MUITAS GAROTAS aos vinte e quatro anos já tem a sua vida completa, estão formadas, provavelmente casadas, ou pelo menos em um relacionamento sério, a maioria delas tem tudo programado, se sentem felizes e dispostas para fazer qualquer coisa que a vida lhes proporcionar.

      Pena que isso não aconteceu comigo, na minha idade eu já estou formada. Tá bom: nessa parte está tudo certo. É a única coisa que eu tenho em comum com quase todas as outras da minha idade, mas enfim. Eu tenho uma vida conturbada, uma mãe com câncer há três anos, seu tratamento total é de cinquenta mil dólares, a aparelhagem, as cirurgias, os medicamentos, as as quimioterapias, tudo. Minha relação com meus irmãos não é a das melhores, muito menos com o meu pai, aquele bêbado inútil, que se separou da minha mãe para ficar com uma vadia, uns vinte anos mais nova que ele. E ainda por cima tenho um trabalho horrível, em um Hotel três estrelas aqui em Atlanta, como camareira.

      Qualquer pode pensar: tudo bem, mas a sua vida não é a das piores, tanta gente querendo apenas mais um dia para viver, você está reclamando de barriga cheia. Com certeza seria o pensamento de muita gente se soubesse o superficial da minha vida. Mas o que eles não sabem, é o que está guardado lá no fundo, no mais obscuro dos meus segredos. O que me leva a pensar que qualquer um um tem a vida que você vê, e cria hipóteses sobre a vida que a pessoa leva ser sempre melhor do que a sua, sendo que todos temos a vida que mostramos, mas também temos a vida que é nossa, que não contamos ou mostramos à ninguém, todos tem os seu lado obscuro, onde nem mesmo a própria pessoa tem coragem de abrir.