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Valentim

#PRATODOSVEREM 👁️ | banner de cor amarela. Do lado esquerdo, ilustração de uma mulher de cabelos castanhos presos em um coque aproxima seu rosto do do filho recém-nascido como se fosse beijá-lo. Há folhas grandes de cores rosa e branco à volta deles; à direita, pode se ler "Valentim", título do conto. Pétalas em formato de coração caem. Conto escrito por Stella Cerqueira

1982 - 2019

Mãe, esposa e sacrifício


A morte nunca foi bonita aos meus olhos. Até que ela morreu.

Minha mãe nunca gostou da ideia de uma vida solitária, então quando eu tinha 14 anos ela e o papai decidiram me dar um irmãozinho. Bom, na verdade o Valentim já estava há 3 semanas na barriga dela quando eles descobriram que iam me presentear com um irmão.

Porém a êxtase da boa nova apenas durou até o final do terceiro mês de gravidez, quando o papai e a mamãe foram juntos em uma consulta de pré-natal. A estranheza começou quando o médico passou a encarar por tempo demais as folhas com os resultados dos últimos exames, levantando uma das sobrancelhas e circulando partes do relatório com caneta azul. Eu não estava lá, mas papai me contou.

O doutor, a princípio, não disse o que havia de errado, mas passou uma bateria de exames que deveriam ser feitos com urgência. Papai entrou em desespero, ele queria saber se estava tudo bem com o bebê, e obrigou o médico a dizer sob ameaça de entrar com um processo judicial contra ele.

ㅡ O bebê está ótimo ㅡ anunciou o doutor ㅡ, o problema é com você, mãe.

Nunca vi meu pai tão empenhado em algo quanto ele ficou após receber essa notícia do médico. Nos três dias que foram necessários para a realização dos exames, meu pai faltou no serviço, e não saiu do lado da minha mãe nem para fazer suas necessidades básicas, por mais que ela dissesse que estava tudo bem.

Ele levou a mamãe na consulta de retorno, e estava bem mais ansioso do que ela. Mamãe, de alguma forma, parecia conformada com qualquer que fosse seu destino. Então o médico começou a falar, e antes mesmo de pronunciar "câncer de mama" meu pai já chorava como um bebê.

ㅡ Qual foi a última vez que a senhora realizou uma mamografia?

ㅡ Há muito mais tempo do que eu deveria.

Foi aí que o doutor resolveu parar de mascarar a situação e colocar as cartas na mesa. Minha mãe estava muito mal. O câncer estava em um estágio avançado demais, e seria quase impossível tratá-lo da forma adequada garantindo a segurança do neném.

ㅡ Você tem duas opções, Danielle ㅡ disse o médico para a minha mãe. ㅡ Pode entrar com o pedido de interrupção da gravidez, e assim poderemos tratar o tumor com a urgência necessária. Ou então pode decidir por continuar com o bebê...

Mal posso imaginar o quão angustiada minha mãe ficou naquele momento.

ㅡ Como fazemos para interromper? ㅡ perguntou o meu pai, em desespero.

O médico abriu a boca, mas antes mesmo de uma sílaba sair dela, ele foi interrompido pela minha mãe:

ㅡ O que acontece se eu persistir na gravidez?

Meu pai lançou um olhar incrédulo para ela naquele momento. Ele não conseguia entender como ela poderia sequer cogitar uma opção dessas uma vez que sua vida estava por um fio.

ㅡ Provavelmente seu corpo não resistirá por muito mais tempo ㅡ o doutor expôs, pisando em ovos para não falar isso de maneira brusca demais. Porém não havia maneira de dizer isso com leveza.

ㅡ Mas o bebê vai sobreviver?

ㅡ Há uma pequena chance.

ㅡ Isso não importa, você e sua saúde são mais importantes agora ㅡ meu pai advertiu, tomando uma das mãos de minha mãe para si. ㅡ Você não precisa fazer isso.

Mas minha mãe nem sequer parecia ter escutado ele. sua mente estava repleta de pensamentos incessantes.

ㅡ Qual a chance de ele nascer bem? ㅡ ela quis saber

ㅡ Uma estimativa de 30% de chances. Mas cada caso é um caso ㅡ o médico respondeu após pensar por um tempo.

Minha mãe permaneceu quieta por cerca de 5 minutos. Todos presentes na sala respeitaram seu silêncio, porém meu pai estava impaciente, e cada poro seu demonstrava isso. Acho que, de alguma forma, ele sabia que minha mãe já havia tomado a sua decisão, e isso o preocupava.

ㅡ Vou ficar com o bebê.

***

Desolado. Foi assim que meu pai retornou para casa naquele dia. Não havia um pingo de esperança nos olhos dele. Minha mãe não estava muito diferente, porém ela ainda tinha um propósito para lutar. Ela acreditava nesse propósito.

O clima em casa ficou tão tenso, que eles não puderam esconder a situação de mim por muito mais tempo. Acho que eles nem mesmo queriam esconder, levando em conta a altura do campeonato.

A noite em que eles me chamaram para conversar era de lua cheia e estava muito bonita e iluminada, até a mamãe abrir a boca e dizer tudo o que precisava.

Aquilo não fazia sentido para mim, e deixei isso bem claro para eles. Como minha mãe era louca o suficiente para dar a sua vida por uma criança que ela nem sequer conhecia? E se ele virasse um merda no futuro? Ela não podia estar falando sério.

E enquanto a mim? Ela não me amava o suficiente para fazer o esforço de ficar? Bom, eu não sabia a resposta para aquelas perguntas, mas me recusei a continuar falando com eles, e meus pais não me obrigaram a fazê-lo. Eles entendiam a minha dor e a confusão da minha cabeça.

Meu voto de silêncio durou cerca de 1 mês. Até a manhã em que eu estava deitada de bruços na minha cama, lendo Angie Thomas pelo kindle, e meu pai abriu a porta do quarto gentilmente e se deitou ao meu lado. Não protestei, mas também não expressei nada a favor de sua tentativa de comunicação.

ㅡ Na minha opinião a teoria do Maverick sobre Harry Potter faz todo o sentido ㅡ ele comentou se referindo ao personagem do livro.

ㅡ Só porque vocês dois têm um parafuso a menos ㅡ foi tudo o que eu disse.

Papai me ofereceu um sorriso, e eu retribui mesmo sem intenção. Era extremamente cansativo me manter longe dos meus pais, uma vez que eles me faziam tão bem.

ㅡ Estamos indo no ultrassom para saber o sexo do bebê. Pode vir junto, se quiser.

ㅡ Não, obrigada.

ㅡ Frida... Por favor ㅡ ele insistiu. ㅡ Sua mãe precisa de você.

Meus olhos se encheram de lágrimas. Eu também precisava dela, por isso mesmo tudo doía tanto.

ㅡ Ela não precisa continuar com a gravidez só para não ser julgada pela sociedade ㅡ eu desabei ㅡ ela é minha mãe, eu vou continuar amando ela pra sempre.

Meu pai respirou fundo, me abraçando de lado.

ㅡ Sua mãe não está fazendo isso para ser bem-vista pela sociedade, minha criança, mas sim porque ela ama o filho dela mais do que a própria vida, e não suporta a ideia de ele partir antes mesmo de vir para o mundo ㅡ papai explicou, acariciando a minha cabeça. ㅡ Mesmo se o bebê apenas tivesse 5% de chances de sobreviver, ela ainda escolheria a vida dele. Eu não entendia isso, mas estou começando a entender.

Eu ainda não entendia, mas fui na consulta com eles.

Lembro que a médica era alta e tinha longos cabelos cacheados. Lembro que quando a imagem do bebê apareceu naquela telinha, meu pai começou a chorar. Lembro que quando vi meu irmão pela primeira vez, em preto e branco, senti muita raiva. Lembro que, meses depois, meu pai falou que aquela foi a primeira vez que se sentiu conectado com o neném. Lembro que quando a médica disse que era um menino, minha mãe falou:

ㅡ Valentim.

ㅡ O que? ㅡ meu pai questionou, limpando as lágrimas das bochechas.

ㅡ O nome dele vai ser Valentim ㅡ ela explicou. ㅡ Significa forte e saudável. Porque antes eu não tinha certeza de que ele iria viver, mas agora eu tenho.

Papai puxou eu e mamãe para um abraço triplo, mesmo com ela ainda deitada na maca. Naquele breve instante eu me senti dentro do meu lar novamente.

***

No sétimo mês de gravidez, durante uma madrugada, minha mãe vomitou sangue. Uma hora depois a bolsa estourou. E dela saiu mais sangue. Muito sangue. Ela foi levada às pressas para o hospital, e acabou perdendo a consciência devido a quantidade de dor que sentia.

