O que faz o natal
A noite cai e a neve também, aproveito para me agasalhar e sair lá fora. Coloco minhas botas, duas calças, duas blusas, luvas e uma touca da Hello Kitty que ganhei quando eu tinha uns 6 anos de idade (na verdade, eu não ganhei, eu peguei da minha irmã), que por incrível que pareça, ainda cabe na minha cabeça.
Abro o portão e saio de casa, sinto os flocos de neves caírem sobre mim, eles deslizam sob minha pele extremamente branca. E aí que eu percebo que no Brasil não neva, a neve na verdade é a chuva que cai. Ai, ai, que ilusão não é mesmo?
- Ô, Luís Carlos! Sai dessa chuva, menino! Tu vai ficar resfriado!
Escuto a voz da Dona Neide (mais conhecida como minha mãe) me chamando. Vou correndo para dentro de casa, alguns parentes meus estão sentados em cadeiras, conversando sobre a vida e sobre promessas que nunca vão cumprir.
- Já tá na hora de jogar essa touca fora, tu não acha? - Minha mãe dizia em relação a minha touquinha da Hello Kitty.
- Claro que não! Ainda dá certin' na minha cabeça! Tá zero-bala!
Minha mãe ficou discutindo comigo por mais alguns minutos, mas logo ela desistiu, ninguém tira minha touquinha de Hello Kitty de mim.
Tirei todo o excesso de roupa e me sentei em um degrau da escada, aproveitei para comer uma fatia de pudim que alguém tinha feito. O Natal para mim é isso: Comer e abraçar pessoas que você não vê a mais de um ano.
Fogos de artifícios e conversas repetitivas é o que mais se ouve. Acho que a falsidade reina aqui, e vai ser a mesma coisa no ano que vem e nos próximos anos.
Mas, vamos direto ao ponto, aqui, o Natal pode se resumir a: Uva passa, maionese com maçã, fogos de artifício, falsidade, ceia antes da meia-noite, "É pavê ou pa cumê?", Roberto Carlos, sobremesa que a sua tia Cleide faz, churrasco, gente bêbada te abraçando e etc. Agora você vai me dizer que o Natal é para comemorar o nascimento de Jesus? Para celebrar o amor, ou algo do tipo? Se você pensa assim, provavelmente você é rico, mude minha opinião.
Os presentes já foram abertos de manhã, eu ganhei uma camiseta. Todo mundo sabe que quase ninguém gosta de ganhar roupa no Natal, principalmente uma roupa que você não pode usar, já que você É ALBINO NO BRASIL. Ou seja, se você usar uma camiseta, você provavelmente ficará com a pele toda queimada em menos de 5 minutos.
Mal termino meu pudim e o meu tio Zé levanta uma lata de pitú para o alto e anuncia:
- JÁ VAI DAR MEIA-NOITE!
Todo mundo se levanta e se aproximam mais um do outro, para começar a contagem regressiva:
- DEZ, NOVE, OITO, SETE, SEIS, CINCO, QUATRO, TRÊS, DOIS E... - Todos esperam que comecem a soltar os fogos de artifício para sinalizar que já deu meia-noite, mas isso demora pelo menos uns dois minutos e todo mundo só fica repetindo "E..." várias vezes.
Até que finalmente soltam os fogos e todos comemoram:
- FELIZ NATAL!
Todos começam a abraçar um ao outro, parentes que eu nem lembro quem são me abraçam também, o cheiro de bebida alcoólica estava bem forte.
Logo, minha mãe coloca um CD do Aviões do Forró para tocar, todo mundo começa a dançar um com o outro, alguns tropeçam, mas não perdem o ritmo e continuam a dançar.
O Natal pode ser meio "repetitivo", seguindo sempre a mesma "fórmula", mas acho que é isso que faz o Natal daqui ser tão único. As pessoas bêbadas, o Roberto Carlos cantando, as comidas boas que são estragadas por conta de alguns ingredientes, as piadas chatas, os fogos que infelizmente são barulhentos, os parentes que você nem lembrava mais. Enfim, acho que são eles que fazem o Natal, que animam e desanimam. No próximo ano, será a mesma coisa, só que diferente. Feliz Natal! E não prometa que vai fazer algo ano que vem, sabendo que você não vai cumprir, ein!
Por: Rebeca Silveira
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro