Contos dos Invocadores de Astros: Autorretrato pt. 1
Você conhece a Nemeia?
Não?
Bem, Nemeia é uma daquelas pessoas que normalmente se encontra uma vez na vida e só, ou seja, uma pessoa inesquecível. Com aqueles olhos brilhantes que só se encontra em seres otimistas e com aquele sorriso que poucos poderiam desfazer. Sua presença era única. Claro, tinha seus defeitos, mas nada que não pudesse ser relevado pelo seu carisma. Não era o tipo de pessoa que aceitava derrotas facilmente, pois sempre que falhava tentava novamente. Era imparável, obviamente. Nada podia deter a apaixonada Nemeia de Aurora Brás. Esta menina tinha uma paixão tão grande pela vida, que muitos perguntavam-se se ela podia ser verdadeiramente humana. Ela nunca reclamava de nada, ou talvez o fizesse longe de todos, e tinha um jeito peculiar de fazer as pessoas se sentirem bem com sua presença (até hoje não sei como ela conseguia isso). Mas Nemeia era uma humana como qualquer outra, podia parecer diferente, mas isso era só na aparência mesmo. No final das contas, ela era e sempre foi uma aluna da Academia Liceu do Sul Ocidente, ou melhor dizendo, alguém desesperado para conseguir impressionar a todos ou mostrar seu melhor lado para alcançar um futuro brilhante.
Tenha em mente, você. Isso mesmo, você, Cara de desolação, que o que estarei a dizer sobre ela não é certeza, na verdade, em maior parte baseio-me somente em alguns contextos que obtive na juventude e em eventos que participei com a ajuda de certos assessórios... Mas voltando, sim, tenha em mente que o que contarei aqui era Nemeia - pelo menos para mim.
Cercada pela bela ideologia meritocrática da instituição, Nemeia empenhava-se arduamente em chegar ao nível daqueles que um dia foram chamados de “melhores”. Ela tinha em mente o desejo ardente de atravessar os céus e conquistar seu posto entre os destemidos Cavaleiros astrais. Era seu sonho. Logo, quando entrou na Academia não tinha outro sonho se não esse. Ela era tão vidrada nesta divisão de Invocadores que desde pequena falava:
VOU TATUAR UM CARNEIRO NO OMBRO ESQUERDO!
Empolgava-se sempre que os Cavaleiros visitavam a instituição e pior era quando diziam que seus anos de Invocadores foram os melhores de suas vidas, o que não a acalmava. Seu sangue fervia mais e mais na ideia de conseguir ser uma Invocadora Lima. Tudo bem que se você fosse um Invocador e dissesse para Caldeus, como nós na época, que a vida era melhor no Grande Campus, era lógico que ficaríamos sedentos para tentar passar no Concurso. E quem não, não é mesmo? Até você, Cara de desolação, ficaria assim, isso se já não está agora. Como um Caldeu que é, deve saber que os 3 anos pelo qual você irá se preparar é para chegar no Grande Campus. Aquele do outro lado da ilha aonde treinam os Invocadores. Lembrou? É, haha, difícil esquecer. Não à toa, Nemeia era uma das mais determinadas a passar neste Concurso, só talvez não mais que Rubi, mas esta é um caso a parte.
Rubi sempre foi boa com estudos, enquanto Nemeia sempre teve que se esforçar o dobro para acompanha-la. Isto no mínimo poderia influenciar uma sensação estranha entre as duas, mas na verdade sempre fez com que elas se aproximassem mais. Nemeia queria ser melhor e Rubi queria estudar melhor, logo Rubi tentava ensinar Nemeia sobre as questões que esta tinha dúvida, assim Rubi aprendia mais ao ensinar e Nemeia se tornava melhor ao aprender. Era um relacionamento perfeito. Tanto que em um dia dos namorados, sem nenhum compromisso, Rubi presenteou Nemeia pelo seu esforço com uma coletânea de livros, que a mesma desejava possuir desde pequena. Livro este que contava sobre as aventuras da famosa Cavaleira astral, Nix; a caçadora de estrelas.
Já perdi a conta de quantas vezes vi Nemeia folheando esses livros. Era impressionante que mesmo depois de 2 anos ela ainda não conseguia desgrudar desses, claro que neles tinha alguns detalhes mais específicos da vida da Invocadora Lima e que, se tratando de um livro de Invocadores, claramente teria dicas e dicas de como trabalhar melhor segundo a visão da Invocadora, de como ela invocava suas Quimeras e etc. Provavelmente, por isso, dificilmente ela largava estes.
É difícil largar algo precioso ou deixar de perseguir aquilo que você mais deseja, principalmente, ao se tratar de um objeto de valor como eram esses. Ela, literalmente, usava-os para treinar nas aulas e estudar para algumas provas e, pelo que fiquei sabendo, até levava-os ao banho para conseguir se banhar melhor, segundo o que Nix dizia nestes.
