05. Regras
O MEU FINAL de domingo foi, consideravelmente, bom. A minha mãe comeu bem, tomou os remédios e disse que não sentiu dor alguma durante as aplicações — são duas injeções diárias externas e quatro remetidos na veia, por dia —, tomou banho quase sozinha e a gente acabou, ela está estabilizada e dormiu feito um bebê à noite toda. Enquanto a Lori me ajudou a arrumar a casa.
Contei à ela sobre a mensagem que o papai enviou durante à tarde, a expressão de surpresa no rosto dela foi provavelmente igual à minha, mas de um jeito ou de outro eu precisava estar pronta para aquilo. Não é à toa que estou aqui, em frente ao guarda-roupas dela, olhando peça por peça, tentando achar algo que fique legal para a tal festa. As roupas da Lori são baladeiras, ou seja, pretas, curtas e coladas demais. Além do fato de ela ser uns trinta quilos mais magra do que eu, na verdade, eu não sou gorda, mas a Lori é magra mesmo, tipo anoréxica. Lembro de um vestido que eu ganhei da Myllena, na primeira e provavelmente última vez, que ela veio para cá, então corro para o meu guarda-roupas. Ufa! Ainda está aqui! Um vestido azul bem escuro, curto, com a parte das costas rendado, as mangas ¾ também rendadas e colado na cintura, vai até um palmo acima dos joelhos e é meio Balonê. Coloco ele e um salto preto. Faço cachos no meu cabelo longo preto. Passo uma maquiagem básica, faço o olho esfumado de marrom e passo um batom rosa claro.
— Uau, Mamacita! — Lori pega a minha mão e me gira. — Você é a garota mais linda que eu já vi, mana.
— Tudo bem, Lori, segure os seus cavalos. — Percebo que essa expressão é mais legal pensada do que falada, mas tudo bem.
O relógio indica que são oito horas e em poucos segundos ouço uma buzina lá na frente de casa. Assim que meus pés me guiam para fora de casa o meu estômago embrulha, eu nunca havia me sentido assim antes, talvez por que eu nunca estive prestes a me casar. Não sei se é assim que as noivas se sentem. Espero que não, por que não é legal ter dor de barriga.
A Lori me acompanha até à porta, mas vejo em seu rosto que a vergonha é tamanha que ela não consegue sair. Olho para o carro e meu pai pede para que eu me apresse. Também não sei como agir nessa situação, mas de qualquer forma eu preciso fazer isso.
— Oi, pai — digo, tentando quebrar o gelo.
— Oi, filha. Antes de sairmos temos algumas regras: primeiro: para você agora é Norman, seu PAI; segundo: você está mais feliz do que nunca em conhecer a nova família; terceiro: concorde com tudo e aceite; quarto: não pareça confusa, tudo o que eles disserem você apenas concorda; quinto: não responda não; e sexto: você é uma Jornalista, independente de tudo, está bem? Por favor. Entendido?
— Tudo bem, Senhor Norman. — Coloco o cinto de segurança e coloco a pequena bolsa em meu colo.
— Sétimo: sempre sorria.
— Oitavo: sem mais nenhuma regra ou eu estrago tudo o que está planejando, está bem?
Não falamos mais nenhuma palavra durante todo o caminho. Eu não sei o que aconteceria comigo se eu não aceitasse essa proposta, mas sei que a vida da minha mãe vale mais do que qualquer coisa, com certeza qualquer erro meu pode matar aquela que eu mais amo.
O caminho é bem longo, não chego a ser específica na contagem, mas dá bem mais de meia hora. Finalmente chegamos ao local. Uma verdadeira mansão. Com cinco andarem e ocupa pelo menos uns três quarteirões. A casa está cheia de carros lá fora e mulheres descendo com vestidos que valem mais do que eu paguei em seis anos de faculdade.
— Você não disse que era só para os mais chegados? — murmuro, enquanto desço a saia do vestido.
— Mas é.
Finalmente entramos na festa, um lugar decorado de vermelho e dourado, taças de champanhe para todos os lados, garçons servindo tudo o que é inimaginável. Coisas extremamente estranhas. Logo meu pai aperta o meu braço e eu sei que é a hora de atuar.
