Velha intromedita
Lá no grande sertão, litoral Leste do Ceará está localizada uma pequena cidade chamada Beberibe, a mesma é composta por várias comunidades/Interiores, entre um desses está Juazeiro.
Juazeiro é pequeno, povo acolhedor, amigável e fofoqueiro ( o que é comum em todos os lugares). Dentre as 112 famílias que moram lá, uma delas é a de Dona Raimunda.
Dona Raimunda uma senhora de 60 anos, magra, pele escura, suas mãos eram marcadas pelos longos anos de trabalho pesado, mãe de 10 filhos já criados, quase todos têm suas próprias famílias, menos Antonieta a filha mais nova.
Dona Raimunda já não trabalhava mais, vivia com o dinheiro de seu aposento e o de seu falecido marido.
Como de costume, às 4 horas da tarde Dona Raimunda colocava sua cadeira de balanço na calçada de sua casa e ficava observando o povo que passava na sua rua.
Todos os dia era a mesma coisa, e hoje na tarde fria sua filha lhe fazia companhia.
Sua rua só existe casas de um lado, atravessando a estrada se encontrava um grande matagal.
Matagal todo conhecido pelo povo que morava naquela rua.
Bem depois que Dona Raimunda sentou-se lá fora passou dois menininhos com suas baladeiras (estilingue) nas mãos, eram pequenos, tinham seus 8 anos, magros, sujos de tanto brincarem.
Dona Raimunda soltou assim que os viram.
— Cadê a mãe desses meninos que não os botão para dentro de casa, passam o dia no meio do mundo.
Antonieta entretida no celular não prestava atenção no que a mãe falava, porém, os dois garotinhos ouviram.
Eles resmungaram algo que Dona Raimunda não ouviu e saíram rindo.
Depois uma turma de adolescentes passaram para tomar banho no rio que havia no final da rua, rio esse que está mais cheio por conta das chuvas de inverno.
— Não sei o que esse povo tanto vai fazer naquele rio, todo dia eles passam. — Dona Raimunda falou.
Dessa vez Antonieta escutou e falou:
— Tomar banho mãe, é o que todos nós fazemos lá.
— No meu tempo mamãe e papai num liberavam nós assim não.
Os adolescentes não ouviram e passaram tranquilo pela rua.
Logo atrás passou um pescador de bicicleta, Dona Raimunda voltou a falar.
— Esse outro vai acabar com os peixes do rio, todo dia ele passa, vai cair é as unhas.
O homem também não escutou e passou tranquilo em busca de alimento para sua família.
— Boa tarde Dona Raimunda, como a senhora está? — perguntou uma das duas mulheres que iam passando, Dona Raimunda logo reconheceu a mulher.
— Vou indo minha filha, vou indo.
A mulher segue a caminhada com a amiga, elas levavam algumas mudas de flores nas mãos.
— A Graça todo dia passa por aqui com uma planta, esconde as nossas se não ela vai pedir. — Disse para a filha que não lhe dava atenção.
De longe avistou aquele monte de homem se aproximando, já sabia que era a maioria dos homens de sua rua indo para o famoso racha no campo de areia que tem ali perto.
— Esses homens não tem o que fazer, todo dia vão para esse jogo que não tem futuro.
— Mamãe você se incomoda com tudo.
A velha não se importou com o que a filha falou e continuou a falar de todos os que passavam por ali.
🌵🌵🌵
No dia seguinte Dona Raimunda foi com a filha ao pequeno supermercado que havia em Juazeiro.
Como era na rua central do lugar elas tiveram que andar um pouco, iam desviando das poças d'água que ficaram ali na estrada de areia depois da noite e da manhã de chuva que passou.
Eram 4 da tarde e a chuva ameaça cair a qualquer momento, as duas levavam o guarda-chuva para se prevenirem.
Quando Dona Raimunda ia passando escutava alguns sussurros como: " Olha lá a velha fofoqueira ", " Vou dá minhas contas para ela pagar, ela fala muito da minha vida ", " As filhas dela estão indo no mesmo caminho", " Olha para os outros e num olha pro rabo das filhas" e olhares em sua direção.
Cada canto que se encontrava um pessoal conversando eles paravam para olharem Dona Raimunda passar, e logo suas conversas tornavam-se sussurros.
Dona Raimunda que não era besta, sabia que os sussurros eram ao seu respeito.
— Está vendo mamãe, está sentindo na pele o que você faz com os outros.
Diz a filha envergonhada.
Daquele dia em diante Dona Raimunda não se incomodou com a vida de mais ninguém.
Todas as tardes ficava calada na sua cadeira de balanço vendo o pessoal passar.
Por: Maria Klécia
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