Boa leitura 👨‍👦

Quando criança, o dia dos pais sempre foi muito triste pra mim. Porque quando tinha apenas sete anos, meu pai foi trabalhar e teve um ataque do coração. Cheguei da escola e encontrei a casa cheia de gente e a minha mãe aos prantos. Senti o meu corpo anestesiado e tudo o que aconteceu a partir daquele momento ficou desfocado pela dor, como se eu estivesse dentro de um pesadelo.

O tempo foi passando e sempre via as outras crianças acompanhadas dos seus pais e eu sozinho, no início fiquei bravo com Deus porque em minhas orações agradecia a Ele pela minha família e não entendia porque ele tirou o meu pai de mim; o tempo passou chegou a adolescência e na rebeldia característica da idade, compreendi que não poderia culpar ninguém, que foi uma consequência da vida e que no fundo ele foi um herói morrendo na luta pra sustentar a família!

Sempre quis ser pai e idealizei que teria uma filha! Seria uma menina linda, ruiva e com os olhos iguais ao da minha mãe, um verde-esmeralda que sempre chamou muito a atenção... E a vida mais uma vez me surpreende; porque em uma fila de supermercado conheci o amor da minha vida, Lúcia que, sem dúvida, era a mulher mais linda desse mundo, negra com os olhos cor de carvão e um sorriso branco com a capacidade de iluminar qualquer dia nublado!

A partir daí foi nós três contra o mundo inteiro! Sim! Nós três, porque Lúcia já era mãe e a pequena Letícia tinha apenas 9 meses de idade, cansei de ouvir piadas e comentários maldosos de que eu ganhei uma família pronta, Mas o fato é que eu que não estava pronto, porque eu precisava aprender a ser pai e por perder meu pai muito cedo, eu realmente acreditava que não conseguiria...

Mas Letícia me ensinou, a cada sorriso que ela me entregava, a cada abraço que eu recebia, a cada noite que eu passei em cuidando da sua febre, foi o seu olhar inocente e seu amor, que me fez descobrir o pai que sempre existiu dentro de mim! Sou o homem mais afortunado porque encontrei o amor de uma mulher e ainda pude ser pai de uma princesa que eu ia amar e proteger como a minha própria vida! A voz suave e o toque sutil de Lúcia me desperta dos meus pensamentos:

— Renato, o seu neto acaba de nascer e é um menino lindo! — diz tocando em meus ombros.

Me levanto depressa da cadeira e a abraçando com muita emoção e lágimas nos olhos pergunto:

— Mas e a Letícia? Como ela tá? E o Marcos? — pergunto preocupado.

— Ela tá bem, o parto foi muito tranquilo, o Marcos etá um pai superbabão! Mas o mais importante é que ela quer te ver... Vem comigo? — Lúcia me pega pela mão me conduzindo até o quarto onde está letícia deitada repousando e Marcos com meu neto nos braços.

Assim que entro no quarto, Marcos entrega a criança para Letícia e sai sendo imitado por Lúcia. E com uma voz cansada Letícia começa a falar:

— Pai, o seu neto nasceu, vem aqui! Chega mais perto pro senhor ver como ele é lindo! — me convida com os olhos marejados de emoção...

Me aproximo devagar e contemplo aquela criança tão pequena, ainda dormindo!

— Pega no colo o seu neto, pai! — ela me diz num sorriso.

— Eu não sei se consigo! Ele é tão pequeno e tão frágil... — respondo meio sem jeito.

— Se não consegue vai ter que aprender! Porque é o seu neto e você ainda vai carregar ele muito! — me diz com carinho, estendendo os braços.

Eu o segurei em meus braços, tentando controlar a lágrima que teimava em sair dos meus olhos, um sorriso brota nos olhos de Letícia que começa a falar:

— Pai, lembra quando eu completei 15 anos, e como presente eu pedi uma viagem pra São Paulo pra conhecer o meu pai biológico? — me pergunta com os olhos brilhando.

— Claro que me lembro, eu tive muito medo que você quisesse morar com ele... Mas eu também não podia te impedir de você conhecer o seu verdadeiro pai! — responde tentando entender o porquê daquela lembrança.

— Naquela viagem, eu tinha a certeza de que encontraria o meu verdadeiro pai... Mas quando olhei para aquele homem, que tinha o mesmo sangue que o meu e que por outro lado era um estranho pra mim, que mal sabia o meu nome... Eu compreendi quem era o meu pai de verdade! E mesmo com a insistência dele, eu voltei correndo pra casa, porque não havia mais nada pra eu fazer ali! — a sua voz estava embargada pela emoção.

— Minha filha, você precisa descansar, essa emoção toda pode te fazer mal... — tento interrompê-la.

— Pai, eu preciso falar! Eu pedi o Marcos e a Mamãe pra que eles deixassem a gente conversar, porque isso é muito importante pra mim... Então, por favor, não me interrompa! — Respondeu decida, mas ainda com o rosto banhado em lágrimas.

E tomando o folego ela prossegue:

— Por muito tempo na minha vida, eu queria muito ser a sua filha biológica, ter seus traços, o seu DNA e eu queria me tornar a cada mais parecida com o senhor... Mas hoje eu não mudaria nada, porque o amor que você me deu é muito mais forte do que qualquer laço de sangue, quando eu precisei foi você que estava do meu lado, cuidou de mim porque me amava! E eu vou te amar pra sempre, meu pai! E eu quero que o meu filho seja um homem bom e honrado como você! — disse secando as lágimas no lençol.

Nessa hora eu não sabia o que falar, apenas o choro demonstrava toda a emoção que eu tava sentindo, tentando tomar o controle das minhas emoções, comecei a falar:

— Letícia, minha filha! Tudo o que fiz por você, faria de novo; foi você que realizou o meu sonho de ser pai... Eu só tenho que agradecer pela filha incrível, que Deus me deu! E que agora me abençoou com um neto lindo. Porque pra mim, família é aquela que a gente escolhe amar! E eu escolho te amar todos os dias da minha vida! — digo ainda muito emocionado.

— Pai, daqui a dois dias vamos comemorar o dia dos pais... E eu queria te dar um presente, e espero muito que o senhor goste! — Letícia me diz com ar de suspense.

— Agora fiquei curioso... Que presente é esse? — Pergunto um pouco ansioso.

— É um sonho antigo, eu comentei com o Marcos e ele me apoiou, e eu estou muito feliz, pai! — me disse sorrindo, fazendo ainda mais suspense.

— Minha filha, seu pai já está velho! Meu coração não aguenta tanto suspense! — Reclamei.

— Calma, pai! Já vou falar, mas chama a mamãe e o Marcos, eu quero que eles estejam presentes! Eles estão no corredor... — Pede Letícia.

Caminhei em direção a porta e realmente eles estavam o corredor, e com um gesto eles já estavam dentro do quarto, assim que eles entraram Letícia começou a falar:

— Agora que a Família está toda reunida, Marcos meu amor, Lúcia minha super mãe e Renato o melhor pai do Mundo, eu comunico oficialmente a todos vocês que o novo integrante da nossa família vai se chamar Renato! Como uma homenagem ao meu pai e o meu melhor amigo... Você~e aceita esse presente, pai? — me pergunta com os olhos rasos de água.

— Claro que aceito! — respondi em prantos recebendo o abraço apertado de Lúcia.

*FIM*

Por: Rogério Gonçalves

Artes: Thays Martins