11. Quando Você Virou Karma
Karma é uma crença budista. Dory não era budista, nem tinha qualquer outra religião. Mas ela começou a acreditar em karma, caso contrário universo estava de sacanagem com ela.
Era um ou outro.
Porque era para Max estar-abre aspas-no quinto dos infernos-fecha aspas. Mas não. Maximillian estava ali, diante dela de novo como se o universo estivesse jogando um contra o outro por diversão várias e várias vezes. Ou talvez o universo fosse Amelia brincando de cupido.
-Para quem tá com uma perna lesionada, tá andando demais, não? -Max suspirou, pondo a mão no rosto. -Por favor, me diga que isso não é uma coincidência e que você é só uma andarilha que decidiu me perseguir.
Dory franziu o cenho.
-Você acha que eu, com três mil coisas para fazer vou querer perseguir alguém que nem conheço? -ela rebateu.
-Acho.
-Vai s...
-Vão querer uma mesa? -uma garçonete se aproximou fingindo não perceber o conflito no ar. -Um casal acabou de sair da mesa 13.
Max balançou a cabeça para a funcionária.
-Só para uma pessoa, por favor.
A garçonete pediu para que ele a acompanhasse.
-Adeus, Dory, pare de me seguir, -Max disse, diminuindo o tom da voz ao se afastar. -E boa sorte.
Dorothy sentiu vontade de arremessar seu lanche no rosto dele, mas seguiu o seu conselho e foi embora. Dessa vez a despedida foi menos complicada. Com ele sendo um babaca, a situação era mais fácil.
Ela andou dois quarteirões pensando nisso enquanto devorava o salgado. Dory uniu com dificuldade cinco motivos para abandoná-lo, como costumava fazer com suas listas, e prometeu que se conseguisse completar essa lista, ela iria embora de uma vez por todas.
1.Ele é um babaca e merece ficar sozinho.
2.Ele não precisa de mim.
3.Ele não me quer por perto.
4.Ele vai estragar o meu futuro.
5.Ele...
Parecia que a lista estagnou no quarto item. Por mais que ela tentasse, não conseguia pensar em um quinto motivo.
Dory parou por um segundo e olhou o outdoor perto da estação que dizia, em italiano:
O universo brinca racionalmente.
Era um comercial bobo da Nike com uma modelo que parecia um esqueleto pernudo.
Dory pensou, e repensou, e quando foi repensar o que havia repensado, já estava correndo em direção ao restaurante com um guardanapo na mão. 20 minutos haviam se passado e provavelmente Max já tinha ido embora.
Correr machucava sua perna e ela lutava para não ficar gemendo no meio da rua. Quando finalmente chegou ao restaurante, viu o carro dele há cinco metros de distância se afastando pela rua movimentada de Roma.
Então era isso. Max estabeleceu o fim dos dois inconscientemente.
Dory não olhou o carro de Max se mesclando com os outros carros. Ela se sentou na calçada, atraindo olhares de desprezo dos romanos, e sentiu aquela tristeza tomando conta.
Aceitar o fim do relacionamento era duro. Ela nunca tinha passado por isso de verdade. O fim do namoro com James foi algo tão pacífico que nem se quer soou como um fim. Eles continuaram amigos e ele continuou sendo como um parente para ela.
Já com Max, tudo era intenso.
Ela havia se casado com ele. Claro que o fim daquilo seria matador. Precisava ser. Se não, tudo que aconteceu entre eles teria sido em vão.
Dory começou a encarar a dor do fim como algo necessário e o fim como necessidade.
Eles eram agora estranhos que se conheciam em outra realidade e aceitar esse status passou a ser fácil quando ela se ergueu da calçada e caminhou mancando até a estação, o lugar que ela nem deveria ter saído.
Dorothy caminhou sem pressa até a porta de entrada e sentiu o cheiro de óleo subindo no ar e o som das máquinas ferroviárias.
Estava pronta para passar da catraca quando escutou a buzina e se virou, vendo Max do lado de fora da estação com a janela do seu carro aberta, colecionando olhares confusos dos que caminhavam por perto.
Dory foi até o carro, mas não entrou. Eles se encararam por um instante.
-O que está fazendo? -ela perguntou finalmente, apertando a alça da sua mala com firmeza para esconder seu nervosismo.
-Sou budista, -ele informou de repente.
-E daí?
-E daí que acredito em karma. Andei pensando no restaurante que o fato de termos nos encontrado tantas vezes pode significar alguma coisa. É esquisito, para falar a verdade, parece que algo está me dizendo para ficarmos juntos, sei lá, -ele disse, abrindo a porta do passageiro. -Entre.
-É mera coincidência, -Dory deu um passo para trás. -Acho que você está se confundindo.
Ele era um estranho agora. Todo o efeito romântico e sexual que existia para ela desapareceu, dando lugar a racionalidade como ela havia decidido.
