A princesa de Bardavon
Escutavam-se os passos nervosos e agitados que ecoavam por toda a floresta. A jovem olhou para trás com o coração acelerado e a respiração erradica se certificando de que nenhum dos guardas a alcançaria.
Seus pés já estavam doloridos e o salto de ponta quadrada e fina não ajudavam, a morena dos olhos alternados em um azul tão claro quanto as águas do mar e o outro um castanho claro que lembrava seus cabelos, que havia fugido do castelo onde toda a sua família morava desde o começo do milênio às pressas pensava em parar e descansar, mas não podia desistir agora, ela precisava lutar pela ameaça que rondava o reino que um dia iria governar.
A luz da lua cheia iluminava o seu caminho pela floresta escura e perigosa, haviam ladrões, saqueadores e bárbaros escondidos ali prontos para pegar qualquer um que se atrevesse a adentra-la. Mas Savana não parou, ela continuou a correr, ela sentia que precisava continuar correndo.
Uma sensação familiar a transbordava desde que voltou ao castelo de sua família. Seu retorno foi devido a invasão que aconteceu no convento onde estava desde os três anos. A moça de quinze anos foi a única sobrevivente do massacre, foi encontrada em meio aos corpos gélidos como aquela noite, coberta de sangue de suas irmãs católicas. Seu cavalheiro a achou, com seus olhos bicolores assustados o fitando.
De alguma forma Savana sobreviveu e isso virou o mistério do Reino Bardavon. Todos observaram a pobre princesa que havia sobrevivido, também não deixaram de comentar que ela havia sobrevivido por ser uma bruxa de magia proibida.
Savana passou a ficar apenas dentro das instalações do castelo, envolta de uma muralha grande e pesada. Ela era treinada pessoalmente pelo seu pai, o atual Rei Idon, que a ensinava duramente o comando de uma espada. Por mais que ela gostasse de passar esse tempo com o seu pai, ela sentia que ele escondia algo dela, algo de estrema importância.
Numa calada da noite, Savana foi acordada por barulhos altos, era uma luta. Ela pegou a sua espada e correu para chegar até os aposentos de seus pais, porém quando abriu a porta, ambos estavam mortos. Seus joelhos atingiram o chão abruptamente e um grito surgiu do núcleo do seu ser. Era um lamento grande, que fazia seu corpo tremer ora de ódio ora de dor.
— Savana! — ela ouviu uma voz distante a chamar, mas era tarde demais.
Savana levantou e saiu do quarto com lágrimas presas em seus olhos tão diferentes e que se iluminavam de sentimentos conflitantes que eram alimentados pelo luto e a raiva. Ela viu homens se aproximarem dela, provavelmente era os invasores que mataram a sangue frio e covardemente os seus pais.
Ela não os poupou, ela não enxergava nada além dos corpos frios dos seus amados pais. Ela empunhou sua espada e começou a lutar com os três homens a sua frente que não tinham nenhuma chance contra ela.
Todos achavam que eram só boatos, nada além de burburinhos, mas era tudo verdade. Savana tinha poderes, herdados de sua vó que foi queimada na fogueira intitulada como uma portadora de magia proibida.
Os homens sorriam dizendo a jovem princesa que acabariam com ela e ainda a provariam. Isso apenas só a encheu ainda mais de raiva. Logo uma sombra azul foi cobrindo a lâmina afiada que estava em suas mãos. Ela apertava o cabo com força e correu na direção deles.
Não deu tempo de recuarem com suas expressões de medo por terem visto o poder dela despertar bem diante de seus olhos. Ela os matou, a sangue frio com sua lâmina poderosa. Ela estava ofegante quando começou a ver o que fez, ela largou a espada e observou suas mãos trêmulas e sujas de sangue.
Um rastro de poder azul claro ainda brilhava em suas mãos.
— Savana... — a voz do cavalheiro Zandon sumiu ao contemplar ainda a magia de sua amada. — Temos que sair, agora.
A jovem ainda estava imóvel, tremendo de pavor e tentando entender o que havia feito. Ela se sentia um monstro, se sentia suja e perigosa. Quando seu amado andou em sua direção se assustou e olhou para trás.
— Por favor... não se aproxime... — a voz trêmula e chorosa soava.
— Eu não tenho medo de você, Sav — passou segurança em sua voz e estendeu a mão para ela.
Dava para ser ouvir gritos e som de espada se aproximando, ela respirou e engoliu todo o seu medo e segurou em sua mão grande e quente e ambos foram para os aposentos dela. Não permaneceram muito ali, ele já havia separado uma roupa para ela vestir e saíram rumo a floresta.
Savana estava preocupada com o futuro do seu reino, imaginava que era uma aberração e não uma princesa, que agora era rainha. Ela parou de correr, mas Zandon a puxou pelo braço e continuaram até chega numa casa de madeira velha.
— Sav...
— Eles estão mortos, Zan! Mortos!
Ele a abraçou fortemente, tentando a tranquilizar daquela fatalidade. Ele repousou sua testa na dela, ambos com os olhos fechados e corações pulsantes. Zandon era o cavalheiro pessoal da princesa, foram criados juntos, porém a missão do jovem pobre era protegê-la de qualquer ameaça. Foi ele quem a resgatou no dia do massacre do convento. Isso logo foi se transformando com o tempo num sentimento que eles não conseguiam controlar.
— Eu sinto muito...
— Precisamos voltar...
— Agora não — ele encara os olhos assustados e fortes da sua amada. — Você precisa dominar o seu poder...
— NÃO! — ela se afasta dele virando-se de costas. — Eu sou um monstro como eles dizem! Eu... já machuquei pessoas, não vou deixar essa coisa me controlar.
— Só machucou pessoas porque não aceitou o que era, Sav — ele a vira em sua direção com ternura no olhar. — Não pode reprimir o que é. A magia corre por suas veias, faz parte do seu ser, é quem você é. E você precisa aprender a controlar para tirar o seu povo daqueles tiranos. Toda esperança deles está em você, a única herdeira do trono.
Diante das palavras de Zandon, Sav relaxou os ombros. Ela sentia que devia acreditar em si mesma, que apenas isso iria eliminar essa grande ameaça desconhecida. A lenda era clara e dizia sobre ela.
— Uma jovem princesa acenderá, magia por suas veias correrá, e a esperança junto com ela virá. E o povo finalmente terá uma rainha para louvar — a lenda profere dos lábios de Zan. — Essa é a sua história, mas não é o final ou o começo. É o meio, que você também pode mudar, Savana. O poder está em suas mãos.
Zan acaricia a mão de sua amada a passando determinação. Ela abre um sorriso doce para ele e concorda com a cabeça. Logos eles partiram dali indo para única pessoa que poderia ensina-la como salvar o seu reino.
Um mago havia sido exilado por suspeitarem que ele estava fazendo magia proibida, mesmo que a mando de um Rei do reino vizinho ao de Savana, apenas ele havia sido punido. Logo quando chegaram ele estava à espera deles, parecia que sabia que precisava ensina-la a controlar o vasto poder.
Savana se lembrava de como era suas lutas com seu pai, mas nada se comparava a lutar com o Mago Gox. Ele tinha agilidade em mãos, seus poderes numa chama verde queimavam por seus dedos e acertava o alvo que ele mirava.
Aos poucos a de sangue real passava de medo para admiração. Ela estava gostando de cada ensinamento e feitiço que aprendia. Se passaram meses com ela treinando arduamente todos os dias. Ela estava ali, enfrentando Zan numa luta de espadas encantadas. Eles estavam concentrados quando Gox chamou a atenção deles.
— Está na hora de tomar o reino de volta, vossa majestade — ele disse fazendo uma reverencia que agora não deixava mais Savana envergonhada, e sim honrada pelo respeito que tinha conquistado dele.
— Vou tomar de volta o que é meu — a voz de Savana estava forte e confiante. — E subirei no trono e salvarei o meu povo.
Zan não poderia estar mais que orgulhoso de sua amada, ela tinha evoluído e finalmente aceitado quem era. E ele faria de tudo para protegê-la, mesmo que com isso ele morra. Ele não contou isso para ela quando montaram nos cavalos e foram para Bardavon, não queria que ela conseguisse tirar isso da cabeça dele. Ele havia feito um juramento, e iria cumpri-lo até final, mas torcia para que não chegasse a esse extremo, porque queria viver ao seu lado, não apenas como cavalheiro e sim como seu marido, pai de seus filhos.
Eles param um pouco longe do castelo para verem qual era a verdadeira situação, Savana colocou a mão na boca e sentiu lágrimas escorrerem por seu rosto quando viu a situação do seu lar. Havia fumaça e fogo por todo lado, casas destruídas, pessoas sendo escravizadas e sendo castigadas bem a sua frente.
Ela queria acabar com todos, mas respirou fundo e focou no verdadeiro problema que deveria ser erradicado. Só assim teria seu reino e seus súditos a salvo. Ela e Zan entraram pela passagem secreta que gostavam de brincar quando eram crianças, apenas conhecida por eles dois e dava bem a sala do trono.
Ela observou pelo buraco da parede o líder de toda aquela destruição e para a sua surpresa também sentia uma forte magia vindo dele. Mas não era como a dela, calma e neutra, a do loiro de olhos pretos inundados de maldade só havia o caos e o tormento.
Os olhos dela se guiam para Zan, ela sentia que hoje existia a forte chance de perder quem mais amava. Ela se virou e segurou em suas mãos.
— Eu te amo — declarou ela o fazendo abrir um sorriso. — E quando isso acabar, eu me cassarei com você e juntos vamos tornar esse reino melhor. Então para isso, fique vivo.
— Eu também te amo, e sobre ficar vivo, isso vale para você também — ela sorriu com suas palavras.
Os lábios deles se juntam num doce e apaixonado beijo, cheio de promessas e juras de um futuro não tão longe.
Eles se preparam e Sav lança um feitiço de explosão por todo o castelo que ela conhecia como a palma de sua mão. Bem em pontos estratégicos para desviar a atenção dos aliados do mal e deixá-los confusos.
Savana se sentia pela primeira vez em toda a sua vida, livre. Ela sentia que essa era a verdadeira Savana de Bardavon. A princesa destemida que seus pais tanto queriam que ela fosse. Ela agora dominava bem as chamas azuis que saiam de suas mãos, havia agora uma familiaridade quando ela enroupou o lugar jogando toda aquela parede no chão surpreendendo os homens ali.
— Eu te dou cobertura — Zan gritou e começou a lutar com os guardas do loiro com essência pesada.
Savana o atacou, fazendo pequenas lâminas afiadas banhadas com o seu poder atacar o loiro que desfiou de todas como ela previu. Mas uma delas se desviou da outra, o atacando por trás e abrindo um corte em sua bochecha esquerda e a lâmina retornou a sua mão como um bumerangue.
— Sua...
— Eu sou sua verdadeira e única ameaça, e não vai ser fácil acabar comigo!
Savana voltou ataca-lo, e o loiro rebatia com um sorriso debochado em seu rosto. Ambos se feriam. Se golpeando, batendo e desfiando, defendendo e avançando. Parecia que nenhum dos dois ia desistir tão cedo.
— Nunca ninguém me venceu — ele diz imobilizando Zan que solta um grito de dor. — Por que todos os meus inimigos são fracos por amar. Eu sou o verdadeiro Rei, eu, Rabeer dominarei essas terras e todos vocês serão meus escravos!
Savana não podia acreditar que o homem a sua frente quebrou suas defesas e chegou até Zan. Uma raiva foi a consumindo, a cegando. Lembranças daquela fatídica noite a nublando e ressurgindo em sua mente. Seus pais mortos, sem qualquer chance de se defender, ela canalizou toda aquela dor e raiva para a transformar em poder.
O chão começou a tremer e os olhos dela ficaram cobertos por uma chama azul, em suas mãos tinham uma chama forte que fez Rabeer recuar um passo. Antes mesmo dele fazer o que pretendia ela o empurrou para trás com uma rajada de poder que ele mesmo desconhecia.
— Como... como tem esse poder todo? Você é apenas uma princesa mimada...
— Eu sou Savana, Rainha de Bardavon, e hoje mostrarem aos meus futuros inimigos do que sou capaz!
Savana ergueu o loiro do chão, mesmo ele tentasse se desprender do feitiço já era tarde demais. Savana o esticou a ponto de todos os seus membros se separarem. E logo sua cabeça rolou aos pés dela. Ela observou os olhos frios e escuros do seu primeiro inimigo abatido aos seus pés.
Ela levantou a cabeça com seu poder e isso fez com que os inimigos se rendessem ali mesmo. Zan que estava um pouco cansado e ferido da batalha sorriu para ela com orgulho.
A futura rainha estendeu a sua mão a ele, que logo agarrou e foram até a sacada do castelo que dava para ver todo o reino. A jovem lançou um feitiço que repercutiu sua voz e imagem todo o reino.
— Meus súditos — ela sentia que todos estavam prestando atenção neles. — Hoje a tirania de Rabeer acaba! — ela mostra a cabeça decepada dele a larga fazendo-a cair num lugar que não conseguia ver dali de cima. — Não vão mais sofrer, nós os libertamos e prometemos ser o Rei e a Rainha que vocês merecem!
Savana olhou para Zan que estava mais do que orgulhoso, ele não via mais rastros daquela pessoa insegura, tudo que ele via ao seu lado era a verdadeira Rainha de Bardavon. Savana Arpertins.
A futura Rainha sabia que Rabeer era seu primeiro inimigo, mas não o seu último. Ela lutaria por seu povo e tornaria todo o seu Reino melhor. E não poderia deixar de ver que ao lado do seu amado e dos seus súditos ela era finalmente livre e feliz.
Por: Wanny Cristine
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