Amerie
Prendo meu cabelo em um rabo de cavalo depois de secar. Não gosto muito de penteados, mas sem dúvidas um dia inteiro de piscina exigiu muito da saúde do meu cabelo.
— A quanto tempo vocês estão nisso? — Holly me pergunta enquanto descemos a escada.
Hoje estava chovendo bastante, como quase todos os dias nessa cidade. Então eu e Holly só decidimos aparecer depois das onze da manhã já que era domingo. Com exceção de mim, todos os Grimaldi tinham ido embora já que o susto tinha passado. Meu pai ainda estava em repouso, claro, mas Valerie garantiu que ele não corria mais nenhum risco.
— Acho que sete meses. — Respondo por que sei que ela está perguntando de mim e Sebastian.
— E aí você quer casar com ele? — Ela pergunta, cética. — Mare, eu amo você do fundo do meu coração mas acho que está cometendo um erro.
Não me sinto ofendida por quê era exatamente a reação que eu esperava. Holly era durona e tinha aversão a ideia de relacionamentos, tão calculista que nunca tinha tido nenhum namoro sério, e não parecia muito animada para ter.
— É diferente, você sabe que pessoas da realeza não passam anos namorando. — Digo quando entramos na cozinha. — Noire, pode dizer a Holly que ela precisa parar de achar que vamos ser solteiras para sempre?
Noire era a governanta da casa desde que meus pais se casaram, e tinha uma saúde de ferro. Fazia questão de continuar trabalhando mesmo que estivesse aposentada e na maioria das vezes, nem fazia nada. Oliver e Zoe mantinham ela por pura consideração, já que ela era praticamente da família.
— Eu vi ela e o primo do seu namorado na cozinha ontem, não parecia querer ser solteira para sempre. — Ela responde com um sorriso e joga uma maçã verde para mim, que pego no ar. — Aliás, ele é bem bonito.
— Bonito e insuportável. — Holly revira os olhos e faz um bico gigante antes de falar.
— Ei! — Me ofendo. — Neil não é insuportável.
Nesse exato momento Sebastian entra na cozinha acompanhado do meu irmão mais novo Todd, que tinha cortado o cabelo recentemente e parecia uma pessoa normal agora.
Me impeço de dar pulinhos de felicidade com a cena, mas é quase impossível. Ver Sebastian se dar bem com a minha família me trás tanta paz que não consigo expressar em silêncio. Fiquei de bom humor o dia todo quando vi ele e Adam juntos conversando de forma civilizada, e Aaron nunca seria rude o suficiente para dizer que não gostava dele, mas sei que no começo achava que não era uma boa ideia.
Eu também achava que não.
— Bom dia bela adormecida. — Sebastian beija meus lábios e solta um sorriso doce depois.
Devolvo o sorriso como uma idiota. Ele sabe que vou aceitar. É impossível que não saiba depois desses dias. Tudo que viria a seguir, a monarquia que eu teria que carregar nas costas, nada se comparava a uma vida inteira sem Sebastian.
— Você acorda cedo até em domingos de chuva? — Arqueio a sobrancelha.
— Todos os dias antes das cinco. — Ele fala me fazendo ficar chocada.
Um raio ilumina o céu mesmo sendo de dia, e a chuva começa a bater com mais força na janela.
— É terrível ter uma irmã tão cegamente apaixonada por um cara branco, loiro e que tem olhos azuis. — Todd diz para Holly e ela concorda.
— Os filhos brancos deles vão falar coisas como "minha família inteira é negra, então eu também sou". — Holly continua e suspira falsamente.
Caio na gargalhada quando percebo que Sebastian não está desconfortável e meus irmãos me acompanham. Ele apenas revira os olhos e solta uma pequena risada achando tudo bem besta. Lanço um olhar de agradecimento a Todd, por quê sei que ele deu o seu máximo para que Sebastian se sentisse o mais confortável e incluso o possível. Como sempre fazia com qualquer pessoa que conhecia. Ele sílaba um "por nada" sem som quase imperceptível para mim e faço uma anotação mental para agradecer a ele com uma bandeja de brownies depois.
Todd e Holly desaparecem com a desculpa de alguma coisa, mas sei que querem nos deixar sozinhos. Aproveito a deixa para levar ele até a estufa de Noire. Tem uma pequena chance dele nunca sequer ter chegado perto de terra, e era o meu lugar preferido quando criança.
