30. Meias Explicações.
1.673 palavras
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Dois meses antes
— Leslie, para, por favor, acabou, a gente não tem mais nada. Chega. Você não precisa mais desse teatro todo, pega as suas coisas e saia. Já não aguento mais...
Leslie Lottie é uma amiga minha, durante os últimos meses está para bem mais do que amiga, mas isso nunca foi muito sério para mim. Ela sempre considerou tudo o que tivemos, por mais que para mim nunca foi muito coisa, ela mora em um apartamento aqui do lado da empresa, ela, a mãe dela e a irmã mais nova. Leslie nunca trabalhou, estão com três meses de aluguel atrasado, eu sempre soube que ela nunca foi a das mais responsáveis.
Acabei contando à ela sobre o casamento assim que o meu pai me contou, ela literalmente pirou, achou que estava certa de que eu e ela teríamos alguma coisa pelo resto da vida. Acabei sendo rude com ela e então paramos de nos falar, hoje ela veio aqui me dizer que está arrependida e que ela pode se casar comigo, mas de uma certa forma eu não consigo aceitar, não consigo aceitar me casar com alguém que eu conheço há mais de dez anos, mas consigo me casar com alguém que eu não sei o nome.
— Mike, como assim? — Ela continua sentada na poltrona da minha sala, eu estou sentado à sua frente, meu olhar não deixa mentir que Leslie está enchendo a minha paciência.
— Eu já mandei você sair. — Levanto e bato a mão na mesa, suas mãos se recuam para trás.
— Já sei porque está assim. — Ela se levanta, mexe na camiseta e pega a bolsa que está ao lado das cadeiras. — Você está assim por causa da vadia com quem vai se casar. Desde que você disse que vai se casar com essa daí você não me trata mais como antes? O que essa idiota tem que eu não tenho? — Enquanto ela faz o discurso eu encaro-a perplexo.
— Dignidade — digo, mesmo que eu não saiba literalmente nada sobre a mulher com quem eu vou me casar.
Leslie sai furiosa da sala, bate a porta. Jogo-me na poltrona à minha frente, foco na janela enorme que está à minha frente, coloco a mão na testa e fecho os olhos, os meus pensamentos estão à mil, não consigo tirar essa ideia da minha cabeça. Caminho até a enorme janela de vidro, olho toda cidade de Atlanta pelo vidro, tudo parece tão pequeno. Alguns carros se movem, não é horário de movimento, é a única razão pela qual as pessoas andam tão rápido e os carros locomovem-se à duzentos quilômetros por hora. Apoio na janela e ouço o telefone tocar. Pego-o do ganho e deixo no viva voz.
— Senhor Zeiss, seu pai pediu para que você vá para a sala de reunião. — A voz de Jolie sai rasgada do telefone. Aperto o botão de desligar e sento-me de volta na poltrona.
Alguns minutos depois de eu ter ignorado completamente o recado de Jolie, ouço a porta bater com força. Olho em volta e meu pai entra na sala, furioso, o rosto está vermelho, como quem estava chorando ou pegando fogo. Já sei porque ele está assim. Ele odeia o simples fato de alguém não obedecer a ele. Ele senta na poltrona ao meu lado e abaixa a cabeça.
— O que você queria? — peço, ajeitando-me na cadeira e virando-me para ele. — Está tudo bem?
— Você sabe, Mike. Você sabe muito bem. Você ainda não me disse nada sobre o que eu falei para você semana passada.
— Tá, tudo bem. Não tem outro jeito, não é? — Ele levanta o olhar. — Mas você também me deve uma explicação.
— Por isso eu pedi para que você fosse na sala de reunião, mas já que você provavelmente não iria. Então eu resolvi vir aqui. Sei que devo algumas explicações.
— Algumas?
— Por favor, filho.
— Eu sei que vai ter esse casamento, mas ainda não entendi o por quê.
Semana passada meu pai me disse que ele tinha uma proposta irrecusável para mim, mas ele não me disse a razão pela qual faríamos isso. Ele simplesmente disse em um jantar de família que eu ia me casar. Assim, do nada. Pode parecer engraçado ou estranho, até eu pensei nisso. Não ter controle sobre a minha vida? Definitivamente é assim que eu me sinto, mas já que eu sempre me entreguei de corpo e alma para essa empresa, eu preciso arcar com algumas consequências. Se bem que essa pode ser a melhor de todas.
— Filho, o motivo principal desse casamento é que a empresa está falindo... — ele diz, depois de um longo tempo me encarando.
— O quê? Como assim? Eu... eu vi as finanças esses dias e...
— Acontece que ontem eu tive uma reunião com o gerente do banco e uma outra empresa passou a perna na gente. Uma empresa do Japão, filho, não tem outro jeito. — Ele parece extremamente fixado em mim.
— Tudo bem — digo, mesmo que não esteja. — Mas o que exatamente esse casamento tem a ver com a empresa falir?
