58. Casa nova.
2.564 palavras
Não se esqueçam de comentar e favoritar se gostarem do capítulo, obrigada!
Seis meses depois
OS MEUS PÉS estão enormes e a minha barriga também, eu estou com sete meses. Sete meses da nossa próxima integrante da família. Sim, é menina. Infelizmente Mike está para trás nesse quesito, mas vamos ter mais uma menina, a Maggie. Tecnicamente a Thea escolheu o nome, porque é de um desenho que ela gosta. Na verdade, não foi decidido, um dia ela simplesmente começou a se referir à irmã como Maggie e pegou. Eu e o Mike, junto com a nossa família, começamos a chamá-la assim e é realmente um nome lindo.
Maggie.
Bom, estamos de mudança para a nossa casa nova e sim, uma casa. Não nos programamos muito durante a minha gravidez. Na verdade, foi bem ao contrário disso, no mês passado começamos a pensar nisso. Quando fizemos o chá de bebê e não tínhamos lugar para guardar tudo. Então Mike deu uma olhada pela cidade. Conseguimos uma casa maravilhosa bem no sul de Atlanta. Uma casa de três andares, revestida com um piso de madeira e quase toda mobiliada. O que foi bom, já que o apartamento, por mais que esteja lotado, não encheu nem o primeiro andar da casa.
Estou apoiada na varanda do meu quarto, é no segundo andar e ocupa basicamente todo ele. É enorme e tem um closet e um banheiro com banheira. Mike está lá em baixo com os caras da mudança trazendo tudo para os cômodos. O vento está bem gelado, o Outono está começando. O frio vem e logo vamos estar congelando.
— Mamãe? — Thea chama a minha atenção, puxando meu casaco.
— Sim, meu amor?
— Como vai ser agora? — Ela faz sinal para que eu a pegue no colo, mas apenas a levanto e a coloco na grade da varanda.
— Como assim, pequena?
— A Maggie consegue me ver?
— Não. Não enquanto ela estiver aqui dentro. — Ela anda um pouco sob a grade e encosta a cabeça na minha barriga.
— Oi, mana. Tudo bem? Pode me ouvir? Hum... se puder, saiba que estamos nos mudando. Antes a gente morava num lugar bem pequeno. Agora a gente vai ter todo o espaço do mundo. Você não faz ideia do quão legal é isso... Tô esperando você aqui fora... — Ela beija a minha barriga e eu sorrio para ela.
— Vamos lá ver se o papai precisa de ajuda?
— Sim!
Então começamos à descer as escadas e o Mike acaba de colocar uma caixa no chão da sala de estar. Os seus olhos brilham e a Thea corre pela porta e vai para algum lugar. Provavelmente para o quintal, ou para o jardim. Lugar de onde nem eu nem ela saímos desde que chegamos. Ele para seus olhos sobre os meus e seus braços envolvem a minha cintura. Uma gota solitária desce pela sua bochecha e eu sorrio. Ao mesmo tempo ele sorri e eu não consigo ver a minha vida de uma maneira menos plena ou bela. Eu apenas amo. Amo tudo o que conquistei. Amo tudo o que a vida foi capaz de me proporcionar nesses últimos cinco anos. Um casamento incrível, um marido maravilhoso e duas filhas perfeitas. Como eu amo cada pedaço deste quebra-cabeça que eu comecei a montar junto com eles.
— Eu amo olhar para você todos os dias. Eu amo perceber que você fez, faz e vai continuar fazendo a minha vida valer à pena todos os dias da minha vida. E que se ela for curta, espero, pelo menos, ter você e esse sorriso todas as manhãs quando eu acordo e todas as noites antes de dormir. Eu sou grata por esses anos ao seu lado e por você me fazer a mulher mais feliz do mundo. Eu sou grata por você ter me proporcionado mais do que amor. Você me ensina à viver todos os dias... Eu te amo, Mike... — Seus olhos brilham mais uma vez e ele aperta a minha cintura, Maggie dá um leve chute e durante o beijo ele sorri.
— Pode ter certeza que vocês fazem a minha vida valer à pena na mesma intensidade ou até mais. Eu te amo cada dia mais, minha princesa...
Não há palavras no mundo que possam descrever os momentos que eu passo com eles. A sensação de ter a minha própria casa com a minha própria família me conforta de uma maneira incompreensível.
— Por mim eu ficaria a eternidade aqui abraçado com você, mas tenho muita coisa para fazer hoje e ainda preciso passar na empresa resolver umas coisas. — Ele me dá um selinho. — Eu te amo, amor.
— Eu também te amo. Vou ver como a Thea está e arrumar ela para a escola.
— Tudo bem.
Saio pela sala de estar e passo pela enorme porta de vidro da sala, que dá visão ampla para todo o jardim da casa. Os portões acabaram de se fechar e o caminhão que trazia tudo se foi. Mike passa com três caixas empilhadas direto para a garagem. Olho em volta e a Thea está se balançando no parquinho.
— Vamos, meu amor, já está na hora de se arrumar para a escola — digo, me aproximando dela.