— A pequena Amerie ama as flores. — Sebastian zomba assim que entramos na estufa e eu reviro os olhos. — É a sua cara.
— Eu adorava vir aqui no verão. — Ignoro seu cinismo. — Nós só temos dois meses de calor.
— Mas ainda assim é frio. — Ele ri e eu concordo.
— Em comparação a Mônaco é inverno. — Falo e toco uma peonia. — Oliver fez chover flores para minha mãe na renovação dos votos dele.
Tinha ouvido essa história milhares de vezes. Por diversas pessoas que estiveram presentes no dia. Eles tinham tido um relacionamento difícil no começo, então a história ficava ainda mais bonita.
— Não consigo imaginar um cara como Oliver fazendo isso. — Sebastian diz e eu concordo.
— Na época ele ainda era pior do que é hoje. — Falo enquanto observo Sebastian.
Ele me olha do outro lado da mesa que paramos. A intensidade dos seus olhos azuis fazem todo o frio sumir.
— Talvez parecido com Adam? — Ele arqueia uma sobrancelha.
— Não, todos dizem que Adam é bem pior que ele. — Garanto com um sorriso enorme no rosto. — Acho que é a única pessoa que bateu de frente com meu pai.
Adam tinha sido uma pessoa horrível a alguns anos atrás, mas graças a Deus tinha mudado bastante desde que casou. Óbvio que isso não era consequência do casamento, mas ele parecia ter acordado para coisas que nem sabia que existia. Ele ainda surtava por algumas coisas e odiava mudanças, mas se esforçava para ser alguém melhor.
Sebastian fica em silêncio enquanto observa a estufa com curiosidade. Acho que realmente acertei em cheio quando pensei que ele nunca tinha visto uma estufa na vida.
— Sua estufa é adorável. — Ele diz em voz alta como se pudesse ler meus pensamentos. — A minha mãe tem uma, pequena em comparação a essa, mas ela adora.
A declaração me pega de surpresa e eu pisco os olhos algumas vezes.
— Se você gosta de flores, por quê fez piadinha quando entrou? — Pergunto vendo ele soltar um sorrisinho de lado.
Maldito sorriso.
— Gosto de irritar você. — Ele ainda está sorrindo ao dizer. — Aliás, gosto de você mais de qualquer coisa na vida.
Ele desvia os olhos assim que fala, voltando a sua atenção para a flor que eu estava tocando antes.
Sinto meu estômago se revirar no mesmo momento e o clima parece mudar instantemente. A confissão me atinge com uma força assustadora, porque também gosto de Sebastian mais do que tudo na vida. Ele nunca tinha falado sobre seus sentimentos abertamente, nem mesmo quando tinha me pedido, ou melhor, exigido que eu me casasse com ele. Sebastian tinha passado por muita coisa e não se sentia confortável em expressar seus sentimentos e eu entendia. Entendia isso mais do que a maioria das pessoas, eu sabia que ele gostava de mim e jamais pressionaria ele a dizer, mas escutar tinha sido a melhor coisa do mundo.
— Bash, seu pai tá aqui. — Norman aparece molhado no meu campo de visão pela primeira vez do dia.
Olho para o rosto de Sebastian esperando algum vestígio de tensão, mas não encontro nenhum. Ele parece bastante calmo.
— Isso ia acontecer mais cedo ou mais tarde. — Ele dá ombros como se não se importasse. — Na verdade, eu achei que ele viria antes.
Ele vem até mim em apenas dois passos curtos e percebo que minha testa ainda está franzida quando seus lábios tocam acima da minha sobrancelha.
— Ele vai dar um chilique agora. — Seu sorriso brilha em diversão. — Mas eu prometo que volto logo.
Norman me encara com a expressão mais estranha que já vi ele fazer, e Sebastian sai da estufa um minuto depois de me dar um beijo rápido.
Fico encarando a porta que eles saíram por um tempo enorme. Estática. Me sinto grata por Adam não estar aqui e me sinto apreensiva pelo pai de Sebastian. Ele não parecia animado com a ideia do meu relacionamento com o filho e sei que ele não iria deixar Sebastian fazer o que bem entendesse, não quando a coroa estaria em nossas cabeças daqui alguns meses.
Um raio ilumina o céu novamente e o barulho não para pelo os próximos trinta segundos.
Outro mimo, beijinhossss
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