Um Monstro Esverdeado
Enquanto Ives afundava nas águas geladas do úmido pântano, duas figuras peculiares apareceram e o evolveram. Duas especies de seres misticos, uma sereia e uma naga, ambas cegas. Elas dançavam nadando em volta de seu corpo enquanto tiravam dele suas vestimentas. Ives surpreendentemente acordara, mas parecia preso a algum tipo de transe.
— Como achaste esse lugar rapaz? — Disse a voz rouca da naga, que tinha uma cabeça tão lisa quanto careca.
— Já fazia-se um longo periodo, desde que alguém visitara nosso pântano. — Disse a sereia de longos cabelos castanhos, dando ainda uma sinistra risada.
— Eu vim por causa da armadura. — Respondeu Ives com sua voz fraca.
— Está envenenado! Posso sentir. — Contou a naga.
— Tudo bem meu belo cavaleiro, eu cuidarei disso para você! — Disse a sereia a aproximar seus lábios próximos aos de Ives.
— Venosa! Não seje tola! Eu o curarei com um corte de minhas unhas em sua garganta! — Riu a naga.
— Não! Eu o curarei com um beijo em seus lábios angelicais.
— Nada disso! Eu o matarei agora mesmo ! — Reafirmava a naga.
— Nem pensar Nadira, eu não deixarei! — Repudiou a sereia.
— Você ainda pode beija-lo depois de morto.
— Não teria o mesmo calor !
As duas criaturas então começaram a brigar uma com a outra, se afastando do corpo de Ives que seguia afundando. De repente ele avistara algo brilhante no fundo do rio. Percebeu logo que era uma espada que estava imersa sob as águas do pântano. Assim, usou suas poucas forças e nadou em sua direção, submergindo ainda mais. Quando segurou o cabo da espada com suas mãos, a sereia do pântano apareceu inesperadamente diante de seus olhos, arregalados pelo forte susto, e então o roubou um beijo, tirando assim o veneno que havia em seu corpo. Ives puxou a espada do leito do rio e, de repente, ao fazer isso, toda a água do lugar pareceu esvair-se num passe de mágica. Enlameado e sem suas roupas ele levanta sentindo-se melhor. A sereia que beijara havia se tornado um pequeno peixe que pulava ali em sua frente, lutando para respirar. Ives então pega o pequeno animal pela barbatana e o coloca numa poça de água ali próxima.
— Essa é a espada! — Ives admirava-se com o brilhante objeto em sua posse. — Mas não vejo armadura em canto algum!
De forma inesperada, ele é atacado subitamente por um grande monstro esverdeado que apareceu da lama, o golpeando.
— Como ousa pisar no meu pântano! Verme imundo! — A voz da criatura era ríspida e grave, num tom forte e ameaçador.
— Estou a procura de uma armadura de diamante. — Disse Ives defendendo-se dos golpes do monstro, ao segurar bem firme sua nova espada.
— Fuja, ou morreras aqui. Terei prazer nisso ! — O monstro continuava a proferir ataques incessantes.
— Não quero ataca-lo! Por favor, afaste-se! Não pretendo machuca-lo! — Ives continuou defendendo-se dos fortes golpes do monstro esverdeado. E ao ganhar um pouco de distância, fugiu do confronto.
— Não me faças rir! Nem se quisesse poderias me ferir! — Desafiou a criatura verde ao sentar-se no chão. — Vamos venha !
O monstro esperou sentado um ataque, mas ao encarar bem nos olhos de seu oponente deu um forte suspiro ao perceber que ele nada faria, pois empatico demais, era incapaz de machuca-lo sem razão.
— Ué?! Não vai mais me atacar?! - Ives ficava pasmo com a repentina mudança no olhar da criatura.
— Não preciso enfrentar-te, posso sentir a bondade em seu coracao batendo. Qualquer um capaz de um gesto nobre de gentileza, como salvar a vida de um animalzinho, sabe o verdadeiro valor da vida. És tão digno da espada, quanto és digno de seu escudo e logo de sua armadura!
Ives espantou-se e agradeceu — Ah.. Obrigado grande monstruosidade. Mas ainda assim não vejo nada além dessa espada. — Ele guardou então sua arma.
— Ora! É porque não precisas ainda! Mas quando for devido, aparecerão em sua proteção. — Contou o monstro.
— Tudo bem! Agora conte-me, vives mesmo aqui? Sozinho nesse pântano? — Questionou Ives, ao estender a mão para o monstro lodacento.
— Nem todos lá fora são gentis como você meu caro. — Respondeu a criatura ao levantar-se.
— Sinto mesmo por isso!
— Não julgaste minha aparência horrenda... nem atacaras por medo, repudio ou ambição. És mesmo um nobre homem meu jovem!
— Bom, imagino também que sejas um nobre monstro esverdeado.
— Ainda não tao nobre quanto você, mas progredi bastante! Sabe, meu jovem, um dia já fui um homem muito vaidoso, prepotente e egoísta, e veja o que isso me trouxe, apenas solidão, monstruosidades e um pantano lodacento.
— Sinto muito mesmo! Ora, desculpe-me muitíssimo, gostaria de ficar e conversar e seria um imenso prazer ajuda-lo, mas uma outra hora, pois preciso realmente ir. Contudo, voltarei para visita-lo assim que puder.. Se me permitir, é claro!
— Certo! Pode retornar quando quiser, meu caro! Serás bem vindo em meu pântano a qualquer hora. Sera muito prazeroso ter alguém com quem conversar, além daquelas duas estupidas. — Disse o grande ser ao cumprimentar seu visitante com um aperto de mão
— Até mais! — Despediu-se Ives ao encaminhar-se para fora do pântano.
— Acho que está esquecendo alguma coisa! — Disse a criatura esverdeada apontando para a direção de uma cabana que havia ali perto.
Ives avistara então dentro dela, sobre uma mesa, a rosa dourada.
— Ah é mesmo! Muito obrigado grande amigo! — Ives então foi ate o peculiar local feito de gravetos, galhos e raízes.
— Acho que pode precisar disso também. — Falou o monstro a entregar ao jovem um pedaço de tecido para que pudesse cobrir-se.
— Ah! Claro! Obrigado novamente! — Desconcertado Ives sorriu ao sair pela porta. — Nos veremos novamente em breve !
Assim, ao se despedir do pântano e de seu bondoso guardião, Ives tornou seu rumo em direção ao jardim secreto mais uma vez.
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