente caros, então, voltar ao rosto dela — Pensou que ficaríamos juntos para sempre? Nunca menti para você, assim como você não mentiu para mim, dizendo querer a posição que eu poderia te dar. O que mudou?
— Insensível... — disse ela com um amargor na boca. — Estou envelhecendo, meu relógio biológico está gritando, Alejandro.
— E o que tenho com isso? — rebati tranquilamente. — Você, escolheu o dinheiro, status e posição confortável em troca de ficar na minha vida como adorno. Este foi o acordo. Você nunca se importou sequer com meus casos casuais, nem eu com os seus.
— Meu pai ficará sabendo disso!
— Do quê? Que a sua adorada filha, não passa de uma vadia? Que se vendeu por dinheiro e luxo? Ele ficará muito orgulhoso de você.
— Bastardo! — respondeu ela desferindo-me um tapa forte e certeiro no rosto.
Meu rosto virou com golpe e ardeu, deixando a pele sensível, no entanto, isso era um pequeno preço para me livrar dela. Voltei lentamente para a posição inicial, para a encarar friamente.
— Satisfeita? Agora saia. Ou temos mais algum assunto que devemos pôr um fim, Katherine?
Irritada de uma forma que ela mal conseguia se conter, se virou e caminhou em direção a porta, mas parou e olhou para trás como se deixasse um aviso de que esta não seria a última vez que a veria.
Tudo o que poderia ser-me útil em tê-la na minha vida, ela conseguiu desfazer em uma semana. Levanto-me da cadeira e vou até as grandes janelas, olho a cidade através dos vidros ao mesmo tempo em que pensava no que fazer a seguir.
Subitamente, meu celular pessoal começou a vibrar.
Até que a Katherine foi rápida, provavelmente era meu tio ou o pai dela. Pensei. Porém, para o meu total espanto, o nome que estava na chamada era outro, "Scarlet" a minha irmã mais velha.
Chamando-me para a sua casa na próxima semana, afinal, faziam seis meses que não a via, além disso, ia numa festa de gala que os fundos iriam para os necessitados no natal e queria que eu fosse também.
"Certo." Respondi à mensagem, facilmente. Teria algum incômodo na festa, mas poderia ter um pouco de tranquilidade na casa dela.
(...)
Ao chegar em sua residência em Londres, perguntou-me o que ia vestir e respondi corriqueiramente: "terno". Ela me olhou feio, falando: "Terno? Não, nem em sonho! Sabia que você seria relaxado assim! O que mamãe falaria!? Por Deus!"
Ela se levantou, apressou os passos e foi para algum cômodo, quando retornou, estava com um "smoking" em mãos, cuidadosamente feito e do meu tamanho.
Entendendo tudo, estreitei os olhos para ela.
— Mulher velha e manipuladora... — resmunguei. — Que festa será esta?
— De gala, a maior de Londres, no Hotel Luxor. — respondeu com um sorriso de canto. — E sou uma jovem senhora muito esperta, tenho apenas 45 anos, não me venha com resmungos, pivete.
— Jovem senhora? 45 anos?! Pelo que me lembre você está com 49 já com quase meio século batendo na sua janela. — Provoquei achando graça a observar ficar brava e estapear meu braço. — E pivete? Daqui a dois anos farei quarenta, onde está o pivete?
— Para mim, uma vez pivete irritante, sempre pivete irritante. Vamos, caso contrário o seu histórico impecável de pontualidade será arruinado e chegaremos atrasados.
•••
Assim como supunha, logo após cumprimentar os organizadores da festa e fazer a doação. Muitos convidados e suas companheiras, vieram marcar reuniões comigo. Me recusei, alegando que naquela noite não estava como o homem de negócios da festa, apenas como um convidado que veio acompanhando alguns amigos.
Meu cunhado e a minha irmã, tinham seus próprios assuntos e se separaram de mim. Logo a seguir, vendo a oportunidade, mulheres começaram a me cercar. Após alguns longos minutos de conversas incômodas e entediantes, finalmente encontrei um pouco de paz. Meu olhar percorreu a festa, como era razoavelmente mais alto que a maioria dos demais, foi fácil ter uma boa visão do lugar. Porém, em determinado momento, algo me chamou a atenção.
Diversas pessoas murmuravam e olhavam para um ponto em específico no canto do salão. Atraindo a minha curiosidade e atenção. E neste momento, senti algo que jamais senti antes, como se nada mais importasse, meu olhar se focou apenas na mulher que todos olhavam.
Uma mulher de uma beleza ímpar, que seria capaz de fazer flores desabrochar, havia acabado de chegar e estava andando pelo salão. Seu longo vestido era perfeito, em cada uma de suas curvas. Sua face era doce e delicada, cabelos longos e negros, assim como seus cílios. Sua visão estava para baixo em sua bolsa, instigando ainda mais a curiosidade do que lhe tomava a atenção.
Sua postura impecável, mostrava sua personalidade controlada. Ela parecia familiar de algum modo e então estreitei os olhos, para tentar fitá-la melhor. No entanto, um velho sócio encontrou-me e cumprimentou, voltei a atenção para ele obrigatoriamente. Mas tão logo que ele se foi, busquei-a com o olhar, porém, já não estava mais no mesmo lugar, como se fosse uma miragem. Com um pequeno afobamento, a busquei com o olhar e caminhei através das pessoas, até que novamente a vi.
Estava de costas para mim, diante da porta que dava a sacada. Os cabelos eram realmente muito longos e de costas eu pude ver melhor. Cascatas onduladas bonitas e brilhosas, sensuais, passeando pelas curvas do seu corpo, realçando o traseiro curvilíneo. O vestido, era de um profundo decote em "V" nas costas, que revelava quase mais do que deveria. Fazendo-me ter a certeza de que não usava roupa íntima.
Meu pau deu sinal de vida ao imaginar o que o fino tecido escondia, imaginar minhas mãos percorrendo a sua cintura fina e a trazendo contra mim ao mesmo tempo, em que afundava a mão entre o tecido e a pele. Ou então, me encaixando por detrás dela, enquanto perguntava o seu nome ao pé do ouvido e fazia alguma proposta indecente.
Um sorriso nasceu em meus lábios, enquanto a olhava. Há muito tempo, uma mulher não me fazia sentir um pervertido com a libido de um adolescente.
Tesão, fascínio, encanto... eram as palavras-chave frente a sensação que ela me transmitia. Essa desconhecida, tinha uma pureza que me fazia sentir sujo, mas sedento pela sua pele leitada contra a minha boca.
Porém, algo me despertou da minha mente maliciosa. Sua postura, já não estava mais tão confiante, mas sim, enrijecida... Em busca da causa, vi um grupo de mulheres atrás dela, com olhares maliciosos para ela. O meu cunhado, ali próximo totalmente alheio ao que estava acontecendo.
Antes que pudesse dar conta, meus pés me levaram rápido até ela. Num instinto protetor assombroso, tomei a frente do campo de visão das mulheres maldosas, que ficaram pálidas sob meu olhar severo, cruzei os braços servindo de escudo humano para a mulher.
Pensei logo depois: por que me importava o que acontecia com ela? Nem a conhecia e independente do quê, não era um homem de tomar partido de algo que não me cabia.
Porém, logo que parei ali, meu cunhado me avistou e se aproximou. Mal comecei a me perguntar o que estava achando da festa, quando alguém esbarrou em mim, molhando minhas costas e pernas com algum líquido. Ao me virar e ver o bonito vestido dela... soube ser vinho.
Ela começou a levantar o olhar, o que me deixou com alguma expectativa. Contudo, não se refreou, tensionando o corpo e estremeceu, aflita. A mulher parecia prestes a cair no choro, mas estava aguentando firmemente. Tive o instinto de protegê-la ainda mais forte e a abrigar. Levantei a minha mão em direção a ela, para tocar-lhe o ombro e consolá-la, quando Harrison falou:
— Kayla? Ouvi falar que estava na festa, que prazer revê-la.
Diante do seu nome e a sua descrição... Reavivou a minha memória.
Ela era Kayla Johnson, uma jornalista conhecida pela mídia e próxima de minha irmã e cunhado. Sempre, mandada para a "missão impossível" de conseguir entrevistas. De alguma maneira, talvez até mesmo sem ela saber, ela havia se tornado da família. Por que tinha cativado os dois. Harrison passou a comprar o jornal Daily News em que ela publicava as suas matérias, para acompanhar a cada novo passo da carreira dela. Assim acabava por ser um assunto nos jantares, como se fosse uma filha que mal ia para casa.
Ademais, fazia sentido ela ser familiar para mim. Procurei saber sobre ela, afinal, poderia ser só mais uma manipuladora que faria cedo ou tarde mal a eles. Contratei um detetive de confiança e descobri que embora tivesse amadurecido... Ela era aquela garota... A garota que anos atrás perdeu os pais no acidente, no mesmo dia em que minha mãe foi para o lado do meu pai. Nunca a esqueci, principalmente do último olhar dela para trás antes de ir embora.
Kayla não tinha crescido muito desde então, mas seu corpo sim, amadureceu. Assim como sua beleza parecia ter desabrochado com sensualidade arrebatadora.