Max ergueu as sobrancelhas.
-É? Coincidências acontecem assim? Por acaso você passa dois dias seguidos se encontrando com alguém frequentemente?
-Não, -Dory admitiu.
-Pois é, -ele riu. -Vai entrar ou não?
Dorothy estava disposta a não dar chance a ele porque sabia bem até demais onde essa história iria dar: a um buraco de sofrimento. Apenas seu pai sabia disso. Não sua mãe, mas seu pai que estava certo o tempo todo.
-Para um budista, você é bem impaciente, -ela pontuou. -É um pouco contraditório.
-Só com quem me irrita, -ele brincou.
-Adeus, Maximillian, -Dorothy se virou arrastando a mala consigo.
-Ei! Eu estava brincando! -ela ouviu Max berrar e se afastou rapidamente, deixando com que a voz dele se perca entre a multidão da estação de Roma.
Estava quase lá. A catraca estava a poucos metros de distância. Ela era forte e conseguiria fugir.
Faltava cinco metros, três, um...
-Ei! -uma mão segurou seu braço com firmeza, assutando-a.
Dory lutou para se livrar daquela mão e conseguiu na primeira tentativa. Max nunca usou a força contra ela por mais temperamental que fosse e isso não mudaria por causa do tempo. Ela se virou e o viu parado com as mãos no bolso.
-Eu estava brincando, -ele explicou.
-Eu ouvi da primeira vez, mas preferi ignorar.
-Sério? E por que me deixou falando sozinho?
Dorothy o empurrou para longe das catracas para não atrapalhar o movimento da estação.
-Você está certo, isso é karma, ou destino, ou seja lá o que você queira chamar. Mas precisamos quebrar isso, entendeu? -ela explicou em voz baixa. -Vamos quebrar isso simplesmente seguindo nossos caminhos. Eu vou voltar para Londres e você para Arezzo e ...
-Por que você voltou ao restaurante? -Max a interrompeu. Seu olhar parecia estar viajando em outras dimensões.
Dory ficou pálida e arregalou os olhos, fazendo Max rir.
-É, eu te vi correndo até lá. Vi toda a cena na verdade. Você na calçada com aquela cara de quem ia chorar, -ele olhou para o teto com quem estava pescando aquilo da memória. -Fala logo. Você fez parte do meu passado. Foi minha namorada também? Quem é você?
Namorada também? O que ele estava falando?
-O que quer?
-Se me explicar o que está acontecendo, eu te deixo ir. Seguiremos a vida como devia acontecer, -ele afastou um fio de cabelo que estava grudado no rosto dela. -Quem é você?
-Se eu contar, você não vai acreditar.
Max riu.
-Ai, ai. Você não sabe, mas eu vivo vendo e vivendo coisas extraordinárias. Se brincar eu até atravesso aquela parede da estação e vou para Hogwarts, -ele apontou para uma parede de tijolos.
-Tá, tá...-Dory estava tendo a chance de contar tudo a ele. Seria um alívio ter alguém que partilhasse a verdade.
Todavia, ela não queria contar tudo. Então ela omitiu a parte de serem casados e só contou que pula no tempo.
-Caramba, me mostre então. Me mande para o futuro! -ele parecia uma criança empolgada.
Ela balançou a cabeça.
-Não é assim que funciona, -lamentou.
-E como que isso funciona?
Ela explicou sobre os sacrifícios e até citou o sacrifício da câmera, mas sem contar a parte que a câmera pertencia a ele.
-Lá em casa tenho algumas coisas que podem ser sacrificadas. -Ele sugeriu.
-Ah, pode parar. Sei desse truque. Eu não vou dormir com você.
Max enrugou a testa.
-Por que acha que eu iria querer dormir com você? Que besteira! -ele disse genuinamente ofendido. -Só preciso que você me mostre o que é pular no tempo.
Se aquilo seria um grande erro não há dúvidas. Dory estava indo contra tudo que seu pai havia dito para ela fazer, mas ela era uma mulher adulta de 35 anos e sabia o que estava fazendo. Ou pelo menos acreditava que sabia.
Ir para a casa de Max era algo que obviamente ela não estava planejando. Na verdade, a ideia nunca passou por sua cabeça. Dory estava cansada demais para pensar, e deixou que ele a guiasse para onde quer que ele fosse.
Dessa vez ela colocou tudo nas mãos do Grande Tempo, o lorde dos magos do tempo. Um ser divino equivalente a Cronos, da mitologia grega. Mas para os magos do tempo, o Grande Tempo era o criador dos mundos e o criador das dimensões e criador do tempo. Seja lá o que Max estivesse planejando, Dory sabia que tudo estava nas mãos dele, do Grande Tempo.
E que ele fizesse o melhor para ela.
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