🌳 Corra
Estava no auge de minha juventude quando o seboso professor de Geografia insistiu que o colégio nos levasse para acampar.
Eu não tinha muitos amigos, passava despercebido para as garotas da turma, mas o estimado diretor pediu encarecidamente minha presença naquele evento que seria nossa única excursão.
Passo dias em meu quarto, refletindo sobre o que fazer, mas decido aceitar o que me foi pedido. Eu vou ao acampamento.
Alvíssaras estavam os alunos e alunas dentro daquele ônibus em movimento. Cantarolavam durante as quase duras horas e meia de viagem. Sentei-me ao fundo, enquanto tentava pegar no sono.
Eles achavam que eu era demasiadamente filaucioso. Estavam errados. Eu simplesmente não me encaixava em seus padrões sociais ou seja lá o que eles quisessem tirar de mim. Deixe que falem, pensava.
Não ficamos dentro daquele pequeno chalé, os alunos queriam sentir a experiência de dormir em sacos enormes sobre mato e em meio à árvores enormes. Ele assentiu.
Nós fomos até o meio daquela extensa floresta. A noite se aproximava. Vejo o brilho luminoso da lua rasgando em meio aos troncos. Era uma imagem agradável, eu já estava quase cedendo a pressão e esboçando um grande sorriso.
Até mesmo o professor parecia juvenelizante naquela hora. Acendemos duas fogueiras e comemos algo em seu entorno.
Passam-se algumas horas, somos ordenados a voltarmos para dentro, mas eu sinto algo. Ou melhor, ouço. Sussurros passam por entre a copa das árvores. Alguém está chamando, mas isso não me choca. O que me choca, é ninguém presente dar a mínima para isto. Acredito que nenhum deles tenha escutado.
Os sussurros não paravam e os alunos retornavam com o professor. Eu peço para irem, pois preciso fazer nossas necessidades básicas – mentira, vou ao som.
Caminho alguns metros, minha espinha trava. Todos os fios de meu corpo se levantam ao ouvir sons de galhos se quebrando. Por que decidi caminhar até aqui, questiono-me inúmeras vezes.
Vejo alguém se aproximar por dentre os arbustos. Eu tinha lá minha crença, acredite se quiser, pedi ajuda a qualquer coisa que habitasse os céus.
Nada havia me encarado tão profundamente em minha vida até aquele dado momento. Eu vejo, por entre as folhas, a pele clara. O olhar paralisado. A pele seca, os braços cumpridos e mãos ressequidas. Meu estômago se embrulha, já estou sozinho. Já havia passado da meia-noite.
Ficamos cara a cara. Lembro-me com perfeição de sua pele seca, seu pior detalhe. Seu olhar estava fundo e vazio. Era como a morte caminhando por entre a floresta visitando aquilo que seria sua vítima.
Seus braços se abriam, como um abraço. Um abraço que eu não poderia aceitar. Unhas longas, finas. Indescritível aquela sensação que me tomou por completo.
É dada à hora de fazer o que qualquer um faria. Correr. Eu o fiz.
Disparo em meio a imensidão negra da noite, pela reluzente lua que me abocanha em alguns espaços e piso por qualquer planta ao chão.
Chego exaurido ao chalé. As luzes estão apagadas e todos dormem, deixaram a entrada aberta para mim. Sei onde está a chave, me viro para fechar, encaro a floresta mais uma vez, não há nada. Não penso duas vezes, giro-a na fechadura. É hora de tentar esquecer o que seja lá foi visto.
Levanto-me no dia seguinte, é quase meio-dia. Não dormi direito, ainda penso naquela imagem, mas me recuso à contar para os outros. Eu já era estranho demais aos olhos dos outros alunos.
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