No exato momento em que Melrose deixava sua casa para avisar  Ives do perigo que ele corria. O rapaz seguia o riacho que havia aparecido a sua frente, assim, acabara não resistindo a tomar um rápido banho para matar o calor daquela tarde de verão. Sem notar que estava sendo observado de perto, admirado por uma misteriosa donzela que tinha sua presença oculta por um tão misterioso quanto longo capuz que se misturava a cor da vegetação seca e aos troncos da arvores.

 Após refrescar-se no córrego, o jovem vestiu-se, e ,logo, retomou seu trajeto, caminhando em direção a um grande muro onde havia um portão semiaberto que rangia com o vento. Cauteloso, adentrou o lugar que parecia abandonado e muito antigo. Olhando os arredores atentamente, Ives começou averiguar a quietude do jardim, certificando-se que não havia perigo em estar ali. 

 Clamando sua voz, ele perguntava: 

— Há alguém aqui? Alguém é responsável por este jardim? 

 Ele estava certo que apenas continuaria ouvindo o bater das folhas e o som das cigarras, quando subitamente a donzela encapuzada apareceu por trás dele, assustando-o, ao responde-lo: 

— Este jardim pertenceu a minha tataravó e agora pertence a minha vô. Porem, ela está fora no momento!

— Bem, sem querer incomoda-la, mas quem sabe você mesma poderia me ajudar.  

 — Então digas, como posso a ti ser útil, formidável rapaz? — A misteriosa donzela indagou enquanto abaixava delicadamente seu capuz. 

 Conforme o rosto dela foi sendo revelado, o jardim pareceu sutilmente encher-se de vida. Surgiram borboletas, cantos de pássaros, flores e tudo ficou mais verde e bonito. Ives não percebera nada disso, pois a sua frente estava uma encantadora, e muito atraente, jovem, com um belo par de olhos cinzentos e sutilmente rosados, de lábios tão sinuosos quanto hipnotizantes. Ela tinha finos e ondulantes, envolventes, cabelos pretos, e ainda uma pele tão branca quanto brilhante, Ives engasgara nas palavras na hora de respondê-la. Ela então o questionou novamente: 

— Em que posso, a ti, ser útil? 

 Encabulado, Ives respondeu desengasgando: 

— Procuro uma roseira...  aqui deste jardim. 

— Sinto muito! Não há roseiras aqui meu senhor! — A  moça respondeu aparentando certa desconfiança. 

— Uma que floresce uma preciosa rosa dourada! 

 A misteriosa donzela desviou seu olhar, que estava fixo na boca de Ives,  ao escutar sobre a peculiar flor, e logo respondeu de forma ríspida:

 — Desculpe-me, mas deves mesmo estar no jardim errado! Já lhe disse! Não há roseira alguma aqui! 

—  Minha bela dama, tenho plena convicção que estou no lugar indicado!  

 — É melhor partir antes que minha vô retorne! Ela não gostaria de encontrar estranhos em seu quisto jardim!  

 A bela jovem então vira-se, dando as costas para Ives, que puxa seu delicado braço, virando-a de frente para ele de forma brusca. 

Por um momento os dois se encararam profundamente e apenas se fez o som de suas respirações ofegantes. Era impossível não perceber que ambos estavam muito impressionados um pelo o outro. Tao inevitável quanto não  impressionar-se com o delicado,  agradável, e excitante aroma que emanava da pele da bela donzela do, tao secreto quanto misterioso, jardim. 

Exclamando por sua ajuda, Ives segurou as mãos dela, e, ao aperta-las, sentiu que eram muito macias e finas. Enquanto ele a encarava fundo nos olhos, disse:

 — Eu vim de muito longe linda dama, por favor, não deixe -me voltar de mãos vazias! Tal rosa é para alguém muito especial... Significaria muito obtê-la. 

A donzela estava extremamente balançada ao mirar fundo nos angelicais olhos de Ives, que a penetravam com tamanho desejo, paixão e honestidade.

— Seria eternamente grato se me permitisse colhei-la e faria qualquer coisa para recompensar tamanha gentileza! 

 Antes que ela pudesse responder, um leve barulho na vegetação quebrou o silêncio que se fazia entre eles.  Era Melrose que estava aproximando-se dali.

 Pensando tratar-se de sua temida avó, a proprietária do jardim, no intuito de agir com rapidez, com medo do castigo que sofreria se fosse pega com um desconhecido, movida ainda pelo pensamento de que nunca mais  veria tal primoroso rapaz , por ter que expulsa-lo de repente, a deslumbrante e misteriosa donzela, num forte e incontrolável impulso, puxou Ives para um caloroso beijo. Ele, por sua vez, cede à toda beleza e sedução dela, e correspondendo-a, beija seus lábios com muita vontade, como se estivesse beijando sua própria amada, Melrose, cuja quem, de fato, era a única e tudo o que estava em sua cabeça naquele momento. Ele não podia saber, mas ela assistia toda a cena bem de perto, de coração partido.

Melrose, muito magoada, dá as costas e parti decepcionada. Irritada, resmungava a montar seu cavalo, e arrependida de ter ido a tal lugar dizia:

 — Afinal tudo não passava de um tolo conto de velhos caducos!  Jardim amaldiçoado? Rá! Devia se chamar jardim dos apaixonados... Mas que absurdo! Um jardim secreto e amaldiçoado cujo todo mundo sabe a localização?! Eu sou mesmo uma tonta! Porque fui acreditar em mamãe?  —De repente, o cavalo dela tropeçara em algo,  que o faz tombar, derrubando assim Melrose de sua sela. — Ain! O que foi isso?! — Quando ela dá-se conta, percebe que  havia tropeçado em uma estatua caída ao chão, encoberta pela vegetação alta. Logo, a jovem dos cabelos dourados  pôde ver que a estatua tinha o formato de um homem. Então, ao se levantar, percebeu ainda que ao seu redor havia inúmeras estatuas como aquela, todas de ouro, bem semelhantes aquela em que tropeçara, estranhamente apenas estátuas de homens. Ela logo sentiu que algo estava errado e decidiu então voltar até o jardim à procura de Ives.