Depois disso, não preciso dizer em como era o quarto de Nemeia no dormitório, né? Haha, se pensou em posters de Nix por todo lado, versão pirata do violão da Nix do lado da cama e cadernos e adesivos dela por toda a parte, acertou Cara de desolação.
Não por menos, estava nervosa naquele dia, podia fingir simpatia e serenidade como sempre fez. Usando aquele seu óculos-das-nuvens escuro para transparecer descontraída, apertando a caneta devagar enquanto olhava o relógio de 5 em 5 minutos e depois de um tempo levantando para andar “calmante” até um certo corredor com um certo quadro. Claro que era o dia do Concurso, apenas o dia mais importante para qualquer Caldeu que queira virar um dia um grande herói da humanidade, digo, um Invocador.
Como sabemos que neste mundo toda desgraça é pouca, Nemeia não apenas não conseguia encontrar seu nome na lista como ao ponto em que descia o olho foi percebendo que todos seus amigos haviam passado ou ficado na lista de espera, menos ela. Ela não conseguiu nem a lista de espera... Como alguém otimista e que sempre deu o máximo de si em tudo que fazia poderia responder a isto? Não era possível. Ela não havia passado. Ela tentava achar razões e razões para aquele evento, mas nada realmente resolvia seu sentimento de angústia, até parecia que explodiria ali mesmo quando avistou seus amigos chegando e fingiu tranquilidade - esta atitude dela sempre me irritou.
Como já era de se esperar, eles viram o quadro. Dante pareceu aliviado pela sua colocação e Ísis também não reclamou. Em compensação, os demais ficaram na lista de espera. Porém, todos perceberam que Nemeia não estava na lista e, não à toa, começaram a cercá-la perguntando se estaria bem. Óbvio que não estava, mas você acha que ela diria isso? Nãaaaao. Claro que não. Ela precisava mostrar que estava bem com aquilo e que uma hora superaria. Lógico, que ninguém ousou em dizer que ela não havia passado, mas era o que todos pensavam e ela podia ver isso com os óculos. Podia se ver que de baixo daquelas lentes havia um olhar nervoso, quase como ela estivesse se segurando muito para não dar na cara de todo mundo.
Parando para pensar, naquela época eles não sabiam que os óculos dela podiam fazer isso, pois se soubessem não teriam pensado.
Tendo-se em mente que Nemeia estava se controlando muito naquele dia, visto o fato de que TODOS, exatamente todos ali a consideravam uma coitada; lembrando que a maioria estava na lista de espera e mesmo assim queriam sentir mais pena dela do que de si mesmos, como se ela fosse menos – na cabeça dela. Não, realmente não havia como continuar naquele lugar, mas ela ficou, pois só precisava segurar mais um pouco até todos irem embora para ela correr até o quarto e descontar todo a frustação no travesseiro. Mas nisso, Rubi, logo, aparece o que deixa todos meio que inquietos pela colocação dela ter sido uma das melhores. Pode até ser que parte da inquietação fosse pela insegurança deles frente ao resultado dos mesmos na prova? Pode, mas não era o principal motivo. Todos pensavam em como Nemeia reagiria. E como se esse pensamento ridículo não fosse suficiente para tirá-la do sério, Rubi ainda pensou que todos ali não haviam passado. Naquele momento, Nemeia realmente não desejava mais ficar ali. Não tinha mais força de vontade para continuar fingindo. Então, depois de encarar Rubi, ela saiu correndo sem dizer nada.
A fuga acabou sendo um grande sucesso. Não deu tempo de ninguém ir atrás dela, só de se perguntarem do porquê. Quando aconteceu, lembro de ter achado que Nemeia fez isso por inveja a Rubi, mas depois disso percebi meu equívoco.
Depois que Nemeia fugiu para o quarto, permaneceu nele por um boooom tempo. Literalmente, alguns meses. Vivendo a base de Tubo; isso mesmo que você está pensando, é aquele Tubo gigante dentro dos quartos, usado para entrega de comida – pena que é um serviço caro demais. E a base de ilusão ao afundar-se na coletânea.
Nemeia nunca foi de desistir fácil, mas daquela vez foi impressionante o quanto estava determinada em desistir. Ela não ia as aulas, ficava no quarto o tempo todo e quando saia era para fazer as necessidades no banheiro central. De resto era só pedidos no Tubo e seus livros. Ela nem respondia as mensagens que mandavam para ela no Zap ou no grupo que tinha com os outros no aplicativo. Se não respondia o celular, imagina, então, bater na sua porta? Ela se excluiu de tudo e todos. Só havia uma pessoa que teria a capacidade de fazê-la sair do quarto e esta estava lá dentro com ela, Nix.
