Para mim, essas histórias infantis como "chapeuzinho vermelho", "cinderela", e " a bela adormecida", não passam de uma mera piada. Por muito tempo pensei assim, digamos que eu seja pessimista, mas não acredito em nada disso, vivo a realidade e não sigo fantasias.

Meu nome é Sarah, tenho 18 anos e hoje foi o dia mais corrido da minha vida, quase não tive tempo de ir a biblioteca para devolver alguns livros. Ainda estou decidindo o que fazer, o que não é muito bom quando é o seu último ano no colégio e vai fazer faculdade.

Quando chego na porta do local, uma senhora que aparentava ter uns 60 anos, estava saindo e prestes a trancar as portas.

- espere! - corro até ela e a mesma se vira para mim - por favor, preciso devolver esses livros ainda hoje...sei que está cansada e tem família para ver, mas poderia ceder um pouco do seu tempo?

- oh claro, não vai demorar, não é? - sorriu e abriu a porta

- muito obrigada! - entrei logo atrás dela

As luzes se ascenderam iluminando os cantos e fui até o balcão onde a senhora estava.

- a senhora é muito gentil - sorri tirando os livros da mochila e os colocando a frente dela

- oh "Rapunzel", um belo conto - diz e olho para o livro

Alguns eram da minha irmã mais nova, amava contos de fadas e histórias do tipo.

- não acho.

- por que?

- na verdade, a Rapunzel poderia muito bem fugir sozinha, sem precisar de um príncipe. Apenas se conheceram um dia e acha que é amor e blá blá blá.

- não acredita em "amor a primeira vista"?

- pode me chamar de pessimista, mas não, é apenas uma invenção. O amor é ruim.

- entendo - faz uma pausa e pegou algo em baixo

Droga, espero não ter a magoado com o meu pessimismo. A senhora coloca um livro de capa dura dourado com galhos e folhas na desenhados.

- acho que vai gostar desse livro - sorri gentil

Pego o livro e passo as mãos por cima, por mais fino que parecesse ser, era pesado. Tenho que admitir, apenas os detalhes me deixaram fascinada.

- mas por que... - olhei para frente e a mesma tinha sumido - senhora? Onde está?

Olho em volta mas não a acho. De repente, o livro começa a brilhar e o soltei no chão rapidamente, o mesmo se abriu e as folhas passaram de uma vez. A luz aumentou cada vez mais, até um ponto que não podia mais enxergar nada.

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Quando abri os olhos novamente, vi que estava em uma floresta iluminada pela luz do sol. Rapidamente me pus de pé e observei ao meu redor, não estava na biblioteca, isso era fato, e muito menos na cidade em que vivia.

- eu não me lembro de ter ido dormir... - sussurro coçando a cabeça

Olho para o chão, e noto que vestia um vestido longo e rosado.

- nossa, só pode ser um sonho mesmo, nunca em são consciência usaria um vestido rosa - ri passando as mãos no tecido

Um pássaro vermelho saí do alto de uma árvore e pousa a minha frente, no mesmo estante a ave se transforma em um homem usando roupas medievais, um menestrel.

- olá bela dama! Seja bem vinda ao mundo dos contos - sorri e vem até mim - eu me chamo Thomas

- olá homem do meu sonho...

- confesso que faz muito tempo que não recebia visitas, enfim, vou lhe dizer como funciona: Já que veio parar aqui, só poderá sair se der um final feliz a cada história que fizer parte.

- hum, que específico. Ok, eu quero acordar logo.

- como?

- isso é apenas um sonho, vou acordar em cima da minha mesa de estudos com a cara em um livro, a qualquer momento.

- típico do mundo real, sempre desacreditado - balança a cabeça e suspira - não está dormindo

- claro que estou, não vai me dizer que isso tudo é real? - cruzo os braços virando de lado

- é muito real - belisca meu braço e coloco a mão na região

- isso dói!

- agora acredita?

- não! Não pode ser! Eu tenho que voltar!

- escute, isso é mais real que imagina. Como disse antes, não poderá voltar até que dê um final feliz a cada história que participar.

- ai meu Deus...isso está mesmo acontecendo - coloco as mãos no rosto

- se conhece os contos clássicos, saberá o que fazer.

- claro que sei, minha irmã é apaixonada por cada um - reviro os olhos

- que ótimo! Boa sorte, senhorita...

- Sarah, e não pense que vai embora desse jeito e me deixar no meio do... - sem me dar ouvidos, Thomas se transforma em um pássaro novamente e desaparece no céu - sim, ele me deixou no meio do nada

Chuto o que estava a minha frente e não percebi que era uma bola dourada, que rola pelo chão e acaba caindo em um lago mais a frente.

- essa não - digo frustrada e vou até a água

Quando olho meu reflexo, vi que meu cabelo estava loiro, e usava brincos azuis. Estava muito diferente. De dentro do lago, emergiu uma pequena criatura de pele verde e olhos grandes e amarelos, era um...sapo?