— Na verdade, ela tem uma transferência com a empresa, uma coisa de alguns anos. O pai dela é um cliente meu.
— Nunca ouvi falar deles. — De fato, quase ninguém aqui da empresa passa sem falar comigo ou ter o meu consentimento.
— O pai dela é um amigo meu há anos, vocês nem conhecem ele, mas isso não é uma coisa relevante. O que realmente importa é que ela vai fazer a transferência para a empresa, isso vai ajudar a sairmos do buraco.
— Essa parte eu entendi, pai — digo, quase levantando-me da poltrona de raiva. — Eu só quero saber o porquê do casamento...
— Calma, na verdade, ela precisa fazer a transferência só se for casada. O banco fez uma nova lei, e como é um caso meio delicado o casamento vai dar mais estabilidade. Tudo bem com isso, filho? Eu não quero te obrigar a nada, mas vai ser muito importante salvar a empresa e você sabe muito bem disso. Você também sabe que eu quero passar a empresa para o seu nome, mas isso só é possível se você também for casado. Entenda que o seu futuro, o futuro da empresa e da nossa família dependem desse casamento e ela não viu problema no casamento. Até quer isso.
— A gente tem tantas outras empresas fortes que nos ajudam, por que não pedir à elas? — indago.
— Porque levaríamos anos e mais anos para pagá-las. Já essa moça nos disse que não tem problema algum em transferir o dinheiro sem receber nada em troca.
— Nada mesmo?
— Nada.
— Tudo bem, pai. — Ele me encara com um pouco de reprovação, mas assinto. Ele me dá um abraço um pouco estranho e sai da sala.
— A Leslie quer ver você, por favor, peça que ela e Clary não se encontrem. — Apenas concordo e ele sai da sala, fechando a porta com sutileza.
Não dá nem meio minuto que meu pai sai da sala e a Leslie abre a porta, estou sentado à mesa vendo alguns papéis que Jolie me deixou para ver hoje mais cedo. Algumas coisas sobre análises de suporte e um papel para autorizar a construção de um novo hotel na área sul de Atlanta. Leslie está parada na frente da minha mesa.
— O que você quer aqui? — peço, levantando o olhar e ela está de pé ainda.
— Você está certo dessa decisão, Mike? — Sua expressão é tão séria que chega a ser engraçada. — Vai se casar com a asinha.
— Sim, Leslie. Eu vou me casar com ela.
— Tudo bem, na semana que vem eu, a minha mãe e a Amélia vamos nos mudar.
— Conseguiram pagar o aluguel?
— Não.
Mexo na gaveta e pego um envelope, ela me encara por algum tempo e não tira a expressão engraçada do rosto. Seus olhos ficam pequenos a ponto de qualquer um achar que ela é japonesa.
— Pegue. — Estendo a mão. — Pague o aluguel e saia daqui.
— Eu não quero o seu dinheiro. — Ela cruza os braços.
— Você pode não querer, mas precisa dele. — Estendo mais uma vez. — Saia daqui, por favor, Leslie. Você não pode causar mais aqui. Já chega, está bem?
— Mike. — Ela pega o envelope e põe na bolsa. — Obrigada. Você nunca mais vai me ver.
— Aí tem dinheiro para pagar os alugueis atrasados e também um dinheiro a mais. Só não faça besteira. Use esse dinheiro com sabedoria.
— Posso te dar um último abraço, Mike?
— Claro. — Ela sorri. Então me levanto e ela passa os braços pelos meus ombros. — Tudo bem, Leslie. Tchau. — Ela solta e sorri para mim. Seus olhos estão vagos.
Vejo ela caminhar pela sala, fechando a porta e eu volto a sentar na cadeira. Ligo para mais algumas pessoas e autorizo a construção do Park Hot Hotel.
Vou para casa lá pelas oito e meia da noite. Tomo um banho e vou para o escritório de casa. Começo a trabalhar em uma maquete para uma janta da empresa. Vai ter uma apresentação, justo uma maquete para a construção da nova prefeitura da cidade. A nossa empresa foi convocada para fazer a demonstração porque é uma das mais renomadas de Atlanta. Essa maquete tem que estar pronta três meses.
— Filho. — Ouço a porta ranger de leve e minha mãe está parada na porta. — Já é uma hora, acho bom ir dormir.
— Oi, mãe. — Levanto-me, colocando alguma coisa na mesa e indo até ela. Dou um beijo em sua testa e ela me abraça.
— Tudo bem? O papai falar com você sobre o casamento?
— Sim e sim. — Ela dá risada.
— Você está bem com isso?
— Sim, mãe. Vou dormir agora. Boa noite.
— Tudo bem, meu amor. Até amanhã.
Patrícia está no corredor, dou boa noite à ela e vou para o meu quarto. Acabo dormindo lá pelas três da manhã, já que os meus pensamentos estão à mil. Não sei o que pensar, só sei que a minha cabeça não para e absolutamente tudo o que é possível está rodando na minha cabeça, a todo momento, sem parar.
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