A Usurpadora
Acordei antes da minha companheira "Escolhida" naquela manhã, só para descobrir a porta da frente de casa entreaberta.
O pânico me invadiu na hora. Corri para o quarto do nosso filhote, mas o que vi foi um vazio assustador. Ryque, o nosso pequeno Alpha de apenas 5 anos, não estava!
Procuramos incansavelmente durante meses, que pareciam eternos. Colocamos centenas de guerreiros Lycans pelos arredores da alcatéia Lua Negra. Todos sabiam que Ryque seria o próximo Alpha, seu rosto inocente ainda não tinha a malícia dos homens-lobos experientes, no seu quinto aniversário lunar, vestido com uma camisa xadrez, preta e vermelha, e um pingente de ouro com a lua lapidada numa pedra de obsediana, presente das bruxas noturnas, protetoras de nosso clã, que eu próprio lhe tinha dado pendurado no pescoço, confirmando o seu direito de nascença.
Alandra, minha companheira "Escolhida", mergulhou em uma devastação além do imaginável. As noites se tornaram a sua pior inimiga e a fome deixou de ser sua prioridade. Parecia estar presa num abismo de dor, do qual não podia escapar.
"– Nós vamos sair desta!" – dizia prá ela com a voz tremendo, embora nem eu mesmo tivesse certeza – "Achas que ele ainda está lá fora?"
Mas Alandra respondia apenas com um olhar perdido e sem seu costumeiro brilho.
"– Já não tenho tanta certeza!"
Eu não sabia o que era pior: pensar que Ryque poderia estar vivo, suportando algo possivelmente horrível, ou a possibilidade de ele não estar mais neste mundo.
Evitava falar sobre isso, e sempre que Alandra mencionava esse assunto, eu cortava a conversa. Nós processamos essa dor, cada um à sua maneira!
O concílio de anciões e as bruxas noturnas ajudaram como puderam até que todas as esperanças se tornassem obscuras pelo tempo.
De alguma forma, essa tragédia acabou nos unindo mais. Enquanto muitos casais Lycans teriam se rompido sob o peso de tal perda, nós ficamos mais fortes.
Era a presença de Alandra, com a sua maneira de me levantar, quando sentia o mundo desmoronar ao meu redor. Os conflitos foram diminuindo e um tratado de paz trouxe a paz que tanto desejamos.
Algum tempo depois, Alandra engravidou de novo. Estava aterrorizada, porque sentia que ela havia falhado uma vez. Tentei acalmá-la, garantindo-lhe que desta vez tudo correria bem. Não podia permitir que as inseguranças dela a dominassem.
A nossa alcatéia vibrou com suas esperanças renovadas.
Deu a luz à outro filho macho, um Alpha. Decidimos chamá-lo de Eren. Mas à medida que Eren crescia, estranhas semelhanças começaram a surgir com o inesquecível Ryque. Eren tinha, inclusive, a mesma marca de nascença na bochecha.
Quando tiramos os brinquedos guardados de Ryque, era como se Eren já os conhecessem! Deu ao ursinho marrom, o mesmo nome que o irmão lhe tinha dado. Eren gostava das mesmas comidas e dos mesmos desenhos animados que Ryque. Era como se tivéssemos recebido uma segunda chance!
Eren era mais próximo de Alandra do que de mim. Eu não me importava, pelo contrário, me dava mais tempo para me concentrar no meu trabalho como Alpha. Para ser sincero, as semelhanças entre Ryque e Eren eram demais pra mim! Talvez fosse por serem lembranças dolorosas.
Achei reconfortante, que o nosso segundo filhote preferisse passar o tempo todo com sua mãe. Uma vez ofereci-me para levá-lo ao parque da nossa alcatéia, mas ele recusou. Queria que a mãe o acompanhasse!
Após completar cinco anos, algo muito perturbador aconteceu. Surpreendentemente, Eren me pediu para levá-lo ao parque, bem próximo de casa. Muito contente, assim eu fiz.
Havia lá uma boa estrutura de brinquedos, que ele gostava e também era rodeado de arbustos. Assisti ele brincando, da mesma maneira que eu fazia com o irmão mais velho. Nisso, o céu escureceu, como prenúncio de severa tempestade.
Eren de repente estava deslizando pelo escorrega, quando uma notificação no meu comunicador chamou minha atenção. Era uma mensagem de Alandra, perguntando o que iríamos jantar. Respondi rapidamente e olhei para o escorrega. Para minha surpresa e com um frio na barriga, Eren tinha desaparecido. Juro que só desviei os olhos por alguns segundos!
Desesperado, tentei sentir sua presença ou mesmo seu cheiro, comecei a procurar freneticamente, me transformando em lobo para cobrir uma área maior enquanto grossas nuvens negras se formavam no céu.
Corri entre os arbustos, chamando pelo seu nome, até que finalmente o encontrei debaixo de uma árvore, cavando um buraco com suas mãos pequenas na terra.
Corri para ele, gritando. Ele virou-se para me olhar, seus olhos estavam vermelhos, meu pequeno Alpha tinha despertado o seu lado lobo e com suas mãos cobertas de terra, uma expressão preocupada em seu rosto. Disse-lhe.
"– O que você está fazendo aqui? Sabe o quanto me assustou? Podia ter se machucado. Nunca mais saia assim!"
Eren pediu desculpas e eu o abracei, sentindo uma onda de alívio.
