Capítulo 4
Após passar horas dirigindo, Octo chega onde Kate chama de bunker, um lugar longe da cidade, inexistente no mapa, que costuma usar quando precisa literalmente sumir de vista. Já fazia um bom tempo que ele não ia àquele lugar, e nas poucas vezes, fora para descansar e não em uma situação de real perigo. A casa é bem no interior, assemelha-se a um sítio com uma aparência simples e rústica, e assim que estaciona, percebe que está iluminada e aberta para deixa-la arejada. Kate provavelmente pediu para que os caseiros a preparassem, eles recebem ordens por telefone para cuidarem da casa que também deve estar abastecida, e são bem pagos para isso.
Ele desembarca do carro, e abre o porta-malas revelando uma mulher furiosa. Ela salta surpreendendo-o, com uma chave de roda na mão na tentativa de ataca-lo. Com uma velocidade de reação incalculável, Octo desvia a tempo de levar o que seria um belo golpe no rosto. Nika se mantem de pé em frente ao homem que praticamente a sequestrou, e ainda a fez ficar por horas dentro do carro quase sem oxigênio. O tempo que permaneceu lá, fora o suficiente para achar algumas ferramentas que poderia usar a fim de se defender pensando racionalmente. Não podia deixar que o pânico a tomasse, passou a viagem ainda tentando entender o que estava acontecendo e com medo do que viesse acontecer.
Não queria sair de um inferno e entrar em outro, pensou. Sabia que o que tinha em mãos, poderia não ser eficiente o bastante para conseguir se defender, além do mais, ela o vira lutar e o quanto era bom nisso. Ela bufou percebendo que não tinha qualquer chance, mas não deixaria de tentar, então assim que o carro parou, se preparou para quando a mala fosse aberta tentando pega-lo de surpresa, o que não adiantou. Ele era rápido demais.
— Você é louco, eu quase morri sufocada. – ela esbravejou mantendo-se em posição de ataque.
— Acha que eu me importo? – ele respondeu secamente. A verdade era que ele não estava afim de enterrar nenhum corpo naquele terreno, sabia o tempo máximo que ela poderia ficar no porta-malas.
Ela permaneceu o encarando desejando poder quebrar seu rosto perfeito.
— Onde nós estamos?
— Não acho que te deva satisfações. E eu não faria isso se fosse você. – apontou para o objeto que ela tinha em mãos
Como se a última frase a desafiasse, Nika partiu para cima de Octo tentando acerta-lo, mas tudo o que atingiu foi o vento, pois ele reagiu rapidamente, tornando impossível atingi-lo. O pouco de paciência que ainda restava em Delazare, havia acabado de se esvair. Queria apenas estar em um lugar seguro para poder apurar o que havia acontecido, mas a mulher parecia querer aborrecê-lo. Com tentativas inúteis de acerta-lo, Octo teve vontade de rir pela primeira vez em muito tempo. Ela era pequena comparada a ele, magra – até demais, constatou -, mas estava tão enraivecida, que um homem considerado "normal" talvez se assustasse com a atitude firme com a qual o atacou.
Pretendendo acabar de vez com aquilo, ele agarrou seus pulsos facilmente e em movimentos rápidos a deteve, colocando-a de costas contra o seu peito, segurando seus braços cruzados à frente do corpo. Ela se debatia na tentativa de fugir do aperto, porém Delazare era forte e hábil demais.
— Eu disse para não fazer isso. – sussurrou em seu ouvido, provocando-a. Isso a deixou mais furiosa, considerando-se fraca. — Da próxima vez não deixarei passar. – completou soltando bruscamente.
Ela cambaleou alguns passos à frente quase indo ao chão. Esfregou os pulsos que haviam sido bastante apertados, e só agora observou a sua volta. O lugar era bastante agradável, a lua iluminava o terreno descampado, algumas árvores balançando com o vento, e a pequena casa que já estava aberta e com as luzes acesas. Antes de fechar a mala do carro, ele apanha a bolsa da mulher e a joga em sua direção, porém ela acaba indo ao chão e seus pertences se espalham pelo gramado. Como se nada tivesse acontecido, Octo pega sua bagagem no banco do carona, cobre o carro com uma manta de proteção, e entra na casa, ansioso por um banho, depois de terem descido naquele tubo de descarte, talvez precisasse de uns dez.
