Sebastian
De toda a minha família terrível, a pior pessoa de todas era a irmã mais velha de Anastacia. Ela era a única que sabia com cem por cento de certeza que eu não era da sua família. Todo o resto adorava fazer comentários sutis, e olhar atravessado para mim quando achavam que eu não estava vendo, mas ela sabia, e me odiava por isso. Passo meus olhos por ela antes de lhe entregar o sorriso mais caloroso que consigo no momento, sentindo a tensão subir na base da minha coluna no momento em que lembro que Amerie está aqui e vai ver o caos que isso vai se tornar.
Era inevitável, eu sabia disso. Sabia que seria até melhor que ela visse o que iria acontecer aqui, já que parecia estar disposta a gostar de quem eu era. Pessoas como Amerie Grimaldi eram sufocadas na minha família, e eu assim como todos eles, não era nem um pouco diferente. Não era melhor. Eu era exatamente como cada um deles e qualquer pessoa que pensasse o contrário, estaria errado.
— Eu, primogênito da Noruega, renuncio privadamente o trono que é meu por direito. — Christian fala ao meu lado. — Eu não posso me comprometer com um país quando não tenho o mínimo interesse diplomata, sinto muito avisar vocês tão em cima da hora, mas acredito que Sebastian será um ótimo rei.
Meus olhos vão de forma automática para Jackson, que sorri na esperança de encorajar ele. Mas conheço ela a mais tempo, sei que está odiando esse momento, que está se odiando por não ter conseguido o que queria. De alguma forma isso não é tão mais importante quanto era quando estavamos juntos, Christian era a prioridade dela no momento e por mais egoísta que eu fosse, eu conseguia ficar feliz por isso. Não conseguia odiar o cara apesar de tudo. Ele não tinha culpa da metade das coisas que meu pai e a mãe dele tinham me feito passar, nós não tínhamos uma relação de irmãos nem nunca seriam próximos de verdade, mas nos respeitavamos e para mim, bastava.
— Você está cometendo um erro muito grande Christian. — Harriet, irmã da minha falsa mãe, fala com muita calma, diferente de todos que se encontravam abismados a essa altura do campeonato. — Você está nervoso por causa da responsabilidade, é normal e até humano se sentir assim.
Seus olhos gelados pousam em mim, e me esforço o máximo para não desviar. Ela sabia que eu era o próximo na linha de sucessão ao trono, e de jeito nenhum estava satisfeita com aquilo.
— Na verdade, eu decidi isso a dois anos. — Christian rebate, causando ainda mais bururinhos. — Não acho que exista ninguém melhor que Sebastian para ser rei agora que o nosso pai vai precisar se ausentar.
Se antes todos estavam cochichando, agora tudo estava em um completo silêncio. Olho para meu pai apenas por um segundo, e posso jurar que vi satisfação na cara dele, mas desvio rápido demais para ter certeza. Todos os meus tios que sequer faziam questão de olhar para a minha cara na maioria dos eventos se encontram encarando minimamente minha expressão, paralisados.
— Minha irmã sabia disso? — Os olhos de Harriet quase pulam agora. — Ela sabia que você ia colocar esse bastardo como seu sucessor?
Espero a raiva, mas diferente da reação que ela achou que desencadearia em mim, solto uma risada alta. Fazendo todo mundo me olhar como se eu fosse louco.
— Vou me lembrar que você não é mesmo parte da minha família quando estiver com uma coroa sob a cabeça. — Dou um sorriso largo, vendo seu rosto pálido ficar vermelho de raiva. — E a vadia da sua irmã sabia de tudo, e até mesmo concordou.
Christian vira para mim, mas não faço o mesmo, sei que ele vai querer explicações e nunca vou poder falar abertamente sobre quem a mãe dele realmente era. Viro para Amerie quase que de forma automática, e puxo sua mão, fazendo ela se levantar. O show tinha acabado. Eu já tinha me pronunciado e isso era a única coisa que eles iriam ter de mim no momento.
