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Encontre-me Sob a Luz da Lamparina

ATENÇÃO: ESTE CONTO POSSUI UMA TEMÁTICA ALÉM DA TEMÁTICA PRINCIPAL, POIS PROCURA ABORDAR DURAMENTE O PRECONCEITO CONTRA NORDESTINOS, CONTENDO PALAVRAS DE CUNHO XENOFÓBICO. ESPERA-SE QUE SE COMPREENDA A PRECISÃO COM QUE TEMOS DE DEBATÊ-LO, NÃO IMPORTA COM QUEM SEJA.

Atenciosamente, a autora.

Boa leitura 💚

O vento quente vindo lá de longe brincava disperso com a poeira da estrada carroçal. Ele misturava-se facilmente e geniosamente com ela. Era um típico dia quente na região de clima semi-árido. Sim, como quase todos por aqui costumam ser.

A não ser que estivesse chovendo. Para que lhe sirva, vou prestar mais clareza: chover, ah, chover! Só se for de janeiro a março, e, se for do agrado de São Pedro, talvez chova fora de época também. Nunca se sabe.

O pai de Laura Marieta — ou Laurieta, — ela atende pelos dois, mas a contragosto nunca entendeu por quê diabos lhe deram esse nome composto. Até que é bonito, só que ela tem mania de achar que quem a chama pelo nome todo está com raiva de alguma traquinagem que a menina de nove anos possa vir a ter feito há alguma semana passada. Por isso, prefere Laurieta, soa menos ferino aos seus ouvidos, — observa com um sorriso amarelado pelo café amargo e forte, — uma das únicas coisas que a mulher se atreveu a ensiná-lo, se um dia partisse, — o ar partindo para cima das carnaúbas, abrindo passagem entre seus ramos de folhagem fininhos e quase inalcançáveis. Ele tinha orgulho, muito orgulho de poder observar a paisagem à frente dele. Mesmo que ainda assim, aos olhos de outro alguém que estivesse ali só de passagem, a beleza dela parecesse morta, ser cor nenhuma, e apenas o óbvio: seca.

A garota, sentada de pernas cruzadas sobre o piso morto feito de cimento, brincava com duas bonecas feitas de pano de forma desengonçada e desprezível. Com as sobrancelhas postas disformemente no rostinho inocente. Manchado de poeira e escorrendo suor, que a incomodava de forma veemente. Agoniada, passa a mão um pouco acima da bochecha, para expulsá-lo com fereza.

— Hoje tá quente que só a peste! Nam! — pragueja, abanando-se com o vestido sem manguinhas, com laranjas estampadas nele.

— Minha filha fala como se nunca fosse acostumada com o clima, né? Homi, deixe de besteira! Tás muito cheia de regalia pro meu gosto, viu? Nunca vi mais reclamona, arriema!

— Pai fala isso como se essa quintura num ardesse nos côro, né? — retruca, toda impaciente.

— Claro, ora mais rapaz — ri com um chiado de descredor. — Tô é acostumado, já! Se eu fosse tu, Laurieta, num fazia nem falar um "a", porque no meu tempo era pior, bichinha! Prestenção na vida não, viu? — emendou, corrigindo-a, ao levantar o dedo indicador e olhá-la sério, por baixo das queimaduras escuras de sol que impregnaram em sua pele, já tão evidenciadas por trabalhar de sol a sol desde menino.

— O senhor sempre fala isso, meu Deus do céu. — leva os olhos ao teto de telhas coloniais, sustentadas pelas vigas de madeira de aglomerado, como se escutasse esse dizer a cada passo que desse. Levanta-se, tomando o rumo de dentro da casa de alpendres, pequena e humilde. Um passo e mais outro, um passo e mais outro, até que...

— Pssst... — gesticula o homem, rapidamente, estranhando o comportamento rebelde da menina ao querer sair dali rápido até demais — Que é isso, Laurieta? Pra onde é que tu pensa que tu vai desse jeito? Sem me pedir a bença? Venha já pra cá! Ora, mas num tô dizendo mermo! — ele olha de soslaio para trás, a fim de que consiga ver sua atarracada figura parada ao pé da porta bipartida.