Nika queria poder dizer que nunca se sentiu tão humilhada, mas não era uma verdade, e aquela não era a pior situação que já passara. Depois de catar suas coisas e respirar profundamente engolindo a fúria que a tomava, ela praticamente corre atrás do homem, jamais iria querer ficar do lado de fora em um lugar que somente a casa era iluminada, o resto era praticamente impossível de enxergar. A natureza poderia ser um verdadeiro calmante para algumas pessoas, mas poderia ser aterrorizante para outras, e no caso de Nika a segunda opção se encaixava melhor. Porém, era impossível ignorar o cheiro delicioso de terra úmida, o ar puro e o som dos grilos fizeram com que ela esboçasse um pequeno sorriso. Há quanto tempo não olhava o céu, ou respirava algo que não fosse a fumaça das drogas que eram jogadas propositalmente em seu rosto? Por incrível que pareça, aquela situação tinha gosto de liberdade.
Adentrando a casa, analisa-a. É composta por uma cozinha americana, uma sala com um sofá de três lugares de frente para uma televisão pendurada na parede, e uma mesa de centro em cima de um tapete claro e felpudo, tudo muito limpo e arejado com uma iluminação baixa e aconchegante. Octo retira o paletó e afrouxa a gravata enquanto Nika observa tudo em volta, inclusive no homem que acabou de pendurar uma peça de roupa na banqueta da cozinha. Ele mexe na geladeira recentemente abastecida e apanha dois refratários com comida congelada e põe no forno. Com a sua mala em mãos, vai para o quarto e liga o notebook sobre a escrivaninha, e enquanto inicia, separa duas mudas de roupas.
Ao voltar, Nika está no mesmo lugar, porém agora sem os saltos, colocados de lado. Óbvio que a ideia de sair correndo lhe passou pela cabeça, mas para onde? Não sabia onde estava, quem ou o que poderia ter do lado de fora, e o tamanho do poder que esse homem tinha. Seria facilmente encontrada e tinha experiência o suficiente para saber que não se deve deixar um homem "daquele" com raiva
— Precisa de um banho. – diz arremessando uma calça de moletom e uma camiseta sua, que irão ficar enormes em seu corpo, mas por enquanto não há outra opção.
— Você também. – ela responde sentindo-se ofendida. Ele bufa, e fecha os olhos pedindo aos céus paciência. Estava lidando com uma criança? Foi como Nika se sentiu depois de falar sem pensar.
— Não demore.
Ela faz o que ele pede e entra no banheiro de decoração clara e harmoniosa. Encosta na porta fechando os olhos se perguntando o que será da sua vida, que de uma hora pra outra se tornou um verdadeiro caos. Nika se desfaz de suas roupas, de seus acessórios, e ensaboa seu corpo depois de se colocar embaixo d'água. Esfrega seu rosto tirando a maquiagem pesada que é obrigada a usar e o perfume barato e enjoativo que lhes são oferecidos. Após todo esse processo, ela passeia pelo seu corpo a macia toalha enxugando-se, e põe as peças de roupas masculinas que ficaram enormes, mas que com alguns ajustes tampariam onde deveria. Nika estava extasiada por se sentir limpa pela primeira vez em muito tempo, a sua pele, seus cabelos, as peças de roupa que expelia o aroma do amaciante, a maciez... Seria errado estar se sentindo tão bem no meio daquela situação?
— Condenem-me. – murmurou para si mesma.
Octo abre a geladeira e bebe água sentindo o líquido gelado descer por sua garganta que traz um certo alívio enquanto espera a mulher sair de seu banheiro. Ele ainda se perguntava onde estava com a cabeça quando a levou para sua casa de segurança. Na verdade, queria saber por que não havia conseguido dar um fim naquela situação. Assim que ele ouve o barulho da porta do banheiro, recompõe sua solidez que se esvai novamente segundos depois, assim que a avista.
EEEEHHH !!! Finalmente saiu o capítulo rsrs
Espero que tenham gostado :D
Ah! E como de apenas uma história não se vive um leitor, vou deixar uma dica aqui para vocês da minha amiguissíssima @HelenaYaraAraujo6 que vem arrasando com "Dream Girl".
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Beijoos, até a próxima! :*
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