Apenas sua amada ícone podia acalmá-la e, de certo modo, fazia-o bem, pois quando ela não estava socando o travesseiro ou chorando no chuveiro, ficava calma e serena lendo um livro. As vezes parecia tanto que Nemeia desejava a Nix que era como se ela tentasse encontrar alguém igual a ela para se relacionar – o que explica muito seus ex-namorados e amigos. Ela sempre buscou por Nix, podendo-se supor até que seu maior desejo em ser Cavaleira não fosse para se igualar a ela e sim para procura-la na lua; aonde foi vista pela última vez - sorte a dela, que não precisou esperar tanto.
Na noite do dia 11 do mês 6, Nemeia voltava do banho preparada para mais algumas viradas de página da coletânea Contos dos Invocadores de Astros: A Caçadora de estrelas quando notou que seu quarto estava aberto. Por ela não ser do tipo desconfiada, não ligou para este fato – até porque também não seria a primeira vez em deixar a porta aberta. Secou o cabelo e entrou no pijama. Agora, preparada para continuar a leitura, fechou a porta e sentou-se para continuar a leitura na escrivaninha. Não percebe o tempo passar até ouvir alguém chamá-la, foi quando viu que já era manhã do dia 12. Ela se assustou com o quão rápido passou a noite. A voz chama-a de novo, dessa vez chamando para tomar café da manhã. Ela não sabia de onde vinha, mas percebia a fome. Porém, não tinha mais dinheiro para comer pelo Tubo. A voz chama novamente e ela, mesmo não sabendo porquê, sente que deve segui-la, portanto o faz.
Claro que a voz a conduziu para o refeitório, era o único local possível para se alimentar de graça. Mas o ponto foi ela chegar lá sem ter ninguém no lugar. Quem havia a chamado então? Tinha uma badeja com mistos quentes, salada de frutas, suco de goiaba e Sucrilhos na mesa próxima a porta de entrada, o que ela sentiu ser para ela e, assim, interpretando ser um ótimo presente do dia dos namorados, pena que ela não curtia muito esse lance de admirador secreto, portanto apenas pegou um misto quente e saiu chamando em voz alta por alguém para ver se descobria quem estava por trás daquela voz e da bandeja ou apenas se conseguia algum sinal de vida ali - era estranho a bandeja estar ali mesmo a cantina do refeitório estando fechada. Continuou chamando até notar um vulto do lado de fora. Finalmente! Um sinal de vida. Decidiu por segui-lo.
Perseguiu o vulto o mais rápido que pode, mas este era esguio. Como podia existir uma pessoa que corresse tanto e ao mesmo tempo não fazia quase nenhum som naquele piso de mármore bege? Nemeia só alcançou este quando usou uma das técnicas de semi-invocação para correr mais rápido, andar pelas paredes e finalmente pegar o fugitivo... Quer dizer, pegar a fugitiva pela capa.
Era uma pessoa mais alta que ela e usava uma máscara um tanto peculiar; como se fosse uma máscara de Carnaval e um crânio de carneiro ao mesmo tempo. A capa preta tinha um capuz que era branco e felpudo por dentro e ao virar Nemeia percebeu que ela usava uma roupa totalmente customizada entre parte metálica e tecido azul-marinho, era ela. Nemeia teve certeza naquele instante, era realmente ela. Aquela em sua frente era Nix:
O que foi?
Não respondeu, óbvio. Como se responde a uma ídolo? E mais, como se responde a uma ídolo que todos achavam estar morta por esta ter desaparecido a mais de 10 anos? Enfim, tenso. Nemeia levou alguns minutos para tentar compreender o que via a sua frente. Na verdade, não chegou nem a compreender realmente, apenas aceitou depois de um tempo – acabaria ficando presa num paradoxo infinito de incertezas se continuasse a tentar entender, logo aceitou. Nix questiona-a novamente e Nemeia reage da melhor forma: rir. Nix não compreendeu o que aquilo significava, logo continuaria seu caminho o que faz Nemeia soltar um berro para fazê-la ficar. Nix parou seu grito com a mão em sua boca, pedindo que não fizesse aquilo. Ela parecia estar apreensiva com algo, mas Nemeia só se importou com o fato de sua ídolo estar tocando nela. Nix disse que não teria muito tempo e que também prefere discrição da parte de Nemeia, falando que como ela conseguiu pegá-la elas poderiam conversar. A garota parecia ter aberto um sorriso em que a tempos não fazia. Finalmente ela teria alguma felicidade depois de tudo que passou, finalmente teria um dia em que seus esforços seriam recompensados e seu sofrimento encerrado.
Aquele dia dos namorados foi o melhor de todos para ela.
(continua na parte 2...)
Por: Lucas BM
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