— Não se preocupem pelos seus cargos. — falo, puxando a garrafa de vinho que Amerie gostou da mesinha de bebidas que estava perto. — Vocês vão continuar com eles até a segunda ordem.
— Até a segunda ordem? — O pai dos gêmeos ri. — Ninguém aqui vai aceitar ordens de você, nunca.
Olho para todos os meus tios na mesa, e vejo um pequeno motim se formar, era óbvio que eles jamais ficariam do meu lado, mas isso não importava muito para mim no momento.
— Ótimo. Então todos vocês serão destituídos dos seus cargos. — Dou de ombros, vendo rostos completamente em choque. — A maioria aqui faz um trabalho péssimo de qualquer forma, e eu não vou quebrar um país por nepotismo.
Não espero mais nem um segundo para sair do salão e ninguém me impede de dar as costas e ir embora, nem mesmo meu pai, ele sabe que agora viria uma avalanche de perguntas, perguntas essas que eu não precisava responder. Meu papel era simplesmente subir ao trono agora, ser o rei da Noruega e nada mais. A euforia parecia ter me chegado, agora todos sabiam que eu não era filho de Anastacia, tinham certeza disso. Foi meu maior medo durante anos, e até agora eu só sabia me sentir anestesiado.
Ela não era mesmo minha mãe, e era terrível ter que me referir a ela assim, pelo menos eu estava livre disso agora.
— Anastacia não é sua mãe biológica? — Amerie me pergunta quando entramos no elevador.
— Anastacia não era minha mãe de modo nenhum. E muito menos biológica.
Ela me encara por alguns segundos, e diferente da maioria das pessoas que sabiam, não tinha nenhuma confusão no seu rosto, apenas raiva.
— Você é filho ilegítimo de um rei e mesmo assim chamou meu irmão de bastardo? — Sua voz é incrédula quando fala, e suas sobrancelhas quase se juntam.
— Eu pensei que nós tínhamos passado dessa fase.
O confuso agora sou eu. Amerie e eu tínhamos conversado sobre isso a duas semanas atrás, e eu tinha pedido desculpas por ter sido um imbecil quando a conheci, e pelas besteiras que eu tinha falado.
— Eu achei que você fosse um príncipe mimadinho que gostava de brincar de ser maldoso. — Ela pisca, ainda incrédula. — Mas você sabe como é, sabe como é se sentir deslocado, principalmente em um mundo como o nosso. Você falou aquilo sabendo exatamente quão ruim isso era.
— E isso torna as coisas piores?
Amerie sustenta seu olhar com o meu até o elevador parar no último andar, que era o do quarto em que ela estava hospedada durante esses dias. Seus lindos olhos castanhos pareciam furar a minha pele, e me obrigo a desviar o olhar. Não conseguia ser o otário que era se ela ficasse me olhando desse jeito, como se acreditasse que eu fosse alguém melhor e tivesse sido decepcionada. Não sou alguém melhor. Nunca fui.
— Você quis mesmo me magoar. — Ela fala enquanto eu encaro o teto despreocupadamente. — Você não falou por capricho Sebastian, você realmente quis dizer aquilo.
— Eu nunca disse o contrário.
Minhas palavras saem ríspidas, e volto a olhar para ela, que parece demorar um pouco para digerir seja lá o que aconteceu agora. Amerie sai do elevador depois de dois minutos de silêncio, e me sinto irritado automaticamente.
Ela deveria saber que eu não sou o príncipe que ela espera, e que nunca vou ser. Amerie estava começando a criar uma imagem de mim que não existia, começando a achar que se eu me esforçasse, poderia ser melhor. Era um péssimo erro. Terrível mesmo, e principalmente para alguém que tinha um coração tão bom quanto o dela. Talvez estivesse pensando que no fundo do meu ser, eu fosse um cara legal e decente, que só precisasse de um pouco de incentivo. Mas quanto mais cedo ela percebesse que esse cara não existisse, tudo ficaria mais fácil.
Falta um ainda hein
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