Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

10° Júpiter


Quando eu tinha cinco anos de idade eu tinha muito, muito medo de trovões, mas achava os relâmpagos bonitos, principalmente no contraste do céu noturno, eu queria ir na janela ver os relâmpagos, mas choramingava de medo toda vez que ouvia um trovão. E uma vez, eu acordei no meio da noite, chovia muito forte do lado de fora e os trovões eram altos, duradouros e assustadores, eu acordei no meio de um desses e meu pequeno corpo de cinco anos de idade tremeu desde a ponta da unha do dedão do pé até o último fio de cabelo, naquela época eu me sentia grande e não me permitia chorar, mesmo com os olhos cheios de água. Mas o que você faz quando está com tanto medo que se encolhe na posição fetal?...

Eu não chorei...

Entre um trovão e outro eu levantei e busquei abrigo no quarto da minha mãe, e o melhor é que ela já estava me esperando. Nesse dia ela estava trabalhando até tarde, ou talvez nem fosse tão tarde assim, ela é cartunista e eu adorava que o trabalho dela fosse desenhar. Ela me deitou em sua cama e me colocou seus headphones tocava uma música clássica, ela dizia que lhe dava inspiração para desenhar, e me deixou segurar sua mão enquanto ela terminava seu desenho, por sorte ela é canhota e eu não a atrapalhei. Quando o próximo trovão ribombou pelos céus eu apertei a mão de minha mãe, acho que ela viu o medo estampado em todos os meus gestos e pousou o lápis na mesa, apagou a luminária e se deitou ao meu lado. Mesmo com o fone atrapalhando eu fiquei de lado face a face, olhando direto em seus olhos e ela me deu um beijo na testa e disse: "Não tenha mais medo, minha pequena Júpiter."

Eu ainda escuto essa palavras sempre que tenho que fazer uma coisa difícil, elas me tornavam mais forte.

Minha relação com minha mãe é diferente das demais, alguma coisa nela e diferente das outras mães e talvez alguma coisa em mim seja diferente das outras filhas. Tudo em nossa família é diferente, somos muito amigas, eu conto tudo para ela e ela conta tudo para mim, o fato é que nos damos muito bem, mas, principalmente, o que nos torna tão diferente é o fato de eu não ter um pai.

Minha mãe sempre deixou claro que eu sou fruto de uma fertilização in vitro, que eu não sou um milagre, sou uma ciência e que nada em mim tem haver com qualquer deus (acho que Deus a decepcionou de algum jeito, para que ela deixasse de acreditar nele), meus avós são religiosos fervorosos, e minha mãe por toda sua infância e adolescência também foi, até que algo mudou dentro dela, e Deus passou a ser meramente uma ficção mal contada. Acredito que esse é um dos fatores que levaram à me chamar Júpiter, e eu tenho certeza de que minha semelhança com o planeta não é consciência, Júpiter é o quinto planeta no sistema solar e eu fui a quinta tentativa de fertilização de minha mãe, ele é o maior planeta do sistema e eu sou a coisa mais importante para ela e por último, o que minha mãe nunca confirmou, Júpiter é equivalente à Zeus na mitologia romana, rei dos deuses, uma afronta direta à religião na qual foi criada e que agora rejeita. Não acho que minha mãe seja ateia ela está mais para uma criança birrenta que se zangou com Deus, não falamos muito disso. Quanto a mim estou em cima do muro pendendo para os dois lados, a ciência da qual tanto gosto me puxa a cada nova descoberta para o ateísmo, mas eu tenho medo de não ter nada em que acreditar, então ainda não fiz a escolha, embora eu já saiba a resposta.

