Feitos de Lua
Cidade de Guzan,2022.
Dayax está ao lado de sua única amiga, Stella. Ambas estão na escola, mais precisamente no quarto. As duas e mais outros alunos estudam numa escola particular e interna, e o maior desafio para Day é justamente manter contato com todos eles. Ela foi diagnosticada desde criança com autismo e isso faz a mesma se sentir imponente, mas depois que Stella apareceu em sua vida, tudo mudou. Ela acredita fielmente na amiga e confia de olhos fechados na garota loira de olhos azuis, de origem alemã.
— sim, o novo filme que vai sair na Netflix vai tratar de um assunto importante — tagarelando ao pé do ouvido da morena, Stella conta o que ficou sabendo a respeito da novo filme. — podemos ver na sua casa se quiser.
Era até uma coisa legal que Dayax poderia pensar, mas aquilo não era de seu interesse. Em seu íntimo ela amava as ideias da amiga, entretanto, seu maior entretenimento estava em ver a lua. Era um segredo que nem mesmo sua mãe sabia — apesar de ter colocado o nome lua, em seu nome.
— Ah, posso te dar spoilers de vários livros. — Outra coisa legal que ela gostaria de ouvir, se seu interior não desejasse ver a lua. — Amiga, está tudo bem?
— nã... — a loira a interrompeu:
— Vem, vamos caminhar pelo pátio do colégio, sei que gosta de andar um pouco. — Stella conhecia Dayax, ela entendia que a amiga tinha limitações portanto, não era tudo que ambas poderiam fazer, apesar de Day se arriscar muitas vezes, porque ela queria enfrentar seus medos, mesmo Stella pedindo para que a mesma evitasse certas aventuras.
Ambas saem do ambiente, rumo ao pátio. Uma galera está movimentando por lá e isso gera desconforto em Dayax, que segura no braço de Stella muito forte, fazendo a mesma engolir o desconforto e fazer uma careta de dor.
Ao observar, Stella percebe algo errado com a garota, e ver o quanto ela estava estranha quando paralisa no lugar, levando a todos a mover os seus olhos para onde estavam. Em outros momentos, Stella retornaria com a amiga ao quarto e daria algum remédio, só que naquele momento ela jurava que Day iria enfrentar os seus medos e, perceber que aquilo tudo a fazia forte. A amiga queria fazer Day enxergar essa força em si mesma, visto que já presenciou a amiga enfrentar e vencer coisas piores, como a ansiedade por exemplo.
Para Dayax, o apoio de Stella era essencial, só que naquele momento ela queria dizer para a amiga, tudo o que fazia a mesma ficar triste. Mesmo Stella sendo tão boa. Dayax não suportava o fato de enxergar nas pessoas, duas personalidades e odiar a todas justamente por isso. Ela não tinha transtorno e a maioria dos adolescentes com quem vivera, fazia questão de jogar isso em seu rosto. Eles diziam que a mesma tinha problemas e outros, chegou a dizer que ela tinha demônios. O que claro, fez com que ela se irritante e gritasse com todo mundo. Stella entendia isso, e fazia de tudo para ser uma boa amiga e manter Day em harmonia. Ela fazia questão de tratar a amiga com todo carinho possível, mesmo que algumas coisas que inocentemente Day fazia a mesma, lhe chateasse, ela entendia, amava a amiga e entregava a Deus, em suas orações.
Day, não suportava o fato de ter todos os olhares para si, por isso a mesma gritou. Gritou, após o período de paralisia e chorou, deixando sair todo sentimento negativo. Stella se emocionou porque ela sabia que isso gerava conforto em sua amiga, não era birra como julgava a mídia da sua cidade, ao tratar desse assunto. Stella viu, quando a amiga gritou, chorou e começou a tremer vindo a ter um desmaio. Ela não poderia fazer nada, porque já lidara com casos semelhantes vividos por também, a amiga, e sabia que só auxilio médico poderia ajudar nesses momentos.
— Alguém ajuda ?! — olhou desesperada por alguém, e se decepcionado vendo a maioria dirigir os seus olhos a outras coisas, que em sua cabeça era mais interessante do que a jovem. — POR FAVOR!!
— Calma. — Ouviu uma voz baixa, um menino com estilo emo, bonito erguia a amiga com calma do chão, pegando-a no colo. — Vou levá-la a enfermaria, traga a documentação dela.
— Hey, quem é você? — Ela perguntou.
O garoto era um velho aluno da escola, entretanto, era daqueles que por outros adolescentes terem um padrão de amizade, ele ficar invisível. De fato, ele só não é muito invisível, por dois motivos:
Primeiro, é muito bonito para passar desapercebido pelas garotas;
Segundo, é o irmão do popular do colégio, do cara que namora a cheerleader e, joga basebol. ( o famoso clichê).
O garoto suspirou antes de responder, mesmo com a garota no colo. Disse:
— traga os documentos dela por favor. — e saiu com Day em seu colo.
Stella correu para buscar a carteirinha de aluna e a identidade de Dayax, no quarto.
O menino tragava um cigarro, no fundo dos banheiros masculinos.
Ele sorriu para si, enquanto observava a lua no céu. Ele não gostava do que via, mas amava o fato dela lhe inspirar para suas composições musicais e poemas, que ele deixava escrita no caderno onde, descrevia muitos textos infelizes ou felizes que vivera.
Após passar um tempinho e, colocar uma bala de menta na boca para esconder o cheiro horrível do cigarro, o garoto entra para a escola, se sentando numa mesa bem escondida, do pátio. Pela visão periférica, ele conseguia observar todos os alunos daquele ambiente. Desde o seu irmão com a namorada, e os amigos dele e, umas garotas que ele odiava pelo simples fato delas praticarem atos de bullying no colégio, até a turma de ciências avançadas, que faziam de tudo para manter o nome do colégio que estudavam, no topo da mídia, com a educação. De tudo, o que lhe chamara a atenção mesmo, foi ver a garota que ele conhecera logo quando ela chegou para o colégio, e ele a achou encantada, diferente. Ao seu lado, sua amiga. O que ele achou esquisito foi a mesma paralisar em transe, e começar a gritar, chorar e a se tremer. Ele sabia bem o que aquilo era e o que significava porque já a observava a alguns tempos e também por já ter presenciado outras pessoas que tinham o mesmo nível de autismo. Ele, pragueja quando a mesma desmaia e não ver ninguém para ajudar, mesmo sua amiga gritando. Ele observa a turma do seu irmão ri, e naquele momento ele odiou carregar o mesmo sangue do irmão. Ele sabia que o irmão não era assim, mas por se contaminar com a síndrome de popular, acabou perdendo 1% de humanidade. O menino se levantou chamando atenção das demais pessoas e indo até a menina. Pegou-a no colo e seguiu até a enfermaria.
— Você pode aguardá-la aqui? — a enfermeira o questiona. — a Doutora Sheila vai demorar um pouquinho, e eu tenho outros alunos para tomar conta e cuidar. — ele assente. — qualquer coisa só clicar no botão vermelho da mesa, que eu já venho te atender.
Após a enfermeira ter se retirado, o garoto voltou a olhar a feição da menina. Cabelos pretos cacheados, pele negra, lábios carnudos. Seu rosto transparecia calma. Ela era cheia de corpo, não muito gorda porém, não era magra. Usava uma blusa branca de mangas pretas e "1994 " estampado na frente. Calça jeans e tênis.
Ele sorri observando-a, colocou o capuz preto na cabeça e, lembrou-se da primeira vez que a viu:
Chazaq estava caminhando em direção a portaria quando viu entrar uma senhora negra alta e ao seu lado uma jovem de uns 16 anos de idade. Ele encara a menina ao lado da moça, e com certo ar de curiosidade, ver seus traços lindos. Ela parecia com a garota que ele descrevera em um de seus poemas.
Voltando a realidade, Chazaq tem um coração acelerado e mãos frias, gélidas. Ele tremia suas pernas em sinal de inquietação, sua vontade era correr, mas ao mesmo tempo de ficar. Ele sabia o que aquilo significava e por isso de seus olhos pretos como a escuridão saiu lágrimas que fluíram como rios. Ele sabia que não podia amar ninguém, porque ninguém o amaria, se soubesse que ele carregava uma inquietação consigo. Ele sabia que não era suficiente, mesmo seu nome sendo a tradução hebraica de forte. Ele não era forte, e não queria acreditar na sua própria força.
— Oh doce garota, tu és feita de lua. — lembrou-se do poema que escrevera para a mesma, num dia de lua cheia. E aproveitou disso, para dissipar os seus pensamentos que não o ajudavam em nada naquele momento. — Tua voz é doce, teu jeito me anima. Teu sorriso é como o das filhas de Sião e os teus cabelos são como as folhas das árvores e as nuvens do céu, carregadas de chuva. Tua alma transborda lua, tua fala é de lua e transpassando aquilo que Salomão disse em um de seus cantares: Você é toda formosa, e em você não existe nenhum defeito! * Que a lua seja testemunha desse meu amor e desse meu momento, minha Dayax!
E saiu.
Chazaq saiu porque ele se sentia indefeso, fraco e não suportaria vê-la acordar e o rejeitar, como muita gente já fez.
Dayax acorda e percebe que talvez tenha sonhado, e que a voz que ouvira cedo, deveria ter sido uma das muitas que assombra o seu interior. Mas ela sabia que nunca tinha ouvido e aquela voz era diferente, era humana, era de alguém que realmente tinha interesse nela. Ela chorou por saber que nunca mais o veria e por saber que talvez ele não estivesse interessado de verdade, já que, não estava ali com ela.
Ela estava realmente interessada, coisa que nunca aconteceu e sequer cogitou pensar, já que, ela tinha plena certeza que o resto dos humanos nenhum se importaria com ela, a não ser Stella e agora o garoto que, não estava ali.
Na sua mente, o poema soava como música, ela lembrava de todas as palavras que foram ditas pela voz desconhecida. O engraçado disso tudo, foi que ela nunca o conheceu, e ele nunca antes soube o seu nome.
Stella entregou o documento e entrou para ver a amiga.
— quem estava aqui? — Day questiona com interesse à amiga.
— Porque? O que ele te fez ?
— Quem estava aqui? — insistiu.
— Chazaq, irmão de Mudan. — ela estava preocupada, o que o garoto fez a sua amiga ? — ele te fez alguma coisa?
— não.
Perto dali, tratando mais um cigarro, Chazaq pensava se ela lembraria de seu poema. Entretanto, resolveu pegar o caderno onde estava o poema, e adicionar mais uma frase ao texto:
" mas será que eu estaria preparado para te dar o meu amor, minha linda Dayax? "
O que ninguém sabia, era que ele era apaixonado na língua Somali e que dayax era o significado de Lua. Lua era algo que Dayax amava, e Dayax era a garota cujo coração e pensamentos eram feitos de Lua.
CURIOSIDADE:
No texto, do poema, existe um trecho de um dos cantares do Rei Salomão, de Irsael e filho do Rei Davi, também de Irsael. Isso porque Chazaq é israelita, que mora na cidade de Guzan na Turquia. ( cidade fictícia). *
Ele tem TDAH e ansiedade, e a mesma, autismo.
Por: Mariana Sales
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro