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A última carta de Rory

Rory era desconcertante. Interagir com ela era desconcertante. Primeiro porque ela não respondia bem, se você falasse. Segundo: ela tinha espasmos involuntários. Muitos. Eles a afastavam das pessoas legais. Rory ria. E quando isso acontecia, parecia que havia engolido um Spitz-alemão.

Não que ela houvesse engolido um, quando criança. Não foi isso. Não era comum encontrar gente como ela por aí. Ainda que houvessem um monte de crianças ou adolescentes iguais.

Bem, Rory não era mais uma criança. Embora um monte de gente achasse isso. Ela já tinha dezesseis anos. E ainda usava a porcaria duma cadeira de rodas.

Dezesseis anos acreditando que o papai Noel ia lhe dar umas muletas. Pasmem, ele não deu. E ela passou a acreditar que o Deus judeu seria a última esperança. Pasmem, Ele não foi.

Rory não falava, não andava, não dizia que doía em lugar nenhum. Não, ela não ia realizar nenhum sonho. Porque Deus parecia não responder nenhuma das orações. Ou simplesmente não queria, sei lá.

Isso a magoava.

E não, não adianta você dizer que é porque ela não tinha fé.

Ela tinha. Isso. Isso era verdade. Rory esperou tantos, mas tantos anos por um par de muletas, uma boa notícia dos fisioterapeutas...

A crença minguou. E depois?

Ela estava deprimida. Farta de ouvir dos amigos da família:

— Ora mais.

— Pede mais.

— Por que não clama? Sei lá. Grita, ué.

Pasmem. Ela fazia isso toda noite antes de dormir. Gritava, chorava, dizia que odiava ao Deus judeu, para ele escutar. Mas doía. Pode ter certeza. Doía odiar. Doía dizer que ela não cria mais.

Doía ver que Deus curava todo mundo. Menos ela.

Parecia que Ele tinha uma peninha boa de todo mundo, mas logo ela tinha que ser o Mefibosete¹ da história. O tipo de pena ruim. E ria pra todo mundo que nem um Spitz. Ela odiava rir como um Spitz. Como é que ela conseguia rir? Na verdade, eu não sei.

Mas mesmo que não pudesse andar, tinha aquela prancha² idiota, na qual ficava todos os dias — para treinar a coordenação motora fina³ e empilhar, montar, aprender a levar papinha de nenê à boca, pintar, montar quebra-cabeças ou pegar objetos e passá-los de uma mão para outra, como bolinhas, e saía de vez em quando.

O seu avô paterno, Rustolff, foi quem a confeccionou.

Para falar a verdade, Rory recebia presentes. Mas ela não gostava de nenhum, porque lembravam que ela precisava parecer normal. Que ela, além de conseguir rir o tempo inteiro, não conseguia mais nada.

Mãos horríveis. — ela encarava-as. Rosto horrível. É sério que eu não vou ganhar presente esse ano? — pensou, encarando o teto em seguida. Cara, o que foi que eu fiz pra... — bufou, olhando para o lado, revirando os olhos. Tá. Chega. Ele não vai me ouvir.

Semanas antes do Natal, a adolescente estava deitada no sofá da sala de sua casa. A tevê, ligada. Rory zapeava entre canais exibindo comerciais, desenhos animados ou receitas de Natal, entediada. Mas no que ela pensava, mesmo, era em como iria escrever e enviar a última carta ao bom velhinho. Era tedioso esperar por um milagre. Era angustiante querer ver a mãe feliz, o pai feliz, os amigos da família, os irmãos da igreja...

Uma mesma pergunta sempre tomava seus pensamentos a essa época do ano:

Por que?

Por que eu preciso acreditar no Senhor se não me cura como curou outras pessoas?

Por que eu preciso ser curada?

Por que eu só consigo ter raiva, em vez de simplesmente saber que me ama?

Não pareço ser amada. Queria que Fritti fosse feliz, mas eu só lhe trago desgosto.

