Os Espíritos da Floresta
Esta história começa em uma pequena vila de interior, dessas comunidades pequenas em que todo mundo conhece todo mundo e que a maior atividade é a de pastores e agricultura, e que ninguém parece ter coragem de se arriscar a ir para uma grande metrópole ver como é a vida fora da bolha em que vivem.
As pessoas dessa pequena comunidade são muito supersticiosas, e, as decisões são tomadas por um pequeno conselho de anciãos.
Durante a maior parte do ano, tudo parece correr de forma natural, sem qualquer coisa que possa fugir do que a maioria das pessoas chamaria de normalidade. Os homens trabalham no plantio e as mulheres pastoreando as ovelhas.
Porém, uma vez ao ano, algo anormal acontece.
Um dos anciões é escolhido entre o conselho e vai até a floresta, e, as pessoas do vilarejo não sabem o que acontece ali. O ancião passa vários dias sozinho na floresta, os outros anciões dizendo que ele está em meditação e, quando ele volta, diz o nome de uma jovem moça virgem, que deve ser levada em sacrifício para o que os anciões chamam de "Os espíritos da floresta".
Quando chega esta época do ano, as famílias que tem filhas de quinze anos que são virgens começam a se desesperar, com medo de perderem suas donzelas, sem saberem ao certo o que acontece na floresta. A única coisa que sabem é que estas jovens escolhidas nunca mais são vistas.
As pessoas do vilarejo sempre questionam os anciãos, perguntando a eles porque tal sacrifício é necessário e, eles sempre respondem a mesma coisa, que os espíritos da floresta exigem uma moça de quinze anos virgem, para que eles possam continuar a proteger a todos.
Os habitantes deste vilarejo já ouviram histórias de vilarejos vizinhos, que, foram destruídos por não terem dado a virgem em sacrifício para os espíritos da floresta e, por não quererem ter o único lugar que conseguem chamar de lar destruído por estes espíritos, é que aceitam, submissos, sacrificar uma virgem todo ano.
Certo dia, os habitantes da aldeia estão aflitos, pois, há cinco dias o ancião José está recluso na Floresta, os pais das jovens de quinze anos estão todos com medo de perderem suas filhas, e, entre esses pais, o que mais teme é Adão, um viúvo que cria sozinho sua filha Esther. A mãe de Esther morrera há quinze anos no parto da filha e, desde então, Esther é tudo o que restou a Adão, e, por isso mesmo, o homem teme perder sua filha tão amada.
Adão está terminando de regar as plantações junto a outros homens quando vê o ancião José se aproximando. Imediatamente, todos os habitantes da aldeia se juntos, todos ansiosos e com medo das palavras que o ancião José irá proferir.
O ancião José se aproxima das pessoas e, ao perceber que está no centro da multidão, não perde tempo em dizer:
― Meus amigos, sei que não é fácil o que eu tenho para dizer, mas, vocês sabem que tudo o que estou a fazer é para a nossa sobrevivência, e, por isso mesmo é que nesta mesma época, todo ano, temos de sacrificar uma jovem para os espíritos da floresta, e, a jovem escolhida pelos espíritos este ano é a jovem Esther.
Tão logo o ancião José termina de falar, um grande silêncio se faz no local, e, todos os olhares se voltam para Esther, a jovem escolhida para o sacrifício para os espíritos da floresta.
A jovem não tem tempo de esboçar qualquer reação, pois, as anciãs se aproximam dela, levando-a para a preparação para a noite.
Elas se dirigem para uma cabana, onde uma tina com água quente junto a pétalas de rosas já fora preparada. As anciãs ajudam Esther a se despir e em seguida a jovem entra na tina, onde é banhada pelas anciãs que a preparam, limpando a pele da jovem com todo o cuidado do mundo, como se a preparassem para algo muito especial.
Após o banho, Esther é vestida com um longo vestido branco, seus cabelos loiros e ondulados são escovados e deixados soltos, e, uma coroa de flores é colocada sobre sua cabeça.
A jovem é então perfumada e conduzida para fora da cabana, onde seu pai Adão está a espera dela. O homem quer a todo custo impedir que sua filha seja levada, mas, ele é segurado por jovens aldeões, que, sabem que o ritual deve ser cumprido, para o bem de todos.
Esther encara seu pai com lágrimas nos olhos e sorri para ele, em sinal de despedida. Em seguida, ela é conduzida pelas aldeãs para o interior daquela floresta tão sombria.
O sol começa a se pôr e, Esther é conduzida a beira de um lado, que está totalmente tomado pela névoa.
As anciãs deixam a jovem ali e voltam para a aldeia, sabendo que sua parte no ritual está cumprida.
Esther permanece sozinha, no meio da névoa, o medo tomando conta de si, pois não sabe o que irá acontecer agora. Tudo o que sabe é que as jovens escolhidas para os espíritos da floresta nunca retornam a seu lar.
Horas se passam até que a noite chega, a névoa está cada vez mais densa e Esther sente cada vez mais medo.
O vento parece uivar, e, a floresta começa a emitir sons cada vez mais sinistros, como se a floresta estivesse viva e Esther não estivesse ali sozinha.
Ela olha para o lago e, seus olhos se arregalam de surpresa ao ver a névoa ganhando forma, parecendo a silhueta de uma pessoa humana, mas Esther tem certeza de que não é uma pessoa que está ali.
A jovem tenta desviar o seu olhar, mas algo parece prendê-la. Ela vê um braço sendo estendido em sua direção, como se estivesse chamando-a e, neste momento, a jovem é tomada por um transe. Em sua mente, escuta vozes que não parecem pertencer a este mundo, chamando-a a se juntar a elas.
E, ainda em transe, Esther começa a caminhar pelo lago, se perdendo cada vez mais na névoa densa que cobre o local e, seu corpo desaparecendo por completo, nas trevas da noite.
Por: Tommy Grigorio.
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