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Mockingbird

Pé ante pé Ayla sobe no palco e tenta ignorar o gosto amargo da infelicidade. Os gritos eufóricos e as notas amassadas jogadas no chão do palco embrulham seu estômago. Ela respira fundo e para na frente da barra de metal que usa para suas apresentações e tenta ignorar o mundo ao seu redor.

Seu corpo se movimenta no ritmo da música e ela faz exatamente o que é paga para fazer: seduzir e entreter homens de meia idade. A minúscula peça de roupa que usa é tão vulgar que a cada movimento que ela faz, mais exposta sua pele bronzeada fica. Sua mente está a quilômetros de distância. Longe o suficiente para que nenhum burburinho a alcance.

Depois de tanto tempo trabalhando naquele lugar, ela sequer precisa pensar no que está fazendo. A dança é tão natural para ela quando respirar ou engolir o orgulho, afinal, aquele era seu ganha pão há tempo demais.
Ao fim da apresentação, ela se aproxima dos homens bêbados e recolhe o dinheiro deles, enquanto rebola e sorri, fingindo estar lisonjeada com aqueles elogios nojentos. Ayla volta para o camarim para se trocar e vai embora, sentindo seu corpo imundo e corrompido. A rotina nunca muda. Não importa quanto tempo passe, ela continua se sentindo horrível depois de cada dança.
O dinheiro ajuda a ignorar o quanto aquilo a enjoa, mas não é o suficiente para que ela deixe de desejar uma vida melhor. Só que por ora, o clube é o único trabalho que foi capaz de ajudá-la a sobreviver. Desde que começou a trabalhar naquele lugar, nunca mais recebeu uma notificação de despejo. É verdade, a vida continuava difícil, mas era melhor que antes.

Ela tentou outros empregos antes de se sujeitar a entrar nesse mundo. Ninguém para no meio dessa sujeira do dia para noite. Ayla trabalhou como garçonete por um tempo e se esforçou muito para conseguir empregos melhores, mas sem ter sequer terminado os estudos, tudo o que conseguia era um olhar de pena, na melhor das hipóteses.

Por mais esforçada que fosse, nunca conseguia competir com os outros candidatos.

Some isso ao fato de toda a cidade a tratar como uma mulher do mundo. Promíscua e solitária. Quem em sã consciência contrataria uma mulher tão baixa para um trabalho decente?

Ao chegar em casa, ela abre a porta com cuidado e encontra dois corpos jogados no sofá. Ayla sorri ao ver como as duas crianças pequenas dormem tranquilas abraçadas. E então ela repete seu mantra mais uma vez.
Ela estava fazendo tudo aquilo por eles. Todos os seus sacrifícios eram por aquelas duas crianças que iluminavam seus dias. Sua vida era toda baseada em tentar dar o melhor para eles.

Clare sai da pequena cozinha com um pano de prato nas mãos e cumprimenta a dona da casa com um sorriso doce.

— Eles dormiram não tem muito tempo. — Clare conta.

— Obrigada por cuidar deles, querida. — Ayla sorri e se junta a Clare na cozinha.

As duas conversam um pouco sobre como os dois meninos passaram a noite brincando e como eles insistiram em assistir pela milionésima vez ao mesmo desenho animado, que ambos sabem as falas de cor.
Na geladeira, dois novos desenhos foram pendurados. Ayla reconhece os traços mais delicados que Elliot usa. Ele pintou o fundo do mar, com vários peixes, um tubarão e um menino tentando fugir dos dentes afiados, que com certeza era seu irmão.  O garotinho de cabelos lisos e negros é um ótimo desenhista, levando em conta a pouca idade.
O desenho ao lado é um pouco mais grosseiro, uma vez que Thomas não costuma se entreter por muito tempo com uma única tarefa. Ela dá risada ao perceber que o menino  desenhou um dinossauro correndo atrás do irmão gêmeo.

Clare tenta não falar sobre o trabalho da sua amiga, mas é difícil ignorar o semblante abatido e a maquiagem borrada pelas lágrimas que ela não conseguiu segurar em algum momento da noite.