Chegamos perto de algumas pessoas e uma sensação estranha toma conta de mim. A aniversariante está com um vestido de paetê dourado é o cabelo loiro preso em uma trança embutida, ela é extremamente alta é linda, ao lado estão os pais dela, não parecem que tem uma filha de vinte e três anos e um de vinte e oito — que inclusive não tira os olhos de mim —, por último, o tal do Mike... um homem de um metro e noventa, exibindo um sorriso mais branco do que os dos comerciais de televisão, o cabelo preto milimetricamente penteado e um terno perfeito para o corpo dele, provavelmente torneado pela academia, os olhos castanhos e a pele moreno claro.
— Parabéns! — eu e meu pai dizemos, ao falar com a aniversariante.
— Muito obrigado por terem aceitado o nosso convite, senhor Norman. — Os dois apertam as mãos. — E senhorita... — o pai deles começa a falar, mas trava ao não saber o meu nome.
— Clary. Clary Highgate — Estendo a mão e ele aperta.
— Clary, soube que faz Jornalismo — comenta.
— Fiz. Me formei no final do ano passado.
— Onde está trabalhando? — Olho para o meu pai, que só retribui o olhar. Deixa comigo!, penso.
— Como acabei de sair da faculdade ainda não peguei nenhum serviço grande, mas estou trabalhando em um jornal local. — Meu pai dá um suspiro de alívio.
— Deve orgulhar-se de ter uma filha como essa, não é mesmo, Norman? — é a mãe deles que se pronuncia agora.
— Sim, a Clary é o meu tesouro. Vocês não vão se arrepender de ter ela em sua família. É uma menina de ouro. — Ele passa a mão pelo meu ombro e aperta.
— Que tal um brinde, para selar essa alegria? — Mike diz, é todos concordam.
Definitivamente eu sou a única desanimada para esse casamento, vulgo farsa. Eu só espero que essa merda não dure muito tempo, afinal, eu nem casei e já quero voltar para casa e sair de onde eu nunca quis entrar.
A festa está sendo até boa, na verdade, perfeita. É uma festa de ricos, só servem champanhe e comidas em mini porções, eu até esperei pelo jantar, mas aparentemente isso é o jantar, então fico na minha. As rendas da manga do meu vestido estão me irritando e me dando uma vontade imensa de arranca-las. As mangas pelo menos. Enfim saio do banheiro e meu pai está do outro lado do salão falando com o pai deles, a aniversariante está falando com umas amigas e volte e meia olha ao redor. Não vejo o Mike em lugar algum. Eu não sei bem o que dizer sobre ele, durante todo o tempo em que estivemos juntos na festa ele até me olhava, mas nunca falou nenhuma palavra sequer. Talvez ele seja envergonhado, mas como? Sendo que ele fez relações internacionais. Como eu sei disso? Meu pai me contou inúmeras coisas sobre ele quando foi lá em casa.
Começo a andar pelo salão assim que saio do banheiro, vou em busca do meu pai, já são duas horas da manhã e ele bebeu demais, preciso levar ele para casa e ele provavelmente vai dormir na minha, mas é que eu preciso cuidar da minha mãe, estou com medo que a Lori tenha esquecido alguma coisa ou dado o remédio errado — ela é boa aprendendo, mas já no primeiro dia eu largo ela com uma responsabilidade enorme. Quando estou andando eu olho para os lados e vejo mulheres lindas com vestidos longos, como se estivessem em um baile do século XVI. De repente acabo distraindo o meu olhar para baixo e bato em alguém.
— Desculpa, eu... — falo, enquanto bato mão no vestido, então ergo o olhar. — Ah, meu Deus, Mike, me desculpa, mesmo. Eu sou muito desastrada e...
— Tudo bem. Não precisa se desculpar. — Toca o meu ombro e depois no meu cabelo. — Será que podíamos conversar um pouco.
— Claro. — Faço uma cara de entendida e espero que ele fale, mas ele arqueia as sobrancelhas.
— À sós. — Um homem de poucas palavras. — Clary. — E cada letra que ele pronuncia do meu nome me deixa trêmula e com uma sensação estranha.
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