Laurieta para no meio da ação que está executando e se vira para seu pai, de modo que caminha lânguida, fazendo seus pés e chinelos arrastarem sob o piso ora de aspecto grosseiro, ora plano. Curvada, todavia a pouquíssimos passos de Bento, ela, assim que lhe oferecesse as mãos ossudas e de pouca pele, enrijece a postura, lhe oferecendo um sorrisinho frouxo, de desconforto por estar exposta à alta temperatura. Seus lábios despencam em um segundo, curvando-se de maneira desagradável.

— Ai... — suspira, passando o dorso da mão na testa, tirando com nojo o suor dos poros. — Bença, pai... — olha para a mão dele, sem algum entusiasmo no gesto; somente segura o tato dele, o guiando para cima, para baixo, para cima, para baixo...

— Rum! Deus te abençoe, menina! Ói, você pare de fazer as coisas de mau gosto, tá ouvino? Ora, mas num tô dizendo? Quem já se viu? Eu num sou teus paricero não, visse? — solta a mão da garota. Ao contrário da sua, a mão de Laurieta é bem menor e mais macia, juvenil. — Sua mãe te criou bem direitin e eu tava veno! — há aí uma alteração da voz de Bentinho, nunca branda, sempre transitando entre a rudeza e o tom de voz superior. — a filha deposita um leve beijo terno na mão do pai.

— Ô pai...! Arriégua, homi! Tá, tá bom! Já entendi, certo? O senhor não é meus paricero! — gesticula atabalhoadamente, revirando os olhos. — Eu gosto muito do senhor, mas tem dia que eu só falto sair nas carreira. Nam! — sai do alpendre da casa a bufar de raiva e bater os pés, um seguido do outro, capaz de causar um tremor nos alicerces da casa.

— Uma minina réa destamain, falando desse jeito com o pai, oia aí! Só se for mermo! — nega com a fronte, descrendo puramente no que acabara de ouvir. Sai dali também, uns três segundos depois de Maria Laurieta, a fim de ir ter com o gado, que come capim seco ao longe, até onde a vista alcança. Endireita o chapéu de palha, corajoso o bastante para ignorar o sol que brilha lá em cima, despiedoso. Caminha a apertar as vistas, coisa inevitável se quer enxergar mais longe ainda, sob o julgo de um sol de pelo menos vinte e nove graus. Os chinelos levantam a poeira vermelha e fina trazida da estrada, e esta mancha a barra da calça jeans puída do homem.

Correndo a um dos poucos cômodos da casa, Laurieta sobe com destreza e sem nenhum medo ao batente rachado de uma das únicas janelas, feito de cimento, com a finalidade de poder pegar um ventinho vindo de fora; isto é: se ele estiver a fim de passar por ali outra vez, como ela o viu fazer com as carnaúbas longínquas, gigantescas solitárias, lá do lado de fora...

Através da janela, a filha observava João Bento andar montado em cima de uma burrinha, provavelmente pretendendo ir até onde seu pequeno grupo de animais se encontrava. Não queria que eles se fossem muito longe da propriedade, afinal. A menina achava bonito e inspirador a forma como o pai realizava seus afazeres; a beleza que conseguia encontrar nos poucos animais ali presentes lhe inspirava, acima de tudo fazia-a de maneira verossímil apaixonar-se por esse tipo de ofício. Era, quase de toda forma, inexplicável como, mesmo apesar de morarem numa parte quente, seca, e quase sem vida de um mapa, — ou, querendo ser mais exata, — quase sem verde, a não ser por contribuição de cactos, mandacarus ou uma relva pequenina germinando, crescendo junto da areia, misturando-se a ela, — ainda assim havia vida ali. Não que necessitasse de todo ser verde, mas em meio à dificuldade as cabeças de gado eram sim mantidas. A felicidade, a esperança de que com a chuva viesse uma boa safra, água limpa para ser consumida por ambos, de que a melhoria de vida viesse, o trabalho viesse, a renda expandisse...

— Ah, São Pedro! O senhor vai atender as preces que faço? Por favor, não me deixe perder as esperanças! Que chova, por Deus, que chova! Senão, o que restará a mim e a papai será a extração de borracha lá no Amazonas... — a voz de Maria se perde a cada palavra que pronuncia, as mãos entrelaçadas com fervor, olhando o teto do quarto onde ela e o pai dormiam. Desloca o olhar para o céu azul, onde o anil carimbava sua presença perene, assim como ela vira um senhor marcando o próprio gado, com um ferro em brasa, lá do alto da estrada, agarrada à cerca com relevo, farpada de arame, a perder de vista.

Suspiro de cansaço. Desentrelaça as mãos, segredando para si:

— Tenho medo de sair daqui. Conhecer o Amazonas?... Extrair borracha? Pra quê, pelo amor de Deus? Será que a gente consegue voltar ileso? É ruim eu pegar o beco do meu canto! — cruza os bracinhos finos, as sobrancelhas configurando-lhe uma desgostosa expressão de estranheza — Quê que eu vou fazer na baixa da égua? — pergunta-se, negando responder à própria pergunta. — Eu lá sei mais de nada! — ri um riso miúdo em que nele permite o escape de ar.

Medrosa com o fato de que poderia deixar a insegurança apossar-se dela, ela acaba por decidir que:

— Sabe duma coisa? — pondo o indicador no queixo. — Besta é quem acha que vou ficar maquinando coisa ruim na cabeça! Eu vou já é ver onde que Bentinho se socou! Ugh! — fazendo esforço para conseguir descer do local, com as chinelas estatelando no chão. Atira-se para fora, a correr com desvairo.

João Bento e sua filha só entraram em casa para o almoço de meio-dia, enfim. Ele pediu para que seu Eraci fosse à rua e trouxesse uma refeição reforçada de lá.

Este por vez, esperou à arcada do alpendre, enquanto o vizinho foi para dentro pegar uma parte da quantia que conseguira vendendo um par de cabeças de gado.

Enquanto o pai não voltava, a filha decidiu saudar seu Eraci:

— Seu Eraci! — exclama, com um tom de voz sereno, carregado de simpatia, esticando uma das mãos para apertar a sua em um breve cumprimento, lhe sorrindo. — Como anda o Rena? — inquire ao avô do garoto, com um sorriso cheio de troça e malícia na voz, saltando uma sobrancelha para cima; o olhar num instante passando de vítreo a arteirice pura e infantil.

— Ah, aquele minino réi tá lá, chei de astúcia, em tempo de fazer um arte, quebrar uma parte do corpo, nam! Ave Maria, gosto nem de pensar num feito desse! — move a cabeça rápido demais até; sua fala também é atropelada, cheia das agonias. — Num sei pra que diabo esse minino quer tanto aperriar os passarim em cima das árvore com uma baladeira. Os póbi réi num faz mal ninhum pra um atentado daquele! Arre diabo!

A única reação que a amiga do garoto é capaz de realizar é tapar a boca para tentar abafar o riso e o rir apenas para si mesma; enquanto o avô do garoto ali estiver, ela quer que sua risada se torne o mais inaudível possível, mas se torna vão o seu desejo.

Ao invés de se controlar como deve, Maria dá o tipo mais famoso de todas as risadas: a famosa gaitada cearense! — seguida, é claro, de uma vaia gritada com gosto.

Ao que seu Eraci responde:

— Minha filha tá evocando chuva ou tá só frescando com o nome do meu neto de novo, hein? Dexubixim, Laurieta! — risada nasal por parte do velho.

Ninguém mandou esse minino ter as ureia grande, Eraci! — pensa consigo mesma.

— Desculpa, seu Eraci! É que sempre que eu lembro do apelido que dei ao Renan — por causa do tamanho avantajado das orelhas, daí "rena", — eu quase me mijo todinha de tanto rir! — explica. — Não vai acontecer de novo, viu? Prometo. Se o senhor não gosta, eu vou parar.

Porém o que há é que Renan gosta muito de Laurieta. Tanto que a única pessoa por quem o menino aceita ser apelidado, é exatamente por ela. Ele gosta muito de ser o "Rena". Os dois têm aquela amizade arteira, traquina e saudável de crianças. Como deve ser.

Na última vez na qual brincaram juntos, Renan citou que uns tios seus estavam planejando viajar ao Amazonas. E quando Maria perguntou por quê, Renan falou que na casa dele havia falta do que comer, as economias que a sua família juntou durante um tempo estavam quase findando.

Desde então, Laurieta ficou com isto a martelar na cabeça, depois que o amigo de longa data alegou não ter gostado nenhum pouco do tratamento que os tios chegaram contando que receberam de alguns seringueiros. O ciclo da borracha era o novo meio econômico naquele ano de 1879.

— Se eu fosse tu, Marieta, num ia pro Norte não. Ninguém olhava com bons olhos pra eles. Olhavam de cima a baixo. Achavam estranho a forma de falar. Disseram que era aos tropeços, que não entendiam um "a". Chegaram a perguntar:

Mas e vocês, vieram de onde? São só mais uns "paraíbas" sem estudo? O Ceará torra miolos e só é seco ou é só brincadeira dos paulistas? Alguns riram deles, Marieta! Isso me deixou fulo!

Laurieta engoliu em seco. Olhou para Renan fumada numa quenga de tanto ódio. Não soube responder. Os pelos de seu braço arrepiaram e ela cravou as unhas no tato. Uma lágrima de mágoa correu e ela a expulsou rápido demais para que o Rena não visse.

— Apois se Bentinho pensa que vai fazer eu me atacar daqui p'raquele fim de mundo, o besta é ele. Vou nem que eu fique estribada depois! — devolve, entre dentes, cheia de raiva. — Eu vi ele comentando isso com mainha antes dela viajar pra cidade de pés junto. Deus a tenha! — gesticula o terço com o pesar no olhar.

Mesmo depois do almoço, pai e filha ficaram afastados de casa. A menina de nove anos correu pela estrada de terra vermelha de modo que pudesse se sentir totalmente livre; de braços abertos, deixando as madeixas a ficarem amigas do vento.

Ora andando junto do pai. Ora correndo como louca, observando Bentinho tanger os animais, pôr-lhes ração e água nos cochos, visitando as crias que nasceram há uns dias e já tentavam se pôr de pé. Era uma linda cena. Alegrava os olhos de quem visse.

O sol se punha. O tom do céu variando em cor: roxo, laranja, rosa, salpiques de um azul habitual, enquanto a estrela luminosa decaía, decaía, dando lugar a um céu estrelado e inocentemente puro.

Bentinho se ajeitou para dormir depois de tomar um banho de cuia célere. Nem piscar ele piscou. Aninhou-se de mal jeito no chão frio de cimento queimado. Para ele mal fazia diferença. A filha podia dormir num colchão encostado no canto da parede. Ela merecia tudo que ele não possuía desde pequeno. Merecia oportunidade.

Na madrugada, Laura sentiu dificuldade de dormir tranquilamente, serenamente. Preocupada com o que poderia acontecer a ela e ao pai se eles fossem ao Amazonas... Com o tratamento que poderiam receber dos seringueiros.O tratamento que os tios de Rena receberam... Rolou do colchão desconfortável, até sentir o chão. Até sentir contra o corpo calorento o suor do corpo do pai. Trouxe para perto a sua mão repleta de calos, acariciando-a. Querendo estar segura.

(...) "Deito meu corpo cansado no colchão

Ouvindo a nossa música...

Até minha pele derreter,

Eu vou deixando você ver

Bem mais de uma cicatriz..."

(...)

"Eu vou deixando...

Você se encontrar em mim...

Eu vim de lá que lá tem sol!

Eu vim de lá!"

(...)

"Firme e forte,

Driblando a morte,

Alimentando a sorte,

Pro dia alumiá!

Alumeia!"

Alumiá, Projeto Rivera.

*FIM*

Por: antonina_esquilo

Artes: Thays Martins

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