"– O que você está fazendo aqui, afinal?" – Perguntei-lhe com certa curiosidade.
Com o seu pequeno dedo sujo e suas recentes garras adquiridas, ele apontou para o buraco que tinha começado a cavar. Minha curiosidade se acendeu mais ainda, pois meu instinto Lycan indicava que havia algo ali.
Aproximei-me do buraco raso e disse-lhe para não brincar com a terra suja. Mas ele respondeu, após um trovão.
"– Mas, pai, eu tenho que continuar cavando! Tenho que te mostrar uma coisa muito importante! Foi por isso que a deusa Lua permitiu que eu voltasse!"
"– Me mostrar o quê?"
"– Pai, continue cavando! Você tem que achar uma coisa e ver por si mesmo. É um buraco grande."
Por alguma razão, senti uma estranha obrigação de ouvi-lo. Encontrei um galho seco, grande e forte, o suficiente para usar como ferramenta para cavar e retirar as pedras.
Quando as pedras maiores foram retiradas, Resolvi usar as minhas garras de Alpha pra adiantar o trabalho.
Eren ficou por perto, observando. Eu estava muito aflito, porque escurecia cada vez mais e logo choveria forte, pois o cheiro de uma tempestade tropical ficava cada vez mais perto.
Depois de um tempo, bati em algo. Ao limpar a terra, vi alguma coisa que parecia um tecido quadriculado com símbolos aparecer. Meu coração batia forte, enquanto tirava mais terra (outro trovão e raios cortaram o céu da floresta).
Então eu vi. Na minha frente, havia um crânio pequeno, do tamanho de um filhote. Ao lado dele, algo brilhava na terra. Afastei o crânio e peguei em minhas mãos a coisa brilhante. Era um pingente de ouro com a lua em obsediana, o mesmo que eu tinha oferecido ao Ryque, no seu quinto aniversário.
Confuso e em pânico, olhei para o crânio e para o pingente e falei alto.
"– O que é isto? Que diabos será isso?"
Um relâmpago cortou o céu, quando Eren, ao meu lado, respondeu ainda mantendo os olhos vermelhos.
"– Sou eu, papai: Ryque. Foi onde a usurpadora me deixou, depois que ela me fez dormir! Abaixo está o corpo de minha mãe e sua companheira, Alandra."
" O que você está me dizendo? Perguntei ao olhar em baixo dos restos mortais de meu herdeiro mais velho. Ali estava outro corpo.
Seus olhos intensificam o vermelho, indicando a força de um Alpha.
A usurpadora, é a irmã gêmea de Alandra. Ela nos matou por ódio e inveja, pois não foi escolhida pra ser a sua companheira Destinada e a nossa deusa Lua nunca a preferiu.
Nisso meu filhote desmaiou, rosnei de ódio fazendo meu beta e um grupo de guerreiros irem ao nossa encontro.
Fiquem aqui... Protejam meu herdeiro e guardem essas provas. Ordenei me transformando num lobo negro indo em direção a nossa alcatéia.
Ordenei que todos se reunissem em frente de minha casa.
Entrei em casa na forma de lobo. Encontrei a usurpadora sorrindo colocando a mesa para o jantar.
Querido Edward, o jan... O que aconteceu? Onde está Eren?
Sua palidez demonstrava o medo que sentia em cada palavra pronunciada.
Meu rosnado abalou as estruturas, não só de nossa casa mas de toda a alcatéia.
Voltando a forma humana avancei em direção um ódio tão grande quando a dor que estava sobre meus ombros naquele instante.
Como você teve a ousadia de matar minha Escolhida, minha predestinada? Assumir seu lugar e por fim ceifar a vida de meu herdeiro? Cuspindo cada palavra diante da criatura, que deixou a travessa cair, ficando em milhares de pedaços aos nossos pés.
Como você descobriu isso e...
Num impulso selvagem agarrei o seu pescoço com o mínimo de força a fazendo ficar calada e se debater, antes de arremessa-la contra a parede.
Poderia quebrar o seu ossos fácilmente, mas não era assim que os membros de minha alcatéia agiam.
Fazendo a ligação com meu povo, abrindo minhas memórias fiz com todos vissem a verdade.
Rosnei em seguida ordenando que o julgamento fosse preparado.
Qual bruxa lhe ajudou nesse plano sórdido? Indaguei feroz.
Você nunca vai saber! Afirmou sorrindo de lado.
Tenho meios pra descobrir isso e você sabe muito bem disso. Pena que talvez não sobre muito para o julgamento final. Disse ao rasgar sua carne, fiz questão de não atingir nenhum órgão vital, mas sua regeneração total levaria de dois a três dias por causa do meu morte Alpha.
Beta Weenny... Chamei por nossa ligação Lycans. Assim em poucos segundos chegou a segunda Lycan mais forte de nossa alcatéia. Weenny era treinada especialmente para arrancar a verdade dos prisioneiros e inimigos que por acaso do destino caiam em nossas mãos. Você e Tila tem carta branca para o interrogatório e tragam também as irmãs Amarás, elas vão deixar tudo muito interessante.
Por favor, meu Alpha, tenha piedade... Eu sou sua Luna, mãe de seu herdeiro e... Implorou a Lycan banhada com o seu próprio sangue.
Piedade... Misericórdia... Jamais terás de mim. Você não é minha Luna e quanto ao Eren, ele é o meu herdeiro... O resto será decidido pelos anciãos. Levem-na daqui imediatamente.
1650 Palavras
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