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Pra Sempre

Eu chego todos os dias às 3hs da manhã do trabalho que realizo no reino de Morlóvia, e uma loja de produtos naturais e poções em  um dos postos deixado pela cidadela verde sempre encontra-se aberta, nesses horários super estranhos de atendimento – nessas horas, a gente sempre acaba lembrando de algo para comprar.

Entro em casa e sou recebido pelas minhas doces felinas – quatro "criaturinhas vindas de reinos menores".

Um enorme quadro da minha irmã, recentemente falecida, está na parede da sala, acima do sofá, logo ao entrar. É impossível não vê-lo... não observá-lo por segundos.... Ainda não me acostumei. Talvez até, às vezes, eu confundo com alguma imagem qualquer. Mas isso não significa que eu não a ame, nem que eu não sinta a sua falta, só que... é apenas uma pintura feita por algum admirador desconhecido.

Apenas dois meses se passaram! E eu continuo chorando, todas as noites no meu aposento, quando me lembro dela.

Certa noite, ao chegar, introduzo minhas chaves na fechadura da velha porta de madeira para entrar e as minhas aprendizes estão lá, como todas as noites, fazendo festa, miando e aguardando um pouco de atenção. Luzes apagadas nunca me deram medo, porém, desta vez algo me dizia que não seria igual.

Assim que atravessei a porta, senti que alguém me observava, olhando para mim na escuridão, especificamente de onde estava o quadro da minha irmã. Um arrepio tomou conta de mim!

Talvez fosse uma percepção só minha. Então decidi ignorar esse sentimento e acendo as luzes... Mas não ligou! Estava sem luz. Acendo uma pequena chama com a magia de luz que aprendi ainda criança na escola de magia, iluminando minha sala, deixo minha bolsa de lado e sigo em frente, rumo ao sofá.

Espero um pouco e... iluminando minha sala de estar com essa chama singela e sim... O que eu pensei ter visto era real: minha irmã estava se mexendo!!!

A pintura, que era a mesma imagem usada no velório dela, estava se movendo de uma forma tão realista que ela parecia até estar chorando. Nem percebi que o medo me fez esquecer completamente das minhas felinas, que miaram em côro.

Eu subo meus olhos e decido observar de novo. Eu tento dominar o medo, mas esse me vence de novo, a pintura realmente se mexia!

Decidi voltar para a porta de saída e fugir para as ruas. Mas ela está trancada, a maldita porta está trancada!!! Fico mais desesperado, ao ouvir uma voz aguda, que dizia.

"– Meu Irmão, vem comigo! Chegou a hora do teu suicídio!"

"– Não, não! Isso não!" – respondi.

"– Vamos faça!!! Você tem que fazer. Eu ainda sinto dor, venha comigo! Você prometeu que jamais me abandonria! Que jamais me deixaria sozinha!..." – Insistia essa voz assustadora.

Felizmente eu não vivo sozinho! Meus pais chegam sempre meia hora depois de mim e esse dia não foi exceção. Magicamente, as luzes voltaram a acender, anunciando sua entrada.

Papai e mamãe me perguntam receosos.
"– Por que está chorando num canto, sem ter mudado de roupa ainda?"

Contei o que aconteceu e eles me abraçaram chorando comigo. Minha mãe me disse com pesar.

"– Eu não acho que essa voz... esse "ser", seja a tua irmã! A tua irmã era uma boa feiticeira e nunca te faria sentir tal medo. Eu sei que não era ela! Esse "ser" pode ter fingido ser ela e tentava aproveitar-se da tua fraqueza, em relação à morte. Meu filho, não sei o que seria da minha vida, se você também fosse embora. Mas fique tranqüilo... aquilo que você viu ou ouviu, não era a sua irmã!"

As palavras de mamãe me confortaram. Comecei a chorar demais. Em parte, acreditei nela e em parte não... Digamos: Eu acho que deve haver alguma conseqüência, depois de espancar a tua irmã até à morte e enterrá-la no jardim. Mas compreendemos que ela foi culpada por atormenta-lo por tantos séculos.

Mamãe e papai sempre me dão alívio... É uma pena que eles tenham morrido há 2000 anos, quando eu era aprendiz ainda...

Mas com os seus abraços e os seus conselhos, sinto-os sempre muito próximos... Muito... Mas muito próximos mesmo!

698 Palavras


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