Me sinto culpada por tudo que aconteceu, ainda que eu fosse apenas um bebê muito, muito molinho e sujasse todas as minhas roupas de papa de neném. Sei disso porque papai me contou. Ele não gosta de falar de quando eu era menor, porque é triste. Ouço tudo que ele conta. Ouço-o rir quando chega na parte em que diz que eu era bem esperta, apesar disso, e que não parecia compreender sua angústia. Enquanto apenas eu guincho, balbucio tentando dizer, enquanto abro e fecho os braços, desesperada:

— Uupa, a...⁴

A testa dela se vinca, mas sua expressão não muda. É sempre a mesma. Rory ouve tudo. E reage a tudo. Só é difícil de perceber porque ela faz muito barulho.

— Você disse...

— Uuuuuh!⁵

Erich não entendeu. Droga !

— Precisa ir ao banheiro, Rory?

Não!

Ela faz um biquinho e olha para cima. Outro espasmo.

Suspira.

— Está com fome?

— UUUUUUUUUM!

Por que você não entende o que eu falo?

O que você quer dizer, meu bem? — Erich olha para a filha, consternado.

— Ma... ma... ma... ma!

— Quer que eu vá chamar a Fritti?

Ela balança a cabeça.

— Tá bom, amor. Já escreveu sua carta de Natal? Ponho pra você na caixa de correio. — se levantou da cadeira da cozinha, inquieto.

Ainda não. Vou escrever uma sozinha. Não quero ajuda!

— Uuuuuuu...

— Não, não escreveu? Hã... — ele virou a folha do calendário de parede. — Duas semanas e meia. — olhou-a, dando duas batidinhas nele: — Você tem duas semanas para escrever uma, Rory. Certo? — levou a xícara de café à boca e sorveu um gole. — O que vai pedir?

A filha olhava para ele de lado, um pouco enrijecida.

— Que tal...

Não vou contar! — balançou a cabeça energicamente.

— Fritti! Rory ainda não escreveu a carta desse ano! Você ajuda?! — disse, alto, querendo que sua voz chegasse escada acima.

Ai, saco! Eu disse não!




Eu estava com raiva até agora. Tanta raiva que comecei a me mexer um bocado no sofá.

— Aaaaaaaahn! — batia minhas mãos nos assentos. E continuei a fazer isso até que a mamãe veio ver o que era que estava acontecendo.

— Qual é o problema, Rory?

Apontei para a prancha ortostática com o queixo. Queria estar em pé para fazer o que precisava fazer. Estava cansada de guardar todas as minhas angústias só para mim. Precisava escrever aquela carta. Mesmo que não soubesse escrever uma.

— Lá? — mamãe perguntou, surpresa. — Por que?

Choraminguei.

É horrível quando eu fico estressada e faço esses barulhos.

Vamos! Me põe lá! Eu tive uma ideia melhor esse ano!

— Calma, Rory! Para! Eu te levo pra prancha, eu te levo! — veio até mim e me abraçou.

Eu estava com falta de ar.

Mamãe limpou as lágrimas dos meus olhos, enfiou as pontas dos dois velcros largos pelos buracos da placa de madeira. Depois encaixou a mesinha de atividades no local e me perguntou:

— Trouxe papel, lápis e canetinhas pra você. Quer escrever sua carta para o papai Noel, agora? Vou te ajudar. — ela pôs os objetos sob mim, organizando as folhas e os instrumentos.

A olhei. Não queria que ela ajudasse. Meu braço estava dobrado sobre a mesinha e as folhas e do nada eu o estiquei, derrubando parte dos objetos. Uma delas colou no meu cotovelo.

Não precisa, mãe. Eu faço sozinha.

Suguei o ar e fiz um bico, erguendo as sobrancelhas.

— Você... Você quer que eu te deixe sozinha... É isso?

— Aaaaaahn... — isso era um "Sim".

Naquele dia, eu "escreveria" uma carta para Deus. Lhe contaria das minhas mágoas para com algumas pessoas e amigos da minha família.

E mamãe.

Mesmo que só fossem um monte de rabiscos coloridos e tortos.

Precisava tentar me expressar da forma que conseguisse. E eu queria dizer muitas coisas. Aquela carta seria a minha última. Uma última tentativa de fazer Ele olhar pra mim e saber do que eu sentia.

E que eu sentia as coisas como qualquer outra pessoa.

______________________________________________ 

¹N.A: personagem bíblica. Ver II Samuel 4:4.²Equipamento usado em sessões de fisioterapia.³Compreende o uso de músculos menores do corpo, como as mãos, para pegar objetos. ⁴"Desculpa, pai." ⁵Rory quis dizer "Não!".

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