Meu pai assistiu o parto, e me contou que a única palavra que poderia definir aquele momento é: desespero. Mamãe recuperou e perdeu a consciência várias vezes, e em determinado momento um dos médicos gritou "estamos perdendo ela!". Mas não perderam. Não naquele instante.

Valentim nasceu como todos os outros nascem: chorando. Minha mãe chorou também, mesmo não lhe restando muita força para isso. Valentim era prematuro, mas também forte e saudável. Os médicos queriam o entregar para o meu pai, mas ele negou, dizendo que a minha mãe deveria ser a primeira a segurá-lo.

Quando mamãe envolveu Valentim nos braços, um sorriso tomou conta de seu rosto. A essa altura seus batimentos cardíacos se tornavam cada vez mais fracos e espaçados. Ela deu um beijinho em sua cabeça careca.

ㅡ Eu faria tudo novamente ㅡ mamãe sussurrou. ㅡ Até mesmo uma terceira vez, se fosse preciso.

Essas foram as últimas palavras que minha mãe disse antes de seus olhos se fecharem, e seus braços se afrouxarem, deixando Valentim escapar de seu colo. Papai pegou Valentim, soluçando de tanto chorar. Ele chamava pela minha mãe, mas ela não o respondia. Uma equipe com cerca de 7 médicos se aproximou, cercando a minha mãe agilmente, e afastando meu pai do amor de sua vida.

Me recordo que a primeira vez que me permiti visitar o meu irmão na UTI, foi após o enterro da mamãe. Os médicos e o papai falaram que iriam resolver algumas coisas de adulto enquanto eu ficava com o Valentim, mas eu sabia que era apenas uma desculpa para me deixarem sozinha com ele.

Meu irmão estava dormindo naquele bercinho de acrílico minúsculo. olhei para o seu rostinho, que conseguia ser menor do que a minha mão, e senti um ódio profundo.

ㅡ Você matou a mamãe ㅡ sussurrei, com os olhos cheios de lágrimas.

Valentim, imerso no mundo dos sonhos, sorriu. Meu coração disparou ao perceber que, mesmo banguela, o sorriso daquela criaturinha era idêntico ao da mamãe.

ㅡ Não é para você sorrir ㅡ eu adverti ele. ㅡ Estou brigando com você.

Valentim sorriu mais ainda. Seus pequenos olhinhos se apertaram, e duas covinhas se formaram em suas bochechas. Coloquei a mão sobre seu peito pela primeira vez, e senti seu coraçãozinho bater rapidamente sob ela. Ele estava vivo como mamãe queria. Lágrimas quentes escaparam de meus olhos e percorreram a minha face.

ㅡ Eu te odeio ㅡ falei, e mais lágrimas escorreram dos meus olhos, pois eu me dei conta de que não conseguia odiá-lo como planejei. A cada segundo que eu passava olhando para aquele rostinho eu o amava mais.

***

Hoje Valentim completa 3 anos, e continua forte e saudável. Conforme ele crescia, aquele pequeno serzinho tomava conta do meu coração de uma forma impossível de descrever em palavras. Eu nunca vou conseguir amar alguém como eu o amo. Ele é a luz daquela casa, e meu lar se tornou qualquer lugar em que ele esteja.

Nos primeiros meses de vida dele, eu construí uma muralha em torno do meu coração, e fiz de tudo para que ele não conseguisse ultrapassá-la. Na minha mente de luto, aquele bebê era um intruso que estava tentando tomar o lugar da minha mãe. Valentim, por sua vez, com toda a sua doçura não se deixou abalar pela minha frieza. Ele, manso e carinhoso, tirou tijolo por tijolo da minha barreira emocional, e conquistou o meu amor. Ele me ensinou que não estava aqui para substituir a minha mãe, mas para ser uma extensão dela.

Hoje fazem 3 anos que minha mãe morreu, e ela continua habitando meu coração e sendo a minha maior saudade. Estou na frente de seu túmulo. Mãe, esposa e sacrifício. Antes de me levantar e voltar para casa, faço a promessa de que Valentim vai crescer com sua mãe presente, mesmo ela não estando mais aqui. Ele vai saber tudo sobre a mulher que lhe deu a vida, e assim como ele me ensinou a amar, vou o ensinar a amá-la.


Escrito por: StellaCerqueira


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