Ayla é uma mulher batalhadora e orgulhosa demais para se render aos pesares que aquela vida lhe provocavam, mas era difícil ignorar o quanto aquilo tudo era doloroso.
Os sussurros que ouvia ao andar pela cidade a magoavam, mas era o medo do que seus filhos pensariam dela daqui a alguns anos que mais a preocupava. Será que eles entenderiam que ela não tinha outra opção?
Será que a amariam se soubessem as coisas nojentas que era obrigada a fazer para sustentá-los? Que iriam ser compreensíveis? Será que quando tivessem consciência da vida simples que tinham, iriam culpá-la?
Clare abraça a amiga antes de ir embora e a deixa sozinha com as duas crianças adormecidas. Ayla para na frente do pequeno sofá puído e observa os pequenos. Ver o semblante tranquilo deles a acalma um pouco. Ela sorri ao constatar que o mundo inteirinho dela cabe naquele sofá rasgado e antigo.

Apesar da noite turbulenta, do assédio que sempre continuava do lado de fora do clube, dentro de sua casa, nada daquilo tinha importância. Os sacrifícios que feitos dia após dia sempre eram recompensados com um abraço apertado e um desenho colado nas paredes da casa.

Os pequenos cômodos estavam sempre repletos de pinturas e fotografias. Cheia de lembranças doces que a mulher de cabelos cacheados fazia questão de eternizar. Porque no fundo tudo o que importava eram os bons momentos.

Ela acaricia os cabelos castanhos de Elliot antes de pegá-lo no colo. O garoto resmunga, mas ao ser colocado na cama, volta a dormir. Em seguida Ayla faz o mesmo com Thomas.

O segundo garotinho, no entanto, acorda no momento em que é pego no colo. Ele abre os olhos, ainda sonolento e sorri com carinho para a mãe.

— Posso dormir com você? — Pede o pequeno, enroscando os braços em volta do pescoço da mãe.

— Claro que pode. — Ayla responde, beijando a testa do pequeno e o levando até sua cama.

Thomas logo se deita na cama velha da mãe, puxando a coberta até o pescoço e se aninha nos braços da mulher de sorriso triste que é seu mundo inteirinho. O menino sentia falta da mãe durante a noite e, quase sempre, pulava para a cama dela no meio da madrugada. Elliot também costumava fazer isso.

Ayla canta baixinho no ouvido do filho até ele adormecer e, quando tem certeza de que é a única acordada, se permite chorar. Apesar da vida difícil, o choro não é de tristeza e sim de gratidão, por ser mãe de duas crianças tão iluminadas e amorosas.
Quando descobriu sobre a gravidez, no começo do seu último ano do colégio, ela se desesperou. O progenitor, decidiu ignorar sua existência e ela se recusou a pedir qualquer ajuda daquele homem que um dia disse amá-la.

O medo foi seu companheiro durante toda a gravidez e em boa parte dos últimos anos. Havia tanta coisa que podia dar errado e ela perdeu a conta de quantos planos teve que descartar, mas ela continuava tendo certeza de que sua vida não estaria completa sem aquelas duas criaturas curiosas zanzando pela casa, querendo descobrir o motivo do mundo ser daquela forma.

O mundo é cruel. E os pequenos descobriram isso cedo demais. Eles não passam fome, mas a condição de vida era precária. O dinheiro de Ayla serve apenas para o básico. Lazer é um luxo que eles dificilmente tem…

Mesmo assim, aquela mulher batalhava para fazê-los felizes, mesmo que às vezes considerasse que seus esforços não eram suficientes.

Antes dos gêmeos nascerem, ela acreditava que sua vida tinha tudo para ser um verdadeiro fenômeno. Hoje, essa ideia parece ridícula. Tudo o que ela quer é a felicidade dos filhos e uma vida um pouco mais decente do que a que eles têm nesse momento.

É nesse pensamento que ela se apega quando o mundo ao seu redor parece ruir. Sempre que sua realidade se torna dolorosa demais, ela pega uma fotografia dos três abraçados, rindo tanto que os rostos dos dois garotinhos estavam pintados num tom de vermelho.

Dias melhores viriam, ela tentava se convencer. Dias mais alegres e sem a escassez de dinheiro. Onde ela não precisaria contar cada mísero trocado. Mas, por enquanto, Ayla se vê grata pelo pouco que tem. Pelo teto sobre sua cabeça e pela benção de ver o crescimento de Elliot e Thomas.

Ser mãe solteira, ainda na adolescência, foi um ato de coragem. Alguns a chamaram de louca e tentaram a coagir a abortar, mas ela sabia que nada no mundo a tornaria mais completa que aqueles bebês que cresciam dentro dela. Ayla era uma guerreira. Uma mulher que batalhava todos os dias para dar o melhor para seus filhos, assim como tantas outras mulheres ao redor do mundo.

Por: Natália Palomare

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