O poder do abraço
#PRATODOSVEREM 👁️| Banner na cor dourada. Ao meio, lê-se "O poder do Abraço"; do lado direito, três mulheres abraçadas(ilustração). Conto escrito por Thays Marques.
*Esse conto contém gatilhos relativos à depressão e suicídio. Essa obra foi escrita com base em alguns fatos da vida real.
Essa história que eu vou contar hoje aqui, poderia ter acontecido com qualquer um de nós, então cabe a todos abrirem os seus corações e deixar a empatia entrar e ali se instalar, para que acaso venha a chegar a sua vez, você não se arrependa por não ter estendido a mão e não ter mostrado o poder do abraço a quem mais precisou de apenas uma palavra de compreensão...
Clarice era uma garota muito carismática e alegre, mas o seu brilho foi se apagando aos poucos, depois de ela passar anos da sua vida, ouvindo da sua família e dos colegas na escola, que ela nunca seria amada.
O motivo? Ela não se enquadrava nos padrões de beleza que a sociedade haviam imposto como sendo o ideal.
Não que ela fosse uma garota gorda, mas também não podia ser considerada magra. Estava ali entre o meio termo. Não tinha muitas gorduras abdominais, mas também não tinha a barriga chapada, como mostravam as revistas.
Mas para os seus "amigos" sempre tão cruéis, esse não era o único problema encontrado em Clarice. Afinal, ela também era baixinha demais e ainda por cima, usava aparelho dental e por isso, era chamada de dente de ferro.
Já por outro lado, a sua mãe lhe dizia que o seu cabelo era rebelde e que por esse motivo, ela não podia ser considerado bonita. E aquela que deveria lhe amar acima de todos, ainda lhe dizia todos os dias, que as suas roupas eram muito fora da moda.
E como para criticar sempre aparece uma fila quilométrica e para elogiar não aparece uma viva alma, a avó de Clarice sempre lhe dizia ainda mais, que ela falava muito alto e que desse modo, homem algum iria gostar de namorar com uma garota espevitada, que assim como ela, ri alto e fala pelos cotovelos.
Contudo, ninguém nunca perguntou para a Clarice, como de fato ela queria se portar e vestir. E assim, essa enxurrada de palavras pesadas e tão sem sentido, foram minando aos poucos a alegria daquela menina que um dia tinha sido tão vivaz.
A primeira coisa que Clarice fez ao se ver tão esgotada de sua realidade, foi se isolar de tudo e de todos. Quando alguém lhe telefonava ou pedia para ir lhe visitar, facilmente ela inventava uma desculpa, preferindo ficar sozinha em seu quarto que ela já mantinha quase o tempo na escuridão.
Logo depois, no entanto, ela também deixou de ver graça em coisas que antes tanto amava. Clarice já não tinha prazer em ver séries ou em ler livros; e ela poderia até mesmo dizer, que não via mais sentido algum em estar viva.
E estando fechada em uma caixa preta onde tudo o que ela fazia era pensar e repensar no tanto que o mundo era feio, Clarice logo passou a se rebelar também contra o seu reflexo no espelho e então, logo cortou o seu cabelo, que era tão odiado pela sua própria mãe, de uma maneira com que ele se tornasse quase inexistente.
Não tardou e Clarice já não se alimentava bem ou sequer conseguia dormir e assim, a garota então se viu presa em uma sala muito fria e solitária, dentro da sua própria cabeça. E em uma bela tarde de sexta-feira que havia começado aparentemente de forma normal, Clarice chegou ao extremo de se questionar o que aconteceria, caso ela se jogasse assim por acaso, de um prédio bem alto.
E fixada na ideia de que não queria mais continuar a viver, ela escreveu uma catastrófica carta de despedida, deixou sobre a cama de seu quarto e então caminhou rumo ao desconhecido, decidida a se jogar de um ponto bem alto e nunca mais voltar.
Todavia, ao subir em uma ponte bem alta que havia em sua cidade e se sentar nas grades que a deveriam proteger de um encontro certeiro com a morte ― já que abaixo da ponte corria um largo rio de correnteza furiosa ―, Clarice resolveu ainda pesquisar no Google, sem nem saber mesmo o por quê, escritos sobre a palavra "suicídio".
E além de milhares de textos muito genéricos falando sobre os perigos de uma depressão não tratada, Clarice encontrou um texto muito interessante em um blog pessoal que recebia o curioso nome de "O Poder do Abraço", e aquilo surpreendentemente chamou muito a sua atenção.
A dona da página internet era uma graduanda em Psicologia que se intitulava com o pseudônimo de "A Missionária do Abraço".
Clarice leu e releu o texto várias vezes, enquanto as lágrimas lavavam o seu rosto e de uma forma muito angustiante, ela se questionou internamente se deveria mesmo pular daquela ponte.