— Des... — ela começou a se desculpar, mas não conseguiu terminar, pois um homem atrás dela, vindo da sacada a chamou.
Levantei o meu olhar e vi um homem ao lado da senhora McGregor. Uma senhora conhecida pelos seus casos com homens ricos na juventude e que aparentemente após o terceiro marido enterrado, decidiu se envolver com os mais jovens.
— Kayla...?
Desci meu olhar, para tentar entender a ligação dela com este homem. A dor, raiva e humilhação, estavam gravadas em sua face. Um namorado? Noivo? Ex? Um sentimento de ciúme me corroeu por dentro, mesmo que não devesse sentir. Pude vê-la lutando contra si, antes de se virar e com muita elegância e dignidade, enfrentá-lo. Mesmo quando fez um pequeno teatro falando com a amante e fingiu que o estrangulava.
A um olho atento, era nítida a sua dor. Por dentro de mim, queimava de ira, era inadmissível. Ela não merecia. Já havia sofrido muito na adolescência, não julgava que deveria passar por mais dores. Ergui o olhar ao redor, as pessoas a olhavam com pena, mas outras com raiva e algumas com satisfação ao puxar seus celulares para filmar.
Frente a dor dela, repudiei todos eles.
O desejo de protegê-la e defendê-la, continuava crescendo ferozmente de maneira incontrolável. Queria apenas tirá-la do caminho e jogar o homem pela sacada, ter a certeza de que ele não voltaria para incomodar novamente. Levá-la embora e lhe dar algum consolo apropriado.
No entanto, a mulher mantinha-se firme em sua dignidade tão bravamente, que não ousaria intervir.
— Desculpem-me por todo o inconveniente que e o transtorno. Sinceramente, sinto muitíssimo. Por favor, esqueçam o que aconteceu e aproveitem o restante da festa... As crianças necessitadas, agradecem. — No fim da frase, por um segundo a voz dela vacilou, que serviu de fisgada no meu senso de justiça. Ela pegou de sua bolsa, um cartão de visita e me ofereceu. Sem olhar em meus olhos disse:
— Peço que me mande a conta da tinturaria... Sinto muito o ocorrido. Aos dois...
Contudo, no lugar de pegar o cartão, segurei o seu pulso com algum cuidado. Pois, parecia que quebraria como uma boneca de porcelana, assim que tirasse os olhos dela.
— Está bem? — perguntei, mas estava tão imerso aos meus pensamentos que demorei algum tempo para me dar conta que o fiz em espanhol, então retornei a perguntar em inglês. — Está bem?
Ficou em silêncio e tentou se soltar, com relutância o fiz, mas antes que me respondesse, a voz amargurada da McGregor, chamou a nossa atenção.
— Mulher fria... não é à toa que ele me procurou. Sem coração, seca e indiferente. Finalmente entendo por que me buscava... — exclamou em alto e bom-tom.
No entanto, o imbecil do ex não pode ficar com a língua na boca e disse:
— Kayla sempre foi assim... sempre pensou apenas em trabalho e na sua imagem perfeita... uma vadia...
Vi tudo em vermelho, avancei sobre ele em poucos passos de forma extremamente feroz. Socando-o no meio do rosto, tendo a certeza de que, já no primeiro golpe, lhe quebraria o nariz. Mas para ter certeza que não voltaria para a assombrar, puxei a mão e golpeei no mesmo lugar mais algumas vezes.
Uma... Duas... Três... Quatro vezes...
Exclamações vinham ao redor, algumas escandalizadas, outras satisfeitas. Porém, não era o suficiente. Assim que se curvou, o chutei para que caísse para trás. Um lado surpreendentemente animal, aflorou em mim. Mas antes que voltasse a golpeá-lo, os seguranças e Harrison me trouxeram a luz novamente.
Respirei fundo, com o coração batendo rapidamente devido à adrenalina. Soltei-me das suas mãos e arrumei o meu smoking, com meus punhos molhados de sangue do homem e feridos nas juntas, puxei um lenço para limpar minha mão e encarei o infeliz.
Ainda estava desnorteado, lançando-me olhares de terror. Seu olhar não parecia estar focado exclusivamente em mim, mas tampouco parecia estar recebendo algum apoio das pessoas ao redor. Mesmo de quem estava satisfeito com a humilhação de Kayla anteriormente. Isso me deixava infantilmente satisfeito.
Novamente, levei com calma a mão a parte interna da minha roupa e peguei um cartão de visitas e joguei um pouco diante dos seus pés.
— Espero o seu advogado para o processo, segunda-feira pela manhã. Se tiver coragem... pedaço de lixo!
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