- não se assuste, minha princesa - pula para a margem e sorri ficando de pé nas patas traseiras - vi que sua bola caiu no lago, eu posso pegar para você e...

- UM SAPO FALANTE! - chuto o pequeno ser que bate em uma árvore

- ...eu só queria ajudar - sussurra gemendo de dor

Ah estou na história da "Princesa e o Sapo" e o que parece, não é aquele "estou quase lá, quase lá...". E sim o clássico, para minha infelicidade

- oh céus! Me desculpe - disse com uma certa culpa no coração e me abaixei na frente do pequeno ser

- já estou acostumado - murmurou se colocando de pé novamente

- bom, tenho que te recompensar por isso...

- não, eu tenho que pegar a sua bola de dentro do lago primeiro - disse como se fosse óbvio

- mesmo depois de te tratar assim?

- como disse, estou acostumado com isso - sorriu sem jeito

Várias perguntas vieram a mente. Então essa história se repete várias vezes? Se é assim, sinto pena desse sapo.

- se é assim... - me levanto e olho para o lago

Sem dizer mais nada, o anfíbio pula para dentro da água em um pulo só, e some por alguns minutos. Comecei a me preocupar conforme o tempo passava, mas suspirei aliviada quando a bola dourada é jogada na margem, e o sapo veio logo atrás.

- prontinho - sorriu gentil

- obrigada - pego a bola a analisando de perto

Se é de ouro, por que é tão leve? Bom, algo de errado não está certo, mas vou apenas seguir o roteiro.

- agora sim, podemos falar da tal recompensa...

- sim, realmente me sinto mal por antes.

- deixe-me ir para o castelo com você, para que possa jantar, comer de seu prato e dormir em seu travesseiro quando escurecer. Por apenas três dias.

- tenho uma ideia melhor - me abaixo e estendo a mão, o mesmo me olha sem entender - venha, eu não mordo

Então o sapo pulou na minha mão e levantei puxando o máximo de coragem que tinha naquele momento, em um movimento rápido, deixo um beijo na cabeça dele e o coloco no chão, tentando não pensar no gosto que havia ficado em meus lábios.

- entendi - concluiu após um tempo quieto - obrigado por tentar, mas está fazendo errado

- como assim?

- um beijo de verdade - levou o dedo esverdeado a boca e eu me virei de lado colocando as mãos no rosto

- só pode estar brincando!?

- não...

Não acredito nisso! Meu primeiro beijo...será com um sapo! Onde estava com a cabeça? Aquela velha me paga. O pior é que se não terminar essa história, nunca vou voltar para casa...é, não vai ter jeito.

Rapidamente peguei a pequena criatura e fechei os olhos beijando sua boca larga, depois o soltei no chão passando o ante braço nos lábios, tentando me conter e não surtar. No mesmo estante, uma nuvem de fumaça surgiu envolvendo o sapo, quando voltou a aparecer, era um homem de cabelos ruivos, óculos redondos e roupas de príncipe.

- voltei meu povo! - gritou abrindo os braços

- que ótimo, já acabou?

- obrigado! Mil vezes obrigado, você me libertou da maldição que me afligia a muito tempo. Sou o príncipe Denniel - sorriu arrumando os óculos em seu nariz pontudo

- de nada - sorri mínimo achando sua ação adorável - bom, minha liberdade custou meu precioso bv, não vou ficar mais um segundo e muito menos perder mais alguma coisa. Onde é a saída desse lugar?

- oh me desculpe... - virou o rosto de lado colocando a mão em sua boca, suas bochechas pálidas começavam a ficar vermelhas

- tudo bem, mas, pode me responder?

- ...a saída? - parou por um tempo encarando o nada

- parece que não vou para casa nem tão cedo... - sento em um toco colocando as mãos na cabeça

- está bem, eu não sou burro. Sei que você não é daqui, e só irá embora quando der um final feliz as histórias etc etc.

- quantas?

- isso eu não sei te dizer.

- bom, vou começar logo - me levanto - foi bom te conhecer, Denniel

- espere.

- o que?

- nós devemos partir agora para meu reino, nos casar e vivermos felizes para sempre.

- espera, espera. Ninguém disse que tenho que me casar, e me poupe dessa história de "felizes para sempre".

- mas é assim que uma história termina.

- não na minha, e muito menos no mundo real...

- o que faremos então?

- você vai voltar para seu reino, e eu vou voltar para o meu.

- você me libertou do feitiço, deixe-me ajuda-la em sua jornada.

- hum...ajuda nunca é demais. Está bem - estendo a mão e ele me olha confuso - é um cumprimento, coisa que fazemos no meu mundo

- hum... - pega nas costas da minha mão e a aperta - ainda não sei o seu nome

- ah tem razão, eu me chamo Sarah.

- é um prazer conhecê-la - sorri balançando meu braço para os lados - então, é aqui que essa história termina?

- pelo contrário, está apenas começando.

Tudo ao meu redor fica claro e sinto um aperto em minha mão, em poucos segundos não conseguia ver nada e continuei assim por um bom tempo.