O texto dizia o seguinte:
Eu sei que se você chegou até aqui é porque você sente que caminhou até o fim do túnel e mesmo assim, não encontrou a prometida luz que lhe disseram que facilmente acharia. Todavia, mesmo que pareça clichê o que eu vou te dizer: ainda resta esperanças.
A palavra "suicídio" pode parecer pesada demais e muitas vezes também, provavelmente é evitada por todos, assim como todo grande tabu da sociedade. Contudo, se voce chegou até aqui é porque precisa mais do que nunca, falar sobre isso.
Então eu lhe digo logo de forma nua e crua, é que o que você deseja não é acabar com a vida, mas sim, dar fim à dor que essa mesma vida lhe trouxe. E dessa forma então, eu lhe pergunto: se pudéssemos curar toda a dor que você sente agora, mesmo assim você ainda desejaria morrer?
Eu aposto que não! Mas também sei que agora você deve estar dizendo que eu não tenho o direito de apostar nada, pois essa é a sua vida e também a sua dor, e dela, eu nada sei. E saiba que sim, você acertou nessa resposta. Mas em compensação, eu lhe esclareço que se te afirmo tudo isso, é porque um dia eu estive em um lugar muito próximo do seu, no entanto, foi nesse ponto onde eu também conheci o poder do abraço e foi assim, que eu decidi de forma quase instantânea, a abraçar de volta o mundo e todas as suas dores.
Está curioso(a) em saber sobre o que eu estou falando? Ligue então para o número que está inserido no final dessa página!
Ah! Mas agora eu imagino também que você possa estar pensando que não pode fazer isso, afinal, esse é o instante que você cuidadosamente escolheu para colocar um ponto final em tudo. Todavia, eu lhe digo que você sempre pode se suicidar mais tarde ― caso assim ainda decidir fazer ―, mas em compensação se morrer agora, nunca mais poderá conhecer o poder do abraço!
E então? Qual das duas opções você escolhe agora?
Clarice terminou de ler o texto pela quinta vez e indecisa sobre o que fazer, sentiu que a sua mão tremia, enquanto ela segurava o celular. Afinal, se saísse dali, talvez perdesse a coragem de acabar com tudo. Todavia, se não ligasse para aquele número, nunca chegaria a saber o que encontraria; para muito além daquele texto.
Por fim, a sua curiosidade venceu e mesmo ainda se sentindo profundamente triste, Clarice discou o número que estava no final da página e depois de vários toques que pareciam ininterruptos, ela ouviu uma garota de voz doce, atender do outro lado da linha.
― Alô! ― ela disse de forma alegre. ― No que eu posso ajudá-la?
Clarice pensou em desligar e se lançar nas águas furiosas do rio naquele mesmo instante, todavia uma força maior lhe fez responder:
― Eu vi o seu texto no blog "O Poder do Abraço"... ― ela disse, mesmo acreditando que a moça do outro lado da linha já sabia muito bem desse detalhe.
― E eu fico muito feliz que tenha me ligado... hum... qual é o seu nome? ― quis saber a atendente.
― Eu me chamo Clarice e nesse mesmo momento estou na ponte Charles Prates, pronta para mergulhar de encontro à morte, no rio Soledade!
― Prazer, Clarice. O meu nome é Alessandra... ― a mulher disse, aparentando ter uma calma que era descomunal. ― Um dia eu estive nessa mesma ponte, decidida a pular e então um carro parou na rodovia e eu pude enfim conhecer o poder do abraço... Você gostaria de poder conhecer tudo isso também? Saiba que se você achar que não valeu a pena o seu tempo e que mesmo assim ainda deseja pular dessa ponte, eu mesma te levo até aí novamente... E aí? Você topa o meu desafio?
Enquanto os carros passavam correndo pelas costas de Clarice e a brisa tocava o seu rosto, ela respirou profundamente e resolveu arriscar aquela última tentativa.
― Eu topo ― ela respondeu, ainda se sentindo curiosa com o que aconteceria dali para a frente.
― Então me espere só um minuto, que eu já estou chegando aí agora mesmo ― a mulher disse de maneira impactante, para que Clarice não decidisse pular naquele meio tempo. ― Eu prometo que não me demoro nadinha!
― Tudo bem ― Clarice disse e ao olhar para baixo, sentiu muitas vertigens lhe tomarem, ao avistar as águas turbulentas do rio.
Não demorou muito e um carro parou no acostamento, bem perto de onde a garota estava sentada e de lá de dentro saltaram duas moças, que logo se aproximaram de Clarice.