Quando eu tinha onze anos de idade descobrir como as crianças podem ser cruéis, eu tenho o nome de um planeta e sou ambidestra, posso escrever com as duas mãos, e crianças não precisam de muito mais que isso para serem más e, bem, eu tinha mais que isso, eu adoro ciência, adoro animações, acho que porque minha mãe também gosta, eu penso diferente. Eu sou peculiar, como minha mãe diria, mas para as crianças da quinta série eu era um E.T. elas diziam que eu vim de Júpiter e que deveria voltar para lá. Eu fingia não me importar e não revidava, até porque eu adorava meu nome e minhas idiossincrasias. Mas aquelas palavras eram como agulhadas, não deixam marcas, mas no momento em que é espetada na pele, dói. Todo o mal estar que sentia na escola era desfeito quando eu chegava em casa e minha mãe estava sentada no sofá da sala me esperando com um sorriso radiante sempre que eu abria a porta da frente, eu sei que não é verídico, mas gosto de pensar que ela ficou ali a manhã inteira sentada me esperando. Vê-la ali era um gesto de puro amor que fazia toda a diferença.

Quando eu tinha dezessete anos de idade, minha mãe estava desenhando e eu fazendo um trabalho para a escola, quando ela subitamente sentiu uma forte dor de cabeça, tão forte que ela não conseguiu suprimir a exclamação de dor. A dor não passou logo, como ela disse que seria, e eu a levei ao hospital com a ajuda de um vizinho. Foi desesperador, quando chegamos foi uma confusão eu não tinha ideia do que fazer, minhas experiências com hospitais foram quase zero, somando isso ao fato do desespero de minha mãe está gemendo de dor. Eu nunca a tinha visto assim, nem quando ela torceu o pé ano passado. Em dado momento apareceu um médico na recepção e quando ele viu minha mãe ele desistiu de fazer o que tinha vindo fazer e foi até nós, ele chamou minha mãe pelo nome, ele a conhecia, não posso imaginar de onde. Por fim o médico resolveu seja lá o que tinha que tivesse que ser resolvido e levou minha mãe em uma cadeira de rodas para um lugar cujo o qual eu não pude seguir.

Fiquei na recepção andando de um lado para o outro apertando os dedos que nem estalavam mais. A espera era angustiante não tinha ninguém para me dar informação, o vizinho que nos trouxe de carro teve que ir embora para pegar os filhos na escola me deixando completamente sozinha e sozinha vinha a paranóia, eu não tinha ideia do que estava acontecendo, eu já estava criando cenários terríveis com o que poderia ter acontecido com a minha mãe até que o mesmo médico veio ao meu socorro. Ele me levou até um quarto onde estava minha mãe, débil em uma cama lutando contra os medicamentos que a ludibriavam, eu fui até sua cama e segurei sua mão, só nesse momento percebi que eu tremia, ela olhou para mim e sorriu. Ela estava com muita dor e ainda sim sorriu, as lágrimas transbordaram.

"Não tenho tempo" ela disse lentamente, "estou quase dormindo" cada palavra era arrastada e baixa, "o Doutor pode explicar tudo..." por um momento acho que ela dormiu mas então abre os olhos novamente. "Vai ficar tudo bem, então..." ela luta contra o sono. "Não tenha mais medo, minha pequena Júpiter."

Ela dormiu. O médico me contou tudo o que eu tinha que saber sobre o que aconteceu com a minha mãe, ouvir aquilo foi aterrador. Minha mãe tinha câncer. Um tumor no cérebro que ela já vinha tratando a cinco meses, e eu não sabia, nem sequer desconfiava. Eu não pude ver por entre as linhas. Agora eu sei o porquê de ela me pedir para abaixar o volume do rádio ou da TV, o porquê das constantes dores de cabeça que ela me dizia ser enxaqueca causada pelo excesso de trabalho, os remédios. Os sinais estavam todos ali, mas eu não pude vê-los, eu não quis vê-los, essa era a dolorosa verdade. Agora o câncer está em estágio avançado se espalhando por todo o cérebro. Não há mais muito o que fazer a não ser aceitar o fim eminente.

O médico insistiu que eu fosse para casa, que dormisse (como se fosse possível), eu o obedeci porque estava atordoada demais para me opor. Minha casa já não me parecia mais a mesma, era estranha aos meus olhos, minha mãe não estava me esperando no sofá. Naquele exato momento, eu só tinha vontade de ser uma pedra sem emoções ou sentimentos tortuosos. Eu passei direto pela porta do meu quarto, parei em frente ao quarto de minha mãe e fico ali juntando forças para abrir a porta, era tão estranho saber que não iria encontrá-la sentada em sua mesa desenhando e pronta para me acolher em um dia de chuva. Eu sabia que abrir aquela porta era masoquismo, mas pra quem já está molhado um pingo é besteira.

Abri a porta e foi como ver minha mãe nos desenhos nas paredes, na sua mesa com seus lápis e canetinhas, em sua coleção de filmes animados, era tudo parte dela, parte que ela estava deixando para trás, para mim. Me sentei em sua cadeira, pode acreditar foi a primeira vez que fiz isso, essa cadeira era como seu trono apenas cogitar sentar-se nele era um ultraje, era assim que eu o via, mas agora o seu trono está vazio. Sua mesa estava do jeito que ela deixou quando foi para o hospital. O notebook aberto papéis com esboços espalhados na mesa seu lápis estava no chão, ela devia ter soltado na hora, não consegui me forçar a me abaixar para pegá-lo. Apertei o botão de ligar o notebook e ele saiu do modo hibernação, na tela apareceu o programa que ela usava para fazer animações, fico olhando para aquilo com os pensamentos longe, o mundo parecia irreal envolto de uma névoa. No computador vi uma pasta com meu nome, não sabia o que esperar disso, mas abri a pasta e nela encontrei vários vídeos, cliquei no mais próximo da seta do mouse. É uma animação de três minutos e meio, uma animação simples sem cores e com apenas uma musiquinha simples de fundo, mas era uma animação sobre mim sobre o dia em que eu estava com medo dos trovões e corri para seu quarto, mas na animação eu enfrentava meu medo. O próximo vídeo começou em seguida sem nenhum comando, e depois desse, outro e mais outro. Tudos sobre mim, baseados em minhas peculiaridades, fracassos e conquistas, as animações, tecnicamente falando, eram diferentes umas das outras, umas coloridas outras com cenários o estilo dos traços também mudavam, mas era todos eu ali, representada aos olhos de minha mãe. Eu assisti vídeo após vídeo, deixei que se repetissem até o sol nascer e meus pensamentos estarem incoerentes. Não tinha mais escolha a não ser dormir, me arrasto para a cama da minha mãe tudo tem seu cheiro, travesseiros, cobertas... tão reconfortante e desoladores ao mesmo tempo. Eu fiquei ali encolhida como fazia quando criança e acho que dormi.

Minha mãe resistiu ao câncer por mais dois meses, ela nem sequer voltou para casa, meus avós veio para ficar com ela, eles só rezavam para um Deus que não lhes davam resposta, minha avó se fez de forte acho que por mim, e eu me fiz de forte por eles, para não terem que se preocuparem comigo, eu ia para a escola mesmo não ouvindo nada das aulas, eu comia mesmo com a comida parecendo terra, eu só não queria que se distraísse comigo, eles deviam sua atenção à minha mãe, eu a aceitaria depois... depois do fim. Sinceramente não sei se minha avó suportará por muito tempo, sempre achei que uma mãe nunca que deveria ter que ver seu filho partir, a dor é proporcional ao amor, quanto mais você ama alguém maior é a dor em vê-lo morrer. Mas agora sei que é sempre pior ser a parte que fica, a parte sente saudade, a parte que chora, porque não é uma dor que pode ser anestesiada, ela está ali, você sabe, você a sente, e ainda assim você não quer que ela passe porque ela é a prova de que uma pessoa existiu e você a amava e não quer esquecer o quanto esse amor foi importante. E era por isso que meu coração se desfazia em pedaços toda vez que olhava pra minha mãe e ela sorria para mim e eu não conseguia sorrir de volta. Nas sua última semana ela me disse que só lamentava não poder estar comigo quando eu me formasse na escola, quando eu passasse no vestibular, quando eu fosse mãe, ela lamentava não poder me ver crescer. Queria ter dito a ela que eu já tinha crescido, que ela estaria sempre comigo mas não consegui as palavras eram pesadas demais.

Ela se foi...

Eu fiquei...

E o mundo continuou girando alheio a minha dor.

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro