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O poder das palavras

Tio Berg atrasou-se o máximo que pôde, chegando após todos os outros parentes. Tirou o casaco risca de giz e o jogou de qualquer jeito, cochichou algo ao ouvido de sua esposa e sentou-se, aborrecido, perto da saída da sala. Seu rosto deixava claro que estava ali apenas por obrigação.
 
— O Berg não tem vergonha. — Comentou baixinho dona Sandra, trajava um vestido de bolinha plissado em tons de verde. — Chegou a essa hora e ainda não trouxe nada.
 
— Mãe… — Disse Clara em tom de repreensão.
 
Tio Ciro recebia a família no natal esse ano, e o anfitrião não fora discreto na decoração. As renas brilhantes sobre seu telhado podiam ser vistas desde à esquina da rua, as duas árvores na calçada estavam tão rodeadas de luzes que mal se podia ver suas copas. Por dentro, o cenário era digno de sitcom de natal americana: um belo pinheiro de dois metros de altura reinava no salão, além das guirlandas, presentes, luzes, esculturas, mini árvores e um belo presépio de cerâmica no lado oposto à árvore. As tapeçarias marrons, com detalhes verde-musgo e carmesim eram de encher os olhos.
 
— A casa do Ciro tá parecendo um shopping. — Comentou Sandra mais cedo, ao chegar, rindo debochada.
 
Dona Sandra, não era aquele tipo de pessoa que fala mal da família o ano todo pra falar bem só no natal. Ela falava mal da família o ano todo e também falava mal no natal. Nem sua mãe, a santa dona Inácia, escapava de seus comentários ácidos.
 
— Mas olha esse colorido todo… — Disse ela enquanto abocanhava uma rabanada. — Que brega, meu Deus… tem gente que não tem noção do ridículo, né filha?
 
— Mãe… a tia Jane tá vindo aqui. — Cutucou ela, vendo que a esposa do tio Ciro se aproximava.
 
— Sandra, tá gostando, querida? — Disse a anfitriã, lançando um sorriso branco enquanto acariciava o ombro esquerdo da mais jovem.
 
— Tudo muito lindo, Jane. — Respondeu a mãe. — E essa decoração… simplesmente MARAVILHOSA. — Suspirou, voltando-se para a filha. — Estava aqui comentando com a Clara sobre o bom gosto de vocês.
 
A garota resolveu não compactuar com o momento e se afastou, passeando pelo salão enquanto bebericava, paulatinamente, o refrigerante. A sala estava cheia de gente, as vozes misturavam-se em um ruído quase único atrelado à música de fundo natalina. Aproximou-se da mesa principal. roubando uns doces e os pondo no bolso. Comeu um deles vendo sua tia de Angra cada vez mais perto.
 
“Ah não, ela vai perguntar se eu tô namorando, como em todos os anos”. 
 
Em passos rápidos saiu dali, cruzando algumas crianças que corriam. Entrou por um corredor longo. Conforme caminhava rumo ao fim dele, em direção ao banheiro, o som ia perdendo a força. Clara entrou, fechando a porta atrás de si, respirou fundo, analisando bem sua imagem no grande espelho redondo.
 
— Oi Clara. — Disse uma voz aguda, quase infantil. A garota estremeceu, olhando para trás.
 
— Quem tá aí? — Seus batimentos aceleraram. Percorreu todo o banheiro com os olhos, não havia mais ninguém.
 
Voltou-se novamente ao espelho, mas a visão quase fez seu coração pular para fora: um ser pequeno e verde, logo atrás de si, aparecia no reflexo, sobre a caixa da descarga. Clara rotacionou o corpo rapidamente, mas o pequeno havia desaparecido.
 
— Eu tô aqui, Clara. — Disse novamente a voz estridente, vinda de outra direção. Clara olhou para cima, vendo apenas um vulto mover-se. — Hahahaha, te peguei. 
 
— Eu tenho uma arma. — Disse a garota munindo-se de um barbeador que encontrou perto da torneira.
 
— E o que vai fazer? — A voz infantil parecia mais próxima. — Aparar minhas costeletas? Hahahahaha.
 
A jovem meteu a mão por dentro do armário de toalhas, sentindo que finalmente capturara o ser que a perturbava. Puxou-o para fora.
 
— Que p… é essa? — Clara jogou o pequeno ser na pia, assustada, enquanto se afastava rumo à parede oposta.
 
— Oh, também não precisa machucar...— O pequeno humanóide de trinta centímetros de altura, orelhas pontudas, assim como seu chapéu, e pele esverdeada, tentava se recompor da pancada.
 
— Você é… — A voz da moça falhou, suas mãos tremiam. Pensou em sair correndo mas estava em choque. — … Quem… O que é você?
 
— Meu nome é Sami. — O minúsculo ser retirou o chapéu para limpá-lo, revelando uma fina cabeleira marrom. — Isso é tão divertido, quando nos revelamos pra algum humano… — Suspirou. — Amanhã você vai ter esquecido quase tudo e imaginar que foi só um sonho...— Sami fez uma pose de cerimonialista, fechando os olhos orgulhosos. —  Eu sou um…
 
Ele ainda falava quando a ação de Clara o fez parar.
 
— Vamos ver se eu vou esquecer mesmo. — A jovem sacou seu celular do bolso, na intenção de filmá-lo, mas estranhamente o aparelho ficou sem bateria.
 
— Não adianta, criança malcriada. — Disse com desdém. — Amanhã você vai esquecer quase tudinho… — Sentou-se na beirada da pia, balançando as pequenas pernas. — Eu sou o que vocês chamam, ridiculamente, de duende.
 
Clara prendeu o riso. No alto de seus quinze anos não tinha mais idade pra acreditar nessas coisas. Sentiu um frio na espinha, uma pequena crise interna que a fazia questionar a realidade daquele momento.
 
— Du...Du...Duende? — Ela tentou se aproximar aos poucos.
 
— Pode chegar, eu não mordo. — Sami fez um gesto, imitando um cachorro prestes a morder, Clara recuou assustada, o duende pôs-se a rir.
 
— O que você tá querendo comigo? — A jovem respirou fundo recuperando, aos poucos, a calma.
 
— Você foi a escolhida desse ano, Clara. Meu chefe a escolheu para salvar o natal da sua família.
 
— Chefe?
 
— Não se faça de boba. — O duende se levantou. — Todo mundo sabe que duendes trabalham pro Papai Noel… eu trabalho pro Papai Noel brasileiro.
 
Dessa vez não conteve o riso, abrindo a gargalhada. 
 
— Não existe Papai Noel brasileiro… Isso é alguma pegadinha, né? Cadê a câmera? — Olhou os cantos superiores das paredes. — É do Silvio Santos?
 
Sami respirou fundo e pôs a mão nos olhos, já perdendo a paciência. 
 
— Olha aqui, garota. — Apontou o dedinho em sua direção. — Existe Papai Noel brasileiro sim, existe um “Papai Noel” para cada país…
 
— Tá me dizendo que cada país tem o seu próprio Papai Noel?
 
— Claro… ou você ainda acha que um único velho gordo consegue dar conta do mundo sozinho? — O pequeno pôs a mão na cintura. — Esse papo de ter só um Papai Noel, branco, barbudo, que presenteia as crianças do mundo inteiro foi uma grande fake news criada pelo Papai Noel norueguês que acabou virando mito.
 
— Então de onde é esse Papai Noel brasileiro? — Perguntou cerrando os olhos, ainda duvidosa.
 
— Já que você tá tão curiosa, eu vou te falar tudo sobre meu chefe. Mas depois chega de perguntas, ok? Temos que correr na sua missão dessa noite. 
 
— Combinado. Não pergunto mais, agora fala.
 
— De onde o Papai Noel brasileiro veio é algo meio óbvio: ele veio da Amazônia. Mas ele não tem casa parada, vive em uma grande balsa que percorre o Rio Amazonas e seus afluentes, sem nunca parar. Uma casa flutuante que jamais poderá ser encontrada pelos homens e que se alimenta da magia da mata intocada. A floresta fornece a energia para a casa andar sobre a água, para a produção dos presentes e também dá saúde ao meu chefe, sua vida e trabalho fluem do poder emanado pelo ecossistema. Infelizmente a mata intocada está diminuindo cada vez mais, o que tem afetado a força e o trabalho do nosso bom velhinho. — Sami ficou um tanto cabisbaixo.
 
— Gente… — Clara coçou o alto da cabeça, não havia reação coerente para aquilo tudo. — Tô chocada. E cadê ele? E que missão é essa?
 
— Meu chefe está fazendo seu trabalho: cuidando do Natal das famílias desse Brasilzão, para algumas ele manda emissários especiais, como eu.
 
— hmmm, entendi. Não somos dignos de receber o próprio Papai Noel, por isso ele enviou só um ajudantezinho.
 
— Olha o respeito, Clara… — O pequeno fechou o rosto. — Menina atrevida. Eu sei que você foi má esse ano todo, compactuando com uma rede de fofocas criada, principalmente, pela sua mãe. Por isso, uma tragédia está prestes a acontecer hoje aqui, sua missão é impedí-la.
 
— Nossa… com tanto anão o Papai Noel me mandou logo o zangado? — Clara revirou os olhos e se aproximou. — Que tragédia?
 
— Você viu a forma que seu tio Berg chegou…
 
— … Ah sim. — Ela o interrompeu, sedenta por contar o fuxico. Às vezes os genes de Sandra gritavam em Clara. — Tio Berg tá puto por causa de um dinheiro que o tio Ciro emprestou e depois cobrou com juros, ainda teve a treta com os filhos deles… coisa de criança que morde outra mas já sabe, né… muita coisa e os dois nem tão se falando.
 
— Você esqueceu de citar, querida, que a culpa disso tudo é de sua mãe, que falou mal do Ciro pro Berg, e falou mal do Berg pro Ciro… e o que você não sabe é que o Berg veio armado, naquela sala... — O pequeno apontou. — Uma grande catástrofe familiar está prestes a acontecer. 
 
A garota apertou o rosto com as mãos.
 
— Ele não seria capaz… seria?
 
— Não vamos pagar pra ver. — Sami sacou um saco de feltro recheado. — Tome isto.
 
Clara segurou, confusa.
 
— Meu chefe trabalha com produtos naturais… mas naturais de verdade, não como esses biscoitos e chás que vocês compram no supermercado e chamam de natural. Neste saquinho tem um pó extraído de uma flor raríssima da amazônia, enriquecido com óleo de algas do rio. Você vai colocar um pouco dele, discretamente. — Apontou o dedo, enfatizando esta parte. — Na rabanada da sua mãe, eu sei que ela tá se empanturrando disso.
 
— O que isso tem a ver com o tio Berg armado e o barraco na família, anãozinho?
 
— Oh menina lerda… — Sami respirou fundo. — Tua mãe causou isso e ela quem vai resolver. Este pózinho tem atributos mágicos, uma vez ingerido, quem o ingeriu perde a capacidade de falar mal de alguém, tudo é substituído por palavras positivas e elogios verdadeiros. Papai Noel brasileiro usa muito isso.
 
— Hmmm então tá explicada tanta falsidade no final de ano.
 
— Alto lá. — O duende a interrompeu. — Não trabalhamos com falsidade, são palavras de amor verdadeiro, o produto apenas desperta sentimentos reais que estão escondidos e bloqueia os negativos, mas seu efeito é limitado e dura até meio dia do dia 25 de dezembro. Gostaríamos de usar o ano inteiro, reduziria muito os níveis de violência no país. Mas infelizmente a matéria-prima é muito rara, para sua preservação nos limitamos a fabricar o pó para uso apenas nos natais.
 
 
Após isso, o pequeno ser sumiu. Clara, ainda trêmula, ouvia sua voz a instruindo. O pequeno pacote podia ser escondido na palma da mão.
 
 
— Trouxe rabanada, mãe. — A garota se aproximou, estendendo o alimento envolto num guardanapo. Instantes antes havia posto parte do pó sobre o mesmo.
 
— Comi muita rabanada já. — Disse a mulher. — Tô me guardando pro Piru.
 
“Droga”.
 
Hora do plano B, Clara gastou outra parte do pó num copo de refrigerante, mas uma das crianças tomou de sua mão, bebendo enquanto se distanciava.
 
“Ah peste”.
 
Só restava um pequeno punhado do conteúdo, era sua última chance. Sabia exatamente o que deveria fazer.
 
Clara foi até a mesa, tomou um biscoito natalino em formato de soldadinho, despejou nele o último punhado de pó mágico, caminhou até sua mãe e disse:
 
— Mãe, tia Jane fez esses biscoitinhos e jurou que é melhor que o seu.
 
— Ela disse o quê? — Sandra virou-se indignada. — Deixa eu ver se essa porcaria chega aos pés do meu biscoito... — Ingeriu completamente o doce.
 
Em questão de segundos seu aspecto mudou, um brilho diferenciado tomou conta de seu olhar.
 
— Nossa... — Dizia ainda mastigando. — Jane se superou com esses biscoitos, sabor e crocância na medida certa, simplesmente divinos.
 
Aquele natal fora diferente de todos os outros que vivi. O aspecto dos parentes mudou radicalmente após algumas conversas. Sandra tornou-se um anjo conciliador, propagadora da harmonia em família. Ao fim do amigo secreto alguns choravam e pediam perdão uns aos outros. Clara descobriu, naquela noite, uma das maiores lições da vida, aprendeu o tamanho do poder que possuíam: O poder das palavras.

Por: Lucas Gabriel

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