— Ah! Eu não quero ir... — Ela para o balanço na hora e vira para trás. Os cabelos cacheados e loiros caem pelos olhos e ela sorri.
— Vamos, amor. Hoje é dia de filme. Lembra?
— Sim, mas...
— Não, querida, você vai sim. Vem tomar banho.
Ela sorri timidamente e desce do balanço e vamos caminhando até a entrada de casa. Ajudo-a tomar banho por um momento e depois a deixo para separar sua roupa. Arrumo tudo e deixo em cima da cama. Enquanto ela se arruma eu vou para a cozinha. A Lori insistiu em mandar a empregada dela para a minha casa, mesmo eu tendo feito tudo sozinha sempre.
O Mike levou a Thea para a escola hoje, depois do almoço eu fiquei arrumando mais algumas coisas na casa e então resolvo sair um pouco para tomar um ar.
Quando passo pelo jardim na praça aqui do condomínio vejo um monte de Rosas nascendo na beirada do banco, sinto um vento forte e o cheiro delas me guia. Vou até lá e com um pouco de dor no coração arranco uma. Pego um táxi até o cemitério da cidade. Faz seis anos que a minha mãe se foi. Seis anos que Mary Louise Highgate não nos traz alegrias com seus sorrisos e amor de mãe incomparáveis. O caminho todo eu vou cheirando o perfume daquela rosa.
Eu venho aqui todos os meses, é como se eu sentasse aqui e enquanto eu falo com ela, as minhas forças se renovam e eu consigo me sentir mais forte. Ou pelo menos forte o suficiente para continuar lutando pelas coisas que eu quero. Toda vez que eu sento aqui e coloco uma Rosa é como se eu sentisse o abraço dela me aconchegando. Um vento quente atravessa meu cabelo e eu respiro um ar tão puro quanto ela.
— Bom dia, Clary! — Tommy, o zelador do cemitério, me cumprimenta como sempre. Ele está trabalhando aqui há uns dois anos.
— Bom dia, Tommy, como vai? — Sorrio, colocando o celular no bolso e arrumando a rosa na mão enquanto ele limpa a entrada do local.
— Vou bem. Semana passada eu não te vi aqui, o que aconteceu?
— A minha filha passou mal e eu precisei levá-la ao hospital.
— Como ela está agora?
— Bem, obrigada.
— E o seu bebê?
— Bem do mesmo jeito. Falta pouco. — Sinto um chute de leve.
— Admiro esse seu amor pela sua mãe. É lindo e tenho certeza de que ela cuida de vocês todos os dias, a minha mãe se foi quando eu tinha três anos. Ela traia o meu pai enquanto ele ia para a guerra. Então aos quatro anos eu e meus irmão fomos morar com uma tia na Alemanha.
— Eu sinto muito.
— Sem problema. Todos temos nossas descrenças do passado para resolver. Tenha um bom dia, Clary...
Não consigo responder nada, porque na mesma hora eu tenho toda a visão do meu pai na minha vida. Todas as vezes que ele chegava bêbado e batia em mim, no Jack e na minha mãe. Todas as vezes que ele saia de casa e não voltava. A vez que ele saiu de casa e só voltou para dar mais um tapa na minha mãe e assinar o divórcio. Uma corrente elétrica parece cruzar todas as minhas veias e eu sinto uma dormência enorme na minha perna. Caminho até o banco mais próximo e me sento. Coloco a Rosa do meu lado no banco e apoio a minha cabeça nos cotovelos. Uma sensação de arrepio me toma por inteira. É uma mistura de bom com ruim. Não sei descrever.
Mantenho meus olhos fechados por um momento, quando os abro, depois de uns dez minutos, uma mas estendida à minha frente segura a Rosa. Pego-a e ao olhar para o lado é o meu pai. Como assim?
— Clary? — ele diz, em tom baixo, com um semblante sincero, recolhendo as mãos para dentro do bolso do casaco.
— Pai... — Não sei se são palavras de desespero ou qualquer outro sentimento mas às lágrimas descem pelo meu rosto e caem direto nas pétalas da Rosa. Eu acabo deixando ela cair ao lado do meu pé e meus braços repentinamente o abraçam. O abraço dele se encaixa no meu e é uma das poucas vezes que eu me senti confortável com ele. — Como soube que eu estaria aqui?
— Na verdade, eu senti que precisava vir aqui hoje... — Ele me dá um beijo na testa.
Nesses últimos cinco meses meu pai tem mudado muito. Ele começou a participar de um clube de golf e está trabalhando em uma empresa de intercâmbios. Nunca mais arrumou nenhuma mulher e frequenta as nossas casas uma vez por mês. Na verdade, ele está completamente diferente, mas nunca dissemos isso. Foi simplesmente natural, mas pra mim é como se eu precisasse de palavras para deixar tudo isso concreto.
— Pode nunca ter parecido, eu sei disso, sei que nunca demonstrei e talvez até nunca tenha sentido... mas eu te amo, Clary. Tenho orgulho da pessoa que você se tornou. Por mais que eu tenha feito errado, eu não devia ter obrigado você à isso, mas querendo ou não você está feliz, não está?
— Nunca estive tão feliz. Eu não sei o que julgar dessa situação, você fez errado em basicamente me vender para uma família desconhecida, mas acontece que se isso não tivesse acontecido talvez eu ainda estivesse lá, cuidando de alguém, fazendo Enfermagem e trabalhando no trabalho mais merda do mundo. Talvez eu não tivesse sido tão forte quanto eu sou hoje.
— Eu tenho orgulho do que você se tornou. Da Jornalista que você é e que batalha para ser cada dia mais. Tenho orgulho da mãe maravilhosa que você se tornou. Você é tão boa quanto a sua mãe...
— Você nunca deu valor nela.
— Eu sei disso e é uma das coisas que eu mais me arrependo. Agora eu sei o quanto ela era importante para essa família. Ela era o pilar de tudo, depois de tudo o que eu fiz para ela ela ainda teve coragem de levantar a cabeça e lutar com todas as forças. Por você, pela Lori e pelo Jack. Eu sinto muito, Clary. Me perdoe por ser um pai horrível e ridículo, me perdoe por ser essa pessoa cheia de erros, defeitos e outras mil coisas ruins. Me perdoe por ter feito você passar por tantas coisas ruins e ter te obrigado a presenciar coisas horríveis.
Os meus olhos transbordam de lágrimas e o meu coração também. Eu sei que ele sendo sincero, ou pelo menos a parte inocente de mim acredita que nunca saíram tantas palavras honestas dessa mesma boca.
— Eu te perdoo com todas as letras, pai. Eu te perdoo e sei que a mamãe, a Lori e o Jack também te perdoam. Nunca é tarde demais.
— Como eu pude fazer mal à um ser tão puro como você? — Mais uma vez ele estende os braços e eu me acolho. As lágrimas descem incessantemente.
Depois de mais de vinte minutos de muito abraçar e lágrimas, pego a rosa que caiu ao lado do meu pé e nós nos levantamos. Damos as mãos e andamos em direção ao túmulo.
Coloco a Rosa em cima do mesmo, os meus olhos brilham devido à tudo. Sento-me na escada que dá de frente com a sua foto. Seu sorriso é igual ao da Thea. Olho de longe e o meu pai está olhando para o horizonte, peço um tempinho para ficar à sós com ela.
— Oi, mãe. Eu estou com saudades de você. Tanta coisa aconteceu nessa semana. Eu e o Mike temos a nossa própria casa. É uma casa grande para nós quatro. Eu estou trabalhando em um novo cargo no jornal como redatora. Você não faz ideia da falta que faz, mas eu tenho você todos os dias. Inclusive, a Thea tem o seu sorriso. Eu juro, mãe, é igualzinho. E eu sei que nunca vou me sentir sozinha com ela do meu lado. Eu amo você, mamãe... — Sinto uma mão no meu ombro e dou um pulo para o lado. — Lori, sua louca! — Ela se senta do meu lado, depois de colocar um bouquet de copo-de-leite em cima do túmulo, ela passa a mão pelas minhas costas e apoia a cabeça no meu ombro.
— Sabia que estaria aqui. — Nossos olhares ainda não se cruzam.
— Eu sempre estou.
Então a mão dela passa pela barriga, a Lori está grávida de quatro meses e é uma das coisas mais maravilhosas que já aconteceram na minha vida. Ela é minha irmã e os nossos bebês vão nascer com poucos meses de diferença. Ver ela feliz em ser mãe é muito gratificante para mim.
— Você sabe que eu quero ser um mãe tão boa quanto você e a mamãe, não sabe? — Ela levanta um pouco o rosto e apoia o queixo no meu ombro.
— Você vai ser tão boa quanto qualquer uma de nós, meu amor. Você sabe disso. — Sorrio para ela. — É uma coisa que você não sabe explicar. Você simplesmente já é, você é sempre a melhor mãe do mundo, independente do que faça. Independentemente de tudo. Você vai ser maravilhosa, pelo simples fato de ter aceitado o desafio de ser mãe. Você não vai ser só boa o suficiente, você vai ser boa ao cubo. Como sempre. — Deposito um beijo em sua testa e ela me abraça forte.
Ficamos mais alguns minutos lá e a Lori nota que nosso pai está ali. Então os dois vão para algum lugar conversar enquanto eu vou acertar uma conta em uma loja da esquina. São umas coisas de ballet que eu comprei semana passada para a Thea e hoje é o dia do pagamento.
Chego em casa às sete e meia, o Sol está começando a se pôr. O Mike e a Thea estão no jardim colhendo cerejas. Apenas digo que preciso ir para o quarto, passo pela cozinha e coloco as coisas do almoço para esquentar. Enquanto isso subo as escadas e passo em frente ao quarto da Maggie. Só de pensar que daqui alguns meses ela vai estar nos meus braços, depois andando e de repente falando e brincando com a Thea meu coração aperta. Aperta por não ter a melhor pessoa da minha vida presente nesses momentos.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro