[Tudo bem aqui, Siô]
Tarde, sinhôzinho. Tudo bem por aqui sim, uai.
Se eu sou morador de rua? Sou um homem da vida, siô. Não tô aqui nessa cidadona por opção não, é que me ofereceram trabalho bom – e quando acabou, me aconcheguei aqui mesmo. Aposentadoria pra gente como a gente nunca chega, né?
Quer sentar um bocado aqui do meu lado? É só dizer, que eu chego um pouco mais pra lá, pra mor de acomodar esse seu traseiro magro. Tá muito branco, rapaz, tem que andar mais pela rua um pouco.
Aquele ali é o Curumim, tá vendo? Meu neto. Bom, é neto da rua também, mas é meu. A gente sempre tá junto. Ele parece só um moleque, ali, jogando bola, mas é danado de bom. Nunca deixa faltar nada pra gente, não. Parece que quando os anos começam a pesar a vida maltrata ainda mais, então eu e o Curumim temos sorte.
O sinhôzinho parece ser bão também, mas não falta nada pra mim, não. Tudo que quis nessa vida já tive. Trabalho, uma mulher boazinha boazinha — que Deus a tenha — e filhos do mundo e da rua. É que eu ainda nunca tinha vindo para essa tal de cidade grande, por isso que tô aqui. Já vi que é tudo grande mesmo: os ricos são grandes, as construções são grandes, a fartura é grande, a pobreza é grande também. O desespero é a maior coisa de todas, o siô não acha?
Se o sinhôzinho já vai, deixa que eu vou junto até a esquina da via. Mas é pra mó disso mesmo, aqui é perigoso. A dona Naná não, aquela é a vózinha da rua, mas por aqui é só andar comigo que tá tudo resolvido. O siô só me empurra um pouquinho até o asfalto? Ainda não me acostumei com a chiqueza dessa cadeira nova, a moça daquele tal de Serviço Social que me arrumou. Mas não é que essa é boa mesmo?
Até mais ver, siô. Da próxima vez, vem mais tarde, que até lá Curumim já arranjou uma marmita pra gente. É só perguntar pelo Seu Saci, que todo o bairro me conhece.
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