🛸 Visitantes
Primeiramente, gostaria de pedir desculpas a todos que passaram pela minha vida, e principalmente pela minha arrogância que me fez achar tão superior a vocês.
Para quem não me conhece, sou um projeto de escritor. Um fracasso em minha área, mas mesmo assim, sempre fui um estúpido e petulante. Cético, sempre duvidei das imbecilidades humanas, como seus costumes e suas crenças idiotas.
Talvez o buraco em que eu esteja hoje seja um castigo para mim.
Escrevo isso com um medo que jamais senti em minha amarga vida, e uma tensão mental que me faz ter vontade de me suicidar – e talvez esta tenha sido uma idéia melhor. Assim, não teria parado neste lugar.
Agora, devo-lhes dizer onde e quando estamos.
Trata-se de um doze de junho de 1986, interior do Rio de Janeiro.
Agora que você já está ciente de meus erros como ser-humano, quero explicar o que de fato aconteceu neste dia.
Enquanto meus familiares acompanhavam a partida de futebol entre Brasil e Irlanda do Norte pela Copa do Mundo deste ano, tranquei-me no quarto, escrevendo uma crônica a respeito da sociedade perante a moral e a ética.
Ao término do jogo, meus parentes celebravam com um churrasco, e a noite se tornava cada vez mais negra, e eu, permaneci com minha escrita. Estava no décimo quarto capítulo quando um feixe de luz passou pelo céu. Minha janela à direita entregou. Uma estrela cadente, quem sabe.
Posteriormente, a luz realizou o movimento contrário ao primeiro, e logo depois fez mais um e outro em segundos seguintes.
Abri a janela, e a luz se estagnou em uma curiosa posição.
Bem, faltavam apenas três capítulos para eu concluir minha obra, então decidi dar uma vagueada em nosso grande quintal para observar a desconhecida luz.
Bem distante, meus avôs possuíam um lago atrás de nosso sítio, e decidi ir até lá. Peguei uma lanterna e meu diário com um lápis. Gosto de relatar meu viver e meus pensamentos, por mais nebulosos que algum deles seja.
Quando cheguei próximo ao lago, já não havia luzes. A lanterna iluminava a água escurecida que lambia as pedras próximas a meus pés.
Estava para ir embora quando um brilho rasgou o céu novamente, desta vez, piscando como um pisca-pisca de árvore de Natal.
Revirei-me, e as luzes aumentaram, e agora, pude ver que vinham de dentro de um matagal que ligava nosso sítio a alguns morros verdejantes, em que pese haver cercas ali.
Coloquei minha caderneta e lápis em meu bolso da calça, e adentrei-me a mata. A lanterna definitivamente foi uma grande aliada, e só com ela pude enxergar.
Depois de caminhar bons metros, já não sabia onde estava. Escutava o som de coruja, pio de pássaros curiosos e sapos próximos ao lago que agora se distanciara.
Saltei sobre a cerca lentamente, e continuei a caminhada. As luzes piscaram novamente no céu, e resolvi segui-la, mas elas se apagaram instantaneamente.
Quando muito caminhei e cansado estava, minha lanterna parou de funcionar. Estava um breu completo, mas isto me excitou, e resolvi caminhar ainda mais, mesmo com a visão enegrecida pela noite.
As matas finalmente se abriram, e cheguei a um lugar da qual nem mesmo um cético como eu imaginaria presenciar. Minha lanterna foi de encontro ao chão, e este fracassado escritor ficou extremamente zonzo.
Um forte cheiro de amônia se fazia presente, e em minha frente havia um objeto prateado, com luzes apagadas e de tamanho colossal.
Perto do objeto desconhecido, havia de três a seis criaturas. Duas delas magricelas, uma robusta e o restante já não posso descrever exatamente, pois desmaiei.
Quando acordei, estava amarrado. Grossa e de qualidade curiosa, não pude arrebentá-la. Estava deitado numa mesa prateada, iluminado tão fortemente que não conseguia ficar com os olhos abertos por mais de sete segundos.
De repente, as luzes se tornaram mais fracas, e dois homens encapuzados se puseram sobre mim. Três agulhas me atingiram. Duas nos braços e uma na testa. Esta última me deixou curioso, pois se trata de uma região deveras inusitada para uma injeção.
Sei que não me revistaram, pois meu diário estava em meus bolsos. O motivo, jamais soube.
Os dois homens encapuzados levaram-me em silêncio até um quarto escuro. Passado alguns minutos, questionei-os a respeito do que fariam comigo, e a dupla dialogou num idioma da qual nunca vi, li ou ouvi antes, e um pavor subiu em todo o meu corpo.
Eles me deixaram próximo a uma janela, e só ela estava aberta. Talvez quisessem que eu recebesse um pouco de ar. Entretanto, minha boca estava amarrada, e pular não era uma opção muito viável, pois provavelmente eu morreria na queda.
Contudo, a única coisa que pude reparar em meus seqüestradores, eram que seus corpos não eram de homens, assim como previ quando ouvi falarem em seu dialeto aterrorizante.
Seus braços eram finos e cumpridos. Um deles, esverdeado, e o outro camarada me guiou era amarronzado.
Porém, os dois pareciam escamosos e possuíam protuberâncias que lhe davam um aspecto assustador.
Do rosto nada vi, pois além da manta que utilizavam, ainda cortejavam uma máscara de trapo, se assemelhando a uma múmia.
Seus olhos não pude ter nenhuma visão privilegiada, pois a sombra do capuz atrapalhava minha visão, mas pelo pouco que consegui enxergar, me pareceram enormes, talvez parecidos com uma jabuticaba, mas relativamente maior e terrível.
Faço deste relato em meu diário, meu último, pois acredito que eu jamais escape daqui, ou que esta curiosa espécie me devolva um dia.
Provavelmente estávamos próximos da meia noite quando arremessei meu diário pela janela.
Preciso também me desculpar com muitas pessoas, em especial, meus pais, dona Maria e João, que me criaram com um carinho que penso não ter merecido.
A meu irmão, Estevão, e poucas pessoas neste mundo me fizeram rir tanto como ele.
Também deixo um espaço para meus tios, Hernane e Betânia, além de um abraço a meu estimado avô Ariovaldo.
Acredito que ninguém terá acesso a esta anotação, e caso seja encontrado, guarde-o a sete chaves.
Não posso mais perder tempo, eles estão retornando. Ouço o bater de seus pés ou patas, além do cheiro de um combustível desconhecido. O suposto motor ronca, e provavelmente partiremos para um lugar do qual jamais poderei relatar a vocês.
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