― Oi, Clarice ― falou a mulher que havia conversado com ela pouco antes no telefone. ― Eu sou a Alessandra e ela é a Bete... Você já se sente pronta para vir com a gente?
A garota apenas fez que sim com a face e então se virou cuidadosamente e saiu da amurada que protegia a ponte. Logo as três caminharam e entraram no carro vermelho, que era dirigido por Alessandra.
Clarice logo pensou que era muito arriscado entrar em um automóvel com duas desconhecidas, que muito bem poderiam ser assassinas, mas se levando em conta que estivera muito perto de se suicidar minutos antes, ela acreditou que ainda valia o risco sair dali com aquelas mulheres.
E enquanto se movimentavam em direção a um lugar desconhecido, as duas outras moças logo trataram de tentar conversar com Clarice; mas isso sem pressionar a garota, caso ela não quisesse responder alguma coisa.
E dessa forma não tardou até chegarem em frente a uma casa muito bonita, que era toda cercada por muitas árvores e flores. E ao descer do carro e inspirar o aroma de natureza que aquele lugar trazia, Clarice instintivamente se sentiu um pouco menos conturbada do que minutos antes.
― Essa é a minha casa, Clarice ― Alessandra disse, com um grande sorriso no rosto. ― E a partir de hoje, saiba que você sempre será bem vinda a vir até aqui, quando se sentir triste ou angustiada.
A garota abriu a boca para responder, mas antes que pudesse de fato falar, Bete abriu enfim o portão de ferro que resguardava aquela construção e antes mesmo que Clarice pudesse de fato adentrar ao local, ela foi saudada por um grande abraço coletivo; que incluía tanto Alessandra e Bete, mas como também diversas outras pessoas, que antes estiveram espalhadas pelo jardim.
E ao sentir a energia daquela gente tão desconhecida, Clarice se viu com lágrimas nos olhos. Todavia, depois de recuperada da surpresa daquele ato, a garota encarou Alessandra, tentando entender tudo aquilo.
― Todas as pessoas que aqui estão reunidas, um dia também já pensaram em se matar, então saiba que nessa casa, nunca haverá nenhum tipo julgamento ― falou Alessandra ―, mas muito pelo contrário, aqui todos sempre encontrarão palavras de incentivo e um abraço, para nos fortalecer quando a tempestade cair.
― E acima de tudo isso, Clarice, eu e a Alê, somos estudantes de Psicologia, e dessa maneira, estamos sempre dispostas a ouvir vocês de forma consciente e totalmente gratuita ― falou Bete. ― Saiba que ninguém é fraco ou inferior por ter depressão, mas muito pelo contrário, é alguém que já se provou ser muito forte, pois em muitos dias, nós tivemos que carregar o mundo em nossas costas, mesmo sem nem nos julgarmos capazes disso.
As outras pessoas logo se afastaram, dando privacidade para Clarice. Todas elas foram para os seus cantos prediletos naquele jardim e enquanto alguns liam, outros meditavam ou até mesmo conversavam entre si.
― Mas saiba também, Clarice, que o mundo precisa de mais "Missionários do Abraço", que assim como nós, desejam abraçar as dores do mundo ― falou Alessandra ―, pois somente quando aceitarmos abraçar o que não é belo dentro de nós, é que poderemos enfim fazer florescer realmente, o que há de melhor em nosso ser. E dessa maneira nós queremos te ajudar com terapia e amor, mas gostaríamos muito que também pudesse nos ajudar nessa corrente do bem...
― E aí? Você aceita nos ajudar nessa missão? ― quis saber Bete. ― Pois nós, com certeza, sempre estaremos dispostas a te ajudar no que quer que você precisar!
Naquele segundo, Clarice se sentiu muito útil e necessária em um mundo que antes, só a repelia, e então mesmo estando ainda quebrada por dentro, decidiu que valia a pena se tratar e ajudar aquelas moças a encontrarem mais pessoas, que assim como ela própria, não queriam simplesmente terminar com a vida, mas sim, acabar com toda a dor que tanto as matava por dentro.
― Eu aceito! ― ela respondeu, sentindo todo o seu ser se inundar de uma paz e satisfação, descomunais.
E assim, Alessandra, Bete e Clarice então deram mais um grande abraço coletivo, decididas dessa forma a selar a promessa de que todos os dias, lutariam contra a depressão que a cada dia mais, assolava não somente elas, mas como também, quase todas as pessoas do mundo.
Afinal, elas finalmente sabiam que somente quando todos estivessem conscientes e aceitassem falar e tratar devidamente daquela doença que a cada dia mais crescia no mundo, é que talvez, encontrariam um caminho menos duro para toda a humanidade.
#PRATODOSVEREM 👁️| Banner de cor branca com um coração amarelo ao meio e braços o agarram(ilustração).
FIM.
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